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SERMOENS

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P. ANTÓNIO VIEIRA,

DA COMPANHIA DE

J E S U,

VISITADOR DA PROVÍNCIA DO BRASIL,

Pregador de Sua Mageftade.

QVINTA PARTE.

LISBOA,

NaOíficinadcMIGUEL DESLANDES, ImpreíTor de Sua Mageftade. A cufládc António Leytc Pcrcyra, Mercador .deLivros^

"^ M.DC.LXXXIX.

Com todas as lianfas necejfarias^^ Trjytlegh Reah

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V-

-M If tt MÂÈàààààêààà--àMàÈà

CENSVKA DO M.RP.M. Fr. ANTÓNIO "DE SANTO

Thmás, Kellgiefo da Seráfica Ordem deS.Francife»,

^dificador do S.Officio,

Eminentíssimo Senhor..

VI cfte Livro, quinta Parte dós Sermoens do P. M. Ante- nio Vieira, da Religiofiflima Companhia dejESU , & Fresador de S. Mageftade: he Livro Quinto em numero , & noexcellente,entreosdoAuthorpòdefer primeiro: fendo que tudo feu.competindo entre fy,náo parece ter fegundo , &affimefte,comosmaisem equilibno, bem parece eíFeito do finsular engenho do tal Authori pois nelle, como nos ou- > tros, o efpirito.Sc eftilo he o próprio, corrente, & o mais fobi- do,douto, dócil, grave, elegante. & tão claro , ^in^a no que difcorrecomoTheologo,queagentede toda a forte que o ler, fe faràinteliigivel ( fegundo a capacidade de c^da hu» J o fcudifcurfo: graça fem igual de táo efclarecido Pregador, &náohedefigualàquenáofónefte, mas em q^afi^^doso* feus efcrkos moftra a experiencia,que ate no vulgar da Efcri- tura fanta, fobre que conceitúa,& prova como Elcr.turario. fe avantaiatanto,queemvulgaridadesma.sufuaesdella, & mui repetidas a cada panro.innova rariffimos conceitos, & adm iráveis provas o feu juizo -, & por iflo parece ao de alguns, depois de lido em qualquer Livro feu C como ja pareceo ao de muitos , quando ouvido efte grande Pregador em « Pu P to J que diráó o mefmo que elíê diz,mas letn que o venhao a d zcr nunca,todosopublicáofempre ( publicidade que também merecerá a licáo defte quinto Livro ) por unico nefta vei.ta- 3 f ij ' gem.

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gem. Efta ventagem,&: as mais que refpekão todos neíle Au- thorà competência, o dáo a refpeitar por maior que toda a emulação j&aífim parece de \^eras,f>oisna6 para comef-' tranhos, mas para com Portuguezes,onde aqueila he mais vi- va, vive geralmente applaudido pelo fogeito na predica mais extremado j & não paíTa o extremo. a exceílb neíle geral ap- plaufoCfendoode naturaes como impoiTivel 3 porque pri- meiro elles com a voz de ellranbos o reconhecem Prècrador em tudo peregrino, todo difcreto, todo politico, todo erudi- to,^: eloquente todo: incomparável emfim no bem que in- ílrue^ perruade,rende,& edifica quanto ao efpiritoj como fe ye particularmente em os Sermoens vários, que contem eftc Livro, que todo nefta fua variedade, com o aííeio do idioma Portuguez mais dei eitavel, eílà refpirando doutrina íanta, conforme em tudaaaoíTa Santa Isc bons coftumes. Pela que fera beneficio cómura,& mui do ferviço de Dcos conce- dera licença queíe pede , para que fe publique mediante a imprenta. Lisboa^ Convento de S. Franciíco da Cidade, enu , 50.de Abril dei d8 a,

Fr. António de Santo Thomâs,

Cenfura do M. R. P. M. Fr, Thomè da Conceyç^oJa Sagrada^ Ordem do CarmOyQHaltficador do Santo Offiao^

Eminentíssimo Senhoil.

Vleíla quinta Parte dos Sermoens do P. António Vieír^i da fagrada Religião da Companhia dejEsu, & Prèea- dor de Sua Mageftade-, & acabando de os ler com attençaó> leni achar nelles coufa algua digna de reparo,admirando, naõ lei fe o genio,ou arte defte 'mÇ\'^nç: talento, íç:i dizer,que os léus Sermoens faó dignos de maispreciofa eílampa, que a da comum imprenfai&: o mefino juízo que formei fobre ou- tros reus,fórmo agora dcíles. Lisbo;i,em o Convento do Car^ n^o, ^o.deMayodcióSS.

lr.Tij07Mè daConcey^aa, "

"^htfffiiTin

i

Cenfura doP.M. Manoel de Souja^ Prepopâ da Cengrtgafa» do Ovíttono de S. Felippe Neru

SENHOR.

POr mandado de VoíTaMageftade vi eítes Sermoens ã^ P. António Vieira,da (agrada Companhia dejEsu. O no- me dofeu Author,que trazem na primeira pagina , baíía para. o maior elogio defta obra. Qae muito faça o nome do P. An- tónio Vieira impreíFojO que Valério Máximo diíTe do nome de Demoftbenes ouvido: CuJ!4s cÕwemorato nomine máxima eloquentÍ£ confiimmatia audkntis animo oboritur > & com tanta mais raza5,quanto he mais aplaudido em todo o mundo o F^ António Vieira por Frincipe da eloquência lagrada,. do que o foi Demoíthenes porPrincipe da eloquência Girega. E ju« ftamente he nk.i& aplaudido, pois be entre todos os Pregado* res, o queo Sol entre todas as luzes. Santo Agoílinho dizjquc o Sol he próprio fymbolo do Pregador Evangélico : & deite a heproprijílimos^porquenellere vem todas as propriedades daSol,naó fóao vivo, mas comi exceílb. Ao Sol chamou o Ec- cleííafticoinftru mento, ou vafoadmiravel do todo Poderofoy êcobr3,díga3.doA\ú{rimo:Fafadmirabiky0j>usExcelJí.^ mais admirável, que o P. António Vieira rios feus Sermoeas ,. admiráveis em tudo, como procedidos do feu entendimento, vafo de luzes verdadeiramente admirável : Fas admirabiile ^ & obra íingul ar de Deos ; Opiis Excelfi que parece o fez co jai erpecial providencia, para que viíTemos atè donde pôde che* gar o entendimento humano ajudado do poder Divino. Ab- iorve o Sol a luz de todos os aftros : com a do P. António Vi- eira parece que fica abforta a dos mais engenhos. A luz do Sol faz manifeílos os lugares mais tenebrofos : a intelligencia. doP. António Vieira faz claros os lugares da fagrada Efcri- tura mais efcuros. Penetra o Sol aprofundidade dos abifmosj, para iielles formar o ouro^ & os diamantes^: penetra o P. An* tonio Vieira os cora^oens humanos^abifinos mais profundos,

&comi

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gc cem a cíficadadafuaperfuaraô introduz nellesoouro pu- ro da caridade, & os diamantes das folidas virtudes. Único heoSol:&oP. António Vieira também he único: he o Fé- nix do noíío feculo ; fabuloíb he o Fénix, mas verdadeiro no que repreíenta; o verdadeiro Fenix(^ como em vários luga- res prova o doutiílimo P.Cornelio AlapideJ) he o Sol : porque para reprefentar as qual idades defte Planeta invétáraó os E- crypcios efta fabula ; ao que (no fentir do mefmo Author^alu- dio o Profeta Malachiasántroduzindo ao Sol com pennas, ou com azas •, he pois o Sol Fénix da esfera quarta: & o P. Antó- nio Vieira Fénix da noíTa Esfera -, Fénix efcrevendo, melhor que o Sol voando 5 Fénix com a pcnna de feus efcritos^me- Ihor que o Sol com as pennas de feus rayos. Defta forte fe vem retratadas nefte Sol racional as propriedades do Sol viíivel. Forem não as retrata ao vivo, mas com exceíTo -, porque a luz do Sol não fe dilata mais,que por hum hemisfério , & a do- P. António Vieira por dousj eftando no da A merica,tambeni allumea ao da Europa^ quando refide aíèm da Linha,refplan- dece em Lisboa, & delia por meyo da imprenfa em todo o mundo. O Sol tanto que declina para o occafo,modéra os ref-. plandoresto P. António Vieira,taó declinado pelos annoS' ao feu occafo, reforça agora mais as luzes Emíim,o Sol pa- rou, & jàretrocedeo :6c o P. António Vieira nunca rctroce- deo,nem parou j nunca parou no zelo , nunca retrocedeo no eftilo. Não ha coufa neítes Sermoens,que dcfdiga do real fer- viço de Voífa Mageftade } & fe alguém fentiíTc o contrario,fe lhe poderia dizer o que Pithagoras diíTe do Sol : Contra Solem ne loquaris; Do Sol naó ha que dizer: do P. António Viena naó ha que notar. Oqueeuquizera,Senhor,he,que todos os que leíremefLCsScrmoens,fcnaófatisfizeíremfóda fua luz , mas que também fcdcixaíTem penetrar do feu calor i a luz lhe iii- fundiofeu Author pelo entendimento j o calor pelo clpuitoj aluzheplaufivei, mas ocalorutil imuitos(comoordinai ia- nientc fixede no mundo } naó fazem cafo do útil , fazem uo- do o cafu do piaufivcl i cmbcbcmfc de todo noplaulivcl áo

COll'

conceito, que os lifongea j deíxaó o útil do efpintOjque os de- fengana j & depois de húa liçaó taó efficaz, como a dtíícs Ser^ moensjficaó com os entendimentos admirados, mas com os coraçoens taò frios , como antes, no amor de Deos. A fanti- dade,6c virtude naóconfifte nas efpeculaçoens do entendi- mento, mas nas determinaçoens da vontade 5 fe a vontade naô tiver calor para bem obrar, pouco importa a luz do entendi- mento, que para no entender-, deve pois, quem ler eftes Ser- moens,attenderniaisaocalordoerpirito, que fe encerra na fua doutrina, do que à luz do entendimento , que fe difunde na fua elegância. Seja a conciufaó a do mefmo Ecciefiaítico, q\ji3,ndolouv3.^o Sol: MagnusT>ommus,qmfecit illum^ & in Sermonibus ejusfeftinavit iter 5 naó ha melhor modo para iou- varao Sol,que louvar a Deos,que o criou taó luminofo vaííim tambê,à villa do Sol defte felicilli mo engenho, o melhor lou- vor he louvar a Deos,que o fez taó fabio. O Sol faz o feu cami- nho com a palavra de Deos: &oP.Antonio Vieira com a pa- lavra de Deos faz o feu caminho : In Sermonibus ejusfeftinavit iter, O Sol com a palavra de Deos faz o feu caminho pelo Zo- diaco, que fe divide por doze íignos:& o P. António Vieira com a palavra de Deos faz o caminho dos feus Sermoens,que divide por doze Tomos, que faó os doze íignos deíle Sol. De- fte nu mero, que nos prometeona primeira Parte, he eíta a Quinta 5 importa,queapreíre as mais,&que VoíTa Mageílade iho mande allim, para que, como Sol, lhe naó falte eíla pre- rogativa da diligencia,& fe diga entaó cabalmente deIle,G que do Sol : Et in Sermonibus ejus feftinavit iter. Eíle he o meu paf recer, fe© pôde dar nefta matéria, quem como eu , tem taó pouco de Águia , pois as Águias podem examinar os rayós do Sol. VoíTaMageftade mandará o que mais for de feu fer- viço. Lisboa, & Congregação do Oratório, 26. de Junho de a688.

Mmeelde Souja,

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LICENÇAS

Da Religião.

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Eu Alexandre de Gufmaó, da Companhia de Je5u, Pi-o^ vincial da Província do Braíll , por efpecial comiíTaó, que tenho de noííb M. R, P. Vigário Geral Domingos Maria de Marinis , dou licença para que fe poíTa imprimir efte quin* toTomodosSermoensdoPadre António Vieira, da mefma Companhia, Pregador de Sua Mageftade, o qual foi revifto , & approvado por Religiofos doutos delia, por nòs deputa- dos para iíTo. E em teftemunho da verdade, dei eílaaílinada com meu final, & feliada com o Sello de meu Oificio. Dada na Bahia em 1 2 . de Agoíto de 1 687.

Alexandre de Gufmao.

Do Santo Oificio.

V Tilas as informaçoens, pòdemfc imprimir os Sermocnf de que eíla petição faz menção, Author o P. António Vi* «ira da Companhia dejefu , & depois de impreíTos, tornaráò para fe conferir , & dar licença que corraó,& fem ella naó cor? xeráó. Lisboa o primeiro dejunho de 1688.

Jeronyma Soares. Joaõ da Cofta "P intenta. Bento de Beja de Noronha. Tedro de At t ai de de Caftrs, fr Kicente de Santo Thomás. Eftevao de Brita Fo^ês, loao de Azevede,

Do Ordinário^

POdcmfe imprimir os Sermoens^de que a petição faz men- ção, & depois de impreíTos tornaráó, para fe conferirem, & fe dar licença para correr,& fem ella naó correráó. Lisboa 20. de Junho dei 688.

òerrao.

Do Paço.

POdemfe imprimir , viftas as licenças do Santo Officio, Sc do Ordinário, Sc depois de impi eílbs tornaráó à Mefa pa- ra fe conferirem, & taixarem,& fem iífo naõ correráó. Lisboa 28. de Junho de 1 688.

MelloT. Lamprea. Ribeyro.

lOncorda com feu original. Carmo de Lisboa 1 8. de Fe- vereiro de 168^.

Fr.Thomè daConceiçãê.

V

líloeftar conforme com feu original, pôde correr. Lis- boa 1 8. de Fevereiro de i (58p.

Jeronymo Soares. JoaÕ daCofta^imenta,

Bento de Beja de Noronha, ^edro de Attaide de Cajlre.

Fr, Ficente de Santo Thomâs. Eftevae de Brito Fops,

Ode correr. Lisboa ip. de Fevereiro de 1 6 8p»

Serrão.

'Aixaòefte Livro em doze Toíloens. Lisboa 21. de Fe- vereiro dei 6 85).

Roxas. Lamprea, Marchao. Riheiroi.

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SERMOENS.

Que contém eíta Quinta Parte.

1.

11 111.

IK.

V.

VI.

SErmão da primeira T>ominga do Advento. ^^g i . Sermão dafegunda T^ominga do Advento. ^^g- f ^. Sermão da terceira T>ominga do Advento. ^^g- S

Sermão da quarta T>ominga do Advento. ^^g- 1 * i

Sermão de no(fa Senhora da Conceição. ^^g- 1^8.

Sermão da T>ominga decima fext a fof Tente- coften. Tag. 191»

Vil. Sermão do Sacramento em dia do Corpo de T>eos

na Encarnação. Tag.i^u

Flll.Sermão de S.Gonçalo. Tag.1^1,

IX. Sermão da T>ominga vigefitnafigundapoji Ten-

tecojfen. Tag.^^iç.

X. Sermão de no ff a Senhora da Graça. Tag . 3 <^3 .

XI. Sermão de S. hão Evangelijia. Tag . 4,04.

X II. Sermão dafegunda "Dominga da §}uarefma. Tag. 43 1 . XllL Sermão de Santa Barbara. Tag.^j i . XIF. Sermão do fabbado antes da T^ominga de Ra^

mos. Tag.^o^í

XV. Sermão de S. hão Bautijia, "P^^ll-

Erratas ãejla ãluinta Parte.

?agin.

Ifl.

Sevoshadepczar.

If(^.

^£rms.

156.

Náo,porque os ou-

tros fagrados.

3^P'

E certamétCjquan-

do fc não coníide-

raíTe.

37P-

Quereis,

461.

Redaet,

52P.

Derrubados dos al-

tares hião caindo

as imagens.

Í9^

Ebem,

Se vos naó ha de pezar. ^ SlUiSretis.

Não,porque os outros li- vros fagrados. E certamente parecia imaginário o remédio, quando fe não coníide- raííe. Querieis. Reddet.

Derrubadas dos altares hiáo caindo as ima- gens.

Nem;

SERMAM

DA PRIMEIRA DOMINGA

DD

AD V ENT O

C(elum^& terrAtranJibunt*. njerbaautemmea non tranfibunt, Luc.21.

§. I.

AíTarào GeOjSc a terra , mas o que dizê as mi* nhãs palavras naópaíFarà. C6 efta notável , & naó ufada fentença conclue Chrifto RedemptornoíTo a narra- ção do Evãgelho, que aca- bamos de ouvir. Diz que h^ de vir julgar , & pedir Tom./.

conta ao mundo no ultimo dia delle : & porque antes de o mundo fer julgadojha deferabrazado primeiro,. 6c convertido em cinzas 5 fobre o incêndio, que o ha deconfumir, cae a primei- ra parte da concluíaó : C£- lu lumy & terra tranfibunt 3 & ^ ^ fobre a conta que depois promete ha de tomar ^ todo o género humano, çae a fegunda: FL{rbaautem Ar^ mea

I

n

2 Sermão da prime ir a^ommgâ 7nsa nmi tranjibunt. Eíles verá também ,& com ma- faó os dous maiores por- ior aíTombro, que nenhúa tentos, que no theatro uni- delias paíTou ^ jion tranfi' verfal do juizo veráó na- bunt. Eftas duas verdades quelle dia Homens, &: An- pois, cuja o mefmo íu- j-os. Allifeverà o princi- premojuiz com tanta ex- pio do mundo junto com o preíTaõ nos ratifica : eftes fim, & o fim junto com o dous defenganosja que táo principio; o principio com mal nos perfuadimos os o fiai, em tudo o que paf- mortaes em quanto vive- fou, &ofimcom oprinci- mos :& eftas duas coníl- pio , em tudo o que nao ha deraçoens do que paílbu > de paíTar. Parece difficul- & do que náo ha de paíTar , tofa efta união em tanta tranjibunt , & non tranfi- diftancia de feculos j mas himt^ feráó hoje os dous effe he , & fera hum dos pólos, ou pontos do meu maiores milagres daquel- Difcurfo. No primeiro ve- ie dia; porque tudo o que remos, que tudo paíTa: no paílbu, & deixou defer, & fegundo , que nada paíla. defapareceocomotempo, No primeiro , que tudo

como fenão tivera paílà- ào 5 ou tornara a fer de no- vo, ha de aparecer com a conta. Se olharmos para todas as coufas quantas ou- ve, ha, & ha de haver no mundo, então fe verá, que todas paílaraó , tranjibimt. Was fe olharmos para eílas mefmas coufas , as quacs como refufcitadas com o género humano háo defer citadas com elle para apa- recer cmyuizo s então fc

paíTa para a vida : no fe- gundo,que nada paífa para a conta. Emdiataó gran- de naó pôde o Sermaó fcr breve. Aos ouvintes naó peço attençaõ, mas paci- ência. Deos^a quem tomo por teftemunha de que procurei naó lhe dar conta do que hoie difler, fc lirva denosafliílira toáos com fua graça em ma teria que tanto toca a todos.

■ê- II.

doAdnjentõ. ^

cional tão importante fc

^, II. edendeíTetambemàscou-

fasnaturaeS3&: indiíferen-

3 ^T^UdopaflasSc nada tes, inventou o Apoílolo

X P^^^a. Tudo paíla S. Paulo hum notável ad-

paraavida , &: nadapaíTa verbio. Equal foi ? íHc??-

paraaconta. A verdade, quam noriy como feníoiUí'

^defengano deque tudo qtáhabentuxoreSitanquaffP

paíTa^ quehe o noíTo pri- non habentes fint : & qui ^ ç^,^

meiro ponto) poílo que fe- flent^ tanquam non f entes : t^j»

ia por húa parte taô evi- & qui gaudent , tanquam

dente, que parece nam ha non gaudent es : d^ ^/// €mút\

miíler prova , he por outra tanquam ncnpofffaentes : &

quiutimttirhoc mundo ^tan- quam non utantur. Sois ca- fado? (diz o Apoílolo} pois empregai todo o vof- fo cuidado em Deos , co- mo fe o naó fôreis. Ten- des occaíioens de trifteza ?

taó difficultofo > que ne fthua evidencia bafta para o perfuadir. Lede os Fi- lofofos^ledc os Profetas, lede os Apoílolos , lede os Santos Padres 5 & vereis como todos empregarão a

penna, & naó húa, fenaó pois chorai , como fenaó

muitas vezes,&: com todas chorareis. Naófaò de tri-

f.s forças da eloquência, na íleza, fenaó de goílo ^ pois

declaração deíle defenga- alegraivos , como fenaó

nojpoíío que por fy meA vos alegrareis. Compraíles

mo taõ claro. o que havieis mifter , ou

5 Sabiamente fallou defejaveis ? pois poíTui-o ,

quem diíTe que a perfei- como fe o naó poíTuireis.

çaó naó coníiíle nos ver- Finalmente vfais deaigúa

bos, fenaó nos advérbios: outra coufa deíle mundo?

naóemque asnofiasobras pois ufai delia , comofe

fejaó honeílas, 8c boas5fe- naóufareis. De forte que

naó em que fejaó bem fei- quanto ha , ou pode haver

tas^ E para que eíta condi^ nefte mundo,por mais que

Ai] nós

í

Ibidem 3'r

4 Sermão da primeira dominga

nos toque no a mor, na uti- lidade, no goílo 3 a tudo 'quer S. Paulo qacrecen te- mos hum, como Ccnaòjfan- ■qí-iam non. Como íenaó ou- vcra tal couíli , como fe naó fora nofla> como íenaó nos pertencera. E porque ? Vede a razavõ : ^pratertt €nhyi fia^nra bujiis mundi. Porque nenhua couíli de- ite mundo pára, ou perma- nece, todas paíTaó. E co- mo todas paÍlao,&: fao co- mo íe naó forao , aílim he bem que.nòs ufemos del- ias, como ife naó ufáramos: Tanqnamnonutantur, Por iíTb a eíTas mefmas coufas naó lhe chan^uo Oráculo do terceiro Ceo coufas, ienaó aparências j & ao mundo naó lhe chamou mundo , íenaó íigura do m u p do : Traterit enlm fi- gmajjujíis nnmdi. , 4 Canfideraime o mu- do defdc ícus principies , & velolicisíbmpre , coma nova figura no thcatro , aparecendo ,.& dcíapare- çendo junta mente^porque íempi*c paifando. A pri- meira ílcaa dcilç clicaa-o.

foioParaifo Terreal , no qual apareceo o mundo vefrido de iijimortalidade, & cercado de deliciasj ma^ quanto durou eíl:a aparên- cia? Eílendeo Eva o bra* çoá fruta vedada , ôc no breviílimoefpaço,em que o bocado fatal paíTou pela garganta do homem , paf- Ibu também com elle o mundo do eílado da inno- cenciaaoda culpa, da im- mortalidade á morte , da pátria ao defterro , das flo- res às efpinhas, do defcan- foaostrabalhos,&:da feli- cidade fumma ao fummo da infelicidade, &: miferia. Oh miferavel mundo> que feparárasafiím, 6c te con- tentaras com comer o teu paó com o íuor do teu ro- ílo , foras menos mifera- vel! Mas naó ferias mun- do, fe de húa miferia gran- de naó paíraíTcs femprc, & por tua natural inclinaçaó> a outra maior. Os homens naquella primeira mfancia do mundo todos vcíHao depellcs , todos crão de húa cor, todos falhivão a mcfinaUngua, todos guar- ' da vão

'^

íím^ ley- Mas losçx'

davão a rneíS^ ley. Mas losçx^ natureza, hoje die- iião foi muito o tempo em gar^não a hum feculo,rnas que fe conferrárão na ar- perto delle , he milagre, monia deíla natural irmá- Tardarão em pafíar ate dade. Logo variarão , & Noe, 6c também paíTárão. niudáráoaspelles comtã- Com. aquellas vidas náo tadifl-erença de trajos.que crecião os annos, fenam cada âh de pès x cabeça também os corpos : &c dos aparecem com nova íigii- filhos de Deos, que erão os ra. Logo variarão, & mu- , defcendentes de bethj êc darão aslínguas com tanta das filhas dos homens, que .diíronanciaj&confuram, erão as defcendentes do xomoadaTorredeiBabeL Cain ,nafGérãoos Gigan- Logo variarão, Sc mu darão tes, de quem diz a Efcritu- ascorescomadiverfidade ra,: Erant Gigantes fuper 'f^f das terras & clipas , Sc torram. Alguns oíTos que com a miftura do fangue, ^linda durão à^^ç.s que o poílo que todo vermelho. , pi. efmp ^ Texto fagrado Logo variárão5& mudarão chama V"aroens famofos, :is leys, não com as de Pia- demoílirãQ pcla^ fymetria tão, Sólon 5 ou Lycurgo , humana , que não podião mas coma do mais impe fer menos qiíe de vinte, &

mais covados : & ainda na hiftoria das batalhas de David temos memoria de outros quatro , pofto que de -muita menor eftatúra. Mas eiiifim acabou a era dos Gigantes > porque tu- do neíla vida , éc mais de- ^preíTa^o que he grande, acaba,&paíía. . , " 6 Diminuídos os ho-

rioíb, & violento Legifla- dor, que hc o próprio alve- driq.TudomudárãOjOU tu- do íe mudou j porque tu- do paíTa, í -r

f As vidas naquellc

principio coílumavão fer

. ,cie fete, d e oito , de no ve-

- centos, 3c quaíi de niil an-

...nos j& que brevemente fe

.acabou eíle bom coíiume ?

Então oviver muitos íecu-

Tom

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mens nos corpos , A iij

Sc nas ida^

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1^

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1

^ Sermão daprimeira^omtn^a

íàiáts y quando tinhão a rios a hum Key 5 & a Á6m

morte mais perto da vifta, Profetas:. A primeira vi-

Cquem tal crera! ') então creçérão mais na ambição, &foberba. E íèndo todos iguaes, & livres por natu- reza, ouve alguns que en- trarão em penfamento de fe fazer fenhores dos ou- tros por violêciaj&j ocon- feguírão. O primeiro que featreveoa pôr coroa cabeça 5 foi Membroth, que também com o nome deNinojOii Belo deu prin- cipio aos quatro Impé- rios 3 0'ci Monarchias do inundo. O priíTkeirò foi o dos Aflyrio^, & Chaldeos : & onde eftà d Império Chaldaico ? Ofegundo foi Ò dos Perfas : & onde eílà a Império Perllano? O ter- ceiro foi o dos Gregos : & onde cftà o Império Gre- go ? O quarto, ôc maior de todos foi o dos Romanos : ^ onde cílà o Império Romano ? Sc algiía couíli jpermanecedeílc, he o home: todos paífárãOípor-

íaó foi a Nabucodonofor na tftatua de quatro me- tacs: a fegunda a Zacha- riaS em quatro carroças de cavallosdediífererítes co- res : a terceira a Daniel em hum conílid-o dos quatro tentos principaeè, que no meyodomarfe dayaó ba- talha. Pois fe todas éítas vifoenseraó de Deos ^ & todaá feprefentavaó oi^ ínefmos Impérios^ porque variou tantd a Sabedoria divina asfígitfas, &: fobre a primeira da Eftatua taõ clara , Sc nianifcíta acre- Centoií outra S duas taõ di- verfas em tudo ? Porque a Eftatuana dureza dos me- faes de que era compoíla j ícnòmefmo nòmc dcEf- tatua^paréce que reprefen- tava eílabilidadc,6c firme- za : ^ porque nenhum da- quelles Impérios havia de perfeverariirmè > ^ eíía- vci, mas todos íè havia 6 de mudar fuccel]ívamente,&

<[ue tudo pafia. Em trcs fá- ir paíTando de hãas naçosá xnofas viroeiísrcprefcritou á outraáj; por illb os tor« Çeos çítes meímos Jmpe- jiotí a reprcftjit^u: na varie-

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iifAdvent». ^ \f

dadexlasVaírbças, nain- quem havcm q«e P^J*

conftancia dasrodas, & na comprehender quato paf-

ca"rcira,& velocidade d,o5 fou no mefmo mundo?

cãvallos. Mas naó parou Qi.ando começou o pri-

aquiacnergíadarepíefen- meiroimpeno, entaocp-

S,cQmo'naõ .encareci- meçou também a idc^la-

daaindabaftancemente.A tría, digno caftigo do Ceo.

Eftatua eftava em pé, Çc as que pois QS homens fe faze-

carroças podiaóeftar para- raóadorar , chegaíTem

Ôas. E porqueaquelleslm- m,efmos homens a adorar

perioscgrrendò maispre- paos,& pedra?, OsV^tjf

?ipitadameníequeàrpdea ^orèmqueerap,putinhao

Íblta,na6bayiaô depara^ fi^oos idolatras .canoni^

aomefmopaflp, nem pqr zados depois vf^^^f^

immÍQ mompnto, & fem- ça6,& hfonja.pu pa vida,

prcfe haViaÒ de ir mu- ftu depQi? 4^ T"? It

.dando, paíTandg 5 pprif- íb finalmente os reprefea: tqu Deqs na couía mais in- quieta 5 mudável) &infta- Vel, quaesfaóos yentos,ac

nhaó também elles » fer Ídolos. Aflim Saturno, af- fim Júpiter, sfliraMercur rio , aflim Appllo , affim Marte, aflim VenH?? ?flí'7?-.

muito mais quando em. Çiana : & poftp que f qdo?

bravecidos,&í^iripros:£í jsftss deixarão os feusno.

ecce quatuor venti calim^ mes gravadps naç liitreir

7nabLinmarmagm. ías,ellaspermane^ni,ma?

'■ - ■-- '=' elles palTárao. Paffarap PS

íf in idplos,& também paflarao

*■ ■'' os oráculos com que pelles

•f "CM quanto paíli- refpondia o pay da Rienti-

r, raó eftes quatro ra ; porque ao forn da yer-

' impen^s, que foi atercei- dade do Eyaiigelhp tpdpí

xa,quarra,qmnta,&fext^ ^miide^erao.

idade do mundo, e«trand9 Ppíaó começarão a|

lambem 'pela'' ^úm.i pmm^m^ *^"%xS*

4

S

exércitos

das batalhas ca m pães

&

Sermão ãa primeira dominga innumeraveis , apareceo fendo desbaraM- do,Scvencido,queró fícoii delle efte dito. O mefmo Temifrocles.que muito deíigual poder o desfez, & pozem fugida , também paflbu^comona Grecia^iSc

maritimas , das vitorias &: triunfos de húas naçoens, & da ruina, abatimento, & fervidaó de outras,taó va- ria, & alternada fempre?

digo, que aíHm a gloria, fora delia paíTáraÓ todos

& alegria dos vencedores, os famofos Capitaen» , &

como a dor, & afronta dos fuás vitorias. PaíTou Pyr-

Vencidos,tudopaíIbujpor- rho , paíTou Mitridates,

que tudo paíTa. O exercito paíTou Felippe de Mace-

de Xerxes, que foi o maior donia : paíTáraò Heitor 6c

que vio o mundo, confiava Achilles, paíTáraó Anibal

de cinco mil nãos,. & cinco milhoens de combatentes: & porque de húa, & outra

Í)arte fez continente o He- efponto, & Cavou , & fez nayegavel o mont€ Atho, diílè delle Marco Tullio, que caminhava os mares a pè,& navegava os montes: Tantis clãffibus Xerxes in Grã ciam tranjijt^ nt Helef- fontojunEío^ Athoqnemxm- Occro tej)erfo{foy7naria ambularit^ lia.buó'. terramqne na^uigarit^ mar ia pedibusperagrans , clajjibtis montes. Mas todo aquelle ímmenfo , & formidável apparato,que viíto fez tre- mer o. miu*, & a terra , tam

&: Cipiaó , paíTiraó Pom- peo &: Júlio Ceíar, paíTou o grande Alexandre, no me fingular,&:fem parelha, & atè Hercules,ou foíle hum, ou muitos, todos paíTáraÓ > porque tudo paíTi.

5> Coílumaò as Letras feguir as Armas , porque tudo leva após fy o maior poder :& aílim ílorecéraò variamentc,& cm diverfas partes no tempo dcíles impérios todas as Ciécias> 5c Artes. Florcceo a Filo foíia, íioreceo a Mathcma- tica,fiorcceoa Thcología,; íioreceo a A Urologia, Íio- receo a Medicina,íioreceo

brevemente paílbuj. ^ dcf- u^Iuíka^ florcceo a Ora-

ão Advento, ^

tom , florecco a Poética , ca & Moral como taÕ ne

floreceo aHiftoria, flore ceoa Archítedura , flore- ceo a Pintura , floreceo a Eílatuaria: mas aílim co- mo as flores fe niurchaô, & fecaó, aíHm pafiliraó todos os Authores mais celebra- dos das mcfmas Ciências, & Artes. Na Eftattiaria paílbiT Phidias & Lyfippo : na Pintura paflbu Timan- tes Apelíes : na Archite

ceíTaria à vida3& à virtude, parece que naó havia de paíTar ; mas os Platónicos , os Peripateticos , os Epi- cureos, os Cinicos, os Pi- tagoricos, os Eftoicos , os Académicos, elles, Sc fuás Efeolas 5 ôc Seitas , todos paílarao.

IO Nenhua coiifa he mais própria defira coníi- deraçaó em que himos.

aura paífouMeliagenes 5c que os jogos, Sc efpedlacu- Democrates : na Mufica lospublicos,queoshomês

paíToii Orpheo Sc Anfion : na Hiftoria, Tucidides Sc Lívio : na Eloquencia^De- moftenes Sc Tullio : na Poetica,Ro mero & Virgí- lio : na Aflrología , Anaxa-

inventarão a titulo de paf- fatempo , como fe o meí^ mo tépo naó paílara mais velozmente que tudo quá- to paíía. Huns jogos foraõ os Circenfes , outros os

goras êcPtolomeo : na Me- Dionyfios, outros os Juve dicina, Efculapio & H7- naes, outros os Nemeos,

pocrates : na Mathemati- ca, Euclides & Archime- á&s : na FilofoíiajPlataé Sc 'Ariftoteles: naTheología, Mercúrio Tremigifto Sc Apollonio Tyanéo : Sc por junto em todasas ciências pafTáraa no mefmo tem po os fete Sábios de Grecia3 porque, ou junto, ou divi- dido j tudapaifa . a E thi-

outros os Mara toneos 5 to- dos cheos de diíFerentes divertimentos, em que, ou fe perdia a lioneílidade> como nos de Vénus y ót? o juizo, como nos de Bac- cho > mas nenhuns mais in- dignos dos olhos hunia- nos, &piedade na tural, que os Gtadíatorios. Sãhia to- da; Rom=a ao AnfiteatFOiiiii que ?

m

n

IO Sermão da primeira^ omin^a

que ? a ver^Sc feftejar coitíO quem levava hiía coroa de

Icmatavaó homens a ho- mens :cahia6hunSv& ío- brevinhaó outros , &: ou- tros, fem eftar o poílo va- go hum lo momento , ac- clamando a cabeça do mil-

louro. Por cílcs jogos ma:5 que pelo curíò do Sol fe contavaó>iSc dilHnguiaó os annos. Mas como coda a competência era a correrj & o que mai$ corriajO que

do com applaufos mais triunfava, naó pq.diaó á^i- carniceiros,' que cruéis, ab xarde paíllir as Qlimpia-

íim no dar, como no rece- per da$ Feridas, tanto a in- frepidez^^dos mortos, co- mo a fúria dos matadores. Os jpgoç Seculares fe cha- marão aílim, pprque fe ce^ iebravaó hua íq vez ác fe^ ícuioa feçuio i (Sc dizia o pregão publico qije f oi]t vidava para elles: í^erjtead fudosj úiios nernç vidit un- quãK', neç yifuru^ efl:VindQ veros jogos, que ninguém yÍQ,nem ha de tornar a ver. E cani efte defengano da-ivida paHàda , &: defefr peraçaódafpíurajj 03 hiao

cias, como paflaraò todo§ ps outroi? jpgqs ^aquelle^ tempos, ou todos pspaíTa-. tempos daquellps jogos,

II húa coufa ha que naó pôde paílàr , por- que o que nunca foi, nara pôde deixar de fcr ^ &c taeç parece que foraó as f:ibu- Jasjque neíle mcfmo tépq íe inventarão , & fingirão. Mas fe filas naó paíTáraó ^m fy mefmaçjpaílaraó na.- quelles caíbs,&: coufis que jderaó occafiaó a fe fingi- rem. Na fec ca univçrlLU qucabrazQu todo o munr

^odos ver , & fe chama vap do, paíTou a fabula de Fae- jogos. Os Oiimpicos for tonte: no djlnvip particu^ faó os mais celebres, & fur lar , que inundou grande

jnofos de todos, cm que de cinco em cinco annos có- corria todo o mundo a hur jna Cidade do mcfmo np- i7)e4 ou a levar? ou a yer

parte dcllc,paííbu a fabula ide Deucalióa : ao cftudí) com" que EÍRcy Atjantc ^zontemplava p curfo, 6c nioyimcntps das Ellrcllas» gaílby^

\

m Advento] '^^^'^^ íi

Ça&u a fabula de trazer o bios daqtíelle tempo o que Ceo aos hombros: na efpe- Ha com o que naÓ ha , & ú culaçao continua de todas certo com ofabulofo: para às noites com que Ende- que nem o' louvor nos deP inidri dbíervava ò^ effeitds vanèça , nem a caMninia

èo Planeta mais viíinhò à terra, paíToú á fabula dòá feus amores' com a Liia.E porqiíe também dsnoíTds vicios;ancr{íaífaca virtu- de, èc a rioíTa mefma vida |)aíla como fabiiíaj qambr, & cdmpía c eii c ia de noS inefmos jSaíTòu ih fabula de Narcife: a rlquez^ íeni' juizò", ria fabiila de ida^ : à cubica infaciaveU ria fa- bula de Tan táld : à invej a do benl alheo, ria fabula, abutre de Ticio : ainxrorí- flancia da fortuna ninais al- ta, ria fabiiH; Sc roda de Euxiori: o perigo de acer» farconí òirieyo da virtii- tie,8ciíaò declinar aos vi- cios dosextremos , na fa- bula de Sciíla Sc Caribde$ : éc finalmente a certeza da niorte,& incerteza da vida pendtrite femprç de llum^ ío,paírdu, & eftà cõtinua- jhénte paíiàndo na fabula

fiosdefanime, pdis o ver- dadeiro, & o falfo, a verda- de, & a nteittira, tudd piar- 12 Mas liàô lie jufto' qu^enefíía paíTagem de tu^ do ó qiiè paííou no tempo dos qu^atro" IrripeViols: pro- larios do mundo, paíTenioi iíòs erri lllencio; àqiíellá Republica íagrada,qu?e al- cançou a to-dd^s^^atrd, 6c por fer fundada pdr Deos 5 parece (|iíe tinlía direito a iíaó paílar., Nafced' a Re- publica Hebréa líú c^ti- y eira do Egypto j Sc quent èntaõ llíe leVa^taíTe figu- ra , facilm^ente llíe poQia: pronofticar os três cativei- ros, 8c trarifniigraçoerS que fdi, arrancada da Pa-^ fria; riuá vez cativa pór Salníariaíaf , em: que paP fou deflerrada aos Aílj- fips ; diitra vez eativá pdr ííabutoddnofor , cní: que

das P^arcaâ. Affim ènvol- paíToii defEerrada ao^^Ba- f éraóy 6c- mifturáraó os Sa- byl(^ios ; 6c a t^rceira^ &'

" MB-

12 Sermão dapriynelra^^ommga

ultima vez cativa por Ti- Nos Capitaens paíTou o

to& Vefpafiano , em que braço invcncivcl àç.]\\à-\s

%

paííbu deílerrada a todas as terras , & naçoens do mundo. Começou no fa- jiiofo Tri j virato de Abra- ham, iraac5&:Jacob5tantas yezes nomeado, & honra- do por boca do mefmo Deos ; mas nem por iíTo deixarão de paíTar todos três. Succedeolhejorcph o quefonhou as Tuas fcUci- dadesj & as adoraçoensde feupayjôc irmãos •, & po- %:0 que todas fe cumpri- rão, todas paíTaraó como íe foraó fonho. Teve o mef- nio Povo três eílados de governo , o dos Juizes > o dos Rcys, o dos Capitrtés , &: fc bem fubindo , Sc de- cendo as varas íc trocarão com os cetros , & os cetros comos baftoens, nenhum daqucUes eílados foieíla- . vcl, todos paílaraó. Nos efpada de

Macabco vencedor de ta- tás batalhas ; paliou a fcça- nhaimmortal de Eleáza- ro, que metendofe debai- xo do Elefante , matou a fua própria íepultura ; ôc paílbu mais gloriofo que todoso honrado, &: zeloíb tcílamento do velho Ma- thatias, digno de fer eícri- toem bronzes. E porque naó fiquem totalmente em fílcncio as Heroinas da melmanaçaò -, quatro ou- ve nella iníignes na Fcrmo- fura, Sara, Rachel, Fílh cr, &:Judith, todas pOTcm fa- taes a qu c m as a \\\ o u . Sara a hum Peregrino com pe- rigos: Rachel a hum Pa- ílor com trabalhos: Efrher a hum Rcy com deígoílos: 6cjudith a hum General com a morte, Efte acabou mifcravelmente a vida-; mas as fcrmofuras antes de fe acabarem as vidas , ú"

Juizes paílou a eipaaa Gedeaó, o arado de San

^ar,&: a queixada de Sam- nhaòpaflado. Florecêraó

ílim. Nos Rcys paílbu a no meimo Povo alem de

valentiade David, a labc- outros igualmente vcrda-

doria de Salamaó, &: a pie- deiros , dezaiejs Profetas

dade,vk rcUgiaò de Joliaí. Canónicos , quatro maio-

res>

do 'Advêntffiò *4^wí -'. '' 1 3

res, &: doze menores •, mas dcs,_ a quinta^o Maujoleo

em efpaço de três feculos os maiores5& menores deí- de Ofeas a Maíachias to- dos paíTáraó. Paflaraó os milagres da Vara, pafTáraó os da Serpente de metal, paíTáraó os de Elias & Eli- feo: & porque faltava

de Caria, a fexta o Tem- plo de Diana Epheíina , a íeptima o Simulacro de Júpiter Olympico. E dei- xando o Aníitheatro de q fófevem asruinas, as Py- ramides cahíra5,os Muros arrazáraófejO Coloílb átí-

paíTar a Ley de Moyfes , & fezíe , o Maufoleo fepul o Sacerdócio de Aram , a toufe , a Torre fumiofe, o

Ley,6co Sacerdócio tam- bém paíTáraó j porque tu- do paíla

13 Agora quizera eu perguntar ao mundo , fe como me enche a memo- ria de tantas couías, que to- das pafilraó , me moilrarà

algúa aos olhos que nam ,

paíTaíTe ? As íctQ fabricas a mais poderofos Impérios : que a fama deo nome de *.^..^^a^a^.^^^^

maravilhas , acrecentáraò

Farol apagoufe, o Templo ardeo,&: o Simulacro, co- mo íimulacro , defváne- ceo fe e m ij mefm o . Tem mais que dizer, ou queop-' por o mundo ? pode ap- pellarparaasmais fortes, & bem fundadas Cidades , Cortes,6c Metrópoles dos

argumento verdadeiramê-

alguns como oitava o An- íitheatro Romano. Mas a maravilha oitava, ou nona he, que todas eíías maravi- lhas, que par eciaó eternas, paílanio. A primeira ma- raviílii forao as Pyrami- desdo £gypto, a fegunda os muros de Babyloiiia , a terceira a Torre de Faro, a quarta o ColoíTo de F^o-^

te de grande boato

antes de fe lhe tomar o pefo. Ni- nive Corte de Nino foi a maior Cidade do mundo : andavafe de porta apor- ta, naó menos que em três dias de caminho : edifica- da de propoíito com arro- gância de que nenhua ou- tra a igualaiTe , como naó igualou. Mas onde eilà ef-^ fa Nipive?£cbatanis Coc- te

1 4, Sermão da primeira ^o^fiinga

te de ArFaxad , & Cidade dar volta a toda a

que o Texto fagrado cha- ma potentiíllma , era cer- cada de fete ordens de mu- rosjtodos de pedras qua- dradas, cada húa de vinte & fete palmos por todas as faceSjSc as portas com pro- -digiofa altura de cem co- vados. Mas onde eftà eíía Ecbatanis? Sufa Corte de AíTuero , &: Metropoli de cento & vinte & fete Pro- vincias , cujo Palácio re- prefentava hum Ceo ef- trellado>fundado fobreco- lunasdeouro , &: pedras preciofas , & cujos muros eraó de mármores brácos ,

redon- deza da terra. De Troya diíle Ovidio : Jam f^ges eft ubi Trota fui t. E o mefmo podemos dizer das plani- cies, vali es, &: montes, dó- de fe levanta vaó às nuvens aqnelles vaíliílimos cor- pos de cafas, muralhas , & torres. De hiãas fe naó fa- bem os lugares onde efti- veraó ; de outras fe lavraó, femeaó, 6c plantão os mef- mos lugares, fem mais ve- fbigios de haverem fido, que os que encontrão os arados, quando rompem a terra. Para que os homens compoílos de carne , «Sc

&jafpesdediíFerentes CO- fanguefe naó queixem da

res j bem fe deixa ver quaó forte, &: inexpugnável fe- ria, pois defendia taó gra- de Monarca , dominava tantos Reynos, & guarda- va tantos thefouros. Mas onde eftà eíía Sufa? Seou- vcílemos de fazer a mefma pergúta às ruinasdcThe- bas, de Memphis , de Ba- 14

brevidade da vida , pois também as pedras mor- rem: & para que ninguém fe atreva a negar, que tudo quanto ouve, paílbu,&: tu- do quanto hc,paíla.

í. IV.

ítra, de Carthago , de Co- rintho,de Scbalte , &: da mais conhecida de todas Jerufalcmi neccílarío feria

Ar;

G;d.

F.aza6 deílc urfo, ou pre- cipício geral com que tu- do paílà, naó he hua fó, íe- naó duas: húa contraria a toda

^V,

'^-^S^o Advento.

toda aeílabilidade, & ou- tra repugnante ao mefmo fer. É quaes faó ? O tem- po 5 &: antes do tempo , o nada. Que coufa mais ve- loz, mais fugitiva 5 & mais inftavel que o tempo? Taó inftavel, que nenhum po- der, nem ainda o divino o pôde parar. Por iíTo os

if

quatro animaes, que tira- vaó pela carroça da gloria deDeos nefte mundo , na5 tinhaó rédeas. Defcreveo o tempo no Palácio do Sol o mais engenhofo de todos os Poetas , & dividindo-o em fuás partes , diíTe aflim elegantemente:

jl dextra lava que dies^ & menjis^ ò^rmus^ S(£cula que-^Ò* fofitsfpatijs aqiialibus^hara^ Ver que novum Habat cmEium for ente corona^ Stabatnudaaftas^ Ò^fpcafertagerebaty Stabat & Atitumnus calcãtisfordibusvuis^ Etglacialis Hyems cams hirfâta capiUis,

Elegantemente, torno a dizer, mas falfa, & impro- priamente. Aquelle7?<í?^/?í tantas vezes repetido,he o que tirou toda a femelhan- çadeverdadeà engenhofa pintura. Porque nem a Primavera com as fuás flo- res, nem o Eílio com as fuás efpigas , nem o Outo- no com os feus frutos, nem o Inverno os feus frios ScneveSj por mais tolhi- d0,&: entorpecido que pa- reça, podem eftar parados hum momento. Paífao as

íliuí.-

horas, paílàó os dias , paí^ faó os annos 5 paílaó os fe- CUI0S5& fe ou veíFe gerogli- ficocomque fe podeíTem pintar, havia de fer todos eom azas,naó correndo, ôc fugindo, mas voando, & defáparecendo. JSTem ef-; cufa efta impropriedade eftar o Sol aífentado : Sede- batin folio Th^bus i por-s queo Sol pôde parar, co- mo no tempo dejofwe,oii tornar atraz^como no tem- po de Ezechias 5 mas o tê- po em nenhum tempo > parar.

•^:i

Mi

Mi!

Meta- mor.

I Sermão da primeira dominga

parar , nem deixar de ir emendou eíla fiia ímpro- por diante fempre, & com priedadeo mefmo Poeta, a mefma velocidade. -Bem quando depois diíFe :

r o

Ipfa qtioque affiduo labuntwf têmpora motu Nonfectís ãcfiumcn^ neque enim confifterefumen Aut levis horafotefl.

E como o tempo nam tem, nem pôde ter confi- ftencia algua , & todas as couíasdeídefeu principio nafcérao juntamente com o tempo, por iíTo nem elle, nem ellas podem parar hum momento , mas com perpetuo moto , & revolu- ção infuperavelpaílar 5 & irpaííando íempre. > \ \^ A fegunda razão ainda he mais natural , & mais forte, o nada. Todas as coufas fe revolvem na- turalmente, & vaó bufcar com todo o pcfo, Sc Ímpe- to da natureza o principio donde nafcérao O homem porque foi formado da terra , aindaquefeja com difpendioda própria vida, & fumma repugnância da vontade, fempre vai buf- caratcrra, & dcfcanfa nafcpultura. Os Kios ef-

quecidos da doçura de fuás aguas, poílo que as do marfejaó amargofas , co- mo todos nafcérao do mar, todos vaô bufcar o mefmo mar, & nelle fe defifo-' gaó, 6c paraó como era fea centro. Aílim todas as cou- fas defte mundo, por gran- des, 6c cílaveis que pare- çaó, tirou-as T>cos com o mefmo mundo do naó fer ao fer , ^ como Dcos as criou de nada, todas cor-; rem precipitadamente , 6c fe m qu e n i n gii e m a s p o fl a terma6,ao mefmo nada de que foraó criadas. Vi- ftes o torrente formado da tempeíladc fubita , como fedefpenha impctaofo,6c com ruído : <Sc tanto que cGÍlbu a chuva , também ellefc fcccou, 6c fumio fu- bitamentc, 6ctornoua fer o nada que dantes cra.-pois a 111 111

Is Advento'. áíiim he tudo, &: fomos to- à- generatio âdventt úos-.à^iz David : Ad^nihi" íum devmient fanqua aqua decurrens, SonJiaílcs no ul- timo quarto da noite, qua-

í7 terra

ajaemin ^ternumflat.

Mas fe bem fe re- para nefta mefma fcnten- ça , fendo taõ poucas as

do as reprefentaçoens da fuás palavras , aííimcoma

fantaíiaíaó menos confu- kúasconíirmaó, aíilmou-

fas, que poíTuhieis grandes trás parece que impugnao,

riquezas > que gozáveis &: cieftruem quanto imo&

grandes delicias , & que dizendo. Porque fe a terra

cftaveis levantado a gran- câá fempre firme , & eíla-

áts dignidades \ Sc quando v el, terra autem in aternum^

depois acordaftes , vi^^^ fiat i fegucfe que ao menos

com os olhos abertos, que a mefma terra naõ paíTa, &

tudo era nada? Pois aílim que ha no mundo alguma

paíTaóa fer nada em hum coufajque naó paífe. Con-

abrir de olhos todas as cederemos pois eíla excei-

aparencias defte mundo, çaóao noífo aíTumptOí^c

diz O mefmo Profeta : Ve- diremos que paíTaó as fígu-

lutfomniumfurgentiu 2>?- ras, como diz S.Paulo>mas

fnine imaginem ipfonim ad que a terra, que he o thea-

nihilum rediges. De forte tro, naó paíla > Naó digo ,

que eílas faó as duas ra- nem concedo tal. A terra

zoes porque todas as cou- toda naó paíTa, mas paífaó,

faspaífao. Paflaõ, porque 6c fempre eílaó paíTando

voaócomotempOj&paf-. todas as par:tes delia. A

fa65porquevaócaminhan- terra compoemfe de Rey-

dopara o nada donde fa- nosjos ReynQS compoem-

híraó. Por iílb , como à:iz fe de Cidades , as Cidades

oEfpirito Santo, quando compoemíe de cafas &

haaspaíTáraóíOu tempaf. campos, 6c principalmente

fado, he neceíTario que ve- de homens , 6c tudo ifto ,

nhaò outras para também que tudo he terra (^ & toda

^■sSiM \QeneratÍQ tr^terit-i aterra } perpetuamente

Txim.7.- § eftà

/

:.

I » Sermão da prime ir a ^ornsTÍgà

cfti paíTando. Daniel revê- tado nas entranhas da ttt^

lando a Nabucodonofora intelligencia da fua Eíla- tuaj diífe que Dcos muda os tempos, ocas idades, & conforme elias paííii os

rajfaó muito raros, mas os que fe fazem na fuperíicie delia, fcmpre a trazem em perpetuo movimento. 17 E fe os grandes

3.31.

Reynos de hiaa parte para Reynos, & Impérios nam outra ; Ipfe miitat têmpora^ faó eíl:aveis,&: paífaó j que & £tates : transferi Regna^ feráó as Cidades particu- atque canftituit. Afum paf- lares , para que naô he nç- fou o Reyno do meímo ceíTario, que a roda da for- Nabucoparaa Períia , o tuna toda a volta ? Naò dos Perías para a Grécia, o fallo daquellas que acaba- dos Gregos para Roma, & raó como de morte fubica,

abrazadas atè a ultima cinza no incêndio de húa noite , como Troya , & Lugduno. Dertadiírejudi- ciofamente Séneca: ^mn-

o dos Romanos para tan- tos outros, quantos hoje coroaò outras cabeças, as quaes fe devem lembrar daquclla infallivel fentea-

Ecci. 10. Ça : Regmim agente ingen- do tmanox/itit Í7iter urbem Se'^^<^*

^- temtransfertwr propter in- maximam-,& nullam ^ nlhil ^^"^*

juftitias. O noífo Reyno privatm-^nihil fublice fta^

naó fendo no íitio original bile efiv tam hmninum^quàm

dos maiores , quantas ve- urbinmfata^vohútur. Dei-

7:es paílbu a outras gentes ^ xadas pois eftas , que fiibi-

Paífou aos Suevos, paííbu tamentepaifáraódo ferao

aos Alanos , paífou aos Carthaginefes, paílbu aos Romanos paílbu aos Ára- bes & Sarracenos , & den- tro da mel ma Hcfpanha também paífou, &: tornou a paniir. Os terremotos, c|ue íc gcraò do ar violcn-

naòíerj íó fallo das que por feus paílbs contados vieraòdchum domínio a outro dominio. E quantas vezes as Pombas deBaby- lonia, quantas osLcoens deJeruÍLiIem , quantns as ^' d€ iJon-

Aguias de Roma

■I

j

doAda)entoV 19

Gonftantínopia , viraó fo- que à maneira de pexes no bre fuás muralhas outras níarjfeandaó fernpre mo

bandeiras? O maior thea tro de Marte no noílb fe- culo, & por ventura , que cm nenhum outro > forao

vendo, 6c paííando de huin dono para outro dono. Ouçamos a familiar evi^ dencia com que o grande

as guerras Belgicas v ^ na- j«izo <íeS. Ágoílinho de grande Provincia de Olá- moftrou a hum delles eíla

da, excepta Dorth,por ifíb chamada a Virgem , ne- nhúa Cidade ouve> que fiaô foíTc conquiílada > &

perpetua infírabiiidade. In- troduz hum Rico 5 que ja- d-anciofo de fer fcnhor da fuacafa > dizia : ^omum

alternaíTeodominio. Que meamhako : 6c pergunta*

direi dos confins fempre IheoSantoaífim : ^am

incertos 5 & taò frequente- í/í?;;^^ w tuam ? ^^á^;;^ ^/ííít

mente mudados de Hcf- meus mihi dimtjit . Efunde

panha com França , de iUe habuit ? Ams nofier il-

França com Germânia, de Iam reliquit. Eecurre ad

Germânia com a Turquia, ^roavurn-^inde adAbavmn^

êt da Turquia com Itália ? d?7^^ nomina nonpotes dl*

Annos ha , que a antiga cere.Tatertuushkeam dt-

Creta, hoje Cândia , fem mijihtranfivitper iUam^fic

fer das Ilhas errantes do cí^í/^ír/^^^/tò. Eftacafa de

A rcipelago, tem pofto em que vos jadais fer fenhorj

duvida o mundo para on** porque he voíTa ? Porque a

de ha de ir , & fe ha de rc- herdei de meu Pay : & vof-

conhecer as Cruzes» ou a$ fo Pay de quem a ouve?

ineyasLuas. De meu Avo : 6c de quem

18 E quanto às cafas aouve voíToavo? Demeu

membros menores,de que Bifavo : &: voíTo Bifavo de

ie compõem innumera- quem? De meu Trefavo.

velmente as Cidades; que naó tendes palavras

poderá comprchender o com que profeguir de que

inextricável laberinto, mak foi , ^ a quem mais

B ij ,paí^

Angt-íl:. Come. in Pi&l. 122.

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20 Sermão da prime ir d^ (minga

paflbu eíTa cafa , que cha- a parte principal, mas ver-

maisvoíTa. Pois aílimco- dadeira mente o tudo do

mo ella paíTou , & voíTos anteparfiidos paíTáravõ por ella, amm ella, Sevos tam- bém haveis de paíTcir. Por efte modo fem firmeza, nem eílabilidade alguma eílaófemprepaflando ne- íle mundo as caías , as quintas, as herdades , os morgados : huns,porque os fazpaHaramorte, ou- tros,porqueos manda paf-

mefmotudo. E vendo o homem os olhos aber- tos,&: amda os cegos , co- mo tudo paíla i nòs vi- vemos como lenaõ paíla- ramos. Somos como os que navegando com ven- to , & maré , 6c correndo velociíHmaméte pelo Te- jo acima, fe olhaó fixam é- te para a terra , parecelhe que os montes, as torres, &

far a juftiça, outros,porque a Cidade he a que pafi^i^ & os convida a paííàr a ri- osquepaílaó,raóelIes.Hc

queza dos que os coprao j outros,porque os obriga a neceílidade dos que os ve- dem, outros,porque a for- çaj& poder os rouba, & íenhorea por violência : cm fiimma, que naó ha pe-

o que ii^c o Poeta : Mon- tes^ urbesque recednnt. Mas demos volta a eíla meíma comparação , & veremos na terra outro género de engano ainda maior. A maior oftcntacaõ deeran-

dra, nem telha , nem plan- deza, & mageílade que fe ta, liem raiz, nem palmo vio neíle mundo, &:huána de terra na terra, que nam das três qu-e S. /Igoílinho eílcja fem pre paíTando , defejára ver, foi a pompa ,

& magnificência dos tri- unfos Romanos. Entravaó

porque tudo paííà. §■ V.

DEíle tudo que cílàrcrDprc paf- faadojhc o homem naófó

por hua das portas da Ci- dade naquelle tempo va- fliilima, encaminhados lo- gamente ao Capitólio : prcccdiaò .os Toldados ve-

cccore*

cedorescomacciamaçoés: taíTc , qúaes éráo os que íêguiáofe repreféntadas ao paíTavão : fe os cfo triuafo , natural as Cidades venci- fe os que o eílaváo vendo:

das 5 as montanhas inacef- íiveis efcaladas , os rios caudalofos vadeados com pontes : as fortalezas , Sc armas dos inimigos , & as machinas com que fora 6 çxpugnadas : em grande numero de carros os def- pojoSjSc riquezas 5& tudo o raro, 8c admirável das ré- gio ens novamente fogei-

não ha duvida , que pare- ceria a pergunta digna de rifo. Mas o certo he, que tanto os da prociílàó, & do triunfo , como os que das janellasj. & palanquesjquc os eílavão vendo, huns, 6c outros igualmente paííà- váo, porque a vida, &: o tempo nunca pára : & oií indo, ou eílanaoj ou camJ-' tas: depois de tudo iíFo a nhando^ ou paradosjtodoí multidão dos cativos, & fcmpre, & com igual velo- tal vez os mefmos Reys cidade paíFamos. maniatados 5 & por fim em 20 Declarou efta ver- earroça deouro^ 5c pedra- dadetao mal advertida ria, tirada por Elefantes, húafemelhãça muito pro- Tigres, ou- Leoens doma- pria S Ambrofio elegante- dos,o famofo Triunfador : : mente : Etfinon Vídemur' ouvindo a efpaços aquelle ire corpo-rditer ^ progredi^ gloriofo , & temerofo prc- mur, Namficut in na-vibus ^^^^ ^ gão : Memento te ejfe mor-' dormientes Gentis ãgu7itnr in píài. í^/é-w. Em quanto eíla grã- in portas -, fie vit£ noftr£ ^-^^'i-^- de prociíTaó (" que allim fpatiodefluente ^ ad propriu lhe chama Séneca ^cami- anus qtii f que finem ^ curfiulã' nhava, eílavão as ruas, as bente deducimur. Tu enim praças, as janenas,& os pa- dormis ^ér temptis tuum am^ ianques, que para efbe fim bulat. Todos imos embar- fefazião, cubertos de iníi- cadosnamefma nao , que nita gente, todos a ver. E he a vida, ôc todos navega- fe Diógenes então pergun- mos com o mefmo vento > Tom./». B iii que

í '1'

2 2 Sermão ddprhnéira l^omifiga

queheotêpo :& aflim co- que nenhum flofticm po*

mona nao huns governaó dia entrar duas vezes em

oleme , outros mareaó as hum rio: &porquc? Por-

velas-.huns vigiaó, outros que quando entraíTe a íç>

dormem: huns paíreão,ou- gúda vez, o rio,qu« femí*

tros eítáo aíTentados : huns pre corre, & paíía , hc ou^

cantáo, outros jogáo, ou- tro. E daqui infiro eu, que

troscomem , outros ne- omefmofuccederia fenao

nhúa cou-fa fazem,& todos foíTc riojfenaó lago,ou tan-

igualmente caminhão ao queaquelleem que o ho-.

mefmo porto •, aílim wòs , mem entrafie > porque ain-.

ainda queonãopareça,in fenfivcl mente imos paf- fando femprej&avifmhan- dofe cada hum ao feu fim ; porque tu , conclue Am- broíio, dormes , & o teu tempo anda : Tu dormis^ ò* tempus Uium amhulat J^'\.& poucoemdizer que o tê- po anda, porque corre , & voa : mas advertio bem em notar qu€ nòs dormimos i porque tendo os olhos abertosp iraver qije tudq paíHi 5 para confiderar que nòs também paílamos, parece que os temos fe- chados.

21 Dito foi do grande Filofofo Eraclito,alcg:ido, & celebrado por Sócrates , Socrat. ]\lunpolJt' qiieriUjtiam bis m

da que a agua do lago^Sc da tanque naó corre, nem fe muda , corre porém , &; femprefe eílà mudando a homem,que nunca perma neceno mefmo eílado : Et minoiu^m in eodemftatuper- Jo^- 1* «í/í!/^'/'. AíIimodiíreJob,&: quem o não diíler aílim de todo o homem , & de fy mefmo , não fe conhece. Admirafe Philo Hebreo, de que perguntando Deos a Adam onde eftava ; j^- c.fiícC dam^ ííbí es , elle não refpó- > 9- deíTe. Mas logo efcufa ao mefmo Adam , & a qual-

Sueroutro homem a quem )cosfizcírea mefma per- gunta j porque comopòd^ rcfpondcr onde cílà, quem waóeílà? Sc diílcra, cíiou

eumd^mjiuvmm defeedder&s aqui (^ como futilme.itc ar-

do Adoenta. gucS. Agoftinho^ entre a primeira fyllaba , & afe- giinda o eftou nam feria eíloUí nem o aqui íeria o mefmo lugar : porque co- mo tudo cílà paílândo , tu- do fe teria mudado. Por ií- fo conclue o mefmo Phi- lo> que fe Adam ouveíle de refponder própria, & ver- dadeira menfe onde cita- va > havia de dizer > mfr

Thilus.

riciaà Adolecéncia^morrc a Puericia : paíTando da Adolecencia á Juventud, morre a Adolecencia : paf- fando da Juventud à idade de Varão, morfe a Juven- tud : paíTando da idade de Varaõ á Velhice , morre a idade de Varaó : &: final- mente acabando de viver portaata continuação, 6c fucceíTaô de mortes j com €[Mam , cm nenhua parte i a ultima,quefó chamamos porque cm nenhua parte morte , morre a Velhice, cftàaquilbqucnúca eftà, Aífim o coníideravaó a- mas fempre paífa : Adquod queiles Sábios, mais larga, -fropTte refpondère foteraPy & menos fabiamente do nufquam : eo quod humana que devéraójaps quaes por resnunquam in eodemjiatu maneat,

Confiderandò eíle

21

iíTo emendou S. Paulo, di- zendo que morria todos os _ ám^'.§luoUdiemorwr. K ja .^.^x.

continuo paífar do homem pòdefer, que da cómuni-

( naó Fora de fy, fenaó on- caçaó que Séneca teve c5

de verdadeiramente pare* S. Paulo, enfmou elle eíla

ce que eílà , & permanece, mcfma lição ao feu Difci

quehc dentro em íy meí^ mo ^ diziaó os Sábios da Grécia, como refere Eufe- bio Cefarienfe, que todo o homem , que chega a fer vclh o, morre féis vezes. E como? PaíTando da Infân- cia à Puericia , morre a Tn-

pulo,quando lhe diz : Sin- gulos diesyfivgíilas njitasf ti- tã, ^c o Sol, que fempre he o mefmo, to dos os dias tem hum novo nacimento, & hum novo occafo, quanto mais o homem por fua na- tural inconílancia taó mu-

fanci^ : paíTando da Pue- davcl, que nenhum heho*

a iiij jc

\

^4* . Sermão da prmeiraVyommga

jeoqueFoihontem , nem fando tudo para a vida, na

f •;

nem ha de fer à manhãa o que hehoje ! Defenganemonos pois todos, & diga , ou di- gafe cada hum com ElRey ifj^i.,8, Ezechias : T>e mane nfqtie 12, advefperam fintes me, E fej a a ultima conclufaó defte largo difcurfo -, que entaó diriiiiiremoS'bem , & co- nheceremos.o quehe efta vida,&: efte mundo , quan- do entendermos que nam eílamos nelle em per- petua paíTagem , mas em perpetuo paíiamento.

23

§,Nl,

dapaíTc para a conta. O que faz, & ha de fazer dif- ficuftofa a conta faó 03 pecca dos da vida, & de to- da a vida. Eque confufao fera naquelle dia taó cheo de horror , &: aíTombro, olhar para a vida , &: para os peccados de toda ella,Ôc ver que a vida paííbu, & 05 peccados naõ paíTáraó.

24. Deixe paíTar&naó pai lar, na 6 temos os do- cumentos da Efcritura, mas grandes, & manifeílos exemplos da mefma natu- reza. Chrifto Redeniptor, &: Juiz uni verfal noííocó- parou o dia do Juízo ahúa

ASíim paíTamosf todos, & aílim Rede lançada no mar, Sa- ^^'"^ paíTa tudo para a vida : de- gen£ mijfa in maré . O mar ^^'^^' lengano verdadeiramente he eíte mundo : a rede he a nam trifte , mas triftilll- comprehenfaó da ciência, mo, íe efte fuperlativo , &: outros de maior horror naõ foraó mais devidos ao que, 8c depois de tudo pa f- far, fefeguc. Depois da vi- da feguefe a conta. E fendo aconta,que fchadedar,dc tudo o que paílbu na vida 3 triílillima, ik tcrribiliílima f Oiiii Jcra^aó hc í qucpaf-

& juítiça divina : os que nella andáo nadando jk prefos,ou com maior 5 ou com menor largueza , faó todos os homens. E aílim como na rede , quando malha he muito eílrcitaífo a agua pòdc paliar, & ne- nhúa outra coufa j aílim paíFa íòmcntc pur cl-la a Vida,

ão Advento. if vida, & tudo o mais C que mo documêto : Cribram a- ^^^^f^ faóospeccados }íicaden- quasdenuMusc^loru.Dcí- trOj&nadapaíIa.Ohquam ceanuvé como efponj-a a apertad;i5& eíireita he efta beber no marjêc fendo a a- malhadarededeDeos: &: guado niarfalgada , &:a- qiiam fácil de paílar, ainda margofa,paífada porê pela por ell a 5 a vida, que como nuvê;,o q fícajhe o amar- agiia fempre eftà paífando! gofo^, & o que defce , o Omnesmorimiir , & quaíi doce. Por iífo com grande aqua dilabmur. O meíluo propriedade efte paífar , Sc Chriílo cóparou eílc paf- naô paífar fe compara na far,&naó paífar ao crivo, nuvem ao crivo , &: navi- quando diífe a feusDifci- da, & na conta ànuvem.O Luc.22. pulos \ S'atanas expetivit que paífa por ella, & calo- sa- .'vosíit CYíbraret ficut triti- crânios , he o doce da vi- cum. AlTimcomo no crivo (^diz SJoaô Chryfotlomo, comentando eftas pala- vras. ' Aílimcomo no cri- vo dando hua & muitas voltas, paífa o graó , &

da: o queíicalà em cima,' & naó vemos, he o amar- gofo da conta.

2 5" Naó podia Job fal- tar a enobrecer efle mef- mo aíTumpto , como ta6 fica a palha •, aífim neíle próprio das fuás experien- niundo (' que todo he fu- cias, com algua femelhan- rado ) com a volta, que daó ça que mais ainda nolo de- os diaSjSc os annos, paífaa clare. Diz que obfervoíi

vida,^: os goílos delia, Et innovíjjimo nihtl remanpt^ nififolum feccatum , & no .jíim,3cparao íim fo íica o - peccado. De outro crivo

Deos todos feus caminhos, & coníiderou as pegadas dos feus pès: Obfervafii om- lob. nesfimitas meas^ ér 'vefttgia, ^ ''- fedum mearum cõnJtderaftL

falia David, qhe o das nu- E porque confidera Deos

vês,por onde fe coa a agua naó os paífos, fenão as pe-

da chuva,o qual mais alta- gadas ^ Porque os paífos

mete nos inculca elle mef- paífaó> as pegadas íicão: os

m

y as pegadas a

■■■<

2 <> Sermão da primeira dominga

paíTos pertencem à vida, das cílaó manifefras , 5c

vemfc , as raízes eílão es- condidas, & náo fe vem : & aíllm tem Deos guardados inviíivelmenre todos os noíTospeccados, os quaes no dia da conta rebentarão comoraizes , ôc brotarão nos caftigos , que pertence à natureza de cada hum.

que paílbu

cóta,q náopaíTa. Masque differentementenaó paíTa Deos pelo que nòs taò fa- cilmente paíTamos ! Nòs deixamos as pegadas de- traz das coftas , 6c Deos tem-nas fempre diante dos olhos, com que as nota, & obfer va : as pegadas para lilo he o que canto cuida* nòsapagaófe , como for- do dava a Job. madas em pó, para Deos 26 Finalmente o Apo* naó fe apagaó , como gra- ílolo S. Paulo > pregando vadas em diamante. Tal contra os que abuíaò da he a conílderação dos pec- paciência, Ôc benignidade cados, que na noíTa memo- de Deos , & em vez de fe ria logo fe perde, & na ci- aproveitarem do efpaço q encia divina fempre eftá Ihedàparaapenitécia, ga- prefente. O^ Setenta em fí"áoa vida em accumular lugar de pegadas trefladá- peccados fobre peccados, rão Raizes : Et radicespe- Naó vès (" diz J ò hom em , dum meorum conjiderafti. que defprezas as riquezas

Aíllm como os pés fecha- máo plantas,aílim às pega- das lhe quadra bem o no- me de Raizes. E porque deo eíle nomejob às pega- das dos feus pafibs? Não porque os paíTos pafiaó, & as pegadas íicão j mas por- que ficaó como raízes fun- das,6c firmes , 6c que fem- pre permanecem. As pega-

do fofrimento, 5c longani- midade divinaj6c que pelo contrario, fegundo a dure- za do teu coração , enthe- fouras para ti a ira, 6c vin- gança, que te cfpera no dia do Juízo? An divitias honi- tatisejusy &patíenti£i & longantmitatis contemnis > ^^^ Secundam autcm duritiamy ^*^* (^ impaniíms cory thefauri-

ão Advento. >7

%as tihi iram-, m die ira , & todos enthcfoura mos : to- revelattonis juHt judicij dos gaftamos o que paíTa, "Dei ? De maneira qu® ao & todos enthefouramos a peccar fobre peccar chama que nao paíTa : o que gafta- S. Paulo enthefourar , the- mos^he o da vida,o que erir

faurizastibi : porque ainda que a vida , & os dias em que peccamos paíTaô -, os peccados,que nelle come-

thefouramoSjO da conta.

27 Infinita matéria fe- ria^ fe agora ou vera mos de reduzir àpraticahuma 5 6c

temos^naó paífao , mas fí- outra parte defta demo- cão depofitados nos the- ílração^ &poIas ambas em fouros da ira divina. Falia theatro Mas por iíTo nos

o Apoílolo por boca do mefmo DeosjO qual diz no Deuteronomio:M>;?;2é'^^^ conditafiint apudme^ ò^fi^- mata m theÇauris meis^Mea ejfultio^i&ego retribuam in tempore^ Eíles theíburos

detivemos tanto íio pri- meiro ponto do noílb diC- curfo. Naó vimos nelle defde o principio domun- dojcomo tudo paíTouPNaò vimosj comotodos os que em tantos feculos vivèraó>

pois,que agora eftáo cerra- paíTáraõPPois eíTe tudo q

dos/e abriráó a feu tempo, entáo paíTou para a vida ,

& fe defcubriráó para a có- he o nada que naó paífoii

ta, no dia doJuizOíque iíTo para a conta: & qí^qs todos>

quer dizer, /;í&/>^,d^•^í'- q^e então morrerão , &

velãtianis juftijíidictj T>ei. Confideraime hum home rico , 8c que tem mais ren- das cada anno do que ha miíler para fe fuftentar:

agora eftáo fepultados, faò Qs que refufcitados nefte mefmo dia haó de apare- cer vivos diante doTribu* nal diviíio , para dar eífe

que faz efte homem ? Hãa conta eftreitiíTi ma de quã parte do que tem gafta , &: to fizerao. Nefte Tribunal

outra parte enthefoura. Pois ifto he o que fazemos todos. Todos gaftamos, 6c

vio S. Joaõ aílèntado fobre humthrono de admirável mageftade o fupremo Juiz,

6c com

Apoc.

Ibid. i;

Uul.

Sermão primeira dominga afpe^bo taó tcrrí- fcriptaeraiit mlibrls.k^vvcí entendem literalmente ef» tes textos como foaó , Be^ da,^: outros Padres. Mas porque razão o livro da vi^ da, era livro , £c os livroy daconta,livros? Porqueo livro da vida contém os dias da mefma vida , que faópoucos.Sc os livros da conta contem ospcccados cometidos nos mefmo» dias, que faó muitos. Aí- fim que poílos à viíla no tremendo tribunal de húa parte o livro, &: da outra 1 ivrosr então fe veráó jun- tas, & concordes as duas combinaçoens do nollb aí^ fumpto: no livro , como Et líb] i ãperti junt , & dius tudo paííli para a vida j nos líber apertus ejt y qui ejl vi- livros, como nada paíla t^y & judlcati fnnt mc"Uú ex hís qtí£ [cripta erant in libris Jecundhm opera Ip fó- rum. DeíladiílLnçaòqueo Evangeliílafazde livro a livros, fc claramente, que o livro era da vida , //- ber^qui eft -vit^-, $c que os 1 i- vros eraó da conta^ porque pelos livros foraò jul ira- dos os mortos: Etjudicã' ti fiint mortm cx his qiiíe

2%

&com vel, que afíirma fugio delle o Ceo,& a terra : Et vi dl thronummagnnm candidú.y érfedentemfiiper eiim^ à ca- jus covfpeãufiigit terrã^ ò* calum. Diz mais,que vio a todos os mortos grandes, & pequenos em pè, como rcos , diante do mefmo throno ; Et vldl mortuos magnos^ Ò^pufiUosft antes In conjpeãu thronl. E final- mente conclue, que entaó aparecerão, 6c fe abríraô hum livro, & muitos li- vros, Seque pelo que eíla- va efcrito neíles livros fo- raó julgados todos , cada hum conforme fuás obras:

para a conta.

28 c^t'

VII.

te nada do qual azemos, que na- da paíla para a conta , he o que agora havemos de ex- aminar. Pergunto: Sc na- da pafia para a conta, pare- ce que também o nada pô- de ler chamado a juízo? E

fc

' do Advento^. 29

fcacafo for chamado , ef- tinha por nada jVCrdadei- caparà da conta o nada ramente era nada; t//^/^^- porfernada ? Creio que ras miquitatem meam , d^Jpb. 10.

todos eflâo dizendo, que lim. Mas he certo , & de fé, que tambcín o nada, por mais caliíicado que fejajhadefer chamado a juizo, 8c porque nada paf- faparaa conta , nem o

í.'Cor, 44-

peccatum meum fcruterisy érfcias^ quia nihilimpíum fecerim. E S. Paulo dizia , que elle fe naó dava por juftiíicado do que na fua confciencia reputava por nada, porque deíle nada niefmo nada ha de paíTar naó avia elle defer ojuiz , femella, & muirigurofa. fenaó Deos : Níhil mthi ,.Cor.. Ninguém foi mais caliíi- confciusjum^fednoninhoc'^''' cado na Ley da Natureza, jufttjicatiisfumiqui atitem que íob:&: ninguém mais judie at me^^ominus eft, califícado na Ley da Gra- £is-aqui quam manifefta, ça,que S.Paulo ; & que & provada verdade he> dizia de íy hum, & outro? que nada paíTa para a con- ta, pois atè do mefmo na- da a ha de tomar Deos > Sc tão eílreita.

29 Mas qual he , ou pôde fera razaó , porque onde dous homens taò

f ob dizia, que nada tinha lob. 10 fçito contra Deos : §luia ^* ni^il impmm fecerm, S. Paulo dizia, que nada avia na íua confciencia, de que dia o acufiíTe : NihilmiM

confciusfiim. E eíle nada grandeSjtáo caliíicados3&

de Job , & efte nada de S. táo fantos como Job, & S.

Faulo efcapáraó por ven- Paulo náo reconhecem

tura da conta, 6c do juizo > nada de culpa , lha haja de

Eli es mefmos confeíTaó, arguir Deos, £c pedirlhe

que de nenhum modo. conta? A primeira razão,

Job dizia, que Deos o ti- & da parte de Deos {^a qual

nha poílro a queftaó de pôde ignorar quem o

tormento, como reo , pa- não conhece ) he, porqoe^

ra averiguar, fe o que dle ainda nas couías mais m-

teriores

M.at.h.

25.21.

50 Sermão da pr

reriores noíías , conhece Deos muito mais de nós , do que nós de nós. Quan- do Chriílo na mefa da ul- tima cea re v^elou aos Apo- í Lolos 5 que hum deíles o avia de entregar : Amen dico vobisy quiaunus veftru tnetrãdituniseft : diz oE- vangeliíla, que muito tri- íles todos com tal noticia, começou cada hum a per- guntar : Nunquid ego fum iUd.2z. ^]Jo7nine>VoT ventura, Se- nhor, fou eu eíTe ? Pedro , Andrè,JoaÓ5&:os demais, excepto ludaSjbemfabía cada hum de fy, que nam era o traidor, nem tal cou- fa lhe paíTára pelo peníà- mento : pois porque fenao deixaó eílar muito íegu- ros na boa da fua lealda- de, mas pondo em duvida o de que nao duvidavam , pergúta cada hum a Chri- ílo fe he elle o traidor: Nunquid ego fiim ? Porque, ainda que a própria coní^ cienck os naó accuíava, fabíaó todos que fabía Chriílo mais de cada hum dellcs, do que elles de fy. EUcs conJiçcia6fc> como

imeira ^õmmg^ homens, Chriílo conhe- cia-os, como Deos. EíTe foi o erro, &: engano de S. Pe- dro, que eílava à mefma meíli ! Pedro diíTc , que fc foíTe neceíTario daria a vi- da por Chriílo; CIhííIo pelo contrario diíTe, que três vezes o avia denegar naquella noite. E porque foi eíla a verdade ? Porque Pedro fallou pelo que \%^ noravadefy, 6c Chriílo pelo que conhecia delle. Hoc illi Chriftus pranuTU ^^^^a,, ttabat^ quodínfe fpfe igno^ ° r/?^^í,dizS.Agoílinho. E como o Juiz daquelíe dia conhece mais de nôS) do que nós de nós ; nam he muito que elle nos conde- ne pelo que nós ignora- mos, 6c que no feu juizo fe- ja culpajO que no noílb pa«» receinnocencia.

30 A fegunda razaò, & da parte noíTa he •, por- que alllm como Deos fabc tanto de nós, aíHm nós fa- bcmos muito pouco de Deos : & por iíTo as noíílis razocns naó pódcm alcan- çar as luas. Hum dia de-' pois de Chriílo entrar tri-' iinfante (

do A advento] ji'

linfante em Jeruíalem , to no £c\i tQ,mi^o -: E t fru u pcm

fimm dabit in temporefu

vindo de Bethania para a mefma Cidade, efiirijty te- ve fome & como vííle ao longeíiua figueira verde > &- copada, encaminhou os paílbs atè ella, por fe aca* íb ti veíle algum fruto :.4SV- quid forte inveniret in ea^ Mas porque naó achou mais que folhas,Iançojalhe o Senhor maldição , de que eternamente naò déí^ fe fruto : Nunquam ex te fníCiusnafcatur in fempi- ternum : &c no mefmo mo- mento fe íeccou a arvore defdeas folhas atè as rai^ zes. He porem muito de notar nefte cafo, como no« taS. Marcos , que naó era tempo de íig05: Nonenim erattempiisficontm. Pois fe naó era tempo de aquella arvore ter fruto^ porque a amaldiçoa Chriílo , & a fécca,naófó para aquelle

HW. ''l*

Poisfehe louvor nas me- lhores arvores darem a feu tempo o feu fruto, como foi culpa nefta , não fe a- char nella fruto , quando naó era tempo? O mefmo Evangelifta S. Marcos diz, que eita fen tença de Ch ri- flo foi repofta, que o Se- nhor deu à Arvore: Et ref- pondens dixit ei : Iam non ampUus

m aternum ex te frutftim qttífquam madvicet. Se a fen tença de Clirifco foirepoíla que deu à ar- vore, final he que a ouvio primeiro , & ella allegou de fua juíliça. Reparem aqui os Juizes , ou conde- nadores, que nem a hum tronco irracional,&:infeH- fi vel condena Deos fem o ouvir. Mas que he o que allegou a Arvore? Allegou o mefmo texto do Evan-

14,

anno, fenaó para femp re ? gelifta : & efia va como ÒX" Podia a ver califa ,ou def- zendo mudamente ao Se-

culpa mais natural de naó

ter fruto , que naó fer tem-

o delle ? Da srvore a que

e comparado o jufto , diz

David, quedara o feufru-

nhor: Eu bem tomara eftar carregada de frutos ma- duros, 6c fazoa dos , para os. oíferecera meu Creador j porém a cauía ^ & impedi- menta

Rom.

2 2 Sermão dap

meto natural de me achar íèmelles, he pornaó fer ainda chegado o tempo: Nonerat tempusficorum. E que fetn embargo defta replica ao parecer taóju- lUíicada , a condenaíTe Chrifto, &: com condena- ^ao attn-siyinfempternuml Aílimfoi. Mas com que fundamento, oujuíliça? Entre todos os Expofito- res da Efcritura, mais Le- trados, ôc de maior enge- nho, nenhum ouveatègo- ra, que déíTe íatisfaçaó ca- bal a efta duvida. E a ra- zão de fe lhe naó achar ra- zão, hejporque as razoeiís dos homens naò alcançaó as de Deos, & onde naó fa- bedefcubrir culpaojuizo humano, a pôde achar o divino. Porque naó com- prehende o home a Deos ? Forque Deos he lacom- prehenfivel. Pois também por iíTo os juizos humanos naó comprehcndem os di- vinos, porque os divinos fió incomprehenfiveis : ^am tncomprehenfibdta iudícia ejus !

íi Sobre eítes dous

r inteira ^omingu

princípios taó manifeííos, mim da ciência de Deos para comnofco, outro da noíTa ignorância para com Deos > fica fatisfeira , & emudecida toda a admira- ção de que Deos haja de julgar atè o que reputa- mos por nada,& neíTe mef- mo nada haja de arguir, & achar culpas , de que pe- dir, Sc tomar conta no dia dojuizo. Sòrefta humef- crupulo , que ainda nam acaba de fe aquietar,&na5 menos, que acerca daju- íliça, com que Deos nos hajadecaíligar pelo que naó conhecemos. He ver- dade que Deos íabe de nòso que nòs ignoramos de nòs, mas eíla mefma ig- norância noíTIi naó íb pa- rece que nos derculpa,mas nos livra de ler peccado o que naó conhecemos co- mo tal. Sem vontade nam ha culpa , fem conhecimê- to naó ha vontade-, como logo pôde fer peccado, & caltigadocomo peccado o que eu naó conheço ? Bem tinha decifrado cíhiThco- WAx o Autor do noífa

PrOT

:rí

ão Aò'úent6. 3^

Provérbio : Qiicm igno- ignorância lhe aGrecentoia

laor.

rancemente pecca, igno- rantemence vai ao Infer- no. Huafó ignorância ef- ciifa cíopeccado, queliea, ifívencivel. Mas eíia pou- cas vezes fe acha. Os de- mais não peccáo no peccadoj mas na i^oran- cia, com q o naó conhece.. Nãopeccárão graviílima- mítç, os Judeos na morte deChriílo?&:cótudo diz S.Pedro,q elIes^Scosfeus Principes o íizeraó igno- rantemente : Seio qmaper ignorantiam feciUis^ ficut ér Trincifes <vefirL £ o mefmo Chriílo quando á^iKc y Tãter^ignofce ilUs^ nouenimfciunt quidfaciut^ juntamente alíegou par elles a ignorância, & pedio para elles o perdão. Se a ignorância os livrara do pecçado , não tinháo ne- ceflidade de perdão : mas pediolheo Senhor o per- dão, quando lhe confeílbu a ignorância 5 porque tam fora eíliveráo de ficar izé tos do peccado pela igno- rância coQi que o comete- rão , que antes a meíma : Tom./.

hum peccado íbbre outro peccado. Hum peccado, porque tirarão a vida ao Meílias não conhecido, & outro peccado 5 porque o não conhecerão , tendo tá- ta obrigação , como evi-- dencia para o conhecer.

3 2 lílo meímo he o que fe hoje entre os que co- nhecem, «Scadorão a Chri- fto 5 & não por aconteci- mento raro,íenão comum . mentejiiem nas vidas $ fenão também nas mortes. Quantos peccados vemos., & quam grandesjnê emen^ dados na vida, nem confef^. íãdos na morte, os quaes não ío Deos , mas todo o mundo eílà conhecendo ^ & os mefmos,que os co- mctem,osnão conhecem! Não os conhecem , por- que a largueza ,& relaxa- ção da vida efcurece a co- fciencia, 6c cega a alma: . não os conhecem , porque o amor próprio fempre ef- cufa, & aligeira o que nos códena: não os conhecem, porque os intereíres,& có- veniencias deíle mundo C tra-

5 ^ Sermão da primeira T)omÍTiga

trazem configo o efqucci- ^bitabfcondiui tencbrarum.

u

Píalm.

mento do onero : nam os conhecem 5 poí que os naó querem examinar , nem confulrar com quem de- viáo ; não os conhecem fi- nalmente, porque com ig- norância aífedada os nam querem conhecer para os naó emendar : Noluit in- telliaere , ut bene ageret. Vede agora , fe caftigarà Deos julhimente no dia do Juízo os peccados naó co- nhecidos, fc por cometi- dos merecem hum caíli- gOj&pornaó conhecidos outro maior ? Forem fe atè

aquellcdia eílaràó defco- nareprefentação do mef- nhecidosj&fepultados nas mo dia dojuizo , o mefmo trevasdeíla maliciofa , &: foberano Juiz nos cõmu- ignorante ignorâncias en- nicárahum rayo daquelhi táo refufcitaráó, & ílihiràó luz,para que viramos ago- a kiz , porque o mefmo raoque então avemos de juiz univerÍLil, como diz S. ver , & com os peccados Faulo, com os refplando- conhecidos nos preíenta-

,.Co,-. 4Í-

Pormeyodeílaluz desen- ganadas entaó , &: aílbm- bradasasmcfmas confci- encias do muito que ve- ráó ÍI\ir de baixo do nada quenaóviáo, ou não qui- zeráo ver^nenhCia terá que eílrajihar, nem replicar á fentença5ainda que leja de eterna condenação , & to- das diráó convencidas : pfaim. hi}us es'Bomine,&r^um •'^'^r jiidiciiim tiium.

§• VIII. 33 /^^^^ <^^^^ grande V_y mercê de Deos fora, fe hoje, que eílamos

res de fua prefcnça alki- miarà as confciencias de todos os homens, & defco- brirà manifeíta mente a ca- da hum tudo o que nellas clbiva cfcondido, & ásef- cu ras : (^oadulquc ^Y niat ^DrminiiSj qui & tUumu.a-

ramos antes ao tribunal de fua mifericordia, que de- pois ao de fua juíliça ! Mas bcmdita feja a bondade do mefmo Senhor , que nãofó nos deixou comu- nicado na fua doutrina hií rayodaquclla luz , iVr.am trcs,

do Advento. . Jf

e não cerrar- ne^n vãlicattonh tu£ , jãm í- enim non poteris njilltcare. Dai conta da voíTa admi- niftração , porque defdc eíla hora eílais excluído delia. Eíla circunftancia de fera conta a ultima j &

três, fenos Ih mos os olhos. Sendo a,ma- teriadetudoo quepaífou para a vida , & náo ha de paífar para a conta , tam immcnfa à capacidade hu- mana, fó a Sabedoria divi- na a poderá comprehêdcr: naó fe poder emendar , he ôcaílim o fez Chrifto Se- hííadas mais rigurofas do

ac.i5.

nhor noíro5reduzindo-a,& repartindo-a em três Pará- bolas, nas quaes nos eníl- nouemfummatoda a có-

dia dojuizo. Vindo pois aofentidoda Parábola 5 o homem rico he Deos ; as fuás herdades faó as Igre-

ta,quenoshade pedir, & jas, &asFrovinciasi oad- deque. A primeira Para- miniftrador noefpirituaí.

bola, he dos Officios, a fe- gunda dos Talentos, a ter- ceira das Dividas. E eíle mefmo numero 5 & ordem feguiremos para maior di- ftinção,& clareza.

34 Quanto aos Offi- cios, diz a primeira Para-

he o Papa, no temporal he o Rey , 6c abaixo deíles dous fupremos todos os outros Miniílros Eccleíia- ílicos,8c Seculares, que re- partidamête tem inferior jurdição fobre os mefmos fubditos. A todos elles

bola("queheado Villico^ pois ha de pedir Deos ef- que ouve hum homem ri- treita conta, não quan-

CO5 o qual deo afuperin- tendenciadas fuás herda- des a hu m criado com no- me de adminiílrador del- ias E porque naó teve boa informação de feus proce- dimentos, o chamou a fua prefença,& lhe pedio co- ta, dizendo : Redde ratiu^

toàspeflbas, fenão tam- bém,& muito mais quanto aos officios. Qiianto àpef- íba, ha de dar cada con- ta de fy, & quanto aos offi- cios , ha de dar a mefma conta de todos aquelies, que governou, & lhe foraò fogeitos. De forte que o Ç ij I^a-

:; 6 Sermão da primeira TDom-inga

Papa de dar conta de to, que não temos fé, nem

roda a Chriftandade , o Rey de toda a Monarchia, o Bi fpo de toda a Diocefí , o Governador de toda a Província , o Parocho de rodaaFregiiefia,o Magi- ilrado de toda a Cidade, & o cabeça da cafa, de to- da a família. Oh íe os ho- mens foubéráo o pefo que tomão fobre fy quando com tanta ancía , Sc nego- ciação pertendem , & pro- curáoosoíiieíos, oufecu- laresjou EceleíiaíiícoSjCO* mo he certo que havíáo de fugir 3 & benzeríè del- Its ! Mas não os procurão pelo pefo, fcnão pela dig- nidade, pelo poder, pela honra, pela eílímação, &

fabemosaquenos obriga. Vedes quantas Almas ha neíta Cidade, quantas Al-^ mas ha neíla Província^ quantas Almas ha em to- do o Reyno ? Pois fabei,fe oignoraís,au não adver- tis, que de todas eíl as Al- mas hão de dar conta a I>eos os que governam a, Cidade, a Província , & o Reyno. Porque aílim co- mo fobre todos , ^ cada hum tem poder <Sc man- do, aílim em todos, & cada hum faò obrigados a lhe fazer guardar as Leys,nam as humanas, fenáo tam- bém as divinas. Não he iílo encarecimento meu, fenão doutrina folida , &

maisque tudo hoje, pelo de pronunciada por bo- intereíle. Porém quando ca de S. Paulo : Obcdne

no dia dojuizo fc lhe to- mar a conta pelo pefo, en- tão veráó onde os leva a balança.

^f Sc he tão diílicul- tofodarboa conta da Al- ma própria , que he huma, quam diíhcil, 6z quaniim- poíQvel fcrà dalla boa de tantas mil P Çoaio hc ccr«

Tr^pofitis vejiris^&fubjn- cete eis : iffi enim fer^vigi- ^^^^^. lant qiiafirationernpro ani- xiij^ mabus vejiris reddituri. Obedecci,díz a Apoílolo, a voíTos Superiores, &: fe- dclhe muito fogeitos^por- que a fua obrigação hc ze- lar, & vigiar fobre asvof- fis vidas í como aqucUcs que

do Advento'. ^7

que hão de dar conta a revelação do mermoCh ri-

Deos de yoílàs A Imas. Ve- de quanto maior he a fo- geiçáo dosSuperioreSjque a dos ílib ditos. Quantos íàó os fubditosjqiie eíláo fbgeitos ao Superior» tan- tas faó as Almas de queeí- tàfogeito oSuperior a dar conta a Dcos. E pofto que çílc oráculo baftava para

fto, todos os homícidios, todos os adultérios, todos os furtos 5 todos os facri- legios5& mais peccados que os vaíTailos cometem na vida, &rcynadode hu Rey, & as ovelhas, & fub- ditos na vida, & governo de hum Prelado , todos eA tes peccados íè lançáo lo-

nenhum homem que tem gOí&cícrcvem nos livros querer tomar fobre fy de Deos debaixo do titulo

dotalReyj& debaixo do titulo do tal Prelado, para fe lhe pedir conta delles no dia do Juizo.

jd Ponhamos agora

húa tal fogeição^ouvi ago- ra o que nunca ouviftes. Nem todas as íentenças deChriílo eftão efcritas fio Evangelho : algúas fí-

cáráo fomente impreííãs efteRey, & depois pore- lla tradição defeus Difci- mos também eíle Prelado ^ulo», entre as quaes he diante do tribunal divino, Kéfer- ^^^ Jf^o^^vel como terrivcl & vejamos que refpon- eíla: Omnêpsccatum^ quod dem a eftes cargos. O Rey ^ remiJJiíSi & indifciplinatus he a cabeça dos vaíTallos :

Haber to Pha'

fi» in- admíferitfrater , ad negll

dos os peccados , que co^ metem os íubditos,fe ef- crevem , 6c carregáo logo no livro das culpas doSu-

& quem ha de dar conta dos membros? fenão a ca- beça ? ORey he a Alma do Rcyno : &: quem ha de dar conta do corpo,fenam a Alma \ Pedira pois conta Deos a qualquer Rey,naó perior, porque ha de dar digo dos peccados rcusj&r conta delles. De modo,que da pefíba , fenam dos (çgundo eíla fentença ^ Sc aIheos,& do oíiicio, E que; .-.To Cl. ^ C ii] refr-

1.

^cAiz-^ i^t^^pT^otinus revertltiiT

^aíab feniorem. Quer dizer: to.

nicnfi Abbare in Mo- nafiicis

ftrioni-

58 , > reípondera

BiMS Reo ? Parece que po- derá dizer : Eu, Senhor, conhecia que era obrigado a evitar os peccados dos meus vaílal los, quanto me

Sermão daprmeira T>õmin^a

não Rey, tcrceíTaò , & outros por adulação , & outros por ruim, & apaixonada infor* mação? fc os que ficarão de fora com mais conhecido merecimento, porc]ue os

foíTe polliveh mas a minha excluiftes ? Mas dado que

Corte era grande , o meu Reyno dilatado, a minha IvJonarchiaeftendida pela Africa, pela A íia, & pela America •,& como cu não podia eílar cm tantas par- tes, & tão diílantes , na -Corte tinha provido os Tn bunaes de Prefidentes, ^cConfelheiros , no Rey- no de Miniílros de Jufti- ça,&: Letras , nas Conqui- HasdeVifo-Reys, & Go- remadores , inítruidos de Regimentos muito juíios, Zic approvados. E illo he tudo O que fiz, & pude fa- zer Também poderá me- ter ncita conta o feu pró- prio Palácio, & aqucllcs de que íe fervia mais fami- ]iar,& interiormente. Mas fobre todos cae a replica. E cíles que cicgcílesjfdirà Dcos 3 porque os elege- rdes ? Não foráo algús por aiiciv^ao , & outros por m-

todos foífem eleitos com os olhos em mim ,& jura- mente-, depois que na ad- miniílração de feus offi- cios conheceftes, que nam procedião como eraó o- brigados , porque os nani removeílcs Jogo, porque os dillimulaítes, &; confer- vaftes 3 & o quepeorhe, porque os deípachalles de novo,&com mais autho- rizadospoílos? Se o que aílblou húa Província , o deixaíles cócinuar na mcf- maaííblação, & depois o promoveftes a outro go^ verno maior , como nam foftes complice das fuás iiijuftiças, & das culpas, qucelleemvez de reme- diar acrecentou com as fuas,&:com o excplo del- ias? Se as fuás tiranias vos foraó manifeftas , como as dcixaíles fem calligo , &z os d;^x\o$ dos oílcndiuos . . fcna

do Advento.

fem rcftituíçáo ? Quantas lagrimas de orfa os ) quan- tos gemidos de viuvas, quantos clamores de po- bres chega vão ao Ceo no roííb Reynado , quando

^9

lado a dar conta, &• a ouvir em eílatua o proceífo, que depois da refurreiçáo lhe fera notificado em carne. Oh que efpedacuío íerà aparecer defcoroado da

paraííiprir íuperfluidades MitrajScdefpido dos pa-

vans> & doações inofíicio- ramentos Pontificaes dia-

fas, voílbs Miniílros Ç por te da Mageftade de Chri-

iílb premiados > & louva- fro Jefu aquelíe, a quem

dosj com impiedade mais o mefmo Senhor authori-

que deshu mana náo os zou com o nome, & podev

defpoj a vão, mas defpião P res de feu Vigário, & cuj a

Ifto hco quepoderàrepli- hainiana , & divina Peííba

car Deos, emudecendo, & reprefentou nefta vida !

náo tendo que refponder O Taftor^& Idólum f lhe

o trifte Rey . E qual íerà a diràChrifto.Tu q foftePa

Z3ck. 11.17.

ília fentcnça ? No dia da Juizo fe ouvira. O certo he, que David R.ey imanto antes de peccador, & de-

ítor no nomc,& como Ído- lo te cótentaílc a adora- ção exterior q náo mere- cias, dà conta. Náo ta pe-

pois de peccador exemplo codas miferias occultas, de penitenciado de que pe- íenâo das publicas, Sc ef- dia perdão a Dcos, era dos candalofas de tuas mal peccadosoccultos5& dos guardadas, & defprezadas aiheos : Ab occultis méis ovelhas. Erão miferaveis mudame^Ó' ab alienisparce no temporal, & não trata- fervo tua. Mas os peccados íle de remediar íuas po-

brezasj & eraô muito mais miferavcis no efpiritual , & naó cuidaftc de curar, jnem de prcfervar íèus pec- cados. Se as rendas , que com táta cobiça recolhias, C ini &

occultos naquelle dia fe- ráó manifeflos , & dos aiheos 5 por teríidoRey, fe lhe pedira taó cítreita conta,como dos próprios. j7 £nt-re agora o Pre-

4-0 Sermão da primeira ^07n ingá

&com táta avareza guar- caía, 8c pcíToa, foi para fa-

davas, eraó o meu patri- monio,qiie eu acquiri naó menos, que c5 o meu Tan- gue j porque o não diftri- buLÍle aos meus verdadei- ros acredores > que faó os pobres ? Porque o defpen- delleem carroças5criados> &cavalIos regalados, ci- tando elles morrendo de fome: Sc em vellir as tuas paredes de ouro , & feda , andando ejlcs dcfpidcs, & tremendo de frio ? Se o ze- lo de teus Miniílros viíi- tava as vidas dos pequeni- nos 3 tratando mais de fe aproveitar das condena- çoens, que de lhe emendar as confciencias : os pecca- dos monftruoíbs dos gran- des, que taó foberba^Ôc ef- candaj-ofa mente vi viaó na facç do mundo, como os deixalíe triunfar com per- petua immunidade, como íe foraõ íuperiores às Leys da minha Igreja?

38 Coiífe fio. Senhor, rcfpondcrà o Prelado, que cm húa,&: outra couíii fal- tei, iiias naó ícm caula. O que dcípçndi cpai nuuh^

tisfazeraos olhos do vul- go, que fe leva à^^^% exteriores, 6c para confer- varaauthoridade do oíE- cio, & veneração da digni- dade. E fe contra os pec- cados dos grandes me naó atrevi, foi,porque os feus poderes faó inexpugná- veis ; & julguei por menos inconveniente naó entrar com ellcsem batalha, que com afronta ,6c dcfprezo das mcfmas Leys da igre- ja ficar no íim da peleja vencido : 6c final mente > Senhor, cm húa , 6c outra omiílaó fegui o exemplo univerfal, ^ o que ufió nefte officio os que com mais poderofas armas, ^ com maiores jurdiçoens que a minha,cofi:umaó cm toda a parte fazer o mef- mo. O Ignorante, ò covar- de, replicará Chrifto.Taó ignorante,6c covarde, co- mo fe não tiveras lido as Efcrituras , nem os Cano- nes,6c exemplos da mefma Igreja. For vxntura Fedro 6c FauIo,vSc os outros A pp- ftolçs, que me juni \ a aniu.

do Advento. 41 mím,& os feusverdadei- valor deíles , fenaó o que rosfucceflbre^.queosimi- chamas coftu me dos ou- táraó adies, conciliavaóa tros, agora veras em ti, & authoridade das peíToas.Sc nelles, que fe elles o coita- do oíHcio , ainda entre maó fazer aílim, eu tam- Gentios, com os appara- bem coftumo mandar ao tos exteriores ?NaôfabeSj Inferno os que aílim o fa- queeíTemefmoPovo.com zem. Ifto baile quanto à cujos olhos te cfcufas, fe conta dos oííicios , & to- pordarestudo aos pobres mem exemplo os Mmi- teviíTem defacompanha- Urosfecul ares na conta do

do, fó,& a pelas ruaSí& ainda com os pès deícal- ços, entaó fe ajoelhariam todos diante de ti , 6c te adorariaó ? E quanto à co- vardia de te naó atreveres com os grandes , tendo a

teu lado a efpada de Pe- ..

droi contra quem featre- criados a quem oReyen via David, que foi o exem- comendou diíFerentes ca

Rey , &OS Ecclefiaíticos na QO Prelado.

5. IX.

39 /"^Uanto à conta

V^dosTalétos, ef-

ta temos na Parábola dos

piar dos meus Paílores .^ Entre as feras tomavafe com osLeoens , Sc entre os homens com os Gigan- tes.Que fera mais ferajquc a imperatriz Eudoxia-, §c como a naó temeo Chryfol]-omo> Sc que Leaó maiscoro.do, que o Em- peradorTbeodoíÍo-,&: como o hu m i 1 ho u, & poz a feuspès Ambroíio. Fi- nalmentej fenáo fegiiiíle o

bedaesjpara que negociaf- femcom elles em quanto fazia certa jornada : iVi^í7-^ ttaminidíimvenio. O Key 43. he Chrifto, a jornada foi a defuafubidaaoCeo, 6c a tornada ha de íer no dia da Juízo, em que ha de pedir conta a cada hum do que ne^^ociou com os t3 lentos, que lhe deo, <Sc do que lu- crou, Sc eanhou com elles : TojimuUum ví^ro tempons 2^.1^ 'venit

4 i Sermão da primeira T>om'nga

venit T>õminus fervortim tinha negociado com el-

zUorum^ & pofuit rationem cum eis. Os talentos fam os meyos aílim univeríaes como particulares que a Providencia divina aíli- fte a todos os homens, 5c a cada hum para fua falva- ça5,&: perfeição; &os avá- ços, ou ganâncias , faó o augmento das virtudes, merecimentos , & graça, que no exercicio, agencia, 6c induftria , com que fe applicaò os mefmos me- yos, alcançaó os que nam fao negligentes. Quam exa£ta pois haja de íer efta conta , & quam riguroía paraosqueuíarem mal do talento, na mefma hiíloria o temos. Os criados, a que o Rey fiou os talêtos , eraó três: ao primeiro entregou cinco50 qual grangeou ou- tros cinco: ao legimdo en- tregou dous , o qual gran- gcou outros dous, & am- bos foraò louvados. Ao terceiro deo hum talen- to, o qual ellc enterrou. E poíloqucna conta ooífe- receo outra vez , & rcíli- tiúo inteiro, porque nam

Icjnem acquirido coufa al- gúa, o Senhor não o lan- çou fora de fua cafa, 5c o mandou privar do talen- to, mas o pronunciou porLuc.rp: mao crvxàoyftrve nequam^ ^^■ que foi a fentença de fua condenação. E fe quem na conta torna a entregar o talento que Dcos lhe deo inteiro, &fem defraudo fe condena j que fera dos que o desbarataó,ôc perdem,& tal vez o convertem con- tra fy, & contra o mefma Deos.^

40 Para intelligencia defta graviílima,& perigo- fa matéria havemos de fuppor o que fe naó cuida 5 & he,que naó faó talen- tos os dotes da natureza , os bens da fortuna , & os^ doensparticularcs da gra- ça, fcnaó também os con- trários, ou privaçocns de tudoiílo. Nãofó hedotc da natureza a fermofura, fenaótarnbema fealdade: nió as grandes forças, fenaó a fraqueza: naò o agudo entendimento, fe- naó o rude : naó a per- feita

Afajzaõdcíla ver-

Advento. feitavifta, fenaô a ceguei- 41 ra : naó a íaude , fenaó a dade interior, & providé- cnfennidade : naó a lar- cia verdadeiramente divi- ga vida, fenaó a breve. Do na, he, porque todas eftas niefmo modo nos bens coufas, pofto que entre fy

que ciiamaô da fortuna, naó hc bem o illuftre nacimentOjfenaó o Iiu mil- de ! naó as dignidades altas, fenaó o lugar, & offi- cio abatido : naó as ri- quezas, fenaó a pobreza : naó o defcaníò , fenam os trabalhos: naó os fuc- ct^os profperos , fenaó os adveríbs: naó os man- dos, fenaó o fer mandado i nem as vitorias , & tri- unfos, íènaó o fer vencido. Finalmente nas graças , ou doens da graça , naó fo he graça o dom das linguas, masonaófaberfallar , ou fer mudo ; naó o das le- tras5& ciências, fenaó o da ignorância : naó o do confelho, &difcríçaó, fe- nam o de naó ter nem po- der dar voto : naó o da oílentaçaó , & boato dos liiilagres^ fenaó o de nam ferem coufa algua mara- vil h ofo, fenaó cota I m en te defconhecido , Sc defpre- zado.

contrarias, podem fer me- yos,que igualmente nos le- vem à falvaçaó, 6c promo- vaó à virtude , principal- mente fendo diíiribuidos, &difpenfados por Deos^ &applicados conforme o génio de cada hum , que por iílb diz o Texto , que foraó dados os talentos, Unicuique jecundum pro^ friamvirttítem. Aírim,que ^fff tanto fe podia aproveitar Rachel da fua fermofura , como Lia da fua deformi- dade-.tanto Achitofel do feu entendimento , como Nabal da fua rudeza: tan* to Mathufalem dos feus novecentos annos, como o moço de Naim dos feus vinte : tãto Creíiu do<? feus thefo-jros , como iro da fua pobreza : tanto Júlio Cefar da fua fortuna , co- mo Pompco da fua def*^ graça : tznto Alexandre Magno das fuás vitorias^ como Dário 6c Foro de cl-

[I

^^ Sermão da primeiraT)om}ngà

leos ter vencido : tanto asqiielifongcaóo appetí- Aramdafoltura , & cio- te ;ôc mais íbguras para a quencia da fua língua , co- falvaçaó as que pezaó , & mo Moyfes do impedimé- carregao para a humilda- to da fua : tanto o futiliíTi- de, que as que elevam , íc mo Efcoto da fua ciência, defvanecem para a fober- como Frey Junipero da ba. foubéraó, manejar fua fímplicidade : tanto S, huns,& outros meyos , ôc Pedro dos fcus milagres , aprovcitarfe com igualda- comooBautifta de nunca de de ambos os talentos fazer milagre. Daqui fefe- hum S. Paulo, qie dizia: gue, que tanta conta ha de Seio abtinâare^&fcio efurt-^w.y,^ pedir Deos ao rico da fua re. E humjob^quena mef- f '^^ riqucza,comoaopobreda ma volta da fua primeira fua pobreza : tanta ao fam para a fcgúda fortuna , diA dafuafaude, como ao do- fe : Si bonafufcepimus ^^^^ ente da fua enfermidade : tnanu l^eiy mala quare non ,^ - tanta ao honrado da fua fufcipiamus ? Mas eíles eftimaçaó, como ao afron- homens quadrados nafcé tadoda fua injuria; &tá- poucas vezes no mundo.

Os dados taõ firmes fc af' fentaó com poucos pótos, como com muitos > & ta6 direitos eítaó com as for-

tes, como com os azares.

42 Deíla maneira ( & fejaeftaaunica,&: impor-

^A\

ta a todos do que deo a hunsjcomodoquc negou a outros; porque fe o rico pódegrangearcom o feu talento por meyo da ef- mola,o pobre também pô- de com o feu por meyo da ._, , paciência. Eaílim dosde- tantiflima advertência. J mais. Antes hc certo, que Deíla maneira devemos ^ * aceitar como da maò de Deos, fie cótcntarnos çom o talento, ou talentos, que ellc foi fervido darnos,oii fcjaó como os cinco , ou como

entre as coufas,quc fc cha- maò profpcras, ou advcr- fas, mais eficazes faòpara o merecimento as que mortiticaõ a natureza, que

ão Advento'. 4^'

como os''dous, ou como IJfachar Afimisfortts. Os

Imm fomente : & fe pode- rá fer nenhum, ainda fora mais feguro. Quando o Rey diílribuío os talen- tos aos criados , naó lemos que algum delles fe dcfcò- tentJ.dh da repartição. Se os que Deos deo a outros , faò maiores que os voílbs , elles teráó mais,3c vòs me- nos de que dar conta ao mefmoDeos. Mas fomos como os que lanção nas rendas dos Rey s 5 que olhaó para o que recebem de prefcnte, & naó para a conta, que Iiaô de dar de futuro. A ã mira vel foi ne- íle género a variedade, & repartição de fortunas,

animaes todos tem fuás inclinaçoens, inftintos ,& propriedades,& todos fuás como virtudes, ou vícios naturaes : o Leaó género- fo,a Serpente afl:uta,o Lo- bo voraz, o Gervo ligeiro,- ojumêtofofredor do tra-, balho. E debaixo defiras metáforas íignificaya Ja- cob aos filhos os talentos de cada hum , & o ufo dei- lesj&quaes haviaõ de fer asacçoens, &fucceíibs de fuás vidas, & defcenden- cias. E fendo aílim, que eíles meímos irmãos fo- fréraó taò mal aa mefmo Pav fazer liuma Túnica a hum delies de melhor ef-

quejacob ( digamolo aí^ tofa,queporiíIb a quize- íimj) fadou a feus íilhos, raõ tingir em feu próprio

quando na hora da morte lhe lançou a benção. Ufou dos nomes de diírerentes

Gencf. animaes , &c ajudas cha- mou Leaó , catulus Leonis

ibid.17. yíida\2L Dan Serpente,jí/2í ^anCoIuber hivia: a Ben-

^'^■^7- jamim Lobo , Benjamm

^^^^^ Lúpus rapax : a NeptaM ' 'Cervo 5 Neptali Cervus

fangue > como agora ne- nhum delles fe queixa de o Pay os veílir taó áit-r ferenres pelles, &:pelos,&; de lhe dar, ou chamar taó diíferentes nomes , & de taó diíferente nobreza , quãtovai deLobo a Cer- vo, de Serpentea Leaó, &c de Leaó a Jumento ^ Por-

ibid. x4. emijjiis : a Izaçhar Juniéto., que na diíferença da tun i-

ca.

Sermão daprimeira^ominga Jacob como minimos pela defefpera- çaó,& pufilanimidade.Da cafta deftes últimos foi o que enterrou o talento, podendo fer melhor , & mais celebrado que todos, fe o naò enterrara. Puze- raó alguns Thcologos em

4<)

ca obrava

Pay em íeu nome : na dif-

fercnça,&: repartição dos

talentos , fallava como

Profeta em nome de Deos:

& como a diftribuiçaó era

feita por Deos, & os talê-

tos dados por elle -, pofto

que foíTem taó diverfos na queftaó qual dos criados

elHmaçaóA credito, quá- fe moftrára mais indu-

to vai do império à fervi- ílriofo,feoque com dous

da5,& do Leaó aojumen- talentos grangeára dous,

to, todos abaixando a ca- ou o que com cinco gran-

bcça fe contentarão, & có- geara cinco : & como en-

formarão com a fua forte , tre elles fe naó decediíTe a

& nenhum ouve que abrif- queílaó, devolveofe a húa

fe a boca para fe queixar, academia de mercadores,

ou meteíTe os olhos debai- os quaes todos rcfolyéraó,

xo das fobrancelhas para que mais induílriofo fora

jnoR-rar defcontentaméto. o que com dous negociara

E que diráo a iílo os que dous, que o que com cinco

tantas vezes deixarão a grangeára cinco : porque

Relig;ia6, & a n-iCfmaFè, mais diíiicultofo he ga-

por naó terem humildade, nhar pouco com pouco,

nem paciência para fofrer que muito com muito. E

que fe lhe antepuzeíTem fobreefta, que heprimei-

os que naó podiaó Igualar ra máxima nos negocian-

no talento ?

43 Todo o talento he arriicado ao perder , ou naó dar boa conta dcUc a prcfumpçaò humana. Os maiores pela fobcrba , os menores pela cnvcja, &: os

tes, provada com a expe- riência, acrecentáraó, que feoque teve hum ta- lentOjgrangeára outro,ex- cedcria fcm comparação nainduílria ao dos dous, &: ao dos cinco. Grande con-

do Advento] ' ^f

conrolaça6,&: verdadeira, viadeierde Agortiníio,

fe a quizeOem aceitar os talentos medianos. Mas quem poderá curar a ce- gueira, Sc contentar a en- veja dos que fe vem exce- didos ?SauI porque ouvio (^vedeaquem ? ) porque ouvio que as chacotas lhe prereriaó a David ,. tantas

de quem fe rezava nas Ef- colas Catholicas \ A lógica Atiguftini libera nos ^omi^ ne-y fe amolecido com as la- grimas de fua mãy , ella (como hum li rio, q fe ge- ra das lagrimas de outro 3 o naò tornara a gerar ? Succederlhehia o que ao

vezes,&:por tantos modos proFundiííimo engenho de oquizmatar , & por i(^o Tertulliano , & ao im-

perdeoacoroa. E Dédalo, aquelle famofo artiíice, que prefo em hua torre, inventou , & formou as azas com que fugio delia voandojveiido que Perdiz Teu difcipulo inventara o Êompaílbj&da imitaçam

menfo de Origenes , os quaes venerados como oráculos da fua idade, & primeiros Meftres da I- greja,aperdéraó,&fe per- derão. Mas que muito he que o barro caya,& fe que^ bre , fe o entendimento de

de húa efpinha a ferra, te- Lúcifer , fendo o maior , q mendo que o havia de ex- Deos criou , excedendo-o

ceder no talento, odefpe- nhou primeiro da mefma torre.

44 Mas ainda faó mais arrifcados os talentos , que na eminência fe eílr^- mão fobre todos. Que ha- via de fer de Saulo , fe o mefmo Chrifto naò decé- ra do Ceo, & o derrubara do cavallo para lhe en« frear o orgulho ? Queha-

o do mefmo Dcos,antes quiz cair do Ceo, que ver- fe nelle excedido ! Tanta conta tem como iílo os talentos menores , & por iífo poderáó dar boa conta.

5. X.

45* A Das Dividas hc

x3l ^ que nos re-

.fta,

^,ê

4,8 Sermão da f rime ir aT)omm^d

lia, ultima, maior, Sc mais zes outros tantos, aincía

^ 8.2;.

difficultofa dc todas. Efta íe contém na Parábola do outro Rey , o qual fez o que muitos naó Fazemjque he tomar conta aos cria- dos de fua cafa : ^i voluit

diria muito menos do que queria ílgniíicar. Porque eíle Iley he Deos , 6c eíta" divida he a dos benefícios,. que Deos tem feito ao ho- mem ; & como o menor

rationem ponerecum fervi s beneficio divino por fy Juis. Do que logo fe fegue mefmo, ou por feu Autor,

no principio das contas fe moftra bem, que efte cha- mado Rey feria o mais poderofo,'&:rico Monar- chade quantos ouve > ou naó ouve no mundo j por- que o primeiro criado foi

ibid.24

he de valor infínitOjnaó ha- numero em toda aArith-- mctica, nem preço em to-, das as criaturas, com que- fe poíTa comparar, quanto mais igualar.

46 S. Agodinho para

convencido de que era de- reprefcntar mais clara , & vedora fazenda, ou erário mais patentemente efta-

Rcaldc cento & vinte mi- Ihoensdeouro. Tátovem a montar os que o Texto çhim^i-^decem miilia t alen- ta •, porque filiando Chri

conta, introduz ao mefmo Chriílo fazendonos por fua própria Peílba os car^ gosdo que lhe devemos, como fará no dia dojuizo:

ílo com os Hebréos , & na ^iid eft quod debui ultra

lino-ua Hebraica, também facerevine^medi.o-mnfc'

^ - . ,. ' ^^- ^^ ? Que coufa ha> que

cu dcveíle fazerte,ò ho- mem, ou de veíTc Bi zcr por ri , que naó tenha fcito.^De nada te era devedor > & como fe o fora dc quanto tenho , dc quanto poíro,&:

ocomputo,&:valor da di vidafe ha dc entender de talentos, naó Gregos , fe- naó Hebraicos. Mas como crapoíIivcl>quehum cria- do dcvcíTc a fcu Kcy cen- to 8c vinte nulhoc! IS ? Rcf- pondo, que quando a Pa- rábola diílcra dez mil ve-

de quanto íòu , tudo em- preguei, (^ dcipendi com-

tigo.

Advento] 4.9

tígo. Crieite quando nao o mefmo poder, & provi-

eras, tirandote dos abif- mos do naó fer ao fer : dei- te hum corpo formado minhas mãos , o mais per- feito : deite hila Alma ti- rada de minhas entranhas, & feita à minha imagem, dcfemelhança : ornei , & habilitei hum > 6c outro com as mais excellentes potencias, & os mais no- bres fentidos , para que foílem os inftrumentos

dencia te naó confervára ? De repete perderias o fer , & tornarias ao nada don- de fahifte. Para tua con- fervação te àó. nam o neceíferio, íenaó o fuper- abundante , & tanta im- m eníidade de criaturas no Ceo,^ na terra, todas fo- ^^itTíiS^LÚ » & occupadas em teu ferviço. Deite hum Anjojque de dia,& de noi- te velando, & dormindo te

quemefervifles, &amaf- aíHftiíIe, & guardaíTejCO- fes : & tu ingrato que íize- mo fempre afliílio,& guar-

He? contados cuida- dos, penfamentos, & ma- chinas do teu entendimê- to: das lembranças,& ef. quecimentos da tua me-

dou. Agora te revelo os perigos fecrctos, & occul- tos de que foíle livre por feumeyo: & tu lembra te dos públicos , & manife-

moriaidosdefejosj&affei- ílos, que experimentaííe,

çoens da tua vontade. & vifte. Quantos perecé-

contadetodosospaííbsde raó em outros muito me-

teus pès >de todas as obras nores .^ Quantos mais mo-

de tuas mãos, de todas as ços que tu acabarão de

vidas dos teus olhos , de todas as attençoens dos teus ouvidos, de todas as palavras de tua lingua , de tudo o mais que tu fa- bes, ôcnaó cabeem pala- vras. Depois de criado , que feria de ti, feeucom Tom./.

mortes defefbradas , &: re-

Í>entinas3fem tempo, nem ugar de arrependimento , 6c emenda, que eu fempre te concedi.^ pois con- ta da vida, conta da fau- de , conta dos annos, coata dos dias, conta D à^%

>o

das horas, fendo mui poii cas,&: contadas asquenaó emptregafte em meoíFen- der.

47 Atègora te referi as dividas exteriores do

Sermão daprimeirdT^ommga

cios, odios por amor, per- feguiçoens por boas obras: por ti fuei fangue , por ti fui prefo 5 por ti afronta- do, por ti esbofeteado,por ticufpido, por ti açouta- poder •, agora me refpon- dojportiefcarnecidojpor deras às interiores, &pef- ti coroado de efpinhos, foaesdo amor, & do mui- por ti emíim crucificado to que fiz 5 & padeci por ú, entre ladroens, aberto em Por ti depois de te fazer à quatro fontes de fangue , minha imagem , & feme- atormentado, & affligido Ihança, mefizàtua^fazen- de anguílias , & agonias dome homem :por tinaci mortaes, & ainda depois nos defemparos de hum de morto atraveíTado o Prefepio : por ti fui deíler- coração com húa lança.De radoaoEgyptoipor ti vi- tudoifto pedi por ti per- vi trinta annos fogeito à daò a Deos, & o pago que obediência de hum offi- tumedèíte, foi nam me ciai, ajudando o trabalho perdoar , tornandome a de fuás mãos com as mi- cruciiicar tantas vezes, nhãs , fie acompanhando o quanta» gravemente pec- fuor dofeu roílo com o caíle, como te mandei de- mcu. Por ti, Separa ti fahi clararpelomeu Apoílclo^ ao mundo a pregar o Rcy- Rurfum crucifigentes Filiíi ^^^^, no doCeotporti naspe- T>et. Se as gotas de ílm- ó.d. ' regrinaçoens de todaju- gue, que derramei por ti, déa , &: Galilca,fempre a tiveraó conto , nem de pè, Ôc muitas vezes defcal- hua me poderás dar boa ço,padeci fomes, fedes,po- conta , ainda que padccé- brezas ,fem ter lugar de raspormim mil mortes; defcanfo, nem onde recli- mas os milhares , & os mi- nar a cabeça: por ti recebi Jhocns foraò das vezes, in^raádoen^ por bçncfi- que pizalle o mcfmo lan- gue,

do Advento] fi

guç j facriíícando o infini- Perdida a graça da primei-

to valor , &: merecimento delle aos ídolos do teu nppetite.

48 Ainda cm certo modo he maior áivià^. , a de que agora te pedirei conta 5 que lie a da voca- ção. Refervei o fahires à luz deíle mundo para o tempo da Ley da Graça; chameite à antes de me poderes ouvir : anticipou- ie o meu amor ao teu ufo da razaó, & fízte meu ami- go pelo Bautifmo. Como I ei te, & doutrina da Igreja te áti o verdadeiro conhe- cimento de mim, benefi- cio que por meus juftos juizosem quatro & cinco mil annos naó concedi a tantos 5 6c de que ainda nos teus dias carecerão mui-» tos.Naó tivefte juizo,nem coníidcraçaó para ponde- rar, ScpaOnar de queten

ra vocação caiíle , & t?or- neite a chamar , ôc dar a maó , para que te levan- taílès : levantado tornaftc a reincidir húa , 6c tantas vezes, & eu poílo quetao repetidamente ofFendido , 6c com taó continuadas experiências da pouca fir- meza de teus propoíltos, 6c falíidade de tuas pro- meílas , naó ceílêi de te of- ferecer de novo meus bra- ços 56c te receber íempre com elles abertos : atè que infiel , rebelde, Sc obíiina- do , cerrando totalmente os ouvidos a minhas vo- zes, te deixaíle jazer no profundo letargo da im- penitencia final. agora conta de tantas infpira- çoens interiores minhas, de tantos confelhos dos ConfeíTores, 6c amigos^ de tantas vozes , 6c ameaças

do a minha juftiça razocns dos Pregadores , que ou para condenar hum gen- naó querias ouvir, ou ou-

tio, que me naó conheceo , as tiveííè minha mifericor- dia para perdoar a hum Chriftáo, que conhecen- dome, tanto me offendia.

vias por curiofídade,6c ce- remonia: 6c também ta poderá pedir de eu mef- mo te naó chamar eíiicaz- mentenahora da morte, Dij por-

^:

m

V ir

ji Sermão da primeiraT>ominza

porque o defmereccfte na naó minha a fentença, què

wiáx,

49 Sete fontes de gra- ça deixei na minha Igreja f que he o beneficio daju- íHíicaçaò ^ para quenellas felavaíTem as Almas de feuspeccadoS5& com ci- las feregaíTcm , & creccf- fem as virtudes. Em húa te facilitei em tal forma o

logo ouviras com os ou- tros malaventurados : Ite malediãi- in ignem ater* num.

fo

S^ XI.

AQui parou a. conta das Di- vidas, que era a ultima, ôc remédio para todas as cul- maior partida, que re- pas, que com as confef- ftava para as contas. E íar te prom eti o perda6> aqui viráó a parar todos os quetunaõ quizefte acei- tar, fugindo da benignida^ de daquelle Sacramento como riguroíb, & amando mais as mefmas culpas, queeílimando o perdão. Em outra te dei a comer minha carne, & a beber meu fangue, & juntamen- te os thefouros infinitos de toda a minha Divindade em penhor da gloria , &c bcmaventurança eterna.

que ta6 defcuidados vi- vem de as dar bo.is naquel- ledia. Oh dia de ira I ô dia de furor ! ô dia de vin- gança ! ô dia de amargura ! ô dia de calamidade 1 o dia de miferia ! ô dia eftupen- do ! ô dia tremendo ! ô dia fobre toda a comprehen- faó, terrível ! Aíllm lhe chamaò com horror os clamores dos Profetas pe- la eftreitiílima conta, que

quefoio altiíTimo fim para nelle fe nos ha de pedir a que te criei. Defprezafte o todos. Ê fe tudo paíTi para

fim, naó quizeíle ufar dos meyos •, & porque efcolhe- íle antes citar parafempre fem mim no Inferno , que

a vida, & nada paííli para a contai que cegueira, & que iaf mia lie a dos que todos fcus cuidados cmprcgao

comigo uo CcQjf tua hc> 6c no que paíTa , fem memo-

na>

ão Advento^. '^^

ria , nem cuidado do que lias de levaf comtigo, he o

naò ha de paílar ? Pode ca- ber em entendimento juizo maior locura ^ qlie trabalhar de diajSc de noi- te hum homem, &: cançar- ícj&defvelaríej&r matarfe pelo que pa fia com a vi- da, 8c ha de deixar com a morte, &:naó fer o feu úni- co cuidado3&: defvelo tra- tar fó do que ha de levar comíigo,& do que fe lhe ha de pedir conta ? Ouçaò cftes loucos a S. y\goíH-

peccado. Toda a matéria, dos peccados ha de fi- car, porque paííbu com a vida, 5c fo o peccado ha de ir comnofco, porque nam pafi?òu para a conta.

f I Pa recém e, que pa- ra defenganara quem tem fé, baila a evidencia deíles dous pontos. O que qui^ zera alcançar deDeos^ & pedir aos que me ouvirão , he^que tomem eíle defen- gano em quanto vivem

nho : Teccas propter pecn- nefte mudo, & naó o guar-

niam? híc dimittenda eft. demparao Inferno. D^^^

"Peccas propter vrllam ? hic creve o Efpirito Santo no

dmittendaeft.Teccasprop" livro da Sabedoria huma

ter mulierem? hlc dimítm- pratica, que tiveraõ entre

da eft. Et quidqutdeftprop^ fy no Inferno o^ que fo -

ter quodpeccas , hk dimit- raó,depois de ter gaftado a

tts^ò' ipfiimpeccãtumyqtwd cÕmtttis^ t ecum portas, Vcc" cas, homem, por amor do dinheiro .? êc ha de ficar o dinheiro. Peccas por a mor da herdade ?&cà ha de ficar a herdade. Peccas por amor da mulher , ou tua,ou não tua ^ êc ha de íicar a mulher. Mashavê- do de ficar tudo aquillo porque peçcaíle j o que Toin./v

vida em tudo o que paíla com a mefma vida : & o que fallaváo,era defia ma- neira ; Ergo errãvimtis h via veritatis^ & Solintelli- gentia non eft orttts nobis. O certo he(^diziáo3que errá- mos o caminho, & que an- dámos às efcuras , & que em tantos dias,quantos vi- vemos 5 nunca nos ama- nheceo a luz do Sol. ^'td D iij

só.

t^u

Sermão da primeira T>ominga ibiaem 7if)bisprofuitfuperbia : que como a Teta defpedidado ^- nosaoroveicárão a fobcr-

ba, Sc gloria váa das honras

arco ao lugar dellinado, qiic dividindo o ar, o qual logo fe ccrra,&: unc^naó fe pôde conhecer por onde paíTou ; Aut tanquamfu-^^-^^^^ gitta emiffa tn locum defti-

Xbid.o.

do mundo ? T>ivitiarinn

jaãantia qutd corUulit no^

fc: de que nos fervioaja-

dbancia das riquezas j Ocos ^ ^.-jj .

goílos, delicias , & paíTa- natitm, divtjus aer in fe re- re m pos em que ellas fe có- clufus efty ut ignoretur tran^ ÍLimem, deque nos apro- fittisilíhts. Agora, agora veiráráo? Todas eíTascou- conhecem bem no Infer- ias paílaráo como a fom- no,&: não achaõ compara- bra : Tranfienmt omniailla çáo,com que baílanrcméte tancjuam timbra. Todas declarara fum ma veloci- pafniráo como o correio, dadc,cò que todas as cou- que fempre caminha , & ílispaínió, &coma meíma niõ^xx2i\Tanq74am níítim preíTa (dizem) paííaraos. /í'rr«rrí'??j-. Todas paíTarão nós, porque apenas naci- como a nao, que vai cor- dos logo deixamos de Ter , tando as ondas , & depois ócfem deixar íinal algum que paífou.re lhe iiaó acha de virtude, em noiTos pro-. raílo : Et tanquam navis prios vícios nos confumi- qu.e pertranfit fluãiiantem mos : Stc & nas n ti conti-

^'^'^ '''• aquam, cnjus^cumprceterie- mio defivimus cp : é/ vir t ti- ^^-^ ,^,

rit^noneíiveftighm inverti' tis quidem nulkm figrium

re. Todas paíBrão como a valumus oftendere : tn ma-

ave, que voando, & baten - lignitate aut em nojlra con^

doolevcvento,quecorta, fumpti fumiis . nem final deixa do feu ca- f 2 lílo conferiaó en-

minho : Aut tanquam avis tre fy naquella trií"l:e,&c tar-

^^'' ' '' qiu tranfuolat in aere ver- de deíengnnada converfa-

berans levem ventnm , & çaó os mílcravcis conde-

niiliim ííg?in inVi-nitur iti- nados:osquaespara maior

?;£r/.y/7/^//j-. Todas paíTáiaò doe levantando os olhos

ao

do Advento, f^

ao Ceo,&: vendo glorio- da gloria entre os Santos,

como nós padecendo as penas entre os condena- dos. Nos infenfati vitam il^ ibid. 4; lonvm /eftimãbamus inf<í>-

fos, & triunfantes os que tratarão mais da eflreiteza da conta, que da largueza da vida \panitcntiam agen- Sz^.<;.i.tesy& pr<e angi^^ia/piritus niamyéf finem iilorumfine gementes 'y com vozes que honore-.ecce quomodo coni- Thefahiaó do interior an- putatijimt inter filws T>eh guftiado, & CO m arrepen- ér inter SanÕíosfors illorum dimento,& gemidos, que ^/^.Taesfaóascoufas que naó aproveita vaó,^/V£^«- diíTeraó, conclue o Eípiri- tes intrafe^ diziaò entre fy, xb Santo, Sc taes os difcur- ^comíigo: queheo que diziaó? Hifu7it quos hahui- fnus aliqtiâão in derifum^ &

fos que íizeraó no Inferno os máos quando fe vi- rão. Talia dixernnt in In^

íbii.

H-

injirnilitudinúm improperij: ferno hi qui peccaverunt, Aquellesíàóos dequenòs Vejamos agora, & confí

zombávamos , rindonos dos feus efcrupulos de có^ fciécia, & das penitencias^ & rigores com que morti- jficavaó íeus corpos , quan- do nòs tratávamos de regalar os noíTosjSc fatisfa- 2er noílbs appetites 5 & agora vemos que elles fo- Taó os prudentes , & llzu»- dos,& nòs os loucos, & vcv- fenfatos , pois elles pondo ^s olhos no fim, & no pre-

deremos bem os que por mifericordiade Deos ain^ da temos tempo, & vida, fe he melhor aproveitar defte defengano neíle mu- do,ou guardalo para o In- ferno: & fe folgaremos no. dia da conta de ter imita- do os prudentesjque eter- namente haó de gozar a viíla de Deos no Ceo , ou acompanhar os loucos , & infenfatosjque haó de par mio de que nòs naó hze*- deceras penas do Inferno tnos caio 5 eíláo gozando por toda a Eternidade ?

Diiij

SER-

fifl

fí>^«^*J>

'^'S»9«9^9a>

SERMAM

DA SEGUNDA DOMINGA

DO

A D V E N T O

Joannes in vImuUs. Mattli.

II.

§1.

Uehade haver outro juízo 5 & outro mundo nos eníinou a igreja Catho- liça o Domingo paíllido com a : o meímo artigo (^fe nienaò engano } nos prova hoje com a razaõ. Dizo Evangdiíla S. Ma- theus,q o Bautiíla, aquel- le grande Santo y aqucllc grande í^rccuríbrdç Ç.liri-

fto, por mandado de He- rodes, aquelle máo home , &aquelle mio Rey, eílà hoje em prifocns ; [joannes iwvmcuUs. loannesin lin' ctilisl O Bautiíla empri- foens ! Logo ha de haver outro juizo, & outro mun- do. Provo a confequencia,' Forqueie ha Deos, he ju- ílo : íc he juílo, ha de dar premio a bons, 6c caíligoa máos : no juizo dclle mun- do vemos os mios , cornei Hcrodcs, levantados j os bons.

Sermão da fegunãa dominga do Advento^. bonSj, como o JBautiílajOp- lo^nnes in vinculis ?

n.

primidos : íeguefe logo que ha de haver outro juí- zo,^ outro mundo ; outro juizoj, em que fe emendem eílas deíigualdadeSj & in- juíliças : outro mundo^em que os bons tenhaõ o pre- mio de feus merecimen- tos, & os máos o caíligo de fuás culpas. Oh que altos faó os fegredos da provi- dencia divina ! os noíibs próprios vicios faz que fe- jão teílemualias de noíla fé. Ham dos principaes fundamentos de noíla , •he a immortaíidade das al- mas^&anoíla injuíliça he a mais evidente prova da noííii immortaíidade. Se os homens naó foráoinju-

5-4 Masaílim comoas prifoens do Bautiíla con^ iirmãoefba parte da dou- trina que preguei no Ser- mão paílado j aíHm tam- bém me obrigaó as mef- mas prifoens , a retratar outra parte da mefma dou- trina. Preguei que havia de haver hum juizo final, em que Deos nos ha de jul- gar atodos : ainda o digo aííim. DilTe mais, que eíte juízo de Deos havia de fer o mais rigurofo , o mais eílreito, & o mais terrível* Ainda o torno a dizerrpor- que verdadeiramente af- íim he. Porém hoje por muitas razoens vos pare- cera, que ainda ha outro

ílos, puderafe duvidar fe juizo mais terrivel, ainda

eraoimmortaesj masper- mite Deos que haja inju- íliças no mundo, para que a innocencia tenha coroa , & a immortaíidade prova. ■Quem pôde duvidar da immortaíidade da outra vida,fe \^è neíla a maldade deHerodes levantada ao trono, Sc a innocencia do JBâutiílapoítaexn prifoés..

ha outro juizo mais rigu- rofo, ainda ha outro j ui zo maiseftreitOj que o juizo de Deos. E que juizo he efte.^ Heojuizo,quepoz o Bautifta em prifoens , o j uizo dos homens, loannes in 'V incutis \ O Bautiíla em prifoens! Logo o juizo dos homens he muito mais te- meroíò > que o juizo de Deo'3.

s.

m

li

PiVim. 14Í.2.

5f

Sermão dafegmida^omingd Ainda eíia confe- difcernecatifrmmeam : Sc^ nhorjjulgaimevòs , & de- cidi a minha caufa. Nota^ vel encontro de aíFedos: fe David no primeiro Piai- mo diz a Deos , Senhor, naó me julgueis j como o mefmo David nofegundo Pfalmo diz a Deos 5 Se- nhor, julgaime? Húa vez julgaime, outra veznam me julgueis; que varieda- de he cila P Do que acre- centa David fe vera a ra- zão da diíFerença : lúdica me T>etis , c^ difcerne cau» fam meam^ decente nonfan^ Sfa^ ab homine iniqiw eripe »^^. Julgaime vos Senhor^ livraime de me julgarem os homens. Aqui eílà a dif. ferença. No primeiro ca* fo confiderava David o juizo de Deos abíbluta- mente5&:por iflb pedia a Deos, que o naójulgafie; porque o juízo de Deos verdadeiramente he mui- to para temer. No íegun- do cafo conílderava Da- vid o juizo de Deos por comparação ao juizo dos hom cns, &: por iílò queria que Deos o julgaílc} por- que.

Deos.

quencia he mais clara,que a primeira. No juizo de Deos atè hum ladraò fe falva •, no juizo dos homés, atè S.Joaó Bautiíla fe con- dena : loannes In v incidis^ E juizo em que atè a inno- cencia do Bautifta fahe có- denada, eftehe o juizo te- merofo, elle heo juizo for- midável, eíle he o tremen- do juizo. Eeíla fera a ma- téria do Sermão. Que o juizo dos homens he mais temerofo, que o juizo de Deos.

í. II.

QUem melhor que todos en- tendeo eíla grande verda- de,ou novidade , que te- nho propoíto , foi o Real Profeta David. No Pfal- mo cento & quarenta & dous, diz David a Deos : Non intres injudichim cum feri:o ttio ; Senhor , naó en- treis em juízo com vollb fervo : no Pfalmo vinte &z quatro diz o mefmo Da- vid liz/^/í-^ ^^í' 'Deus y à'

que comparado o rigor do rofo , Sc muito mais horri-

juizo de Deos comos ri- gores do juizo dos homês , muito mais rigurofo , & muito mais tremendo he o juizodos homens, que o juizo de Deos. No primei- ro cafo tinha David diante defy o temor do juizo de Deos. No fegundo cafo ti- nha de hua parte o temor do juizo de Deos, & da ou- tra parte o temor do juizo dos homens, & poíto en- tre temor, & temor, achou que tinha mais que temer no juizodos homens, que no juizo de Deos. Agora entendereis o mifterioda- queflas palavras , que dei- xamos de ponderar noE- vangelho paíTãdo.Tunc vi- debtmt Ftliúhomiràs veni- entem innubibus C^li : En- tão veráõ o Filho do ho- mê,qvirà nas nuvens do Ceo. Chriílo he homem, & he Deos : pois porque naó diz virá o Filho de Deosjfenaó virá o Filho do homem ? Porque o intento deChrifto era fazemos o feu juizo tem erofo, Schor- rivel : & muito mais teme*

vel ficava reprefentado como juizo de homem, que como juizo de Deos. He tanto mais temerofoo juizodos homens 5 que o Juizo de Deos, que quando eíle fe quer fazer refpei- tar, & temer, quando fe quer veftir de horror, & af- íbmbro , quando fe quei? moftrar medonho , ôc hor- rendo ', chamafe juizo de homem : naã achou outro nome mais fero,na6 achou oiitro nome mais atroz, naó achou outro nome mais tremendo : Tunc ^vU debunt FHium hominis.

56 Temos provado o aífumptoem comum: de- çamos agora às razoens particulares delle, quefaò muito varias , muito foli- das5& de muita doutrina ^ 8c pode fer , que vos pare- çaõ tio grandes, & taó no- vas como o mefmo af*^ fumpto,

5 . IIL

jL juizo dos homês lie

\%

6o

hemaís tem

juizo de Deos 5 porque Deos julga com o enten- dimento, os homens jul- gaó com a vontade. Quan- do entre o entendimento de DeoSjSc a vontade dos homés, naòouvera aquel- la infinita diftancia, baila- va fó a difrerença , que ha entre vontade, & entendi- mento 5 para fer grande a defigualdade deííes juí- zos.Quem julga com oen-

SermaÕ àafegunda T>cmmgã rofo 5 que o entendimento

Declaran^ do o mefmo Chrifto Se- nhor noíTo os feus poderes fupremos de Juiz univer- fal do mundo , diz que o Pay deo todo o juizo ao loan. Filho : Tateromne judicia ^*'--- dedii Filio. Pergunto : & porque o naó deo o Padre ao Efpirito Santo ? Para hum juízo perfeito reque- remfe três coufas : Scien- cia para examinar ,Juíli ca para julgar , Poder para

tendimento, pode julgar executar. Pois feapeíToa bem, & pode julgar mal; do Filho, & a do Elpiriro quem julga com a vótade, Santo temamefma fabe-

nunca pôde julgar bem A razaó he muito clara. Por- que quem julga com o en- tendimento , fe entende mal, julga mal, fe entende bem , julga bem. Porém quem julga com a vonta- de, ou queira mal,ou quei- ra bem, fempre julga mal: fe quer mal , julga como apaixonado, fe quer bem, julga como cego. Ou ce- gucira,ou paixaó,vede co- mo julgará a vontade com ta es adjuntos. No juizo divmonaóhcaílim: julga O entendimento, &: tal

dória, a mefma juíliça, & a mefma omnipotécia -, por- que razão o Padre Eter- no o ofHcio de julgar ao Filho, & naó ao Eípirito Santo .? A razLió moral , & altifllmaheeíla. Porque o Efpirito Santo procede por adiro de vontade, 5c o Filho he gerado por aíto de entendimento : & o jul- gar (^ ainda que fcja Deos, o que julga} pertence ao entendimento , & nam à vontade. Ao KrpiritoSá- tOjque procede por vonta- de , dcolhe o Padre o dcf- pacho

io Advento: ^i

pacho das mercês : T>ator nar por entendimento ,

munertim : ao Filho, que fe fem vontade 5 o dar mui

produz por entendimen- por vontade, mas com en-

to, deolheo juizo das cul- tendimento. E feria bem

pas: Omnejudichm dedit queodarfoíTe por en-

Filio 5 porque o dar, para tendimento ; & que no

que fe agradeça, ha de pro ceder da vontade, Sc oco- denar , para què fe naó er- re 5 ha-o de regular o en- tendimento. Ainda nam eftàdito: ouvi húa coufa grande. Quando o Padre ab-eterno gera o Filho, ^era-o por puro aábo de entendimento, íem inter- venção ainda da vontade : quando o Padre > & o Fi- lho produzem o Efpirito Santo , prqduzem-no por a£to da vontade , mas com fuppoíiçaó do enten- dimento. Pois por iííb o dar íe attribue à terceira peífoa , Sc o j ul gar à fegun- da 5 porque o dar ha de fer da vontade,mascó fuppo- íiçaó do entendimento: o julgar ha de fer do en- tendimento íem interven- ção nenhúa da vontade. Eis aqui hum perfeito di- £tamedajuíliça punitiva, &diílributiva. O conde-

condenar entraíTe tam- bém a vontade ^ Naó: por- que dahi naceria o que acontece algúas vezes , que nem as mercês obri- gaó,nem os caftigps emen- dáo. Condenar com von- tade, he paíTar além de ju- fto, dar fem vontade, he íi» caràquem de liberal : no primeiro vai efcrupulofa a 3uftiça,no fegundo íica de- fairofa a liberalidade.

f8 De maneira que em Deos a vontade , Sc o en- tendimento tem reparti» dos osofficios, o entendi- mento j ulga^ a vontade da . ' Nos homens naó paíTa af- íim. O entendimento eítà depoílo de feu oíficio, a vontade ferve ambos : a vontade he a que dà, 6c a vontade h e a que jul ga . A queixa de fer a vontade a que dà, deixemola aos co-- biçofos, Sc aos pertenden- tesy afem-razaò dcíer a voa-

<?2 SermaÕ ãafegunda dominga

vontade a que julga, he a mefmo Chríílo l Ha coufa

que faz o juizo humano mais formidável , que o divino. Veyo hua vez a luz a fer julgada no juizo dos homensj& vinha ella mui- to confiada 5 porque an- tigamente tinha apareci- do diante do Juizo de Deos, 8c fahio delle com grandes approvaçoés: Fiat íux-,&faifa efl iiix-^ér vidit IDeus Incem > quodejfet bo-^ na, Comeftasabonaçoens do juizo de Deos entrou a luz no juizo dos homens, &como vos parece que fahiria delle^DiíTe-o Chri- íto no Capitulo terceiro

mais fermofa , ha coufa mais útil , ha coufa mais ncceíTaria no mundo , que a luz? Pelo contrario ha coufa mais fea , ha couía mais horrenda , ha coufa mais inútil, ha coufa mais chea de inconvenientes, que as trevas? Naó íaó as trevas a capa dos latrocí- nios, as terceiras dos adul- térios , as complices , 8c as confentidoras dos ma- iores infultos, das maiores enormidades , que fe co- metem no mundo ? Pois^ comohepoílivel, que ho- mens com olhos , 8c çom

de S. JoaòjSc foi neceíHirio entendimento antepuzef-

que o mefmo Chriílo o diíTcíle , para que nòs a creíTemos : Venit lux in miindiim , & dilexerunt ho- mines magis tenebras^ quàm hicem. Veyo a luz ao mun- do, 8c os homens antepu- zeraó as trevas à luz. Ha talfem-razaó ! ha tal ce- gueira ! ha tal maldade ! Quem ouvera de crer de juizosracionacs hiia Çç,\\- tença taõ barbara como Q^x^ fe Q nag aíiirmiira o

fem as trevas à luz? As mef- mas palavras de Chriflo deraóa razão '.'Dilexerunt homines magis tenebras^ quàm luccm. dilexerunt: julgarão com a vontade,^ naõ com o entendimento : 8c onde a vontade he juiz, ta es como eílas faò as Çcn- tenças. Qiie havia de fazer hua cega , fcnaô condenar a luz ? 'Dilexerunt magis: air.áraó mais: Eis aqui to- do o juizo dos homens: a má-

àmarao mais 5 ou amarão menos. Se amáraÕj aitida que feja as trevas,as trevas haó de ier melIioreS:,que a luz : Te náo amáraó , ainda que fejaaluz jaluzha de

caufa em Chríílo, Ego nuU Iam catifam inverno: como lhe puzeraó a caufa cÇcm^ na Cruz : Impofuerunt cau- fàmejmfcrlptam ? Aqui vereis quanto vai defer

fer peor^que as trevas. Oh julgado com o entendi-*

quantas vezes renova o mento, ou com a vonta-

mundo eíla fentençalQuã- de. Depois que Pilatos de-

tas vezes vem a juizo a clarou a innocencia de

luz,& as trevas, &fahe c5- Chriílo, devolveo as acu-

denada a luz ! Vede que façoens ao juizo davonta-

fegurança pôde ter o me- de dos Principes dos Sa-

reci mento, ou que immu- nidade a innocencia em tal juizo .^ O fummo mereci- mento, & a fummaHino- cenciaodiga.

fp Prefentado Chii- ílo ante Pilatos , tirou elle as teftemunhas, examinou as acufaçoens , & decla« rouaChjifto por innocé- Lac.23. ttiEgo nuUam cãtifam in- vmio in homine ifto : £ u ne - nhúa caufa acho neíle ho- mem. Da hi a pouco leva- rão a C "hriíio ao Calvário, pregáraónoem hua Cruz^

«4-

c^tàotQs-.Jefum vero tra^L'ac.:ty, dídUvolmitati eomm -, &^^' como Chriílo foi julgado no juizo da vontade , logo lhe acháraó caufa para o crucificar. No juizo do entendimento, ainda que era entendimento de Pila- tos, naò fe achou caufa a Chriílo : no juizo da von- tade , ainda que era o jul- gado Chriílo, achou fel caufa. E porque acha mais a vontade fendo cega,qiie o entêdimento fendo lyn- ce.^ Porque o entendimen-

Matth. Et ^^^pofaenmt fuper caput toachaoqueha ,a vonta- 27.3 7> ejus cãufam ipfitis fcriptar/iy de acha o que quer. Con? &: puzeraó nella , diz o foniieavontade quer, af- TextOjafiacaufa efcríta. fim acha. Se a vontade Pois fe Pilatos naò acliou quer fav orecerjaeharà me- reci-

644 Sermão

rccimento em Judas , fe a vontade quer condenar, achará culpas em Chrifl-o. Que culpas tinha o Bauti- íla contra Herodes>para o meter em prifoens ? mas tinha contra fy a fua von- tade, que era a maior cul- pa de todas. Bem enten- dia Hcrodesjque era inno- cente o Bautifta : mas naó quero ir por aqui : ou He-* rodes entendiajque era in.- nocenteo Bautifta, ou naõ o entendia: fe o naó enten- dia, vede a cegueira da vó- tade, que o fazia entender contra a razão : fc o enten- diajvedeatyrannia da vó- tade,queo fazia obrar có- tra o que entendia. De húa maneira, ou de outra fem- pre o Bautifta tinha cer- tas as prifoens: Joannesin n;incuiis.

5. IV.

60

A;

ra-

Segunda

^zaó de o jujl-

zo'dos homens fcr mais terrivcl, que o juizo de Dcos, hc porque no juizo dcDcos geralmente baila

íhãa^omtnga o teílemunho da pro*. priaconíciencia : no juizo dos homens a própria con- fciencia naó vai teílemu- n ha. Vede que grande he a fidalguia do juízo deDeos. Apareceis diante do Tri- bunal divino, acufaóvos os homens , acufaóvos os AnjoSj acufaóvos os De- mónios, acufaóvos voífas próprias obras , acufaóvos o CeOja terra,o mundo to- do j fe a voíía confciencia vos naõ acufa , eftais-vo» rindo de todos. No juizo dos homens naó he aílim. Tereis a confciencia mais innocente,quea de Abel, mais pura , q a de Jofeph , mais juftiíicada , que a de S. J02Ó Bautiíla : mas fe ti- verdes contra vòs hum Caim envejofo , hum Pu- tifar mal informado , ou hum Herodcs injullo , ha de prevalecer a enveja có- traainnocencia,a calum- nia contra a vcrdadc,a ty- rannia contra a juftiça , & por mais que vos cíleja fakando,8c bradando den- tro no peito a confciencia, não vos hao de valer fcus cia-

doAd^ventd. éj

damores. Vede que com- homens verem òs còm-

pn.rnç-^ó tem eííe rigor c6 o do juízo de Deos. Acho eu muita graça aos Pre- gadores, que para nos re- prefentarem aterribilida- dc do juízo divino 5 tra- zem aquella authoridade^ ou oráculo de Deos a Sa- vncg. i^x^d-.Homovídet ea^qu^ grandccoftume>ô qgran- »^-7- parent^^Gmintts autemin- Af^f'^^'^y*A.^A^Çr^^^]\/\^^^^

çoens ? para os rraydores , para os hypocritas,para os lífongeiros, para os micnti- rofos,&: para outra gente ' deílarelèjmaspara os ze- lofos, para os verdadeiros^ para os honrados, para os homens de bem i ô que

tuetur cor : os homens vem os exteriores , porem Deos penetra os corações : antes por iíTo mefmo he muito mais para temer o juizo dos homens j fe os hòmensconhecéraó os co- raçoens, fe aos homens fe lhe pudera dar como co- ração na cara j então nam havia que temerfeus juí- zos. Que maior defcanfo, &: que maior fegurança, que trazer hum homem

de felicidade fora! Mas co- mo aconfcienciano juizo humano nao vai tefiemu- nha,quem leva a calum- nia nas obras,que importa que tenha as defefas no co- ração f*

6i A maior defefa, Sc juílincaçaó , que Chriílo tevedeluainnocencia, foi o depoimento de Pilatos, quando pedindo agua la- vou as mãos,& pronúcioui queelle era innocente no

fangue daquelle juílo; Ac- ^^^^^^^ lempre coníigo no feu co- cejpta aqua^ lavzt manus co- --i^^, raçaó a fua defefa? Acuíàif- rampopulo-^dícens: Innocens me 5 condenaifme, infa- egojtim àfãnguine juftihw maif lie ? quereis mil tefte- pis. Reparou neíta agua,&: munhas, pois eilas aqui, & neíle fangue S. Cyrilloje-

rofolymitano,&: diíTecom opinião íingular, q aquel- la agua,& aquelle langue, que fahio do lado de CÍiri»-

moílrari he o coração ; Bo- na confcícntia milie tefles. Sabeis vòs para quem naò era boa invenção a de q% Tom./..

66 Sermão da figimdaDomm^a- lio na Cruz, faziaó alufaô fefas do coração eraõ ver* a efta agua, & a eíle fan- dadeiras •, mas como o co- %\xç.\ Erant hac duo de late- ração no mundo naó vai reyjudicanti aquã^claman- teílemunha, morreo cru- tíbusverofangtiis. A agua cificadaainnocécia Quã- fignificavaa agua,có que rostresladosdeíle procef- Pilatos lavou as mãos: ^r- fofe formão cada dia no cepta aquãy lavit manus : o juizo humano ! por iíTo os fangue fignificava o fan- innocentes padecemy&os gue, que o mefmo Pilatos culpados triunfaó. Quem declarou por jufto , & os mais innocente , quejo- acuíadores tomáraó fobre feph, quem mais culpado, n)id.25.1y, Sanguis ejusfuper nos: queaEgypcia?mas acul- de maneira , que airim co- pada moltrava os indícios mo o reo, ou o homifia-

do, traz no feyo os papeis de fua defefa, aílim Chri- ílo meteo no coração a- quella agua,& aquelle fan- gue, em que confiíliaó os teftemunhos authenticos de fua innocencia. Ora vede agora fair a Chriílo do Pretório de Pilatos , acompanhado de grande tropel de juftiças, Sc vereis nareprefentaçaó daquella tragedia , o que cada dia acontece no mundo. O in- nocente caminhava para o fuppUcio, o pregaó dizia as culpas, o coração leva- va as dcfcfas. As culpas do pregaõ erag falfas, as dc-

naçapa,6c o innocente ti- nha as defefas no coração-, por iffo ella triunfa ,&:el- le padece. Morre em fim ChriftonaCruz, abrelhe húa lança o peito , fica o coração patente, &: entaò fahiráoem publico asfuas defefas: Exi-vitfangiíis,& ^^o.nn: ^^«^. Pois agora depois de' ■' Chriílo morto? Sim ago- ra: queefiahe adilleren- ça,queha de hum juízo a outro juizo. No juizo de-

que

hc o

pois da morte , juizo de Deos , cntao va- lem as defefas do coração i no juízo dcíla vida, que heojuizo dos homens, iie- nhúa valia tem. Oii dcf-

gra-

do Advento. graçada forte a áo coração logrados

^7

humano .'poder fer julga- do dos homens para a cul- pa, «Scnaó poder fer vifto dos homens para adefeíaí

Náo ha maior delid-o no mundo , que o fer melhor. i\o menos eu a quem amara das telhas abaixo, antes lhe defejára

Se aílim he, que muito que hum grande deliílo , que fenaô defenda a maioria- hum grande merecimen

nocencia , loannes in "vin-

€1iU$>

6i

O Terceiro mo- tivo de maior temor,que ha no juizo dos homens, comparado com o de Deos, he, que no jui- zo de Deos as noíTas boas obras defendem -nos , no juízo dos homens,o maior inimigo, que temos, fao as noílas boas obras. De- mos reviílaa algus exem- plares do juizo humano,& conflarnosha delia verda- de. O primeiro condena- do, que ouve no juizo dos homens, foi Abel 5 & por- que culpas.^ Porque o feu facriíicio agradou mais a Deos, do q o de Caim. Ha tal crime como eíle.^ Se A- bel fora como Caim , elle tivera os feus dias mais

to. Hum grande deUdo muitas vezes achou pieda- de: hum grande mereci- mento nunca lhe faltou a enveja. Bem fe hoje no mundo : os delidros com) carta de feguro , osmere-; cimentos homiíiados. Va- mos a outro exemplar. Saul condenou tantas ve- zes à morte a David , ôc chegou a lhe tirar elle mefmo às lançadas : Sc porque crimes. ^Porque fe cantava pelas ruas dcjc- . rufalem , que David era mais valente , que Saul : , j^^g ^ercuJJJt Saidmiíle^lDãvid 18.7. autem de cem milita. Efte premio tirou David de matar hum Gigante com híía funda. Maisventuro- foshaviaóde fer os tiros, fe náo deraó tamanho eíla- lo. AoGigãtederrubou-o a pedra, & a David o foni- . do. Eis-aqui porque Da* ; £ ij vid

I-1

Matth.

6 8 Ser ma o da feguntía ^o?mnga

vid queria que o julgaííe vem, os mancos andaõ, os

Deos, & naó os homens : mortos reíufckaõ : Et bea-

íiojuizodeDeosperdoaó- tus qui fcandalizatus non

fe os peccados como fra- fueritinme •, &: bemaven-

quezasi no juizo dos ho- turadooquefenáo efcan-

mens, caíligaófe as valen- dalizarem mim. y\quire-

tias como peccados. Gra- paro > ò' beatus quijcanda^

çasaDeos, que nos hi- lizatusnonfuerít,^ bem-

mos emendado defte. Va- mos ao terceiro exemplar. Mas para que he ir mais longe 5 fe temos o maior exemplo de todos no Evã- gelho ^

63 Mandou o Bauti- íla do cárcere dous difci- pulosíeus, que fofiem per- guntar a Chriílo fe era el- le o Meíllas, Tu es^ quivcyi- turusesy an alium expeça- ?;í«j.^Suípcndeo o Senhor

aventurado o que nam fc efcandalizarPE que tinha feito Chrifto, para fe efcã- dalizaremos homens.^ Se Chrifto arrancara olhos, & fizera cegos •, fe cortara pès, & fizera mancos -, fe tirara vidas, Sc matara ho- mens :encaó tinhaó razaó de fe efcádalizar de Chri- fto j mas por farar, por re- mediar, por refufcitar ? Sim.Porquenaó hacoufa a repofta, porque havia ao de que mais fe efcandali- redor grande multidão de zem os homensjquc de ha- cnfermos, que efperavaõ, ver quem faça milagres. & depois de os firar a to- Antigamente efcandaliza- dosmilagrofamente, vol- vao os peccados , &: edifí-

cavaòas virtudes: hoje as virtudes efcandalizaó, & queira Deos , que os pec- cados naò edifique. Deos vos livre de voíTiis boas obras , & muito mais àxs grandes : os pcccaiios fo- ircmolos facilmente j os mi-

toufc para os Embaixado- res do Bautifta5&:diftl^lhes aílim : Ite rennntlate loa^^ ni qua audiHis^ ér vidijlis. Ide, dizei ajoaó o que ou- vi ftes 5 &: vi ftes : Caci vi- denty c landi ambiilant^^mor- tui refurgiiíiP, Os cegos

^doAdiíêntol

BiHagf es não os podemos milagres naô efcapa ? Ain-

íbfrer. E porque P Forque os peccados faó oífenfas de Dcos y ^ os milagres íaóolfenfanoílà. Bem fe- guro eu 5 que havia mais de quatro enfermos em Jcrufalemj que não quize- ráoferfarados , porque Çhrifto não foUe o mila- grofo, Naó atirara Saul a lança contra David, que lhe tirava a enfermidade, fe lhe naó doera mais o

da dizia mais o proceflb de Chrifto : Ecce totus mim- ísan.ís dusfoft eum vadrt : que era '^' tal, que ília todo o mundo anos elle. Se diílèraó , que ellehia após o mundo, có- denaíTemno muito embo- ra j mas porque o mundo hia após elle l Eis ahi quaesfaó os crimes do juí- zo dos homens. Se fores após o mundo , ninguém vos ha de condenar 5 fe o

milagre, do que lhe agra-r mundo for após vos, naó

dava a faude. vos ha de valer fagrado.

6^ Oh quanto mais Que diíTe hoje Chrifto do

íeguro heir com peccados Bautiíla.?que fe deípovoa-

âo juízo de Deos,que com vão as Cidades para o buf-

milagres ao juízo dos ho- mens! Em Deos hamife- ricordia, na enveja não ha perdão. Que levou a Mag- dâlena ao juizo de Chrí- íío ? peccados ; 6c como fa- hio ? perdoada , Remittun^ tur eipeccata multa. Que levou Chrifto ao juizo dos homens ? milagres : & co« mo íahio > condenado, ^da hic homo multa fgna facit, Comqueefcaparáó os homens do juizo dos homens, fe Deos, & com Tom. 7,

car, para o ver : ^id exi- ftis indefertum viderelQuz x .^"s. não era cana verde , que íè moveífe com o vento : Arundimm veto agitatam > Que não era homem da Corte , que veílilfe fedas , fenão cilícios , Hominem mollibusvejfitum: Que era mais que Profeta, Tlufqm, ^rophetãm : finalmente , que era hnpyEcceegomit- ibid.io, to Angelum menm : Ah íim, meu Santo Precurfor , & vós tendes cinco culpas E íij " láp

70 Sermão dafegunda "'Dominga

tio grandes como eílas, ác Deos. Eis aqui atè don-« tão provadas ? Máo pleito de chega o Demónio, quã- levaisaojuizodoshomês} do acufa j & o homem

a vòs vos tiraráó dos olhos, & dos ouvidos do mundo, a vós vos fecha- rão em hum carcere> loan- nesinvinculis.

§. VI.

6j A Quarta cófide- /\ raçaó de fer maistemerofo ojuizodos homens , que o juízo de Deos, he porque Deos jul- ga o que conhece 5 os ho- mens julgáo o que não co- nhecem. Hum dos maio- res rigores do dia do Juí- zo, he que os mefmos De- mónios hão de fer alli noííbs acufadores ; mas eu antes me quizera ver

quando julga ? Julga vos as obras 5 julgavos as pala- vras,&atè o mais intimo penfamento vos julga, 6c vos condena. Ha tal teme- ridade de juizo ? Quejul- gue o homem as obras,quc vè, que julgue as pala- vras, que ouve, feja embo- ra> masque queira julgar os penfamentos , onde naò chega com algum fentido do corpo, nem com algua potencia da alma l Ella he hua das mais graves ra- zoens, porque ojuizodos homens he mais para te- mer,queojuizo de Deos: Deos julga os penílimen- tos, mas conhece-05', o ho-

acufadodeDemonios^que mem não pôde conhece^ verme julgado de homens. O Demónio no dia dojui- zo hanos de acufar de to- das noílas obras, hanos de acufar de todas noíTis pa- lavra9: mas em chegando aos penfamentos ha de ta- par a boca o Demónio, porque os pcccados de pé- íramejQCQjTuO jccfcrvados a

penfamentos,^ julga-os.

66 Dirmeheis, queos homens julgão os penfa- mentos pelas obras , 6c que pelas obras , que fe vem, bem fe podem julgar os penía mentosjque fe na5 vem. Seaílim fora , nani eráo tanto para te:riCr os juízos dos homens i mas

€. Res.

doAãventú, ji

vede quanto ao contrario quodoccdjtones quarat ad-

das obras julgaó ainda os verfumme. Lãçoufe Aman

melhores homens os pen- aos pès da Rainha Eílher,

fa mentos. Efí-ava Anna pedindo que lhe valeíTc

iTiáy de Samuel orando no contra a indignação del-

Templo com os afFedos> Rey, de cuja graça fe via

& eíFeitos, que coílumão tão inopinadamente cahi-

os afligidos : & que juizo do : & que juizo faria ÁP

vos parece , que faria o Summo Sacerdote Helí deftaoraçaó ? Julgou que era intemperança : & que os movimentos, que fazia ilnna com a boca^tinhaò a caufa na mefma boca , &

;.«.

fuero deíla acção de A- man ?Julgou-a tanto con-' tra toda a razão , <5c contra o decoro, que a fy mefmo fe devia 3 que em nenhum penfamenco pôde caber o penfamento,que lhe veyo, não no coração laftimado nem ha palavras, com que donde íàhião: Exíjiimavit fe poífa explicar fem dif- tilam tenmlentam , & ait: fonancia : Et iam Reginam s<Ji^cr Vfquequoebriaeris ? Veyo ^ult ofprimere, meprasête^ Naamão Syro à terra de indõmo mea. Eis aqui co- Judea para que. o Profeta mo interpretaó os homés Elifeo o curaíTe da lepra : as acçoens,6c como julgao 6c que juizo faria EÍRey por ellas os penfamentos. Ezechias defta jornada de Anna orava a Deos , & a Naamão ? Julgou, que era fua oraçaó foi julgada por mandado cautelofamente intemperança : Naamão por íeu Reyj para que tor^ bufçava a faude , 6c a fua nandofefema faude, que confiança foi julgada por vicrabufcar, tomaííe da- hoftilidade : Aman pedia

perdão, êc o feu arrependi- mento foi julgado por fa- crilegio. Nem chorar o ar- rependido, nem curarfeo enfermo ) nem orar one- Eiiij ceíll?

quioccaíiáodequeixa, & da queixa paífaíle a rom- pimento de guerra, 6c lhe vieíTe conquiítar o Reyno: ^■.^^^' Anitmdvertíte , é" Videte

"/ 2 Sermão dafegunda T>aminga

ceílitado , efl:à izento de do a Deos o juizo dos

fer mal julgado dosho- penfamcntoSíquc nem de

mens.Anna pedia o reme- toda a Igreja Catholica

dio de fua eílcril idade a fiou Deos o julgar hum

Deosj Naa máo pedia o re- penfamento : Ecclefta non

médio de ília enfermidade judicatâe interno. E o que

aEIifeo , Aman pedia o Deosnáo fía dos Pontifí-

remédio de fua infelicida de a Efther j 6c nem em Efther o fer Rainha , nem em ElifeooferSantOjnem no mefmo Deos o íer Deos, lhe valeo aos mife- raveis para que efcapat

ces, o que não fia dos Con- cilies, o que não fia de to- da a Igreja, que he julgar meus penfamentos , iflb faz o juizo de qualquer homem. Parecevos muito iílo? Parecevos muito, que

fcm. Nemcomos Reys, os homens julguem penfa

nem com os oantos ,nem com Deos fe pode tratar fem fer mal julgado dos homens. Táoinjuílo he o juizo humano em inter- pretar intençoens ♦, tão atrevido, &: táo temerário he em julgar pelas obras os penfamentos.

6/ Julgar mal huma obra boa, grande maldade he : mas julgar, ou bem, ou mal huiii penfamento, que nao pode fer conhecido, ainda he maior tyrannia. Sc não conheces , nrm po- des conhecer o penfa men- to^ como te atreves home ajulgalo.^Hctáo refcrva-

mentos , & condenem por penfi mentos ^ Ora aguardai , que ainda nani diílenada. E quantas ve- zes vos julgarão, êf conde- narão os homens pelo que nunca vos paflbu pelo pé- fimento ? ^\s aqui outra maior diíferença dos dous juizos: Deos julga^Sc con- dena por penfamentos, os homensjulgaó, êc conde- nao pelo que nunca pnílbu pelo penfamento. Paílbu- Ihe aigãa hora pelo penfa- mento a Jofcph atreverfc á honra de fcu Senhor ^ Paílòulhealgua hora pelo penfainenroa Daniel que- rer

:ão Advento. _ íer machinar contra o Im- vos ccíadenlo os homens períodos AíTyrios ? Paf- pelo que não vos paíTou foulhe algua hora pelo pelo penfamento a vós, penfamêtoaChrifto^que mas condenãovos pelo q tatnbemniíloquiz darnos nem lhes paíToupelo pen- exeniplo ) quererfe fazer famentoaelles. Mais cia- Rey temporal, de que ta- ro. Naó vos condenão tas vezes fugira ? E com os homens pelo que vòs tudo Jofeph por fe atrever nunca imaginaftes , mas à honra de feu Senhor eftà condenãovos pelo que em hum cárcere : Daniel elles imaginão de vòs. por machinar contra o 68 Chegarão os irmãos Império eílà no lago dos de Jofeph ao Egypto,apa- Leoens : Chrifto por fe recéraõ diante delle , &: querer fazer Rey eítà po- depois que diíTeráo, quem ftoemhúaCruz. Comef- eráo,&a que vinhaó ,fe- te rigor nenhúa compara- coufe Jofeph mui ao de çaótemojuizo de Deos. miniftro, & comafpe£to Para Deos condenar por fevero diíTe : Vaó prefos penfamento heneceíTario, eíTes homens. Prefos nos, que hajapenfamento,que Senhor Viforey,C replica- fejamáo,& quefeconfm- raó elles tremendo ) &: ta : para o homem conde- porque ? Explor atares ef- ^^^^^ nardomefmo modo,nam tis: Sois efpias : vindes a ^ij?. heneceíTario, que fecon- explorar os Reynos de fmta, nem que feja máo, Faraó meu Senhor. As pa- nem que haja penfamen- lavras não eraó ditas, &jà to.Pòdefe imaginar maior os dez irmãos eftavaó com rigor, maior injuíliça, ma- ospès , Sc mãos em outros ior crueldade, que eíla.^ tantos grilhoens, & alge- .Eu cuidava, que não •, mas mas. Pergunto agora : Ef- ainda paíTa adiante a futi- tts homens iraagiiáraô ai- leza,&acrue.dadedojui- gõaiioradevir fer efpias 20 dos ho)iiens. Naó ao Egypto^ ôc explorar q%

ReY«f

Sermão dajegimáa dominga

Reynos de Faraó? Claro deiras. Diga-o a de Na- eíUqne nunca tal imagi- both em Samaria , &a de náráo. Eraó huns pobres SufanaemBabylonia. Por lavradores, que vuihaó fu- ventura imaginava Jeza-

gindo à fome , comprar quatro grãos de trigo para manter a vida> & deitar terra. Pergunto mais : <Sc Jofeph imaginava dclies 5 que foíTem efpias , &: ex- ploradores } Ainda iílo he mais claro ) (Sc mais certo.

bel^que Naboth blasfema- ra o nome de Deos , & ád- ReyPNáo imaginava tal coufa. E com tudojeza- belfezcódenar a Naboth pelo que nem €í[ç^ imagi- nou nunca5nem ella imagi- nava àú\^. Por ventura os

Nunca tal imaginou Jo- Juizes de Babylonia ima-

feph 5 porque conhecia gináraó de Sufana , que

mui bem , que cráo osfí- violara a fé, que devia a

lhos de Jacob feu pay.Pois Joachim, no crime de que

fe eftes homens nuca ima- a acufavão ? Não lhes paf-

gináraó em fer eípias,& íè fou tal pela imaginação. E

a Jofeph nunca lhe paíTou com tudo foi condenada.

pela imaginação , que o foíTem 5 como os manda prender? He poílivelque hão de eílarhuns innocé- tes arraílando cadcas em húa mafmorra pelo que nem clles imaginára6,nem imaginou dclíes quemalli os metco ? Aííim palFa. Na hiíloria de Joíeph era aquelle rigor fingido -, mas ainda mal, porque tantas tragedias fe rcprcfcntaó no mundo, em que as mcf- mas injulli^as íàò verda-

de levada ao fupplicio Su- ílina pelo que cila ima- ginou , nem imaginarão delia os mefmos:, que a có- denáraó. Quantas vezes julgais, condenais , infa- mais, & dcílruis hum iw- noccnte pelo que nem c:\Lq, imaginou 5 nem vós ima- ginais dellc? Sabeis de cer- to, que não fez o crime, & iní a mailo, c^ acufulo , & condenailo como fe o fize- ra. Sc condenar por culpas duvidofas hc mjuílica, cò- ocnar-i

âoAãventcT. denar por innocencia co- muito nhecicia , que tyrannia fe- ra? a que ufa o juizo dos homens eom o Bautifta: loannes in vinctãis.

omite

§. VIL

^9

A Quinta razão, Sc diíFerença, que acho entre o juizo de Deos> & o juizo dos ho- mens, heaquellajque pare- ce faz o juizo de Deos mais temerofo , que he o fer juizo final. Juizo íinal l Oh que temerofa palavra ! Mas dahi mefmo tiro eu quanto mais temerofo he

o juizo dos homens^que o fins pelos principies , mas juizo de Deos. Deos naó comoosíucceííbs do mu- julga fenão no fim, os ho- do5& da vida , Sc muito mensnáo efperâo pelofim mais os que dependem do para julgar. Gram rigor! alvedriojnãoguardãopro-

tttraque crefiere ufque ad i^[^^^^^ mejjem. Deixai nacerjdei- xai crecer, deixai amadu- recer 5 virá o tempo da mefíe, então fe conhecera, qualheo trigo, & qual a zizania. Eis aqui qual he Deosno julgar, éÇc quaes faó os homens. Deos não condena fenão no fim: os homens não efperâo pelo fim para condenar. Deos para colher efpera peio A- gofio : os homens fegaò em Janeiro.Os que mais ti- moratamente procedem em julgar antes do fim, faó aqueiles , que reguião os

Semeou zizania o inimigo na feara do Pay de Fami- lias j & que a conteceo? Ve- de a diferença do Senhor aos criados. Os criados muito fervorofos : Fis

porção algíia , todo eíle juizo he incerto , & todo injuílo.

70 No dia da Payxão de Chrifto morrerão qua- tro peííbas notáveis , de

imus^ér çolligimus ea ^ Se- que faz menção o Evan- nhor,quereis que vamos, gelho. Morreo Chriílo, & arranquemos logo a zi- morrerão os dous ladroes, zania ? O Pay de f amiiias & morreo Judas. Ora no- tai

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7<:> Sermão da fegíinda^ommgd

tai a diílTerètlça dos princi- diria, que havia de fer tra-^ PÍ0S5& fins de todos. Chri- balhofo, & foi feaciírimo. ílo começou bem , acabou Antes de ver o fim náo fe bem:o máoladraó come- pode fazer juízo. Pedro çoumal, & acabou mal: o feguio a Clirifto para ver bom ladrão começou mal, o fim : Vt vider et finem : fe J-^^^J- & acabou bem : Judas co- efperaraatèrero fim, éii^ ' "^ * meçou bem , 6c acabou não negara. Efperai pelo mal. Taes íaó as contin- gências das coufas do mu- do, (5c apouca proporção, que guardâo os fins com os princípios. Muitas vezes a bons princípios feguemfe bons fins , como em C h ri- flo ,& a mãos princípios máos fins , como nomáo ladráo ; 8c outras vezes pe- lo contrario a máos princí- pios feguemfe bons jfins> como no bom ladrão, & a

11 fim, enrão negareis •, mas eu vos fio 5 que fc chegar- des a ver os fins,que haveis de querer feguir , 6c não negar. Se alguém pudera julgar antes do fim , era Deos j porque conhece os futuros j & com tudo nun- ca Deos mais julgou, condenou a ninguém , fe- não depois das obras. O juízo dos homens náo he aílim , conhece pouco do bons princípios feguemfe prefente, menos do pafla- máos fins, como em Judas^ do,8cnadado futuro, ^

Poríífo quem quizcr juí

gar bem , ha de

aguardar

pelos fins. Nos Reynos paífi o mefmo , que nos homens. Q^iem julgaífe o fímdoRcyno de Saul pe- los princípios, diria , que havia de fcr fcliciífLmo, 6c foi defcftrado : quem jul- ga fie o fim do Rcyno de David pelos princípios,

antes de as coufas terem fcr, jàeíbão julga das. No mefmo dia em que fe Faz a eleição, eftà adevinhado ofucceífo , eftà conde- nada a obra , eílà deía-* creditada a pcífoa. Valha- me Deos, ainda não fiz bé, ncni mal, 6c me condc- não ! Náo teremos huma pouca de paciência para cfperar

cfperaf pelo fim?; Nolite ^ Naófeiferepiráis m dii- * '• - - - vida. Se eftehafBem ain- da tivera lepra , que lhe chamaíTemleproíb, miiitia juílo > mas íe elle eílava faó 5 porque lhe haò de chamar leprofo? Porque eíTe he o j uizo dos homês. Foíles vos leprofo algum dia ? pois ainda que Deos

1 Co- antetempusjuditare ^ iiani '^''^y íjueirais julgar ante tem- po, diz o Apoftolo.Jàque quereis ter predeftinados, & precitos como Deos, julgai também comoDeos ao íim das obras. Mas que aopredeftinadofe lhe ha- ja de adevinhar o mereci-

nientopara felhe dar logo faça milagres em vòs , Ic-,

o premio -, & ao precito fe profo ha veis de fer todos ,

lhe haja de profetizar a os dias de voíTa vida. Deos

culpa para o condenar dá- podervos-ha dar a faude>

temaóPterriveljuizo. masonomedaenfermida-

71 Ainda paílaadian- de naó volo hao deper-

te a razaò porque Deos doar os homens Nojuizo

jui gano íim, &.OS homens, de Deos com a mudança

naó. He porque no juízo ; dos procedimentos, mu-;

de Deos naó bafta a certe- daóíe os nomes , antiga-

za do futuro para o cafti- mente éreis Sauio , hoje

go,Ã: bafta a emenda do fois Paulo : no juizo dos

paíTadoparaoperdaé.No homens por mais que os

juizo dos homens 5 nem procedi rnentos fe mude,

para o futuro vai a incerte- os nomes naó fe mudaó

za, nem para o paíTado a emenda. Diz o Evangeli- fta S. Marcos , que veyo Chriílo Senhor noíTo co- mer a cafa de Simaó Le- profo : chamavafe aífim efte homem, porque fora 1 eprofo antigamente, & o mefíno Senhor o farára.

mais. Se foftes leprofo hu- mavez, leprofo vos haó de chamar em quanto vir j^/j^,.^ verdes : Simonis Leprofi. i^\.i^ Poderá haver milagre pa- ra farar o Simáo j mas mi- lagre para tirar o leprofo , naó he poíIiveLOh grande fem-xazaõ do juizo huma-.

7 8 Sermão da fegunddT) o minga

no •, que da enfermidade occidere \ feã potim timeie

vos hajaó de fazer appel- enmtquipoteji & anima yé*

lido ! E vem a fer peor o corpus per der e in gehenna.

appelíido , que a meíma Quer dizer : Naó temais,

enfermidadcj porque a en- aquelies,que mataóocor--

fcrmidade, quando muito po, & naó podem matar a

chega ate a morte jo ap- alma: mas temei antes a

pelUdo paíTa à defcenden- quem lançando o corpo,^

cia. OjuizodeDeosterri- alma no Inferno, tanto pó-

Marrh.

vel he, mas poíTome livrar dclie emendandome. Po- rém ojuizodos homens, em que naó vai emenda, quem poderá negar , que hemais terrivei? Efe con- tra o juízo dos homens naó vai a emenda onde a ha : que remédio teria aquelle innocente, em que-a nam podia haver, porque nam havia que emendar, loan- nes in vinculis'-^ - o 1 1 j i. u a i v .. j .... . :'.iii 'íoq pr'3ffi(:

73 ''A Ntesque paíTe x\adiante ( que naó feife mo permitira o tempo 3 me occorre, que pode occorre r a alguém aquella famofa fcntcnça deChriílo : Nolite timere eos^ qui occtdunt corpus^ animam autsm nonpojjunt

de matara alma, como o corpo. E quem faóaquel- les5&: quem he eíle?Aqueí- lesfaò os homens, eíle he Deos. Logo parece que daqui fe infere contra a doutrina que atègora pro-» vamos por tantos meyos, que mais temeroro,&: mais para temer he o juízo de Dcosjqueo dos homens , como maisfe deve temer o Inferno , Sc morte da al- ma,que a do corpo. Mas taó erradas como iflo co- flumao fer as confequcu- cias de quem fcgue as fuás apprehéfoenSjOu affedos, & naó olha para o cafo de que fallaõ os Textos, ív pa- ra o intento, com que fo- raó ditados, ou elcritos. O intento do divino Meílre nella occafiaò foi animar a fc dos primitivos Chri- llãos,

do Advento] 79

ftãos^paraqucpadeceíTem &:perig05&: entre pena, &: confiantemente os tormê- pena: porque comparada tos, & martyrios dos tjr- a pena do Inferno com a rannos : & para que poítos pena da morte , ciaro eílà, entre dous temores, hum, que muito mais para te-

ou ©utro inevitável, com o niaior venceíTem o menor, > ifto he,com o temor do In- ferno o temor da morte. Aílimo entenderão fem- pre Padres,Pontiíices , interpretes, dos quaes co- mo tão diligente, foiido,6c

merheado Inferno. Pelo contrario fe a comparação fe fizera entre juizo , & juizQ, ifto h,e, entre o juí- zo de Deos , & o dos ho- mens, poílo que os homês poílaó condenar à mor- te, &: Deos ao Inferno^çoiíi a mefma evidencia fe fe-

literal abbreviador de to- dos, fó porei aqui as paia- gue ainda neíle cafo, que vras do doutiílimo Aiapi- Biais para temer he o juizo Aiapif c <Íg- ' í^?^'!/^ diceret : Kottte dos homés, que Q de Deos % jbi. metu mortisyquam vabis /»- porque o juizo 'dos homés tentãhnnt per fecut ares yue^ condenandome ir morte, garemeamfidemyaut ceifar e pódefer injufto j&o de abejmprddicatianevohisà Y>tos condenando me ao meimperatayvel aliquidea Inferno, naó pode deixar indignum committere : qma de fer redto : Jujhm es 'Do- praing^

fiidfeceritis incurretis mor" tem tum corporis , tum ani- hnge atrociarem , & diHturniaremyfciUcet ater^ nam ingehennãy ubidamna- timortuntur morte immor taliy&vita moribunda vi- vunty&perdurant. De for- te que a comparação nam fe faz aqut entre j uizo , & juizoj fenaô entre perigo j

mim y & reãum judiçium^^T- tuum.E fe ao juizo de Deos eftá fogeita a culpa , Sc do juizo dos homens nam eftà fegura a innocenciaj vede qual mais fe deve te- mer. DeDeosfaó mais pa- ra temer os caítigos , dos homens mais para temer os juízos E deites he que nós falíamos, ^-^

" . Tam-'

8 o Sermão âàfegúnda 5?<? minga

7:5 Também faííoudos mefmos juízos o mefmo Chriílo, Sc naõcmoutroj fenaó no mefmo Texto^ immediatamête antesjém admirável' comprovaçam

5 & dl gn a de feu Aii f hdr . Si Tatr em famílias Beeí^^^^nu: zebuh vocaverunt : quanto '"• =f- magis domefticos ejus ? Ne ' ' ergo timtieritis cos , nihil enimeftopertum^ qiiod nan

do que digo. A frontavam reveletur-^é' occultíim^quod osEícribasj^cFarifeósaos nonfcietur. Naó vos de-

Difcipulvos do Senhor com nomes tao injurioíbs , ôc blasfemos como a feu Me- ílre : &: chegavaô a dizer, 6cprégar, & apregoar ao inundo, que as maravilhas, que ellej&elles obravaój eraó feitas em virtude, &

veis admirar , que fendo vòs os Difcipulos , & eu o IVl efi:re3& fendo vós os fer- vos,8c eu o Senhor , vos tratem , &: vos julguem a vós os homens, como me tratão,& me julgaô a mim. Masparaquenaó temais,

com poderes de Belzebut nem façais cafo dos feus Príncipe dos Demónios, juizos,& das afrontas, que

vos dizem j fibei que Deos manifeftarà a voífa verda- dcj&casfuascalumnias, ou no dia do Juizo, ou ainda antes. Noíite ta^ncneoriirn frobra^ irrijiones , érfamias timere-, qtiia tandem ^eus autorizadoSjScdosquccn- veftram jidem , cr i-eram tre os demais profeílavaó Religionem patefaciet non Religião , & letras} nam tantumin dtejudicij , fed ^ ^^ defmayaílc-, com que ia- etianiJnhacvita-.còmcnfJLThco'

o mefmo Author com S. P'''^-^' Chryfoílomo, Thcophila- 'çí.ná. to,(Sc Euthymio.Ohargu- mcr.ro verdadeiramente div'nio,& outra vez di-nio 'da

E para que a innocencia,& conftancia, ainda noviça, dos Apoílolosjvêdofe taó indignamente caíumnia- da, & condenada pelo jui- ' zo dos homens (^ & naó de quaefquer, fenaódos mais

zoens os animaria, Sc con- solaria o divino Medre para que naó fizeílcm cafo da temeridade daouclles

J

uizciJ. A razaòfoi huma

do Advento. 8i

da fabedoria de ̀u Au- car a melllia verdade: mas

thorí De maneira

5 que a porque nem o tempo

conrolaçaÓ3&: appellaçaó , lugar , nem eu volas qui- que tem o juizo dos ho- zera totalmente deven* mens, he para o juízo de partamos o trabalho. Eu Deos : Sc debaixo defta as aponto, difcorreyas vós, efperança certa enfína Hemaistemerofoojui- Chrifto a Çcus Difcipulos , zo dos homens, que o jui- que os naó temaó , Ne ti-^ zo de Deos, porque o juí- mtieritis eos ? Sim . Logo fe zo de Deos he juizo de hu o juizo de \^ç.ç>s he o íegu- dia ; o juizo dos homês ro , que nos o mefmo he juizo de toda ávida, Deos para naó temer os Todos os dias para os que

juizos dos homens, bem fe concluc, que o juizo dos homens he o formidável , &oquefedeve temer, & náo o de Deos neílas cir- cunftancias. O dos homés temerfej porque quando menos pode fer falfo,& in- jufto j 6c o de Deos efpc- rarfefem temor 5 porque fempre he juíi:o,&: redo.

\ 5 IX.

,_ -:.^ . •■ •■

74 ^ I ^Udoifto ficou j[ convencido com as razoens, que pon- deramos antes de refpon- der a eíla replica: reílando muitas outras, com que fe podia provar 5 & amplitl- Tom. 7.

vivem entre os homens , fao dias do juizo.

O juizo de Deos ha de fer em hum lugar j o jui- zo dos homens he em to- dos os lugares \ julgaóvos na cafa , . ^ julgaóvos na rua i julgaóvos na praça, «Sc- julgaóvos na Igreja 5 jul- gaóvos na Cortej&julgaó*^ vos no monte 5 julgaóvos no mundojSc julgaóvos na Religião s julgaóvos em todos os lugares, onde ef- tais, &: nos lugares , onde fiaó cftais , também vos julgaó : Emfim para o jui- zo de Deos ha de irão vai- le dejofaphat todo o mu- do i para o juizo dos ho^ mens todo o mundo he F valk

m.

1.!

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8 2 Sermão dafegunda Dominga

valle de Jofaphat. vir a julgar os vivos , & os

Ojuizode Deos come- ça a julgar defdos annos do ufo da razaó por diante : o juizo dos homens muito antes do ufo da razaó jul- ga, & condena. Digaó-no as lagrimas de Rachel, & o fangiie dos Innocentes dejBethlem. Faltavaólhe cinco annos para o alve- drio, & baíláraólbe dous para o cutello : Ab imatUy Ma^th. ^ infra.

75" Ainda depois do ufo da razaò wàò nos j ulga Deos mais , que as duas partes da vida j porque a terceira parte, que nos le- va aquella morte quoti- diana, a que chamamos fo- i\o>comonaóhe capaz de peccar , nem de merecer , naó a julga Deos. No juizo dos homens naó he affim j nem dormindo nos izen-

mortos : os homens no feu juizo julgaó os vivos, jul- gaóos mortos, & julgaó os por nacer.Naó vos lem- bra a hiíloria do cego de feu nacimento , a quem Chrifto deo vifta ^ ainda naóera nacido,&jà o fa- ziaó peccador : Í)tfw/W, loann. quispeccavít , hic , aut pa- ^'^' rentes ejm<i ut c£cus nafce- r^r«r.?^ Deos julga fomente do fadbo, os homens atè do impoílivel.

Antes do dia do juizo verfehaó muitos íí^^ísilu^^, Eruntjigna m Sole^ & Lw^^. ' na : mas notai a diíFerença. No juizo de Deosjos fmais dizem com o juizo : no juizo dos homens, o juizo naó diz com os íinais. No juizo de Deos dizem osíi- naiscomojuizo , porque os finais faó de rigor, & o

tamos de fua jurdiçaó: juizo herigurofo: no juizo Dormindo eftava JolèpU doshomens, ojuizo nam quando fonhou, & porque diz com os íinais , porque

Crnef 97 '9-

íbnhou o condenarão a morte feus irmãos : Ecce fomniator 'venit , venite oc- cidamus eum.

Deos no feu juizo ha de

os íinais íàó de amizade,& ojuizo he deodio: Vede-o em Judas, os íinais eram abraços , & o juizo trcico- cns: Tradííor aut cm dedit^ ^'l\. eis

Mtmh.

do Advento. 8^

essfignum : qnemcunque oj- mes, fendo os homês a meí-- culatusfuiro , ipfe efi^ tene^ ma mudança,por mais que te eiim. hòs nos mudemos, nam íc

Deos no feu juizo , he muda. Mudoufe a Mag- verdude, que ha de lançar dalenaj&no j uizo deChri- os homens ao Infernojmas fto ficou fanta j mas no juí- zo do Farifeo taó pecca- dora como dantes era : ^oniampeccatrix eft. No juizo de Deos ave-^

ha de fer dizendolhe mui- to clara, & defcubertamê- te; Ite malediãi in tgnem ^ermm: os homens nam

fazem aílim no feu Juizo : mos de fer julgados pelos eftaõvos dizendo : Venite Mandamentos j quéguar

i?"

Ibi4.34-

benedtãh Bemdito,6c bem vindofejaisj^ no mefmo tempo eftaóvos metendo , & defejando debaixo do Inferno.

Deos julga como Juiz > oshomêsjulgaó como ju- diciários : entre o JUÍZ5& o judiciário ha efta differen- ça, que o Juiz fuppoem o cafo , o judiciário adevi nha-o. Quantos vemos ho* je julgados, & condenados por adevintiaçaó : naó pe- lo que íizeraó , fenaó pelo quefe adevinha, que ha- verão de fazer!

dou os Mandamentos pô- de cftar feguro : no juizo dos homens naó aproveita

fuardar os Mandamentos, 'izeftes O que vos manda- rão, & muito melhor do que volo mandarão , & fo- breiílbfois julgado, &có- denado. Comoaíèm-ra-' zaó hetaó moderna, nam ha exemplo delia nas Ef- crituras; telohaó os vin* douroSjfe o crerem.

Deos julga a cada hum pelo que he , os homens julgaó a cada hum pelo quefaó. Mais claro. Deos

-j^ O juizo de Deosjfen- j ulganos a nos pôr nòs : os

do Deos por natureza im* homens julgaónos a nòs

mutável, fe nòs nos ver- por fy. Donde fe fegue temos, & nos mudamos , mudafe : o juizo dos ho-

que para feres bem julga- do no j uizo xi e \^^^^ , ba lia F ij que

84- Sermão da fegunda dominga

quevòslejais bom -, mas tecido nelle, oquefucce-

para feres bem julgado no juízo dos homens , he ne- ceílarioque ninguém feja máo. Terrível juízo, em queparaeunaófahir con- denado, he neceílario que todo o mundo feja inno- cente !

NojuizodeDeos bafta fer bom no ultimo infiian- te da vida, para fer eterna- mente bom: no juízo dos homens , baila fer máo em qualquer tempo da vida, para fer eternamente máo. Sefoílesbom,&foís máo, julgaóvos mal pelo que fois : fe foftes máo, & fois bom, julgaôvos mal pelo que foftes j & fe fois, &: fo- lies fempre bom, julgaô- vos mal pelo que podeis vir a fer. Ha juízo taó cruel comoefte ! As culpas em profecia^ Sc o Profeta em prifoens : Joannes in viu- culísl

77

5. X.

Enho acabado

T

parece que me tem acou-

deaosmáos Médicos , & aos máos confelheiros. O máo Medico encarece a enferm idade, Sc naó Ihedà remédio: o máo confelhei- ro exagera os inconveni- entes, & naó dam eyo com- que os melhorar. O oíficio de Pregador também he decurar,&:de aconfelhar. Tenho encarecido a en- fermidade , tenho ponde- rado os inconvenientes» tenho moftrado a ceguei- ra, a fem-razaò, a injufti- ça, Sc a tyrannia do juízo aos homens , mas que he do remédio para nos li- vrarmos defté juízo ? Se- não ha remédio, ainda he mais temerofa efta ultima circunftancia , qiie todas as que atè agora temos có- íiderado. Verdadeirame- te, difficul to fa, Sc impoíli- vel coufa parece, achar re- médio para efcapar do juí- zo dos homens, fendo tan- tos, taó livres, Sc taó teme- rários.

78 Mas ouçamos o

querefolve nclla matéria

o todo Podcrofo com fa-

bcdoria

bedoria infinita : Nolne julgiíe tambeíft à nòs : Lf- jumcare^ ut nmjudiceminh : gemfrius ipfe pojmjih /2"w* ^ */>/ f «i? ^»iw judicio judie d" rins de his 5 qu£froximus ^eritis , judicabimini. Se* peccavetit^judicando'. por- naó quereis que vos Jul- que fe nòs julgarmos còM guemi; naõ julgueis, pòr- benignidade -aos noífòs íjiíe com o meíino jui'ZD> próximos, também Deòs^ Cbm qu€ julgardesjfereis nos' julgara benígnamen* julgadoSvÈfíaff ntença die ^ /^>^âs fe nos o^ julgar- Cferifto Senhor noflb:, ou túq^ fèvefamentey també - (c pode entendeu dojm^^ - eHenos julgara c6í€\^eM^^^ dos homens para coni as * d-áde. De forte, q no juizo hõníens, do jiiizo; dê^l díí^Ekos para corai os Í10- ^ Deos para - com^^Iles^^.- Se'i nífen^ êíla regra lie geralf í feelitender do juizo de femexceiçâo : porém no Deos para com homê^ , juizo; dos fioniens para > he'ablôluta, &^nivtírfàt^? dsílíoftiefí^têm tãé^polK^ ráèfi^e verdadeira : mas fc' ctrtezIyneníPáindáí^prtíb^- '

féentender do juizo dos ^ hóitíéns p^ra* com OS ho- mens, naô. Donde fe tor- na a confirmar onifa , & n^iii vezes, que mais rigu- rbfojôc mais para teníer he o juizo dos homens, que o de Deos. No juizo deDeos para com os homens he fempre verdadeira j por- ^je,:c<í>nio altamente diííe èjoaó Chryfoftomo 5 o juizo com que nòsnosjul- gamosJiiins aos outros,he ley, que puzemos 1 Deos, paraaucelk por:Cila nos "' ■;!.; ^ Tom. 7.

biiidad€,qu^atèxí) mefmo * Ghriflo, íèndo^ taó benig- - no em julgar, oz perdoar a todos, naô efcapou de fcr;, taó injuílànYente julgado >' & condenado por cUes. SeChrifto, fuma Innocé- cia, teve hum Anàz, hum Gayfaz,hum Pilatos ,. &• humHerodes, que-ojul- gáraó,6ccondenára63 quf homem aVerà taó innbcê^ tc,&jun:o, que por cftes quatro. Juizes naó tenha quatrocentos, que í o jul- guem;^ condenem?

Fiij Com

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S6 Sermão da fegwndalHmin^

75> . iÇ^!^ (Eudo.çft;^-. LuciícE. Selmftt Scrafioit mefrti^; f^,ntfòn^a7 ». vcainda.-; fcQaòatrevea jirfgar hurw ^ qu^. uniíriErftlriieíite ;n4Q Etenxonio, camo fe ha deí }ie<íertai),^ juizo dQs ho^- atrever htmi homem a juk.: raens para com ^s ho- gaí outro homem 1 i

niensxppr dídlanje a^tu- 8a Se queremos jdUr rald^raz^^ poí^^fppovi- garweniosos olhos par*j déc,í^parCÍcMlar€teDeo3,-i a parte díí. dcntra.^ que- muitas y^zes Je vçrigca: aioda-xisal , -porque tanso nelles, Rolitej^caréy & acharemos que julgar, quc- nofijudkahimmincliteeo-i-^^cmímtm i, & que conde- ^ demnarei &im^ condemno^- nar. Senos julgarmos fes». ^/w/wi. Naé>j.ulgui?is.,* ^., paixaóanps,. eiLvospror naQ.fereis jul^tdos : =nam t meto, que tenha bios tantoé. condeneis j ôc naó fereis . que merySí tanto qucpa^- conden^dqs., .Sabeis porr mar ^qii*. naó no&£que > > quem;ui,t^3 veze^r fomo^ , nem t^tiapo. vnern: animo julgados^ & taô injuftamé- para jdgar a òtiáreffv. O 2^- te julgados ?^ Porque tan- Ghriftã<^j por reverenciai tas vezes famos Juizes 5 & de I>eos,pclo que deve- ' injyftinimos Juizes : .por- mos^ a Chrifto , pela obri- qjuJgaifi asobr^s ^Iheas, gacajoq^e temos a n<Díras pof4irp:iíGp iu-lgaõ as vof- - almas que íej^ o fruto ft$|fti)|-á:^^;- porque julgais defteSermaó ÉQiner muiro as palavras alheaA, pofií^ hiamjiiizotemera:no ,naò fo .vos julgaó as voíTaspa^ Çíymco^ 6m qucfomos juL- iavxas: porque juigaiçâtê' gados» queifíb naô he euU os penCiiuentos a^lheo^!,/ panoíIÀjo^aío jtiizo, em poriírovoSÍulgiVÕ3.&, vo^ quenòs^jtiJgamos, que hc condenag, ate o que-BL^na, a. laoíTa condenação. Inquo vo$ paíTbu pelo penfamé- ; alterum jndicas , te ipfum ^^ ^<>- to. D;iz S. Tiago na fua cendemnas, diz S. Paulo : í', Canónica,, que S. Miguel Quando julgamos os ou- fenaó atrevco a julgar a tros,condcnamonos a nòs.- .

Kquan-

nun.>.

E qiiantos condenados ef- ^es tro|)eça . a charidade ,

.feô hb]^ ãb inferno p©r cm quctáó gravemente 'fe

tu juizo Demerario ! Deos cmbaraçâo' tiS confcica-

pút. liíâ. tóiTcficox^diâ àos culs , em que taó perigofa-

JOrviít'&eítim.efcandaloco- áncntcfe^pcrde a graça^^c do efte raó fac^ljôc t^or- ^^com^filifJi Gloria, Aa^á^em^ctantaire- '\^;^ _, ^>i,

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SERMAM

DA TERCEIRA DOMINGA

DO

ADVENTO-

Tmquises? quid dimdeteipfo> Joaacap.i

Ambem hojç te- mos juizo^, 3c he.! íjà eííe o tercét-'^ ro. No primetr^J Sermaó vimos o ]\irLo^dé Deospara os homens: no fegundo o juizo dos ho- Jnens huns para cora os outros ; nefte hoje, que he o tcrceirojveremosojuizo de cada hum para comíl- go : 77/ quis es? quid dicls de {^/^?.. Contém eítas. pa-

lavras hila propoíla , ou emhaixada, que fizeraó ao Baútiftaos Sacerdotes^ & ITévitas 5 mandados pelo. fupremo Concelho Ecclc- fiâíiico de Hieru falem : quéfèm dizer: Tu quis es y Vòs quem fois ? Qutddicis deteipfoyQaç: dizeis de vòs mefmo? Eíla queftáo de- termino tratar > porque fendo matéria gravillima , & ác grande importância cm qualquer parte do mú* do, em Portugal he ainda ao

Sermão daurceirà dominga do Advento, h9 aoprefente mais grave 5 & o gue faó,& outca coufa

G que dizem * Ninguém ha neíle mundo , qire fe def- creva com à fua definição : todos fe enganaó no ge-

mais importante

S2''T^Uquises Prfmddí- X dsdeteípfo^Apri' meira coufa, em querepá- rOjhejqueefte^ Embaixa- dores de híia pergunta íi- que fois ! E opeor he, que

nero5& também násdiíFe^' renças. Que diíFérentes cóufas faó drdinariamen^ te o que dizeis de vòsj& o

zerao duas. 'queftocns : Hiaó perguntarão Bauti- lta,quemera5 &: para iíto parece que liaftava ^ízer, Vòs quem fois? E eííes dif- feraó, Vós quem fois ,& Vòs quem dizeis que fois?

muitas vezes naó £ió cóu- fas differentes : porque o qucíbijSjhe nenhua coufa 5. êf o que dizeisj faó infini- ta^ coufa s. Neíla matéria deves quem fois , todo 0 Homem mente duas vè-

Tu quis es? qmd dicis de te zes , húa vez iti enteie a fy, '^ ^ , . , &ou^a "v^^: mentenos a Víòs : mentefe a fyjporque fempre cuida mais do que he : & mentenos a nos , porque fempre diz mais do que ciíí da . Bem diílih- guiraõ íogo os Embaixa- dores o Tu ^uis es-iácy^id grandes noticias do mun- dkisdeteiffq j & quando do. Quandç>hiaô faber do Hiaó perguntar ao Bàuti- Bautifl:a,;quem era,, per- fta o que era , perguntarão guntaóihe. Vos quem fois, o que era, & o que dizia ^ gc Vos quem dizeis que porque ninguém' ha ta6

tpj o r Ora os E m baixadp- res naó eraó homens de ca- pa, & efpada , fenaó do foro da igreja: Sacerdotes^ •ir Levitas^ mas el 1 es fáí- láraó muito difcretamen- te, & entenderão o nego- cio , coráo quem tinha

fois j porque qs . homens , quando teftemunhaó de iymefnaos^ h& CQuía he

re£to jmz de fy mefmo , qiieyoiidiga o que he, eia fej^arO que di2:. . ,

m

T-lÍM

Tob.y. 1$.

Ibid.

. 83 . Encrpu cx Anjo Ra- jos naó ha geração jlcíios

fàel xfaliar com p velho Tobias cm trajo de ca^- nhancci ou ainda de çarai- aheiro;& antes de/Tobias entregar o fijlio ao Anjo para aqneila peregrinação taó fabida, fezihe cfta per- gunta: Rogo te^ndica mihiy de qua domo^& de qua tribu es /í^ ? Por V ida vofla , que me digais, de que famiJia , & de que triòu íqís, A

Anjos náóhi^;, nçnjpódc haver pay , & fiiho •, co- mo dizo 4njpRafael,que he filho do grande Ana- niás ? Apoôpeu^ que elta- yaagpni^çuidílndo algué, que para c|içarccimento do meu ariíimpto havia cu de dizer, que em .matéria devòyqiieih fcis, ate os Anjos mentem. Naó digo eu eíres.arrpjamentpSyCÍte

pçr^nta verdadeiramen- lugar he de verdades foií- teeraparaembaraçarhujm das. Os Anjos náò podem

Anjo > mas a reppfta foi notável : Ego [um Azarias . Anani^ magni filius. Eu íou Azarias fiiho de Ana- nias oMagno.Como í^^dif- leflèmos de Carlos Mag- ^o, dePompcpMagnOjdc Alexandre Magno. Ha tal repoUadehum Anjoi Èçi Peosha pay^.ôc filho ; nos jhomens,& nos animais ha pays,& filhos ; nas meíinas

mentir, ne 01 errar (^Fallo dos bons. } Masagora ^ca a diificúldade mais aper- tada. Pois íe os Anjos naó podem entender 5 nem di- zer contra a verdade, co- mo diz p, Anjo Rafael, quç he filho do grande Ana- nia5? Variamente rcfpon- dem os Doutores à duvi- da j eu o farei .com huipa comparação. Entra hum

plantas ha feu modo tde comediaqte no teatro rç- gcraçaó :fó nos Anjos , de prefentando a Lúcifer j & todos os viventes do mun- do Q entrando o cr ca do, âc pincrcado^fó nos Anjos naó ha geração » nem pay , nem filho. Poi&iènosAn-

'4

batendo com o Tridente, começa a fulminar blasfé- mias contra Deos; Entra outro reprefcnrád© a Ne- ro > ,(5f UnMido íi ^,ípada%| mah-

çãs,&"quc cóSraõ' rios^ de ^^mofeôfork^ ^ fangue Cliríftãô pòr Ro- i " 8^ Séjã^^ráímilnícr ma : Sae oittro "réprefèíi- fiador dcíla minha repo-: randohum Gentia^y & eri-í fta7 Aparecerão a^ Abrá- cônf rahdo IMà eftktita cíé hàrri no viiíe de Mambré^ J qpiteri próftrafc pOr tèr^ ' três AnjóSr Mmí de íítòior ra, t>àte hòs péiMs, Ôc oífe- authofidade5a quem elW réce ificfenfo. Pergàrt to adorou, & outros dotis me- âgora : ^qfuélíè primeiro noreS,<jueo acompanha* homeiii 'tílasfèníò.^a- váÕ.È conto Sara mulher;. queíleTeguiidòhòniemhè de Abraharii foífe eííeril, tfrannò ? àqueíie terceiífo pròm^teolhe o A njo priít- ' homem he idolatra? Cíaro^ cipal, que datli a hum aít^ ertá qiiè não : o primeiro^ noíj pbf aquellc mefmo té- líáóhe Wasfefiio,aindaq-ue pòtorriafia 3 fe Deos lhe ífiibíasTcmias jporq^àe el- déiíe vida, & que jàeTitaó IchaõhéLuciftírifazíígu?* ^ teria Sara hurn fflho :Í?<?-^ ra de Lúcifer : ò icguncfo' vértens vemam adie Sem- Os^cC, rtíphetyrannó', ainda que- pohijioy vitOrComitè^ ò^hd-^^^]^' míinda matar Chriftáos 5 bebitftlhim Sara uxor tuà. porque èífe háío Mero , Que m averà, que naó rê- ' fa^ figura d^'N^rB:Ò ter- pareMquelle,^///«r^?;z»/f(f3 céírò líao héldolatra, ain- íe eu ft>r vivo^j dito por hu^^ da <5[uc á^oeffia dilte:d4 Ah}o ? E nao lo fallou;^ ^ e^atuii dejupiterjpvorqiie , Anjo por eftes termos hya

elfènao be tíéhtiç, íitê gura Gentio, Ó mermo 3i|odionoffocar0; 05lh- jo naom èritio , nem pôde men tiriainda que diíTehu -

veíz, fenaó duas : porque '^ pondo Safa duvida àprò*- meíTa 5 tornou élle á fatifi* \ car a fua palavra, dizendo: J Juptta rondiãum revertar

ma coúfa , ^ P^^^Ç^ ^^ ^^^^ ^^ tehoc eódem tentggreyvi

da verdade; porque elle _ /^rí?;»//^.PQÍsíe os Anjos

naÒ era íiomemjfozià^fígu- por natureza Ía6 immor-

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$ii: . , . Sermão daièfceira H^omingâ taes, 5f a Tua vida por ne- o Anjo Rafael iia repofta, nhum acontecimento po* que deo a Tobias. Fazia íi- de faltar ^porque promete - gura deíiomem,&' para fa- efte AnjO) naó abfohita, zer bem afigura j hua vez

íenaõ condicionalmente, qiíè tornará dalli a hum annojfeforviyo, vita co- mité^ A x^z^ò^ riaó hu- mana, mas Angélica, foi ^

que lhe perguntarão , A^ò^ qúemfois ? naó havia de dizer,o que eí"a , havia de dizer,o que nam era j Scaf-; Hm o fez ; porque nam Iva;

porque eíle Anjo,&: os ou- propriedade mais própria tros dous, como declara o dos homens, que pergun-

Texto , aparecerão a A- braham em figura de ho- mens , apfaruerunt et três njiri : & elle os tratou, 8c el- les fe deixarão tratar em tudo como homens, acei- tando a fua raefa,& os ou- \ tros agafalhos da hofpeda- gem. E porque os homens prudentes na cófideraçaó da incerteza , 6c contin- genciada morte , quando prometem algua coufa de futuro, acrecétaó, fe Deos me der vida j por iíTo o A n- jo acrecentou a mefma còáiQ^o ^ vít a com te-^ipov- que naó fallava como An- jo, que era, fena 6 como ho- mem,cuia figura reprcfcn- tava. Do mefmo modo, & com "a mcfma , &: amda maior propriedade faliou

tadosoque íàó , dizerem; hiia coufa, 6c ferem outra. E notai, que vindo o Anjo veílidoemhum pelote, 6C; reprefentando hum cami- ^ nheiro , parece que era mais natural dizer,que era filho de hum lavrador, ou , de hum paftor daquelles campos íôc com tudo naó diíTefenaó , que era filho de Ananias o grande 5 por- , que naó ha homem de . taó de pè, nem caminhei- ro taó caminheiro, que fe lhe perguntarem donde, vem, naõ'diga que vem . do grande Ananias : Ego fum AnaniíC r^ãgnifdius.* < ; r 8+ Allim como To- ' biasao Anjo, aílim pcrgú- táraò hoje os Sacerdotes, 6c Lcv itãs ao ilaun íTa : 'lu quis

uis es ? E que refpon deria naó o podia dizer em conf-

aquelle grande Varaó ? confeffus eft^& non nega-vit\ ^ confeffus eft: quta non fum ego Chnfttis : E confef- fou, 8c náo negou, 8c con- féílbu, que naó eraelle o JMeíIias. Em coda a fagra- da Efcritura naó ha tal modo de falíar como efte, Repetio o E vágelifta três vezesamefma affirmaçáo

ciência^ porque feria pec- car na mais grave matéria^ que ouve nunca no mun- do. Pois porque repetem tanto os Evangeliílas ,& porque exageraó tanto to- dos os Santos, & Doutores da Igreja efta acção do Bautiftra > Porque he ta6 naturai aos homens cuida- rem mais de fy-jdo que faó^^

("dizem os Doutares^por- & dizerem mais de íy , do que lhe pareceo , que fora jque cuidaó, que não negar

taó grande coufa confef- fàr o Bautifta , que nam era o Meíllas, quefeodif- fera menos vezes,nem elle fe acabara de explicar, nòs acabáramos de o crer. Ora a mim nunca me pa- receo efta acçaó do Bauti- fta taó grande como a fa- zem . Que havia de fazer o Bautifta, havia de dizer, que era Meíllas? o Bauti- fta nem o podia cuidar razaó, nem o podia dizer emconfciencia:naóo po- dia cuidar com razaó^por- que elle íabía mui bem, que era do Tribu de \ut\'\ , &queo Meíllas havia de fer do Tribu Real de Jiidà:

o Bautifta a razaó, 8cnan^ atropeiiar a confciencia, nefte cafo, íè tem pela ma- ior de todas as façanhas humanas. Que lhe pergu- taftem a hum homem .Tu quis es ? E que eftiveíTe: em ília mio dizer, que era o Meíllas, & que o naó fizeA fe ! diga-o três vezes o E- vangeiifta, para que acabe de o crer a fé: Et confeffus eftyò' nonmgãvit : & con* feffus eft: quia non fum ego Chriftus,

8f

E

§. IIL

Míimos Embai- xadores fe torm- ra6

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Ifaice 3Í-4-

ífaise 9.6.

Mala-

3.

94* , Sermão datercciraT>ommga

raó do deferto fem acha- pennisejus. Outro quem lhe diíTeíTe,

rem

que era o Meílias. Mas po- voado fci eu donde elles iiãohaviáo delev^r a em- baixada de balde. Se os Sa- cerdotes , 6c Levitas de- fembarcáraó em outras prayas, ôcvierão pelas ca- ias mais altas perguntan- do, Tu quis es ? como he certo^que a poucos paílbs havião de achar o Meílias. E aonde ? húa legoa de Be^ lem, íem fer em Paleílina. Hum havia de dizer, que elle he o Meíliasj porque a ellefedevea noíTa redêp- cão : Ipfeveniet^&falvabit nos. Outro havia de dizer, que clle he o Meílias 5 por- que fobre feus hombros carrega todo o pcfo da Monarchia : Cujus impe^ rium Juper hnmerum ejus. Outro havia de dizer, que elleheoMeíHas i porque ofeu confelho he o noííb Anjo da guarda: Et voca- biturmagni confilij Ange- íus. Outro havia de dizer, que clle he o Mcíliasipor- quen-ifua pcnna cóíiítca noíTafaude : Etfanitasin

havia de dizer , q çiút hc o Mef- fias 5 porque a paz, que ef- tes annos fe gozou , foi fruto da vara defuajufti- ça : Erit in diebus ejus ju* Pfai. Jtitiiiy & abundmtta paris. ^' Outro havia de dizer, que he o Meílias 5 porque ellc heoDeosdas armas, que comfeu valor nosfuílen- ta : Vocabitur nomen ejus ^eusfortis. naó havia de haver quem diíTeíTe, que era o Meílias, por fe apreflar aceleradamente a vencer, Ôc tirar defpojos^ Voe a nomen ejits^accelera , 8^.3.'*' feftina ^fpolia detrahere } porque ainda que às guer- ras nos inclinamos com grande valor , àsvidorias caminhamos com grande madureza.

8^ Por todas eílas ra- zoensme parece, que ha- via de haver maior demã- da na noíTa Corte fobre o MeíHado , do que a ouve entre os A poíloíos fobre a maioria. E vcrdadeiramé- te, que fc vem hoje muitas couías daquellas , que os Profetas antigamente de-^ ra6

ão Advento^ pf

raopor linais dos tempos queíeílzerão para ferir^fe

Ifaiaí

doMeíTias. O Meílias, di zem osProfetas^que hayia de dar olhos a cegos, pès a mancos 5 limpeza a Ic- profos, & vida a mortos : Túc faliet pcut cervus clau- dus 5 ò* aperta erit lingua mutorumy&c. E todos eP tts milagres vemos em iioílbs dias. Quantos ce- gos vemos íioje olhos ; quantos mancos 5 & para- líticos poftos em pés j quã-í tos aleijados com mãos, & com muita mão j quantos leprofoslimposj & quan- tos mortos, ou que deve- rão eílar mortos , & íepul- tados, rerufcitados,&: com vida ? Pois o poder,em cu- ja virtude fe fazem eíles milagres , como fe ha de

ocupão em fegar : em tè- po, que as caixas tocáo a marchar, & as tropas mar- chão a recolher -, & em que os defpajos, que havião de ornar os templos, & armar os aimazens comuns > en- chem os celleiros particu- lares i como não ha de ha- ver quem fe jadbede Mef- íias > Dizem mais os Pro- fetas , que no tempo do MeíHas, os montes fe hu- miiharião, &fe enciíeriaó os valles : Omrús valUsini' rraiaj plebitur^é* omnismonr^Ò''^^''^ callis humiliabitur. Oh quantos montes, que em tempos paííados tocavam? com o cume as Eílrellasjfe vem hoje, ou fenão vem de humilhados , & abati-

negar de Meílias ? Dizem dos ! E quantos valles pelo mais os Profetas , que no contrario pouco ha taò hu-

tempo do Meílias as lan ças,8c as efpadas fe fcó ver- ifais 2. teráó em fouces : Confia- * bunt gládios fuos in vame^ res^éy lanceasfuas inf alces. E em tempo , que ou por beneficio da paz prefente, ou por efquecimento da guerra futura a as armas.

mildes, hoje tao levanta- dos3& táo cheos í E a for- tuna,que fez eftes altibai^ xos,oufeja deíigualdade^ ou fe chame juíliça, como fenão ha de ter por fortu- na de Meílias ? Dizé mais osProfetas, qtie no tempo doMeíilasvivirião os lo» bes

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<? (> Sermão ãa terceira T>ominga

bos juntos com oscordei- muita femelhanca mal en-^

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'ii-

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ros,&queoleáo, & o boy feruílentaríaó do mefmo mantimento : H^bitabit u^lz II. Inpus cum agno^ & Is o qnàfi, bos comedet paleas. Se os lobos náo foílem tão fa-

6.7

tendida acertara de fe nos converterem tentação. E porque naÓ íio tanto de noíTa modeftia , como da de S Joaò Bautifta y faiba cada hum5& defenganefe,

gazes em defpintai; a pel- por mais que fe pinte ma- k, com os olhos fe podéra raviihofonofeu conceito,

provar hoje o comprimé- todefla profecia. Ainda mais que dos lobos, me te- mera eu dos leoens com palhas na boca. Mas quan - doharquem domeílique leoens a que fejaó animais de prefepio , os authores deílas induftriasjou deíles milagres, porque náo pre- fumirião de Melllas P

87

§. IV.

Am ha duvi-

da , que tem

N ._

grande analogia a noífa era com a do Mellias , & que parece podem com- petir os milagres Q náo di- go os vicios 3 dos noflbs tempos com as felicidades dos feus. Mas pelo mefmo cafo, que fc parecem tan- to, não quizera cu, que a

que lhe falta para MeiTias a condição principal. E qual he a principal condi- ção de MeíTias ^ He aquel- la, com que o deíinio,& íi- nalou Deos,quando o pro- meteoa Abraham : In fe- Gcnef. mine Uio benedicentnr om- ^^•'^* n^s. No Meíllas, que naf- cerdevós , feráóabendi- çoados todos. Se tendes benção para todos , dou- vos licença,que entreis em prefumpção de Mellias: mas fe tendes benção para huns,&: para outros não, defpedivos delle penía- mento.

88 Qiiandoo Anjo anunciou à Senhora, que haviadefcr mãy do Mef- fias, acrefceutou cilas pa- lavras : T>a,yit illi T)o7ni' f^"c 1. nus ''Deus fedem 'Danjídpa- ''' íris ejns , à' regr. avit m do-

ão Advento'.

mo lacoh m aternum. Dar- llieha o Senhor Deos o trono de David feu Pay, & reinara na caía de Jacob para fempre. Neíta ultima claufula reparaó com ra- zão todos os Interpretes, porque diz o Anjo , que reinará o Meífias na cafa de Jacob,6c naó na cafa de Abraham , ou na cafa de Ifac ? Se Abraham, & Ifac naó foraó Reys 5 também Jacob naó teve Cetro, Coroaj antes Abraham foi vencedor famofo de cinco Reys , que em certo mo- do he mais que fer Rey. Ifac,& Abrahaó eraó mais antigos que Jacob : & a promeíla do MeíHas foi feita a Abraham , quando acabava de embainhar a cfpada daquella grande fa- çanha do facrifício de Ifac : pois porque naó diz o Anjo,que reinará o Mef- llasnacafade Abraham , ou na cafa de Ifac,fenaó na cafa de Jacob ? Vede a ra- zaójque he altillima. Na cafa de Abraham ouve dous íilhos,Ifac,& Ifmael-, mas para Ifac ouve ben- . ,. Tom./.

9y

çaó, para Ifmael naô ouve benção. Na cafa de Ifac ouve outros dous filhos, Efau,& Jacob > mas ouve bençaõ para Jacob, & naó ouve bençaó para Efau. Na cafa de Jacob pelo cõ- trario ouve doze íiihos;& foitaó abédiçoada aquel- la cafa, que para todos os doze filhos ouve bençam. Por iílb pois diz o Anjo , que reinará o Meílias na cafa de Jacob, & naó na ca- fa de Ifac , nem na cafa de Abraham 5 porque o Mef- íias naó he como Abra- ham, nem como Ifac, que tem bençaó para huns, 6c para outros naó : he co- mo Jacob, filho de hum, & neto do outro, no qual fecomprio a profecia, & teve bençaó para todos : Infemine ttio benedicentur ííwwí-í. Soquem teve ben- çaó para todos os domuu- ao,foi verdadeiro Meílias do mundo : & quem ti- ver bençaó para todos os. de hum Reyno, fera ver- dadeiro Meílias àú\ç..

8p Se. lançarmos os olhos pelo noíTo na muda-

.1-

,, > ',v í :

-'$

Geneí.

49 9.

17-21.

fi-

i427-

í S Sermão da terceira T>ominga

ça,ou fortuna prcfente, hum bençaò de Leão, a

iiaó me atreverei eu a pro- outro de Lobo,a outro de

var, que todos tem ben çaó, mas que tem bençaó muitos mais daquelles , queocuidaó j as mefmas bençoeiís de Jacob nolo faraó evidente. Chamou Jacob a feus filhos para lhe deitara béçaóa todos an- tes demo rrer 5 &: he nota

Jumento ? Sim : & era pay quem as dava, &: eraó fi- lhos os que as recebiaó: para que fe entenda, que a diverfidade das bcnçoens naó argue deíigualdade de amor em quem as dá, fe- naó diíFerença de mereci- mentos em quem as rece-

vel a difFerença de pala- be. 7\ Judas,que tinha va vras,&: comparaçoens, lor, &: generofidade, dafe

que ícz efta ultima cere- monia. Chegou Judas , & deolhe bençaó de Leaó : Sedens aecubutfti ut Leo\ chegou l<lQ^t2M y Sc deo- lhe bençaó de Cervo ; Ne- phthaliCervtis emiJJus:c\\Q-

lhe béçaó de Leaó : a NepH tali, que tinha preíleza, mas naó tinha valor , da- felhe bençaó de Cervo : zt Dan, que tinha prudência, mas tinha peçonha, dafe- Ihe benção de Serpente : a

gou I>an,& deolhe bençaò Ifachar , q tinha forcas,& de Serpente: iv^/^^D^^jiCí?- naó tinha juizo, dafelhe kiber in ma-, chegou Jfa- bençaó de Jumento: a Bé- ehar,& deolhe bençaó de jamin, que tinha oufadia, JnaiQnto: IJJ achar Afinas mas junta com voracida- fortts: chegou Benjamin, de, dafelhe bençaó deLo- & deolhe bençaó de Lo- bo. Náoeílãomuibemre- boi^í^?^'^;?^/» Lupiis rapax. partidas as bençoens? Que Valhanie Deos , que deíi- haverá que o negue ? Mas

gualdade de bençoens , húas a huns taõ altas, & outras a outros taõ baixasf' A hum benção de Serpen- tCjôca outro dcCcryo?A

fabeis porque ninguém ef- contente com a fua ben- çaó ? Porque a todos Falta oconhecimcto do Tu quis- fj.Conheçafc cada hum, & c;íta-

ão Advento. 99

eftaràó -contentes todos, ior bença5,qiie poder mo-

Conheça o Leão, que he Leaó: conheça o Cervo, que he Cervo : conheça a Serpente, que he Serpen- te: conheça o Lobo, que he Lobo : conheça o Ju- mento, que heJumento,&: logo eftaràó contentes.

rar nos Palácios dos Reys? No mar contenteíe a Ré^ mora, com fer Rémora; & que maior fortuna , que fendo tamanina, poder ter mão em húa nao da índia? Na terra contêtefea For- miga, com fer Formiga: &

Mas como todos fe cegaó que maior fehcidade , que no juizo de fy mefmos, to- ter o ceileiro provido para dos querem bençaó fora o Veraó , & para o Inver-

Cenef

X.22

da fua efpecie.

po No principio do mundo deitou o Creador a fua bençaó aos animais, & às plantas: Benedixit eis. '■^ Diífelhesatodos, quecre- ceíTem : Crefcite^ & multi- pite amirâi mis ViQX.2. a Ef- critura, que tudo iíto foi Sectindumfpecies fuás : ca- da creatura conforme a fua efpecie. Contentefe cada hum de crecer den- tro de fua efpecie ; conten- tefe cada hum de crecer dentro da esfera do talcn- to,que Deos lhe deo; & lo- go conhecerão todos , que tem bençaó, cada hum no feu elemento. No ar con- tentefe a Andorinha, com fer Andorinha : &; que ma-

no ^. Mas por todos os ele- mentos fe adoece de ma» lencolia 5 porque nenhum fe contenta com crecer dentro da fua efpecie : a Andorinha quer fobir a Águia : a Rémora quer crecer a Balea: a Formiga quer inchar a Elefante. Porque as Formigas fe fa- zem Elefantes , naó baila toda a terra para hum for- migueiro. Nas plantas te- mos iguaes exemplos de- flre engano, & deita verda- de; A arvore mais anãa he maior que a erva gigante.- & com tudo de quantas coufasaquentao Sol, ne- nhiia lhe he mais agrade- cida, que eíla erva. £it£àQ que o Sol naíce, atè que fe G ij põem.

(

"00 Sermão dateneiraT>bminga

põem, vai fempre a erva em tanta aJcura !Se o Ci-

dlir/^'°'"Pr"'''"^°° Preftelàdecima olhara r^m . í"."'/eg"'"do-o para o vulgo das plantas, com tanta inclinação , & & ainda p^ara a nobreza

adorando-o com tanta re- verencia , como vemos. Poiservaílnhado campo, 4 agradecimentos ao Sol faó eaes ? NaÓ vedes tan- tas arvores,& tantas plan- tas, que recebem do Sol tanto mais, quevòs > pois

das arvores, que lhe íicaó abaixo 5 elle vivera naó contente, fenaó ainda fo- berbo. Mas o Ciprefte do alto deícobre os Ce- dros do monte Libano, & comove, que a natureza os fez torres, vive elle def-

-porque lhe haveis vós de contente de fer pyrami-

ler a- mais agradecida de de. Como cada hum fenaó

todas? Forque me meço mete,& fenaó mede den-

dentro da minha esfera, tro da fua esfera,ainda que

Conheço,quefouerva,& fejaCipreí^e, que tantas

acho que ninguém deve vezes feus troncos fo-

maisaoboi, que eu, por- bre os altares, nam pôde

que me fez gigante das er- viver contente. Naó digo,

vas. Se cada hum fe medi- quenaó trate cada hum de

racom os compaíTos da crecer, mas conheça cada

fua esfera, ô quantos fe ha- hum o que he : Tu quis es >

viaade achar gigantes! & depois creça conforme

Porqtie vos haveis de d^Ç, a fua efpecie : Secundum

contentar da voíTa ben- fpeciem fuam çaó, porque haveis de fer pi Defenganemonos,

ingrato ao Sol, fe vos fez que o crecer fora da pro-

gigante das ervas > Nam pria efpecie, naó he Íur-

digo bem : fe das ervas vos mento, he monílruoílda-

tez gigante .í> Oh quantos dej ao menos bença-Q nam

gigantes ha defagradeci- he. Húadascoufi" áx^nrxs

dos ! Muito he de notar a de reparo, que tiveram as

triíteza de hum Ciprefte bençocns dejacob a feus

filhos,

Advento'', filhos, foi a bençaô de Ru- podeis ben,&: dejofeph. A Jofeph deoihe Jacob por bençaó, que creceíTe : mlhts accref- cens Jofeph ^filhis accref s\ a Ruben deoihe Jacob por bençaó, que naó cre- ceíTe ; Ruben primogenitus ^^'^^'meusnoncrefcas. He poíli

Gènef

101

crecer por creci- nlento, crecei cora a ben- ção de Deos : Filius accref* cens : mas fenaó podeis crecer, fenaó por crecen^ ça, tende por benção o naó crecer : Kon crefcas. Co- nheça cada hum a fua esfe- ra ; Tu quis es 5 & acharáé

vel, que também hum non todos, ou quafi todos, que crefcas^ç^ál porbençaó! ttmhç:viçpib:lnfeminetu0

HepolIivel,que também pòdefer bençaó o naó cre- cer ! Diga-o a Lua j ne- nhúa bençaó fe podia dar à Lua mais vcnturofa, que o naó crecer. Porque fe- naó crecéra, naó mingua- ra. A quantos tem fervido o demaíiado crecer , nam de bençaó, fenaó de mal- dição ! Mas porque razaó em Jofeph he bençaó o crecer , & em Ruben hc bençaó o naó crecer ? Os procedimentos, & as ac* çoens do mefmo Ruben 3 &do mefmo Jofeph o di- gaó. O crecer nos que o merecem, he crecimento 5 o crecer nos que o naó me- Tecem, he crecença : 6c o crecimento he grandeza, a

benedicentur omnes. Com efte conhecimento acaba- rão de entender , que tem entre fy o verdadeiro Mef- íias , como diíTe o Bautiíla: Medtusveftrumfietit quem ^^^^""'^ vos nefcitis : Sc deixaráó de o ir bufcar aos defertos, onde o não ha : Et confef" fuseft^&non íiegavit^ quiã nonfuntegoÇhriffus,

'Pt

"I "\ Efejiganados

os Embaixa- dores , de que o Bautifta naó era o MeíHas 3 foram por diante com a queílaó do Tu quis es : Sc pergunta- íoannii raó fe era ao menos í^lias ; ^*' Elias es tu ? Sois vós por

crecença he fealdade. Se ventura Elias íAíj vezes as

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ti; •■f.

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a>id.28

^^2 Serma$daterceira^ominga

menores tentaçoens,prin- ninguém he Elias como cipalmentc em gente ef- cu.Ao menos na prefump- crupulofa , faó maisdiífi- çaõeu volo concedo cultofas de vencer, que as iíTo me parece, que tendes maiores ; mas a conftancia de Elias : cuidar que nam

do Bautifta de todos os modos era invencivel. Af- íim como à primeira per- gunta refpondeo, que naó crsíMciTias: Non/um ego

ha outro Elias, fenaó vos. Dizia Elias antigamente: Ze/o zelatus fum pro 'Do- mino T>eo exercituum , é* reliõíusfum egofolus. Eu

'9 »4-

Chnjius-, alTim refpondeo fou o que zelo a honra de

àfegunda, que naó era fi- lias : Nonfum. Que tem iremfe bufcar as coufas onde as naó ha! Diz o Tex- to que : Hac faãa funt trans lor danem : que iílo aconteceo da banda da- lém do Jordaó. Se vieram os Embaixadores da ban- da daquem do Tejo , eu vos prometo , que elles acháraó a Elias. Tu quis es> Vòs quem fois > Elias es tu: Sois por ventura Elias ? Por ventura?& diíTo íe du- vida ? pois quem he o E- lias fenaó eu? O meu zelo do bem comum; o meu ze- lo da Fé,& da Chriílanda- de ; o meu zelo do ferviço do Rey ; o meu zelo da có- fervaçáo ,&augmento da pacria. Se fer Elias he iílo.

Deos, todos os outros faó idolatras, & naó tem Deos no mundo mais q a mim. No mefmo dia, em que fi- lias diíTc ifto, lhe moílrou Deos, que tinha na mefma terra fetemil, que nam dobravãoo joelho diante de Baal: Tierelmquam mihi tnlfraelfeptemmillia viro- j^^^fg^ runty quorum genuanonfunt *'* * * tncurvataanteBaal. Quã- do Elias cuida, que naó ha outro filias no mundo, co- mo clle, ha quando menos fetemil. Cuidais que fois hum homem unico; &na6 lo fois homem de dúzias, fenaó de milhares, ou de milheiros : ha fete mil co- mo vòs, & pôde fer que melhores.

í?3 Naó fe queixará Elias

j

do Advento, i«5

E'íasdelhe medifffios o ]^roho2im ^, Ecce ega fcin- feuefpiritopelafua capa, damRegnum de mcmu Sa^^^^^^ poiselle aíHm o fez. Ora lomoníSy& dabo tibi decem

Tribus, Affim ò diíTc

cotejemos a capa de Elias com outra doutro Profe- ta, quaíi do mefmo nome, CAhias}5c verá Elias, o quefe reputa por único, quanto vai de capa a capa, dcefpirito a cfpirito , & de zelo a zelo. Encontrou- fehúavez Ahias comje-

o

Profeta, &:aílim foi \ por- que o Reyno áos doze Tribus fe dividio em Rey- no de Ifrael, & Reyno de Judà. Mas vamos àcapa. De maneira que Ahias an- tes da divifaò dos Rey nos tinha a fua capa muito no-

roboamCentaóera criado va, & muito fáa , depois de Salamaô , & não Rey) que os Reynos fc dividi' & trazia o Profeta naquel- raó anda com a capa feita

lesdias húa capa nova ; Tallium fuum novum , diz o Texto Para que naõ cui- deis, que he malicia repa- rar íia novidade das capas^ o mefmo Elpirito Santo Author das Efcrituras, re- para nertas novidades. Emíim Ahias tirou a fua

cm retalhos. Oh quantos vemos veftidos hoje coin o aveço da capa de Ahias í antes da divifaô dos Rey- nos traziaó a capa em re- talhos, depois que os Rey- nos fe dividirão , trazem húa capa muito nova , & muito íaa. Pois por certo

capa nova dos hombros , que efta era a occaíiaó, em

puxou logo de hãas tifou- que as capas fe haviaó de

ras, cortou húa vez , cor- fazerem retalhos: hum rc-

tou outra, atè onze vezes , talho para cobrir o folda-

com que ficou a capa divi- do, que anda defpido 5 ou-

dida cm doze partes : & tro retalho para veftir o

diíTe, que do mefmo modo fe dividiria o Reyno de Salamáoem doze 7 ribus, dos quaes os dez feriaó de

orfaó,cu jo pay morreo pe- lejando na campanha j ou- tro retalho para fazer híía mantilha à viuva, que por G iiij zelo

i

1»fal.68

^^4* ^ Sermão da ter cetra dominga

zelo da pátria chegou a ti- dtme ! Vos cftareis comi- raro manto, por naó faltar dos do zelo , ma» eftais à decima. Que diz agora muito bem comidos. Ha ^\i^s> ^áddicis deteipfo> huns a quem o zelo come, Cortaftes algú dia algum &: ha outros, que comem

retalho da voíla capa .? Ti- raftes algum fio deIla?Cal- iar. Eis ahi os voíTos zelos. Mas vamos aos noílbs.

5>4 eu me conten- tara com que os noílbs ze- lofos 5 ou zeladores foíTem como Elias. Todos dizem, ciaremos as capas, mas o menos avarento he o que guarda a fua. Quando Elias fe partio para o ou- tro mundo, naó teve de que teílar mais, que da fua

do zelo. E por onde fe hao de conhecer huns, & ou- tros ^ Tomandolhe as me- didas pela cintura. Se o ze- lo vos come a vòs, a voílà fuftancia convertefe era zelo 5 & fe vòs comeis do zelo, o voílb zelo conver* tefevos em fuftancia. Oh quantos zelofos ha , que todo o feu zelo fe lhe con- verte em fuftancia .' To«» memfe as medidas, como dizia Roboamj & acharfc-

capa, que deixou a Elifeo. ha, que fois mais groíTo

SeDeos hoje quizeííe le- hoje pelo dedo meminho,

varpara o Paraifo -terreal do que éreis antigamente

alguns dos valentes Elias pela cintura. Bomí provei-

do noíTo Carmelo , para to vos faça o zelo , quetaó

depois pelejarem com o bemfevoslof^ra : final he

Ante-Chrifto > eu vos pro- meto, que fe quizeíTem fa- zer bem , & verdadeira- mente feu teftameato,que haviaó de teftar de ameta- de das capas do lugar. E entaó muito comidos , & muito carcomidos do ze- lo : Z^his domuj^ tm come-

que o comeis vòs a elle, 6c náoelleavòs. Mas, ou o voífo zelo coma , oujejue (^ que me naó quero meter niílbj 3^o menos vcnha-»^ mos a hum partido. Se o zelo naó ha de comer, je- jue cm todos, U fe ha de comer , coma de todos : feia

,.-^<

porque Deos lhe entregara na mao as chaves das nuvensj mas hiaorigor por diante.Tu- doedavafeco, mas as en- tranhas de Elias mais que

fejao voíTo zelo com vof- diar facilmente co,& com os voíTos , como com os demais, & naó ha- verá quem fe queixe del-

le.

Pf Zelofo Elias con- .

tra ospeccadosdo povo, tudo. Que fe portaíTe com

chegou a tal extremo, que efte rigor hum Profeta^

dLÍTe eftas palavras : Ftvit naó me efpanto 5 que a que

^omims,incujusconfpe5fu conhece bem a graveza

3-^^§- (loSieritTos , aut pluvia. dospeccados, todo o ca-

-^•'" Vive Deos, em cuja pre- ftigo, que nao he o eterno,

fençaeílou , que nam ha lhe parece muito pouco,

de chover do Ceo, nem Oqueme efpanta he>que cair húa ^ota de orvalho

/

íbbreeftamà terra. Aííim o jurou Elias , &: aíTim o Gomprio, porque tresan- jios inteiros eííiveram os Ceos como Te foíTcm de bronze, fem os abranda- rem, nem os clamores dos homens, nem os balidos , £c mugidos dos animais in- fiocentes,que paftavaó pe- los campos, & pereciaó de íede. Secáraofe as fontes , fecáraofe os rios , & atè as lagrimas fe fecáraò : fendo circunftancia cruel de ca- lamidade , naò poderem chorar o mal os mefmos

fofrefíemoshomens a E- lias. He pòíTivel, que fe ha deeílarabrazando o mun- do,^: que tenha Elias em fuamaó o remédio, & que o naó queira dar! He poíli-» veUquefe eílejà abrazan* doo mundo, & que naní querendo Elias dar o re- médio , que tem em fua mao, que fofraó os homês a Elias .^ Sim : Sabeis por- que o fofriaò ? Porque ain-'" daque Elias tinha as cha- ves, tanto fechava as fon- tes para íj > como para os demais. Os outros eílavao' neceílItados,&: Elias anda-

que o padeciaó. Tudo iílo va mendigando j os outros ria EUaspodendo-o reme- eílavaóa pótodemorrer»,

9

ioc> ^'erma^ daterceiraT)õmingA

& Eliasvivía de milagre j decantodo Ceo ha decó- os outros íccavaófeà fede, pararfeao Inferno? Si m^ & bhas abrazavafc&mir- náo conheceis as virtudes rayafe. Mo fi in,que hefer do Inferno. Sabeis porque zelofo. Mas que na voíTa fe compara o zeloao In-

cafa corraó as fontes , Sc qu e ,nas ou trás fe fequ em í Que fobre as voíTas feáras chovão as nuvens a rios, & que fobre as outras fira o Solarayos ! lílo não he

ferno > Porque o Inferno he hum fogo, que a nenhu bpmofFende,6ca nenhum mio perdoa Mas o fogo do voíTo zelo naó he a íli ni : entreosmáos feus pre-

zelo. Se o tempo pede que dellinados,a quem nao to haja Sol, fequ em fe todos: ça , & entre os bons tem

^ifolemfmim oririfacit í^4j.^" J^perbonos,& maios. E fe herazaó que haja chuva, moihemfe todos: Sluipluit fitp^rjuflosy & Jnjuflos. E feo mefmozelo diclar , q entre os máos,& bons , en- tre os juílos, &osinjufl-os haja differença i haja diífe- rença,masfeja qual con- vém : o mal carregue para osmáos, masfeja p;>.ra to- dos os máos: & o bem in- cline para os bonsjmas feja para todos os bons. Eíía he a cudiçaó do verdadei-

Cant 8. ^^ ^^'í^- '■^^''rf jlCUl infcT-

6. VMS £mul(itio : d i z b E fpiri- to Santo : que o zelo he co- mo o Inferno. Notável có-

feus precitos,a quem abra- za. Ohri^ormais que in- fernai ! Não vos digojà , que fejais como os Santos doParaifo: ao menos nim íerciscomoofogo áo \n- ferno.^Eenrao muito pre- fados de Elias \ quando muito tereisafua capa. fi- lias foyfe para o Ceo , 5c deixou a Elifco a fua capa.

0 zelo foyfe, 5c ficou a ca- pa do zelo. E quantas mal- dades fe cometem debai- xo deita honrada capai

9í> Levou Dco.s huoi diaemeípiritoao Profeta

1 zechiela Hicrufa.em ; 5c o que vio o Profeta foi húa parede, ou fach:ida, em

|>ara<jao! O zeio hua virtu- que cílaya hum ídolo do

zelo;^

^Pi^

2clo: Eteeceiâolum zeliin fa Ezcchiel a terceira pa

Ezeck ipfo tntroitu. Cuidas tu E- ' ^" zcchiel, diz Deos, que naó ha aqui mais,que o q appa- rcce j ora rompe eíTa pare- de , & verás. Rompeo a

rede : Et ecce quafi viginti ibid>t# quinqueviri dorfa habentes contra templum 'Domirú : & vio vinte & cinco hom ens» que eftavaó com as coftas

parede Ezechiel, entrou , viradas para o Templo do 6c vio háa cafa, em que ef- Senhor : Et fácies ad Ori

ta vaó pintadas pelas pare- des cobrasj lagartos , baíi- lilcos, lerpentes, & outros monilroshorriveis, & no nieyo fetenta homens de omturibulosna

entem , & adorabant ad or^ tumfolis : E todos eftavam com os olhos poftos no O- riente, & com os joelhos em terra adorando ao Sol, quenafcia. Eis aqui o que Deos moílrou a Ezechiel ,

cans, que

maó os incenfavaó : Et feptuaginta viri defeniori- &oque paíTa no mundo, ^^it.\. bus domns Ifrael , ftantmm ainda que fe naó veja. Se

antepiãarns^ Ò* unufmif-

te habebati thurthuívím tn mariufim. ,idiáre,diz Deos a Rzechiel. PaíTa Ezechiel outra parede : Et ecce fede- bant rttidier^s plangentes Adonidem & vio muitas mui heres aílentadas , que cílavaó chorado por Adó- nis. Sabida he a fabula, ou ahiíloriade Adónis^ & as gentilidades,que nafcéraó de Aia gentileza : & por ef- teefta vão chorando verti- das de luto , & defgrenha- das. Por diante, Ezechiel, diz Deos terceira vez.Paf-

olhares aos homens para as primeiras paredes, nam vereis mais, que hum Ído- lo do zelo : taô zelofos, & taó zeladores , que pare- cem huns idolatras do ze- lo : mas detrás deíla pare- de do zelo, que he o que fe faz. ^ Huns eílaó chorando por Adónis : outros eftao adorando o Soi,que nafce : outros eílaó incenfando Altares prohibidos 5 êc muitos ainda mal com as coftas viradas para o Tem- plo de Deos. Por fora nam ha mais que zelo; mas àtw-'

tXQ

i

tro ha cobras , & lagartos ; voífos diícurfos fao vatí-

W^

loànn.

I.2I.

ha baíiliícos, & ferpentes ; ha monftros, & monftruo- Hdades ; ha coufas , que cf taó fechadas a três pare- des. Elias por fora, idola- trias por dentro. Se ouvef- íe quem rompcíTe pare- des,© quantas coufas havia de ver o mundo í Efte hc o zelo, eíles fao os zelofos , eílesfaó os Elias : Elias es tu.

§• VI.

f P7 /"^U vida a repo- V-Zíla do Bauti- íla,quenaó era Elias, in- flarão terceira vez os Em- baixadores , 6c pergunta- rão : Tropheta es tu .^ que náo fois Elias, ao menos fois Profeta > A efta per- gunta refpondeo o Bauti- lla ainda mais feca,& mais abreviadamente : Kon : Naó. Jàfabeis, que have- mos de fazer a mcfma per- gunta nano íla terra, ^tro^ pheta es tu ? quiddicis de te ipfo ? Vos, que tantas cou- fas dizeis de nòs^ fois tam- bém Profeta ? -Frophetajé* flusquam '^ropheta. 0$

cimos: as voíTaspropoíI- çoens faó revelaçoens : os voíTosdiííramesjfaó profe- cias : os voflbs futuros na6 tem contingência : o que fucede depois he tudo o que diíTeftes antes : tendes intelligencias na fecreta- ria do Efpirito Santo : naò fe decreta la coufa jque fe naó regifte primeiro com vofco. Baila iílo ? Ainda tendes mais. Se fe tratam matérias de efl-ado, fois Profeta Daniel : fe fe tra- ta5 matérias de guerra, fois hum Profeta líaias : fe fe tratáo matérias mar , fois hum Profeta Jonas : íe fetrataó matérias Eccle-^ fiaílicas, fois hum Profeta Ezechiel: fe fazeis adver- tências aos Reysjfois hum Profeta Nathan : fc cho-» rais as calamidades do po< vo, fois hum Profeta Jere-» mias : fe pedis focorros ap Cco, fois hum Profeta Ba- ruc : &-fe tendes algum ia* tereíIe,como tendes mui- tos , fois hum Profeta Ba-» Iam. Muitas graças fcjam dadas a Dcos; que nos dea

táiitos Profetas idade. Nao debalde efbão pronofticadas tantas feli- cidades ao noílo Reyno. Não poderá elle deixar de fer muito gloriofo , tendo dentro em fy tantos , & taes Profetas. Chriílo Se- nhor noíTo nafceo entre dous animais, morreo en- tre dous ladroens5&: trans- figuroufe entre dous Pro- fetas : entre dous animais efteve pobre ; entre dous ladroens efteve cruciíica- do } entre dous Profetas efteve gloriofo.Tenhaó os Rey s, Profetas ao lado , & elles teráó feguras as fuás glorias. Mas que Profetas? Moyfes5& Elias : hu mor- to, outro vivo, mas ambos do outro mundo. Ora que importa to ao Rey- no o ter Profetas ; exami- nemos o TrophetaestUy & vejamos por onde fe haó de conhecer os veriáadei- ros Profetas.

p8 Primeiramente ad- virto, quje os Profetas naó fe haó de conhecer , nem avaliar pelo numero. Ain- da que íejão mais os que

ão Advento] lop

na noíTa dizernhúacoufa, nempor iíTo fe haó de ter por Pro- fetas. Ouvi húa grande hi- ftoria do terceiro livro dos Reys. Havêdo três annosj que ElRey Acab eftava em paz com todas as na- çoens viíinhas , entrou em penfamento fe iria fazer guerra a ElRey de Siria,o qual lhe tinha tomado a Gidade, & terras de Ra- moth Galaad. Para ifto chamou Confelho dePro- fetas,&: diz o Texto fagra- do,que fe ajuntarão qua» trocentos Profetas : Con- gregavit Rex IfraelTro- ?• Re^ pbetas ^quãdrmgêtos circi-^^ ' ter vir os. A propoftafoi ef- ta: Ire debeo in Ramoth Ga- laadadbellandum , an qui^ efeere ? Devo ir fazer guer- ra a Ramoth Galaad , ou aquietarme.^ E a razão da propofta era .* ^n ignora- ^^^ ^ tisquòdnojira fit Ramoth Galaad:,^ negligimus tolle^ reeam de manu Regis Sy-* r/>.?Queas terras de Ra- moth erão daquella Co- roa,&que parecia negli- gencia naó as recuperaré da mão dos Sírios. Ouvi- da

Mi

TIO Sermão Ja terceira dominga

da^propofta, & a razão Ihcaconfelhavaõaguerrat

d^lía , refpondéráo todos os Profetas a hCia yqz^ que fe fizeíTe :i guerra , q Deos daria a Sua Mageftade vi- toria : Afceme , &: dahit ibid.ó. eam^ominusin mamitua. Com eíle boai anuncio dos Profetas refolveo A- cab de fazer a guerra j.mas para entrar neila com ven

quefoíTe eile também cia mefma opinião, &: que fal laífe ao goílo : Sn f ermo- 'bid.i^; tuusflmUís eorum-i ò* loque- ''^* rebona. Que refponderia Micheas ? (.) que deve fa- zer em femelhantes cafos todo homem de bem : A^/- iJit T>om'muSy qum quodcu^ que mtht dlxerit T>ominus ,

Ibid. 8.

tagem, pedioa KlReyJo- h^cloquar. Vive DeoSjque faphat leu confederado, não hey de dizer outra

que o quizeíTe ajudar na emprefa. DiíTeJ o faphat, queíim: mas que fe ou- veíTe algum Profeta do Se- nhor, folgaria queocon- fultaíTem também. Ref- pondeo Acab, que alli ha- via hum Micheasjhomem, a quê elle aborrecia mui- to, porque fempre lhe fah lava contra o gofto, 6c nu- ca lhe profetizara bem : Remanjit vir uniis ^fed ego adi eum-, qtiia nonprophetat mihi bonum , fed maltim. Levoufe logo recado aMi- cheas, qucvieííe, &:diz o Texto, que oqncdeoo re- cado didca Micheas, que

coufa, fenamoque omef- mo Deos me inlpirar, & o que entender em minha confciencia.

^9 Finalmente che- gou Micheas à prefença dos Reys : propozfelhe o cafo : relpondco, q fe nam fizeíFe a guerra, porque fe havia de perder o Rey, & o exercito. Notável eiicó- tro de Profetas ! Qiie \os parece , que devia fizer Acabnefle cafo, por húa parte qiiatrocentos Profe- tas,qae aconfeJiavaó, que íizeífe a guerra, &: por ou- tra hum Profeta, dizcnda queanaóíizeíre ? Keíbi-

fuppolto que ElRey tinha vco ElRey Acabo que cu

q^u a trocécoi) Profetas, que Ihcaconfclhára nas circu-

^ , Ihincias

do Advento] iii

ftancias prefentes, ainda formem os Reys, quanta

que fora da opinião de Mi cheas. Mandou, que fe ii- zeíTe a guerra j &: iílo por três razoens. Primeira, porque havia muitos an- nos, que eílava em paz com todos os Principes viíinhos: &: quando as ar- mas eftaó defembaraça- das, Sc ociofasjhe bem que íè empreguem nas glorio- fàs emprefas. Segunda, porque as terras de Ra- moth Galaadpertenciaóà fua Coroa : & as terras da Coroa haõ de fazer os

puder fer, com o fcncimê- to comum. Sòpor eíla ul- tima razáo (^ quando nafn ou vera outras 3 aconfelhâ- ra eu a Acab , que nas cir- cunítancias prefentes fí- zeíTe a guerra: & iftoain^ da depois de ouvir a Mi- cheasjem cujo parecer nao aviarifcoj porque os di- dames práticos devemfé mudar todas as yQztS:> que fe miidaó as circunftan- cias. O Medico, conforme ôs preceitos da arte , man- da que íe corte o braço en:^l Reys o poíílvei^&o impoP cànceràdo , porque fe fál^^ fivel, porque naó eftejaó veocorpo j mas fe o en-

em mãos de inimigos. Ca- da torraó das terras con- quiftadas, ÇqÇ^ eípremer, ha de deitar muito fangue de vaíTallos, ôco que cu- ítou eíle preço , naôfeha de dar por nenhum preço

fermo repugna, & nam fe acomoda, tem a medicina outro didtainé pratico,, eo que manda aplicar remé- dios menos violentos, ain- da que fejaó menos íegu- ros . Conforme a eííe ái^

Terceira, & principal ra- <^arriefcguioElRey Acâb zaó, porque ainda que as o parecer dos quatrocen-

razoens de Micheas fof- íem boas, eílavaó pela ou- tra parte quatrocétos Pro- fetas, a quem parecia o có- trario : & nas matérias pu-

tos Profetas, refolveo que fe fizeífe a guerra ; tocaoíc' as trombetas , marcha o exercito , dáfe a batalha fobre Ramoth : mas a pou-

blieas he bem, que fe eon- cas horas de peleja ficou o

exer

ml

Sermão da terceira l^omlngà desbaratado , &

V li

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1,1

í. VIL

100 ÇUppoftopois q

^os Profetas fe

naóhaóde conhecer pelo

numero, por ondefehao

de conhecer? Por três cou-

112

exercito

Acab perdido. Notável cafo! Vede como faó áx- verfos os fuceíTos , & os juizos humanos j Ôc adif- ferença que vai de Profe- tas a Profetas. De húa par- te eílavao quatrocentos Profetasjda outra parte ef- fas : pelos olhos -, pelo co- tava hum Profeta: o Rey inclinou para a parte, onde eftavão quatrocen- tos, & o fuceíTo cahio pa- ra a parte, onde eftava hú. Por iíTo digo , que as pro- fecias não fe haó de julgar pelo numero. As profecias chamãofe na Efcritura pe- fo : Ónus Ninive^ Ónus Af- lyrtte^Onus <iyEgyptL Pefo de Ninive,quer dizer,pro- fecia de Ninivc j pefo de Aíliria,quer dizer, profe- cia de A íllria -, pefo deE- gypto, quer dizer, profe- cia de Egypto. Os Profe- tas haofe de pefar , náo fc hão de contar. Os quatro- centos Profetas contados eraó mais que Micheas , Micheas pefado era mais que os quatrocentos.

ração i & pelos fuceíTos. Conhecemfeos verdadei- ros Profetas pelos olhos > porque o ver heo funda- mento do profetizar. Os Profetas na Efcritura cha- mãofe Videntes : os que vem. os que vem faó Profetas. Aílim como a mais nobre profecia fo- brenatural coníiíle na vi- íaó: aílim a mais certa pro- fecia natural confifte na vifta. quem vio pôde profetizar naturalmente, com certeza. E a razaó he muito clara. A profecia humana conliíte no verda- deiro difcurfo 5 o difcuríb verdadeiro naó fe pôde fa- zer fem todas as noticias j & todas as noticias as pôde ter quem vio comos olhos. Nenhfia coufa ouve mais aílcntada na antigui- dade.

T ão Advento^.

dade,que fer inhabitavel a Zona corrida : ficas razoêS) com que os Filofofos o provavaó, erão ao parecer tão evidentes, que ninguê havia, qiiôo negaííè. Def- cobriraó finalmente os Pi- lotos, & marinheiros Por- tuguezes as coftas da Afri- cajSc da America, & fou- bérão mais , & fílofofáraó melhor fobre hum dia viíla, que todos os Sa- biossôc Filofofos do mun- do em cinco mil annos de efpeculação. Os difcurfos de quem não vio, faõ dif- çuríbs : os di^bames de que TÍo,faó profecias,

loi O outro final da profecia he o coração 5 porque conforme cada hum tem o coração, aífim profetiza. Os antigos quã-

naó pronoftica melhor quemmelhor entende, fe- não quem mais ama. E eftc coftume era geral em toda Europa antes da vinda ds Chrifto , & os Portugue- zestinhãohíia grande fin-? gul aridade nelle entre os outros gentios. Os outros confultaváo as entranhas do s animais, os Fortugue- zes confultavão as entra- nhas dos homens. Afiim o diz S tra b o no livro tercei- ro: Lufit anis 'vetus mos erat exintejiinis hominum ^^^^iib.y f rofpicerey atque inde omu na^iirdivinationes captare. Era coílume dos antigos Portuguezes (diz Strabo } confultar as entranhas dos homens, quefacrificavãoi &■ delias conjeiturar , & adevinhar os futuros. A

do querião pronofticar o fuperfliçaó era falfa , mas

futuro, facri fica vão os ani- aallegoría era muito ver-

mais , confultavãolhe as dadeira. Não ha lume de

entranhas, & conforme o profecia mais certo no

que viáo nellas , allim pro- mundo , que confultar as

npfticavaó.Nãoconfulta- entranhas dos homens. E

vão a cabeça, que he o af- de quehomens .^ De todos?

fento do entendimento, íenão as entranhas, que he o lugar do amor ; porque Tom./.

Não : Dos facrificados. As

entranhas dos facrificados

eraó as que coníiiltavaó os

H aa^

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Dear;

lb.2I.

I í 4 Sermão da t efe eira T>omtnga

nnn>o5f primeiro faziam deiro Profeta mas fe ò

quçelle di j3er

ofacriíicio, então conful- tavaó as entranhas. Se queb- reis profetizar os futuros, confultai as entranhas dos homens facriíicados: con* fultemfe as entranhas dos que fefacrificárão , 6c dos que fe facriíicáo •, & o que ellas diíTerem, iíTo fe tenha por profecia. Porem con-

nao fuce-f der, tende-o por Profeta falfo. Náopóde haver íi- nal, nem mais fácil , nem mais certo. Sabeis a quaes haveis de ter por Profetas? Sabeis de quaes haveis de cuidar, que acertarão com os futuros ? aquelles de quem tiveres experiência.

fultar entranhas de quem quetudo,ouquafi tudo, o

que diíTeraó antes 5 veyo a íucceder depois. Eíle di- dtame feguio Faraó com Jofeph j Nabucodonofor com Daniel , & todos os Principes prudentes com feusconfelheiros. Mas af- íim como ha Profetas de antes , aíTim ha Profetas de depois. Ha muitos mui prezados de Profet.Jí-^, que depois de acontecerem os máosfuceílbs, então pro- fetiza© pelo arrependi- mento, o que fora melhor ter profetizado antes pelo difcurfo. Efte foi hum dos tormentos da Payxão de Chriílo. i\tãraóaChriílo hum pano pelos olhos, da- vaólhe,comas mãosfi- crílcgas na lagrada cabc-

iiaó fe facriíicou,nem fe fa criíica, nem fe ha de facri- ficar i he naó querer profe- : cias verdadeiras : he que- rer cegar o prefenre, <Sc não acertar o futuro. ; 102 Oultimo-fmalde conhecer os Profetas, faó osfuceíTos. No Deutero- nomio prometeo Deos a feu Povo , que lhe daria Profetas > &: o final que lhe dcopara os conhecer, foi cíle : Hoc vobisjignum : quodTrv-pheta pradixerit , Ò non evenerit^ hoc Dorní- nusnoneftlocutus'. Quando duvidares de algum fe he Profeta, ou não , obferva- reisefta regra : Se o que cUediíTcr antes, fuccdcr depois,tcnde-o por vcrda-

ca

ss f)H^ !ííVí.í ^do Advento .. iSiWTiêi i r f

çaj&diziaôpor efcarneo, cUmmtis In deferto \ Eu

que profetizaíTe quem lhe íbu liúa voz, que cia ma no

dera : Trophetiza ^ nobis deferto. Verdadeiramen-

Matth. Çhrift esquis eft qiã te per- tenaó entendo eíla repo-

*'^*^^' cuffit. Profetizar depois de fta. Se os Embaixadores

levar na cabeça ^he profe- cia de quem tem os olhos tapados : heefcarneo da Payxáo de Chriílo. Naõ haveis de profetizar quem vosdco, fenaó quem vos pode dar j porque he me- lhor reparar os golpes, que curalos : & fe o fuceílb nioftrarjquea profecia foi certa, a quem a diíTer ten- de-o por Vto^ztx.Tropheta es tu,

'a®3 /^Ançados íínaíi

perguntarão , ao Bau tiíta o que fazia, entaó eílava bem refpondido , com a voz , que clamava no de-» fertoiporque o que o Bau* ti fta fazia no deíèrto, era dar vozes , Sc clamar ; mas íe os Embaixadores perr guntavãoao Bautiila quê era,,como ihe refponde el- le o que fazia ?R.efpondeo difcretiílimamente.Quan- do lhe pergunta vaó quem era, refpondeQ o que fa^» zia j porque cada hum he o que faz , & não he outra , ^ - ^ coufa. Ascoufasdeíinemf V«> mente os Em- fe pela eíTencia : o Bauti- baixadores de lhes refpó- íta definiofe pelas acções : der o Bautifl:a,que naó era porque as acçoens de cada

Meílias,nem Elias, nem Profeta > pediraólhe final- mente, que pois elíes nam acerta vaó a perguntar, lhes diífeííc cUg quem çíra. A eíla inftancia naó pode xieixarde deferir o Bau*

hum faó a ília eíTencia. De- finiofe pelo que fazia , pa- ra declarar o que era.

104, Daqui fe enten- dera hu a grande duvida., que deixámos atras de pó^ derar. O Bautiíla pergun- tado fe era Elias , refpon-

tiíla.E que vos parecejque joan. i. refponderia ^ B^ojum vox deo,que não era Elias: AV» ''^ H ij ftm

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íi^ ^ Sermão da ter ceiraT^ominga

y//^. EChriftonoCapitu- outracouíli. Ohquegrari-

loonzede S. Marheos dif- de doutrina cflra para olu-

íè^queoBautiftaeraElias: garemqueeflranios í Qiiá-

Joannes Baptifta ipfe eft do vos perguntarem quem

Elias. Pois fe Chrifto diz , fois , náo vades revolver o

que o Bautiíla era Elias, nobiliário de voíTos avôs»

como diz o mefmo Bauti- ide ver a matricola de vof-

fta, que Hão era Elias ?Né fasacçoens. O que fazeis,

o Bautiíla podia enganar, iíTofolsj&nada mais.Quã-

nem^ Chníio podia enga- do ao Bautiíla lhe pergun-

naríe : como fe hão de có- táraó quem era , náo ái^^z

cordarlogoeftes Textos? Muito facilmente. O Bau- tiíla era Elias 5 & não era Elias .'náo era Elias, por- que as peíibasdeEiias,6c do Bautiíla erão diverfas : era Elias , porque as ac- ^oens de Elias , & do Bau- ti fia erão as mefmas. A modeília do Bautiíla dif- fe, que não era Elias, pela divcrfidade das peílbas : a verdade de Chrifto aíHr- inou,que era Elias , pela -uniformidade das acções^ •Era Eiias , porque fazia acçoens de Elias. Quem faz acçocns de Elias , he Elias: quem íizer acçoens de Bautifta, fera Bautifta; & quem as fizer dejudas, fcràjudas. Cada hum he

que fe chamava João, nem que era filho de Zacharias: nãofe definio pelos pays, nem pelo apelido. de fuás acçoens formou a fua definição : Ego vox cia- mantts,

I o f Muito tempo ha, que tenho dous efcandalos contra a noíla Gramática Portugueza nos vocábu- los do nobiliário. A Fidal- guia chamãolhe caíidade, & chamãolhe fangue. A caíidade he hum dos dez predicamentos, a que re- duzirão todtis as coufas os Filofofos. O fangue he dos quatro humores , de quefccompoem o tempe- ramento áo corpo huma- no. Digo pois, quca cha-

as íuas acçoens, ôc.nam. he mada fidalguia aam he fó-

nien-

ãoAd'vento. iiy

mente calldade, nem fó- certos refpeitos: ha fidal- menteíanguej mas he de guia, que he paixão 5 faó todos os dez predicamen- apaixonados de fidalguia: tos, & de todos os quatro ha fidalguia , que he ubí.^

humores. Ha fidalguia, qucheíangue, & por iíTo ha tantos fanguinolentos : ha fidalguia , que he ma- lencolia , & por iílb ha tá- tos deÍGontentes : ha fi- dalguia, que he cólera , & poriíTo ha tantos mal fo* fridos, & infofriveis : & ha

faó fidalgos, porque occu* paó grandes lugares : ha fi- dalguia, que he íitio5& de- ílacaílahea dosTituIos, queeílão aílentadossòcos outros em pè: ha fidalguia, que he habito 5 faó fidal- gos , porque andaó mai^ bem vertidos: ha íidalguiâj

•fidalguia, que he fleima,& que he duração > fidalgos

por iífo ha tantos que pre- ílaòpara taó pouco. De maneira, que os que adoe- cem de fidalguia, naó •lhe pecca a enfermidade no fangue, fenáó em todos GS quatro humores. O mef-

por antiguidade. E qual deitas he a verdadeira fi- dalguia ?Nenhúa. A ver- dadeira fidalguia he Ac- ção. Ao predicamento da acçãp he que pertence a verdadeira fidalguia. Nam

5 ^^ j^. Fundador de Lisboa.

As

mo paífa nos dez predica- gems^ ^froavos , & qu£ mentos. Ha fidalguia, que mnfecimusipfi^ vix ea no- hefuítancia 3 porque algús Jiravoco •, diífe o grande naó tem mais fuílancia > que a fua fidalguia : ha fi- dalguia, que he quantida- de ; faó fidalgos , porque tem muito de feu : ha fidal- guia, que he qualidade i porque muitos naó fe pô- de negar, faó muito quali- ficados : ha fidalguia , que herelaçaó^faó fidalgos por Tom. 7.

apuáO- vit iuin Meçam.

acçoens generofas, &: nam os pays ilíuftres, faó os que fazem fidalgos. Cada hum he fuás acçoens, & naóhe mais, nem menos , como o Bautifia : Ego vox claman^ th in defino.

Hiij f.IX.

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106

§• IX.

DEíla doutri- na táo verda- •deirâj&defta ultima con- clufaó Bautifta , tiro dous documentos , co'-ú\ queacabo: hum politico, outro efpiritual. Digo po- liticamente, que nas ac- çoensfchãode fundaras eleiçoens : Digo eípiritu- almente, quèíiasacçoens fe devem fegurar as prede- ílinaçoens. As eleiçoens ordinariamente fundaófe nas ger-açoens5& por iílb fe acertaótaó poucas vezes. Não nego, que a nobreza , quando eílà junta com ta- lento, deve íempre prece- der a tudo 5 mas como os talentos Deos he o que os

Sermão da terceiroTíommga

Profeta Ezechiel pri- meiro Capitulo das fuás reveíaçoens aquelle carro mifl:criofo,porque tiravao quatro animais, Homem, Leão, Boy , & Águia .• no Capitulo decimo tornou a ver o mefmo carro com os mefmos animais, mas com a ordem trocada j porque na primeira vifaó tinha o primeiro lugar o Homem j nafcgunda vifaó tinha o primeiro lugar o Boy. No- tável mudança! Que o Ho- mem na primeira viíaó fe anteponha ao Leão, ã A- guia, & ao Boy, muito ju- íto 5 porque o fez Deos fe- nhor de todos os animais : mas que o Boy , que foi criado para o trabalho , &

dà,&naóos paysj naó fe para o arado, fe anteponha

devem fundar as eleiçoens a três cabeças coroadas: ao

nas geraçoens, fenão nas Homem, Rey do mundo,

acçocns. £fte didame he ao Leão, Rey dos animais,

o verdadeiro em todo o à Águia, Rainha das aves!

tempo, 6c muito mais no Sim: a razão literal , & a

prefente. No tempo da melhor,quedão os Expo-

pazpódefcfofrer, que fe fitoresjhceíla. Naprímei-

dcm os lugares às gera- çoens > mas no tempo da guerra, naó íc haó de dar fcnão às accocns. Vio o

ra vifaó ellava o carro tro do Templo 3 nafcgun- da vifió fihio o carro à campanha : Egreffaeft glo- ria

Advento. ii^

r'ía'T>omini de limlneTem' voíllis acçoens. Se per- pli : & quando o carro eftà guntarem a hum homem : quieto , defe embora o 71?^ ^/j ^5? Quanto ao tem-

primeiro lugar a quem melhor he, mas quando o carro caminhajiafede dar O primeiro lugar a quê me-

poral, em qualquer maté- ria pôde refponder cer- teza : fc perguntarem a homem \Tu quis í-j? Quan^

Ihor puxa:& porque o Boj to aaefpiritual , ninguém puxava melhor» que o Ho- ha no mundo , que pofíà

Pctii

mem, por iííò fe deo 0'pri- mciro lugar ao'Boy. Quá- do o carro eftiver no tem^ pio da paz, demfe emÍDrora^ Gs ugares a quem melhor for j mas em quanto o car- ita eíliver na campanha 5. Iiamfededar os lugares a quem melhor puxar.

107 E aílim como po- liticamente he bem, que, nasacçoensfe fundem as; eleiçoens, aílim efpiritual- mente digo , que nas ac- çoens fe haó de fegurar as- predeílinaçoens. S.Pedro na Epiftola fegunda .• Fra- três fat agite , ut per bona opera certam veftram voca^ tionem^&^ eleãionemfacia" tis. Irmãos meus Ç diz S. Pedro) trabalhai gran- de diligencia de fazer cer- ta a voíía vocação , & pre- deftinaçaó por meyo das

Ireíponder a eíla pergunta^ Cada hum de nós efpiri? tualmemteheo queha de íer : o que ha de fer cada hum, ninguém o fabe : &e aíTim ninguém ha,que po^ fa refponder com certeza ã pergunta iTfá^ííii-^í ? A* maior mifema , a maLOí perplexidade, a maior a£« íÍi:ção de efpirito , que ha na vi da humana, he faber^ hu m ho mem , quse ha. dlc5 fer, ou eternamente ám^^^ fa, ou eternam ente iiafdá:-' ce3-& naó faber qualdeftas? duas ha de fer ; naó íàber hum homem fe he preci- to, ou fe he predeftinado. A efte maior de todos os cuidados, a efta maior de todas as perplexidades acode S.Pedro com o úni- co remédio, que ella pôde ter : Satagite^ utper 'vefira H iiij y&m

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12 0 Sermão da terceira "Dominga

bma opera certam veftram çoens , que nas noíTas eleãwnemfaaatís. Se que- obras eftà depofitado hum reis ter fegurança de voíTa thefouro tão grande, não o predeftinação,a maior q percamos. Sata^ite.u^bz^ revelação fe pode terne- Ihemos por fegurar noíTa lia vida^appellaipara vof- predeílinação. Aplique- fasacçoens, & voíTas boas monos muito de veras à obras : fazei obras boas, & obfervancia dos preceitos ellai moralmente feguros, divinos : rompamos por que fois predeftinados. tudo o que nos pode fer ef- Eftehe o verdadeiro en- torvo, & impedimento: rendimento das palavras conheçamonos, & conhe- deS.Pedro : & aílim as ex- çamos o mundo , & feus plica S. Thomás, & todos enganos : quebremos com osTheologos. Oh quefe- húa grande refolução os hcidade tão grande, que ]aços,&as cadeas,que nos tenhamos nas noíTas obras detém , quaefquer que fe- hum feguro de noíTa pre- jão ; convertamonos de deftmaçáo í Na outra vida todo coração a Deos : dif- hanos de pagar Deos as ponhamonos com todas as boas obras com a poíTe da forças para receber fua gloria: neftavidajànolas graça, & feguremos para começa a pagar com a fe- fempre o premio da Glo- gurança delia. Ora Chri- ria. íláos, que nas noíTas ac-

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SER.

121

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S E R M A M

DA QUARTA DOMINGA

DO

A D V E N T O.

Faãum eft ver bum ^omini/uperjoannem, & venit in : omnemregionemjordanisypradicansbaptifmumpa- nitentia mremifflonem peccatorum, Luc.3.

§■ I.

Em que eu o di- ga eftà dito por íy mefmo , que avemos de ter hoje o quarto juizo. No primeiro Sermão vimos o j^uizo de Deos para com os homens ; no íegundo vi- mos o juizo dos homens hunspara com os outros: Bo terceiro vimos o juizo

de cada hum para comíigd mefmo. Mas qual fera o quarto, & ultimo juizo, que nos refta hoje para ver ? Nem he juizo de fy mefmo , nem he juizo dos homens, nem he juizo de Deos : he o juizo deíles três juízos. Todos os três Íuizos,que vimos, vem ho- je chamados a juizo. Le- vanta nefte Evangelho o Bautifta 0 tribunal fupre- ma

=1

à

1^2 2 Serrríãõ ãa quarta T>ommgã

mo da Penitencia : ?*r^^/- dcfprczado : o juizo á<z

cans baptifmtmpanitentids Deos revogado : he o que

in remijjionem peccatoriim\ avemos de ver hoje. & afTenca-o com grande 109 Tenho propoftó

propriedade , & miílerio Ccatholico, & nobililUmo

nas ribeiras do Jordaó : In Auditório) a matéria de-

omnem regionem lordanis-, íle ultimo Sermão. E fe

porquejordaó quer dizer; nos palfados mereci alaúa

Fluvius ludicij \ o Rio do coufaavoíTos entendinié-

Juizo. A verfe nas aguas tosÇ qmdfentia quàm fit

deíle rio, a prefentarfc á:^-^ exiguum } quizera que mo

ante deíle tribunal vem pagaíTem hoje voíTos co-

hoje os três juízos 5 cada raçoens. Aos coraçoens

hum por fuás caufas.O jui- determino prègaf hoje, &

«odefymxOno vçm por caó aos entendimento^.

Ibfpeiçoensj porque o da inosporfofpeito : o juizo dos homens vem por ag- gravo ; porque aggrava- mosdelle: o juizode Deos

Chriílo foberano exem- plar dos que prègaó fua palavra, comparou os Prè* gadores aos que lavraó,.& lemeão : Exijt quifeminat luc.s.

Ibid.ir.

vempor appellaçáo>por- feminare :femen eftverbum

que appeilamos de Deos T>ei. O ultimo Sermão he

para a noíTa. penitencia, o Agoílodos Prècradores-

Todos eftes juizps haó de fefe colhe aigmn fruto *

ftr julgados hoje,&erpero neíle Sermão fe colhe'

que haó de fair bem julga- Masquandoeu vejo, que

(Íqs. v porque debaixo do hoje nos torna a repetir o

jtiizo da Penitencia, o jui- Bautifta, que clamava em r

20 de fy mefmo emenda- deferto : l^ox clamantis in 4"" ^'

fei o jiiizo dos homé^ def- deferto. > que conliança pó-

prezafe •, o juízo de D^o.s defícar a qualquer outro

revogafe. Aílimqueojui- Pregador , que naõ def-

zp de fy melmo emenda- mave: ou que palavras pò-

do:o juuQ dos^bomcíis. ciem fertaó fortes, & eífi-

cazes

doAd^vento. 123

câzes às fuás, que antes de meremos de vos oífender.

as pronunciar a voz , nam cmmudeçaó ? Lembrame porém, que para Chriílo converter hum homem, que o tinha negado três vezes 3 porque fe dignou de lhe por os olhos, bailou a voz irracional, & no£tur- nadehúa Ave, cujas azas

Afpexit^Ò' diffolvit gentes : Hab- $: oíhai vós, Senhorjque ain- ^' da que foíTemos gentios íèmfé,& não Chriftãos, osnoíTos coraçoens fe fa- raó de cera , Sc fe derrete- rão. Neíle dia pois, em que nos naó refta outro, acendei a frieza de minhas

apenas a levantaó da terra, palavras,& allumiai as tre- para o reftituir outra vez vas de noíTos entendi men-

ao caminho do Ceo. Tan- to pode hum refpexit dos olhos divinos. Aílim he , Senhor, aífim he. E pofto queefte indigno miniílro de voífa palavra feja taó defproporcionado inftru- mento para obra taó gran- de: fe os olhos de vofía pie- dade, ^ clemência fe pu- zerem nos que me ouvem, & hum rayo de voífa vifta -lhes ferir as almas 5 naó de- fefpero, antes confio de •voífa graça, que as fobera- nas influencias defua luz faraó o que podem, & o iô^. 3 2. que coílumão. Quirefpicit terram-i érfacit eam treme- rí» rolhai vós, Senhor, que ainda que fej amos de terra infeníiveljôc dura, nqs tre-

tos, de íortç:^ que r efoluta- meiíte defenganados , fa- çamos hoje hum inteiro,& perfeito juizo, de vós, de iiòs,& do mundo : de vòs ^ para que vos conheçamos, & vos amemos : de nós,pa'- ra que nos conheçamos,,S^ .nos humilhemos: do mun- do , para que o conheça^ mos, 6c o defprezemo^.

í. 11.

IIO

Pfal

O Ra venha^ entrando OjS três juizos,para ferem exa- minados , & julgados no tribunal da Penitencia : o juizo de fy mefmo, para que fe emende, o juizo dos homens , para que Xe deí^ preze»

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114. Sermão da quarta 'Dominga

preze, o juizo de Deos,pa- nha aigúa vífta , mas efta

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Marc 8. ^4.

ra que fe revogue : & co- mecemos pelo que nos fica mais peito.

No tribunal dos Areo- pagitasem Athenascoílu- mavaó entrar os reos com osroftos cubertos. Aíllm entra,& fe preíènta diante do tribunal da Penitencia, o juizo de fy mefmo. En- tra com os olhos tapados, porque naó ha juizo mais cego. A cegueira do juizo, & amor próprio hc muito maior, que a cegueira dos olhos: a cegueira dos olhos faz que naó vejamos as coufas, a cegueira do amor próprio faz que as veja- mos difrerêtes do que faó : que he muito maior ce- gueira. Trouxeraó hum cego a Chriíio, pira que o curaíTe : pozlhe o Senhor as mãos nos olhos , &: per- guntoulhe fe via ? Refpon- deo : Vídeo homines velut ar b ores mnbtdantes^qixQ, via andar os homens como ar- vores. Pergunto, & quan- do cftava eltc home mais cegOjngorLi,ou antes?Ago- ra naó ha^ duvida , que ti-

vifta era maior cegueira, que a que dantes tinha j porque dantes naó viana- dajagora via húa coufa por outra, homens por arvo- res : U maior cegueira he ver hiía coufa por outra , que naó ver nada. Naó ver nada he privação, ver húa coufa por outra he erro. Eis aqui porque fempre erra o juizo próprio .• çis aqui porque nunca acaba- mos de nos conhecer.Por- que olhamos pára nós com os olhos de hum mais cego que os cegos , com huns olhos que fempre vem húa coufa por outra, &as pe- quenas lhe parecem gran- des. Somos pouco maio- res que as ervas , & fíngi- monos taó grandes como as arvores: íòmos a coufa mais inconílante do mun- do, & cuidamos, que te- mos raizes : fe o inverno nos tirou as folhas , imagi- namos que nolas ha de tor- nar a dar o veraó, que fem- pre avemos de ílorecer, queavemos dcdurarpara fempre. lílo fomos, Scifto cuidamos. Eque

doAd'Vento\

I2f

Piai Tl. 49.21.

III E que faz a peni- tencia para emendar eíle iuizotaoíèmjuizo ? Que faz a penitencia paraallu- miar eíle cego tao cego? Duas cõufas.Tiralhe o veo dos olhos : & metei he hum efpelhona mao. Tiralhe o veo dos olhos, como pedia opeccadoraDeos : Í?í"i;í'- la oculosmeos : mçtclhthú. 118.18. efpelhona mao, eomodi- -zia DeosaopeccadorriS'/'^- tuam te cantrafaciem t%am\ Porvoshei a vos diante de vòs. Nenhúa coufa traze- mos os homens mais ef- quecida, & defconhecida , nenhiia trazemos mais de- trás denòs, que a nòs mef- mos. E que faz o juizo da peni tecia? Poem-nos a nòs diante de nòs: St atuam te €ontrafactem tuam . Põem - nos a nòs diante de nòs, co- mo a reos diante do tribu- nal, para que nos julgue- mos: poem-nos a nòs dian- te de nòs , como obje6to diante do efpeiho >para que nos vejamos. Coufa difficultofa he> quehomés taó derramados nas coufis exteriores^ cheguem a fe

ver interiormente , como convém. Mas iílb faz a pe- nitencia por hum de dous modos, ambos maravilho- fos : ou voltandonos os olhos de fora para dentro, para que nos vejaõ^ ou vi- randonos a nòs mefmos de dentro para fora, para que nos vejamos.

112 Quando Deos quiz converter aquelie taó defvanecido Rey Nabu- codonofor^para que fe def- ceíie de feus foberbiíHm os penfamentos^êc conhecef- feo que era ; o primeiro paffo por onde o encami- nhou à penitencia , foi transformalo em bruto. Sobre o modo defta trans- formação ha variedade; de pareceres entre os Douto- res ; huns dizem, que foi imaginaria, outroSjque foi verdadeira : &: pofto que eílefegúdo modo he mais conforme ao Texto i de ambos podia fer. Se foi trásformaçaó imaginariaia voltou Nabucodonofor os olhos para dencra de fy mefrao5& vio taô vivam é- te o que era , que áeQi^ aquei-

^26 Sermão dãq\

âquellc ponto fenaó teve mais por homem , fenaò por bruto, & como tal fe tratava. Se foi transforma^ çaóverdadeira, converter Deos em bruto a Nabuco- donofor , naó foi outra coufa, que viralio de den- tro para fóra,para que mo- ftraíTe por fora na figura o que era por dentro na vi- da. Oh quam outro fe ima- ginava eíle grande Rey antes do que agora feviaí Dantes naó fe contentava com Ter homem , &: imagi- navafe Deos:agora conhe- cia que era muito menos que homem, porque fe via bruto entre os brutos. Se voltarmos os olhos para dentro de i\ò^ , ou fe Deos nos virara a nòs mefmos de dentro para fora , que diíFerente conceito avia de fazer cada hum defy , do que agora fazemos! Mas figuamos os paíTos deíle novo monílro, Ã: ve- lo-emos,6c vernos-emos. Andou pafcendo aqueiie bruto racional o primeiro dia de fua transformação cncre os animais : peia

UãrtaT>ordinga tarde teve fede : foyíeche- gando fobre quatro pès à margem de hum rio , & quando reconheceo no cfr pelho das aguas a deformi»- dade horrenda de fua fíir gura, valhame Deos , que aíTombrado ficaria de ij mefmo! Provaria primei* ro a fogir defy ; mas como fe vifi"e atado taó forte- mente àqueile tronco bru* to, remeteria a precipitar- fe na corrente : & feDeos onaótiveíle maó, que o queria trazer por aquelles campos de Babilónia para exemplo eterno de fober- bos,alli ficaria fepukado, primeiro em fua confufaó) 6c depois na profundida- de do rio. Que rioheefie, fenaó o rio J ordaó, Fluvins ludicij : Rio do juiz o .^ E quéhe efic Nabucodono- foraflim transformado, fe- naó o peccador , bruto razaó, & fcm ufo della,que anda pafcendo nos cam- pos deíle mundo entre os outros animais, maisani- malquccllcs .^ húadif- fcrcnça ha entre nos , & Nabucodonofor,que ellc quiz

t'V

ão Advento, quiz fogir de fy^j^c naó po* o que imagináveis de, nós ainda podemos,

Chega

quizermos. L^nega emfim o peccador a verfe nas aguas déíle rio , efpelhos naturaes5& íem aduiaçaó : de repente o que nunca tinha viílo : vèfe a fy mef- mo. Oh que aílbmbro! He poíli vel, que eíle fou eu ? Tal fealdade , tal horror, tal brutefa j ta es deformi- dades ha em mim ? Sim : & muito maiores. EíTe fois, & naò o que vos cuidáveis. Vede fe diz eíTe retrato coín o que vos tinheis for- mado de vós mefmo no voííb penfamento j vede bem,&: coníiderai muito devagar neíTe eípelho o rofto,^ âis feiçoens inte- riores da voííà alma : vede

127

vede

fe vos conheceis : vede fc

fois eíTe, ou outro ; Tu quis^

113 Ç Abeis porque 43 andarmos ta6 vangloriofos, & taó defva« necidos de nos mefmosf* Porque trazemos os oihos por fora , & a nós por den** tro : porque não nos ve^ mos. Se nos viramos inte-, ri orm ente como fomos, fe coníideraramos bem a de- formidade de noífos pec-r. cados 5 oh que diíferentè, conceito aviamos formar denòs l Taó defvaneci- dos de il luftres, taó defva- necidos de Senhores , taó

bem eífes olhos, quefaó as defvaneçidos de podero- voíTas intençoens : eífes fos, taó defvaneçidos de

cabellos , que faó voífos penfamentos : eíTa boca , que faó as voílas palavras: eílas mãos^ que faó as vof- fas acçoens , & as voífas obras : vede bem fe diz ef-

difcretosí, taó def\^aneci- dos de gentis homens, taó defvaneçidos de fabios , taó defvaneçidos de vale- tes, taó defvaneçidos de tudo : porque? Porque vos fa imagem com a que ten- naó vedes por dentro. Di- desnavoífaidèa : vede fe zeime vos, que húa vez fe parece o que vedes coin puzeíTei-s bem os oihos em

-^^n voífos

TiS Sermão da qíi ar taTyomhga

voíTos péccadòs : oh como hiílorias de luas façanhas

Pralm. 50.5-

avieis de emendar todos eftes epitetos í Nenhum homem ouve no mundo, que mais íe podeíTe prezar de f^, que David ; porque nelle ajuntou a natureza, a fortuna, &: a graça , tudo o que repartio pelos gran- des homens :& com tudo tienhum homem achareis mais humilde, nem menos prezado de fy mefmo , an- tes mais defprezador de fy, que David. E donde cuidais, que lhe vinha if- to? Teccatim meum contra meeftfemper. eítava David fempre olhando parafeus

Chryf. ib.

Naódeo tanta, matéria as artes Hercules em feus trabalhosjcomo David em fuás vi6Vorias. Mas naó eraó eftas as viftas, em que fe entretinha aquelle grá* de Rey , nem eftas as ga- lariasjcm que hia paífear. Em contrapofiçaó daquel- las pinturas(^figamos aíHrn a confideraçaó de Chry- foftomo 3 mandou fabri- car David outra galaria, chamada de fuás fraque- zasj&nella pintar em di- veríos quadros, naó as fa- mofas, mas as laftimofas hiftorias de feus peccados.-

peccadosjôcvendo-os, & Aqui vinha paffear Da-

vcndofc nelles. §uafipec' vid: aqui tinha o bom Rey

catoriim itriagines contem- as fuás meditaçoens : 6c

plando : comenta S.Joaó aqui alcançava a maior de

Chryfoftomo. EftavaDa- todas fuás viclorias , que

vid contemplando os feus "foio conhecimento de fy

peccados, como fe eftive- mefmo.

ravendo5&: confiderando as imagens, & retratos de fuasacçoens. Naó ha du- vida, que muitas peças do Palácio de David peio ve- rão nus pinturas , pelo in- verno nos tapizcs cflariaó ornadas com as famoías

1 1 4 G)uaíipeccatornm imagines contemplando-NTi' mos com David conílde- rando peccados , Sc muda- do epítetos. Punha os oihos David cm hum qua- dro, via a hiftoria de Ber- íabcjôc dizia comíigo: He poíli-

h:.'!:;

wm^^

fc-^^Vuv do Advento, '^««wt-íí?^

j^6ílívêl,qúè me tenha o mundo por Profeta5& que naó anteviíTeeu , quede huaviílafeaviade feguir humpeiifaínento, de hum penfamento hum defejo, 6c de iium defejo liúa exe- cução taó indigna de mi- nha peíToa, & de meu eíla- do! Naó me chamem mais Profeta , cham em- me ce- go. He poíIiveUque fou eu tido no mundo pelo valen- te da fama, & que bailou 1i tia mulher para me ven- c^ei*^ & para que eu deixaf- ífe a guerra, 6c náo fahiíTe à campanha naquelle tem- po í em que coíiumavaó andar os Heys armados diante de feus exércitos: Eo tempore^ quofolent Re^ ges òelia procederei Naó me chame ninguém valé- tej chamem- me fraco. Da- va dous paíTos adiante Da- vid, punha os olhos nou- tro quadro, via a hiíloria de Uriasicomo dava a car- ta a Joab,&: como aparecia logo morto nos primeiros efquadroens , ôc vidorio- fos os inimigos. He poíH- yel , que me prezo eu de Tom./.

I25>

Principé ^C^fdàdeirò , & que mandei cometer hfu aleivoíia tao grande de- baixo de minha firma y^ que a hum vaíTaiio taó fíelj depois de lhe tirar a hon- ra, lhe tirei também a vida enganofamente l iS ao me terei mais por verdadeiro, fenaó por fémentido/. He poííivèl, que me fez Deos Rey do feu Povo,para lho confervar,8c defender, & queconfoio eu a nova da rota do meu exercito, corri a nova da morte de Urias > 6c que péfa mais na minha eftimaçaó a liberdade de humappetite,quea perda de taó fieis , èi. valerofóS foldadosINaó me chamem Rey, cham em- me tyran-^ no. Hia por diante David, contemplava outro qua- dro, via o cafo de Nabal Carmello : como mandara tirara vida a tudo o que em fua cafa a úvcí^^Ç:^ 6c co- mo depois lhe concedia perdão pelos rogos de fiia mulher Abigail. Hepofli-^ vel,que eu fou o celebrado debenigno,6c piadofo, 6c mando tirara vida a hum- I ho-

130 Sermão da quarta Dominga

homem 5 porque naõ quiz pelo dito de hum criado^

^1»

^H

dar fua fazenda aos fogiti- vos, que me feguem ! Eu fou o que domei os Leões, 6c os UíTos no deferto ,& naó pude domar hum Ím- peto de ira dêtroem mim mefmo .' Naó me chama- rei mais humano, chamar- me-heifero. HepoíIIveí, que me preze eu de intei- rOj& que fendo taó juftiíi- cada a caufa de Nabal, ao jnenos naó digna de caíli- go, naó baftaííe para me aplacar a fua jufliça^patro- cmadafódcíy mefma: ôc que depois reprefentada por Abigail, pudeíTe mais hum memorial acompa-

fem mais informaçao,neni figura de juízo, declaro a Miíibofet, filho do Rey meuanteceílbrjporreo de lefa Magefíade,& Ihecon- fífco afazenda,&:adouao mefmo acufador ! Naó me terei mais por prudente, fenaó por temerário. He poílivel, que tenho eu opi- nião de redo , & que de- pois de averiguada a ca- himniajêc provada ainno- cencia , deixo ao traydor com ametadedos bens,& naó mando , que fe reílif tuaó todos ao innocente ! Naó me terei mais porre- â:o, fenaó por injuílo. líis

nhado do íèu roílo, que da aqui como David pelos re fua razaóí Não me chama- tratos de feus peccados hia

rei inteiro, chamarme-hei refpedivo.Dava mais paf- fos adiante David , via noutro quadro a hiftoria deSiba : como acufava a Mifibofetfeu Senhor, co- mo tomava poíTe da fazé- da,& como depois de pro- vada a cakimnia, lhe man- dirarcílituir ametade. He poílivel, que me prezo eu de coaíiderado, & que

mudando os feus epítetos, & emendando o juízo de fy meímo ; & tendo em fy tanta matéria para a vai- dade, achava tanta para os defenganos.

1 1 f Chriíláos [& naó digo Senhores , porq qui- zera que vos prezaíleis mais de Chriíláosjponha- fe cada hum diante á2s imagens feus peccados , Tec

doAd^enfo\ i^t

¥^eccatorum imagines con- fouoque me prezo de en-

templando : cuide,& coníi- derenellas hum pouco, & verá como as idèas anti- gas, que tinha na fantaíia, íelhevaó deípintando, & como muda, & emenda o juizo errado , que de íy mefmo fazia. Todos vos prezais de honradosjtodos vos prezais de valeroíos.

tendido j& cometi tantas vezes húa ignorância taõ fea,como anteporá crea- tura ao Creador, afumma miferiaao fummo, & infi- nito bem ! Naó fou enten- dido, fou nefçio. Eu fou o que me prezo de feíudo ; & cometi tantas vezes húa locura taó rematada , co^

todos vos prezais de ente* mo arriícar por hurn appeí-

didos, todos vos prezais tite leve, por hum inftan-

de fefudos : quereis emen- te de gofto húa eternidade

dar cffQS epitctos? Virar os de gloria , ou de Inferno í

olhos para dentro aos pec- Naó fou fefudo, fou louco.

c2idos. Eu fou o que me Deita maneira emenda q

tenho por honradoj & co- juizo da penitencia os er-

meti tantas vezes húa vi- roSjSc as cegueiras donof*

leza taó grande , como fer íb. Em lugar de fefudo,

ingrato,& infiel a meu Se- põem louco i em lugar de

nhor,&ameu Deos, que difcreto, nefcio j em lugar

mecreou, 8c meremio devalerofo, covardej em

feufangueíNaófou hon- lugar de honrado , vil: 82^^

rado, fou vil . Eu fou o que aquillo era o que cuida va-

me tenho por valeroío v cometi tantas vezes huma fraqueza taé baixa , como deixarme vencer de qual- quer tentação, 6c virar as coitas aChriáojfem refi- flirporfeu amor, nem a hum penfamentoíNaó fou ralerofoa fou covarde. Eu

mos , iíto o que fomos. Ninguém nos diz melhor o que fomos, que os noíFos peccados.

§. IV.

116 A Inda os nof-

jfj^fos peccados

li) po-

1^ ; li?'!

V1J.J

;;;J

.:í.Reg.

132 Sermão da

poílos diante dos olhos outro modo de côvencer, & emendar mais aperta- do, 6c mais forçofo : que he convencemos a nòs com- nofcoj & emendar o noíTo juizocomo noíTo próprio juizo. Cada hum em feu juizo naó fe deve eílimar mais, queaquilio em que eile mefmo fe avalia. E co- mo fe avalia, cada hum de nòs? lílo naó fe nos nof- fos penía mentos, vefe nos noíFospeccados. Todas as vezes , que hum homefií pecca , vencLeíe pelo feu peccado : Venimdatus efí'^ mfaceret makmyáiz2. Éf-' cntiirafagrada. Ora veja cada hum de nos o preço porque fe vcnácy &c á^hv julgará o queiíe. Prezais- > vos muito, & eftimais-vos rnuico 5 defvaneceis-vos muito ; quereis faber o que fois por voíTa niefiria avaliação:?. Vede o preço* porque vos dais 5 vede os voífos peccados. Daif-vos por hum rcfpcito,daif vos por hu m intcreíIc,daif-vos por hum appctite, porhCi penfiinenco,por hum aílc-

quarta Dominga

no : muito pouco he o que por taó pouco fe dà. Se noS rendemos por taó pouco, como nos prezamos tan- to ? Filhos de Adam em- fím..Quem yííTq a Adam no Paraifo cx>m.tanta5 pre- fumpçoens de divino , mal cuidaria , que em todo o mundo podeífe aver pre- ço, porque fe ouveíFe de dar. E que fucedeo? Deo- ÍGÚlQy &: deoatodosíeu^ filhos por hua maçãa. Se nos vendemos taó baratos, porque nos avaliamos taó caros? que vos ^ílxmais- tanto, naó vos deis por taò pouco j & pois vos dais por taó pouco, naó vos te- nhais por mais. Naó he. razaó, quefe avalie taó aln to no feu peníamento , quem fe vende taó baixo: no feu peccado. y liX^^.. i Agor3<;catende* reis abfpirito,ôc a pruden-> cia de David, em pór di^. ante dos olhos as imagens de feus peccados : Tecca^ torum ímtigines cõntempia^ <^í?,: quando para íc excitar a contrição, ^ conheci- mento de fua miferia ^ pa- rece

do Advento', ^ 133

rece que como Profeta vendo pelos iíadas do mu-

pudera reprefentar diante de fy outra imagem, que mais o movera. Naò mo- vera mais a David huma imagem de Chriílo cruci- ficado 5 pois elle fabia mui bem, que Deos havia de morrerem hua Cruz por aquelles mefmos pecça- dos? Digo que naó: leve- de a razaó porque o digo. Muito melhor me conhe- ço eu diante da imagem de hum peccadojque dian» te da imagem de Chri- ílo crucificado. Quando eftou diante da imagem de Chriílo crucificado , parece que tenho razoens de me enfoberbecer , por- que vejo o preço , porque Deos me comprou ; mas quando me ponho diante da imagem de hum pec- dadosjcomoojuizo de fy cado, naó tenho fenaó ra- mefmo j mas com todos os

do, naó poílb deixar de crer que fou nada. Eis aqui a que fe reduz , & co- mo fe defengana o juízo de fy mefmojquando fe como em efpeiho na ima- gem de feus peccados : & aíllm o muda,aíllm o eme- da o juizo da penitencia : Tradicans ba^tifmum fce- nitentia.

$. V.

118 /^ Juízo de ff V^ mefmo [co- mo acabámos de ver J emendafe:& o juizo dos homens? defprezafe. En- tra pois o juizo doshomés: a prefentarfe diante do tribunal da Penitencia : ôc naó vem com os olhos vê-

zoens de me humilhar , porque vejo o preço, por- que eu me vendi. Quando vejo, que Deos me com- pra com todo o íeu íàngue, naó poílb deixar de cui- dar, que fou muito i mas quando vejo , que eu me Tom. 7.

fentidos, Sc com todas as potencias livres, 6c muito livres j porque com todas julga a todos. Traz livres os olhos, porque julga tu- do o que : traz livres es ouvidos, porque julga tu- do o que ouve : traz livre a I iij lia-

'vi

Manh.

134 Sermão da quarta dominga

lingua , porque publica , peccados noílbs, que fize- tudo o que julga; Sc traz li- ra feus ; Sc quem era ta de vre mais que tudo a ima- fatisfazera Deos porpec- ginaçaój porque Julga, 5c cacos, náo tem ouvidos condena tudo o que ima- para aque contra elle di- gina. . , zemos homens : E^o attr^

iip Mas. que faz a pe- tám tanquam Jurdns nonviúm. nitencia para defprezar- aiidkbarn. Digaó os ho- 37 «4-

mens, julguem os homens, condenem os homens a

mos eíle idolo taõ adora- doj taó temido > & taó ref- peitado no mundo ? Que faz 5 ou q pode fazer a pe- nitencia 3 para que naó fa- çamos cafojfendo homens, dojuizo dos homens ?C6 abrir, ou fechar hum {tn- tido faz a penitencia tudo iílo. Para o juizo de fy mefmo abrenos os olhos r para o juizo dos homens , fechanos os ouvidos. No dia da Payxaó choviao te- ftemunhos , 6c blasfémias eontraChrifto ; & o Se- nhor^como fe nada ouvira. Aífim lho diíTe admirado Pilatos; A^í?;^ aiidts quanta adverjum tedicuntteftimo- »/4?Naó ouves quantos te- ílemunhos dizem contra ti ? Naò ouvia Chriílo, porque ouviajcomo fe naó ouvira. O Senliornaqucl- ledia hia fatisfazcr pelos

os

que quizerem , & quan- to quizerem i que quem

trata de veras da íluisfiçaó de feus peccados , quê tra- ta de veras de fer bcmji'1- gadodeDeos, naó fe lhe do juizo dos homens. Sabeis porque dizemos tanto cafo dos juizos hu- manos, porque naó fomos verdadeiros penirentes.Sc a noílli penitencia , fe o noííb arrependimento fo- ra verdadeiro , que pouco cafo havíamos deflizcrdc todas as opinioens do mu- do!

120 Peccou David o peccado àc Berfabè, & U- fias : ao cabo de algum té- poveyo o Profeta Nata m a adv^crtillo do grande mal que tinha feito : reconhe- ccoPavid fua cu.pa-.diife: 'Pccca-

m

do Advento. i^f

2 Reg ^etcavt 5 Pequei ; & no i;/báfta a David , a Saui,

''^"'^" mefmo ponto por parte porquelhe naô bailou hu

Dcos o abfolveo o Profeta Teccavi ? A razaá literal ,

úoipQcc3.áo:^omimisquo- que daó todos os Douto-

^^- que transtuUt ^ peccatum reSjhej que o Teccavi de

ruum.Feccou Saul opec- <:íido de deíobedienciajre- fervando do derpojo de Amalec para o facriíicio : veyo também o Profeta Samuel advertillo déqua- to Deos fentira aqueila culpa : conheceo-a Saui: diíTe : Teccavi > Pequei i mas nem o Profeta ref-

David foi dito de todo o coraçaójO "Pf <rr^.i;/ de Saui foi dito fomente de boca.: a penitencia de David, foi penitencia verdadeira > a penitencia de Saul foi pe- nitencia falfa. Muito bem dito : mas donde fe prova > Donde fe prova , que foi falfa a penitencia de Saul *

pondeo , queeftavaper- donde fe prova, que o feu doado, nem Deos ihe con- cedeo perdaô. He efte dos notáveis cafos , que aEfcritura, coníiderada a femeihança de todas as 'cifcunílancias delie. Da- vid era Rey, Saul também eráRey"} David peccou.

Teccavi foi dito de boca , Sc naò de coracaó ? Naó o dizemos Doutores ,. mas eu o direi, ou ò dirá o Tejt- to. Quando David diífe .' ^eccavi-, naó failou mais nada. Quando Saul diííe : Teccavi j acrecentou eflas

Saul peccouj a David veyo palavras vTeccarui '.Jedho- amoedar hum Profeta, a nora me c&ramfenwribus

!. Reg. 1^.30.

Saul veyo amoeftar outro Profeta •, David diíTe; 'Pec^ ^•i^v/ , Pequei •, Saul diíTe: SP^rf^w, Pequei. Pois íe os cafos em tudo foraó taõ fe^

pof uli meu & coram Ifrael. Pequei : mas vòs Samuel tratai de minha reputa- ção, & honraim^ com os grandes, & povo de meu

melhantes , como perdoa Reyno, Ah fim Saul, & vòs Deos íw David , 8c naó per- depois de dizer Tecca-vi , doaa Saul ? Se IwxmTccc^- depois de vos pores em

liiij cila-

156

Sermão da qitarta T>omin^a eftado de penitente, ainda executo o caíligo ? Quem

vm

ii

vos lembra reputação , ainda fazeis cafo do que diráõ, ou naó diráó de vos os homens ? Sinal he logo , que naó he verdadeira a voíTa penitencia , & que aquelle Teccavi nafceo na boca, &: naó no coraçam. Quem chega a eftar verda- deiramente penitente , quem chega a eílar verda- deiramente arrependido, como eftava David , nam lhe lembraó mais, que os feus peccados : Teceavi: naófc lhe dado quejul- gaó, nem do que dizem os homens.

§. VI. 121 AS razoes de- JTx.^^ verdade £ió muitas, & grandes, ou- vi as da minha tibieza,que a quem tiver mel hor efpi- ritolhe occorreráó outras mais,& maiores. O verda- deiro penitente, elle mef- mo fe açufa,& fe condena : que fe lhe logo, que di- gaó outros o que elle con- ; fefla de fy ? Que importa , que outros levem o prc

fe confeíía por Reo, nam lhe fazem aggravo as te- ílemunhas. Se hum ho- mem eílà verdadeiramen- te arrependido , fe conhe- ce vercLideira, & profun- da mxente fuás culpas , nun- ca ninguém dirá delle tan- to mal, que elle fenaó jul- gue por muito peor.E que fe julgado mais benig- namente do que fuás cul- pas merecem , antes tem razaó de agradecer, que de queixarfe. Por iílb os grá~ des penitentes naó fe quei- xavaó das injurias Julgue-, & diga o mudo o quequi- zer, que nunca poderá di- zer tanto mal , quanto eu fei decerto , que ha ei"a mim.

12 2 Nenhúa coufi de- fejamais hum verdadeiro penitente, que tomar vin- gança em fy das injurias de Deos : 6c como o juizo dos homens fe põem da parte deíla vinííanca , a ntes nos ajuda , que nos ofícnde. Quem fenaó aborrece a fy, diz Chriílo , naó me

gaó , quando eu mcfmo pòdcfcrviraiuim.Ohco-

mo

ão Advento. \^j

mo fc aborrece a fy , & co- máos, nem bons , que cafo

mofe aborrece de fy, hu in verdadeiro penitente ! E que fe meda a mim , que fejabemjou mal julgado, quem eu aborreço ? Se eu conheço verdadeiramen- te a deformidade de mi- nhas culpas 5 naó hey de aborrecer mais a quem as fez, que a quem as diz?

123 O verdadeiro pe- nitente fó hua coufa eíli- ma,& hua coufa teme nefta vida : eftima o que pode dar graça de DeoSjSc

ha de fazer deíle juizo o verdadeiro penitente , o qual hua coufa defeja j queheferbom -, ^íó ào, húa coufa lhe pefa , que he ter lido máo.

124 Feche todas eílas razoens hua maior que to* das. O juizo dos homens por mais que vos co-ndc nem, pódevos impedir o Ceoj ou ievarvos ao Infer- no ? Naó. Ponde agora de hua parte todos os juízos dos homensj & da outra os

teme o que a pôde tirar, voífospeccados , ^ per-

E como o juizo dos ho- guntai-vos a vós mefmo ,

mensnaô pôde dar , nem quaes deíles deveis mais

tirar graça de Deos, que fe temer. Os juizos^ àas ho-

Ihe ao penitente do jui- mens, ainda que façaó to-

zo dos homens ? O j uizo do o mal, que demjnemi

dos homens, quando mui- podem dar Inferno, neni

to lhe demos,poderà fazer tirar Paraifo: os peccados^

mal, mas naó pode fazer máos. Seeufou bom, por mais que me julguem mal os homens,naó me podem fazer máo. Seeufou máo, por mais que me julguem bem os homens , naó me podem fazer bom •, & co- mo o juizo dos homens naó tein poder para fazer

ainda que acheis nelíes todos os falfos bens , que vos prometem, ú\qs ti- rão Paraifo, & daó Infer- no. E como o verdadeiro penitente eftà vendo, que ioosfeus peccados o po- dem tirar do Paiaifo, êc ie- vallo ao Inferno j que cafo ha de fazer dos juizes dos>

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158

homens ? íirn, & dospeccados, porque por clics o pôde condenar Ocos. E quem teme, que o pôde cõdenar Deos,naófclIiedàj que o condenem os homens.

i2f

Sermão da quar ta dominga Dos peccados tes: tal hia David naquelle paííb dcfcalço , & choran- do feus peccados. QLiem conhece,que temoíYendi- do a Deos, nenhúa coufa o ofFende. Aílim dei prezava Davido juízo dos homés. 126 DaMagdalena §. VII. quem o poderá explicar c5

a ponderaçaójque merecei*

SUppofta a ver- HQa fenhora taó principal dadedeíladou- enijerufaiem^taò fervida, trina, que poucos, & que taóeílimada ,ta6 dada à poucas penitentes verda- vaidade,& gaias > quem a deiras deve haver hoje no viíTe com o toucado def- mundo, onde tanto fe tra- prendido , com o veílido ta de agradar,& conten- fem concertOjpela rua fem tar aos homens! Vejam-no companhia, em caía do OS homens em David, Ôc Fariíeofem reparo , toda as mulheres na Magdale- fora de fy (^ ou toda dentro na. David, que pouco cafo em fy, porque toda era co- fez das injurias de Semey! raçaó naquella hora } os DiífeSemey a ElRcyDa- cabellos dcfcompoílos, (3 vid em feu próprio roílo as alabaftró quebrado , os

injurias, que fenaó pode raó dizer ao mais vil ho- mem : quizeraô remeter logoaelleos queacompa- nhavaóao Rcy, para lhe tirarem a lingua,&: a vida : &qvic fez David ? Teve m a ó n cl 1 es, pa ra que o d ei- xaílem dizer. As injurias

olhos feitos dous rios, lan- çada aos pês dcChriílo, abraçando-os, & abraçan- dofecomcllcsj que diria? Valhame Deos, Senhora, que mudança hc eíla.^Naó vedes quem íbis ? Naó ve- des o que fazeis ^ Naó vc- dcs o que dinió os ho'"!!! és ?

faô a muíic?. dos pcnitcn- Não ; nada vejo^quc quem

vio

do Adwnto. i^^

vio feiís peccados, naó lhe rar, os irmãos. Nos Fari-

íicaó olhos para ver outra coiiHi. Naó vejo o que fou> porque vi o que fui ^ naó vejo o que faço , porque vi o que fazia. vi tudo o q havia de ver nefta vida, & prouvera a Deos -, que naó tivera vifl:o t^nto. naó faço cafo dos homens, nem dos feus juízos ; digaó oquequizerem.

127 Três vezes foi a Magdaíena julgada, & eó- denada dos homens. Jul- gou-a,Sc condenou-a o Fa-

feos condeneme a malícia, nos Apoílolos condeneme a virtude, na irmãa conde- neme a meí ma natureza ; que a quem tem maiores caufas para fentir,naó lhe daó cuidadoeíras.QuandO' as dores íàó iguais,fentem- fe todas , quando liúa he maior, fufpende as outras. A dor dos peccados, fe hb verdadeira, hc a maior dor de todas, porque tem ma- iores caufas, & a quem ver- dadeiramente lhe doem

Luc.7.

Matcb. 2(5.8.

Lucu),

rifeojcham andolhe pecca- feus peccados, nenhua ou- dora: ^uUpeccatrix efti tracoufalhe doe. Afetta

Juigaraó-iia , & condena- raó-na as Apoílolos , cha- mandolhe eTperdiçada: Vt qíãdperdítiab£r.]\i\^Q\x-2y &condenòu-a fua irmãa, chamandolhe ocí®fa : Re- Uqtíít me folam mmiftrare. Tudoifto ou vio fempre a Magdaíena, mas nunca fe lhe ouvio húa palavra: como fe refpondèra com o feu íliencio: Condenem me embora os Farifeos, condenem- me os Apoíto- íos , condenem -me os de que meãos fe podia efpe-

que ferio o coraçaó,defen- de de todas as fettas > por- queainda que achem cor- po>jà naó achaó fentimeii-^ to_: faça os tiros que qui^en o juizo dos hòm.ensí <iUe fej o coração eílà ferido áè Ekos, ou naó oíl endem,! óu naó magoaó. O amoá he hum fentimento , que faz íttíenfíveis : poriílb íe^ compara à morte. A mor- te faz infèníi vela que ma- ta, o amor iníèniivel a quê ama. Q«em trata de amar a Deos ,fó fente ha- vei!^

vcllooífendido : a tudo maisheinfenfivel.

127 Exemplos tinha cmfymefma a Magdale- naj&: poderafe argiimen- rarafy coníigo. Que im- porta parecer mal aos ho- mens, fe eu parecer bem a Deos? Que importa pare- cer mal aos demaisj íe eu parecer bem a quem amo ? Quantas vezes nas minhas locuras fegui os defprezos deite di£lame? E fera bem, quefeja agora menos ani- niofo meu amor, & menos refoluto? Se eu naó repa- rei no que diriaó os homés

Sermão ãa quarta dominga

cres vezes eftava a Mig- dalenaaospés de Chrjíío, Oh que grande remédio íaó ospèsdehumChriílo para hum homem fe lhe naódardosjuizos dos ho- mens í E fe ifto faziaó os pès de Chrifto vivo , quã- tomaisospèsdehú Chri- fto morto, & crucificado ! He poíUvel, Senhor , que eftejaisneíla Cruz julga- do, &: condenado, fendo a mefma innocencia,6c eu naó fofrerei fer juIgado,8c condenado, fendo pecca- dor! Se a vós vos julgaój & condenaó pelos meus paraoffender a Deos> re- peccados, porque hei de pararei agora no que di- íentir eu, que me julguem,

zem, ou no que diráó para obuícar? Naó reparei em que diffeílem, que era pec- cadora , & repararei em q digaó, que fou arrependi- da ? que fofri, que mur- muraíTem o peccado , naó he menos, que calumniem a emenda?

128 Ifto dizia o filen- cioda Magdalena as três vezes, que a condenarão os homens. Ehe muito de notar, que de todas cftas

& me condenem pelos meus? Emvòs eftou ado- rando as injurias , & as afrontas 5 & em mim naó as hei de fofrer ? Para vos oíi"cndcr,6c me perder5naõ reparei no que diriaó os homensi &: para vos amar, ôcmefalvar, repararei no quediraó?Naó he ifto o que vós me cnílnais nefia Cruz.

129 Ouvi húa coufi

grande, cm que parece,

que

Exod.

Advento. i^j

que mudou de condição Quereis ir ao mudo ? Que-

Deos. Quando Deosquiz reis aparecer entre os lio-

caftigar o poyonodefer- mens? E não reparais no

to, allegoulhe Moyfes o que diráó, & he certo, que

quediriaó os Egypcios: haó de dizer de vos ? Haõ

Nequ£fo dicãt <:j)Egyptij i dizeri, que fois hum Sa*-'

^deixou ó Senhor de os màritano, & endemoni-

Jofu 9-

Pftlm. 78.10.

caíligar. Quando Jofue te ve a primeira rota na terra de PromiíTaô , allegou a Deosoquc diriaó os Ca- naneos: ^id fades mag- no nomimtuo;Sc continuou o Senhor a favoreceJo. Quando o Rey no de Ifrael

nhado : Samaritanus es tUy^^^^ g, & T)/emomum babes ; ha54S. " '' de dizer, quefoís blas- femo ; Blasphemavit 3 haó fô!^^; de dizer, que fois humeri- ganador : Sedutor tile 5 haó ^^"^^ de dizerjquefoishum per- *^"^^*

^_ j ._ ... ^.^. turbador da Republica :

eílava mais .afli£to , repre- Subvertentem gentem no- ^^^''^^'^ íentouDayidaDeosoqiíe firam haó de dizer, que

ttnàç,s padlo cóo Demó- nio : InBeelzebub Trincipe lucúj ^amoniorum ejicit ^^- 'f- nionia 3 haó de ^áizer, que TOS naó podeis íalvar : Se^^^: ipfum non poteftfalvumfa -

x„ ' o ^^^^ ; haó de dizer iiíial-

NedicdnfyO que diráó os mêteiníinitos opprobrio^ homens. Determina Deos contra vos : SuturabãiM^^'^^

oppTobrijs, MáiiHaíe díe^^^"^ levantar hum Arrio, que> ha de dizer, que naó fois- confuftancial ao Padr^^i haíède^íev^anta]:- hum líMieoyqueha de dizérs que naó fois horaemj hafe de levantar hum Nefto„^* rio-»

diriaó as Gentes ; Ne forte dicant inGentibus-i^ ceííbu a aflição. De maneira,que o remédio , que tinhaó os Patriarcas antigos para alcançar Deos o que queriaó , era alíegarlhe hu

de vira terra a remir , & falvar o mundo 3 6c fe alli feachaíle Moyfes, Jofue, ou David com o efpirito profético, que tinhaó, pa- rece quíe poderão íazet*^ Deos a mefma replica. Como aíFím , Sçnhor ?

,VÍi'i

l^t Sermão

rio, que ha de dizer , que naófoisDeos; hafe de le- vantar hum Cal vino, que ha de dizer, que nãò eftais no Santiííimo Sacramen- to j haofe de levantar infi- nitos Hereílarcas outros, que haó de dizer contra VoíTa Divindade, 6c Hu- manidade infinitas blasfé- mias. Pois fe Deos eftava prevendo tudo iílo j & le antigamente podia tanto com Deos o que diriaó os homensi porque agora faz taò pouco cafo do que di- rão? Porque antigamente cncontravafe oquediràò dos homens com o noílo caftigo , agora encontra- vafecomo noíTo remédio: & quando o que diráó dos homens fe encontra com o noíTo caftigo , deixa Deos de caftigar pelo que diráó : mas quando o que diráó dos homens fe en- contra com o noílb remé- dio, pelo que diráó os ho- mens, naõ deixa Deos de faivar. por diante o ne- gocio da faivaçaój&digaó os homens o que quizeré. Çljriftãos , ha alguns de

'arta^omínxà nós tao pufillanimes, que por medo do que diráó os homens deixamos de fa- zer muitas coufasjque im- por taó à noífa falvaçaó. Deos nos livre de hua co- vardia como efta. Faça- mos por noíTa falvaçaó, o que Deos fez pela noíla. Deos por me faivar a mim, naófez cafo dojuizo dos homens, &ferá bem que o faça eu ? Façafe tudo o que forneceífario à falvaçaó, êcdigaó os homens o que quizerem. Que importa fer bem julgado dos ho- mens , fe vós naó vos faU vais ? £ fe vos vos falvais , que importa fer mal jul- gado dos homés? Eis aqui comoojuizo dos homens fe defpreza no juizo da Pe- nitencia: Tradicans bap^ tí/mum 'Panitenti^e.

C Mendado no

^5^ -

juizo da Peni- tencia o juizo de fy mef- mo,&dcfprezado o juizo dos homens •, refta por julgar o juizo de Dcos,quc

CO-

w

BééMI

ào Advento^. v, 145

como temos dito ha de fair grandeza,&temerofa Ma-

revogado nelle juízo. Os outros dous juízos entra- rão a fer julgados, & apa- recerão diante do tribunal da Penitencia. Do juízo de Deos naõ fei como me atreva a dizer outro tanto. Naó he o juízo de Deos aquelle juízo fupremo , q naó naó reconhece fu-

geftade, que no ultimo ài% do mundo o fará horrível j & tremendo. Naó traz di- ante as varas , & fecures Romanas , iníignias da fu« premajuftiça, & authori- dadejmastraz aquellaeí^ pada de dous gumes : Gla- k^oci2 díus exutrat^ue parte àcu-'^^'^'^'^^- tus : que ligniíicaó as duas

perior, mas nem pôde ter penas de dano, & de fenti

igual no Ceo, nem na ter- do, a que o juízo de

ra .? Náo he o juízo de Deos>& nenhum humano,

Deos 3 de que falíamos, pôde condenar naó os

aquelle ultimo, & univer- corpos, mas também os ef-

fal juízo, onde fem appel- pintos. Oh que authori-

laçaó,iiem aggravo , fe dadetaó fevera í oh que

iaó de abjíbIver,ou conde- nar para toda a eternidade aquelies, que nelle forem

jurdiçáo taó horrenda \ oh que inílru m entos taó for- midáveis ! Se aílim faz tre-

julgados, que haó de fer mer o juizo de Deos quá-

todos os homens ? Pois co- do aparece a fer julgado ,

mo pode fer, que haja ou- que fera quando vier a

trotribunaljQomundo,em julgar]

queafentença defte juizo fe revogue 5 ou como pôde fer revogarfe >

131 O como veremos logo : agora vejamos en- trar o juizo de Deos , & prefentarfe diante do tri- bunal da Penitencia, acõ-

132 Mas qu e faz a PèV nitencia, ou que pôde fa-r zerpara revogar efte tao abíblu to,& taó indepêdenr te juizo > Faz quafi o mef. mo que para os demais. Para emendar o juizo de ^y mefmo , abrenos os

panhado de toda aquefía olhos ; para deiprezar q

loel.2.

IO.

Í44 Sermão da quarfa^ominga

juizo dos homens5tapanos ftinebit enml conclue com

òs ouvidos: para revogar o eílas palavras : 'Ktmc ergo ,

juízo de DeoSj vokanos o dicit T>ommus y converti-

coração. Em dando húa mini ad me in totó cor deve-

volta o coração, eílà o jui- ftro. Vedes todos eftes ap-

zo de Deos revogado. Fal- paratos , todos eftes rigo-

Ibid. 1 ;

la o Profeta Joel à letra do juizoíinalde Deos : à^í- creve o Sol,a LuajSc as Ef- trellas efcurecidas , & o Ceo,&:aterra tremendo à íua vifta ; Afacieejus con- tr emiti t terra^motifimt Ca- li : SoUér Luna obtenebrati funty& StelU retraxerunt fplendoremfuíim : defcreve os exércitos innum craveis de Anjos armados de ri- gorjSc obediência, de que o Senhor fahirà acompa- nhado como executores

reSj todos eftes afibmbros de ira, de juftiça , de vin- gança .^ com dar húa volta ao coração eftà tudo aca- bado. Voltai o coração a mim,ou voltaivos a mim com o coração , diz Deos , & toda a íentença que efti- verfuhninada contra vos nefte meu juizo, ficará' re- vogada : Nunc ergo , dicit T^ominus^ convertimini ad me intoto corde vejiro. No^ t^io nunc ergo : pelo que agora : de maneira que a

de fua juftiça,6c vingança : penitencia ha de fer ago Seminus dedit "vocemjuam ra,&o juizo ha de fer de

antefaciem exercitus fui^ qitia multafunt nimiscafira ejusy quiafortía , érfacien- ttaverbumejus : defcreve finalmente a grandeza, & terribilidade daquelle te- merofo dia : Magnus enim dies Thmini , ò' terribilis íbiJ i^. «jalde: & perguntando que haverá no mundo, que o

pois. Efta dift<:rença ha entre o juizo de Dcos,&: o juizo dcs homens: no jui- zo dos homens appellafe depois, no juizo de Deos appellafe :^ntcs. Nunc ergo: Agora, agora, Chriftáos; que agora he o tempo -, & porque agora fim , & de- pois naó ? Porque depois

poffa foportar : Et qtusfu^ luò pôde haver pcniten»

cia.

1- '■ doAd^ventd. 145-

Ati ficin. Se depois do dia do defmedidamente grande^ .'juizo pudera haver peni- que naó pode chegar à

tencia, poderafe revogar a íentença do juizo de Deos: mas a razaó porque aqueí- lafentença fenaó poderá revogar entaó > he porque náó ha tribunal da Peni- tencia fenaó agora : Kunc ergo. Mas vejamos os poderes defte tribunal.

praça, onde eflava o Paço, menos que ao cabo de crés dias. Soou a fentença nos ouvidos do Rey, & que vos parece, que faria ? De- cefe do tronoReal em que fe aílentavaó fcmpre os ReySy conforme o coftu- me daquelles tempos ; raf-

por hum exempio> & fej a o ga a Purpura, veftefe de hu iiiãior, que ouve nomun- afpero cilicio ^ tira a Co- do-idaimç áttençaó, > roaj lança da mão o CetrOi

cobre a cabeça de cinza: &: malida que vaó feguindo a Jonas com outro pregão, em q íedigãi que faça to- da a Cidade o que ElRey fazia. Ò pregaó de Deos hia diante , o pregaó do Rey hia atraz : o pregaó de Deos para fe executar dal- li a quarenta dias , p pre- gaó do Rey para que fe £xecucaíre Ipgo, & alllm fe fez. Veftiofe de cilicio a Rainha , veíliraófe de ci- licio as Damas, veíliraófe de cilicio os Cortefaós, ve- íliofe de cilicio todo o Po- vo 5 &o que fenão poderá crer, fe o naó differa a Ri- çritura, veíliraófe, & cu- K brifaòfe

^. IX.

Oi' j . •. - . - . ... . ■:.■ _ i .:\ ^. ^f 331 CNcraô Profe- •il^íii-. - JCLca Jonas: :prê- gandò,ou apregoando pe^ Ja Cidade de Ninive:^'<3^- huc quadragmta dies , á* Mtnive fubvertetur: Daqui a quarenta dias fe ha de fo? verter Ninive. Era eíla; á fentença, que eílava dada no tribunal da divina juíli- ça pelos peccados daquel- Ja Cidade,&: o Profeta naò fazia mais , que officio de hum notário de Deos, que a publicava. Com eíle pre- gaó andou Jonas por toda a Cidade , a qual era taa Tom. 7.^

1 46 Sermão da (quarta T^ominga

briraõfe também de cili- mento algu m. PaíTouaíllm

cio, para horror, & aíTom- bro dos homens , atè os mefmos animais. Defta maneira foi paífando a Ci- dade todos aquelles qua- renta dias em continuo je- jum, em continua oraçaó, em continuas lagrimas, & clamores ao Ceo. Chega- do o ultimo dia, retirouíe Jonas a hum monte, para ver como Ninive fe fover- tia: Aportara elle às prayas de Ninive, fupponhamos, que às nove horas da ma- nháa , & quando ou vio dar as oito daquelle dia : Ab mifera Cidade, quejánaó tereftamaisquehúa hora de duração ! fe a fuf- penfaóem que paíTaria o Profeta toda aquella hora. Tocãoásnovc : eis vai Ninive. Aílimfe lhe figu- rou a Jonas quafi deflum- bnido entre o lume dos olhos,&o da profecia;mas Ninive ainda Ic tinha mão. As fuás torres eíla- vaó mui direitas : os mu- ros eítavão muito firmes: &: nem a cafa que dantes citava para cair fez movi-

a primeira hora ,paííbu a fegunda,paírou o dia todo, &:Jonas a benzerfe , & a pafmar. Queheiílo , Se- nhor ^ Que he da de vof- fas palavras ? Que he verdade de voíTos Profe- tas > Náo eftava determi- nado no tribunal de voílà divina juítiça, que Ninive foíTe fovertida por feus enormes peccados ? Não eftava alUnado o termo precifode quarenta dias, para a execuçaó.^Não efta- va notificada por voílb mandido efta fentenca ? Nãoíbueuo que apubli- quei.<^Pois como agora fal- ta tudo ifto ^ Como paíTaó os quarenta dias > Como fica a minha profecia fem comprimento ^ Como fica Ninive em , & a vofla palavra por terra? Se o dif- feílesjfoi porque otinheis decretado-, 6c fe o tinheis decretado, porque naó fe executou ? Porque o Rey, & Povo de Ninive foraó táodifcretos, que fcndo- Ihc notificada a fentenca do juízo de Deos, apocllá- raó

34

ãúAãtíentê. 147

f áo para o tri bunal da Pe- dere excldkm > quiafejpon^ nitencía. E he táo fupo . ^ ^

rior a jnrdiçáo do tribunal da Penitencia , que o que nojuizode Deos fe fen- tencea, nojuizo da Peni- tencia fe revoga. DiíTefu- perior , porque fe eíles dous juízos foraóiguaes, aílim como no juizo da Penitencia fe abfolve , o que no juizo de Dcos fe condena j aílím nojuizo de Deos íe podéra conde-

tanets luBibus cruciando dívinamfententia-m prave- neruntfua. Os Ninivitas , diz S. Paulino , impedirão a execução do caíligOjque jàlhe eílava denunciado , porque condenandofe a voluntária penitêcia , pre- 1'^eniraó a fentéça de Deos com a fua.De maneirajque por beneficio da Peniten- cia pode mais a fentença, que os Ninivitas deraó

narjO que no juizo da Pe- contra fy, que a fentença ,

nitencía fe abfoiveíTe: mas he taó fuperior o juízo da Penitencia febre o mefmo juizo de Deos [ por excef- íb de mifericordia fiia ] q o que no juizo de Deos fc condenajno juizo da Pe

que Deos tinha dado con- tra elles; ^ ivinamjent en- fiam pravenerunt Jua. Oh grande dignidade ! oh gra- de foberania da Penitéciaí No juizo íínal de Deos C ide notando comigo grã-

nitencia pòdefe abfolver 5 des diferenças, & grandes mas o que no juizo da Pe- excellencias do juizo da riitenciafeabíolvòínojui- Penitencia fobre o juizo zo de Deos naó fe pôde de Deos. ) No juizo final condenar. Bemdito feja de Deos, não he licito ap- elle: §lui dedit fotejtatem pellar de huni attributo

divino para outro atf ribu- to. Não he licito appellar da jufl-iça de Deos para fua mifericordia : no juizo da Penitencia , he Ikito ap- pellar da juíliça de Deos, K ij para

talem kommibu^y^^i - 1 3 f Tu do o qbè tenh o dito he literal •, mas ouça- mospara maior confirma- ção a S.Paulino : Niniijit£ meruerunt denunttatú eva-

i

II*

^ 4^ Sermão da -quarta T>07ntnga

para alminha juííiça. No Deos huns fahcm abfol-

juizofinaJ de Deos naó fe pôde appellar do Fiiho para o Padre, nem do Pa- dre para oFilho,neaido Padre, & áo Filho para o EfpiritoSãtOj emfumnia^ no juizo de Deos naó fe pode appellar de Deospa- ra Deos: no juizo da Pe- nitencia pojfTo appellar de Deos para mim. No juizo final de Deos íaô condena- dos os peccadores a nani vera Deos j no juizo da Penitencia faó condena

tos, outros fahem conde- nados j no juizo da Z^eni- tencia ninguém fe conde- na, todos fahem abfoltos. No juizo final de Deo^j manifeílãofe os peccados; a todos os homens \ no jui- zo da Penitencia maiúfe- ftaófc a hum fó4i£)mem. Finalmente no juizo final de Deos, Chriílo ha de fer ojuiz*, no juizo da Peni- tencia , Chrifto he oavo- gado: Si quis peccaverit^ad- iJocatU habemtts apnd Ta- loana.;

dos os peccadores a naô trem Jeftm Chrifium ju

o ofFenderrque fuaveco- 7?«;^. Vede com tal avoga4

denaçáo! No juizo final de do no tribunal da Penité-

Deos naó aproveitão ia- cia,quedifferença haVerà.

grimas, nem prantos ; no doavogarao revogarlCo-

juizo da Penitencia baila mo naó fera revogado o

húa lagrima para todos juizo, aonde he avogado o

os peccados do mundo. Juiz ! aífimfe revoga o jui-

2.1.

No juizo finai de Deos não yalem interceíToens > no juizo da Penitêcianaó faó neceíla rias. No juizo .final de Deos condenaófe os peccadores pelos pec- cados j no juizo da Peni- tencia condenaófe os pec- cados, &■ falvaôfe os pec- cadores. No juizo final de

zo de Deos no juizo da Penitécia : Tradicansbap- tifmuín panitenti/e. E te- mos o juizo de Deos revo- gado,o juizo dos homens deíj>rezado , &: o juizo de fy mefmo emendado.

5.x;

^

eílãoin Ditos tem chega- do i para os que eíláo mor- rendo ckega^ para os que élláo YÍ¥0s' V èm chegado ) A huíis checará mais íedoi a outros n\ :: is tarde, mas a todoj»inuito brevemente: Efta he a cófideraçãamais nitenciai& fuppoílo que poderjofa de todas , para- elles faô taó grandes , que rios mover' à penitencia

í. X.

iOliíi o:íí> ,. ?Àcjq

fuppofto que todos os m2 ! ^^ , 6c perigos que temos viíi^ neílesjui zos tem o remédio lui

^.^re-f

abração todos os bens da vida, & todos os da eter- nidade i que refta a quem tem fé, ^ a quem tem ef- perança , fenaó tratar de fezer penitencii ? y^gite píenitétiam approp^nqu i'va\ mim Regnmn dekrvin : fa-i

Zêi peniten c i i, p.orqr e h'iá chegado o ReyrK^-uí) Ceíi^v Ha mil 5c fciíi. "'>.ros nos, que o Brj„.r: ^.i8b eftas palavras , 5r nó^ cita-^ mos dizêdo todos os dias : Adveniat Regmim tuum. Pois fe o Rcyno entaó era chegado, como pedi- mos nós ainda agora, que

Façaníos penitêcía , C hri- ftáos, não nos ache a mor- te impenitentes. Nenhum Chriftão ha, que não digi» que ha àc fazer peniten- cia , m?.3 nenhum a queií co.acç?i ' jgo, todos a dei-» ySxo pai. o fím da vida: "Ei'£dií.:KS baptífmum p^r .... iici:ntíi€m rjmJJIonem pAC". agi: ,íç'S^ír]?/35%:íiÊb£atóíla prèás givabautifmo de penité- €Í:- para remiíTaó dos pee- cados. Se queremos remií- feòdepeccados, tomemos a penitencia como bautiA mo. Todos queremos a penitencia como Extre-

venha?0 Reyno dos Ceos ma-unção, para o fím da emtodos os tempos, teni vida : naq fe .ha de tomar

tit:s eftados : hum em que tem chegado, outro em q chega , outro em que vem, chegando. Para os que Tom./.

íènaócómo bautirmojque náo he licito dilatallo a quem tem fé. Se tendes como naõ fazeis peniten- K iij cia?

i

V7^'1

Tf O Sermão da quarta T>omhiga

cia?E fe tendes propofico Que motivos de vos con-

de a fazer, 6c de vos con- verter a Deos, para quan- do a dilatais ? St aliquando curnon modò^ dizia S. Ago- llinho. Se me hey de con- verter em alg4jm tempo,

verter haveis de ter de- pois , que agora naó te- nhais ?Se depois haveis de fazer verdadeira peniten- cia, a qual naó pode fer verdadeira, fem verdadei-

eíTe tempo porque náo fe- ra contriçãojha-vos de pê- ra hojer Efta pergunta naó far de ter oiFendido a Deos

temrepoíia. Nem o mef- mo Santo Agoftinho lha achou j nem os Ariíloteles, nem os Platoens, nem os Anjos do CeOíneniomef- mo Demónio do Inferno lha pode achar jamais pa- ra nos enganar. ; 137 Chriíláos da mi- fíhà alma, fobre t3ntos jui- zos>bem he que venhamos a contaSv Se me ouve algu, que efteja refoluto de nam fe converter mais 5 naó fal:ocomeilej mas fe ten- des propoíitos de vos con-

por fer elle quem he ; pois Deos hoje não he o meí^ mo, que ha de fer depois? Náo he a mefma Magefta- de, náo he a mefma gran- deza^ náo he a mefraa om- nipotência / Náo he táo bom, não he táo amável, como ha de fer entáo ? Pois fe entáo o haveis de amar, porque o náo amais agora? De maneirajpecca- dorjque Deos então ha de fer digno de ícr amado fo- bre todas as coufas,& ago- ra he digno de fer otFendi-

verter.\S> ãltquarJo cur non do em todas / Si ah quando

modo ? Se tendes propofi- cur non modo ? Mais : fc de-

tos,& dizeis , que vos ha- pois vos haveis de arrepê-

veis de converter depois, der bem, & verdadeira-

porqueonaó fazeis agora.^ mente , he força que vos

Que motivos haveis de ter pczedetodoo coração de

depois, que agora náo te- vos não haveres arrcpen-

nhais.^ Apertemos bem ef- dido agora : pois que locu-

te ponto : cílai ' ' ' '

comigo.

ra hc eílares agora fazédo ror

por voíTo gofto , & por eííaidadeimasfcao Infer-

voíTa vótade aquillo mef- no fe vai de, fete annos,

mo, que , nefta hora eílais porque feha de guardar a

propondo de vos pefar de- emenda para os íecenta?

pois

de todo coração ? Ou Pois fe as meímas razoes,

entaó vos ha de pefar > ou & os mefmos motivos,que

naó : fe vos ha depefar, havemo» de ter depois, te-

condenais-vosj& fe vos ha mos agora, fe entaò nam

de pefar, 6c propondes de havemos de ter neníium^

vos pefar, porque o fazeis? coufa mais> que agora, fal-

Se vos ha de pefar depois mais peccados q cho-

do prefente , porque vos rar^Sc mais culpas de que

naó pefa agora do paífado? nos arrepender :Sí aliqu^

Si ali quando ciir non modo ? do cur non modo 7

Mais : fe os motivos voíTo arrependimento naò haó de fer contrição per- feita, nem amor de Deos fobre codas as coufas,fenaó temor das penas do Infer

do cur non modo ?

138 Mas atègora hi- mos argumentando en^ húa fuppoíiçaó,que eu naò quero conceder daqui por diante , porque vos quero defenganar de todo.Quem

no fomente: Si aliquando á\z\ Si aliqttando cur non

cur non modo ? Se por tei- modo : fe vos haveis decó-

mor do Inferno voshaveis verter depois, porque vos

de arrepender entaò', por- naò converteis agoraj fup-

quevos naó arrependeis põem que fe vos naó con-

agora por temor do Infer- verteres agora , que vos

no ? Por ventura foftes haveis de cóverter depois,

ao Infernojôc perguntares Eu naó quero admitir tal

pela idade dos que eílaó fuppofiçaó 5 porque quero

ardendo ? Se no Inferno rnoftrar o contrario. G hri-

naó ardem fenaó os ho- mens defetenta, & de oi^ tenta annos , guardai em- t)oraa volla emenda para

ftáosj fe vos não converte- res agora , ordinariamente faIlando,naó vos haveis de converter depois. Deme K iiii li-

i':

Nfii

'^1f.

ml

MS

r,u

^*^ . Serniâõ da quarta T)ommgà

licenças. Agoftinho para defefperara ningiiem,né

trocara fua pergunta , & quero dizer, que a falvacaó

apertar mais a difficulda- naó he poílivel em todo

de. S. Agoílmho diz : Si tempo : o que vos quero

atiquandocnrnonmodÒ-.Ãt perruadir,he oque dizem

nos havemos de conver- todas as Efcrituras, &: to-

ter depois,porque naÓ nos dos os S^intos. Que os que

convertemos agora ? Eu deixão a penitencia para a

digo : Si non modo cur ali" hora da morte , ou para o

quando / Senão nos cóver- fím da vida, tem muito ar-

temos agora , porque cui- rifcada fua falvacaÓ, por-

damos, que nos havemos que raramente fe falváo:

de converter depois ? As Si non modo cur aliquando?

razoens, que haveis de ter Senaó vos converteis ago-

depois para vos converter, ra, que tendes vida , como

todas eífas, & muito maio^ vos haveis de converter

'retendes agora : pois fe depois, quando pode fer,

■eítasi-;?âzoens naÓ baftaó que a não tenhais? Dizeis,

♦pafa-v<)S converter agora: que vos não convertei^

comohaõ de bailar huma- agora, mas que vos haveis

namentepara vos conver- de converter depois- acíe

terdepois? Aforra defta o depois fora o;ora?Sem-or-

razaó fez enforcar ajudas, reres no eftado prcfcntc,

-Fez/udas confígo eíte dif- fe naô chegares a eíTe de-

-<:urro : maiores miotivos do pois, que ha de fer de vós ^

que eu tive para me con- Quantos amanhecerão,.^

•vercerínão faó poíTiveis, naó anoitecerão IQiiantos

a^orq tive o meímo Chn- fedeitáraóà noite, & nam

i-l^/f^"^ P^^ : pois fe JelevãtáraÕpekmenhãa!

Chriítoameuspèsnaófoi Qiiantospoítos i meíli OjS

-baftante motivo para me - afogou hum bocado! Quá-

converter, naó me íica que tos indo por húa rua os fe-

efpcrar , venha hiim laço. pulrou húa ruína ! A quã-

•• Chriíláosj cu> nani quero .. tos levou húa baila naó ef-

t ^* *' perada!

do Advento. if^

perada! Quintos endou- deixar com o juizOjSc com

ciecéraó de repente ! A quantos veio a febre junta como dilírio ! A quantos hum efpafmo, a quantos liua apoplexia ; a quantos infinitos accidêtes outros,

a liberdade , que pede a matéria de maior impor- tância: quando aspotê- ciasefbaráófórade feu lu- garj&vós mefmo não ef- tareis em vós , como cui-

que ou tiraó o ufoda ra- dais, que vos podereis záo,oua vida! Todosef- verter entaó? tescuidavaò, que haviam

de morrer húa morte ordi- nária 5 como vos cuidais : & quem vos deo a vòs fe- guro, de que vos naó ha de í u ceder o mefmo ? Si . nan modo ciir aliquído ? Se ago- ra que eftais faòs c5 o ufo livre de voíTos fentidos^Sc potencias,vosnaó conver- teis, como cuidais que vos haveis de converter na hora da morte, cercado de tantas anguftias, & de tan- tos ellior vos, a mulher .V os filhos, os criados, o íeíla- mento, as dividas, os acre- dores, o Confeíror50s Me- dicQS>afebre, as dores, os remédios, a vidapaílada, a conta quaíi prefente. Quando todas eílas couías juntas , & cada huà delias baftaráo pa ra perturbar, & ,pafmar húa alma j & naó a

verter então;

139 Mas eu vos dou de barato ávida, & aíau- de, &o vigor das poten- cias,&:dosfentidos 5 mais ha que ifto. Para hum ho- mem fe converter, naó ba- ila fó vida, &raude, &jui- zo, mas he principalmen- te neceíTaria a graça de Deos. Voisfinonmodò cur aliqufindo ? Se agora que tendes oítendido menos a Deos , Deos vos naó graça eíiicaz para vos con- verteres, que fera quando ;o tiverdes oífendido mais? Parecevos que he boa di- ligencia multiplicar as of- fenfas de Deos para gran- gearagraça de Deos ? Se ides contmuando aíHm, não ha duvida, que depois haveis de fer m u i to peor , ainda do que fois agora: pois fe agora que fois me- Ihor^

If

Jfíil

i

'si. ^;

1 5'4'» SerMao da quarta dominga lhor,ou menos máo , vos para vencer eíles inimi-- naó converteisjcomo o ha- gos fomos taó loucos, que veis de fazer depois, quá- efperamos,queelles fe fa- do fordes peor ? Os pecca- ção Gigantes ? Se agora , dos quanto mais cótinua- queospeccados eftáome dos, tanto mais endurece , nos robnílos , & crecidos , &obítináo ao peccador: & a alma tem ainda algum ^cÀsfinonmodò cur aliquâ* vigor , os não podemos do ? Se agora quando o derribar, éc vencer 5 que voííb coração naòeflàain- fera quando os peccados da taó endurecido , & tao eíliverem Gigantes, & a obftinado, na6 ha prega- triílealma taó envelheci- çoens, nem infpiraçoens , da nelles , & táo enfraque nem exemplos , nem mor- cida, que fenáo poíTa mo-

tes repentinas, & defaftra- das , que vos abrendem, que fera quando eítiver feito de mármore j & de diamante ? Os peccados com a continuaçaó,& com os hábitos tomão cada vez mais forças, &: fazem fe ca- da dia mais robuílos , &a alma pelo contrario com o coílumemais fraca: pois/i non ínodo ciir ali quando ?

ver? Finalmente, Chri- ílãos, naó vamos mais lon-* ge: fe Deos neíla mefma hora vos eílà chamando,& vos eílà dando golpes ao coraçáo , & vòs não lhe quereis abrir) nem o que- reis ouvir-, como efperais que Deos vos chame de- pois, ou que vos ouça quá^ do o chamares 5 ou que o poflais chamar como con- vém ? Si non modo cur ali-

^r 1 diz a Efcritura : Beatus qui

136.9. occidtt párvulos j lios ad pe^ quando ! O mefmo Deos

tram : bemaventurado o por fuás palavras quero

que quebra a cabeça a feus que vos dcfcngane deíla

peccados, quando peque- váa efperança, cm que vos

nos.Eí/z/jdizS.Bachiario, confiais,6c vos precipitais

cxpeãas doncc inimicus ao inferno : ouvi a Deos

tms gigas ejjlciatur ? h nòs no Capitulo primeiro dos

Pro-

Tro;.

do Advento. i ff

Provérbios : Vocavi^ ér re- que o peccador o cbaniar nuiftis j chamei vos, fie não de todofeu coração , o ha ^xcoáiíkcs'. Extendi manum de ouvir: mas não tepro- Mí'/?;»,^'"?^^?^////^^/// afpi- metido, que todas as ve- ceret^cí\.cnái a minha mão, zes, que o peccador qui-

^não ouve quem fizeíTe

Ib:d 2 c, ^ ^~T^ r' -n *->

c2iiorDeJpexijtis omneco- Jilhimmeum , deíprezaíies todos os meus confelhos: & que fe feguirà daqui? Jbici.25. Bgoquoque in inter itu ve- Br o riâeboy ú/uhfannabo: eu tambem^diz Deosjquá- do vier a Jiora de voíía morte zombarei 5 & nam farei çaío de vòs, & allim como agora euvos cha- mo, & vòs não me ouvis, aíllm então eu não ouvirei ainda^q vòs me chameis: Tanc invocabunt me ^ ò" 7ion exaudiam. C h riftãos, nos fiamonos em q Deos tem prqmetido,que todas as vezes , que o peccador o chamar de todo o cora- ção, o ha de ouvir : & efta promêíTa anda muito mal entendida entre os homes. He neceííario advertir o que Deos tem prometido nelJa5&oque não pro- metido. Deos tem prome-

zer, o ha de chamar de to- do o feu coração.Yai mui- todehuacoufaa outra. Se chamardes a Deos de to- do o coração , ha-vos de ouvir Deos: mas fe vòs a^^ gora não ouvirdes a Deos j depois não o haveis de chamar de todo o coração. O chamar de todo o cora- ção não depende de noí^ íò alvedrio, depende de noíTo alvedrio, & mais da graça de Deos: & Deos decretado conforme os juízos altiílimos defua ju- lliça, que o não poíTa cha- mar de coração na morte, quem lhe não quiz dar o coração na vida. Que faz Deos em toda a vida , fe- não eílarnos pedindo o co- Prov: ração: Filipr£be miht cor^^-^^' tuum\ 6c como vòs agora negais a Deos o coraçam ^ que vos pede, aílim Deos então vos negará juíliíli- mamente , que lhe peçais

tidoj que todas as vexes ^ de todo o coração. B&qs

I <;6 Sermão dn quarta 'Dominga

agora bufcanos, & não nos pois. Sevos haveis de có-

acha 5 então bufca remos nósaDeos, & nãoo acha- remos. O mefmo Deos o prometeo, & ameaçou af- íim : Sluícritis^ò' no?i Í7ive- nietisme^ érinpeccato ve- firomoriemini : bufcarme- heis,& não me achareis, &: morrereis em voílb pecca- do. Não diz menos que ifto.

140 Ora,Chrifl:ãos,pe- las Chagas de Chrifto, & pelo que deveis a voíTas •ahiias, que não queirais, que vos aconteça táo gra- de infeliciciade. Defenda- naivos , 6c feja eíle o ulti- mo defengano 5 que fevos não converteis defde lo- go, & continuais pelo ca- minho que ides , vos ha- veis de perder,&:condenar fem remédio. O remédio he : Baptifmnmpr^ntentia'' húa contrição de coraçam muito verdadeira , huma couíifFaó mui inteira , 6c mui apoílada com iirme reíòluçáodc não oífendcr mais a Deos. Emíim fazei agora aqui 11 o, que dizeis, que haveis de fazer dc-

verter no fim da vida, ima- ginai , que chegou ]^ eíTç fim , que naó he imagina- rão. MasqueimportaySer nhor, que eu o diga, fe a volTa graça não ajuda a ti- bieza de minhas palavras ? Soccorreinos,Sen'nor,com o auxilio efficaZ deíles olhos de mifericordia, & piedade^allumiai eíics en- tendimentos, acendei cA tas vontades , abrazai , & abrandai eíles endureci^ dos coraçoens , para que vosnãoíejão ingratos, & reaproveitem nelles merecimentos infinitos de yoíTa encarjiaçáo : Ter ad- *uentnmtnumy Senhor,pelo amor com que vieíles ao mundo a falvar as almas, que íalveis hoje no íTas al- mas: ao menoijhúa alma. Senhor, à honra de vpílb fantiílimo nafcimento: Per nativitatcm tiiam : pelo amor,& pela mifericordia c6 q nacelics em Preíc- pio,por aquelles defempa- ros, poraquclle frio, por aquellas palhinlias , por aqucllas lagiimas , por aquella

do Advento. \^y,

aquella ellremada pobre- fas almas. Convertei os

za, & por aquelle aíFeíto fufpirosem infpiraçoens ,1;

ardentilTiinocom que tu- pedi a voíTo querido EÇ.

do ifto padeceftes por pofo,o EfpiritoSantOjtrcfc

amor de nòs. Virgem San- paíTe noíTos coraçoens ca-

tiífima, hoje heo dia dos hum rayo efficaz de fua

encêdidiílimos defejos de luz, para que o amemos.^'

voíTa Expeítaçaó , parti para que ofirvamoSj&j^^-j

com nofco, Senhora, def- ra que mereçamos a fua

íesaffeíbos, para que naça graça^ & por meio delia a

também Chrifto em nof- gloria.

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MàMà •■ààMàààààMàêÈm'

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Sa S.:M a M^

^.fiiieb 0A9fnic DA

CONCEIÇAM

IMMACULADA DA VIRGEM MARIA SN.

Maria,eíe qua natus eft Jefus. Matth.

§. V

Orno em todas as matérias có- troverfas dizer o dito he fu- perfluo 5 aíllm na de que hoje fou obrigado a fallar, dizer o que aindi naóef- teja dito, he difficultofo. Entre os myltcrios, todos foberanos, de Maria Mãy de Deos , o que hoie cele- bra a Igreja, & todos dcfe- jaò" ouvir cítabclccidocó

algua novidade , he o de fua Conceição im macula- da. Mas todas aquellasef- tradas, por onde fe pôde caminhar fegurr.mence,ou ao templo defta adoração, ou ao callello deíla dcícn- fli, elláo taó batidas, & de- batidas,que como bem ái^ zia ha muitos annos dos maiores Oradores de HeA panha , ninguém podepòr opc, fenaó íbbre pegada alhea. Boa fatisfiiçaò para a defculpa, mas muito def- confo-

ãa Virgem Marta S. N. i f 9

confolada para o defcjo. neca. Muito fízeraõ os

Defta mefma fe valeo Te- que vieraó antes de nós»

rencio, aquelle taò ceie- masnaóperíizeraõ. Entre

bradoComicOjO quaipe- ofazer , & o perfazer ha

dia perdaó ao theatro Ro- grandes inter vallos : Mui-

manodelhereprefentar o tum autem reftat operis^

que tinha ouvido, &al- multumquereftabit. AíBm

legava em feu abono , que como elles acrecentáraó

o mefmo tinhaó feito os velhos, & aíTim o faziaô os modernos;

Mullum efijãtn diBu^quod non díãumfitprms.

^areaquum eft vos cog" nofcere-i ò" ignofcere :

fobre o que tinhaó dito os mais antigos-, aííim nós po- demos acreccntar^ & deC- cobrir de novo o que elies naóaçháraó , como tam- bém fobre nós os que de- pois vierem. lílo efcreveo animofamente o maior gí-

Sluod weteres faãitarunt , piri to dos E ftoicos . E nem

Séneca

ficfaciuntnovi

-^^E fe Hfo #tifâváría c^L í)eça do mundo ha mais de mil annoSí cjue fera ho- je entrenós, onde não he ^áo fácil inventar iiovos argumentos, tíomo novos trajos?

142 Eu porém naó me acabo de fogeitar a efte di- -^amej porque ainda que '^os antigos bebéraó pri- meiro nas fontes, nem por iílb as efgotáraô : Multum egerunt qiii ante nosfueruty fednonj^^eregenmt y diz Se-

a mim me metejmedo di- zer Salamaó, que naó ha coufa nova debaixo do Sol : Nihilfub Sole novurn-, ecI. n porque a matéria de que i°i hoje hei de tratar, naó he de debaixo do Sol , íènaó do mefmo Sol , & acima delle.

143 Duvidofo pois entre o que tem de verda- deiro húa deftas {GniGn- ças , &oqueoppoem de diííicultofo a outra 5 o me- yo que determino, 8c devo tomar, he o que eníinou o Meftre divino ,, em que am-

'4

A

I

i<^o Sermão daConmçao mníaculada

ambas fe concilião, & fe ria da Conceição imma-

Matth. concordaó : Ideo omnis culada feja mais facii de

«i f z. y^;.^^^ doãusfimilíseH Ta- prometer , q de defempc-

trifamilíãs , qui proferi de nharj comecemos brevif-

thefaurofuonova^&vctera'. íimamente pelas fuppofi-

PoriíTotodoo eftudiofo çoeiís. Supponho como douto nas Efcrituras hc

femelhante Çáiz Chrifto} aoPaydeFamilias rico, o qual tira do feu thefouro o iiovoi&maiso velho. Af- lim ofareieuhoje,pofto que reconheço a minha Thien. pobreza ; Ego vir videns fmpertatem meam. Dos thefouros da Theologia, & da Efcritura fupporei na matéria prefente o ve- llio,& verei fe poíTo dizer o novo. A Virgem imma- culada, cuja graça fempre

i »

certas três coufas geral- mente recebidas , cada qual porém dentro do feu grão de certeza ; a primei- ra cientifica , a fegunda mais que provável , a ter- ceira expreíTamente de fç. A primeira, 6c cientifica he, que ha dous modos de remir, ou de redempçaô > húaque tarda, 6c remedea o cativeiro > outra que Te anticipa , ^ preferva del- le. A fegunda , 6c taó pro-- vaveljquejà fe naõ pode

foi antiga,6cíempre nova, afiirmarem publico o co- me afllíla com a fua. trario , he,que pela redép- Ave Maria, çaó que remedea, rcmio Chrífto a todo o género §' II- humano,5c pela que fe an- ticipa, 6c preferva , remio a fua fantiífima Mãy. A terceira, ^ expreíFamente de fé, he,que o preço de ^++ P Rometi fup- húa, ^ outra redenipção 1 por o velho foi o merecimento, & va- para dizer o novo. Epofto lor infinito do Tangue do que efta propoíta na mate- Filho de^ Deos oHcrccido,

6cderra-

Maria^de efua natas eft lefusM2Xx}sx.\,\6.

da Virgem Maria S.N. i6i

& derramado por todos, lho da Virgem Maria em

Lfte fangLie pois, & o mo- quanto Jefu, & em quanta

do com que Chriftoo der- Redemptor,em obrequio,

ramou íingularmentepor & beneficio íingular da

fua Máy, com muitoíi pri- mefma Senhora deo o fan^

mores de redempçaò atè- guCjque de Tuas puriíHmas

gora naó ponderados, fera entranhas tinha recebido :

a novidade, que para ma- de qua natits íy^jfejaoprir

iorgIoriadaMáy , & do meiro,&: maísgeraI,como

Filho defejo provar. A tu- do me daó fundamento as palavras do Evangelho^ que tomei por Thema: Maria^ de qua iiatus eft le- fus. Em Maria temos a Remida>& prefervadaino

fundamento de todos, fer a mefma Senhora prefer- vada do cativeiro do pec cado de Adam por valor,' & virtude do mefmo fan-í. gue. \â^6

Mandando Deos

nome dejefu,que quer di- aMoyfes, que dos defer-* ^erRcdemptor, temos a tosdeMadian onde vivia redempçaò: & nas duas foíTe ao Egyptorefgatar, o palavras, de qua natus eft , feu Povo, que eílava ca- temos o preço, que foi o tivo, levou Moy fes em fua íànguci porque encarnan» companhia a Sephora fua do, & nafcendo Jefu de Efpofa. E foi eíla acçaó Mariajdella o recebeo pa- do feu Enviado táo eílra- ra o dar univerfalmente nhada ,& abominada do

por nos , & muito particu- larmétepela mefma Máy.

í. ni.

14.5-

ENtrando pois nas confidera- çoens,& modos particula- res com que o bemdito Fi- Tom.7.

mefmo Dcos, que antes de chegarão Egypto,lhe tor- nou a aparecer taó indig- nado contra elle, que que- ria naó mcnosjquetirarjhe a vida : Cumque effet in iti- vere^in di-verforio , occtirrit ei'Dominus^ & njokbãt oc~ ciàere eum, Pa r e mos, & r e- L paremos

<od 4."

-4

i

■■■■■4'

;

■íi.

i^i SermaÕ da Conceição immaculada

paremosaquicomS.Ago- conformarcom o queho-

ítinho, Theodoreco, Eu- febioCefarienfe, ErniíTe- nO;,& outrosj os quaes co- lhem do mefmo Texto , queeíla,& naó outra foi a caufadehúa taó notável, & impenfada demoftra

je pregamos , fepor ven- tura ha ainda algum. Se Deos quiz matar a Moy- fes^porque naó fofreo^que ellemeteíTe no cativeiro do Egypto com os outros cativos a Efpofa que era

çaó. Pois, Senhor, a Moy^ de Moyfes ;" fe a Efpofa

ícs, a quem acabais de ele- foíTe do mefmo Deos , co-

ger por Redemptor do ca- mo o fofreria ? Sendo pois

tiveirodovoíToPovOjtaò verdadeiramente Efpofa

de repente quereis privar, fua a Virgem Maria , co-

naófódoofficio,fenaôda mo fofreri aos quelha

vida ?Taô grande culpa , querem cativar , & meter

& taó malfofrida de vòs , com os demais no mefma

foi querer levarfua Efpo- cativeiro > Mas advertido

faconfigo? Sim. Porque ifto depaíTagem , vamos

quandoeumandoa Moy- por diante com a hiíloria

fes,que libertar aos que ao noíTo ponto,

cftaó cativos no Egypto > 14,7 Poftos Moyfes,&

que queira ellc meter no Sephora em termos tam

mefmo cativeiro a fua Ef- apertados,& perigofos co-

pofa , que taó livre eflava mo vimos: eile debaixo da

delle, quanto vai do Egyp- efpada de Deos condena-

toaMadianjnio fofroeu do à morte, & ella cami-

tal deslumbramento,&: tal erro em hum homem, que fiz Redemptor univerfal do meu Povo , & por iíTo

nhando para o Egypto, onde todos eraó cativos j que fucedeo > Levavaó ambos hum filhinho cort-

reprefentador de meu Fi- íigo, ao qual naquelle efta- Iho. Reparem neílejuizo do circuncidou a Máy,di- de Deos os que interior- zcndoaoPay, qelieeraa mente fe náo acabáo de caufa de lhe derramar o sá-

,gue:

da Vtrgm Eíoa.4 gue : Sponfus fanguinum tu mihi es:&cno mefmo pon- to, aplacado Deos,a Moy- les lhe foi perdoada a cul- pa,& Sephora ficou livre deiraoEgypto ) aparcan- ideii^*^* dofedelle: Etdimtfit mm. Sephora Quem íe naó admira iiefte iraTy- caíò do modo taõ fácil , 6c ^^- táo breve com que dous nòs taó fortemente aper* cados fe defatáraó, & doua perigos taó grandes fe re^ Ibl véraó ? De fortejque em fe derramado o fangue do filho, o Pay ficou abfolto da culpa,& a Máy livre do cativeiro ? Com razão dif- fe S. Paulo,que tudo o que naquelle tempo fucedia, craó figuras, & húa como comedia do que depois havia defer: Omnia in figu- ra contingebantillis. O fi- lho innocête era figura de Chrifto : o Pay era figura de Adaój de quem tomou a natureza: a Máy era figu^ rada Virgem Maria, de quemnafceo, E tanto que o fangue do filho fe derra- mou, o Pay ficou livre da culpa,pela qual eftava có- denadoà morte :& a Máy

f.Cor, 10.11.

Maria S.N. i<>j

ficou livre do cativeiro pa- ra onde a levava o mefmo Pay. Pôde haver repre- fentaçâo por todas fuás circunftancias mais pró- pria ? Mas ainda faltaõ por advertir duas para maior gala do myfterio. A pri- meira, que a Máy foi livre do cativeiro não depois de ir ao Egypto, & eftar cati- va, fenaò antes, & preíer* vada, para que o naó fofi^e* A fegunda , que o mefmo cativeiro do Egypto na* quella occafiaó eftava acabando,& havia de du- rar muito pouco: mas co- mo o filho de Sephora re* prefentava o Filho de Ma- ria,naó permitio o feu fan* gue, que fua Máy eftivef- fe cativa, nem por hum inftante.

14.8 Parece que de- pois de tal figura naó pôde haver prova real , que a iguale : mas íerà tanto ma- ior, 8c melhor, quanto vai daluzàfombra. Quando o mefmo Chrifto na ulti- ma Cea confagrou o feu preciofillimo fangue no Caliz, foi com eftas pala- Lij yra^:

f

fá!

■fi;:

11

2. Cor.

'i(>4, Sermão daConceiç ao immacíilada

vr^svUicefl Calixfangui' qui eílà a diíferença. O

w/J" met, quipro vobis , eè^ fro multis ejfimdetíir ; Efte he o Caliz de meu fanguc, o qual fe derramará por vósj&por muitos. Terrí- vel palavra foi efl:a ultima! O fangue de Chrifto he de

fanguede Chriílo abfolu- tamcntederramoufe nim por muitos, fenam por todos : mas em remiíTao de peccados ^ naó fe derra- mou por todos, fenam por muitos ; porque do nume-

fé, que fe derramou por ro dos todos foi exceptua- todos, porque por todos daa Máy,que lhe dea o morreo, de que temos có- mefmofangue. Portodos

tra o Herege moderno o texto exprelfo de S.Paulo: Tro omnibiis morttius eft Chriftus. Pois feomefmo Chriílo havia de derra- mar, &: derramou o fangue por todos,porque naó diz, Eíte he o Caliz do meu fangue, o qual fe derrama- ra por vos, & por todos, fe- rjaóporvòs, & por mui- toSipro vobis^&pro multis> Lede as palavras feguin- t^St <Sc vereis quam admi- ravelméte refolvem a du- vida. Quipro vobisy& pro multis effiindetur in remij- fanem peccatoru : Será der- ramado , diz o Senhor , o meu fingue por vòs,& por muitos: mas como ^ inre- mi/Ji 0)107)2 pí-ccatonun , em rcmiílaó de peccados. A-

os mais foi derramado o fangue de Chriílo, & em remiíTaó de peccados : por fua Máy foi também derramado , íim , mas em remiíTaó de peccados, naó; porque naó tevepeccado. Oh bemdito Filho de Ma- ria,que bem moílraíles fer juntamête Filho deDeos, pois taó altamente acodi- fles pela honra de voíla Mãy / Havia de dizer S. Paulo, que todos peccáraó em Adam : & que o fangue de Chriílo fe derramou por todos. Mas para que o mundo fe naó enganaíTe, & foubeíTcque no contra- híropcccadoouvc cxcci- çaó,&: no derramar o fan- gue, differcnca - por lílo declarou o Senhor duas li-

da Virgem Mana S. N. ^ i6y

limitaçocnstãoexpreíTas, gne, que Chrin-o derra- que o feiT ílingue fe derra- mou, para remir fingular- mariapor muitos , & em mentea fua Máyj&aprc- remiílaódepeccados. Por fervardopeccado } íaiba- muitos, & não por todos, mosquandojonde, & co-

para excluir a fua Mãy: & em remiífaó de pecca- dosj&naó por outro mo- do, para a eximir de toda a culpa, da qual nam foi perdoada por remiííaó, fe- naò prevenida, &: prefer- vada por graça. Aílim o diíTe, & proteftou em tal hora, em tal a£l:o,& com o Caliz do fangue que havia de derramar nas mãos, co- mo Filho emíim , & Re- dempror , que era da Mãy de quem recebera o mef- m o fangue: ^Deqtia natus eji lefus.

T49

í. IV.

ri Stabelicido ef.

geral, em que fícão taóbê proVadas('&náo fei fecó algúa novidade} as fuppó- fiçoensdoque chamei ve- lho : para entrarmos no que mais propriamente he novo,&tudo fobre.ofan- Tom./.

mo obrou o bemdito Fi- lho eíle grandcSç occulto myílerio,& nunca atègora diílintamente examina- do,

ifo S. Bernardino Se^p^,.^^^^ nenfe diz,queremio Chri- dm ser. lio a fua Mãy com o pri- ^^^^ meiro fangue, que derra- mou na Cruz,& com gran- de preferencia a todos os que nella foraó remidos. Fundafe naquellas pafla:- vras dos Cânticos : Vulne- cant 4* raífi cor meum , foror mea 9- fpo nja , ijulnerafti cor meu : nas quaes reconhece ó Sá- to primeiras, &: fegundas feridas , ^ diz que as pri- meiras oífereceo Chriílo na Cruz pela redempçam de fua Mãy, paraq a mef- ma Senhora, fendo remida primeiro que todos, foíTè a Primogénita do Redemp- tor. As palavras dodevo- tiíUmo, (Sc dou tiíli mo Pa- dre faó efías: Vulnerafticor meumyforor meafiJonfa>,vul' L iii mr.ajil

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Luc 2. 7-

1 66 Sermão da Conceição tmmactdada

neralii cor meum : pro tuo fentença quâro ella o per- amore carnemfumpfi , é^' mite. É verdadeiramente, vulnenms primis in cruce que quando o Santo diíTe , vukerajií cor meum ; nam vtilnenbus primis , íe nam

Trimogenita Redemptoris Filijfuilefiípfi: virgo Bea- ta. Altofentir, & digno defeuAuthor. De forte, que aílim como o Filho foi o Primogénito da Máy

acrefcentàra in Cruce , na Cruz , não tinha eu mais quedefejar, & dera o pa- rabém ao meu penfamen- to de fe encontrar com o de taó ai lu miado, & fubli-

em quanto Homem, Tepe- me efpirito. Mas porque rithzlium [uumTrimogeni- tenho outras Efcrituras

tum 5 aííl m a IMáy foi a Pri- mogenita do Filho em quanto Redempcor, Tri^ mogenita Redemptoris Fi- lijfiii. E efta foi a primei- ra fineza , ou primorofa correfpoiídencia com que oFilhoJeíu , em quanto

mais ciaras, que citarei, conformandome em que ofiiague,queo Red em p- tor derramou por fua Máy, foi o primeiro, di- go que naò foi na Cruz,fe- naó no Horto. Abranos o caminhoàprova deíla no-

Jefu , & Redempror da vidade o grande Doutor

Máy,dequem nafceo,lhe dalgrejaS. Ambroíio , o

pagou o benefício do fer, quaíílorecendo mil annos

naó que delia ti veíTejà re- antes, entaó deixou ef-

cebido,fenaó que havia de crito, que dando o Filho

receber. O Filho Primo- deDeos principio à obra

genitodaMãy, & a Máy Primogénita do Filho : o Filho Primogénita^ da Máy no nafciméro, a Máy Primogénita do Filho na Conceição.

ifi Atè aqui S. Ber- nardino, declarada a Ília

dauniverfú Redempçaó, começou por fua Máy. Nec mirumji T>ominus re^ tíempturus mundum , opera- tionem fuam hrhoavit à ^'f^" Matrty ut per qtiaynfalus Uxcc.v ornnibusparabatur , eautm primajruttíimfalktis hau- riret

da Virgem riretex pignore. Elegante, & eloquentemente, como fempre, Ambrofio. Qiier dizer, que ningiiem fe de- ve maravilhar de que ha- vendo de dar principio o Redemptoràobra da re- dempçaódo mundo, co- meçaíle por fua Máy, para queella , que o havia de ajudar na redempçam de todos,foíre a primeira,que namermaredempçaó co- IheíTe os frutos do fruto do feu ventre.

15-2 lílopofto,fe aU guemperguntaííèao mef- moFilho,&;à meAna Máy, onde colherão eftes pri- meiros frutos da redemp- çaó,naó ha duvida, que ambos ha vião de refpon- der,que no Horto: & aílim o dizem expreílamente a Mãy,&: mais o Filho. He paíTo, que fe naó podia de- fejar, nem inventar me- lhor :& foi hum dialogo, que tiveraó entre íy o Ef- poíò, que he Chriíto, & a Erpoía,que he a Virgem, no mefmo livro dos Cân- ticos. Veniãt díleãusmetis in hortumfuunhÇdiz alli a

Maria SM. i^7

Senhora 3 c^ Cúmedat fru- ãum pomorunifuorum : Ve- nha o meu amado ao íeu Horto, &: colha o fruto dos feus frutos j iílo he, os pri- meiros , & as primicias delles. Ifto diíle a Efpofa : &logo tendo fatisfeito o Filho ao defejo da Mãy, diz aílim : Feni in hortum meiím^foror meafponfa , & mejjui myrrham me a : Vim ao meu Horto, irmâã, 8c Efpofa minha, & o que alli colhi, foi a minha myrrha. A mirrha propriamente naó he fruto, íènaó li- cor, que fe fua,& eftila das arvores do mefmo nome. Pois fe a Efpofa tinha con- vidado o Efpofo, para que fofleaofeu Horto colher os primeiros ÇrntoSyVeniat in hortum faum^ér com^dat fruEtum pomorum fuorum : como indo o Efpofo ao mefmo Horto, em vez de colher frutosjcolheo myr- rha : Veni in hortum meum^ ^meJJui myrrham meam? Aífimo diífe , porque af- fim foi , nem fe podia de- clarar melhor. Como a myrrha he aquelle licor L iiij aro-

bidem.

I

i

til

,ió8 SermaS daConceição immaculada

aromatico,que fuaóasar- porque a rcdempcaÓ , que

vorcs, o fruto que Chrifto obrou no Calvário, era re-

colheo no Horto , fatisfa- dempcaódepeccado , &

zendo ao defejo de fua depeccadores; para quea

May,foioíangue,quepor defuaMãyde nenhú mo-

anior delia fuou na oraçaó do fe envo! veíTe, & miftu-

ao mefmoHorto.Expref- ía,&: concordemente S. Cyrillo Jerofolymitano , Sf PhiloCarpacio,6cRuper. Carp. to . Chrisíus enim in Horto I^^P^" orans, myrrham mefuit, cu fan^uinerd fné.vit . Pode haver coufa mais clara , mais breve,&- mais exada: em que fe exprima como deícjavamos, o onde, o CO mo, & o quando? O on- de 5 no Horto , in Horto : o eomo5orando,í?r^?2j-:o quã- do, quando fuou o Tangue, cumfangninem fudavh ^

raíTe com ella, a dividio,& feparou no tempo, no lu- gar, no fangue,& no modo de o derramar, fazendo no Horto hum novo Calvá- rio fem monte, & no fuor húa nova Cruz fem cra- vos? AíHmo cantou ele- gontemente Hildeberto Turonenfe; ^^?;;^.'/;,vn/j77/- dorCitixfmt c.nte criicem. Mas ouçamos a S. Paulo. S. Paulo parece que faz diíl:inçáoentrehum,&: ou- tro fangue, attnbuindo a

redempçaó univerfal ao if3 Aviílapoisdeíla fangue da Cru2:-P^r//r.?7?j primeira conclufíò raó pcrfangumtm Cnxis ej^^íf' iiova,&taÓ provada, que fivequainterris,fivequ£ in diremos? Diremos por ve- Cdis; & eílcs faó os ter- mos geraes com que com- mummenre fallaó os San- tos Padres. Donde fe fe- giie , que fco fangue da Cruz foi íò o preço da re- dempçaó univcría! , r.o tal caio todo o sãguc do Hor- to foi unicamente aplica- do

tura, que andou taõ fina- mente primorofo o fobe- rano Redcmptor na re- dempçaó de fiaa Máy, que naólò quiz que foífe im- maculada a Remida , fe- na 6 ta m bem i m ni a c u 1 a da a mcfina redempçaó ? E

da Virgem Maria S.N. 169

do pelo Filho à redemp- macula. Em tudo quanto çaò da Máy , & por ilTb digo, fallo pela boca da propriamente naõ Pri- mefma Máy, &: do mefmo mogenita, como queria S. Filho : & neíle ponto com Bernardino,mas Vnigeni- ta ; porque a Primogénita tem fegundos, 6ca Vnige- nitaheíiagular, & única. Mas eíla fineza de nenhú modo fe deve, nem pôde entender com exciufaodo fangueda Cruz , porque he certo, que o Filho da Virgem também morreo pelaAdáyjde quem naf- ceo •, que foi nova corref- pondencia de reconheci- mento, c*^ gratidão, pagan- dolhe o naí cimento coma morte. Qiie diremos logo àvilla deites dons thea- tros, ou amateatros-, am- bos fanguinolentos y hum do Horto , outro do Cal- vário ? Digo,que em hum, 6c outro obrou o Filho de Maria comojefu, & como Rederaptor a fua redemp- ção i mas no Calvário co« mo univerfalmente Re- mida i no Horto , como fmgularmente preíerva- da, & em hum , & outro , como puriílinu , 6c íem

texto miiagrofamentefei- tofóparaelle.

154, Hum dos mais notáveis Textos da Efcri- turanoquediz, 6c na or- dem,6c confequencia com que o diz , faó aquellas pa- lavras do Efpofo Divino , fallando primeiro comíi- go,6c depois com a Efpo- ía : Vadam ad montem myr^ cant.4 r/j^, éy ^d CO liem thurts:^-^' totapulchraes arnica mea^ érmâculanoneftinte. Ea [ diz o Efpofo } irei ao; monte da myrrha, 6c ao oi- teirodo incenfo: 6c ^os-s^ Efpofa, ^ amiga minha, todaíbis fermoía, ^ toda pura fem macula. Supér- fluo he repetir , que a Ef-^ pofahe a Virgem Maria,: 6c o Efpofo Chriilo fen Filho. Masque correfpô- dencia tem dizer o Filha ^ que ha de ir ao monte da. myrrha , 6c ao oiteiro éx> inceníb : 6c logo inferir, 6c concluir, que a Mãy toda. he fermoía, 6c toda pura íem

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•I 70 Sertnao da Conceição immactdada

fem macula ? ^^^^;;/ ad ra Chrifro remiro género

montem myrrha , é* adcol- lem thtiris : & logo de re- pente fem outro motivo: Totapulchra es arnica me a , & macula non eft in te ? Pa- ra entendimento deíía no-

humano depois do pecca- do, bailava o fangue, que derramou na Cruz 5 mas para remir , òc prefervar a fua Máy fem macula de peccadojquizelle por fi-

tavci coníequencia em q neza particular acrecen-

fe infere com tanta clare- tarao fangue da Cruz o

za, &: expreíTaó a pureza fangue, que derramou na

immaculada da Virgem, oraçaódo Horto. lílo he

he neceíTario faber , que irão monte da myrrha :

montCj&queoiteiro, que myrrhaj& que incenfohe eíle ? A myrrha íignifíca a morte,oincenfo íigniíica a oraçaó : & neíle fentido.

Vadam ad montem myrrh^^ & juntamente ao oitciro doincenfo , à* íid colUm t buris. E tanto que fe uni- rão os eífeitos deílas duas

j -j Av*^ ^^ ~.. wxvwK^ vj.wii«k, viuaa

que he de todos os Santos jornadas, &:fe ajuntou hu Padres, omonte da myr- íanguecom outro fangue,

rha he o Calvário , onde Chriílo morreo,6cooitei- ro do incenfo, he o Horto de Getfemani, onde orou : (^porque Getfemani eíla- vaíituado em hum tezo

entaò exclamou, 6c decla- rou a vozes o Filho 5 que fua ÍViãy era toda pura, & fem macula : Tutãptdchra es^ arnica mea , & macula noncft intci porque o cf-

fobreoValledeCedron.} feito gerai do fangue da E de Chriílo morrer na Cruz,foiremir,&: oparti-

Cruz, &:orar no Horto, tira por confequcncia , & conclue o mcfmo Senhor, que fua Máy toda he pura, & fem macula : razaó,& confequcncia , torno a di-

culardofinguedo Horto, remir prefcrvando.

j 5-5- Comparemos hu fangue com outro , o da Cruz com o do Horto, &

, ^ , ^,- veremos com os olhos eíla

zer,miíagrofai porque pa- mefma differciiça. Quan- do

da Virgem Maria S.N. 171

do na Cruz deraó a lança- jangiús:,ut redimeret. A ílim

da a Ghriftojfahio Tangue, ioan.19. _, _, ' , ^ P j

3 }. & agua : Extvttjangms^&

aquaim.is quando o Se- nhor íiiou no Horto, fo- mente fahioíangue : Fa^ Luc.21. ^^^j. eftfudorejusfictitgut- t^fanguinis. Parece, que naó havia de fer aííim.

44

os demais. Ecomo ofan- gue da Cruz era para re- mir, & a agua para lavar as manchas do peccado de ikdam i poriíTo íahio na Cruzo fangue juntamen- te com agua : Exivit faur guiS) &aqua. Porem no

Mais próprio era do fan- Horto,como o fangue era gue do Horto, que do fan- para remir naó lavando , guedaCruz , fair junta- íenaôprefervandodamef-

mente com agua. Porque depois de exhauílo o fuor natural , que he humor aqueo , entaõ fe feguia o preternatural , & prodi-

ma mancha .-porque ha- via de remir, & naó tinha que lavar^ por iííb o fuor naó foi de fangue j unto c6 agua, fenaó de fangue fó-

giofo, que he o de fangue. mente : Siçiit guttafangui-

Qual foi logo o myílerio, ms, Efca he a razáo , Sc

porque o fangue da Cruz propriedade porque oSe-

fahio juntamente c6 agua, nhor quando diífejque ha-

& o à.o Horto naó .^ Todos via de ir ao Calvário, Va-

os Padres uniformemente dam ad moyitem myrrh^y

diluem 5 que o fangue da naó faliou palavra na pu-

Cruz íigíiiíicava a redép- reza da May ; mas tanto

çâo, & a agua o bautifmo que ajuntou, que havia de

primariamente inílituido para lavar o peccado ori-

Athan. ginal. S. kXX^d.Vi-3iÇíO\ExÍVÍt

^trm à^ jãnguisy& aquay ut íta re- Amb ?' demptio & immudatío pria- iib.de ris Ada: dimanaret, E S. cap. . K\nhTo£vo'.Exivit aq.uayò' virtude, produzir por íj Jangms : a^ua^ut mundaret^ ío eíle eff eito 3 mas como a

re-»

ir também ao Horto,c^ ad colkmthuris^ iogoapubli- cou,& canonizou porim« maculada^id?" macula mn^efi in te. Bem podéra o íangue da Cruz, como de infinita

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"172 Sermão da Conceição hnmactílítJa

redempçaõda Máy eratá- No fanguedeCíirifl-otan-

tomais nobre, tanto mais alta 5 & tanto maisprecio- fajque a de todos , tam- bém era credito da merma redempçaó, que foílema- ior^Scmaisfubido o preço

to valor tem húa gota co- mo todo: & feno todo fe quizefreefpecular alguma coníideraçaó de exceíTo, ou ventagem, o todo. foi o da Cruz, & as gotas ò do

que fe át^^ por elía. Por Horto ; Stcutguttafanmi-

líTo os empenhos fempre 7Íts. Que razaó de prero-

mais, & mais primorofos gativa teve logo o Tangue

do Filho não íe contentaó do Horto , para fer eAç^ o

com menos, que com do- preferido neíle myílerio

brarapaga ,acrecentando ao da Cruz ? Refpondo,

hum preço fobre outro que a preço, 6c hum fangue fobre outro fangue , como Re-

que a razão , conveniên- cia, & primor deíi;a pre- ferencia, foi 5 para quefnaó demptoremíim,ôcJefuda oRedemptor, & a re- Mãy,de quemotomou,&: dempção, fenaó também nafceo : 'JJe qua natus efi o preço delia, que foi o fan-

lefu

us.

1^6

§. V.

TE mos prova- do a preroga- tlva do fangue , que Chri- fto fuou no Horto em ref- peito do que derramou na Cruz, Sc como foi parti- cularmente aplicado pelo mefmo Filho à redempçaó im maculada de fua Máy: mas ainda naó temos da- do^nem inquirido a razaó.

gue, feuniífem no mefmo modo fingular, & extraor- dinário de remir, com que o Filhoremioa Máy, & el Ia foi rem ida. Como Foi remida a Virgem Mana ? Não depois, lònaó antici- padamenre, quciífohefer remida por prefervaçam. Pois eífa foi a razaó, o pri- mor, & afneza , porque naó o Redem ptor , &■ a redempçaó , fenaó tambe o p rcço d c 11 a í c anti c i pou . O Rcdcmptor apreílbufe , ^adi-

da Virgem Maria S. N. 1 73

& adiantoufe à redêpçaó : as mefmas. St tanto podia

a redempçaó apreírou(e5&: adiantoufe ao peccado : Sc para que o preço,que era o fangLiejfe apreíraire5&: adi- anta íTe também , antici- poufeo fangue do Horto ao da Cruz.

1 5-7 Caminhando o Pay , Sc May de Samfam por hua eítrada deferta cerrada de bofques, adian- toufe o filho, que os acom- panhava 5 & faindolhe ao: encontro hum Leaó tao feroz na catadura, como foberbonos bramidos, ar- remeteo a elle o valente moçOjfem mais armas,que as próprias mãos, Sc afFo- gando-o entre ellas, o lan- çou morto no bofque. Grã façanha, Sc mais quê humanai Allimonotaafa- grada Efcritura, dizendo, queiílo fez Samfam mo- vido do Efpirito divino. Mas o primeiro movimê- to com que fe adiantou , deixando atraz fea Pay, Sc fua Máy , parece que nem foi neceíTariOjnem conve- niente. Neceífario naó •, porque as fuás forças eraó

matar o Leaó adiantan- dofe, como indo ao lado dos Pays : conveniente tã* bem naó, & niuito menos j> porque acompanhando os mefmosPays , os aíTegu- rava melhordo perigo da- quella, ou de outra fera do bofque. Qual foi logo o fim ^que naó podia deixar ; de fer grande, ôcmyfterio- fo ] porq o moveo o mef- moeípirito a que íe adiar í taíie.^O fim grande, & my^; íleriofo foi, como no- tarão alguns Efcritores modernos^ porque nefta hiftoria de Samfam fe re- prefentava maraviihoíà- mente,&com todas fuás circunftancias o myílerio da Conceição immacula- da. Aeftradapor onde ca- minha vão o Pay, & a Máy, heaqueila por onde def- cendemos de Adam todos os que recebemos o fer por geração natural : o Leão feroz,&íòberbohe o pec- cado original, que naquel- la paíTagem efpera a to- dos os homens,&: antes de nafcidos lhe naó perdoa,& os

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I /4« Sermão da ConcelçaS Immaculada

os mata; oSamfam, que o o figurado, antes desfaz, <Sc

matoua elle , he Chrifto defcompoem toda a glo- por natureza izento de ria,& privilegio da Con-

peccadoj&quefô tem po- ceiçaójqueconíllieemfer

der, &f(3r^'as para vencer, a Senhora unicaméte pre-

& deílrmr naô o origi- fervada > Mas que feria fe

nal, mas todos. AíTim pois eudiíFeíTe, que nefta que

como Samfam fe adiátou , parece impropriedade da

&anticipou para livrar do hiíloria, confiftioamaior

Leão a feu Pay,& fua Mãy, energia , & gala do myfte-

antes que elie os encon- rio? AíHm o digo. Porque

traífeiaílImCliriílofeadi- Samfim livrou daqueila

antoujScanticipou a prc- fera, que reprefentava o

fervar do peccado origi- peccado original , naó a

nalafuaMáy,antesqueel- fuaMáy,fenaó também a

laoencorreífe. feuPayj poriífomefmo

158 Atè aqui os Dou. foi perfeitilTima figura de

tores allegados,naó repa- Chrifto no myfterio da

rando nenhum delles,nem Conceição. Mas de que

acodindoahúa circunftã- modo.^ Por iílb mefmo.

cia,6c impropriedade, que Porque Chrifto foi Filho

fendo efta figura taó natu- da Virgem Maria : & a

ral do myfterio , naó a Mãy que he Virgem, nam

he Máy, fenaó Máy . & Pay de feu Filho , porque naó tem outro Pay. Logo para Samfam fer perfeitif-

desluftra,&: afea,mas a ne« ga, ou põem em duvida. Samfam livrou das garras

do Leaó a feu Pay, &:afua ^ ,^, ^/v.iiv.itii-

Máy : Chrifto naó prefer- fima figura de Chrifto no

vou do peccado original a myfterio da Conceiçam,

homemalgum,fenaóahúa naó havia de livrar do

mulher fomente, que foi a Leaóafua Mãy, fcnaó a

Virgem immaculada : Io- fua Máy,& a feu Pay jun-

goa hiftoria naó diz com tamente. Efteheofunda-

o myfterio,nem a figura mento porq graves Theo-

logos

da Virgem Marta S.N. 17^

logos ti veraó para fy , que que depois de muitos dias a Virgem Maria em ref- fe manifellou^que o inten- peito de feu Filho fe ha- to de Samfam fora formar, via, ou podia chamar nam como formou,da íiia meA

íò Mater como as outras Aiiys, fenaó Matripater^ que quer dizer Máy , & Pay. E pela mefma razaó lemos em muitos Santos Padres , que o amor da Virgem em rcfpeito do mefmoChriftofoi dobra- do ; porque o amor dos outros filhos naturalmen-

ma hiíloria aqueile famor fo enigma, que propoz, & cxpozaojuizodos homés com nome de problema : Troponam vobis problema, jjdid Jàeftouvendo,qttenenhÚ '^'^ entendimento haverá tam rude 5 que heíla íingular circunílancia naõ reco- nheça mais, & melhor a

te gerados, dividefe entre hiíloria da Conceiçam de opay,&amãyj porém na Maria , que a do mefmo

Máy Virgem , como em

Máy,^ Pay, eftava todo

unido.

\ 1 5p Ainda tem a meí^

ma hiftoria de Samfam

outra admirável proprie-

Samfam. Adiátoufe Chri- ílo a vécer, & matar o pec- cado original antes da Gó- ceiçaó defua Máy : & eftá- do por muito tempo oc- culta aquella íingular fa-

dade em confirmação do canha do Filho -, que fez o

mefmo myílrerio. vimos mefmo Filho ? Da mefma

como Samfam, quãdo ma- façanha occulta , & do

touoLeaó,oláçou,&:efcó. mefmo fegredo a elle

deo no bofque. E declara a manifefto, fez o mais celc-

Efcritura,q nem a feu Pay, bre, & mais altercado prò-

nem a fua Máy,nê a outrê blema,que nunca ouve no

defcobrio aquella façanha, mundo, difputádo as mais

fendo de tanta honra fua , &taó bizarra. Aílimefte- veocculto o myfferiodé- fte filencio, & fegredo, atè

doutas Efcolas da Theo- logia, fe Maria fora conce- bida em peccado original, ou naõ. QaeEfcrituras fe

naó

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176 Sermão da, Conceição immàculada

nãotem defenterrado, & da, Scfcíf-ejadadctodos. defentranhadoPQiie livros 160 Tornando ao fio fe naó tem mandado à ef- do noífo dircurfojafiim co- tampa > Que difcurfos, & mo o Filho fe adiantou, <Sc argumentos fenaô tem iii- ancicipouà redempçaòda

ventado ? E em quantas difputas publicas , & fe- cretas fe não cótrover- tidoefte mefmo ponto, íe- guindo huns Doutores a parte aííirmativa , & ou- tros com maior applaufoa negativa ? Mas todos atè- gora problematicamente j porque aíllm oquiz para maior celebridade, & glo- ria do mefmo myíierio o foberano Author do mef- mo problema : Troponam ^ohis problema, E fera fem- pre problema? Naó. Por- que da mefmahiftoria có-

Mãy 5 aíHm a mefma rc- dempçaó fe adiantou, ^' anticipouao peccado , &: com nova , ôc admirável correfpondencia. Foi tam admirável a preíla coque o peccado original fe adi- antou ,&:anticipou a ma- tar os homens -, que fendo todos filhos de Adam, pri- meiro os matou feu Pav com o peccado, do que el- les naceífem. E para que /e veja, que a redempçamda Virgem Maria nam foi menos apreíTada, nem feu Filho fe adiantou , &■ anti-

lta,que Samíam revelou o cipou menos em preíervar enigma a fua Efpoíli. E af- a Mãy, do que Adam fe ú-

ílmcomo Samfimo reve- lou a fua Eípofa,& por me- yo delia o entenderão to- dos •, aílim Chrifto final- mente acabara de o reve- la r a fu a F fpo fa a Igr ej a , como játcm começadoj &: como for deli n ida porei la r^ive-rdadc, ccílarà a coii- trovcrfia, 6clerà conheci-

nha adiantado,& anticipa- doem matar os íilhos-,per- gunto,QLraifoiprimciro,o nafci mento do Filho, ou a Conceição da Mãy? Naó ha duvida ,quca Concei- ção da Mãy Ibi muito pri- meiro, queo nalbimento do Filho^ Pois fe o Filho ainda nao era naícido , co- mo

ãa Virgem Maria S.N. i yy

mo prefervoírdopeccado meiro. Todos os Santos

Padres reconhecem neíle cafo grande myílerio , & concordaó em. que aquel- le fio de purpura foi íinaí dofanguede Chriílo. S. dopode-os Adam matar Cyriliocomentãdo aspa- com o peccado antes de lavras do Texto, /^^j/?rí7-

a Mãy antes de nafcer ? Refpondo tornando a per- guntar. EquandoAdam peccou, eraó nafcidos léus filhos ? Não : &: tu-

nafcerem. Pois feria bem, que os filhos de Adam os mataíFe íeu Pay c6 o pec- cado antes de nafcerenijSc o Filho de Maria naópre^ fervaíTedo mefmo pecca- do a fua Mãy antes de naf- cer? He verdade, que eíla redempçaó taó anticipa- da foieíFeito do fangue da Mãy j, que elle ainda naó tinha recebido. Mas eíTahe a virtude do fan- gue de Chriftojcomo ago- ra veremos.

1(3 1 Quando ouveraô de nafcer Zaraò , & Pha- resdous filhos gémeos de Thamar j Zaraó lançou primeiro fora hum braço, no qual a que aíTifl-ia ao parto lhe atou hum fio de purpura , entendédo q elle leria o primogénito-, mas enganoufe, porque Phares fe adiantou>&: nafceo pri- Tom./.

ttiUt maniim^ m qua obfte- trix Ugavit coccinum^ àiz , ÇocciniimfanUiJJimu Chri- fii fanguinem pgnat, E o mefmo dizem S. Ambro- fíO, S. Bernardo , & outros Padres, Foi pois o cafo, que os dous gémeos Za- raó 5 ti Phares cada hum procurava nafcer primei- ro, 6c fer o primogénito, para que do feu fangue nafceíTe o Meílias, que era toda a ambição, & emula^ çaódaquelletempo.E que fez o mefmo Meflias .'* A Phares concedeo , que re- ceberia delle o fangucj&a Zaraó, que com o mefmo fangue o aílinalaria : & af- fim foi. Mas a Zaraó deo- Ihe logo a purpura ^ & o final do fangue, Sc de Pha- res naó o recebeo fenam muito tempo depois. E porque .^ Porque he virtu- M de

GeneO

38.27.

;^pi:riLi- pnmiriú Am':r. ilernar.

W'-

178 Sermão da Conceição immaculaia

de própria do Tangue de Redemptor foi Redcmp^

Chriftopoderfe dar antes toranticipado, porque fe

de fe receber. O Tangue de adiantou , & anticipou à

Phares naó o recebeo redempçaór&aíTimcomo

Chrifto fenaó quando naf- a redempçaó foi anticipa-

ceo o mefrao Chrifto, & o da,porque fe adiantou , &

ílnal,& eíFeito áo feufan- gue recebeo-o Zaraó an- tes de nafcer o mefmoZa- raó : & ifto foi, nem mais, nem menos o que fe veri- ficou na Conceiçam de Maria , & no nafcimento de feu Filho. O Filho re- cebeo o Tangue da Mãy, quando delia nafceo , que foi no dia do Teu naTcimé- to : Sc a May recebeo o cf- f eito do langue , que deo aoFiJja^antesde naTcer a

anticipou ao peccado •, aT- íimfoi conveniente para maior luftre, & gloria do myflerio, que o preço da mefma redempçaó , que era o Tanguc,foíre também anticipado , & poriífo o Tangue do Horto fe adian- tou , & anticipou ao Tan- gue da Cruz. Aílim o no- tou, & celebrou com ad- miráveis propriedades a me Tm a Virgem taó pri- moroTamente remida. De-

anéfma Máy , que foi no pois de dizer Teu bemdito dia da fiia Conceição. De Filhojqueofruto, queco« Torte,que o Filho foi Re- demptor da Mãy por me- yodoTangue,qiie delia re- cebeo,antes de o receber : &a Mãy foi remida , & prefervada por meyo do Tangue , que deo ao Filho, antes de iho dar. E temos fiindada,8c declarada a ra- zão, porque eRe Tangue foi o do Horto.

162 Aílim como o

Iheo no Horto, foi a Tua myrrha : Veni in Hortum meiím , meffíá myrrham ^^"^ <s meam-.Ti qual myrrha , co- mo vimos , he o Tangue q no meTmo Horto Tuou i diz logo a Senhora, fal- landocom o meTmo Fi- lho, que eíTa myrrha a que chamaprimeirajfoiocltii- ladode Tua Tigrada boca:^^.^ Lahiaejus dtjtillantia myr- rham

^3^

-^

JJLJLMJU^

da Virgem Maria S.N. 179

rhamprimâ. Mas fe aquel- Senhora , que da mefma lefangue, que o Senhor fuou,rahio,&: brotou por todos os poros do fagrado corpo, como diz a Senho- ra, quefoieftillado de fua boca ? Agora fe verá com quanta propriedade inter-

hocafeeítillava a myrrha primeira : Labta ejus di" fiillantia myrrhampnmam. 163 K^^-útl^itl diftiUâ- f/^hea mefma com que o texto Arábico explica o fuor do Horto: Et faãus

pretamos do Horto , & da ejifudor ejus velutfanguis

oraçaó do meímo Horto o diftillans. Mas porque ra-

nome de collem thiiris, zaó chama a Senhora nas

Chamafe o ságue do Hor- mefrnas palavras ao fan-

to eftillado da boca de gue do fuor do Horto nam.

Çhrifto •, porque a força,& myrrha , fenaó myrrha

efíicacia da oraçaó do mef- primeira , myrrhamprimã^

mo Senhor no Horto, co- nome taó íingular , que

nefte Texto fe acha em to- da a Efcritura fagrada? Toda a myrrha nam he aquelle licor , ou humor preciofo,& aromaticojquc feeftilla da arvore onde nafce? Sim. Pois porque

mo taó fervorofa5& arden- te, foi a que acendeo , &

futilizouofanguenas ve-

as , & o fez manar em

fuor. Aílimodizcóamef-

ma confequencia o Evan-

gelifta S. Lucas : TroUxius Ltíc.22. f^j.al;at yérfaãus eíffudor fe chama particular,& fm- '^^^^ ejiisficut guttafanguinis: gularinente o fangue , & filias E Elias Cretenfe comen- fuor do HortOjnaó myrrha ^'^^ '^' tando o mefmo Texto:yf r-

dentt r orat^ acfudor gutta^

rum fanguinearum ah ipfo

f.uit. E comoaopaííbjque

da boca fahia a oração, das

veas rebentava, & corria

o fangue , efta foi a pro- priedade com que diíle a

dequalquermodojfenam myrrha primeira : 2>////7- lantia myrrham priifiãm? Náofe poderá mais pró- pria, & eruditamente de- clarar o myfterio de fer sãgue anticipado. A myr- rha, como defere 7e fii- M ij niOí

i

' id

I «►f'

180 SermaodaConcelçaoímmaculada

Myniv "^^' colhefe da arvore on- de fe cria por dous modos.

O primeiro he/uádo a ar vore por fy mefma aquelle licor mais futii eílillado naturalmente, 8c fem vio- lência : & efta fe chama myrrha primeira. O fegu- do he , picando primeiro aarvore5& dandolhe gol- pes, pelos quaes fae , òc fe defcarrega o licor mais groíFo : & eíla fe chama myrrha fegunda. E quem naó que tal foi com ad- mirável propriedade a

myrrna primeira: Myrrha primam. E fiz tanto ciifo a Virgem puriíllma dcfta circunílancia 5& celebra, & louva tanto a feu Filho por ella ; porque confiílin- do naó lo a prerogativa maior, fenaõ a mefma ef- fencia da fua prefervaçao em fer redempçaó antici- pada-, que mais primorofa, & elegante fineza fe podia efperar , ou imaginar do mefmo Redemptor , do que querer feu amor , & inventar fua fabedoria ,

myrrha, &fangue do Hor- queaílim comoa redemp- tojcomparadocoma myr- çaódefuaMãy foi antici-

rha,&: fangue da Cruz ? O fanguG da Cruz naó fahio fenaó depois de ferido, & aberto o corpo do Redêp- tor com os cravos, & com a lança : o do Horto porem anricipandofe a todos os infhu mentos da violên- cia, elle fahio, & fe eílillou por fy mefmo das veas

pada, allim foífe anticipa- do o preço da mefma re- dempçaó, & o fangue com que a remio, também an- ticipado ^ Aílim provou finalmente fer fangue áà- quellejefus , 5c daquelle Redemptor: daquelle Re- demptor, que o foi de lua May antes de fer homem.

emfuor,&:efpontaneamé- & daquelle Jefus , que o te. O fangue da Cruz tira- foi de Mana antes de fer

doa força do ferro, como Filho myrrha fegunda : o fmgue Jefus. do r-í jrco íu:ido fcm força mais que a do amor, como

'JL)e qua 7iatus eji

í.vi.

dãVirgem Maria S.U. ^ ^^^

foi o mefmo i que na En- carnação tinha recebido de fua fantiíTi ma Mãy . 1 6 f A ptimeira, & na- obrigaçoens de tural razão em que me

§. VI.

i6j^ ta parece que as

Redemptor juntas comas fundo, he tirada do peito

de Filho fe devéraó dar do mefmo Verbo encar-

por fatisfeitas nos primo- nado,ac dos archivos de

res^Ôc finezas taó repeti- feu entendimento, & von-

dascomque fmgularizá- tade,&naóem correfpon-

raò a redempçaó da purif- dencia de outro myílerio,

íima Máy j mas ainda refta feiíaó do mefmo da Encar-

a mais primorofa,& a mais naçaõ. Duas coufas rece-

fina detodas. Foifenten- beodenòso mefmo Ver-

ça de alguns Padres anti- bo naquelle myfterio, que

gos, como hoiehe comum foraóacarne, &ofangue.

entre osTheologos, que E que he o que fez delias,

o fangue, que o Verbo en- 6c porque razaó ? De am-

carnado tomou daVirgê basinítituío o Santiílimo

fantiífima, fempre o con- Sacramento da Euchari-

fervou unido à Divindade, ília ^ & a razaó foi, diz S.

fem permitir ao calor na- Thomás^para que tudo o

tural, que o aiteraífe , mu- que tinha recebido dos

daíTe , ou diminuiíTe. O homens,o empregafle em

mefmo conferva hoje glo- faudedosmefmos homês:

Auguíi. ^'^qÇq no Ceo, como diz S, ^otum quodde nojiro acce- n th.

AfíSnp. Agoftinho i & o mefmo pit.totumnobiscontuhtadovmmi

^''^- còmunsramos no Sacra- mento, como diz b.rearo

Ser

4f-

Damiaó.lílo fuppofto,naó me julgará por temerário a piedade Chriftãa , fe eu diírer,que o fangue, que Chriílo fuou no Horto, Tom./.

falutem. Lembremonos ^^" agora , que do Cenáculo onde o Senhor tinha iníli- tuido o Sacramento,fe pac- tioim mediata mente para o Horto , onde a mefma carnejque tinha facramé- M iij tado

Jr

ll^

1 J

182 Sermão da Conceição immaculaãa

tado/uoupartenáodeou- tão devida, & primofofa tro, fenão do meímo fan- occafiaó. gue E haverá quem fe 16G Ifto he o que di- perfuadajqueem tão pou- go,&:náofó , & fem Au- coefpaçodetempo^&de thor. Eufebio EmiíTeno lugar mudaíTe de penfa- (que alguns querem foíTc jnento.&aífedoo mefmo Eucherio, ambos antigos entendimentoj&amefma Padres da Igreja , 6c de vontade de Chrifto, & fe grande authoridade } ou tiveíTc efquecido daquel- ambos , ou qualquer del- le mefmo diétame da fua les dizem eílas notáveis bondade, & daquella mef. palavras. "D^ carne Maria ma correfpódencia de feu coagulatus , de ejiisforma^ amor ? Claro eílà, q quem tus njtfceri us, de tjus Jub- ^:^^\ talimaginaíle , feria com ftant ia confim matus , fan- hõmii'. manifefta inj uria tanto do gumem quem etiampro Ma- ^"^ . ^'^ •Filho,como da Mãy. Lo- tre obtulit, dejangiáne Ma^ Domifi. ?^Í£,^^9"^^^?' ^ ^"^or trisaccepit. Querem di- zer : Chriílo gerado da carne de Maria , formado das entranhas de Maria, & dafuílancia de Maria fei- to homem confumado,o

de Chriílo tinha julgado, que devia empregar em faudedos homens tudo o que tintia recebido dos

homens : havendo de ap* .,^,,,

plicar algiia parte de feu fingue que nmben7offe" langue para a anticipada recco porredempçam de redempçaô de fua Mãy ; fua Mãy, foi o que do fan- porque naÓ feria aquella gue da mefma Mãy ti-

mefmaparte,quc de fuás entranhas tinha recebido? Quemtaô inteiramente o tinha confervado, aguar- dado trinta ôc três annos, fcm duvida, que não feria fenão para o empregarem

nha recebido : Sangmnem (juem etiampro Matre obtu^ ///, defanguine Matris ac- cepit. Notemfe muito ne- ílas admiráveis palavras aquelle fanguinem defan- guine Matris ^ de aqucfe et iam.

daVirgem Maria SM. 1S3 etiam. De forte que o fan- x^S.çtiam ; foi efpcciaimé- oiie de que fe falia naó he te applicada, como dizja- rodo o fangue de Chrifto, mos, à redempçaó da mef- fenaó parte delle , & eífa ma Máy: Sluem ettam pro parte não outra > fenaó Matre obttilit . aquella mefma parte , que i (>/ E para queo mef- recebeo do fangue de fua mo fangue nos coníirmç Máy: Sanguinem quem de altamente efte penfamen- fanguine Matrts acceftt. E to, yamos ao mefmo Hor- aquelle etiam , etiam pro to,& ao mefmo paífo , & Matre ehtulit ^^Ç.Ví0X.2.Q^Ç. modo com que fe derra^ foi paga , & preço particu- mou. Quando Chrifto Se- Jar , offerecido particular- nhor noífo entrou , & per- iTiente pela redempçáo fe verou na oraçaó do Hor- da Máy,alèm do preço ge- to tantas vezes repetida , ral offerecido por todos, o as anciãs da mefma oraçaó qual naó foi parte do eraó fundadas no temor fansuede Chrifto , fenaó natural da morte , & dos todoofanguej&naófóa tormentos, tendo dado parte que tinha recebido licença o Senhor aparte do íangue da Máy na En- fenfitiva da fagrada huma- carnaçaó,fenaótodooque nidade^aífim para prova acquirioemtodootempo da verdade delia , como da vida. Efte fangue todo para mais padecer por foi o preço da redempçaó nos 3 a que fe fogeitafíe a univerfal do género hu- todos os effeitos da natu-

mano: mas aquella parte recebida do fangue da Máy,pofto que foi parte defte todo , também em quanto parte feparada ,

reza, ainda com íinaes de temerofa,8c fraca. Nefte fentido difte S. Marcos: Capitpavere^ &t adere-, o ^.^^^ que entendem todos os -í- '^3-

^//^;^5tambem,&-pormo- Padres de próprio ,verda

doparticularjí^íi^w^*, tam- deiro, 6c natural temor.

bem,& fobre opreçoge- Mas efte mefmo temor

M iiij pa-

mmmmm

1 8 4. SermaÕ da Conceição imm acidada

parece que faz diffiçultofo que o Verbo encarnado

ofuor defangue y porque naófóaFilofofía, fenaóa experiência nos enílna, que com o temor fe reco- lhe o Tangue, & acode ao coração , & por iíTo íicaó pallidos os que temem. Fois fe Chriíío verdadei- ramente temia ,&■ aílim o temor como o íuor defan-

conrervava,&: tinha rece- bido do Tangue de Tua Máy. Provo. Quando o Anjo deo a embaixada à Senhora, turbouTe pou- co o animo humiiinimo,&: modeílilíimoda Virgem, como taó alheo^o que ou- ^c via : Tiirbataeft infcrmone -9. ejus. Entaóo meTmo An-

gue, pofto que extraordi- jo lhe Tocegou o cuidado ,

nano, Toi natural •, como em vez de Te recolher o íãngue para dentro, Tihio , & brotou para Tora? A ra- zão também natural he^ porque no meTmo Tangue havia os impulTos, & cau- Tas deíles dilFerentes eíFei- tos, aílim como eraó dif- f crentes os aíFedos , que entaó combatiaó o cora- ção do meTmo Senhor. Húa parte do Tangue, Te- guindo o aífeílo do temor, era tímido , outra parte do

& lhe tirou o temor 5 dizê- do : Netimeas, Maria\M7í' ^'''^^^ ria,naó temas. Socegado pois o temor, então acei- tou a Senhora animoTa- mente a embaixada, & ài- zcnd.o:Fiat mihi fecundum ^^ verbumtuum,cnVàòcnc2Lr* ' nou o Verbo em Tuas en- tranhas. E como o Tangue, que o Verbo tomou do Tingue de Tua Máy , era Tangue actualmente ani- moíb,iVí^ tímeas Mar/a,ci\€ foi o Tangue, quenoHor-

langue,Teguindo o aíTcaro to naó acodio ao coração ,

contrario, era animoTo : o como tímido , mas como

ti mído acodio ao coração, animoío íhhio,&: Taltou fó-

oanimoTolaltou , & Tihio ra das vcas: baãus^Jtfu^

fora ; & efl:a parte do Tan- dorcjusjicut guttafnvgui^

giieanimoTo,queTdcou,&: nis. Aílim Te portou era.

íahio tora , foi o Tangue , Ihardo , &: gcncroTo o íau-

gue

da Virgem Maria S.N. ^ i8>

gue do Horto, Gomolem- fode amor, gratidão, &

brandofe naó de quem primorofiíTima correfpon-

era, mas de quem tinha fi- dcncia, que a parte aiiti-

do, para acodir na caufa cipada do Tangue, que ef-

originai pela honra de fua peciahnente appUcou, &

própria origem : Sangtii- dedicou à fua preíervaçaô,

nem quem eúam pro Matre foíTeaquella mefma, que

obtuíit-i defdvguine Matris accepit. â^-

i68 Émfimj&cmfum- ina,que Jefujque nafceo de Maria,para íe moílrar per-

de fuás puriffimas entra- nhas tinha recebido , guardado. Eu naôfei pon- derar, nem admirar efte extremo de fineza 5 ma&

feito,&: perfeitiírimojefu, darei por mim outros ad & perfeito, & perfeitiíTi- miradores de mais alta es.-

mo Redemptor de fua Máy, naó a préfervou fem macula em fua purilli- maConceiçãOj que he o mais perfeito modo de re- mir-, mas para que ella fof- fe a primeira entre todos osremidos,& a Primoge-

fera, que todos os huma- nos.

169 Quando Chriílo como Redemptor univer- fal noífo , & como Redêp- tor particular de fua Máy ílibio triunfante ao Ceo, admirados perguntavam

nita, ou Unigénita da re- todos os Efpiritos Angeli- dempçaó do mefmo Fi- cos^Sluiseft ifte^quUjenit^

lho •, antes de eile derramar todo o fangue por todos na Cruz, o começou a der- ramar no Horto,ou única, -OU particularmente por ella, anticipando o preço -da fua redempçaó , alllm como a mefma redem p.;aó foi anticipada } mas quiz também por ultimo excef-

de Edom^ tinBis veHibus ? Quem he efte, que vem da terra de Edomcom as ve- íliduras tintas em fangue ? IJle formofus in Jiola jiia^ gr díensinmultitudinefor-^ titiidinisfu^. Vem acom- panhado da multidão dos que libertou com a forta- leza de feu braço: 6c quana ferr

\{^uex\

mm^

1 8 6 Sermão da Conceição immacuUdji

fermofo elle,&: quam ^^n- achareis que o ílinc^uc de til-homem nofeu veílido! Ninguém haverá, quenaó repare muito neílas ulti- maspaiavras: & fer ove- ftido do triunfador o prin- cipal motivo da admira- ção dos Anjos , & fundarê no mefmo veftido todos os encarecimentos de fua fermofura : Ifteformofus in ftolafua ? Se era pela tintu- ra do Tangue , tinãis vejii- bus-i naó levava o Senhor no mefmo triunfo as fuás Chagas abertas? Pois por- que paflaó em fdcncio as feridas do corpo , & ad- miraòo fangue do vefti- do? O que manou das Cha- gas, &: na cor viva, & bri-

que fe im^^io o veíiido próprio de Chriílo, foifó o do Horto. Nos açoutes eftava o Senhor total men- te defpidoj&o fangue que dellescorreo ficou no pa- vimento do Pretório. Na coroação de efpinhos, o fangue que ellestiráraó da fagrada cabeça, também cahio,& ferecebeo na pur- pura, de que Ihefingioa Opa real a jocofa impie- dade dos foldados. Na Cruz tambemeílavadef- pido, & o fangue das qua* troC hagas,&da quinta to- do regou a terra do Calva» rio. h\^\\\\ que o fangue de que fe tingio a túnica, & Ihante, com que neílas fe veíliduras próprias doSe- via , naó era o mefmo? nhor, foi o fangue que por Pois porque fe celebra tá- todos os poros do corpo too do veílido , & naó o fuou no Horto. E comoeí-

das Chagas ? Porque as Chagas eraó recebidas na Cruz pela redempçáo uni- vcrfal de todos,6c o fiingue doveflidoera o fuado no Horto pela redempçam particular, & prefervaçaó de fua Máy. Notai bem to- da a hiítona da Pay xão,&

te langue fe fingularizou nos extremos tantos , & taò admiráveis , que vi- mos,na prefervaçaó de fua Máyi por iífo oYoberano Redemptor o veflio pela melhor, & maisricagala de feu triunfo : & por lííb como tal a admirarão os An-

ãa Virgem Marta S. N. 187

Anjos,&: a celebrarão pela vando-a, & defcndendo-a

maior gentileza do mefmo do peccado^falvou-a, fa-

Redemptor: IHeformofits tisfazendo também deju-

inftola fua. íliçaàs obrigaçoens^ que

170 Tudo o mais que como Filho devia a fua fucedeo no mefmo triun-

fo, cóíirma fer efte fangue taóadmirado,o que parti- cularmente fe applicou à Cóceiçaó immaculada da Virgem fantiílima. Per- guntarão os Anjos 5 quem era o foberano triunfador :

ifai 6^ ^^^ ^fi ^fi^ ' ^ ^^^^ mefmo .1. ^'TCÍpondcoiEgo^quíloquor

jufiitiam , é^ propugnator fumadfalvandum\ Eu fou o que faço juíliça , &: fou defenfor para falvar. A to - d:js falvou Chrifto 5 mas a fua Máy propriamen- te como defenfor 5 propug' w<2í(?rj porque aos outros falvou, livrádo-os do pec- cado i porém a fua Mãy defendendo-a,queo nam encorreíle. EeÔahea ái- ftinçaó dajuíHça, de que falia : Ego^qíú loquor jufti- tiam-j porque aos outros depois do peccado falvou- os/atisfazendo de juíliça à lefa Mageftade do Payj porém a Senliora prefer-

Mãy . Inftáraó mais os An- jos : ^are ergo rubrum eft indumentum tmim-i & 'veCtt- . , ,

r 1 Ibid.j; ]

menta tuajmit calcanUum in torculari^ E que cor ver- melha he a deíle veftido femelhante à dos que pi- zão no lagar ? Co a mefma comparação tinhaójà di- to acima , tinõíis veftibus deBofra •, porque Bofra, quer dizer vindemia , vin- dima. Refpondeo o Se- nhor : Tor calar calcavi fo- ^^ -^^^ /»/, & de gfntíbus non eft *vr mecum Tporque o lagar cmquefe me tingirão os veftidos, eu o pizeijfem eftar ninguém comigo. Donde fevè a differença do fangue derramado na Cruz, em que a mefma Mãy o acompanhou como Corredemptora, &: efteve cercado de tantos, aílim feuscomo eftranhosjà do fangue fuado no Horto, em que eíieve fó, & foHta- rio,5c atè os que tinha dei- xado

< i!

Thren.

xado mais perto, dormin- do. E porque efte Tangue do Horto na metáfora de lagar foi o applicado par- ticularmente à redem.pçaó da Virgem : aqui vem caindo quando menos o fom das palavras de Jere- mias : Torciílar calcavit U)omirms Vir gini filia ht- ^a:quG o mefmo Senhor foi o que pizou o lagar pa ra a Virgem, filha deju " Finalmente conclue oDi-

Sermaoda Conceição mmaculada

da.

Sanguis eorum. Mas fc Chriíloremio os homens comofangue, que tinha recebido dos mefmos ho- mens, aqui fe cófirma mais o que dizia mos, que o Tan- gue com que remio aMãy, foi o que tinha recebido da meTma Mãy. E para q acabemos com as primei- ras palavras: ^lis eft ifte^ ^,°["^^' qiii veyiit de Edom^ Edom , 6c AdamheomeTmOjpor- quehum, & outro nome temomeTmo íignificado.

vmo triunfador com húas

palavras, que parece àts- E diz a admiração dos An- fazem quanto temos ditoi jos em figura de Edom, porque diz que aquelle que o Toberano triunfador ílinguede queeílavaó tin- vinha de Adam, porque a tasasTuasveíliduras , era gloria deíle triunfo, ou a dos que na Tua batalha ú- parte mais gloriofa delle nha vencido : ^^r///j eft toda pertencei à Virgem Y^-^ifangms eorum ftiper vefti- immaculada. O reílo do meíita mea : logo Te o Tan- gue era dos vencidos, nam

era leu , como Tuppomos ? de Adam , que heo ori Antes por ifib Teu , porque dos vencidos. Deos nam

humano remio Chriílo naó To do peccado

tinha Tangue , Sc para ter ílingue com que remir os homens , tomou o Tangue dosmeTmos homens , &c por iíTo diz, que o Tinguc , que derramoujcra dcllcs:

iial, Tenáo dos peccados aduaes de todos, & de ca- da hum : porem a V^irgcni M a ri a , qu e n te v e p ec - cado ad-u:il , a remio , Sc prcTcrvou do original de Ad.:m ; &: porque de co- meçou o tnúfo, dcià vcyo otri-

da virgem Maria S.N. \^9

o triunfante: §lutsejtijte^ damos,&às tentaçoens^^c

qiú venit de Edom ? §. VII.

171 T7 Ste Foi o Famo- Ljfiílimo triunFo de Jefu em quanto Redêp- tor,primeiro de fua Máy, & depois do mundoimais admirado dos Anjos pela gaia do veílido , que pela própria PeíToa j & mais galhardo pelas gotas de fangue do Horto 5 de que vinha matizado,que pelos rios que derramou na Cruz 5 & regáraó o Cal- vário. Para os devotos da Conceição im maculada naónosíica mais que de- fejar, nem que fazer, fe- naó acompanhar com as vozes-, affeâros , & júbilos do coração as admirações, ôcapplaufos dos Aajos,^ dar aiil parabéns , Ôc' mil vivas a tal Filho, ôc a tal Máy. E poílo que todos peia graça do Bautifmo ef- tamos livres do peccado original, como ficamos ío- geitos à corrupção, & fra- queza,que com elle her-

perigo dos peccados a- £buaes 5 o que muito nos convém , & de que muito neceílitamos, he , que por meyo da interceílaó pode- rofillima da mefma Máy nos valhamos da eíficacia do mefmo Tangue do Fi- lho. Alleguemosaambos, que a virtude daquelle preciofiífimo Tangue, nam To he remir , 8c livrar dos peccados cometidos,Te- naó preTervar anticipada- mête delles j & digamos ao míTericordioíiílimo Re- demptor o que tantas ve- zes repete a Igreja : Cito antícipent nos mijericordÍ£. tu£:qu.e não To nos livre Tua infinita miTericordia dos peccados com que o temos oíFendido , mas Te anticipe a nos preTervar dos futuros, para que nun- ca mais o oíFenda mos, Na- quella noite fatal, em que Deos tinha decretado ma- tar os Primogénitos do E- í^ypto, mandou aos íilhos deíTracl, que anticipada- mente T^crifícaíTem hum Cordeiro , & que com o Tau-.

i

T 90 Sermão da Concetçao mmaculaãa

fanguc delletingiíTem, & do de nos tentar. E flhal- rubricaíTcm todas as por- mente, para que ninguém tas defuascafas^paraque duWde5queo meímo fan- oAnjoaqueni eílava en- gLieanticipado foi fi^^ura

comendada aquella exe- cução 5 onde vi^Q, o Hm- gue, paíTaíTe, Sc deixaíTc li- vres os que eílaváo den- tro, & onde o naó viíle, en^ traíTe, 8c mataíTe a todos os Primogénitos. Eíle An- jo he mais provável, que naó era Anjo bom , fenam Demónio, & aflim diz a Igreja, que por medo do meílnoíingue naó fe atre- via nem a olhar para as cafas, que elle defendia; Sfarfum cruorem poftibus vaftator horret Avgeíus.St as portas exteriores de noíla alma, que faó os fen- tidos,8cas interiores, que faó a noííli memoria, ente- dimento, & vontade , efti- verem (inaladas com o ca* radter, &: armadas com a protecção daquejle Tangue taóanticipado deftruidor do peccadojnãofó defcon- fiarà o Demónio de nos vencer, mas ainda terá me-

do Tangue do Horto , & naó do da Cruz: o da Cruz derramou Te doze horas depoisjao meyo dia: & o do Horto Te tinha der- ramado doze horas antes, à meya noite :& eftaToi a hora em que o Tingue tri- unfador obrou aquelles prodigioTos eíFeitos : Fa^ ãmn eft autem^in no6fis me ^ ^, dio perciijjit ^ominus om- 10.29^ ne primagenitum in terra (iyEgyptí. Aílim livrou Deos aos filhos de ITrael do cativeiro do Egypto por meyo do Tangue do Cor- deiro,&aílim nos livrará do cativeiro do pcccado por virtude do Teu Tangue o Cordeiro , que tira os pcccados do mundo, pre- Tervandonos anticipada- mente dos aduaes , como a n ti ci pada mente preTer- vou do originai a Mãy de qucmnakco: 'De^uana- tuseft Icjus.

SER

10t

SERMAM

DA

D O M I N G A

DECIMASEXTA POST PENTECOSTEN.

ReciimbeinnoviJJimoUco. Luc.14.

Odas as vezes, que o Filho de Deos fe aíTen- tou à m€ fados Jiomeas, íempre foi o me- lhor prato a fua doutrina. Comia o que regulava a temperança, &enfinava o que didtava a prudência. A matéria era a que lhe davaaoccaíiaó, & elle fo- breaoccaíiaõ eftendia, il- iiiílrava^fic definia a ma-

téria. Os documentos to- dos eraó divinos, & naô moraes , fenaó ainda poli- ticos. E digo moraes, & politicos i porque tal foi a doutrina do prefente E- vangelho. Os que entaó com nome authorizado,& hoje com íignifícaçam odiofa fe chamaó Fari- feos , eraó os Religiofos daquelle tempo. Diz pois o Evangeliíla S.Luças>que convidando hum Princi- pe dos Farifeos j ifto he, lium

I

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191

hum Prelado daquelles Religiofos, a Chriílo Re- demptor noíTojpara que quizeíTe honrar a fua mefa e m hu m dia de feita , qu e era o fabbado , aceitou o benigíiiílimo Senhor o cõ- vite. Aceitou > poílo que naó faltava quem murmu- raíTe o aceitar. Pareciaihe aos murmuradoresjquefe- melhantes convites eram jnends conformes à auíle- ridade da vida, 6c à autho- ridade, & proíiílaó de hu Meílre decido do Ceo.

Sermão da decima fext a T>ommga

ícrvaçao:naoa obfervan- ciadodia, mas a obferva- çaó do cóvidado. E q fez o Senhor, que lhe conhe- cia os coraçoens ? Aceitou a meia como homem , dif- íimailou a malicia como Deos :6c no que obrou co- mo Deos, ^ reprehendeo, Ôcenfinou com.o Meftre, moílrou que era Deos, 6c homem. Curou ao Vi^- dropico, 6c depois tratou deoscuraraelles: aoHy- dropico, tocando-o com a máo,6c aeiles pondolheas

Mas a razaó,que o Senhor máos,6cmuito bem poílas*. tinha para fenaó efcufar , Náo ha vicio mais defcor-

moílravaó depois os eftei- tos muito âi\N^i'íos y Sc de outra mais levantada es- fera, como também fevio no cafo prefente.

173 Atenção dos Fa* rifeosera farifaica ; porq Ihearmáraó a Chrifto hum Hydropico, a ver fe o curava naquelle dia, pa- ra o poderem calumniar de qucbrantador do fab- bado : Sabbato manda c are fanem , O' tpfi obfervabant €um. Náo os Icvcu a IH a obfervancia jlciuió a ob-

tez, que a foberba ^ nem mais defcom edido, que a ambição. Como carece da modeftia por dentro, tam- bém lhe f-Jtaa urbanida- de por fora. Naô diz o E- va ngciifra o lugar,que déí*- fem na mefa a Chriíioj mas diz, que os convida- dos fem corteíia , nem ur- banidade, todos procura- vaó 5 & ainda contendiam íbbre os primeiros luga- res. Eíla foiaoccafiaó,Sc effcoponto da doutrina, por iílo moral , 6c junta- mente

mente politico.

174 Fez Deos efte mundo em forma circular, como a mefajou tabola re- donda dos Pares de Fran- ça, para evitar a contenda dos lugares, naó fendo ju- llo,quedeíigualaíre o lu- gar os q tinha feito iguaes a natureza. Mas como a foberba , Sc ambição pre- verteíle a igualdade defta ordem , com outra ordem defordenada de primei- ros, fegundos atè últimos lugares, Sc os Farifeos na mefa affedbaífem os pri- meiros 5 efte foi o vicio, q o Senhor obfervou nos feus obfervadores. Inten- dens quomodo primos accu

pfíftTentecofien. ^ ipg

CO rteíia. Na eleição dos lu- gares notava-os o Senhor de pouco juizo , & no mo- do de cada hum fe prefe- rir,& antepor aos outros, de pouca urbanidade : &: eftes dous defprimores nafcidos ambos do mefmo vicio da ambição, Sc fober- ba, reprehendeo, & emen- dou o foberano Meftre também com hum do- cumento : Cum njocatus fuerisad nuptias , recumbe in novijjimo loco : Quando fores convidado à cafa , Sc àmefaalhea , naó deveis tomar os primeiros luga- res, fenaó o ultimo. E por- que? Porque naó fucedwi vir o fenhor da cafa, a que

Ibid.i

tóus eligerent: 01hava[diz pertence a repartição dos oEvangelifta}comparti- lugares ,&: vos mande le- cularattençaó para o que faziaô os convidados , & para o modo com que o fa- ziaô : o que faziaó, era to- marem por própria elei- ção os primeiros lugares:

vantar do que tomaftes, & o a outro melhor , Sc mais honrado que vos. En- tão vos achareis afron- ta no ultimo lugarjporque foftes taó defcomedido, f rimos accubitus : & o mo- que vos atreveftes a tomar do com que o faziaó, quo- o primeiro:^? incipiâs cum ibfd.9. ' ' ' " rubòre noviffimum locum tenére.

17 s Eftafoiahiftoria N da-

modo, era introduzindofe nellesfem nenhum modo de modeftia, refpeito,nem Tom./.

i

ÍW

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194 Sermão daTíomingadecimarexta

daquellecafo, & daqudle defeja melhorar de luMr

du,aqueo mefmoEvan- ,E nenhum fe acha em tai

^Í1^ '^ T """""^ P?- P°^°' P°r levantado , &

rabola : Htcebat autem ò- acomodado que feia, qne

ad tnvttatos paraholam. naó procure fubir a outro

Mas feerahiftoria, como melhor. He própria efta

era parábola? Tudo era. Era hiftoria quanto ao fuceíTo , & era parábola quanto á doutrina. Quan- to ao luceflb , era hiftoria

inclinação da natureza ra- cional, como fe fora ra- zaó,& naõ appetite. Pri- meiro nafceo no Ceo com os primeiros racionaes, q

-.-^..^ , v,xc* xixiLuiid os primeiros racionaes, q particuiarpara os prefen- faò os Anjos,& depois fe !!! L^^^^^^^Jí^o a doutrina , propagou na terra com os

era parábola univerfal pa- ra todos. A todoS:, & a ca- da hum prega hoje Chri- fto : Recumbe in novifjimo loco. E haverá nefte mun

fegundos , que fomos os homens. Lúcifer no Ceo tendo a fuprema cadeira entre as Gerarchias , nam ';■"" ""-»--"v..Lt uiuii- aquietou naquelie lu^ar, do quem efcolha por pro- & quiz igualar o feu coní pria eleiçao,& fe contente o do mefmo Deos ExaU

cultofo ponto para fe en- tender, & muito mais ^i^' cultofo parafe perfuadir. Por iífo tomei por Them a eíla única , & admirável

ero AltiCimo. Adam na ter ratendooabfoluto domi- nio de todas as creaturas dos três elementos j nam

«v^uiiiavci coube, nem fe contentou

íentença,ôc ella fo íerà to- com hum Império taó va- ^.^^fria do meu dif- ílo , & em hua Corte taó curfo. Ave Maria, deliciofa como o Paraifo,

r> / ^. também quiz melhorarde

Kecumbe m novifjmo loco. lugar : Emisficut dij. E q ^^^^

^--^^ , ^í^io íia deíle piJjnciro

^^^ T^Odo o home Pay, de que todos naíle-

X neíle mundo mos, que iiaó hcrdafle dei-

k

Ic a altiveza fempre m- quieta defta mefma pai- xão ? O Letrado , o Solda- do, o Fidalgo, o Titulo , o de grande nome, 6c o que naó tem nome , com o cui- dado, & defejo nunca mais fatisfeito , nem foce- gado, todos trabalhão, &

poJtTentecoften.

19S

ponto contenderão todos fobre a maioria j porque logoafpirou cada hum a lhe fuceder no lugar. Do Emperador Trajano difíè Plinio, que ninguém o co- nhecia taò pouco a elle, nem fe conhecia taó pou-

^c^^Kjy twvtw .x«-« ,^ a fy, que ti vefíeoufadia

fe defvelaò por ac}iantar,& de lhe fuceder : Nma eji melhorar de lugar. pa tam tui , quàm ignarusfui , pj,,,:,, rece , que deviaò viver utlocumipfumpoft te r<?»- imane» izentos de femelhante fo- cupfiat, E tiveraó atrevi- ^^'' geiçaó os que deixarão o mento doze pefcadores, mundo,& profeíTaÕ o def- para quererem fuceder ao prezo delle 5 mas os fe- mefmo Filho de Deos , & gue, &fogeitao mefmo lhe pleitear o lugar ainda mundo a que lhe paguem em vida. & voíi

efte duro , & voluntário tributo.

177 Coufa foi digna de admiração, que osDií^ cipulos de Chrifto , antes de decer fobre elles o Ef- pirito Santo , contendef- fem fobre qual era o ma« ior : ê^is eorum videretur ttic.22. gíT^ fnaior ? A occaíiaò po- rèm,&o motivo delta co- tenda ainda he muito mais

§. III.

1. convencer ef- te abufo univerfal , naó dasguerras,& competên- cias, m as ainda das pertê- çoens pacificas do melhor lugar j naô deixarei de re- ferir primeiro três opi-

vwii^cv ccxxx^^ x.v, .. . nioens,ou fuppofiçoens ti-

admiravel.Equal foi? A- radas da fagrada Çfcritu^ cabava o Senhor de lhes ra, as quaes naó içonde- revelar, que hiaa Jerufa- naóefta ambição taô pro- iem a morrerjSc no mefmo fundamente arraigada nos

N ij cp-

i

196 Sermão daTiommgadedmafext a

coraçoenshumanos, mas ftermuuo tempo. Naó o

totalmente cortaó as rai- ^clxov^, à-nonerat,^oZl

zes a toda a noíTa queftaó. ou tinha cah.do àLk^ò,

A pnmewa nega abfoluta- ou tinha acabado a vida

menteoquefuppomos,& masque naó achaíTe Dal

diz,quenao ha lugares: vido lugar onde o tinha

que no mundo fe chama ejus .? Sim , refponde Car-

lugar, por alto, & levanta- thufiano , & o prova com

do,quepareça, bem exa- ^rmote/es. Jr^ILS

pfai. 35. minado, he nada : Viditm- Sf.jó. pumfufjerexaltatim , ér eievatiimficut cedros Liba- ni: tranfivt^&ecce non erat^ &noneft invenUis locus ^V/j: Viaoambicioro, diz Da vid^ levantado fobre os outros homens, como os cedros do Libano fobre as outras arvores : dei dous

locatumfmt fimul, fccun- dum Tbilofophuyfubtraão ergo locato,& locus non ma^ net. O Iugar,&: quem eftà nelIe,regundoa verdadei- ra Filofo fia, Çixo taó reci- procamente dependentes hum do outro, que faltan- do oqueeílava no lugar, nemelle , nem o mefmo

^^fT^r. A- « 7 "'-"ivn». 5 nem o meimo

paflosadiante, & quando lugarpodem fubíiílir & voltei os olhos para o tor- poriífodiífe bem David,

naraver,jào naó achei a clle, nem ao feu lugar. A- ^uieílàoponto da admi- ração : Et nonefl inventas locus ejus, Que David a taó poucos paíTos naó achaíTe aoambiciofo , que tinha viílo taó levantado , a nin- guém deve admirar , por- que para fazer femelhan- tcs mudanças, nem a mor- te, nem a fortuna h,ió mi-

que tanto que defipareceo o ambicioíb, &:poderoíò, nemaeIleopodever,nem achar o lugar onde eíHve- ra:£'^ non e/t mventus locus ejus.

179 Efeeftaconfe- quenciahe verdadeira no lugar que chamaó filico, no lugar moral, de que fil- iamos, ainda hc mais cor- ta, fcgundo a deliniçaó do md-

poft^entecoftetf. ^97 mefmo Filofofo. Arifto- cair,naQhe o mefmo que teles definindo o lugar, herdou, ou pertendeo an- dizqueheafuperfícieam- resdeooccupar ? Simta- bientedo queeílà nelle. E bem : pois íe pertendido, quando o lugar naó he o occupado, &: deixado, era ambiente do homem , fe- o mefmo lugar , porque o naóo homem o ambiente naó achou David depois do lugar, como no noíTo de deixado > Porque de- caio 5 muito melhor fe fe- pois de deixado,era o nief- gue, que faltando a fu- mo que dantes tinha fido, perficie ao chamado lu- &per tendido, poífu ido, & gar, nem he lugar, nem deixado, fempre foi nada. coufa algúa. E fe nam he Elegan^ , & doutamente

Hu go C ardeal; Non eft in- rventus locus ejus : quodfua dignitas nullaerat , &fuum effenoneffe erat. Nam fe achou o lugar do que efta- valevantado como os ce- dros do Libâno ; porque o

-coufa algúa, como o havia

xie achar David ? Mas tor- nemos a apertar mais eíla

propofiçaó, pois o mefmo

David no mefrpo Pfalmo

a repete duas vezes , huma

vez dizendo que bufcou, ^ . .

^ naó achou o lugar: ^^- fer dos que nefte mundo íe fi,íá .6 rivu&mn ejt in-ventus lo- -c ha mão lugares , nam he ^'' mi^us^ & outra vez di^ fer,henaó fer : Smm effe zendo, que fe nos o buf- non effe erat. E fe os mel- carmos , também o nam mos chamados lugares, ou acharemos : ^£res íocum pertendidos, ou poíTuidos, o.^ms,& non inventes. Per- ^ou deixados, nao fao cou- eunto-.Efte mefmo lugar, faalgÚa-,bem fe conclue, que David bufcou, & naó que nefte mundo nam lia: achou, naó he o mefmo, q -lugares. E iílo quenao he„ oambiciofo occupou an- nem ha, he o que com tan- tesde morrer , ou cair? todefveloamao,&burcao -Sim. E eHe lugar , que oc os pertendentes da vaida- cupouantesdemorrcr^ou de 5 &^a mentira: Vtqntd^- ^ Tom.;. ^''^ ^''

Ibid

{

m

19^ S^maÕ daT>omlngadecimarexta

Pídm. dtltgituvmttatem.&qu^- faóosquedaóa bondade.

180 Afeguda fuppo- íição, feguindo o fentimé- to vulgar, & comum, ad- mite, que no mundo ha

ou melhoria aos lugares , &naó os lugares aos ho- mens. Se fores bom, ainda que a cadeira feja dos Ef- cribasj&Farireos, feràbó

lugares; mas nega queha- o voíTo lugar ; & fe fores ja lugar n^elhoE porque? mao, aind! quea caSa

í(?irol ^ ""r^""''^ "'^ íejadeMoyfes, nem por efta no lugar, fenao na pef- líTo o voíTo lugar fera bom. foaqueooccupa.Poralto, Que melhor lugar, que o ou baxxoquefejao lugar, CSo,&oParaifl >Tn^^ le fois bom,rerà o voíTo lu- ~ garbom 5& fe fois me- lhor, fera melhor: mas fe fores mao, & peôr , tam- bém fera mao, & mais que mao o voííb lugar. Diz

oCeofezboma Lúcifer, nem o Paraifo ^^z bom a Adam. Jeremias raó bom era no cárcere , como no púlpito: & Job taó bom no muladar,comono feuPa-

r^í.,.;A^c u ^ ^ J^^ui^uar,comono leufa-

ChriftoSenhornoíro, que lacio. Meilior lugar era no

fobrea cadeira de Moy- maronavio,queo ventre

h'/lt'"^''^ ?^^^^^^- cIaBalea,&Jonasforme'

bas,acFarxreos:%.r ca^ Ihorno ventre da lídea

thedram MoyfifederÚtScri. Manh. b^.é^Thanf^r. £ quem foi Moyfes, & quem eram os Efcribas , & Fariíeos.? Moyfesfoio maior Santo dofeu tempo, &os Efcri- bas, & Farifeos eram os mais mãos homens do feu.

que no navio. Aílim que os lugares por fy mefmos naófaó mãos, nem bons, nem ha lugar melhor, ou peor. O lugar que hoje S.Mathias,naófoi o mef- mo dejudas? O mefmo,& naô outro. Se fores como

Pois fe pftn,.7' 7r j ri ''"^^^' ^^ ^^^^^ ^'omo

roís le eítavao aífentados Judas, naó vos ha de fizer

na melma cadeira deMoy. bomolugardeS Mathns

fe, porque não eraô como &fe fores como SM -

cllc ? Porque os homens thus, nag vos ha de fa7;r

mao

; }

poflTentecofien. ipp

mão o lugar Me Judas. Se res,netn peores : para que

quereis ter o melhor lu- ninguém fe defcontente

gar de todos, fazei por fer do feu, fenaó de fy.

omelhordetodos,&Iogo 181 A terceira fuppo-

ovoíTo lugar, qualquer q ííçaò admitemelhoreslu-

feja,rerà também o me- gares •, mas diz que eílesfó

181

Ihor. Mas todos querem melhorar de lugar> & nin- guém quer melhorar de vida. Sucedelhe aos ambi- eioros,o que aos peregri

oshanoCeo, &: nam na terra. E porque ? Porque todos os lugares da terra , por melhores que fejaójou pareçaó, mais faó alhcos.

/pud €i.necá

nos, diz Sócrates. O pere- que noíTos , mais par^ os

grinofempreanda muda- deixar,queparaospoíruir,

dode lugar cm lugar, &r maisparaos perder, que

nunca melhora , porque para os lograr. Os lugares

fempre fe leva a fy comfi-. da terra fao paíTagem, fo o

^.ueca 20 kuid mirarisnihilti' do Ceo he aíTeiito : os da.

e' à « bipeTeznnationesprodeí[e , terra faó de poucos dias,o

' ' €km tf circumferas> Como doCeo ha de durar para

duereis melhorar de lu- fempre. Ceando Chrifto

Sar, fe vos levais a vós Senhor noíTo partio deite

vofco > Deixai- vos a vós , mundo para o Ceo , a ra-

& como VÓS fordes outro, zaô com que confolou aos

logo o voíTo lugar fera Apoílolosfaudofosde fua

melhor. Se fois o mefmo , aufencia, foi, dizendo,que

ainda que fubais ao pina- hia diante a prepararlhe o

culo do Templo , nunca lugar: Vado par are vobts ]^

fahireis do lugar onde ef- locum : fendo porem o mo- tais & fe fordes outro , & tivo defta coníolaçao o lu- muito outro , fem íair do gar, mais perto eitavaó os lugar onde eílais , vos ve- lugares em que o Senhor reis fubido ao mais alto do os deixava , que o lugar Templo. Em conclufaó, que lhes havia de prepa- Quenaóhalugaresmelho- rar: porque fendo eíte fu. ^ ^ N 111) t*ir9í

i

2 00 SermaÕ da T>ominga decimafexta

turo, &diílante , parece menorJerufalem.&ameA

que vinha a íer confolar majudea , de que era ca

hua auíencia com outra. beça. Poisfeeraó taóim-

ÍMaquelIaultimahoraem menfamente grandes os

que Jacob morrerrdo fe lugares em que Chrifto

apartou de feusfilhos(;que deixava aos feus Apoílo-

também eraó dozej a con- los , & com taó fuprema

foiaçao com que lhes en- dignidade, &;urdicaó fo-

xugou as lagrimas , foi a bre todos eiles ^ porque os

repartição das terras em naÓ confola o Senhor com

que os deixava acomoda- a confideraçaó á^^^s \\x-

dos a todos. Efe para os gares prefentes^fenaó com

doze 1 atriarcas eraó mo- oJugarfuturo.queiheshia

tivo de confolaçaó na au- fencia de feu Pay taó pe- quenos lugares da terra , quaespodiaócabera cada hum dividida a Judea em doze partes3quanto maior podia fer para os Apoílo- lostodoo mundo , quam grande he repartido entre elles ? Diga pois Chriílo a Pedro, que lhe deixa Ro- ina5<5c a Itália ; diga a Ja- Gobo , que lhe deixa as Hefpanhas , a Joaó a Afia,

preparar? Porque efteera lugar no Ceo, os outros na terra. E neíla palavra fc encerraó ambas as razoes, que no principio aponta- mos. Os lugares da terra faó paíTagem, o do Ceo he aíTento. Por iíFo quando S. Pedro perguntou a Chri- fto : èluidergo ent noòis ? o ^^: á o Senhor lhe refpódeo, foi : Sedebitis fuper fides í.^,j.,g, duodecim.judicantes auode- cimtribus Ifrael. Naò lhe

a André a Grécia, a Feiíp- refpondeoàs barcas, &rc pe a Sythia, a Bartolomeu des, que tinhaó deixado,

com as dignidades que ha- viaò de ter neíí^e mundo, fenaó com as cadeiras em quefe haviaó de aílcntat jio dia do JUJL20 : porque ode

a Arménia , a Mattheus a Etyopia , aThomèa Ín- dia, a Simão o Egypro, a Thadeoa Arabia,6caPer- iia, ôc ao outro Jacobo o

poflTentecoften. 201

o de que fe ha de tomar o que tem no Inferno en- poíTe naquelle dia, tem af- ut os Demonios^eíTe era o fento,odecàtudo hepaf- feu , porque eíTe he o que faaeai. E porque mais? ha de durar por toda a

^^3 Porque o kigar, queen taó nos couberjie noííb,& os deíla vida mais faó aiheos, que próprios, por

25.

eternidade. E fe ifto fuce- deo a hum homem chama- do por Deos, & eleito por Chriílo ', onde iráó parar

mais larga que feja a mef- asnegociaçoens, osfobor

ma vida. Nmguélo2;rou, nos,as adulaçoens, & as

nem ha de lograr o Ponti- fimonías com que fe pro-

íicado mais annos, que S. curaÓ,& alcançao os lusa-

res, que haó de durar pou- cos dias, fem memoria da^ eternidade, nem temor da conta?

í. IV.

EStes faó os três

Pedro,& com tudo tem fucedidono mefmo lugar duzentos Sc trinta & ÍQZt Pontiíices,& naó fe fabe quantos viráó depois ; pa- ra que vejais fe era mais alheo, quefeu. Sòhe nof- íb, ou feja no Ceo, ou fó; radelleo lugar, q ouver- mos de ter para sépre. Ef- le foi o doeu meto, <Sc ener- gia tremenda com que o mefmo Príncipe dos A- poílolos diífe , que Judas perdera o Apoílolado : pa« ra que ? Vi abiret in locam futtm : para ir ao lugar, que

era feu. O que teve nefte

mundo, & entre os Apo-

ftoIos,era alheo, porque

eradeS.Mathias, & dos ^

que lhe haviaó de fuceder: lugar,&: meiliQr lugar,mas

nao

Cl fundamentos , ou as três fuppofiçoens ge- raes,com que naô fe im- pugna aambição dos me- lhores lugares j mas fe cor- taô as raizes a quanto ella defeja. Porque a primeira, como vimos, diz abfolu- ta mente, que naó luga- res: afegunda concede q ha lugares, mas nega ha^ ver algú, que feja melhor : a terceira defende que ha

i

i

iiV.

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itmin

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2à2 Sermão da T>omhga dedmafexta

rTofidíd'?Í^ -'^^"^ '"' ^confelha, que tomemos o riolidade, eílarao eiperan- ultimo lu^ar Recnmbe in do todos, qual deftas par^ novtjnmolco, EpZnZ

llt!.TV" P''''"^^ aí-entençadeChK Jor perfuadir. Primeiramen- fer de Chriílo, naô fe pó^

te,refpondo que nenhuma delias. Porque contra a primeira,íigo que ha luga- res : contra a legunda, qlie íia lugar melhor i 5c contra a terceira,queefte melhor

decontraríar,&a dos Fa^ rifeos , por fer dos Fari- feos, parece que cílà c6- vencida ; com tudo a de Chrifto todos a regei taó, & a dos Farifcos todos a

.'X z^ '"'^^ oca uus rari:

lugarnaoeitanoCecCde feguem. Aílim o vemos queagoranaó fulloXenaô hole,& jàemfeu tempo!

na terra. Admitindo pois com o comum fentimen- to, que ha lugares, 6c huns melhores que outros j o que pertendo hoje decía- rar,he: Entre todos os Li

coiiifertaò viiluho ao de Chriílo, o provava com a experiência Tertulíiano: Adprwmm locum ctrtnmê omnmmcontendít : fccun^ dumfolamen hahet , vião"

gares do mundo, qual fe,a naJno,, habet. O d;fe oVa omelhor. Naopôde ha- pertençáo,& a vontade de

ver matéria mais digna de todaaattençaó , & tanto inais,quanto jcà cada hum a tem refoluto comilão, 8c lhe parece fem controver- íia, > o Evangelho temos o parecer dos Varifeos, & o confclhode Chriílo. Os Fariíèostem para Ty, que o melhor lugar do mundo heo primeiro : ^lomodo

todos os homens he íbbre quem ha de levar o pri- meiro lugar :&taó porfia- da , <Sc unicamente o pri- meiro •, que o fegundo lu- gar, ainda que icja aigua confolação , de nenhum modo he vidoria. E fe nin- guém fe contenta com o lègundo lugar,porqucnaó he o primeiro i polto que acima

poftTmtecoHení acima de fy veja hum fó, de Chrifto & abaixo de fy todos os outros > quem haverá, que fe contente com o ultimo ? Nosfamoíòs jogos Olim- picos 5 que fe celebravaó na Grecia^Sc eraó provo- cados à contenda todos os homens do mundo, havia primeiros, fegundos , & terceiros prémios : & com

20^

para que o creamos. Mas efte ponto 5 que naópcrfuadeaFè,co- mo o pcrfuadirà a razaó?

1 8 f Ora efta fera hoje a minha emprefa : De mo- ftrara todos os homens, que o m elhor lugar do mu- do heo ultimo. E naó para a outra vida , fenam para efta 5 nem para a

tudo diz S.PauIOyque hum virtude, fenaõ para a co- levava o premio: Ow»í'j' modidade3 nem para a infiadio curnmt -ifed nuns mortificação, fenaó para o accipitbravium: ^Qr(\\ico goílo j nem para a hu- premio a que todos afpi- mildadcjfenaó para a hon- ra váo, era o primeiro , & ra. E tudo ifto quer dizer

os que fe adiantavaó na carreira aos demais , 6c có- feguiaó o primeiro lugar , eraó os eftimados por vê- cedoreSjSc laureados com a coroa. E fe S. Paulo de- pois de Chrifto, &: efcre^ vendo a Chriftáos,quaes eraó os Corinthios , lhe propõem efte exemplo, pofto que nafcido entre os Gentios; quemfe atreve- rá a perfuadir a qualquer homem, que o melhor lu- gar heo ultimo ? Digo a perfuadir, & não a crer; fSoxque bafta fer confelho

Recumbein novijjimo loco.

i%6

A Primeira pre- rogativa do ultimo lugar he fer muito fácil de confeguir. Aos ou- tros lugares,ain da que naó fejaó os mais altos , che- gafe tarde, & com diíficul- dadejao ultimo, logo, Sc facilmente. Não he mais diíficultoíb o fubir, que o decer.^ Pois efla he a razaó ainda natural da grande facilidade com que o ulti- mo

fl

4.Reg. 20. o.

2 04 Sermão da dominga ãecimafexta

mo lugar feconfegue. Aos pondeo em continente

outros caminhafe a paíTo lento, fubindo j ao ultimo, quafi fem dar paílb^decen- do. Quando £lRey Eze- chias defejou , que Deos lhe confirmaíTe os annos devida, que lhe promete

que naó queria que deccl- fem , fenaó que íubiíTem , dandoporrazão,queode- cer era fácil ; Facile eftum- bramcrefcere dccem lineis\ íbid.ioi; nechoc^olo titfiat ,fed ut rever tatur retrorfum decein

ra,com algum milagrerpoz gradibus. AíTim refpondeo o Profeta Ifaias na eleição Ezechias, náo como Mar

do mefmo Rey , que eíco IheíTe hum de dous,ou que o Sol deceíTe dez linhas,ou que fubiíTe outras tantas. E porque ellando Eze-

thematicojfegundoa ob- fervação particular da- quelle cafo , mas como prudente Principe, Sctaó amigo da fama, como da

chias na cama, nao podia vida^fegundo as regras ge- veroSoi,&:fó podia ver a raes da experiência: Scdif-

fombra no relógio de Pa lacio,que defde a mefma cama íe defcobria , foi a propoíla eíla ; Fis nt aj'cen~ dat timbra de cem line.s , an ut revertãUir totidcm gra-

febem. O feu intento era acreditar o milagre pela diííiculdade do movimen- to do Sol , & por ifib diíle com tantareíblução , que não queria que deceíTcfe-

dibus?Q\\^Y VoíTaMage- náo que fubiííb -, porque

ílade, que a fombra fubá , ou que dcça dez linhas ? A mefma propoíla , confor- me o fitio em que o Sol fe achava naquciía hora, mo- fl:ravabem,que naó feria menos milagre o de decc- rcmasfombras, que o de fubirem. Cótudo oRcy, fcm maisefpeculação, rcf-

naturai,&exprimcntaJmé- tetaódifficultofo he fem- pieofubir , como lacil o decer. A fettapara fubir, fegue violentamente as forças do arco , &: do im- pulfo ; mas para decer,não tcmncccílidade de braço aihco , a mefma natureza a leva fcm violência ao bai- xo,

poftTentecoflen. xo,&: quanto mais baixo, fa mente fubiraó. deoreíHi. A

tanto mais aepre barquinha poda na vea do R.ÍJ, CO n i vela toma- da, ác os remos recoihidos, le\^ada do impeto da corrente como em hom- bros allieos, taó defeança- damente dece , como apreíTada. Pelo contrario ao fubir pelo meímo Rio acima, feja o vento em bo-

20 f

Afetta nos deo o exemplo no ar, a barquinha na agua , & nòs mefmos na terra-, mas nas Cortes, que faó outro quarto elemento mais cheo de impedimentos, & difficuldades , ainda he mais trabalhofo o fubir. Também o podem dizer os que cançados da mef- ma fubida tomáraó por

ra taó forte, que quafi re- melhor confelho o parar : bente as velas, &: os re- & muito mais os que de-

meirostaõ robuílos, que quebrem os remos , mais he aaguaquefaaó, que a que vence m. M jS mefmos para fubir a huin monte, he com tanta dificuldade, & moleília , que a própria refpiraçaò fe cança , 8c fe aperta : mas para decer ao fundo do valle, o mefmo pefo do corpo o ajuda, ali- geira,& move : & mais le- vados, que andando, che- gamos fem cançar ao lu- gar mais baixo, &: ultimo. Taó facii he o decer,& taó diiiicuítofoo fubir.

187 Digaó agora os que fubirao aos primeiros lugares, quam aifílculto-

pois dos trabalhos, & mo- leftias do fubir, em vez de confeguir o lugar , alcã- çáraó,6c tarde , o defenga- no. Naó aílim o perten- dente do que ninguê per- tende, &: o eílimador do que ninguém eílima , o qual contente com o ulti- mo lugar, para decer com afetta, naó ha mifter ar- co, para decer com a bar- quinha, naó ha miíler re- mo, & para decer com o homem, &comohomem> quaíi naó ha miíler pès, nem paííbs. As azas do fa- vor, os impulfos do po- der5& os cuidados da diíi- 2encia,tudo para ellefaã def-

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2 O í) Ser ma o da l^âmi

defprezos58c rifo : & quan- do os outros chegaó can- çadosaos primeiros luga- res, onde haô de começar acançardenovo, elle def- cançado fe acha no ulti- mo,onde repoufa o ver- dadeiro defcanço.

i88 Nàoacho exem- plo deíla inclinação , & deíla facilidade entre os homens-, porque a fua na- tural ambição mais os leva a fubir pelo difficultofo, que a decer pelo fácil. Mas fe elles fe lembrarem da facilidade,&: felicidade que a Pedra de Daniel de- ceo do monte58c derrubou aEftatuade Nabuco , & trocou com elia o feu lugar de que a fez defaparecer com todos feus metaes: Daniel. NuUíisquc locíis iuventus ^^^* eji eis : naquelle efpelho tofco, Sc infeníivel veráó eíles mcfmos dous erros do feu mal polido juizo. Deceo a Pedra do monte , 6c naó bateo a cabeça, nem os peitos, fenaó os pès da Eftatua, onde parouj por- que efte era o lugar ulti- mo, ôc o mais baixoj aonde

'nga dectmajexta a levava o pefo da fua na- tural inclinação. E nota, ôc pondera muito o Texto, que a mefma Pedra fe ar- rancou, &deceo do cume do monte fem máos : Abf^ j,^. j . ctffus lápis fim manibus : Porque .^Porque eíla he a facilidade,& differença quefedece ao lugar mais baixo, 8c fenaó pôde fubir ao alto. Aquella Pedra naó era pequena,como co- mummente fe cuida,fenaó muito grande. Taógran- de,que fendo a eftatúra da Eílatuade feíTenta cova- dos,6c os pés, Ôc efpaço en* trehumjác outro iguaes a efta grandeza 5 ella com o mefmo golpe os alcançou, & bateo a ambos. i\gora pergunto : E quãtas mãos, & quantas machinas fe- riaó neceíHi rias para fubir eíla grande Pedra ao mef- mo lugar do monte , don- de tinha decido.^ Mas on- de naó podia fubir fenam com muitas mãoSí&: mui- tas machinas, ella deceo por fy mcí ma fcm ncceíli- dadc de máos próprias, alheas,7^'k^ maníbus. Oh ceguei-

poH^entecoften. ^ ^ 207

cegueira da ambição hu- ouosdiftribueajuftíçajou mana! Dizeime, quantas faó jndulgencias da gra-

máos bejais, dizeime,quâ- tas máosencheiSjdizeime, quantas machinas fabri- cais para vos alar aonde quereis fubir ? Edizeime também , quantas vezes defarmaó em vão eíTas mefmas machinas, 8c eíTas máos bejadas , & cheas, quantas vezes vos deixaó com as voíías vazias ; por- que elies alcançarão o que pertendiaódevòs, Ôcnam vò$o que efperaveis dei- les. A Pedra naó derrubou a Eftatua,para fubir [ co- mo vos fazeis ] pelas mi- nas alheas, mas o lugar que ellacomo foberba pifava, detinha debaixo dos pès, eíTe mefmo,por fero mais baixOj&oultimo,heoque

ça. Paraajuftiçahenecef- fario o merecimento, para a graça he neceíTario o fa- vor. Ebaftaó eftas duas coufastaõ diííicuitofas de ajuntar? Náo baílaó. A- bel tinha o merecimento , & o favor : & o mefmo me- recimento 5 & favor forao o motivo de Caim feu ir- mão lhe tirar a vida. Pois fecomo merecimento, & com o favor 5 o lugar que veyo a alcançar Abel foi o primeiro entre os mor- tos i naó he melhor ter o ultimo entre os vivos, fem o trabalho de o merecer , nem o perigo de o não lo- grar .^ E fe illo aconteceo nos tempos em que os ho- mens fe matavão fem fer-

tomou para fy a Pedra , & ro,& a graça, & o favor fe nelledefcançoucomo em alcançava fem ouro ; que

próprio centro.

189 Infinita coufa fo- ra fe ouve/Temos de por emparalélloas diííiculda- des dos primeiros lugares, & a facilidade do ultimo. Os lugares que dependem da v6tade,& poder alheo ,

fera no tempo prefente?^ Depois que as dignidadeá feíizeraó venaesjos luga^ res mais fe allugaójdo que fealcançáo : & não fe dap a quem melhor os merece> fenáoa quem mais caros os compra. O que fe buíca iios

2 O 8 Sermão da T^ominga decimafexta

noshomenSjfaóosquean- Eílaturas tão defméíiira-

tigamente fe chamavão talentos : & os que hoje tem o mefmo nome, fenão eftão engaftados no mef- mo metal , por íingiilares quefejáojnão tem preço. o ultimo lugar 5 porque não tem compradores, fe- não vende j 8c por iíTo elle fe confegue íem cabe- daljScfe logra fem defpe- za.

ipo Confiderai,& me- di bem os degraos , liuns tio altos, outros tão bai-

das debalde as conquiila- reis commefuras, que fe acabou o tempOjCm que os negócios fe adiantaváo com fazer pès atraz. ^s habilitações de peíroa,a dosofficiosjas certidoens dosferviços,&a juftifícà- ção das certidoens , tudo não tem tantas letras,quã- tas faó as diííiculdades que nellastopão, & fem- pre afortehefuaj&c voílb o azar. Aos menores ha* veis de dar, que he menos>

xos , por onde tropeçan- aos n^aiores haveis de pe- do, ajoelhandojôc caindo , dir,& rogar, que em quem

ou fe perde a pertenção, ou fe chega finalmente a tomar poííè do lugar per- tendido : & vereis quanto mais cufta o alcançar , que o merecer. A David para merecer, bailou lhe derru- bar hum Fihíleo : mas pa- ra alcançar o merecido , foilhe neceíTario vencer a duzentos. E que Mini- ftro ha, ou Official de Mi- niílro, que mais pelo in- teiriçado, que pelo intei- ro, não fcja hum Filiílco cíyrrancudo , & armado í

tem honra, he muito mais: ficando pendente a voíTa efperança do feu agrado , ócdahora, & humor com que foííes ouvido. Nos Confelheiros haveis de fo- licitaraconíulta, nos Se- cretários a penna, & no Principe não a refolu- cão, mas na refoluçáo o ef-. feito j para que tudo, de- poisdepa^ar os direitos, não venha a fcrhúa folha de papel fcllada com as Armas Reacs,as quacs ha- veis de cóquiílar de novo, para

pofl^entecoflen. 209

para que chegue a fer ai- dam ! que fendo difficiil- gua coufa, o que ainda de^ tofiirimo o fubir, & facili^ pois do defpacho he nada. mo o decer , elies perver- Eniíim, que eíles faÓ os tendo as leys da razaÓ, & difficulcolbs, Sccançados da natureza , antes que

degraospor onde fobem, quando naó caem , os que aicançãoos primeiros lu- gares : &: aqueile que fe contenta com o ultimo, nem ferve, nemrequere.

remfubircom difficulda- de,& trabalho, que decer com facihdade, Sz defcan- ço. E notai, que he tanta a facilidade, «Sc o defcanço, que fez Chrifto men-

nem pleitea , nem adula , çaò do defGançar,&: naó do nem roga, nem paga,nem decer. Naó diífe como a deve: & fem depender de Zacheo, dtfcende , fenam , Minifl:ros,nemdeTribu- recumbe-, porqueo deCer, naes,nemdomefmoRey, ainda que fácil , demanda eíle he o que fe confulta, paífos,6c o recumbe^ que he êcelleoquefe faz a mer- eftarrecoftado ,como os ce,porque fe defpacha a fy Hebreos eílaváo à mefa , mefmo. Eque podendo- fófigniíica defcanço com meeudefpachar a mim, gofto,& fem trabalho i/eÉ-- haja de requerer diante cumbeinnovijfmo loco. de outrem? Naó he mais fácil o querer , que o re- §. VI. querer.^ Ouvi a juíla excla- mação de S. Bernardo ne- ipi A Segunda pre- fte mefmo cafo. Operver- Xlrogativa do fitas ! o abufiofilioru Adaml ultimo luga r he fer o maii§ &uia ctm afcendere ãiffictli- feguro. Os outros lugares ^="'-' mum fit , defcendere autem quanto mais altos , tanto ^i^í facilimum^, ipfi & leviter menos fegurança tem : & a ""^' ^fcendunt, & dijfalius àefr fua mefma altura he o pro - cendunú Oh pcrverfidade, noílico certo da fua ruma, óabufo dos filhos de A- Naó querp que vejamos Tom.;. O eftà

k

i

Matth 24.29.

2 1 0 Sermão daT>omingà decimafexta

cila pouca fegurança em ra,^: propriamente haó de

outro lugar, fenaó naquel- le mefmo ^que por fer o mais firme do mundo, lhe poz Deos o nome de fir- mamento. Anunciando Chrifto Senhor noíTo os

cair, & o Sol, & a Lua ef- curecerfe fomente ; porq fe naó efcurecem todosjOU caem todos? Que cuIpa,ou que caufa tem as Eílrellas, para ferem eilas lo as que

íinaes do dia do Juizo , diz haó de cair ? Tem a culpa ^,,^^ c^i ru ^r V - 1 /'i S

que O Sol fe efcurecerà que a Lua naó dará a fua luz , & que as Eftrellas ca- hiráó do Ceo ; Solobfcura- bttur , ^ Luna non ãabit lumenfuu^Ò* StelU cadent deC^/o.Sobre efte cair das Eftrellas fe dividem os In- terpretes em muito diífe- rentesexpoííçoens -, por- que íuppoem^ que eíian- do as Eílrellas fixas no Ceo, & fendo o Ceo incor- ruptivel , naó he poílivel cahirê propriamente. Mas a mim ( diz Maldonado di (creta mente ) quando Ariílotelesnegaoq Chri- íto affirma, pareceme, que antes devo crer a Chriíio, que a Ariftoteles : M^g/s enimChrijio idaffirmanti ^ quam Ariíioteli neganti Jieripojfe , credendum effe arbjtror. Suppoílo pois que as Eílrellas vcrdadei-

quetiveraó defdequefo- raó coUocadas noCeo,que he fer o feu lugar o mais alto. A Lua eftà no pri- meiro Ceo, o Sol no quar- to, as Eftrellas no oitavo, que he dos que alcança a noíTa vifta o fupremo : & náo he neceílaria outra culpa, ou caufa para ferem ellas as que haó de cair. Em todos os três íinaes fe- guio Chriilo a natureza dos lugares. No eclypfe da Lua feguio a natureza do lugar i porque no primei- ro Ceo naturalmente a eclypfa a terra : no eclypfe do Sol fesniio a natureza do lugar 5 porque no quar- to Ceo naturalmente o eclypfa a Lua : & no cair das Eftrellas também fe- guio a natureza do lugar; porque no oitavo Ceo, iendo cfte o mais aito,tam- bem

!bid. 8.

poft^cntecõJíen. 21/

bem hc natural o cain para a tentação. O primei-

192 Não ha altura ne- rofoia torre do Templo ^^^^ ^

fte mundo , que náo feja de Jcrufalem : Ajjtmp(it

precipício. Todo o lugar euminfanãam Civitatem ^

mais to que os outros.ef- & ftatuit eufuper fimacu-

fempre ameaçando a /í^«íTí'«?/>/í. Ofegundofoi

própria ruina , fem outra hum monte o mais levan-

çaufa,ou culpa, que o fec tado, que havia naqueJle

mais alto. Que culpa tem deftriífco -Jterum affumpfit

as torres, Sc os montes pa- etm in montem excelfim

ra ferem elles os ameaça- <valde. E porque razão a

dos dos trovoens, & os fe- húa torre,& a hum mon te.*^

Fidos dos rayos ? Nenhúa Porqueem hum , & outro

outra fenaò a fua própria lugar armava a derrubar a

altura, &: ferem os lugares Chriílo. Na torre, foliei-

mais levantados da terra, tando-oa que fe precipi-

Parece que fe por of- taífe : Mitte te deorfum : no iwd $.

fendido o Ceo de fe aviíl- monte, fa zendo lhe gran- des promeífas , para q^e^^.^

cahiílè ; Si cadens adorave- ris me. Os que tanto anelaò àfubida de femeíhantes lugares, 3 à que náo podem

filiarem mais aelle, como fe todas as torres foraó a de Babel, & todos os mo- tes os dos Gigantes. Quâ-

do Chriílo para nos dar .^^ ,-,-l ^

exemplo fe defafiou com ver quem os leva, vejaó ao o Demónio , a primeira menos aonde faó levados, eleição do lugar foi fua, A torre era lugar Eccleíia- provocando-o ao deferto : ílico,& fagrado j o monte, *Duãuseftin deJertumyUt lugarfecular ,& profaiio; Matth tentareturà^Diabolo.i^^iS na torre prometeolhe o 4». * a fegunda,6c terceira elei- Demónio Anjos j no mon- ção foraó do mefmo Diç- te offereceolhe mundos: ínonio, levado elle a ChriX mascomohum, ^ outro fto aos lugares, que lhe pa- lugar eraó os mais altos, recéraò mais a propolico ou as ofFertas foífem da

Oij Ceo,

2 1 2 Sermão da T>ommga decimafexta

Ceo 5 ou da terra , ou na de Dário: & Aman taõ va-

Igreja, ou fora delia , am- jído de Aí]iiero,ambos taó

bos eraó igualmente os de repete cabidos, &: mais

maisperigofos, & os mais fendo taó difFerentes na

aparelhados para a cabida, vida, como na profííTaó ?

ipj muito antes ti- Sim. Daniel fervia a Deos,

nhaenfayado o Demónio Aman fervia ao mundo:

eíla mefma tragedia em Daniel era juílo, & finto,

duas grandes figuras de Aman era mao, & perver-

hum,&: outro eílado. Da- fo j mas levantados ao cu-

mel era peíToa V cclefiafti- me dos primeiros lugares ,

ca dedicada ao ferviço de nem a Aman Ibe valeo a

Deos : Aman era Miniftro fecular occupado nos ne- gócios do mundo. Aman tinha o primeiro, & maior lugar na Corte delfley -Aífuero: Daniel também o primeiro , & maior na

fua induftria , para fe fu- ftentar, nem a Daniel a fua virtude , para fe defender da cabida. Mais admirá- vel foi ainda a de Daniel," queadeAman. Amanca* bio, porque perdeo a gra-

Corte delRey Dário: mas çadoRey : Daniel tendo

quem he aquelle , que na por fy toda a 2-raca do

praça da Metropoli de Su- Rey, toda ella lhe naô ba-

zan pregado em bua Cruz ílou, para que naó cabiife..

de cincoenta covados amais infame morte eílà acabando a vida .? He A- man. Equembe aquelle, quenaf;^nofa Cidade de Babylonia , levado por Miniílrosdajuíliça be la- çado no lago dos Leoens, para morrer efpedaçado de fuás unhas ? He Daniel. PoisDaniei taó eítiuiado

E parou aqui .^ Não: livrou Deos milagrofamente a Daniel das garras dos Le- oens: & canonizado fcu merecimento com hútao pubhco, & eílupendo pre- gão do Ceo, o Rey o relli- tuío outra vez ao lugar q dantes tinha. Mas o que agora fe fcguc ainda foi maior prodígio. Foraó taò pcdc'

foJtTenfecofiefP. 213

Í5oderoras, 5c tao aílutas as doente que nao ha de mor- machinas de feiís inimi- rer , eftà tutus na febre gos, que obrigarão ao mef- aguda > mas não ç^^^fecu-» moRey a que elíe otor- r/zi-j porque não eílà fem

perigo, fem temer, & fem cuidado : que iíCo quer di- zer Securusy hoc efi^ fine cu- ra, Efta he a energia, ôc. elegancia daquella fenten- ça de Séneca : Sceleratuta

naíTe a meter no lago, & o entregaíTe outra vezà fo- me, & voracidade das fe- ras. ■M94 Oh bemaventu-

radofó, &fó bem enten- 3 .

dido aqueile, que entre to- ejfe^fecura non pojjunt. E

dos os lugares do mundo efte género de fegurança

fabeefcoiher hum tal lu- fegura não do perigo,

gar, do qual ninguém o fenão também do temor»

poíla derrubar , nem eile & do cuidado , a qual nun-»

cahir. Dos lugares altos he ca pode haver nos lugares

verdade, que nem todos altos, he aquefó fe acha

cahiraój mas também he no ultimo. Quem eftà no

certo , que os mefmosjque lugar alto, pôde não cahirj

naó cahiraò, podiaò cahir. masquem eílà no ultimo

E baila o poderem cahir, não pôde cahir, que hefó

para não eftarem feguros. a verdadeira fegurança. E

Como pôde fer fegurança porque > Porque fe do iu-

a do mar , fe fempre eftà gar ultimo fe podéra cahir>

íbgeitaà inconftancia dos não feria o ultimo. Do lu^

ventos? Os Latinos tem gar alto pódefe cahir ao

dous nomes, com que de- baixo,do baixo pôdefe ca-

clarão dous géneros de fe- hir ao infimo : mas do iníi-

gurança muito diverfa Ttitus , & Securus. Tutus figniíica a fegurança do q que naó periga : SecuruSy a

mo, que he o ultimo , nam fe pôde cahir, porque nam ha para onde.

ipf Efte foi aqueile

fegurança do que naó pe- evidente argumento , com riga,nem pode perigar. O que o Profeta Jeremias Tom.7. O iij con-

■il

m

Thren,

4.22.

214 SermaÕ da 'T)omlnga decimafexta

confolou a Jerufalem no de todos os males , izen ta

cafo da tranfmigraçaÓ de da morte,&faz immortaes

Babylonia.Chorou o Pro- aos que mata 5 porque nem

reta eloquentiííimamente eliaos pòdejà matar, nem

aquella tranfmigraçaÓ eiies morrer. Eeílepriyi-

quatro Abecedarios de la- legio he o que logra na vi-

ítimasjfinalando a cada da,quemconheceo obeni

letra hum novo motivo de dor :& chegando ao ulti- mo verfoj&à ultima letra, acabou eíla breve íç^n- tença ; Filia Sion, non ad-

do ultimo lugar , & fe con- tenta com eile. Antes de fe recolher a efbe fortiíli- nio aíilo, pôde decer por vontade, pôde cahir por

aetultra.ut tranfmigrette. defgraça, & pode ferder-

A tua tranfmigraçaÓ, ôjc* rubado por força; masde-

rufalem, foi o non fins ul- poisdeeftar no ultimo lu-

traáos males,que te podia gar,nema força alhca,né

fazer Babylonia. Mas ago- a mefma vontade própria,

ra,que eftàs padecendo ef- nem todo o poder da for

fa tranfmigraçaÓ, tu a de-^ vesconfoiar naó com ou- tra coufa, fenaó a mef- ma tranfmigraçaÓ : Por- que? Porque fe ella foi o nonplus ultra , & o ultimo dos males,naó pôde paífar dahi: Non addet ultra ^ut tranfmigret te. Taó alta- mente exagerou Jeremias o mal,quamíutilmentelhe excogitou o alivio. He

tuna o pode fazer cahir, nem decer. Acrecente a fortuna hum dcgrao alem do ultimo, & outro abaixo do iníimo, Ç o que Deos naó pôde fazer )& en- tão poderá decer,quem ef- ta no Ínfimo lugar,&: cahir quem eftà no ultimo.

ipó Soquem foube fa- zer cí]-a eleição defarmou a fortuna. Oh que gloriofo

propriedade dos males ul- trofeo ! A fortuna defpida timos izentarem de fy defuasarmas^&aopè dcf- mefmos a quem oprimem . fcs deipojos aquelle verfo : Amorte, quehc oiiltimo Maior /um qiicm aãpofft

Joríwr.a

pdfl "Pentecofien, /^if

fortuna nocêre. AíTitn fe bemafortunado^quênam dearma a fortuna, que pôdecahirj&fónaõpóde he force com as armas,que caliir, quem naó tem para nós lhe damos. Todos os onde. E porque náo pare* poderes da fortuna em que ça,que diílimuío a futiieza conriílem?EmIevantar,ac dehúamílancia, que tení abater : & fe eu me conten- efta Fiiofoíia>dirá alguém, tocomoultimo lugar, queno mefmo lugar ulti- ella me pôde levátar , por^ mo>fem haver outro mfe- que não quero, nem aba. rior, & mais baixo , pode ter,porque naó pôde. An^ cahir quem eíla nelle : ^u ;^^;^^; tes digo, que nem abater^ feexiflsmatftare^ <videat ne me, nem levantarme pôde eadat : Quem eftà em , a fortuna , ainda que quei- olhe naó caya i porq quem ra 5 porque temos os con- eíláempé^pòde cahir dê- €eitos trocados. Levantar- trono mefmo lugar, feni me naó , fegundo o meu cahir para outro. He o 4 conceito j porque o que el- diífe judiciofaméte o Poe- la tem por melhor lugar, ta : Infe magna ruunt. Mas eíTeheo que eudefprezo. eíl:a inílancia naó tem ia- E abater me também naó, gar no noíTo cafo : quem fegundo o feu conceito •, eftà empe pôde cahir no porqueoqueeilatem por mefmolugar,mas naóque , peor lugar,eíle he o que eu eftà deitado j &: iíTo quer eftimo. Abra os olhos a áizzr ^recumhe. Os que ÍM" fortuna cega , & emende a biaó,&: deciaó peia efcada falfa aparência dos feuser- de Jacob podiaó cahir, rados conceitos, & en- mas elle que jazia aopè da taô poderá fazer bemafor- mefma efcada no ultimo tunadosjtédo pelo melhor lugar,6c deitado, eftava fe- lugar do mundo naó o pri- guro de poder cahir,^ por meiro,& mais alto, fenam iífo dormia a fono folro : o mais baixo , & ultimo. Recumkinnoviffimoloco. he verdadeiramente ^

Oiiij §Ylh

m

2 1 6 Sermão da T^omin^a decimafexta

refufcitouem noíTos tem- pos,aílim foi tarrj bem con- denada como errónea, por ferexpreíTamente encon- trada com as Efcriturasdi-

ç i p ^- r ,'"r- v^í^^s- C>oSoldizo Texco

tam^bem o mais quieto , ou claras , como a luz do mef-

iP7

Terceira pre-

XjL rogativa ' do ultimo lugar fobre mais

elle quieto. Neíta per petua roda em que fe re- volve o mundo , tudo fe move, tudo fe altera , tudo fe muda, tudo eílà em có- tinua agitação, fem coníi- llencia,nem firmeza : nem

mo Sol, que eile heo que volta ao mudo, allumi- ando^o: Oritur Sol,& oc^cá^ ciditygyrat per Mertdiem^^^^^ &fleã'itur ad Aqmlonem^ lu-i rans untverfa m circui^ Tiai,i^n\.^í ';' ^^- ^ peio cótrariojda ter-

«ínmí Tr ""' r^"'^ ? "^"^ ^^^" de mover

ÍaôT' °í í'°^°^°'; """^ "P^ '^«^ Pl^"«^s fe moves J^aoeraoSoloque fe mo- & todos os Aftros, & cor*

do fín, '''*'" '"""■ P^s^^eleftesdedia, & de do,fcnao que permanece- noite eftaó em perpetuo dolemprefixo, & immo- movimento, &abS do

Ceo arrebatada com eíle fe move a esfera do fogo, 6c abaixo do fogo o ar, & os ventos, & abaixo do ar a agua, ou correndo perpe- tuamente nos rios , & nas fontes, ou indo, &: tornan- do àsprayas no mar duas

vel, eíla terra em que eíla- moshe a que, fem nòs o fentirmos, fe move , & nos leva comíigo,& quádo nos aparta do Soí, faz a noite, & quando colo torna a mo/Irar, o dia. Mas eíla opinião , ou imaginaçam

^\^i, ' - -^c^—^cv..* 'a»^ ua ura y asno mar duas pathcfliatica, aflim como VC/e(ino.dia,aj;ida quando

as

poftTentecoften. 217

as tetnpeflrades o naó le- para o Ceo3& para tudo o

vantaò às EftreIias,oii abif- maó às áreas ; qual he a razaó porque a terra no meyo de todas eílas agita- çoens,& tumultos da natu- reza, fôellaeftà firme , & immovei, elia em per- petua quietaçaò,& focego: Terra autem in íeternuftat^ Náo vedes como neíle immenfo globo do uni- verfo íó à terra como cen- tro delie coube o ultimo lugar do mundo ? Pois eíTa he a razaó porque ella

que fe move entre o Ceo, & a mefma terra, que con- tente eftaria do íeu ultimo lugar, & que graças daria por elle ao Autlior da na- tureza : vendo o curfo , & revolução fempre inquie- ta do Sol, da Lua , & das Eftrellas: 5c a continua ba- talha dos elementos, co- mendofehuns aos outros fempaz,nem quietaçam, mas em perpetua conqui- fta de dilatar cada hum a própria esfera , & ella

no mefmo mundo goza de pacifica,^: quieta por be- quietaçaó,& focego : Cíí/í- nefício da ultima baixeza

faftabílitatist & immobili^ tatis terra eÇt ejus gravitas^ quaexigit infimum mundi locum , comenta Cornelio. E m fuma, que todos os ou- tros lugares mais, ou me- nos altos faó naturalmente inquietos, & o Ínfimo , ultimo, 6c mais baixo de todos he o aíTento firme, 6c o centro immovel da fe- gura, 6c perpetua quieta- rão.

íp8 Oh fe a terra ti- fera olhos , 6c entendimê- to,6c oihaíTe debaixo

em que Deos a fez a baze do mundo, 6c lhe deo por baze o feu próprio centro : Fíindajti t erram fufer fia- p^^jj^^ hílitatem fuam ? Mas o ho- í°3 í« mem,que he terra com entendimento,6c olhos, fe o mefmo Deos lhos abrio de maneira, que foube nao querer outro lugar fehaóo ultimo •, elle he o que ver- dadeiramête logra aquie- ta paz , Sc pacifica quie- tação do feu taó feíice co- mo defconhecido eíladoj fem quem lho perturbe 5

^T!»„.,

/

i

i.Rcg.

Texc Hebr.

Sidon. Apo\'ii- naiis hb.iE

2 1 8 Sermão da T>omwga ãecimafextà

nem altere. Batalhem os public^pracipitibus yò^íw

outros, &: comãofe fobre brkisculminibus infiftunt^

quem ha de fubir,& alcan- hoc ipfo ,fatis miferiores ,

caros lugares mais altos; quodparum intelltgtint in-

que eu (ciiràj quanto mais quiettjjimo fe Jubj acere fa-

olho para elles, ôcvejo de mídatui. Notai a palavra

fora os feus perigos, Ôcnau- fuperlativa inquietiffimo ,

fragios, tanto mais me fa- c6 que hum VaraÓ de taõ

tisfaço da minha paz, que alto juizo como Sidónio,

das fuás batalhasjda minha retirada, que das fuás vi- torias >& da m inha fegu ra baixeza , que das fuás in- quietas alturas, Olhaijque bem entenderão a inquie- tação de todas ellas vivos, 6c mortos. Quando Saul depois de morto Samuel, o tirou do fundo da terra , &ofez vir a eíle mundo, pofto que por taó breve efpaçoja razão porque Sa-

não chama fervidaó â dos lugares altos, mas in* quieriííima fervidaó : in- quittifjimo fumidatui.

199 Ascaufasnaturae^ deila inquietação dos lu- gares altos, ou faó as co-n* petenciasdos que os pro- curaò, ou as envejas dos queosdeíejao , ou o pró- prio defi/íbcego dos mef- mos lugares, que ainda de- pois de adquiridos , nem

muel íe queixou delle naó elles aquieta5,nem deixaó foi outra, fenão porque o aquietara quem eílà nel-

inquietára : ^are inquie- ta ff i me , tit afcenderern ? E Sidónio Apollinar refuta- do o parabém de certo lu- gar eminente a que fora promovido hum feu ami

Ics.Qiianto às competên- cias s porque pcJejavaóJa- cob,& Efui nas entranhas defiia Mãy:& Pilares & Zaraó,quelhefucedéraó, não pelejavcáo nas entra-

go, efcrevco eílas notáveis nhãs da fua ? Porque Jacob palavras. Sedjententta ta- & Efau ambos pertendiaó // nunquam ego afcntior , ut o primeiro luga r : & entre fortunatos putem^ qui Rei- Phares & Zaraò taó fora

cílava

foH^entecoften. 219

citava de haver a merma tns^alterafinlflrhfedeat. contenda, que tendo Za- Os outros Difcipulos , a raò jànamáo coma pur- quem os dous irmãos fe pura a enveftidura do pri- viaó preferidos , nani lhe TíiQiroy hic exiet prior :,toj^- davaó cuidado : & de

nou a retirar o braço para o dar a Phares. De forte, que nas mefmas entranhas maternas, onde ouve dous que competirão fobre o primeiro iugar,tudo foraó inquietaçoens,& batalhass Bcoiídeouve hum que quiz antesoultimo,queo

Pedrofe temiaó. Mas fe Joaó & Diogo eraó os dous mais virtuofos do A- poílolado, & os dous ma- iores amigos de Pedro, co- mo o queriaó excluir por eíla via ? Porque onde en- tra aenveja, &aambiçam de lugares5náo ha virtude.

primeiro, tudo foi paz, & nem amizade fegura:o ma- quietaçaò. líto quanto às ior amigo vos ha de deA

íoo competências. E quanto às envejasPMaior cafo ain- da. Pedirão os filhos do Zebedeo as duas cadeiras da máo direita, & efquer- dadoReyno de Chrifto; & com que tençaõ as pe- dirão ? Com tençáOj diz S. Joaó ChryfoílomojqueS. Fedro, de quem fe te- miaojlhc não levaíTe o pri- meiro lugar , ouprimaíia do Rey n o. Trimatiim hu- chryf. J^-^ confejjus impetrare , & Homii. pneponi auiãem fe c£teris Matth. jciebant , T et rum verojibi praferri formidantes dice" reaujífunty ut tmus à dex-

viar5&o mais virtuofo fe ha de introduzir. Os pri^ meiros lugares leve-os Jo- aó & Diogo : & a S . Pedro? Nenhum lugar. Por cer- to, quenão havia de haver eíla inquietação no Apo* íl:olado,fe o lugar fora o ultimo.O ultimo lugar nao tem envejofos, nem quem o efcolheo por melhor, te que envejar : & onde nam ha envejofo, nem enveja- do, tudo eílà quieto. E ba- ila iílo? Não baila. Porque 20 í ainda que não haja com- petenciaj nem enveja, que inquiete os lugares altos.

•II

2 2 (3^ Sermão da T^omlnga decmafexta '

he nelles ta6 natural a in- 202 o ultimo lugnr

quietaçaójcomo dizia,quc cMqs mefmos fe inquietaó, & a quem eftà nelies. Lú- cifer foi criado no Ceo, donde cahio ; Cómodo ce- ^ cidiJUdeCalo Lúcifer : & com tudo dizia a fua am- bição, que hayia de fubir ao Ceo : ^i^ dícebas in cor- ^id. ij. de tuo:ln Calum confcenda. res mais altos do mar, que Pois, Demoniojfe tu eftàs em penhafcos , ou áreas no Ceo , como anelas

Ifai. 4 2.-

eftà livre deftas inquieta- çoens,& perigos, 6c nam por outro privilegio , ou immunidade , fenáo por fero mais baixo. Errada- mente fe chamáo baixos aquelles em que naufra- gão os navegantes. Não laó baixos, fenão osluga-

fubir ao mefmo Ceo ^ Co- mo defejas o que tens.? Comopertendes o qae alcançaíle > Como te in- quieta o que gozas ^ Co- mo queres fubir onde fubiftej&eílar onde ef- tàsi? Porque o mefmo lu- gar em que eílava, o in-

fe levantáo no meyo delle. Por iíTo nelies naufraga o mefmo mar,&: fe quebrão, & efpedação as ondas. T^i" tofas as que fem querer fair, nem fubir, fe deixaó eílar no feu fundo , que ef- fas íe confervão em paz, & gozáo de inteira quie- tação: êc fe chegão os

quietava de forte, que ef- eccos das que perigáo, & tando nelle , naó podia quebrão, ellas defcanção.

aquietar nelie. Por iífo fem competência, nem enveja de outrem , que o dcrru- baíTe, elle fe derrubou a fy mefmo. A Adam derrubou o Demónio ,ao Demónio elle mefmo fe derrubou, porque tanto o inquietou o lugar que tnihajcomo fe Q naó tivera.

& dormem ao fom das ou- tras. Deílamefma quieta- ção feguraj& firme nos outro documento a terra naquelles grandes corpos aqueconcedeoa vida, & negou os fcntidos. Todas as arvores tem húa parte firme, & outra movediça. A firme, que faó as raizes, eítà

poftTentecoJlen. , 221

eftà no baixo j &a move- põem em dons animalr-

dica, que faó os ramos, no alto. Sôalli temjurdiçaó, & império , ou a lifonja dasviraçoens,ouo açoute dos ventos. Todas na ca- beça leves,& inquietas , &

nhosdetaó pouco vulto .^ Para que fe envergonhem os homens com todo o feu ufoda razão, de naófabe- remefcolher o lugar, que

^^^^. , ^ mais lhe convém. E íao

no feguras, 6c firmes, tão efquecidos , & defcui-; Noaltoquebraófe os ra- dados todos em fazer eíla' mos, voaó as folhas, caem efcolha , que fe algum ou- as flores , & perde mfe an- ve, que a íizeíre,foi por ef- tes de amadurecer os fru- pecial auxilio da graÇa^ tos : &: no baixo fuílen- divina. AíHm continua o taóas raizes o tronco, & meímo David com eílas nelleasefperanças de re- admiráveis palavras : ^^^- cuperar em melhor anno tus vir.cujus eft auxilium ^^.^^ tudo o perdido. Oh mal- absteiafcenfionesmcorde eníinado juizo hu mano , ' fuo dífpofmt , in vdlle lacff^ que nem as plantas iníen^? marum^inloco quem pofiãPj"

Bemaventurado, Seníiof i^ aquelle homem a quem- vosaílifbiscom particular- auxiiio de voíTa graçaipor* que eíle confiderou todas as afcençoens, ifto he, to- dos os modos de fubir com que os outros procu- raó alcançar os lugares^ mais altos -, por è m elle eP

fiveis , nem os elementos fem vida baílaó a te fazer fezudo! aprende ao menos das criaturas fenfitivas , & fejaó as menores as que teeníinem.

203 OPardal,&:a Ro- la[diz David 3 foubéraó bufcar, & achar o lugar mais conveniente a fua

confervaçaó : Etenim Taf- col heo para fy o mais bai-' ftr invèntt (ibi domum , & xo de todos, & poz o feu

lugar no valle das lagri- mas: in valle lacrymarumr in loco ({uem fofúit, Ma$;^ quQ

Tuhur nidíimfibi) iibiponat puUqsfuos. E a que fim traz David eíte exemplo , & o

2 2 2 ' Sermão da dominga decimafextA

que valle de lagrimas he valle pois , que eíte ? O mundo vulgarmé- techamafe valle de lagri- mas: porém nem todo elle he valle, nem todo de la- grimas. Não he todo val- le, porque tem campos, outeirosj& montesj & naó he todo de lagrimas, por-

he dela- grimasjôc trifteza para os demais, neíle mefmo , & no mais fundo ddie , que he o ultimo,& mais baixo, pozo feu lugar aquelle a quem Deos alliftio ; por- que naó bafta para eíla valente refoluçaò o enten-

mas he neceflarioo auxi- lio da graça divina : Cujus eftaiixiuumabste: auxilio de luz para o conhecer por melhor j auxilio de va- lor para o preferir a todosj & atè auxilio do amor próprio , para defcançar íem engano unicamente ntW^'. Recumbe in novtjji- me loco.

quetambemhede goíios, dimento,& juízo próprio, delicias, & paíTàtempos, * "^ "

Que valle he iogo efte on- de fó o homem aíliltido da graça de Deos pozo feu lugar. In valle lacrymamm^ in loco qu^m fofutt ? He o valle que fazem os montes das afcençoens,iílo he , os lugares altos onde todos defejaó fubir,que elle con- liderou muito attentamé- te: Afcenfiones pofiãt in cor» dejuo. Os que fubiraó a eA tes lugares altos, eftaó nos montes da alegria , porque confeguiraóo que defeja- vaó: & os que nam pode- rão fubir , eftão no valle das ÍP grimas > porque to- dos chorão , & fe chorão de lhe naó chegar o dia da fua afcençaó, & de nam ferem promovidos aos lu- gares, que dçfcjaó. Ncíie

í. VIIT.

204

T

Emosviíloco-

lugar, entre todos os do mundo, para alcançar he o mais fácil , para confervar omaisfeguro ,& para lo- grar o mais quieto: prero- gativas nelle fíngularcs, pelas quaes deve fer prefe- rido a todos os outros. Ne. o no-

pofiTentecôften. 12^

o nome de ultimo lhe deve ]icidade com Jupiter:& el-

tirar nada de eftimaçaõj porque fenaó fora o ulti- mo, naó as tivera. He todo olugarultimocomooque coube a Benjamin nanie- fadeJofeph.Como os Ir- mãos feaftentáraó à mefa conforme as fuás idades > a Benjamin, que era o mais

ta felicidade fobre huma- na fó a depoíitou nam o falfo, fenaó o verdadeiro Deos nos thefouros cfcon- didos do ultimo lugar. alli íè vive fem defejo,fem temor, fem eíperança, fent dependência, & fem cui-^ dado algum, nem ainda le*

moço,coubelhe o ultimo vepenfamento,queaper

lugar. Foi porém coufa, turbe.SòallioíbnoJiedef-

que os mefmos Irmáos, & canço , o comer fuílento,á

todos os Egypcios muito refpiraçaó vital, & a vida^

admirarão -, que fazendo Jofephos pratos, o deBé- janiin fe avantejava fem- precom notável cxceílb a todos. Olhamos para o lu-

gar,& naó olhamos para o todoem fy,&fóradomu-

praco. Ohfe foubeífemos do ; porque naó quer nada

tomaro fabor aos goílos, delle. E que naó bafte tu-

& regalos puros, & íince- doifto,paraque oultimq»

ros, que no ultimo Jugar lugar íeja o mais eftimadoj^

feachaó, livres das amar- o mais querido, & o mai^

guraSjSc deíTabores , que em todos os outros luga- resjpor altos, & foberanos que fejaó , ainda com os olhos cerrados, mal fe po- dem tragar ! diíle De- mócrito, que aqueile que fe refolveíle a naó defejar , poderia competir de fe«

vida-, porque fóallieítà a; Alma naó dividida, mas inteira , & toda comílgo, & dentro em fy mefma> como também õ homeríí

pertendido dos homens? Tanto pode com elles a faifa aprehenfaó daquelle nome de ultimo, com que reconhecédo-o no demais por taó avantejado,& me- lhor, o reputaó com tudo naó por menos honra- do>masporafrontofo , ôc por

1

i

224 Sermão da dominga decimafexta

por iíTo o defprezão, & fo- o fenhor da carroça ; &: af- gemdelle. íim como o que tem o ul-

. 20^ Efte he o iilfimo timo lugar na caía , he o engano , que nos refta fenhor da caíIivaíH mo que por refutar 3 cuja mtelli- voluntariamente tem o ui

gencia çoníifte em faber diftinguir no mefmo lu- gar húa grande diíferença de ultimo a ultimo. O ul- timo lugar merecido por diílribuiçáo alhea , pôde fer afrontofo j tomado por eleição própria, he o mais honrado. Quem volunta- riamente, & por própria eleição efcolhe o ultimo lugar do mundo , eíTe ufa do mefmo mundo co- mo fenhor delle. Denos a primeira prova o mefmo mundo, nao como vão, & errado, mas como cortez, &entendido. Viftes paf- fear na praça de Palácio liua cochada de Fidalgos j & qualdelleshe o fenhor da carroça.^ O que vai no ultimo lugar. Viíles os mefmos, ou outros em có- verfaçaó, ou viiitaj Sr qual he o fenhor dacafa.^O que eftà na ultima cadeira. Pois aíllm como o que o

timo lugar do mundo,heo fenhor do mundo. Nam ponhamos a decifaó na vontade dos homens, que pode fer errada^ mas na do mefmo Deos, que hc a re- gra de toda a razaó, & ver- dade. ComeçoujSc acabou Deos a grade obra da cria- ção dcíce mundo em féis dias : mas porque ordem ? Depois de criar no primei* ro dia a luz , no terceiro criou as arvores , <Sc plan- tas, no quarto o Sol, Lua, & Eftreilas , no quinto os peixes, Sc a ve^, no fextoos animaes, que andaô, ou íe arrafbáo fobre a terra : & depois de povoados por eftemodoo Ceo, o ar, a agua, 6c a m.efma terra, del- ia formou ,& criou o ho- mem, p.n"a dominar como fenhor tudo o que tinha criado. A íli m o diíle o mef- mo Deos no mefmo a^to em que o formou : Fdcia- ^mef

ultimo lugar na can-oça,he mus hfjmhian adimaginemy ' '

à-fi'

poH^enfecopn. & Jimilítudinem noftram^ vendo deter utprafit pifei hus mar is , & volatiíibus C^líi & beliijs^ univerfa que terra. Pois íe o homem era a primeira j & mais nobre de todas as criaturas deite mundo, 8c criado para fenhor delias, porque o naò ctiou Deos no primeiro lugar , fenam no ultimo? Por iflfb mef- mo. Porque a honra , & dignidade do ultimo iu- rorum. E porque razaó o gar do mundo compe- ultimo, fendo fua a eleição

21f

lugar entre os homens , que lugar to- maria ? O de Nazareth ? O de Belém ? O do Egypto ? O do Calvário ? Tal foi o lugar que tomou fempre, & em toda a parte 5 que vendo-o o Profeta Ifaias, naó teve outro nome com que fe explicar, fenaó cha- ma ndoihe o ultimo dos homens : Roviffimum vi- ^^^'- ^5-

tia , & era devida ao Se- nhor,& dominador dellc. Vedeagorafe hc honra- do,&quam honrado he o ultimo lugar. Mérito ergo pojiremus^ quafi finis natu- ra for matus : reèfe ergo no- 'vijfímus^quajitotiusfumma operis-i quafi caufa mundi , tropter quemfaãafunt om- nta^ diz S.Ambroíio. Mas ainda naó eftà dito o que excede quanto fe pôde di- zer.

' 2c6 Deos em quanto Deos, por fer infinito , &:

do lugar ? Naó porque ti- ve ffcp^ir 3. fj^quQ a igual- dade, que tinha com o E- terno Padre , foíTe alhea, ou roubada, & naó natu- ral, & própria, CO mo notou S. Paulo i mas porque {en-: do taó Deos , & taó fup re- mo Senhor do univerfo, como o mefmo Padre , outro lugar era capaz de fua grandeza, nem outro mais decente a fua fobera- nía,né outro emfimmais conforme a íua doutrina , fenaó aquelle mefmo a

immenfo , he incapaz de que hoje nos exhortou, o

lugar: porém depois que ultimo. Em humbanque-

deceo do Ceo a efie mun- te a que ElRey Dionyíio

do,& fe fez homem , ha- de Sicília convidou as ma-

Tom.7. P ioi-es

I

/

2 2 6 Sermão da dominga decimafexta

lores perfonagens do feu ciufaódaparabola^naquâl Reyno, como puzeíTe no parece que desfez o divi- uitimo lugar da meíci a A- noMeftre tudo o que te-

riftippo, oráculo daquella idade , o que lhe diíTe o grande Fiiofofo/oi : Hunc plane locum decorare^ ò" ti- luftrem reddere voluiJtkStm duvida, ôDionyíio, que hoje quizefte enobrecer, Sc fazer illuíi-re efte lugar. Efeaílim honrou, & iliu- ílrou Ariftippo o ultimo lugar com fe aíTentar iiellejque diremos depois que Deos o efcolheo , & tomou para íy ? OnovtJJi^ wumièr altiUimiim \ excla- ma S.Bernardo. Antes de Deos efcolher eíle lugar ■entre os homens , podia andar em opinioens fe era honrado, ou naó o ultimo lugar

mos dito. Dando o Senhor a razaó porque fe naó de- vem procurar os primei- ros lugares jfenaó o ulti- mo : porque virá (^ diz ^ o dono da cafa,&: do convi- te, 6c fe vos vir no ultimo lugar, dirvos ha ; Amice-y Luc i^. afcendeftiperius'. Amigo,fu- *°* bi para cima ; &: pelo con- trario, fe tiveres tomado o primeiro, o que ou vireis, rbijp, íerà:*D^ huic loctim-.htY^n^ taivos deíle lugar, & dai-o a eíle : & com grande con- fufaó,& vergo aha voíTIi fi- careis no ultimo : Etinci^ pias cum ruhóre novijjimum locum tenere. Eíle dono da cara,& do convite no fim

mas depois que da parábola he Deos , que Deos o efcoihco, & tomou fegundo as nollas acçoens,

para fy , intolerável blas- fémia feria dizer , que naó he o mais honrado de to- dos.

ff. IX.

207

p

Orfimfó rcíía fatisfazer à c6-

6c deliberaçoens as ha de premiar,ou caíligar:5c naó pondero, que ao que ef- colheo o ultimo lugar cha- mou amigo, Amice : nem pondero, que o que tinha tomado o primeiro kigar, naó ficou nofegunuo,nem no tcrceiío, mas deceo, ou foi

\\

fojt^entecoften. ii)

foi lançado no ultimo: mas hçoens, enganos, faiíida- o que pondero, & reparo , des> traiçoens, violências ,

he, que ao que elegco o ul- timo lugar o premiou Deos com o primeiro , 5c ao que tomou o priíneiro ocaíligoucoiii o ultimo: iogo íè o ultimo lugar fe por caíligo>& o primei- to por premi o, melhor pa-

& tratar cada hum de íu- bir , ainda que Teja pelas ruinasalheas5& para ef- capar de todos eftes males^ maldades, & m alicias , naó ha outro lugar feguro , & quieto,fena6 o ultimo.Pe- lo contrario, no Ceo tudo

rece que he o primeiro lu- hecharidade,paz,concor- gar,que o ukimo. dia, amor , contentamen

208 AHimparece,por- que naô coníiueramos nos ni efmos lugares o onde, &: o quando. Onde, 6c quan- do foi a eleiçaô,que os ho- mens fízeraó dos lugares ? Neíte mundo. E onde , & quando ha de fer a mudá- ça com que Deos os ha de trocar ? No outro. Pois el- ía hearazaò da difFeren- ça,Sc da troca. No outro mundo he melhor o pri- meiro lugar ;neiie, o ulti- mo. E porque .<* Porque o Ceo he a pátria de todos os bonsA de todos os bés: a terra a de todos os máos , & de todos os males. Na terra tudo íaó foberbas, ambiçoens , envejas, dif- cordias, contendas, cavii-

to, bemaventurança , &■ eílimar, & gozarle cada hum do bem do outro, co- mo do próprio : & por iííb os primeiros lugares de ninguém envejados,nem pertendidos, mas de todos aprovados, 6c venerados, fem receo que os inquiete de dentro,nem perigo q os perturbe de fora , íaó taã íirmes,& perpetuosjconio os meímos bens, 6c felici- dade, que lograó.

209 Epara que veja- mos eílasduasdifferenças eftabelecidas por Deos defde o principio do mun- do, húa na terra entre os eiementos^Scoutra no Ceo, entre os Anjos 5 ouçamos a Efcriturafagrada^Na cria- Pij çaó

ífé'

Pra'm. M8. i.

228 Sermão da Dominga declmafexta

ção do mudo gaftou Deos Porque fendo a agua por

natureza fuperior à terra.

{çis dias , mas cinco del- les foraó propriamente de criação. No primeiro criou , no terceiro criou , no quartOjno quinto, &■ no fexto criou , & fomente no fegundo não criou coufa

&■ fendo o lugar da terra o ultimo, ella deixando o íi- tio mais eminente em que fora criada , correo efpon- taneamente a encher as concavidades da mefma

algua. Pois fe o fegundo terra, &fe abraçou de tal

dia foi totalmente efteril, force com ella no mefmo

& infecundo fem produ- lugar, queda agua, & da

çaò de nova criatura > em terra fe formou hum

quegaftou , & empregou globo. E foi taó grata aos

Deos todo aquelle dia? olhos de Deos eíla acçaó.

Empregou-otodo emhò rar,& exaltar o ultimo lu- gar, quanto elle merece. Diz o Texto, que no fegu- do dia dividio Deos o ele- mento da agua , & levan- tou húa parte delle , & a poz fobre o firmamento, a que chamou Ceo. Eftas faó aquellas aguas de que diz David : Et aqu^ omnes qH£ftiper Calos funt , Idu- dmt nommT^omtni : onde declara, que o Ceo fobre que foraó collocadas , he o fupremojôc mais alto de todos. £ donde lhe veyo ao elemento da agua fer alfim exalrado,o que Deos naó fez a algum outro?

pofto que natural 3 do ele- mento da agua,que haven- do de lhe compeafar como Author da natureza hum lugar com outro lugar,pe-. lo ultimo a que fe abateo na terra , o levantou ao fu- premodoCeo. Mas pois eílamos no Ceo, vejamos quam contrario foi a ef- te exemplo da agua ele- mentar o do fogo racio- nai , que iíTb quer dizer Se- rafim. Tinha o primeiro lugar no Ceo entre o Co- ro dos Serafins Lúcifer, & naó fe contentando me- nos fuaaltivcza , que com fubir ao fuprcmo lòbrc to- das as criaturas, lllo hc o q rc-

\ií

põftTentecoJíen. 119

revolvia no pcnfamento , poftosnos'primeiros? Fa- quando diífe ; Super ajlra cíl he dar o confelhojfenaó

for diíficultofa a refoluçaõ. Mas eíta naó corre por mi- nha conta. Porque naò fa- ráoos que tem menos que deixar,© q íizcraõ tantos

ifai. r4. Ç2)^/ exaltabofolium tneum :: '^' '"*■ jimilis ero AítiJJimo. E que

lhe fez o mefmo Altifllmo

a quem aífedbou fer feme-

Ihanteí* Verumtamen ad In^ &id i P^»^^ detraheris mprofu- Reys > &'Emperadores ? ' '^^' dum laci. Do Ceo o preci- Náo tinha do Ceo, nem

pitou no Inferno, 6c do fu-

premo lugar, que aíFeârou

no Empireo,ao iníimodos

abi fmos. Aíli m caftiga, ou

do Inferno Diocleciano &: Maximiano, 6c pela ex- periencia que tinhaó dos primeiros lugares do munr

J>f emea Dcos,6c aíTim tro- do , cançados de o gover^ ca os lugares, fublimanda nar,6c mandar , ambos de atè o fupremo a quem fe comum confentímento re-

íibateo ao ultimo j 8c der rubando até o ultimo a quê affe£tou o fupremo.Tanto monta na parábola do noA fo Evangelho, ou, Amice ajcêde fuferhis^ ou Incipias cum rubor e noviffimumlQ'* cum tenére;, v hs bc a ol/o/n 210 A viíía defteèter-^ nodefengano, naóliene-^ ceíTario inferir qual deve fer a reíoluçaó nefta vida dos que ainda tem livre a eleição dos lugares. Mas q

nunciáraó o Império em hum mefmo dia(jque foi o de dezafete de Fevereiro do anno de trezentos 8c quatro ) Diocleciano em Nicomedia, & Maximia- no em Milam. E quê na m exclamará nefte paífo:ô ce* gueira do juizo humano ! ô fraqueza grande da noíla ! que dous Gentios,8c de vidajtiveirem valor pa* ra húa refoluçaõ como ef- ta,8c que fendo a medida

faraó os que coníegui^ doslugares que nos le- rão afuajScpor nafcimen- vantamos fobre os noíTos tojou negociaça6,ou qual- iguaes taó curta, baile a li- quer outra fortuna eílaó fonja deíla preferencia taó Tom.7. P iij

tra-

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226.

2 30 Sermão da l^ominga decimafexta

trabalhofa, & incerta para mefmos a quem inchaó, & a antepormos neíla vida à enganaò^ como para a Re- quietação, & defcanço da publica, que arruinaó. temporal,&à fegurança da Eftes mefmos Efcribas & eterna! ^ Farifeos amadores dos

2 1 1 Razoens pôde ha- primeiros lugares, foraó os ver taô urgentes , & obri- foiicitadores da morte de gaçoens taô fortes , q naó Chriíío,& os que puzeraó permitaó rompereftesla- oFilhode Deos em hua ços: mas nos tais cafos,que Cruz : Porque? por naó náo podem fer, fenaó mui- perderem os lugares, que torarosjjàquefenaôpof- tanto amavaó : Vement faó renunciar os lugares, Romani, &tollent noftrum ^T^ ao menos fe deve renun- locum. Emíim ,quefe os Giaroamor. Mais eílra- primeiros lugares fe nam nhava Chrifto nos Efcri- amarem, feráó menos os bas,& Farifeos o amor que danos, que caufaráó, pro- tmhaó aos primeiros luga. prios,& alheos j mas, ou res , que os mefmos luga- amados, ou naó- amados, res : Amant autem f rimos fc os que ellaó nelles, os recubitusin canis , & pri- não renunciarem de todo , mas cathedrasinfynagogis. & trocarem generofamen- Para ferem taó arrifcados te pelo ultimo, de nenhum

modo poderáó gozar a li- berdade, a quietâçaó,& o defcanço íèguro , que taò largamente tenho moílra- do-, porque efte privilegio

como vemos os primeiros lugares , baila ferem pri- meiros, ainda que fenaó amem. Os Santos não os amavaó,&com tudofe

de todos, que os repugna- he concedido por Deos yaó,&fugiaódelles -mas ao ultimo lugar: Recumh

fe forem primeiros, & jun- ta mente amados,entaó faó muito mais perigofos, & pcrniciofos, aíTimpara os

in ntívíjjhno loco.

SER.

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SERMAM

ei DO santíssimos^

SACKã MENTO

EM DIA DO CORPO DE DEOS,

«vv . na Igreja,&Gonvenco da Encarnação.

íííc ejipams^qui de Calo- defiendit. Joann. 6,

?Elebra hoje cfta Igreja, o 4 cele- ' braó todas I mas k nenhua com táta obrigação, nenhua tan-^ ta propriedade. Nas outras hea foíemnidade própria do dia,neíla he do dia , do lugar, Andão taó liga^ dos entre fj eftes dous fo- beranos myfterios, Encar- naçãOjSc Sacramento, que amefmaSabedoria,& elo-

quência divina, para pre- gar as grandezas do Sacra- mencojfe valeo das excel- lencias: da Encarnação : .^^^ Hk ejhpanis^ qui de Cak 0 fp. defcendit:E^Q heopaó,diz Chriíí:o,q deceodo Ceo. Mas quádo deceo do Ceo efte paó ? Não no dia em q feinftituíoò myíterio do Sacramento) fenaó no dia em que obrou o da En- carnação. Aílim o confef- famos todos có- os joelhos P iiij ©m

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232 Sermão

em terra : T>efcendit de Ca- líSy é- incarnatus eft. De maneira , que no mefmo texto cio Thema temos dousdias, & dous myfte- rios. O dia, &o myíVçpo do Sacramento: Hic elipa- nis : ac o dia , 6c o myfterio da Encarnação : (^lá de Ca- lo defcendip : odia, & o my- llerio do Sacramento con- forme a celebridade, & o dia,&:myfterío da Encar- nação conforme o lugar. Havendo pois de fer o Ser- mão Q como he bem que íeja^naô do corpo de Deos vagamente, fenaó do cor- po de Deos na Encarna- ção : & havendo de tomar as medidas ao difcurfo pe* lo mefmo corpo de Chri- ílo, naó em quanto cor- po de Deosfacramentado, fenaó também em quanto corpo de Deos encarnado> digOjqueo dia da Encar- nação , & o dia do Sacra- mento, ambos faó dias do corpo de Deos ; mas com grande differença. O dia da Encarnação he dia do corpo de Deos, porque no dia da Encarnação decco

do SantíJJtmo Deos a tomar condiçoens de corpo: &o dia do Sa- cramento também he dia do corpo de Deos , porque no dia do Sacramento fu- bio o mefmo corpo a to- mar attributos de Deos. Iftoheo que determino pregar hojejmas ainda nao acertei ao dizer com os termos grandes, que pede a magefiade da matéria* Para que eu a faiba , & me faiba declarar melhor, re- corramos à fonte da Gra- ça,qu€eítàpref€nte. Av8^ Maria.

§■ II.

Hicejlpanis^ quíde Cah

... i:'. dffcendit.

213 /^Apoftolo S. \_/Pauio fallan- dodafegiinda parte deíle Texto, iílo hc, de quando o Verbo divino decco do Ceo a veílirlè de noífa carne , diz eílas notáveis palavras : Cum in forma ^cieffet^non rapmayn ^r- p},iHp. ifítratns ejl ejjefe aqualem -■^•7. %)eoyfedfimetipfHm exhia-^ Tjrjit

Sacramento. 2^}*

nivít forma fervi accipiensy vindadeimmortal, & im-

mfmilítudinem hommuyn faBiiSy & habitu inventus ut homo. Quer dizer : Sen- do o Eterno Verbo igual ao Padre em tudo, & nam podendo deixar de o íer, fazendofe porém homem, & femelhante em tudo aos outros homenSj de tal ma^ neira encolheo , & fumio ern fy mefmo os attributos de fua divindade , & gran- deza, que naó fe viaójnem apareciaò nelle depois de encarnado mais que os vazios da mefma divinda- de. Efta he a própria , 6c rigorofa íigiiiíicaçaõ da- quelie exinanivtt femetip- jarm : & aílim foi. Era o Verbo pela divindade Ef- pirito, &pela Encarnação teve corpo: era pela divin- dade immenro5& pela En- carnação ficou limitado: era pela divindade infini- to , & pela Encarnação fi- cou finito : era pela divin- dade eterno, Scpela Encar- nação ficou temporal : era

paífivel, & pela Encarna- ção jà padecia 5 ôc eflava fogeitoà morte. Não faó grandes vazios da divin- dade eftes ? Taò grandes , & taó profundos, que a comprehenfaô de Paulo os pode de aigúa maneira fondar : Exinanivitfemet" ipfum. Mas aguarde trinta & três annos a mefma à^^ vindade encarnada, &fai-- com igual, ou maior mi- lagre ao mundo o Sacra^ mento do Altar : Para que? Para que os vazios da di- vindade na Encarnação fe tornaífem a encher no Sa- cramento. Agora acertei a me declarar. Aífim co- mo pela Encarnação a di- vindade de Chriílo fedef- pio dos attributos de Deos , & fe veílio das pro- priedades de corpo : aííiin- o mefmo corpo de Cbri-j ílo pelo Sacramento íè defpio das propriedades de corpo, ôcfe veílio dos attributos de Deos. E efte

pela divindade invifivel, foi o modo mais que ad- Ôcpela Encarnação viaó- miravel que os vazios no os olhos : era peladi- dadiviadadena Encarna-

§á05

i34* SermaÕdõ

çaó, fe eiichéra5,& reílau- ráraõ pelo Sacramento. Ora vede.

2 144 Pela Encarnação, (^como dizíamos] Deos que era efpiritual , ficou corpóreo com partes di- ftintas, ôc extenfasjpelo Sacramento, Chriílo que era,& he corpóreo , ficou efpiritual, todo em todo, & todo em qualquer par- te,como efpirito.Pela En- carnação 5 Deos que era immenfo, ficou limitado a hum fi5 lugar i pelo Sacra- mento, Chrifto que era M- mitado, ficou irameníbj& eílà em todos os lugares do mundo. Pela Encarnação, Deos que era eterno, ficou temporal, Scafiimnafceo, viveoj&morreo em tem- po; pelo Sacramêto, Chri- ílo que era temporal , fe tornou a eternizar íem termo, nem limite na du- ração. Pela Encarnação, Deos que era infinito, fi- cou finito, como o faó am- bas as partes da humani- dade i pelo Sacramento, Chriílo que era finito,naò tem fim , porque eílà infi-

Santijjimo

nitamente multiplicado. Pela Encarnação , Deos queerainvifivel, ficou vi- fivelj&afiimoviaõ os ho- mens j pelo Sacramentoy Chriílo que era vifivel, fi- cou invifivei, porque nem^ ovemos, nem o podemos ver. Pela Encarnação fi- nalmente,Deos qeraim- mortaI,& impaflIvei,fÍGou mortal, & paífivel , (Scpa- à^cto^^ morreo pelos ho- mens > pelo Sacramento, Chriílo que era mortal, 6c palllvel, ficou impaíllvel, &immortaI , porque no eílado,& vida de f-icramé. tado,he incapaz de' pade- Ger,nem morrer. Equehó cada difierença deílas , & muito mais todas juntas, fenaó eílarem hoje cheos no corpo de Chriílo pelo Sacramento os vazios,com que no mefmo corpo íè ocultou a divindade pela Encarnação : & fer o cor- po de Chriílo facramenta- do por todos os attributos divinos corpo de Deos.^

215- No Capitulo quin- to do Apocalypíe vio S. Joaó bua couíà notável, &

ou-

Sacramento.

Apocal

fcid.j

oiivio outra mais notável. Oqueviojfoi hum trono de grande mageílade cer- cado de toda a Gorte do Ceoj&fobreelie hu Cor- deiro em , mas como morto : Agmirn Jiantem tanquam occifum, O que ouvio 5 foraó as vozes de

í^f

priedade5 porque naó di- zem, que o Cordeiro efta- va morto como vivo , fe- naò vivo como morto: Stantem tanqudm occifum, Ifto he o que cremos pro- pria5& diftintament^, & o que nos eníina a no my^ ííerio do Sacramento. A

todos aquelles Cortefaós, palavra tanquam íignifica & de muitos Coros de reprefentaçaó^&naó rea-

Anjos, que cantando , & acclamãdo, diziaô: Digno he o Cordeiro , que foi morto , de receber a virtu- de, & a divindade: T>ignu5 eft agnusy qui occifus eft^ ac- cifere virtutemy & divini- tatem. Eíle Cordeiro nao jazendo como morto , fe- nãoempè como vivo, he o Cordeiro de Deos , que tira os peccados do mun- do, Chrifto Redemptor noílb : mas he ChrifÍ:o,&: a mefmo Chrifto naó em outro eftado , ou de qual- quer outro modo, fenam em quanto facramentado. Aílim o entendem com- mummente os interpretes defte lugar : & as mefmas palavras do Texto o de-

iidade:&o mefmo Chri- fto facramentado , que na realidade eílà no Sacra- mento taó vivo como no Ceo, no mefmo Sacramê- to por reprefentaçaõ eftà taó morto como na Cru^, Por iílb as palavras da çó^ fagraçaó, na Hoftia põem o corpo como dividido do fangue , &no Caliz o fan- gue como dividido do cor- po, tudo em íignifícaçam da morte, na qual f & de nenhum modo fem ella j fe aperfeiçoa,6c confuma o facrifício. Epor iííb tam- bém emfôrma,& com no- me de Cordeiro 5 porque defde o Cordeiro de Abel na Ley da Natureza , fe facriôcava tambê iia Lev

elaraó com grande pro- Efcrita em figura de Cor- deiro

o'r'.

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V.

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2^6 Sermão do

deiro o mefmo Chrifto. Aílimoeníinou S. André ao Proconful Egeas , dizé- do : Ego omnipotenti Deo , qiã nnus^&vaiis ejt-^immo- lo quotidíe immaculatn ag- niimy cujus carnem fofiqua omnis foptilus crekenttum manducavertt , infeger per- feveratyò vivus.

2 16 Suppoftopois,qiie o Cordeiro vivo , & como morto, queS Joaó vio, era Chrifto, 6cChriíto facra- mentado •, entrem agora as fegundas,&mais admirá- veis palavras do Texto, comqueosapplaufos , 8c acclamaçoens de toda a Corte celeftial cantavaó, & diziaó ao mefmo Cor- deiro, que elle era digno de receber a virtude , & divindade : T>ignus eft ag- nusy qtii occtfiis efiy accipere *virtutem , & diiúnitatem. O mefmo S. Joaó nota, que efte cântico era novo : Cantabant canticum novú : & parece que naó era no- vo, fenaó antigo, & que tinha de antigu idade, quã- domenos,triiita &: quatro ajinos, que tantos fe pode

Santtjjimo contardefdeodia da En- carnação do Verbo ate o dia da inítituiçaô do Sa- cramento. Quando fe fez o Filho deDeos homem, & quando fe unio à huma- nidade de Chriíto a di- vindade ? Naó ha duvida ^ que no dia da Encarnaçaói Pois feo receber Chrifto em quanto homem a di- vindade, pertence ao mef- mo Chriíto em quanto en- carnado : que novidade hc agora adeíle cântico, em que toda a Corte do Ceò lhe o parabém de rece- ber a divindade , naó na Encarnação em quanto Deos encarnado, fenaó no Sacramento,&cm quanto Cordeiro facramentado ; T^igniis eft agnus accipere divinitatem ? A palavra dígniis ainda aperta , & acrecenta mais a duvida j porque dignus fignifica merecimento, & a uniaó hypoílatica, em que a na- tureza divina fc unio com a humana, nem a mereceo, nem a podia merecer a humanidade de Chriíto: pois fe foi divindade , & di-

Sacramento'.

divindade merecida , co- mo fe diz que Chriílo he digno de a receber , & que a recebeo como facramen- tado ? A razaó alciílima, & nova, como lhe chama S. Joaó, he a que eu tenho dito , & vou provando. Porque duas vezes, 6c por doas modos diíFerentes re- cebeo Chrifto a divinda- de .a primeira na Encar- nação, em que Deos , do modo queerapoílivel jfe defpio dos attributos de

n7

aíllm como a divindade na Encarnação foi a que pro- priamente recebeo o cor- po, aílim o corpo propria- mente foi o que recebeo a divindade: Í>ignus efi ag-* nus accipere divmitatem.

217 Pregando o mef- mo Chrifto aos que tinha fuHentadocom o milagre dos cinco pães , alli come- çou a revelar o myfterio do Sacramento , exortan- do-os a que comeíTem de outro melhor paó, queelle

Deo«, veíbndofe do corpo lhes daria, o qual era pao

humano : a fegunda no Sa- de vida,naó temporal, mas

cramento, em que Chri- eterna : Operamini nm ci^

fto, do modo ta m be m que buniy qui perit , fed qui per-^

podia fer, enchendo em manet in vitam internam ^ y

iy os vazios da divindade, quemFiUus hominis dahit^'

reveílio o mefoio corpo vobis. E para que nãó du-

das propriedades de Deos. Ondefe deve muito notar a propriedade das palavras accipere divimtatem -, por- que no myfterio da Encar- nação naò foi o corpo mais propriamente o que recebeo a divindade, fe- naó a divindade a que re- cebeo o corpo : Ver hum ca- rofaãiim tft : porém no myfterio do Sacramento :

vidaíTem da virtude defte maravilhofo paójacrecen* tou, que Deos tinha im- preíTo nelle o feu íigillo,ou íiaete .* Hunc enim "Tatev JignavttT>eus. A palavra Jígnavit vai o mefmo que ftgíUavit: & aílim fe tio Texto Original Saibamos agora: & qual foi a figura, ou imagem que eftava aberta aefte íiaete.^ Todos 03

ibid.

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23S Sermão

os Santos Padres concor- daõ, em que era a fígura^Sc imagem da divindade: & eíla força cem o nome de Deos acreccntado ao de Padre: Hunc ^Pater/igna- vitT>eus: modo de failar em Ciiriílo íingular neíla occaíiáo. Mas íe Chriíto falia de fy em quanto ho- mem, 8c em quanto íacra- mentado: em quanto hxO- incm^ quem tilius homints dabitvobis ',^ em quanto facramentado 5 cibum qui permanei in tita aternam ; porque prova os poderes defta virtude com o linete da divindade , que Deos imprimio nelle ? Náo fe podéra melhor confirmar oaltiííimo penfaméto em queeílamos. AquellaHo- ííia, em que a noflli crè, & adora o corpo de Chri- jfto, lie húa obrèa confa- grada,em que Deos impri- mio o feu fine te: & como nefl-e finete eftava aberta a imagem , 6c fisgura da di- vindade com todos fcus at- tributos, também na mef- ma Hollia ficou impreífa afemelhançade todos el-

do Santifflmo les, & por iílb fe achão to- dos no Sacramento. Ain- da falta a maior proprie- dade, 6c energia da metá- fora do linete de que ufou o Senhor,para que melhor entendejíemos todoomy- fterio. O que no finete ef- cavado, èc vazio, he o que na matéria em que fc imprime fica relevado, ^ cheo:6c aílim ficarão cheos no Sacramento os vazios da Encarnação : Exmaní- ittf.mctipltim : kujic ^Fater JigiJiaiií^eus. Na Encar- nação todos os attributos divinos vazios, Sc no Sa- cramento cheos : na En^ carnação todos fumidos, 6c no Sacramento todos relevados.

§• III.

218 D Or efte modo i ficou o corpo de Chrifto 110 Sacramento reveftido dos attributos divinos, 6c com maior pro- priedade corpo de Deos". Corpo de Deos , porque efpiritual : corpo de Deos, porque immcnfo : corpo de

i::i

^

Sacramento)

de Deos , porque eterno : corpo de Deos,porque in- finito : corpo de Deos^por- que invilivel : corpo de Deos ) porque im mortal: corpo de Deosjporqueim- pallivel. E iílo lie o que agora parte por parte , 8c attributo por attributo ha de ir moftrando o noílb

219

buto com queChrifto o reílauroujôc encheo no Sa- cramento: no qual eílà feu corpo facramentado fem ocupar lugarjôc com todas as condiçoens de efpirito, Aílim o eníina a Fè, Sepa- ra o prosar com a Efcritu- ra, he neceílàrio que nos engolfeinosem hum pego

difcurfo. Mas porque to- fem fundo, qual heo Ca das eílas maravilhas de feu pitulo fexto de S Joáo, em

corpo àiVu)\z2.ào forao ordenadas por Chriílo pa- ra noífo remédio, & pro- veito ; de tal maneira as irei provando no Sacra- mento , que juntamente mollrarei como o mefmo Sacramento nolas comu- nica todas a nos. Elle fe digne de me ajudar, & afll- ftir com nova graça em matéria taó alta, & tão dif- ficultofa.

219 A primeira pro- priedade táo natural da divindade, como alheado corpo, que he fer Deosef- pirito i aííim como foi o primeiro vazio com que o mefmo Deos fe exiiianio na Encarnação , aílim he

que ja começamos a en- trar. Por occaíião do mi- lagre referido dos cinco páes, que he o principio deíle Capitulo, falia Chri- fto na maior parte de todo elle, do paó que deceo do Ceo o Santiílimo Sacra- mento do Altar. Hua vez diz : Nift manducavevítíS carnem Filif hominis , ^ *^ 'f-t- biberitts ejusfangiimem^non habebitis vitam in vobisi Senáo comerdes a minha carne,& beberdes o meu fangue , não tereis vida: outra vez mais brevemen- te : §ut manducat me , ipfe ibid.fg^ vivetpropter me:Qntm m e

[oariíiu:

comera mim , vivirà

por

mim. Ealêdeílesdouslu-

tambem o primeiro attri- gares do mefmo Capitulo^

jielié

240 ^Sermão do

nelle promete outras mui- tas vezes, &- por muitos modos a todos os que o comerem a mcfma vida. Mas não fe pode encare cer o grande abalo,pertur- bação 5 & efcandalo , que eíta doutrina caufou , não nos ouvintes de fóra,fe- náonos mefmos Difcipu- losda Efcola de Chnílo, muitos das quaes por eíle ponto fe fairáo delia. Quãdoouviáo ao Senhor, que lhe haviáo de comer a carne, & beber o Tangue, parecialhe coufa horren- da , & barbara : quando ouvião por outra fraíijque o haviáo de comer a elle, o que não fignifi cava par- te do mefmo corpo de Chrifto,fenãotodo intei- ro, parecialhe impoílivel, que hum homem ouveíTe de meter dentro em fy a outro : 8c quando em hum, & outro cafo ouvião, que aquella carne, & aquelle corpo Vue havia de dar vi- da, parecialhe que eíle ef- feito era contra toda a ra- zão natural , porque o que vida ao homcm,náo he

SãntlJJlmo

a carne, nem o corpo , fe- não o efpiríto; como Te vio no efpirito, que Deos in- fundio no barro de Adam, & na vida, que a Almada aos noíTos corpos, a qual em faltando, não vivem. Atéqui a murmuração, a duvida, & o efcandalo dos ouvintes; vamos agora à repoíia do divino Meftre. 220 O que C?hriíio ref- pondco,foráo eílas pala- vras : Hoc z osfcandalizat ? Sicrgovideritis filinm Lo-^^lff^^ mhiis ãfccndmtem ubi erat prhis^ Spriiíis tft (jui 'vivi* fcaty caro non procícfl qnid" quam. ]f!ovos cícr.iK.di- za .^ Que feria fe m e v; {{ç.\s fubirao Ceo,donc'edecir* E quanto às duvidas do que nic ouviíles, o que vos digo he, que o eipirito he o queda a vida, que a car- ne ncnhúa coufa aprovei- ta. PoisfeChrifto fallava de fua carne, & da mefma carne dizia, que havia de darvida aosquea comef- fem jcomo agora diz, que a ca rne ncnh ú a cou fa ap ro- vcita , 6: que o efpirito he o que a vida ,^ He tão diífi-

Sacramento. 2_{.r

difficultofa eíla fentença , mo modo podia ter impe

Amo- niiis ci- tac. à Maldo- nato.

q deixados os delirios dos HeregesjOsSátos Padres, & Doutores Catholicosfe divide na expoíiçáo delia emfete opiniões. A ultima.

dimento para todo ,.& in- teiro entrar em outro cor- po, que era a fegunda:ncm era contra a razão natural, íenáo muito conforme a

& íingular de Amonio,Pa- ella , que fendo efpirito vi- dre Grego , he a meu ver a viíicaííe , & dèílè vidajque

que melhor penetrou o íenddodeChrifto,6c re- íblve todas as duvidas dos incrédulos com a verdade do mefmo Sacramento. O corpo de Chriílo no Sa- cramento não eílà com as condiçoens naturaes de corpo, fenáo com as fo- brenaturaes, & milagrofas de efpirito : & por mo ne- íle lugar chamou o Senhor efpirito a fua própria car- ne : Spiritumhic vocat^le^ nam vi-vificifpiritus virtu- te carneMy manet enim caro\ íaó/ as palavras de Amó- nio. E como a carne de Chrifto no Sacramento não deixando de fer carne, he carne com todas as con- diçoens de efpirito i nem a carne comida defte mo- do podia caufar horror, que era a primeira duvi- da : nem o corpo do mcf- Toiíi./,

era a terceira. E deíla for- te desfeitas todas as diííi- culdades, fefica verifican- do com fumma proprieda- de, & com adequada repo- llaatodasas objecçoens,a fentença de Chriílo: Spri- tus eft qui vivificai , caro nonprodeft quidquam. Por- que a carne não obra alli como carne o que como carne não podia, mas obra como efpirito , & como carne espiritualizada o q he próprio do efpirito. E daqui fica declarada agrã- de,&: exada correfpondé- cia, com que eíle primeiro vazio da Encarnação fe re- ftaurou com o primeiro cheo do. Sacramento. Por- que na Encarnação a di- vindade do Verbo fe ve* ftio da corporeidade da carne5& no Sacramento a carne de Chriílo fe veílio

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Jeann.

2 ^2 Sermão do

da incorporeidade do ef- pirico. A fraíi particular dequeufaó os Santos no myfterio da Encarnação, lie chamar a Deos incor- porado 5 & da merma ufa a igreja cantando na feíla da Epiphania : T)uecmfa' lutts calittis incorjjoratum gignere. Pois aílitn como na Encarnação fe contra- hioovacuo da divindade peloincorporàdo,aí!ím no Sacramento reftaurou 5 & encheoocorpo de Chri- ílo o meímo vácuo peio incorpóreo.

221 Sobre as palavras Verbumcarofaãum eft^ & hahitavit in nobis^ repara o Cardeal Cayetano em di- zer o Evangejiíla , que unindoíe o Verbo anoífa carne , habitou em nós. Parece que mais propria- mente havia de dizer, que habitou com nofcojou en- tre nós, como verdadeira- mente habitou Chrifto com os homens : pois por- que não diz, que habitou entrenós, ou com nofco, fciião em nós ? Agudamê- te perguntado 3 mas com

Santijjhno

muito maior agudeza ref- pondido : T)ixithoc^ ne er- rares , exijiimando quod Ver bum ex hoc qtiodfaãum eft caro-i impedimentum ejje ad habitarídíím fpirituali- terinanimis noftris, Deos em quanto Deos habita, & fempre habitou em nós: hl 7pfo enim njtnjtmus , mo- ^^^J- vemur^&fíimus.'E Tintes áQ '''' ' Deos fe veílir de noíTa car- ne, nenhúa duvida tinha, nem podia ter, que Deos, fendo efpirito, eftiveífe,ôc habitaíTe dentro em nòs: porém depois que Deos fe veftio do noíTo corpo, po- dia cuidar alguém, que ef- fe mefmo corpo podia fer impedimétopara quedei- xaííe de eftar em nós, por quanto dous corpos nam podem eftar juntos no mefmo lugar : para tirar pois eíle erro,diíie nomea- damente o Evangeliíía, que o Verbo depois de fe fazer carne , não habi- tou com nofco, fenão em nós : Carofaãum eft^ & ha- bitavit in no bis. Atcqui Cayetano: o qual porém declara , que iíío fc lia de cn-

li^BMI

lintendcr na o mente do feu corpo nos noílbs corpos, fenaó efpí- ricual mente da fua Almz nas noíTas Almas : & aííim foinomyílerio da Encar- nação precifa mente. Mas depois que fobre o myfte- rio da Encarnação o mef- moVerbo encarnado acre- centouo do Sacramento, naó habita Chriílo em nòs efpiritualmen te quan- to à Alma 5 fenaó corpo- ralmente quanto ao cor- po j porque eftando o nief- mo corpo efpiritualizado no Sacramento 5 como ef- pirito pòdeeftarjuntamê- teofeu corpo dentro do noíTojfem o impedimento de hum corpo excluir o outro. E eíla lie húa nova, &altiilima razaó porque nasmefmas palavras nam

Sacramento. 24^

corporal- mentada havia Chriílo . habitarnaófôcom nofcO) fenaó propriamente em nos: Et habitavit innobis. 222 Deíla maneira en- cheo Chrifto no Sacramé- to o primeiro vazio da di- vindade na Encarnação 9 efpiritualizando o feu cor- po, &:fazendo-o efpirito, afíim comoDeos,q he efpi- rito, fe tinha feito corpo. Mas efta admirável trans- formação, naó a obrou Chrifto em feu corpo fa- cramentado , fenaó que também, como prometi, pormeyo do mefmo cor- po facramentado no la co- munica a nòs. Abre bem a boca, que eu ta encherei: diífe Deos a David : Dila- pr.ií ta os tuum^& implebo illud. '^^'^ Eftas palavras fe entêdem do diviniílimo Sacramen-

diffe o EvangeUíla , que o to, do qual fe diz no mef.

Verbo fe fizera homem , fenaó que fe fizera carne: Ver bum caro fa^um eji: porque fendo a carne á propria,&immediata ma- téria do Sacramento : Caro mea vere eft cibus i por me- yo da meíma carne facra-

mo Pfalmo : Cibavit eos ex adipefrumenti. E diz Deos^ queelle he o que lhe en- chera a boca : Et ego imple- ibid bo illud : porque Deos pôde encher a capacidade da noíla Alma, & naó com outra coufà, fenaó comíi*

i

244 Sermão do

go mefmo , como faz no % Sacramento. Etegoimple- Hugo bo tllud^ me ipfo , comenta ^^'' Hugo Cardeal. Abrio pois a boca David, como Deos o tinha convidado : & que Ihefucedeo ? Os meúape- 1 i?.T]] ruh&attraxi[piritú\ Abri a boca5& o que recebi nel- la5& por ella, &: o com que Deos ma encheo, tudo foi efpirito. Poisfea promef- fa de Deos tinha íido , que lha encheria com feu cor- po facramentado: Aperte- mos maiseíla fuppollçaó a authoridade do Dou- tor Máximo S.Jeronymo no mefmo lugar: Vis come- dére ipfum T>eum ttmm , ò* ^ym°in Salvãtorem^ Judiquid dl- hua ; cat '. IDiUita os tnum^& im~ ^'^""'' plebo ilhid.T>ilatate oraaje- ftra^ ipfe eft & T>ommusj& panis : ipfe horíatur nos ut comedamus-iò' ipfe nofier eft ciíms. Pois fe a promeíTa, digo, de Deos feita a Da- vid era , que lhe havia de encher a boca cóíigo mef- mo, & com feu corpo fa- cramentado j como abrin- do a boca o mefmo David, p que rcccbeppÁaò foi cor-

Santiffimo

po, fenaó efpirito : Os meii aperiii-i& attraxifpifitum ? Porque o corpo de Chri- íloaflim comoeílà no Sa- cramento transformado emfy , aílim eftà também transformado para nòs : em fy transformado em efpirito j para caber fem extençaó debaixo das ef- pecies, queo cobrem : & para nòs transformado em efpirito, para caber fem a mefma extençaó dêtro dos corpos dos que o comun- gaô : em fy transformado de corpo em efpirito , & em nòs transformandonos de corporaes em efpiri- tuaes. Expreífamente S. Bernardo ; Transformattir manducans in naturam cibi: corpus enim Chrifti mandu- care nihil eft al/iidy quam corpus Chrifti eftici. E por- que feria coufa muito dihi- tada confirmar a verdade deíles maravilhofos efTci- tos com os exemplos del- Ici baRc por prova o mef- mo S. Bernardo , que naò odiírc,masocxprimcn- tou em Çj mcfmOjVivcndo em corpo por virtude do mef-

^-ir^

Sacramenta: Í4f

mermo corpo^eomo fe naó bido em Nazsreth , que

tivera corpo , andando ve- ftido de carne, como fe fo- ra efpi ri to, podendo dizer GiUt..f. ^^^ S.Paulo : Spiritu vivi- H mus^ffiritu & ambulemus,

ff. IV,

èíj /^Segundo va^ V-/zio da divin^ dadeheairnmeníidadedi^ vina, a qual pelo my ílerio da Encarnação fe limitou a hum lugar, qual era o que occupava a fagrada bumanidade. OuveHere- gcs,que entendendo efte myfterio ás aveííàs , úyq-- Taó para fy, que pela uniaó hypoílatica a humanida- de fe fizera immenfa,&ef- tava como Deos cm toda a parce,&: por iííb foraó cha

nafceo em Beíem,que pré-

f;òu em tal, & tal lugar de udéa,&GaIiIéa, & mor- reo em Jeruíàlcm. Deíla immenfidade porém de que Deos fe defpio pela Encarnação , fe reveílio; outra vez pelo Sacramen- to , no qual o corpo de Ghrifl:o,ou reproduzido, ou multiplicando as pre-i fenças, fendo hum ,& o mefmo, eftà no mefmo té-^ po em todas as partes do mundo.

224* No mefmo mun- do , & na mefma hora em que Chrifto inílituío o Sa- eramento,fe eílava vendo

fará confirmação da noíFa, hum milagre natural defta mefma multiplica- ção das fuás prefenças. A mados Ubiquitarios, Mas hora em que Ghriílo iníii' ~ foi a humanidade a tuíooSacramento,erajàa

nao

que pela uniaó o Verbo jfe eílendeo à immeníidade divina,fenaó a immenfida- de divina a que pela com- municaçaódos ediomasfe eílreitou à limitação hu- mana, fendo verdadeiro dizer,que Deos foi conee- Tom.7.

primeira, ou fegunda da noite: In qua no6fe trade- i.Cov. batur : & que he o que vem ^ ^-^^^ entaó os noííbs olhos neíle Emisferio? Vem queau^ fentandofe o Sol de nos, por húa prefença fua de que nos priva, fe nos deixa Qjij . mui-

m

:!^í

multiplicado em tantas prefenças, quanto he o nu- mero fem numero das Ef- trellas j porque cada híia delias naòhe outra coufa, fenaó efpelho do mef- mo Sol, em que elle fendo hum ró,&: au fente , fe nos torna a fazer prerente,mul- tiplicado tantas vezes, & em tantos lugares , quan- tos faódefde o Oriente a Poente, & defde o Seten- trião ao Meyo dia os de todo o mundo que vemos, lílomefmoheoque fez o noífo divino Sol Chrifto facramentando feu facra- tiílimo corpo. Aufentoufe de nòsfegundo a prefença natural -, mas por eíla pre- fença fe deixou com nofco em tantas outras, quantos faõ os lugaresj&r altares de todo o mCido, cm que ver- dadeira, 8c realmente, fen- do hum fò^Sc o niefmo,efl-à multiplicado no Sacramé- to. Vede a propriedade que affim o defcreveo o Profeta Malachias.

2 2f Qucixavafe Deos de os íilhos de lírael a imi- tação de Caim facníica-

Sermaodo SanttJJimo

rem , & oíterecerem em feus altares naò o mel hor , & mais preciofo,comô erã decente, fenaó o peor, & mais vil, &: os confunde c6 eftas notáveis palavras: Isíon eft mtht uclnntas in 'vobis^ & nttàius non fujci- Mahch.. piam de manu vejtra -.abor-^^^'^^' tuenimfoUsnfque ad occa- fu?ii magmim ejt nomen meu ingentibus :ò'tn cmniloco facrifcatur^ & cfferttir no» mhà mco oblatto munda. Defenganaivos , que naó quero voíTos facri feios, nem aceitarei voífas ofier- tas : & porque naõ cuideis, que me faraó falta j fabei para confuíaó voíTa , & da voíTà J eru fale m e m qu e tenho Templo, &fou co- nhecido, que virá tcnipo em que defde o Oriente ate o Poente, em todos os lugares do mundoj&- entre todas as gentes , fe ofere- cera , & íàcrifícarà a meu nome naó muitos facriii- ^iosj&impuroò como os vo/íbs, fenaó hum purifíi- mo5& fintiilimo-F. quefa- criíicio hc cílc r Poílo que todos os Santos PndresjSc: Du.u-

^

\^

Saàammta. . 24/

"Doutores dizem, que heo veilidur^s de Cíirifto , af-

Sanciílimo Sacramento da -EuchariO:ia,naó temos ne- ceíUdade de fua authori- dade, porque aíHni o tem ■definido (& he de féjo fa- ^grado Concilio Tridenti- ;no. acrecento,que a pa- lavra Hebréa, que refpon- -de a oblatio mundafigniã- -cahúa offerca particulaii, -cha mada Mincha j aqu M <íc fazia como as noífás ho»- ilias, da ílor da farinha, & no Levitico fe chama Sa^ criíicio. Efte facrifício pois a que naó falta a pro^ priedade das efpecies de

íini as quatro partes do mundo (diz S. Cyrillo^re- partiraó entre fj a carne do mefmo Chriíto íacra- mentado,da qual fe tinha veíjido o Verbo : ^^uor orbis partes ad fahtem ta- ,^y^*ií-' du5Í£ mdumentum l^erm-i m yoan. hoceftycarnem ejus impar- '^P^^' tihiliterparUtifunt^ E no- ta elegantemente o Santp Padre, que neíla reparti- íçaõ^ou partição, naõ oiive partir : Impartibiliter par' titifunt ypotquc cõmuni- ^ eandoieo Senhor>&Jíar|ti- ^icandoatodos^,' & afeada

paô, hc o facrifício do cor- hum por meyo de fua car- po de Chrifto facramenta- ne na alma,&: no corpo, &

do, o qual enchendo o va- zio da immenfidade divi- na encolhida, & efcondida na Encarnação , fe èfíiend^ immenfamente defde ô Oriente ao Occafo,por to- das as partes, & lugares do inundo í ortuenmfoUs

eítando prefente em tod;is as partes do m undo , naó eftà nellas como parte^ íè- naó todo, fendo hum íò-i^ o mefmo : Infiríguios enim partibílitef tranjiens^& ani- mam^ ér corpm eorum per carne fuam fafíõiificansim-

itfque ad^accafitm inomni partibiUter atqueinmgt^íiii Ucofàcrificatur^Ò' offèrtur omiibuseft^ctm 'Unu^úbime

namMmtõ oblatio munda^ 226 Aílim como os foldadosdo Calvário par- tirão enx quatro partes as

fit nuUo modo divifm. A aqui o grande Cyrillomao fe poderid<5 mais largamê^ t€ éílendoraiinmeníidadè que

^4^ ^ SermaSdoSantifflmo

que Chrifto tem no Sacra- mêto,fenâó aquelles mef-

mento, que na brevidade daquellas duas palavras , unm jíhiqueyh]xm em toda aparte. :^;.'n

227 E para qàeíè ve- ja como o mefmo Senhor facramentado comunica eílaimmeníidade aos ho- mens,ponhamonos no Ce- náculo de Jerufalem. O

8 ^

6.2#.

LUC.X2.

■:li 'K

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mos doze a quem havia de encarregar a converfaó de todo o mundo. Sendo cou- fa mui diâicultofa de en- tender, que taó poucos ho- mens, & de vidas, quenao foraó largaSjpodeíTem em taó pouco cempo penetrar todas as terras, & pregara

^ _ todas as. naçoens dom un-

primeiro ado em q Chri- do, fenaó foífem multipli- ito começou a exercitar cando as preíènças como eftafua immenfidade, foi Chrifto no Sacramento, quando entregando o paó Os Evangeliftas dizem confagrado nas máos dos dos ApoKoloSyTr^^/cave- ^^a^< ^poílolos, lhes diííe, que runt ubique : mas aílim co- ' '' '" o dividiflem entre fy ; 2)/- mo Chriíio facramentado ■vidite inter vos. Dividirão umisubique.pnmtiTO eíle- ò pao , & o fagrado corpo, ve em. hua parte, depois que atè entaó nas mãos cm todas-, aflimeíleshúas do Senhor eftava em hum vezes eftavaò firmes em lugar, logo ficouem do- hum lugar,& outras ve- ze lugares. Agora pergun- zes multiplicados em mui- to; Eaífim como Chrifto tos.

- 228 Atègora naó hc ifto mais que conjedura minha j o que cume naó atrevera a dizer, fe o naó pudera provar. Paliando David dos mefmos Apo- ílolos , como affirma S. Paulo,& he de fé, diz, que

comunicou aos Apoftolos feu corpo por aquelle mo- doimmenfo , cómunicou- Ihes também a mefmaim- menfidade? Creo, & digo que íim. E eíTa foi a razaó porque o Senhor naó ad- mitioà primeira mefa em

^ueiecoi3Ía|irou O Sac/a- as vo^s de fua pregação

rf

Sacramento. 14^

íè ouvirão em todo o mu n- Jhançavquéa fuá immen-

18.Í.

doatè os últimos fins dei-. le : In omnem t erram exlvit fonuseorum:>& in fines or- bis terra verba eoriim. E fe pedirmos ao mefmo Da- vid, que nos declare com algua comparação , como fendo os Apoílolos taó poucos, fe pode cftender a íua pregação a taó remo- tas diílancias ? Refpondc, que do mefmo modo com que os Ceos prégaó 5 6c

íidadejôc multiplicação de prefenças a tinhaó recebi- do de Chrifto facramenta- do, o qual, como fica dito, na noite em queinftituio o SantiíHmo Sacramento , aufentandofe de nós coma Soljfe deixou multiplica- do no mefmo Sacramenta como nas Eftrellas. . 1 2p E fe alguém :re*- plicar, porque naó áiz^m. ifto os Hiftoriadores , que

apregoaó a gloria de Deos efcrevéraó as vidas , & pe- de dia , 6c de noite : C^- regrinaçoens dos Apofto- li enarrant gloriam 'I>ei^& los ? R^efpondo , que fim ffperamanuuejmannuntiat dkem,6cq<uefó na fuppp- ^^^'^firmamentum: dies dieierm fi^âo doi ^_iài\%o fe podem €iat ver bum & nox noãi conciliar. Muitos Autho^ indicat fcientiam, E como res aífinalaó a cada hum préggóos Ceos de dia, 6c dos Apoílolos varias re-í de noite? De dia prégao dç> gioèns , Bcgentes '. a quem; hum fQlugar,queheoda Sol : de noite prégaó de muitos lugares , que íàó os dos outros Planetas, Sc das Eftrellas. Pois aiHaiprégai

pregarão, o que outrostpc^ rèm negaó , fundados fó^ mente na chronologià dos tempos por onde faô jul* gadas por apócrifas aquela

vaó os Apoílolos , cada las hiííorias.Ma« fe fuppo* hum como hum em hum zermos;, como devemos;

lugar,Sc cada hum co- mo muitos em muitos lu- gares confirmando admi' ravelméte com efta feme-

fuppor, que no mefmo tê^ popor multiplicação das prefenças aíliftiaò Apo- ílolos ^ídxyeríos Jug^r^s,' tud^

ai

>!

25-0 Sermão do

tudo facilmente fe verifi- ca com grande gloria do Evangelho. Nemcaufarà grande admiração eíle mi- lagre aos que coníiderarê a neceílidade -delle^ -por- que fe eílando Q mundo tão cheò de Miniftros do mefmo Evangelho, fabe- mos que conçedeo Deos efta graça de aparecer em partes muito diífontesí S. Martinho, a S. Gemenia*- no, aS:TrontanQ, a S.. An- ♦toniodePadua, aS. Fran- eifco de Aílis, a S.Françif- co Xavier 5 & oa' ostros' muitdá para fins xíe mui

Nazian. - i '

pfat.2o ttienor impG7rtaneia^quan.4 to majs para a-conyerfaõ univerfal do mundo, fendo os inftrumentos delia tad poticos ? -Fina;! rrí ente fe a- S.Bafiliofoi licito dizer de fy meímo nullo loco ctr^ Enod in ciinfcriftm fum : & a Eno- píiamr dio chamar a Epiphanio inúpere^àirmmenjm-iQ^é negara áipartieipaLçaó de- lia immenfi-dadeàimmen-í fidade daquellas obras, quefem ella eraó inconi- pofllvcis? ' í j^í lAíIiTn^íriukiplicou

SantljTmo C hrirto as fuás prcfenças> aílim multiplicarão os A- poílolosaç llias, &: afíini devemos ví<òs multiplicar; as noílas para afíitHr ao á^i" viiiifíimo Sacramento en» toda a parte. O noífo cor- po naòhe capaz natural- méte defta multiplicação , ou immeníidade , mas a noílaalmaíim ,& a noíTa memoria>a qual nos per dio o mefmo Senhor na in- flituiçaó defte immenfo mY^erio-.Uhicunquefuerit me.i». corfnís^ íiltc congregabúttir n- ' ' e^^^zí/7/í Janota ia palavra íibicunqMe^^m roda a parte. Emtodaaparte,dizChri- :j^'^ fio, onde eiHvxro corpo, alli voaráó,&: concorrerão as águias. Eque corpo, & que águias íaó eítas ? O corpo 5 refpóde S. Am bro- fio, heo corpo do mel mo Chriílo no Sacramento,&: ás águias faó as almas de fublime, & levantado ef-» pirito, quecomas azas do penlamento, ôcdoatfeíto oaíliíl:em,adoraó, &• vené- raó em todas as partes do mundo : Eji corpus de quo Amhr. dttííim-efi^ar^.mea vereefi càp^"/.'

CíhíiSy

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Sacramento. * 25-1

cibm-iCircahoc corptis aqui- ordine Melchifedech. Cha* l(efunt',qu£aliscircunjiant mafe o facerdoçio ác fpiritualihís. E íle he o mo- C hriílo, facerdôcio fegú-^ do com que noífas almas do a ordem de Melchife-

pelopenfamento , &:me- iMonàimmenías hão de af- fiftir 5 adorar , & louvar fenítpreao mefmo Senhor em todo lugar, como Da- vid exiiortava à fua, que o íizefíe : In ofUni loca domi- nàtionis èjmbèúedic anima PieaT)omino.

§. V.

231

o

Terceiro va- zio da divin^

dech,naó quanto à digni- dade, como fe Melchifê. dech [ que foi Sacerdote da Ley da Natureza} o in- fl:ituiíreimasqua;ntó à fe' meihança da vidima , &c matéria do facriíicio , por-^ que na6 facrifica va Cor- deiros como Abel 5 nem outras re^es, ou aves co- mo Abraham , fenaô paó , & vinho, qiie he a matéria do faerifício da Ley Graça , & Sacrameiíto de

raça, dade na Encarnação fói'o' ^Wi^óvMelchifedechpro- ^""^^^ dafua eternidade, fazen- fèrenspànem^érvintim-.erat

énim Sacerdús ^ei altiffi- mi. E chamaíe facerdocix^ eternojporque naaacabõíí como o facérdociò de A* ram. No facerdôcio de Aram acabou o fa cerdo* ciOj&: acabava o Sacerdè-^ te : acabou o facerdôcio j porque fe acabou aquella Ley ; a qual neceíiàriamê-í' teha de acabar quandoó facerdôcio acaba , como doutamente deiine o Apo- i^^ix^p íloloS. Paulo •/ Translato -^^ " \ enim

dofe temporal, nacendo, & vivendo em tempo o que era eterno. Mas étíáé aníefma eternidade jurou Deo^ de dar a feu Filho encarnado húa tal prero- gativa com que podeíTe inaravilhofamente encher efte grande vazio , que foi o facerdôcio eterno fegú- doa ordem de Melchifé- dech : lura-vit T>omi?ius.ò' nonpanitebit eum^ tu es Sa- cerdos in íSternumfecímdàm

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2 f 2 Semao

enimfacerdoiío^ necejjeefi , ísííe^ /f^ij" translatio fiat, E acabava o Sacerdote, porque mor cl o hum Sa- cerdote, lhe fucedia outro, comofucedeo a Aramfeu filho Eleazaro, & a Elea- zaro os demais : o que iiaó foi, nem podia fer naPef- ípaimmortal de Chriíloj como notou o mefmo S. Paulo : Et alij qtiiàem plu- ^ resfaãifimt Sacerdotes^id- 3rj. " circo quod morte probibe^ renturperm nérejoic autem eo quod mane at in £ternumy fempiternum hahet, SaceV' dotium. >5 ,íi:>mí)

232 Maspoftoquc o facerdociode Chriftofeja eterno,& eterno o mefmo Sacerdote Chriílo, parece quefc naófegue , que o vazio da eternidade do Verbo na Encarnação, fe fupriíre,ou encheífe no Sa- cramento , porque o Sa- cramento naó he , nem ha de fer eterno, 6c dura, & ha de durar atè o fim do inundo , & acabar junta- mente cóellc. Depois do fim do mundo ha de ha- ver CeOjÔc Inferno : os do

do ^nntljjlmo Inferno nao faó capazes de ílicriíicio , nem de Sa- cramento: os do Ceo naó haõ mifterhum ,nem ou- tro. Náohaô mífter o fa- crificio , porque faó juílos, &jànaó podem crecer na graça : nem haòmifter o Sacra mento,porque a prc- fença de Chriílo , q criaó , & venera vaó encuberta,6c invifivel , a tem defcu- berta aos olhos, 6c a gozaó manifefta: logofeo facri-»' ficio,6c Sacramento do AI* tarnao ha de durar mais que efte mundo, 6c ha de ter fim como elle , feguefo que naó he eterno. Efta mefma duvida excitou S. Thomás na queílaô vinte n.y. 6c du as da terceira parte, '^' ou; tx, refponde, que no facri- \l ^ ficiofe devem confiderar duas coufas, a oblação , 6c aconfumação : a oblação em que fe offerece o facri- íicio , 6c a confu mação em que fe confegue o íi m,6c fe lograó os efl eitos delle. S, oblação pertence a efte mundo, 6c a confumaçam ao outro. Por jílb S. Paulo chamou a Q\\ú^o^Totifex fu.

3.q. art.f

71- J>,

Sacramento fiituTorum honor um\ Ponti- trabit infância. íice,&: Sacerdote dos bens

futuros , porque os bens futuros , que faó os que fe gozaój Schaó de gozar no Ceo, faó os que Chrifto nos niéreceo pelo feu fa- criíicio. Epofto q a obla- ção neíle mundo íqÍ![q té- poraI,6c em tempo , a con- funiaçaó no Ceo ha de du- rar por toda a eternidade ; & por i^o he eterna,^ como diííe o mefmo S. Paulo : Vha oblatione confummavit Í7t fempiternum fanõfifica- tos.

233 No Levitico mos liiia excellente deíla differença , & deíla ordeai no dia chamado d.is Expiaçoens.Mandava Deos^queofummo Sacer- dote nao entraíTe no San- £ta San£torum , fem pri- meiro fora delle offerecer o facriíicio5que no mefmo lugar difpoem a Ley ; Ne . ingredtatttr Sanõfuarhim ,

fíwd efi intra velum , nifi íCc ante fecerit : 'vitulum propeccatQofferet, & arie- ttm inkolocauftíim : his rhe selebratisy ultra velum in^

te- figura

^51 E porque razaójôu com que myfte- riooíàcrificio fe havia de oíFerecer primeiro, & fora do San£ta San6borum , & naó depois 5 & dentro nel- lefPorque o fummo Sacer- dote íigniíicava a Chrifto, oSandta Sãd-orumoCeo, o facriíicio o da morte de Ghrifto na CruZjOu no Al'- tar, onde fe reprefcnta a mefma morte : & eíle fa- criíicio naó fe havia de of- ferecer depois , fenao an- tesjuemno San£ba Saníto- rum^fenaò fora delle. Naó depois, iílo he , na eterni- dade, fenaó antes ^ & em tempo, em quanto dura o mundo: nem no San£ta Sá- £l'orum, iílo he,no Ceo, fe- naó fora delle, Sena terra. Aííim foi quanto à obla- çaó,& aíTim ha de fer quá- to à confumaçaó naò de outro, fenaó do mefmo fa- criíicio. Foi quãtoà obla- ção 5 porque na terra oííe- receoChriílo o facriíicio da Cruz como hoje oífere- ce o do Altar , &: oíFerece- até o íim do mundo : & ha de ferguanto á condi- maçaoj

I^sfj'

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2 54 Sermão do

mação 5 porque no Ceo ha de coníumar Chriílo o rnefmo íacriíicio, cómuni- candonos os ePreitos delle, que coníiílem na viíla cla- ra de Deos por toda a eter- nidade : & por iílb o Sacer- dote, & o facriíicio, hum, êc outro eterno.

2 34Tudoifl:ovioS.Joa6 no Ceo, como tinha vi- ílo o Cordeiro vivo de- pois de morto, & gloriofo depois de facriíicado. Fal- ia o Evangeliíla Profeta da Cidade de Jerufalem Triunfante, que heo Ceo, & diz, que a claridade de Deosaallumea , &:que o lume fae do Cordeiro ; Na claritas ^ei iUumina'vit eaniyò' lucernaejus eft ag- mis. P\ilIou S.Joaó como o primeiro, &: maior Theo- logo da Igreja. Para os Bê- aventurados verem clara- mente a Deos, he neceíTa- rio que os feus entendi- mentos fejão elevados por húa claridade fobrcnatu- ral, a queos Theologos chamaó lume da gloria j & ifto he o que vio , & diz o Evangelilta. A claridade

SantiJJImo

d e Dcos> que ai í u m e.i a C i- dade de Jerufalem celeíle, he a viíla clara do mefmo Deos : Ciar it as Dei iUumi- naviteam : & o lume da gloria , fem o qual fe náo pôde ver a Deos,eíre fae do Cordeiro: Et lucernaejus eftagmts. Mas porque fae o lume da gloria , nam do objecto eííencial da mef- ma gloria, que he Deos, & claramente viílo, fenaó do Cordeirojque he Chriílo , o qual S.Joaó vio como fa- criíicado.^ Porque eíTefoi o ílm,& effesfaó os effei- tos do mefmo facriíicio ofFerecido na terra, & con- fumadonoCeo : ofl^ereci- docmtempo,&: confuma- do na eternidade i & por iílb taó eterno como o mefmo Sacerdote : Tu es Sacerdos in ^ternum.

23 f Etla eternidade he a que faz eterno o San- tiílimo Sacramento, ainda que a oblação do íacriíi- cio em que fe confagra o mefmo Sacramento haja de ter íim,8c acabar com o mundo. E poílo que eíla ctcrnidadcem quç naó ha du-

Sacramento. 2 ff

duvida, bafta para prova ílofoi crucificado no Cal-

do meu intento > & ifto he o que enfina o Doutor An- gélico , allegando os nief- mos textos do Apocalyp- fe, & Levitico proxima- mente citados 5 eu com tu- do acrecento , que o divi- nillimo Sacramento nam he,6c fera eterno no Ceo pela eternidade de feus ef- íeítos y fenáo também de fua própria fuílancia : por- que depois do íim do mu- do, quando naó haverá Altares^ncm Sacrários na terra , fe confervarà eter- namente no mefmo Ceo húa Ho ília confagrada. Afíim o conííderáo5& pre- lumem muitos Authores afceticos3& contemplati- vos 5 cuja opinião para mim naò he menos prová- vel, que pia. No dia do juí- zo ha de aparecer no Ceo com o mefmo fupremo Juiz a fua Cruz: Tuncpa- rebit Jígnum Filij homtnis inC^elo. E que Cruz ha de fereíla? SJoaÓ Chryfo- ftomo com muitos outros Doutores, diz que ha de

vario, & afíim o profeti- zou a Sibylla: O Ugnumfelixjn quo T^eus sibyiia

ipfepependit ! ^^^;^^

Nec te terra capit ^fed Ca li

teEfa videbis. Cum renovata T)ei fácies

ignitamicabit. Suppofto pois, que a Cruz deChriílo ^V7ÍÒ\à2i hoje em infinitas partes, fe de recolher outra vez de todo o mundo, 6c reunirfe com maior milagre, que o da refurreição dos mor- tos, à fua inteireza , & con- fervarfe eternamente no Ceo j porque fe negará fe- melhante privilegio ao pão vivo, & vital, que de- ceo do mefmo Ceo ? Se hum lenho morto, {ç,co;y duro mereceo fer fublima- do a tanta dignidade , & eternizado nella , por- que foi fantiíicado como cotado do corpo de Chri- ílo,& matizado com feu fangue> o Sacra mento, que cótèm todo o mefmo cor- po,&:fangue, & foi iníti- tuido para dar vida eterna

fer a mefma em que Chri- aos homens > porque care- cerá

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2j6 Sermão do

cera da mefma eternida- de? Foi tanto o refpeito, que o Verbo encarnado guardou àquella parteíi- nha de carne , & fangue, que recebeo das entranhas puriílimas de fua Mãy^ que nunca confentio , que o calor natural 5 como na- turalmente coíiuma5aga- ftaíle,&: confumiííe , & co- mo diz S.ilgo ílinh o, ain- da depois de reíuícitado a conferva , & coníervarà AngiiíT. eternamente em fy mef- .^crm:t3e jYio : Caro Chriíti auãmvis rione B. glorta rejurrí6ttcms juertt ^- mrignijicata^ eadcm tamcn manfit , qtia ft. wpta eíí de Maria. E que aggravo fa- namos a efte mefmo ref- peito ,&: amor, fe imagi- naíTemos do mefmo Chri- fto, que haja de permitir ao tempo, queaífim como ha deconfumir , & acabar p mundo, aíTim confuma , & acabe com elle hum Sa- cramento em que naó eftà húa parte da fua carne, & fangue, fcnaó toda em * todo, 6ctoda em qualquer parte? Digamos logo, & creíijUQS piamente, quç aí-

Sayitijfjno fim como a Hoftia confa- grada fe prefervou muitas vezes de outros incêndios, aílim fe prefervarà do in- cêndio univerfal do mun- do, para que como paó dos Anjosjque çoméraó os ho- menS5a adorem eternamê- te no Ceo homens, & An- jos.

236 Os mefraos Au- thores, & outros (^ & nam com leve conjectura ^^t- tribuem femeihante pre- rogativa ao livro dos Evá- gelhcs:naô porque os ou- tros fagrados naó conte- nhaó a palavra divina 5 mas porque efta foi pro- nunciada pelo proprjo Fi- lho de Deos : Novijf/ivu' lo- j'-^'"- qmitns efi nobis in tilio: &c aííim como no dia dojui- zo aparecerá a Cruz, aílim eítarà aberto,& patente o Evangelho para ferem jul- gados por elle, huns por- que o naó creraó , outros porque o naó guardarão. NofeuApocalypfediz S. Joaó , que pelo meyo do Ceo vio voar hum Anjo,o qual tinha na maó hum E- vangelho ttQmo'Maòetem i^X^ ' Evan*

iill

Sacramento, 257

E'vangeliufn 'aternum:6>c Clirifto merece juftamen-

com grandes vozes avifa- te fer perpetuado na eter-

vaatodo ogenero huma- nidade do Ceo ; quanto

no , que temeíTem a Deos mais a maior obra das fuás

por fer chegado o dia do palavras, & o fagrado , 6c

juízo : ^ia venit horaju- confagrado volume do di-

dkij ejus. De forte que viniílimo Sacra meto , que

também no dia do juízo aparecerão Evangelho. E fe perguntarmos porque fe chama Evangelho éter-

também Ezechiel recebeo da maó de outro Anjo , & comeo em forma de livro ? S Joaó, que efcreveo o feu

de Deos obrou neíle mun- do, foraó tantas , que fc feouveífem de efcrever, naó caberiaó no mefmo

jiOi reíponde SJeronymo, Evangelho depois dos ou que a razaó , &: myfterio trosEvangeliftas, confef- he-, porque o Evangelho Ía5& protefta no fim, que neáe mundo foi temporal, as maravilhas,que o Filho ^pregado temporalmen- te ; mas no Ceo durara por toda a eternidade : Sempt- ternumfuturum in Calis^ad -,. coparationem videlicet hw mundo os livros. Logo fe ■E^iOczàjusnoftn Evangelijy quoa no Ceo na de durar eter- ^"^"' temporale efty & in tranfitu- namente o Evangelho, em ro mundot ac feculo fradi- que fe contem parte fó- catum. Com o mefmo fen- mente das mefmasmara- pf^j^ tido &\S^t David : In ater- vilhas j com maior razaó , >Sí8.8p. num^omine-iVerbum tuum & em fuplemento do mef- permanet in Calo : onde o mo Evangelho, fe deve n;eri;um tuumyT>omineipro- eternizar o Sacramento, pria a & particularmente íigniíica o Evangelho , ao qual tantas vczgs chama S. Paulo Evangelium Chri^ fti. Efe o livro dos Evan-

em que eftão reíumidas to- á-3is: Memoriam fecit mira- bilium fuorum, efcam aedit , j^ ™j^ timentibusje ^ Fin alm en te o Sacramento he o penhor

gelhos por fer palavra de da gloria, que o Ceo no^ Tom./, R deò

2 f § ^ Sermão do SantiJJimo

deoneíl:avida:&: quando não durava mais que hum depois do jSm do mundo dia. E com que myíierio

fe defempenhar , 6c nos meter de poíTe da gloria , encaó fe reílituirà o mef- moCeOj Sc tornará a rece- ber o feu penhor. Emfu- ma,que aíllm como aCruz de Chrifto , & o livro dos Evangelhos naó haó de acabar com o mundo, mas fer eternos, aílim , & com mais jufti ficada providen- cia o Sacramento emhúa Hoftia confagrada.

237 E para que naõ

eftas três coufas fomente , & todas na Arca ? A Arca encerrada no Sanda San- (Eborum , na qual reíidia Deos prefencialmente fo- bre azas de Cherubins, rc" prefentava o que David chama Ceo do CeOjque hc oEmpireo : Caíum Calí\f^% domino : &: o myfterio mais próprio, Sc mais pro- porcionado de toda cila reprefentaçaó,ou naó hc, ou não parece que pôde

pareça, que eftas três ex- fer outro, fenaò que con- ceiçoens ílió totalmente fervarà Deos eternamente

reíèrvadas ao conhecimê- todivinoj&fecreto de ne- nhum modo revelado, ao menos naquella parte da Efcritura fagrada, em que as figuras do futuro fepin- tavaó na hiftoria do paíTa- do ; lembremonos da Arca doTeílamento , na qual confervou Deos três cou-

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no Cco, a Cruz íigniíica- da na Vara, o Evangelho íigniíicado na Ley , & o SantiíUmoSacraméto íig- niíicado no Mana. Por iíTo omefmo Chriílo alludin- doà Arcado Teílamento, deoao mefmo Sacramen- to o nome de Tefta mento,

Sc eterno : Novty & aterra

ias entre todas as daquelle Teftamenti. Ao mefmo fím íempolingulares: a Vara podemos dizer , que cúh deMoyfes, as Taboas da preparado no Ceo aquclle Ley,& com maior milagre Altar,quc vio S. Joaó : a Vrna do Maná, o qual Vidifui^tus jiltare animas fera táo corruptivd , que intcrfeãçrum pro^ter Ter- ^l'.

Apoíáf

Sacramento] 2 ff

humT^ei. E quepeçasjper- da arvore da vida defen-

guntoeu, mais próprias, & mais dignas de ornar hum Altar, quehiía Cruz, o Santiíluno Sacramento , 6c hum livro dqs Evange- lhos?

238 Provado aífim por hum modo com certeza j^ & por outro com probabi-

dido por hu m Cherubim com hua efpada de fogo,r6 para impeair totalmente > que comédodaquelLefru- to,na6 yivt^ç, eternamen- te: CoUocanjtt ante Tara- difumQherubim^&flammm ^ gladium ad cuftodiendam i.^tf.i.ii^ viamligm vita. Ne forte

Íidade,como o corpo de Jumatetiam de lignovita^ Chrifto facramentado Io-» ^vivatin aternum. Per-

gra, & logrará para fem- preoattributo deeternoj ibreíla moílrar como o mefmo corpo, q por amor de nos fe facramentou, co- munica aos que o cómun- gaó a mefma eternidade. Eftahea fegunda obriga- ça6,6ca mais diíficultofaj que acompanha todos os nodbs aíTumptos i masne- íie carece de toda a diíE- culdade pela aííeveraçao taó ciara, ôc taô expreíTa cq que o mefmo Senhor nos certificou deíla verdade ^ dizendo : ^i manducat fòan, d huncfanem^ vivet in teter^ ^' /z«r/3?. Mal cuidou Adam , que nunca elle , nem feus filhos ouviíTem tal oracur

guntaó agora os Expoíito- resfe eílà ainda efte Che- rubim guardando o que guardava : Sc fenaó eftà » quando embainhou j ou apagou a efpada ? Reípon- dem comummente, que a apagarão as aguaSjÔc inun- dação do diluvio , o qual também dizem , quede- ílruíojéc desbaratou oPa- raifo, 6c fuás arvores : mas tudo ifto he incerto. Se o diluvio naô derrocou,neni fccou a oliveira , donde a pomba trouxe o ramo ver- dej porque havia de arran- car, ou derrubar as arvores doParaifo,6c mais a da vi- da , que Deos quiz guar- dar? Se o mefmo diluvio

lOa quando vio o caminho naq aíFogou no mçfmo Pa-

B.Í) raifp

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2<>^ Sermão do

raiíb a Enoch, como havia de tirar da fua eílancia ao Cherubinijquenaó reípi- ra com ar, nem fe affoga com agua ? E fe elle,como dizem os mefmosAutho- res, naófó guardava dos homens aqueiles frutos, fenáo também do Demo- nio,para que com elles nos nãotentaíTe; como fe ha- via de apagar com agua o fogodaefpada, q os mef- mos Demónios temiaõ» xnais que o do Inferno?Di- gaó poisoslnterpretes^ou prefumaó adevinhar co- mo quizeremjque eu di- go, & com toda a certeza aííirmo,queo Cherubim deixou a fua eftancia , & embainhou, ou apagou a fuaefpadanamerma hora dirofiíTimaemque ofobe- rano Reílaurador das rui- nas de Adam inftituío o Santiílimo Sacramento > porque entaó ceílbu o fim daquella prohi bição,&da- quellaguiirda. Aguarda, & a pruhibiçaó era, para que o homem comendo naó vivcíTc eternamente: KefuukU d(í ligno vít^e ,• <^

SantiJJimo

vivai in aternum. E como Chrifto inftituindo o Sa- cramento deo faculdade a todos os filhos de Adam, para que comendo vivef- fem eternamente j entaó apagou o Cherubim a ef- pada,& deixou a fua eftan- cia , & náo ficou fran- queado o caminho da ar* vore da vida, fenão a mef- ma arvore tranfplantada por todo o mundo, paraq todos os que, pelo que có- rneo o mefmo Adam , ficá- mos condenados à morte, não de outro modo , íenaó também comendo, viva- mos eternamente : ^«/ 'mmducat hunc fanem , ^'/- vet in aternum.

§• VI.

IVJlIatei em en- cher eftes primeiros três vazios da divindade : 8c porque ainda nos reílaó quatro, fera força , quanto forpoíTivel , reduzilos a maior brevidade. O quar- to he a immortahdade fei- ta mortal , o quinto a im- pailibilidadc feita paíli- vel .- ^ de ambos pela mef* ma

Sacramento, ^ 2í>i

ina razaój 8c por ferem taó qiíando a viílima efta va

conexos, trataremos jun- tamente. Digo pois,qiie fe na Encarnação a immor- talidadedivinajdo modo que podia Ter, fe fez mor- tal, &: a impaíUbilidade paílivel \ o corpo de Chri- ílo no Sacramento de tal forte fuprio, &; encheo ef- tesdous vazios da divin^ dade , que fendo natural^ mente corpo mortaljíicou immortal, & fendo natu- .ralmêtepafliveljíicou im^ paílivel.

240 Com ferem tan- tas as figuras do SantiíH- mo Sacramento > que fe lem,6c o precederão na fa- grada Efcritura j a primei- ra que nos propõe a Igre- ja, he a do facrificio de ífaac : Infigwis pT^figna- tur^ cum Ijaac immolatur. Mas fe bem fe coníldera a hiftoria táo fabída do mef- jno ifaac , parece que fe náo pôde reprefentar nel- Ia o Sacramento , porque Terdadeiramente náo foi íkcrificio. Mandou Deos a Abraham,que lhe facri- íicaíTefeu íiiho Ifaac , & Tom./,

fobre o Altar , a efpada defembainhada, & entre o golpe,6ca garganta do fi- lho fô havia dous dedos de diítancia,teve Deos maó no braço do Pay. Logoaf- íim o golpe, como o facri- fíciojtudo ficou no ar. E o mefmo Deos o provou, porque alU> & no mefmo inítante apareceo atado Jium Cordeiro , no qual Abraham acabou de exe- cutar o golpe, & efte foi o que morreo , & foi íacrifi- cado. Pois fe o Cordeira foi o morto, & Ifaac ficou vivos como foi Ifaac figu- rado facrificio de Chri- fto.?PoriíIb mefmo: 5c ca a maior propriedade , que fe podia imaginar.Chrifto não foi húa vez facrifi- cado, fenão duas : húa vez na Cruz, outra vez no Sa- cramento 5 & primeiro no Sacramento, 6c depois na Cruz, aílim como primei- ro foi facrificado Ifaac, & depois o Cordeiro. O Cor- deiro morreo, & padeceo, porque foi figura do facri- ficio da Cruz , no qual o R iij corpo

fpf

2 <^2 Sermão

corpo natural de Chrifto, como mortal, &:pafíivel, padeceo,^ morreo : po- rem Ifaac foi figura do fa- crificio do Altar 5 & por ií" foj fendo facriíicado , naò morreo , nem padeceoj porque o corpo de Chrifto no Sacramento eftà im- mortal,& impafíivel. Ex- cellentemente Ruperto :

iSenef meti impãJJlhUts permanet í»P' 32.' ^viq;usy qtiemadmodumtl- lie Ifaac immolatus , & ta-^ men gladio non efl attaEíus, Se em Ifaac fe executara o golpe, & morrera , feria fi- gura do facriíicio da Cruz cm que o corpo natural de Chriílopadeceo,&: mor- reo : mas porque poílo fo- breoAltar náo padeceo, nem morreo \ por iíTo foi figura do facriíicio do Al- tarjem que o mefmo corpo facramentado fe conferva immortal , ^ impaffivel: Impaffibilis permanet à*

Wt'VUS.

241 As palavras omni- potentes com que Chriílo inliituiOjíSc obrou hum taó milagrolò myíterio,forag:

do SantiJJimo

Hoc eft corpus metim , c^uod provobtstradetur ; Eftehe o meu corpo, que por vòs fera entregue, E porque naó diíTe o Senhor,que por vòs fera morto, ou cruci- ficado, fenáo entregue ? A palavra tradctur íigniíica entrega por traição, & tal foi a entrega que fez Judas do mefmo corpo de Chri- fto aosJudeos,húa vez em quanto corpo natural , & outra vez em quanto fa- cramentado. Muitos, 6c graves Authorcs, entre os quaeshe Santo Thomás , entendem q quando Chri- fto diíTe a todos os Apoílo- los ; Accipite , é' manduca^ ^í"; Judas tomou nas mãos o paó facramentado , mas naó o comeo. E para que faibamoso que fez delJe, acrecenta Theophilado , queoefcondeo , & levou aosPrincipes dos Sacer- dotes , quando com elles foi ajuílar a venda : Tanem accepity ^ non comedi t , feJ occultavit , ut mavifcjtaret Ilidais y ano d corpus juum voe ar et. Depois deíla pri- meira traicaój & entrega fciU

Savr amento. 16^

feita por Ju das, entaóexe- panem ejus , & erMamus

cucouellea fegiinda , que eum de terra viventium. O

foi a da prifaò no Horco. I/gnum he a Cruz ^ o pamm

O que fuppoílojpergunto; ejus, íie o paó confagrado :

Porque razaójou com que & diz o Senhor, que reíbl^

myílerio quiz Chriíto q véraó em confelho, de pôr

duas vezes foífe entregue aos/udeos feu corpo , húa no eflado natural, ôc outra no de facramentado ? Sem duvida, para que pofto de hum , & de outro modo nas mãos de feus inimigos, atèelles, o feu odio , a fua raiva,& as fuás máos ex- primentaíTem o que po- diaó, ou naó podiaó fobre o corpo do Redemptor, que para o fer, fe poz nel- las. O corpo natural pode- raóno atormentar, & ma^ tar,&: por iífo o cruciíicá- ra5,&: lhe tirarão a vida : o corpo facramentado tam- bém o quizerao cruciâcarí & matar } mas naò pode- rão. Ouvi agora o que por ventura nunca ouviftes. 242 He cafo , que revelou o mefmo Chriílo por boca do Profeta Jeremias , fal- ia ndo dosjudeos ; Cogita^ 'veruntfuper me confíliay di- í; entes : Mittamus lignum in

Jerem H.19.

O feu paó na Cruz5&: o cru- cificar para lhe tirarem a vida. Aílim entendem ef» te Texto pela figura H7- pállage Tertulliano , La- £tancio,S. Thomás, Joa- chim, Maldonado, & ou- tros. E quando efta execu- ção, por fe applicarem o^ Principes dos Sacerdotes à do Calvário, fe naó veri- ficaíTena occafiáo referi- da por Theophilaíbo ; he certo que em outros tem- pos depois,roubáraó,6c ef- condéraó os Judeos, como Judas 5 a Hoftia confagra- da,êc lhe deraó muitas pu^ nhaladas : m.as com que effeito.^ Álguas vezes ma- nou delia copiofo fangue em prova de que debaixo daquellas efpecies exte- riores fe encerra realmen- te o verdadeiro corpo de Chriílo : & outras vezes ceílbu efte prodigio , nem viraó final, ou effeito al- R iiij gunx

■:1í

2 ^4* ^ Sermão do SantiJJifno

gum da fua impiedade fa- o prova quanto à immor- crilega ; para que a ceguei- talidade-Áilim comoDeos ra Judaica fe defenganaf- feito homem quiz moi-rer fe •, que fe na Cruz lhe po- na arvore da Cruz para fe dérao tirar a vida , porque vingar do Demónio , que

eílava nella mortal, & paf- íivel: jio Sacramento lhe não podem fazer dano pu- nhaes, cravos, nem lançasj porque eftà alli tam im- mortal, ScimpaíTivel, co- jno no Ceo. No Cco im- anortal^Sc impaífivei -, por- que depois de morto fe ámmortalizou pela refur- reiçaó: & no Sacramento também immortal, U im- paílíveh porque antes da morte fe tinha im morta

com outra arvore tinha enganado aos primeiros homens : affim traçou com fua infinita fabedoria , 6c omnipotência 5 que nòs o comcíFemosnoSacramen- tOjpara continuar, & con- fumar a mefma vingança, fazendo verdadeiras nelle as duav<i mentiras, com que omefmo Demónio f^ilfa- mente tinha acreditado a virtude daquella fruta. O que o Demónio prometeo

lizado pela coufagraçaó. a Eva, foi , que fe comef- Bem feencheo, ôcfuprio fem da fruta da arvore vc

logo neílaim mortalidade, &impaíllbilidade do cor- po de Chriilo f^cra menta- doaimmortahdade,&ini- paílibilidade divina , de que o Verbo na Encarna- ção fe tinha exinanido.

245 Eque eíles dous eíFeitos de immortal , & impaílivelfe nos comuni- quem a nós no Sacramen- to j hum dos principaes «locivosdafua ^Aituijáp

■íí'

dada , nãofó não morre* riáo, mas licarião como -;enc# Deofes ; Nequaquam mor- temoriemm-i & eritisjicut dij. Ahíim Demónio, á'\z Chriílo,pois iílomeAiio, que tumentindoíingiíle, flirei eu verdadeiro , & in- ventarei hum ta] género de manjar,que comendo-o os homcns,nãofó íiqueni endeofados,//a// á'//,fcna6 ^aitttçnuiumpxtaes : AV-

Sacramento. 26 f

quaqtíam morte monenúni. me: primeiro fe armavão

Afíimofezafeu tempo o mefmo Senhor , & afíini declarou ) que eíle fora o íeu intento,quando tão ex- preíTamentediíTe : Hk eft fanis de Calo defcendem^ ut fiquis ex ípfa manducave^ rity notí moriatur. De forte, que não ha du vidajem que ocorpodeChriílo cómú- gado em quanto no Sacra- mento eílà im mortal , 5c impafíivei, deites dous íb- beranoíiattributosnos co- munica o primeiro,que he aimmortalidade.

244 Sobre o fegundo porém, que he o da impaf- iibilidade,íè recorrermos à experiência, a meíliia ex* periencia parece que o faz difficultofo. De todas as hiílorias Eccieíiafticas co- ita, que no tempo dos Ne- ros,ác Dioclecianos, quan- do os Chriílãos erão tira- dos dos cárceres , ou para adorar os ídolos , ou pa^ ra padecer exquiíitifíimos tormentos: lembrados da fenteaça de David : ^Vara- Jti in confpt^u meo menfam

me.

com o Santiílimo Sacra- mento. Aílim armados en- tra vão em tão perigoías batalhas, aílim pelejavão, aílim vencião; masco tão diíferentes modos de ven- cer, que a mefma vidloria parece que punha em du- vida a fortaleza, ôc virtude das armas. Hunsmartyres caminhavãofobreas efpi- nhas como fobre íloresj outros a cada paílb que da- vãOjlhe brota vão dos pès encravados tantas fontes de fangue, quantos eraó os efpinhos : huns lançados com pedras ao peícoço no mar, refpiravão debaixo das ondas, & faiáo vivos às prayas ; outros morrião afogados; huns veftidos da laminas ardentes, ou me- tidos nas fornalhas , naó lhe fazia mal o fogo, ou^ tros ardiãOjSc íicavão des- feitos em cinza ; huns ex* poítos no Anfiteatro aos Leoens,6c Tygres erão re-- verenciados das feras, ou- tros defpedaçados, 8c co- midos da fua voracidade 3,

^dverjus eos^ qui trihuUnt &" i^mw^ : {luns eílejididos

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2 66 Sermão do SmttJJimo

nosequleos ^nas cataílas, llld extra patientlam eft^ nas grelhas, riãofe dosty- vosfuprapatientiam. Por- raiios, outros invocaváo o que Deos he impaffivel

nome do Deos , por quem padeciáo, com o qual na boca, exhallaváo confian- temente a vida. Pois fe to- dos pelejaváo armados o mefmo Santiííimo Sacra- mento, como a huns com- municava o impaflivel corpo de Chrilio a fua im- paílibilidade, não confen- tindo que padeceírem,&: a outros não , deixando-os padecer?

z^f Refpondo y que ahuns,&a outros fazia o

'm\ I

por natureza, & vos felo- heis fuperiormente pela paciência. No que toca ao exceder a Deos,falIa c^ene- ca como Gentio > mas na impafiibilidade da paci- ência ouçamos nos aos Sá- tos Padres. S.Pedro Ve- ronenfe poz em queílão fe feha de chamar impafíi* vel a fortaleza, que pade- ce tão conftantemente,co« mo fe não padecera. Incer* tum eft utrum impajjiòilis judie et ur , cítm aliquidpaf' diviniílimo Sacramento fayquafinihilpalfajit^inve^ impaíTiveis, mas com dif- niatur. Porem S.João ferente milagres huns ím- Chryfoftomo fobre as pa- paíTiveis pela impaíTibili- lavras de S. Paulo , omnia dade, a outros impaffiveis fuffert , nao com duvida, i^/v' pela paciência. Ouçamos mas como propoílção cer-

ta,& evidente, aírlrma que aque affim fofre , & pade- ce, jà tem paífado de ho- mem paffivel àimpafllbi- lidadedos Anjos : Tradu^ ãus eft ddtpfam yln^elomm mpatibílitatê. Afiim que, ou porimpafíibihdade íx- zendo que não padeção,ou por paciência tão force, &

aoMeílrede húdos mef- mos tyranos , &: o maior deli es, que foi Ncro,Ferte fortiter adverfa : hoc e(i quo U^eum antece datis , diz Se- neca:Padecci forte,&: con- •ílantemente, advertnido, quciílo he io aquillo cm que podeis exceder ao meiíno Deos. £ porque.^

m-

invencível como padecéraójfazo corpo de Chriílo facramentado im- palliveis aos que o come. Ejà pôde fer em confir-

3 acr amento. 26/

fe naó de da Hoftia, por mínimas, & imperceptíveis que fe- jaó jcílà inteiramente to- do o corpo de Chriílo; Perguntemos agora aos

maçáo da primeira, & de- Filofofos quantas faó as ftafegunda prerogativa, partes da quantidade? As

que por iílb David diíle do mefmo Sacramento : í*/2- nemAngelorum manduca^ 'vithomo. Se os Anjos naõ confagraó , nem comem , nem podem confagrar.

duas opinioens mais cele- bres concordaó , em que faó infinitas : & diíFerem em que género de infini- dade j porque huns defen- dem, que faó adbualmente

comer eíle divino paó > infinitas, o qual infinito fe

como lhe pôde convir o chama Categorematico ,

nome de pão de Anjos-, fe- outros admitem,que fe^

não porque faz immor- jãoinfinitas potencialmé-

taes,& impaíli veis, como Anjos, aos homens, que o gomem ?

í. VIL

O Sexto, & grã-

^4^

^.diflimo vazio da divindade do Verbo na Encarnação, he a infínida-

te, o qual infinito fe cha- ma Syncategorematico. E porque efta fegunda opi- nião he a mais comum, 6c as partes que admite nelle género de infinito naó po- dem fer menos infinitas, que as do outro, confor- mandomecom ella, digo aííim : Infinitum eft , cujus

de com que, fendo por na- femper aiiquid extra licet tureza infinito, fe fez fini- ac cif ere \ O mÇímto^ co-

to. Mas também o corpo de Chriílo no Sacramen- to fuprio, &• enche admi- ravelmente eíle vazio. Em

mo define AriíloteIes,he aquillo , cujas partes por mais,&:mais que fe divi-^ dáo,fempre rcílaó outras

todas as partes da quátida- mais em que í e poííà di vi

dir^

26^ Sermão ão

dir. Eílando pois o corpo deChriílotodo em toda a Ho ília 5 & todo em qual- quer parte dei ia por míni- ma que feja, defendo po- tencialmente na mefma Hoília tantas as partes da quantidade , que por mais quefe divida , fempre fe pôde dividir mais, 6c mais ítm. fím : bem refegue, co- mo concluem todos os Theologos,queefl:ào cor- po de Chrifto no Sacra- mento,naó finita, íènão in- finitamente.

247 E pofto que efta verdade a não alcácem os fentidos 5 antes fe enga- nem nella,em hum mefmo exemplo fez Chrifto, que a provaíTe o gofto , que a apalpaílem as niãos,& que a vitíem os olhos. Deo o mefmo Senhor de comer a cinco mil homens (^ a fo- ra a outra multidão de mulheres, & mininos,por- que o feguiáo a-s: famílias inteiras} com cinco pães fomente, osquaes crccé- rãodc fortc,que depois de fatisfeitos todos, recolhe- rão os j Apoíiolos das íò-

SantíJTmo bras doze alcofas. Mas de que modo creòeo tanto ef- tepao, fendo tão pouco? Frangentis fragmenta Juc- ceduntyé'fal/untfemperper fiaãafrangentes : Creceo tanto aquella quantidade de pão, fendo tão peque- na, diz S. Hylario -, porque quanto mais, ôc mais fe di- vidia, tanto mais , & mais- fe multiplicava. Tom.ou Chrifto o pão cm fuás fa* gradas mãos, partio-o, &j quanto mais o partia , tan* to mais crecia nas máo5 deChriftordeo-o Chrifto aosApoftolos, & quanto os Apoílolos mais o par- tião, tanto mais crecia nas mãos dos Apoílolos : da-» vão-no os Apoílolos aos paysjpartião-noos pays, & tanto mais crecia nis mãos dos homens : dav:3 o- noos pays às máys, par- dão-noasmãys , & tanto mais crecia nas mãos das mulheres : davaó-no as m áys aos fílhos,partiaó-no os íilhos,& tanto mais cre- cia nas mãos dos mininos. Dcíla maneira partiaóto- dos,& coméraó todos: & por-

Sacramento. porque o pao quãto mais, ria para reparar na

& mais fe partia , tanto mais, & mais íe multipli- cava 'y por iííb fendo taó pouco, fobejou tanto j & fe o numero da gente foíle maior , fobejaria muito mais. Tanto alEm , que quando os doze Apoftolos repartirão entre fy o mun- do, fe cada hum levara có- íigo a fua alcofa, naó feria neceflario, que os lavra- dores araílem a terra, nem femeaíTemjnem fegaíTem, nem recolheíTem , porque squellas mefmasíobrasde paó tantas vtz^s partidas , partindofemais, armais, baftariaô a fuílentar o mu- do.

248 E porque mnguê duvide, que do mais par- tir nafcia o mais erecer , combinemos elle milagre com outro femelhâte. Em outra occaílaó, 6c em ou- tro deferto deo o mefmo

2^9

diíFe- rença deíles números em hum, & outro cafo. No primeiro,os que comerão 9 eraó mais , & os pães eraá menos 5 porque os que co- merão, eraó cinco mil, 8c os pães cinco. No fegundoj os que comi raó, erao me- nos, 5c os pães erão maisg porque os que coméraó, eraó quatro mil,6c os pães fete. Logo por boa conta parece, que mais havia de fobejãrneíle fegundo mi- lagre , que no prímeiroJ Qual foi pois a razaó por- que quando os que come- rão, eraó mais, & os pães menos, fobejou mais:.6c quando os que coméraó^ erão menos , & os pães mais, fobejou menos ? A razaó he manifefta, como eu dizia, porque do mais partir nafcia o mais erecer. No primeiro milagre co- mo os que comiaò , eraó

Chriíío de comer a quatro mais, 6c os pães menos , foi mil ho mens com fete pães: neceílario partir mais , 6c 6c recolhendofe também poriíTocreceoopaómais:

asfobras ,foraó as alcofas que fe encherão fete. Pou- ca Aritmedca he neceíFa-

nofegimdojcomo os que comiáo,eraó menos, 6c os pães mais a foi neceíFario^

í

1í'

270 Sermão

partir menos , & por ií^o eréceo menos. Equeper- tendeo Cliriílo Senhor noílb com efta evidencia tãofeníivel aos olhos, às ináos,&aogofl:o ? Egré- gia mente S. Paulino : 'Po- fulos quíJiquepanibusChri' ftus implevity ^fur tentes fi- dem carnaliterfatians ^fpi- ritualiter irrigans. O mi- lagre dos cinco pães foi o prologo com que o divino Meftre quiz difpor os âni- mos dos homens para a do Sacramento de feu corpo, do qual tratou na- quella occaíiaò taõ larga- mente, que tudo o que en- íina a Igreja, &o mefmo Evangelho que hoje can- ta, he hiia parte daquel- la doutrina. Por iíTo fez o Senhor , que o paó fendo táo pouco, feníivel 6cpal- pavelmente creceíTe fem- pre mais, & mais entre as mãos dos mefmos que o partiaó,para que naó du- vidaíTem crer , que em taò pequena quantidade co- mo adehúaHoíHa fe po- dia comprchender toda a grandeza fem fim de hum

do SantlJJlmo j

infinito, & que naó fi- nita, fenaò infinitamente eftava nella feu corpo. Eíla he a iníinidade,de que diz S. Thomis :EJfeChriJium in Hojiia Jemelin aãu^ i». finitiesinpotentia: porque eílando todo Chriílo em toda a Hoftia, 6c todo em qualquer parte , fe eftas aduaímente fe dividirem, ellarà também adrualmen- te era todas , & fempre mais,& mais fem fim, por-* queonaótem.

24,9 Sendo pois efta manifeíla infinidade a que o corpo de Chriílo Sacramento fuprioa infi«# nidade do Verbo efcondi-r da na Encarnação 3 refta íliber (^ o que naó parece, fácil ) como nos cómuni* ca também a nos a mefma infinidade ? Digo que nos comunica Chriílo no Sa- cramento a infinidade de feu corpo, flizendo que afr fim como he infimco o manjar , que nosdàa co- mer, feja também infinita a fome, ou wòs infinitos na fome com que o comer- mos. O manjar fyncatcgo- rcmaticè

D.TK-â

4.Dift. . lO.q. I.

Arr.í. explica- ras à Suario

Sea.4*

Sacramento. lyi

rematicè infinito , & a fo- ra o faftio : IniUis àppeti'

me também infinita fyn- categorematicè. Texto cxprellb do Efpirito San- to no capitulo vinte & quatro do Eccleíiaílico ; ^uiéàíintme^ aãhuc efu- rienti & qui bibtmt me, ad- hucfiúmt, Chrifto na Ho- ftia a comer feu corpo , & no Caliz a beber feu fangue : mas o mefmo cor- po caufa tal fome aos que o comem, &: o mefmo fan- gue tal fede aos queobe-

tus fatunt atem , fatuntas^^^^^B^^^-

r /i- 1' J V Homil.

fajtíammgenerat : porem^^in nos do Ceo , poílo q tam- ^^^"S- bem a fome fuccede o co* nier5&ao comer a farturia, à fartura naó fuccede o fa- ftio, fenaó outra vez a fo- me: Iniftis autem appeti' tus fatunt atem , faturitas appetitum parit i donde fe , .r^ íegue(^conclue o Santo) ;•; queaquelle que mais, 1: quanto mais come > eíle mais,6c tanto mais fica fa-

bem, ambas fyncategore- mmto-.Tantoqueampiiusà

maticè infinitas, que Òs 'comedenteefurimtur^quan-'

que o comem , quanta taamplms ah efariénte co-

ínais,5c mais comem, tan^ meduntur. Notai a repeti-

tomais, & mais defejao çáo,&conexa6dehum,âc

comer-, ^ui edunt me , ad^ outro ampãus : amplius ab

huçefunent\ & os que o ba- efuriente^ amplius à cút^^

Í)em,quanto mais, & mais dente -. mais o que come,.^

bebem,tanto mais,& mais deíè jaó beber: Er qui bi^ hmtme^aãhucjltient.

2fo Naó feria o divi- no Sacramento manjar do deo , fenaó caufára eftes cífeitos taó contrários aos da terra. Nos manjares da terra [diz S. Gregório] à fome fuccede o comer, ao comer a fartura, & à fartu*

mais o que tem fome, por- que a comida V& a fome fucceífíva , & reciproca- mente fe caufaó húa a ou^ tra. E defte mais, 8c mais quecrecendo fempre naÒ pôde ter fim , fe forma o in^nitodos que aílim co- mem .* porque como ao mais,&: mais da fome íe fç- guéomais, 6c ma;is da far-

i

272

Sermão do Sanfifjlmò

mtnquam dicit^fufficit '. Sc ^'o^j?

como a matéria do Altar era inconfumptivel , Sc o fogo que delia fe fuftenta- va, inlàcia vel j nem o infa- ciavel do que comia , nem o inconfumptivel do que

6.11

Marc

tura,&ao mais, & mais da fartura o mais, & mais da fomcj ou eíles fartos,& fa- mintos haó de deixar de comer,oufe comem., haó de continuar mais, Sc mai^ infinitamente. O milagre

do deferto teve fím; por- fe dava a comer podiao quefobejouo paó, Ôcfal- deixar de fer perpétuos:/» •touafome.-fobejouopaó: Altarifemper ardebit. Fi- joann: Supevaverunt fragmenta : nalmente efte era o my íle- faltou a fome : Saturati rio que depois fe verificou funt. Mas no milagre do no Sacramento do Altar, Sacramento, nem o paó aílim quanto ao corpo, co- pôde fobejar, nem a fome mo ao fangue de Chrillo i faltar. A fome naó pôde porque fendo os que o co- faltar ; porque nafce do mem infaturavelméte fa- paó: Bco paó naó pôde fo- bejar; porque a mefma fo- me que delle nafce, o co- me. Eporiílb nem o mi- lagre, nem a fome, nem o paó,nem os que o comem

podem chegar mais a efiirient-ièrqui hwumme ter fim ,nem a deixar de adhucfitient. participar por efte modo o modo de infinidade,que «corpo de Chriílo no Sacramento. No feu Altar mandava Deos, que fem- preardeíTefogo : Ignis in Altari femper ardcbit. E porque > Porque o fogo nunca diz , balta ; Ignis

I^evit

mintos,&: os que o bebé, infaciavei mente fcquio- fosjnem aos que comem pôde faltar maisa fome, nem aos que bebem, a ih" de : §lut edunt me , aahtic

§, Vill.

25-1

Final mete o ul- timo a ttribu to de que o Verbo fc defpio , veílindofedcnofili carne, foi a inviíibilidadc divi- na, fazendoíc de invifivel

Vifl.

Joann. M4-

Sacramento. 273

He o que diíle o propriedades da divinda- de exinanida, riaõ ío as re- cupera em ÍY Ghriííro fa- cramentadO) mas também nolas comunica a nòsi co- mo fe pode verificar » ou provar no attributo da in* vifibilidade? Sefora nou-

viíivel

Profeta ^2imc\v\Tõft hac in terris vifus efi , & cum hominibus converfatus eft : 6cporiflb' omefino Evan- gelifta S. João tanto qxie diíle; Ver bum carofaãum eH j ajuntou logo 5 & "vidi-

mus gloriam epts , gloriam tro lugar 3 féria diíHculto - quafi Vnigeniti à ^atre. fo;nefteem que eílamos> Mas fe o V crbo veftindo- de corpo humano , &r fnanifeftandofe a noííb^ olhos, de invifivel fe fez viíivel j o mefmo corpo, para recuperar a inviílbi- lidade perdida na Encar- nação, depois de viílvel^^ 6cviílc>,encobrindofe ou- tra vez aos noííbs olhos, fe tornou a fazer imiíxvcl

he evidente.

2 f 5 Fallando a Efpo» fafanta de Chrifto facra'-: menta do, diz que eftà en- cuberto, & in viíivel de- trazdaquella parede dos accidentes: En ipjejíatfoft cant. «: parietem noHrum. Amm^- entendem efte lugar com- mummente os Interpre- tes. Olhai agora para

no Sacramento, Efta pri- aquella parede^ ôc paraef-

meira parte do noífo af- tas paredes. Detraz da-

fumpto naó ha miíler pro- quella parede eftà o Eípo-

vaj porque a invifíbilída- fo: dentro deitas paredes

de fe pôde v er,naõ ven- eftaó as Efpofas : alli o Ef-

do,como nòs naó vemos pofoinvifivel,aqui as Ef-

ao mefmo Chrifco , que pofas também inviíivei^.

cremos, & adoramos pre- Que maior,8c mais eílreita

fente,mais fírmcméte, que invifíbilidade, que aquellà

tS^ fe o viramos. Mas a fegu-

da parte do mefmo af^

fumpto , em que atègora

moítramosjque as mefmas

Tom. 7.

que naó por hum dia, nem por muitos ) íenaô para fempre fe negou , & fe ef- condeoaos olhos domun- S ' àoi

jLevit,

A 6. 2.

Aaor.

»9.

ÍBI i i

^4 Sermão do Santiffmo do? Talhe a invifibilida- moveí,& immudavel E dedeChnítono Sacra- eíle he o modo, & encerra- mento, & tal a das Efpofas mento perpetuo com que domefmo Chrifto. EíTa naquella parede, &neftas he a grande energia com paredes o Erporo,& as Ef- que a Eípofa chamou pa- poías eftaó para fempreef-

redeàquellcs accidentes: ¥oft parietem noftrum. Po- deralhe chamar véojpode- ralhe chamarnuvem. No Templo de Jerufalem o que fazia inviíivel o Pro- piciatório em queeftava figurado Chrifto^era o véo que cobria o Sanda San- ítorum : SanBtiarhtm qitod efi intra velum: no monte Olivetea que também ti- rou dos olhos dos Difcipu- losaomefmo Chrillo fu- bindo ao Ceo, foi húa nu-

condidas aos olhos huma- nos.

2f4. O Profeta Ifaias fallando com Chriílo no írai.45-. Sacramento, diz : l^ere tu '^* es 'Deus abfconditus^ D tus IfraelSahator. Verdadei- ramente, Senhor, vòs fois Deos efcondido , Deosef- condidojôc Salvador. E fallando do myílerio da Encarnação, diz que aef- condida conceberá : Ecce |^^'-7* abfcondttacoricifíet. i^ílim Tert; fe lènoOngmalKebreOj^"''

vem : Et mbesfafcepit eum em cuja lingua,efcondida, abocuhs eorum. Pois fe os & Virgem, tem omelmo

accidentes daquella Ho ftia faó os que nos tiraõ dosolhos,&nos fazem in- vifivelo Efpofo facramê-

íignifícado. Chriílo Deos efcondido no Sacraméro, & as Virgens confagradas aChriílo , efcondidas na

tado i porque lhe naó cha- Encarnação. Nem he ma- ma a Efpofa véo,ou nuvé , ravilha, que debaixo deíle íenáo parede , pojlparieté > fagrado nome entaó fof- Porqueo véopòdefe cor- fe exemplara Virgem das rer,&:anuvempodefemu- Virgens às que depois a dar -, porém a parede hc haviaó defeguir .-^^^//c^- impedimento íixiuc , im- tíir RegtVtrgiuespoJt eam.

£ poi§

Sacramenta. ijs

E pois eílamos no ultimo fto5&: efcondida em Deos :

attributo da divindade re- ciif>erado por Chriílo no SacramentOjSc comunica- do a eftes generofos 1^ fpi- ricos, que por feu amor em corpo íè iizeraó i n viíi veis$ que lhe poílb eu dizer por fimjfenaóo.quelhe dizS. CoioíT Paulo : Mortui eftis 5 & ví- ^ ^ ta vefira abfcondita eft cum <2hriJÍ0yin'T>eõ:B,9c2ls mor- tos,diz o Kpo\\:o\o^ Mortui eftis-y^ não diz demaíia- doj porque hua vida en- cerrada entre quatro pare- des, nem vifta , nem viíi- vel 5 que outro nome Ih^ vem mais próprio , que o de morta,^: fepultada? Af- fim encareceo Job o eíla- do da Tua fepultura j naó tanto pelo enterradojquá- íopeloinviíivel : Nec af- loh.-^.í.píciet me vifiis hominis : meveráójà mais os olhos dos homens. Mas poíto que eílavoíTa vida por ef- condida, &: inviíivel pare- ça aos outros morta5Sc fe- pultada 5 coníiderai-vos para voiTa confolaçaó, on- de eftà efcondida, Sc com quem ; efcondida Chri-

Et njita veftra ahfco7idita eft cum Chrifto m'T>eo. Eftà efcondida com Chriílo, porque também Chriílo eílà efcondido no Sacra- mento V & eílà efcondida em Deos , porque quanto mais retirada dos olhos humanos, tanto mais fenaó tiraò nunca delia os olhos divinos. E fendo eíla taò grande confolaçao , ainda he maior a com que con- clue S.Paulo; C^^^C^rz/^/z.f CoioC apparuerit vita veftra^tunc ^•^' ^vosapparebitis cum ipfo inglória'. Chriílo que ago- ra he a voíTa vida , & alli eílà como vos inviíivel,& efcondido,virà aquelle dia ultimo, em que ha de apa- recer, 8c fer viílo de todo o mundo: &entaó também vòs haveis de aparecer, & veráó os olhos , a que ago- ra vòs negais, quã precio- fo he , & quam agradável aos divinos, que vos vê, o inviíivel deíla voííà claufura ; porque aílim co- mo agora imitaíles aChri- ílo na fua inviíibiíidade , aíHm elle vifivelmente S i] nos

i

27<^ Sermai

nos olhos de todo o mun- do vosha de coroar com a fuamefma gloria : Et vos apparebitiscum i^fo ingló- ria,

§. IX.

BEm acabava

iJaqui o Ser- ma6:masemdia, &foIê- íiidade taó univerfal,obri- gaçaóheprecifa, que di- gamos húa palavra para todos. Se o corpo de Chri- ílo no Sacramento enche os vazios da divindade, quanto mais facilmente encherá os da noíía nçccf- iidade ? Tudo Deos criou vazio , mas logo encheo tudo. Vazia criou a terra: Cenef Terra ãut em erat inani s^à" 'vacuã} mas logo a encheo por dentro de thefouros,6c porfóra de plantas,6c ani- ma es: vazio criou o Ceo; mas logo o encheo por dé- trode Gerarchias, & por fora deSol,Lua, & Elirel- « las : vazio criou o mar, & o

ar-, mas logo encheo o ar de táta variedade deaves> &c o Kiar de taó ^rniiaiu

> do Santijflimo multidão de peixes : va- zios criou aos primeiros homens como vafos ^e barro j mas logo os encheo dejuíliça original , & de tantos outros doces, & gra- ças. Taó natural he à ái'- vina bondade, que foi, he, 6c fera femprc a mefma , encher os vazios de íuas criaturas : & aflim enche- rá os da noííli necellidade> & pobreza , muito melhor que o óleo de V' lifeo , por muitos que fejáo, vaja va^ ^.R<?gf cua non pa-iica. Antigua- '^^* mente na JeV) que era de rigor, mandava Deosque ninguém apareceíTe em íua prefença com as mãos vazias : Non apparebis in ^^"^ confpeEiu mco vacuus : po- ^^'^^' rèm hoje que eílamos na Ley da Graça, a todos nos exhortao mefmo Senhor, quenaó lhe prefcnte- mos vazias as mãos, fenao tambem,&: muito mais,os coraçoens ,& os dcfejos, para nolos encher abun- dantiífimamente do que elle melhor fabe dar, que nòs pedir. Quando os Ir- mãos dejofeph furão btif- çar

Sacramento. 277 car paó ao Egypto ^ todos 2 f^ Mas he tanta (de levavaóos faccos vazios, quem me queixarei? ^ & todos os trouxeraó tanta a fraqueza da noíTa cheosj&ríellesjuntamen- fé, &ta5 poucaaeftima- te o preçoj porque eíle à^v- ça5,que fazemos dos bens; vino pao , que naqueJle fe do Ceo, que nem de graça

j'eprerentava 5 era paò de graça. E depois que Deos peio beneficio da Encar- nação fe fez Irmaó noíío , naó íèria taó bom Irmão como Jofeph, fe recorren- do aos ceileiros de fua li- beralidade, que no mefmo paóeftaô encerrados, nos naóderpachaífe cheos, & ricos de tudo o que a noíla íieceííidade lhe prefen- tafle vazio. Chegai, che- gai (^ diz S. Thomás A rce- bifpo de Valença) chegai, naó aefta fonte , íènaó a efte oceano immenfo de graças , que a todos eílà

os queremos. Oavi o que diz a femelhantes Almas ate hu 111 Poeta Gentio : O cuTvas animas htnninum^ ér caleftmni inanes \ Oh Almas dos homés taò bru- tas,&: irracionaes como as dos mefmos brutos : í*^^^- i;^5"5porque fempre andais encurvadas , & inclinadas para a terra, & por iíTo va- zias dos bens do Ceo , & caleftium inanes \ Por mais que húa Alma foíTe fenho- ra de toda a terra , 6c defde a terra ao Ceo fenhora de todo o mundo > fempre fi- caria vazia,porq Deos a

expofto, a todos defeja , a pôde encher. E tendo nos todos chama,a todos efpe- a Deos tão perto, quantas

ra ♦, & por maiores , & de maior fundo que fejaó os vazios de voíla neceíllda- de, cada hum encherá os íeus atè naó poder levar

Almas ha indignas deíle nome,quefe naó chegaó a elle,fenáo por força , & a mais naó poder deanno em anno ,^ EUe chanoufe

mais. Oceanus eft gratiarú paó de cada dia, para que

immenfus , vasfuum (^uif" todos os dias o comeílc-

gmadfummumreflet^ mosj como faziaó ospri-

Tom./. S iij meiros

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■278 Sermão do

meiros Chrií]:áos:8c fomos chegados a tempo em que fe tem por grande chriítã- àoAQ 5 & devação comun- gar todos os mefes. Que bem compete aos que nem ifto fazem, as palavras de Job ISic é^ego habni men- ]ob.y. ,.fes vácuos. Devendo fer os diascheos,arèos mefes faó vazios. PaíFafe hum mez, & outro mcz, paíFafehum JiibileOj&:oucroJubileo,ac nem a importância da gra- ça, nem a cóveniencia das graças (^como fe naò ou ve- ra fé, nem outra vida ; co- mo fe naó ouvera inferno, nem Purgatório} nos per- mitem os vicios j de que eílâo cheas as nofilis Al- mas,que por meyo da con- triçáo,& coníiífao as pre- fentemos àquella fagrada mefa vazias.

2 f7 Vazias aífim dos peccadosasnoíílis Almas, ffc fomos Chriftãos, ou daqui por diante oquere- 'mos fer Jo que deve procu- rar cada hum de nos com verdadeira refolução, fiô duascouíasraprimcirajen- cher a Alma com a graça ,

Santiffimo

para que naó eíleja vazia: afegunda, encher a graça com obras chriftáas jpara que perfeveremos na mef- ma graça. Qual he a razaó, ou defeito, porque os que fe confeífaó,&: cómungaô, & fe põem em graça de Deos , naó perfeveraó na graça muitos dias, & tal vez no mefmo dia a per- dem > A razão,& o defeito hej porque ainda que en- chemos a Alma com a graçajnáo enchemos a gra- ça com as obras , fem as quaesclla naó pode per- manecer. Confideremos, &pefemos bem o que diz S. Paulo de fy, & o que nos aconfeiha a nos. O que nos aconfelha o Apoftoio, que foi ao Ceo, & tornou , he, que não tenhamos a gra- ça vazia : Ne in "vaciium , gratiam T>ei recipjatis : & o que nos diz de Íy,he5que a graça que recebeo de Deos, nunca a teve vazia, &■ por ifío permaneceo femprenella ; Grar/a tjus in nie ia ena non fuit , fcd gr aí! a (jiisfempcr in me ma- net. Sendo a graça tàò con- traria

Ó I.

I Cor. r-T 10.

c!cí:

mk

iBfei

Sacramento. 27P

traria à natureza , nifto vácua nonfult: ta mbem fá-

íe parece a natureza com a graça , ou a graça coma natureza. A natureza de nenhum modo admite , nem permite vácuo , don- de naíbeo ò Proíoquicí^ KondãiuT i)acmm m r-e- rum natura. E eíTa he a Fi- loíbfia, porque nos ele- mentos, & mixtos, ou ef-

em nòs como nelle fem- pre permanente 5 Etgra^ tia ejus femper in me ma^ net.

25-8 E fe me pergun- -tais como eferà a. graça fempre cliea, & inunca va- zia ? Refpondo , que en- chendo os vazios que na Alma Gccupavao os vi-

pontaneamente 5 & porfy cios, primeiro os aélos, mefmasjou obrigadas da & depois com os hábitos

arte , vemos tantos eíFei tos , que parecem mila- grofos, & verdadeiramen- te faó naturaes. Vemos fu- bir a agua, & a terra 5 ve- mos decer o ar, &■ o fogo, vemos róperemfe os már- mores, Sceílallaros bron- zes , tudo por acudirem a impedir o vácuo , ou va-

das virtudes contrarias. Em lugar da foberba entre emnofías Almas a humil- dade, em lugar da intem- perança; entre a pureza , em lugar da envejaa ca- ridade, em lugar da ira a maníidaó, em lugar da gu- la a fobriedade, em lugar da ambição o defprezo do

zio 5 o qual fe ouveíTe na mundo, em lugar da Vm^ natureza , pereceria o mu- gança o perdaó das inju-

do. O mefmo aconteceria (^ & acontece } à graça , fe nella ouveíTe vácuo: & por iíTo o devemos reíiftir com todas as forças : Me in va-

nas, em lugar do ódio o amor do próximo , ainda que feja o maior inimigo ; finalmente em húa pala- vra, por mais que a natu-

cuumgratiam "Dei recipia- reza corrupta , & mal ha- tis. Se a graça em nòs nun- bicuada repugne, que o ai - ca.eftivervaziajcomo em to,& leve deça,& o baixo, §.Paulo ; Gratia ejus in me & pefado fubá: porque de-

S iiij Ha

2 8o Sermão do

íla maneira nos confor- maremos com todo o ex- emplar do noíTo aíTump- tOi imitando a Deos na Encarnação, que deceo a tomar condiçoens de cor- po,&aChrifto no Sacra- mento, cujo corpo fubio a

Santiffimo

participar os attributos de Deos, os quaes nòs tam- bém gozaremos eterna- mente na mefa da Gloria por graça do mefmo paó, que para nòs fubirmos de- ceo do Ceo : Hic eftpanis^ quideCalodefcendit.

SER-

28l

cia fi^-!ri) «falia lia stlcíactllfeííal^

f f f ^f ff ¥f f f -^ t f #f f 'f * f t"

SERMAM

DE

S GONÇALO

*JV venerit infecunda 'vigiUa^&fim tertiavigilia^eneritf &itamvenerit ykeatífunt fervi illi. L.uc.12.

§.i.

Nde ha muito i||(gi|em que eleger, L^^iR n-aó pôde haver : Vrwi® pou CO íbbre qu e duvidar. Celebra hoje a noíTa devaçaó hum Santo, fobre cujo ellado duvida- rão os Hiftoriadores , fo- bre cuja profiíTaó duvidou ^llemeímo, & fobre cujas grandezas, para eleger as maiores, eu fou o que mais duvido, DuvidáraposHí-^

ftoriadores fobre p íeu ej^ tado^porquehunso fize- raó da Jerarchia Clerical , como filho de S. Pedro | outros da Monaílica , co- mo Monge de S. Bento } outros da iMendicantejCO- mo Religiofo de S. Do-» mingos : controverfía era que he mais glonoía a du* vida, que a decifaó. Aíllm duvidarão , &■ contende- rão as mais nobres Cida- des da Grécia fobre qual foife^ououveffeíidoa Pá- tria

2S2 ^.

tria do famofo Homero. Duvidou o mefmo Santo fobre qual feria a profííílió em que Deos mais fe agra- daria que elle o ferviífe: porque naó baila fervir a Deos ; mas he neceílàrio ft:rviIo como elle quer. E como neíle requerimento empenhaíTe muitas horas , & muitos dias de fervoro- faoraçaó,&,porque era Sacerdote> muitos facriíi- cios ; finalmente lhe ref- pondeo o divino oráculo, que fe dedicaíTe a feu fer- viço naquella Religião, em que fe principio aos Officios Divinos pela Ave JVlaria. Com efte indicio , no qual era íignifícado cla- ra mente o fagrado Inftitu- todos Pregadores, refol- veooSanto a fua duvida: &comomefmoefpero eu refolver a minha. Para dar pois bom principio ao noíTo difcurfo , antes de faber , nem propor qual ha de fer,comecemos tam- bém faudando a Máy da graça , & digamos A^ve Maria,

nnao de

í. II.

s;

■venerit infccuda vigília^ &fun tertia vigilia vene- * , '• ' rity beatijunt fervi tUi: ^ '

DUvidofo eu 5

26o . ^

& muito du-

vidoíb, como dizia, entre as grandezas do no íib San- :to,para eleger , Sc pregar dcUeas mais admiráveis, fobre efta minha duvida encontro no Evangelho outra maior. Diz Chri- fto Meftre divino , & Se- nhor noíTo 5 que os fervos que elle achar vigilantes, ou venha na fegunda vigia da noite,ou na terceira^ef- fesfaóos Bemavéturados. A fuppoílção , & fraíi he niihtar; porque os fol- dados naquelle tempo di- vidiaó a noite em quatro vigias , de cujo numero perfeverahojeonome de fe chamarem quartos. E porque a nofla vida, como dizJob,he milicia,& nefte mundo vivemos às cfcu- ras,ou com pouca luz co- mo denoitCj divide o Se- nhor

^.v

mmm

S.Gonçãto. iS^

nhor a mefma vida do lio- dos miniiios^ ainda os naó

meni em quatro partes com nome de quatro vi- gias. A primeira parte, ou idade he a de minino, a fe- gunda a de manceboja ter- ceira a de varaója quarta a de velho. Suppoílo pois

tenta o mundo ; na ultima, quehea dos velhos jjà os não tenta : & a virtude fem batalha, que nos mininos he innocencia , 6c nos ve- lhos defengano , quanto mais eftà em paz , & fora

queeílas partes, ou idades da guerra , tanto menos nocurfoda vida humana de vidoria,& de folida , &

faó quatro, porque deixa o Senhor a primeira, & a ul- tima, Seio fazmençaó da fegunda,& da terceira ? Si venertt i?i fecunda vigiliay &Jii?i tertia ^vigília vene- rit? A razaó natural quan- to às vigias, he, porque na fegunda, & na terceira he mais carregado o íbno, mais trabalhofa a refiílen- cia,&mais difficuitofa a vigilância. E quanto às partes , ou idades da vida neta mb em a mefma , ou •femelhante -, porque na idade de mancebo , & de varaó , aílim como as ten- taçoens faó mais fortes, af- íim he mais trabalhofa a •reíiílencia dos vicios , & niaisdiflicultofa a obfer- vancia das virtudes. Na primeira idade , que he a

forte virtude.

2 dl S. Gregório Na- zianzeno concordando ef- te texto com a Leyem q Deos nos manda que a amemos , da outra razap igualmente própria, & na- tural, mas muito maisfu- blime; T>iliges T>omlnum ux^^^^, l^eum tuum ex totó cor de -"• tuOi & ex tota anima tua^ ò* ex omnibus viribus tuis^ C^* ex omni mente tua. Amaras a Deos teu Senhor com to- do o teu coraçãOjCom toda a tua alma, com todo o teu entendimento, 5c com to- das as tuas forças. De forte quedeílas quatro partes, ou deftes quatro todos ha de conftar o amor deDeos, para fer legitimo de todos CS quatro cofiados. Amor de todo o coraçáo^anior de toda

ni

r'.t'

2S4. Si

tocia a alm.ij amor de todo o entendimento, & amor de todas as forças. Poisef- ta he a razáo,porque Chri- ílofó falia da fegunda, Sc da terceira vigia, & naóda primeira, nem da quarta: £ porque chama Bem- aventuradosaosda fegun- íiaj& terceira idade , que faó osmancebos5&: osva- roens, & naô aos da pri- meira,& da quarta,que faó osmininos ,& os velhos? Sim 5 Sc clariílimamente. Porq Deos quer Ter amado não lo com todo o cora- ção 5 & com toda a alma, fenaó também com todo o entendimento, & com to- das as forças : & pofto que osmininos, & os velhos coração, & tem alma 5 os mininos ainda não tem cntendimêto, &os velhos naó tem forças : logo os da fegunda , & terceira vigia, os mancebos, Sc os varoens podem amar,& fervir a Deos com todas as quatro partes, ou todos os quatro todos do intei- ro,& perfeito amor : com fodo 0 CQraçáQaí'^' íoto cor'

de : com toda a ai ma , ex to- ta anima-, com todo o ç^n- tcv^CwmzritQ^extota mente-. com todas as forçasjí a" om- nibus viribus.

261 Entendido afllm (^ pois aíTimfe deve enten- der^ o Evangelho , parece queelleporfy mefmo nos tem dividido o difcurfo em duas partes, & que íè* gundo ellas , devemos tra» tar das duas principais idades do noíTb Santo: a fegunda, que nos mance- bos heílorente,& a tercei- ra,que nos varoens he ma* dura i fendo húa , Sc outra na fua perfeição , ambas forãocheasde flores , Sc ambas de frutos. Mas po- ftoqueaílim pareça a ou- tros, a mim, cuja he a elei- ção, não me parece. Não faó as excellencias de S. Gonçalo tão pouco gran- des, quecaibãoemtãoef- treitos limites. Quando o Rio fae daMadre,tambem as margens faóRio.Não havemos de alargar o E- vangclhojfcnão também o numero das vigias. Digo pois, ou deteriniiio dizer , que

^.^r;: V.

S. Gonçalo. 285:

que S. Gonçalo naó foi tos dias ; S. Gonçalo na6

efperounem hum fôdia, porque no mefmo dia em: que naícendo fahio à luz quarta :& não íó da pri* do mundo, era homem, meira, da fegunda , da ter- &: grande homem no fer , ceira,&da quarta jfenaõ poíloque foíTe mininona

Santo da fegunda , 6c da terceira vigia ^ fenaótam bem da primeira , &

da

eftatúra. Fallandoo Pro- feta Zach árias do futuro Salvador do mundo, ç^iíci^ , ta primeiro as admirações do que havia de dizer com a palavra Ecce : & o que diife , he, que o feu nome íeria: O que nafce homem: Ecce vir oriens nomen ejus, Efehe prodígio digno de ^ pois de morto 5 em que admiraçáo,5c admirações, |*'2^^ cinco vezes tantos an- quehum homem, que era

juntamente Deos,nafcdIe

também da quinta. Santo, & admirável Santo na pri- meira idade de minino : Santo, & admirável na fe- gunda de mancebo : San- to, Sc admirável na tercei- ra de varaó : Santo, ^ad- mirável na quarta de ve- lho:& finalmente Santo, 6c admirável na quinta de-

nosjquantostevede vida. Se o difcurfo for largo, fa- cilmente fe acomodará a devaçaõcoma paciência.

/. ÍII.

2^3 /" Omeçandope^ V^la primeira vi- gia ', foi Santo, 6c admirá- vel Santo S. Gonçalo na primeira idade de minino, porque naó foi minino minino, fenaõ mijiino ho- mem. Os outros mininos para chegarem a fer ho-

minino,&: homem,^/> ori* ms\ quam admirável San- to devemos entender, que foi o noííb , fendo àAã.^ feu nafcimento naó home minino, fenaó minino ho- mem? Hum íó homem ou- ve no mundo, que nafceA fe homem. Eftefoi Adam^ a quem Deos criou em idade, 6c eftatiira perfeita, Maseíle homemjque uni- camente naí?:eo homem»

aBensiiíiQ de eípexar piui- neíp pojr ilío deixou de fer

286

Sermão de

iy^r:

I .1^

minino.Vòso julgai. Ode que era renhor,& o que ti- nha de Teu Adam, naó era menos que todo efte mia- do :6c hum homem , que tendo tanto , deo quanto tinha por húa maçãaj vede fe foi minino. Adam naf- cido homem , mas ho- mem minino •, Gonçalo nafcido minino, mas mi- nino homem.

E quando come- çou eíle grande minino a moílrar publicaméte, que era minino homem ^ Oito dias depois de nafcido, que foi o de feu bautifmo. Sahiodapia onde os ou- tros mininos eílranhaó tã- to o rigor da agua, 8c quan- do a ama o recolheo nos braços para o acalentar do choro,&:lhedaro peito; o prodigiofoinfinteem vez de chorarj&: mamar, fitou os olhos em hum Chriílo cruciíicado,& com o roílo alegre , &: os bracinhos abcrtos,&c cftendidos, pa- recia que lhe dava as gra- ças da graça que recebera. ÃnimeRcvc por largo ef- paço com admiração , &

pafmo dos circunfl-antes, fem o poderem divertir da viíla firme , &: contempla- ção attenta do fagrado ob- jedto. E quem negará, que foi iílo receber o bautif- mo náo como minino, íè- não como homem.^ O bau- tifmojou o recebe osadul- tos,que íàò os homens , ou osinnocentes, que faó os mininos : mas com grande femelhança no bautifmo, &com grande dift'erença nos bautizados. No bau- tifmo com grande feme- lhança j porque afiim a huns como a outros comu- nica a quelle Sacramento a graça, & infunde os hábi- tos de todas as virtudes: mas nos bautizados com grande differençaj porque nos innocentes fícão os há- bitos das virtudes como amortecidos fem podcré exercitar os a£bos delias: & nos adultos ficão vivos, Ôcpromptos 5 porque lo- go, ou produ7:em, ou po- dem produzir os a£los vir- tuofos, a que os mcfmos jiabitos osínclinão. Allim fcvio no bautifmo de S. Ago-

S. Gonçalo. 287^

Agoftinhoj que foibauti- devotajôc confiante atten-

zado em idade de trinta &: três annos, & aílí ni elle co- mo S.AmbroíIoq obauti- ZOU5& também tinha fido baiitizado em idade adul- ta, compuzeraô extempo-

çaójO da perfeverança.

264 diz O Real Pro- feta do homem que logo começa, & ha de fer gran- de Santo : Et erit tanquam Ugmim^ quodplantatum eji^ç^i^

raneamente5& cantarão o fecus decurfus aquãrum ^^-^ Hy mno, Te T>etimiÇ.m que quodfruBum fuum dabit in

fe contém tantos , & taó excellentes a£tos , & taó ardentes aíFedtos de todas as virtudes. Agora pergú- to : E a qual deílas duas differenças, ou claíTes de bautizadospertéceo nof- fo Sáto ? He certo, q naó à dos mininos , & innocen- tt^., íenaó à dos homens, & adultos. Porque logo, co- mo íe o bautifmo lhe in- fundira naó os hábitos, fenão os a£tos de todas as virtudes; em não chorar, exercitou o da fortaleza j em naó tomar o peito,o da temperança ; em fixar os

temporefuo\ Que fcrà como a arvore nova , & tenra plantada junto às corren- tes das aguas, a qual dará o fruto a feu têpo. As aguas correntes faó as do bautif- mo: as plantas novas re- gadas có ellas, faó os bau- tizados não adultos, fenaó mininoS)&innocentes: & deílesdiz o Profeta naô que dão logo o fruto, fenaó que o daráó a feu tempo. Porque ? Porque naquelle eílado imperfeito da natu- reza, que he a infância, aííimcomo tem emmude- cida a lino;ua , & enfaixa-

olhos,& eftender alegre os dos os braços, aílira as po-

bracinhospara a imagem tecias da Alma comodor-

de Chrifto crucificado , o mentes não efláo promp-

da prudência, o da juíliça, tas,& expeditas para exer-

o da religião, o da fé, o da citar logo os ados das vir-

caridade:&em onaó po- tudes. Crecendo porém

derem divertir daquella depois^ac tomando força s^

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1

Sermão de ou amanhece, raò a Fé, aquelles olhos fí-

2S8^

entaófae ,

como Sol de entre nuvês, o lume do entendimento, &darazaó, & entaõ he o tempo determinado pela natureza, 6c efperado pela graça, para poderem pro- duzir, 6c produzirem os frutos : Etfruãnm fimm dabit in temp ore fito . À íli m fucede a todos os mininos. Porèmonoífo, como ex- ceiçaó dos demais, antici- pando os limites, & vaga- res da natureza, fez feu o tempo que naó era feu, &: léus os frutos que naó eraó

zeráo feu o coração com que a creraó , & aquelles olhos íizeraó feus os pès, ou para melhor dizer , as azas,comque vencerão as diílanciaSjque ha de mini- no a homem , fem deixar efpaçoemmeyo, Aflim fi- cou o noílb SantOj&fe mo- ftrou publicamente mini- no,6c homem juntamente no mefmo tempo -, porque náofendoo tempo feu em quanto minino , em quan* to homem,&: com acçoens de homem o fez feu : Et do tempo. Reparou , & fruãumfimm dabit in tem* confidera difere ta mente porefuo. S.Agoftinho, queosmini- zóf Náoparouopro- nosvaõ ao bautifmo com digio naquelle primeiro pès naò feus, 8c crem com dia j mas depois fe conti- coração não reu,6c confef- nuou com novas , & maio-

faó o que crem com lingua naófua : ^ar^oulis mater E,cclejta aliormn pedes ao- cÕmodatutveniant -i aliorú corutcredant^ alionim lin- guam íLtfateantur. E tudo ifto fízerão feu os olhos do noflb n-iinino , fíxandofe cm Chrifto cruciíicado. Aquelles olhos íizeraó fua a lingua com que confeííá-

res circunftancias -, porque o mefmo minino, que en- tão não chorou,agora cho- rava irremediavelmente, & o que entaó não tomou o peito, agora eftava con- fiante em de nenhum mo- do o querer admitir. Não fe entendia ao principio o fciircdo deitas lasírimas,^: abílincaciasi até que final- mente

S.Gonçalo, 1%^

"mentefe conheceoc| eraó piritualfejamaisnobreno

faudades dos feus primei- ros amores. Para qiienaó chor-iíre5(Sc íe deixaíTe ali- mentar, de que induílria ufáraó ? Levavaó a Gon- çalo , ou Gonçalinho à mefma IgrejasÔc tanto que punha os olhos na imagem de Chriílo crucifícado, cila vifta lhe enxugava lo- go as lagrimas , & lhe tira- va o faliiojcom quejàcon- |:ente,&: goftoíò aceitava o natural alimento. Hfte era o único remédio, fem ha- ver nenhum outro ; cafo verdadeiramente raro , & mais íè confultarmos nelle a S. Paulo. Para intelligé- cia do grande prodigio, que encerra, fe ha de fup- por^que o homem he com-

homem que a animal , a animal com tudo he pri- meiro que aeípirimal, Sc que a efpiritual naó tem lugar fenão depois da ani- mal : Non prius quoàfpiri- tualeeft^fedquod antmaley^^^^l' deinde quod/pirituaJeMn^iy fie outra coufa confirma o Apoftolocom o exemplo de Adam homem da terra, de quem recebemos a vida animal,& foi primeiro que Chrifl:o:Sc como exem- plo de Chriílo homem do Ceo, de quem recebemos a vida efpiritual, & foi de- pois de Adam. Ifto he o que enfina S, Paulo. Va- mos agora ao que fe via no noílb Santo. O chorar, ou naó chorar, pertence à vi-

poftodeduas partes, húa da feníitiva; porque o cho- animaljêc outra efpiritual: ro he effeito do fentimen-

a animal coníta de duas vi- das, que faó a vegetativa , &fenfitiva i 5c a efpiritual confiíle em húa , quehe a racional. E que diz S. Paulo ? Tudo o contrario do que acabamos de con- tar do noítb minino. Diz que pofto que a parte ef- Tom./.

to : o tomar50u nao tomar o peito,pertence à vida ve- getativa -, porque a nutri- ção he effeito do alimento: do mefmo modo o chorar porver a Chriílo, &; naó admitir gofto íem elle, he eíFeito da vida racional, & o mais racional da mefma T vi^

25ÍO Sermão de

vida. Pois fe S. Paulo diz, meira, que Deos he o ulti-

õJilL^

I .1

que primeiro he no ho- mem a parte animal, & de- pois a parte efpiritualj co- mo eraó primeiro no noííb minino osa£í:os da parte efpiritual, & depois os da animal: primeiro o bufcar, &veraChriílo,& depois o ceíTar do choro, & tomar o peito? Porque S. Paulo fallava conforme a ley or- dinária da natureza, & dos mininos, que primeiro faó mininos,& depois homés :

mo fim do homem : fegun- da," que todas as acçoens humanasjôc propriamente de homem, devem fer en- caminhadas a efte ultimo fim: terceira , que as ac- çoens, que não levão dian- te dos olhos efte fim, ainda que as faça hum homem de cem annos, naó faó hu- manas, nem de homem, fenaó animaes, & de mini- no,ou bruto. Edigo indi- ftintamente de minino, ou

porém o noíTo Santo obra- bruto; porque taó animal vacomoexceiçaó da mef- acçaóheo n>amar , & o

ma ley, 6c náo como mi- nino fomente minino, fe- naó como minino junta- mente homem.

266 Daqui fefegue em maior aíTombro do cafo, que o mefmo não ceifar do choro, oco mefmo naó tomar o peiro, fenaó com Chrifto diante dos olhos, não eraó no noíTo Santo ados animaes , & de mini- no, fenaó racionaes , & de homem. Para prova deíla grande confequencia fup- ponhocomaFè,&com a Xheologia três coufas: pi i-

chorar em hum minino » como o mamar, & o balar em hum cordeiro. Nem o exemplo, ou nome demi«p nino de cem annos he no- vidade neíle ponto > por- que mininos de cem annos chamou o Profeta faias aos que delle modo obraó: 'Fuerictntum annorum. -Errai. tf c: como o noífo minino cef- 20. fava do choro,& tomava o peito com Chriílo diante dos olhos, que he o ultimo fimdohomcm , o mefmo ceflar do choro, & o mef- mo tomar o peito, que nos

OUtiO,'

«fe

S.Gonçalo. 291

outros mininos faó acções não muito antes deila,aín-

animaes^demininojiiel- da mudo ,& ainda total-

le eraó racionaes,& de ho- mente infante , o noíTo

mem. Oh que grande mi- minino erajuntaméte ho-

nino,& que grande home mem. Tire pois S. Gonça-

fois> meu Santo ! O mefmo lo das mefmas palavras do

S.Paulo dizia de fy : Cum Apoftolo o qumdo autem^

efemparvulust lo que bar ut Sc applicando a fy as pri-

farvulus yfapiebam utpar- meiras,& as ultimas , diga

vulus, cogitnbam utparvu- confiadamente : Cum ejfem

lus : quando autcm faBus parvuluSyfaãusfum vir, fum vir , evacuavi qua erat

parvuli: Eu,diz o Apoílo lo, quando era minino/al- lava como minino , enten- dia como minino, 6c cui- dava como mininOjporèm depois que creci,& fui ho- mem, ácr^ú tudo o que era próprio de minino. S. Gonçalo era muito mais

§^ IV.

167

QS

anto à fegu- 'da vigia , foi Santo,& admirável Santo S. Gonçalo na idade de mancebojporque feito na- quelles annos Paftor de Almas C oíficio taó peri-

minino que S. Pauloj por- gofo para a própria, como queS. Paulo na idade cm útil para as alheas } de tal que fe chama minino , forte acodio a húa obriga- fallava : Loquebar ut par- çaò fem faltar a outra, que 'z;í////j:& S.Gonçalo ainda a ambas fatisfez adequa- naòfallava, nem começou damente. Faltavaóihe ao afallar fenaó dahi adous novo Prelado as cans, que annos :& quando o Apo- no facerdocio faó os ef- ílolo do terceiro Ceo era maltes da coroa, 6c na pre- minino, 6c obrava como lazia o ornamento da dig- minino,6clhe falta vão ain- nidade •, mas não lhe falta- da muitos para fer home ; va nada do que as mefmas n^o neíFa mefma idade, fe- cans íigniiicaó,6c naó pou-

T ij cas

2 92 Sermão de

cas vezes dermentem. Saó Ihores cabeíIos,&:a peor como as neves de que fem- cabeça, que nunca ouve, preeftà cuberto o monte foi a de i^ aláo : oscabel- Ethna , debaixo das quaes los vendiãofe a pefo de ou- feocultaóvolcoens5& m- ro,& a cabeça nenhum pe-

cendiosifaó como as que o divino Meílre chamou j^^,,j^ fepulturas cayadas, Sepul- 33.27- chradealbata^ brancas por fora, 6c corrupção por den- tro. E também podem fer como aquella arvore,a q comparamos o noíTo San- to em mais levantado fen- tido. Delia diz o Profeta , que nunca lhe cahirá a fo

focinha. Mais lhe tomara eu o chumbo na teíla, que o ouro na gadelha. Tam- bém ha cabelloSjque pare- cem de ouro,& faó de pra- ta fobredourada i & ido he o peor, que tem as C2nsj poderemfe tingir. Náoaf- íim os cabellos negros,que não admitem outra cor. Por iÇÍ'o a Paftora das E-

.Pfalm.

r '.t ;

Sapicnt.

\h^: Folmmejus nondefuet: glogasde Salamão o que &c as arvores que naó mu- louvou nos cabellos do íeu

dão a folha, tão verdes faó de poucos annos,como de muitos. Mas quanto com maior indecencia fe de- vem eftranhar nos velhos as verduras, tanto he dig- na de maior veneração nos moços a madureza. As verdadeiras cans,diz o Ef- pirito Santo , faó o juizo íezudo 5 & naó coníiítea velhice na cor dos cabel- los, fenaó na pureza da vi- da : Cam autem funt Jmfus homints^ ér atasjenc^hitis vitaim?mctílata:.. Os me-

Paílor, foi ferem da cor do corvo : Com£ ejusficut eíâ- Cant.-ç, ta palmar um , rjgra quaji^^' corvus,

268 Sendo pois o me- lhor,& maior de todos os Paftores Paílor, &: mance- bo, grande louvor he do noíío Santo fer eleito Pa- ílor na mefma idade. Man- cebo era A'^el , & que Pa- Itormaisrcligiofo ^ Man- cebo era Jacob, <Sc que Pa- ílor mais vigilaure? Man- cebo era David,3c que Pa- ílor mais animoíb, &: ef- forcado i*

í^

S. Gonçalo. 293

forçado? Se oLeaó ("diz mes o roílo dos podero-

o Texto 3 lhe tomava o cordeiro pela cabeça, tira- valho da garganta pelas pontas dos pès : & fe lho engolia pelos pès , arran- cavaího das entranhas pe- las orelhas. A idade da ve- lhice he muito fria para acçoenstaó alentadas, & tão ardentes. O peor ga- do de guardar, he o ho- mem.Quarêta annos guar- dou ovelhas Moyfes fem nenhum perigo, & naó ha- via dous annos,que era Pa- ftor de homens, quando Deos lhe pode guardar a vida dos mefmos a quem cUe guardava. Elle leva- va-os a beber nas corren- tes puriííímas do Jordaój & elles fufpiravaó pelos charcos do Nilo, & lodos do Egypto. A maior falta que hoje fe exprimenta nos PaftoreSjhe a do valor. Se S.Gonçalo o naó tivera moftrado antes, tanta cul- pa teria quem lhe meteo o cajado na mão, como elle em o aceitar. Se nào tens valor para arcar com os vicios authorizadosj & te- Tom.7,

foSjnaò aceites o officio, diz Deos : Nolifierijudex , ecí ni/i vaieas irrumfere mi-^- qtiitat es ^ne forte extimefcas faciempotentis. No reba- nho manfo à-AS ovelhas também ha valentes de te- íla taó dura,& armada,que fe batem huns com os ou- tros, mas todos temem5& reverenceaóoPaílor. Aí- íim foi antigamentejqiiá- doosPaíloreseraó Chry- foílomos, & Ambrofios, poftoqueojmais podero- fos da manada foíTem Theodofios, 6c Arcadios. Se os Paftores não guarda- rão tantos refpeitos 5 elles foraómais refpeitados. E aííim o foiS. Gonçalo, po- ílo que mancebo.

269 Do tempo em que governou a íua Igreja, di- zem muitas coufasos Hi- ftoriadoresjtodas próprias de hum bom Paílor. Di- zem que naó fe veília da láa das ovelhas, nem fe fu- ftentava do feu leite , & muito íiienos do feu fan-^ gue. Dizem que o patri- mónio de Chriíto não o T '^i] ga-

294 Sermão de

gaíiava com criados, cães, mais a pena que os multa - oucavallos, nem cóacre- vanabolfa, que a que os centaracafa, oulheveílir condenava na Alma. Pre- ás paredes. Dizem que ex- gando pois hum dia o San- cepta a limitada côngrua to, ^-aíFcando eíle abufo

do próprio fuftento , tudo o demais diílribuia aos pobres, & naó comopro- priocomnomede carida- de, fenaó como feu delles , &:por obrigação de juíli- ça. Dizem que naó íb pre- gava aos ouvidos , fenaó tambem5& muito mais aos olhosj porque os exem- plos da fua vidaeraó a al- ma de toda a fua doutrina. Eftas 5 &: outras muitas eoufas dizem os Hiftoria- dores, mas todas em có-

como tão alheo da Fè, & Religião Chriíláa j vio paíTarhâa mulher, que le- vava húa ceíla de pao,cha- mou-a 5 mandou lhe que pozeíTe a ceíla a feus pès, &: repetindo com voz te- merofa a forma da excó- m.unhaò febre os pães,que eraò muito alvos , fubita- mente fe converterão em carvoens. Ficarão aífom- brados todos , &: muito maisa pobre mulher, que deoporpeididooíeupaó.

mum. E porque do tempo Mas depois que com a vi- emqueonoílò Santo foi íladetaóeítranha , & rc-

Paftor, hum cafo refe- rem em particular / por ef- tecollegiremososdemaisi 6c vendo como obrava, co- nheceremos qual era. Ha- via entre os freguezes de S. Gonçalo o abufo, que ainda dura em outros, de terem perdido o medo às excómunhoens. Eraó da- qucl la gente que naó crè o que naó fe , & fentiaó

pentina mudança os vio perfuadidos ao que naó acabaváo de entender j agora, diz o banto , para que vejais também quam contrario he o elfeito, que obra a abfolvição nos ex- comungados, Vepetio fo- bre os carvoens as palavras daabiolvicaò, 6c nomef- mo momento , &: do mef- mo modo íicáraó outra vez

m

S. Gonçalo, 295-

vez convertidos em páes rer Fazer niilap;resà cuíia

taó alvos como dantes eraó.

270 Feitaademoftra- ça5dehiini,&:oiitro mila- grejdiíle S. Gonçalo à mu- lher, que ievaífe o feu paó com a benção de Deos: & aqui reparo muito. Sendo opaónar-húa, fenão duas vezesmilagroíbj dobrada razão tinha o Santo para o aplicará Igreja. Oh tem- pos ! Parocho íç,i eu, que à conta de liúa excomunhão teve pão com quefuílen- tar muitos dias a fua famí- lia , 6c era muito mais nu- merofa que a de S., Gonça- lo. E porque náo fez elle outro tanto ? Ao menos parece que devera mandar refervar alguns daquelies pães convertidos em car- vão para perpetua memo- ria, & horror do cafo. Por- que tornou pois a entregar à mulher todo o feu paó taó inteiro no numero, & tão branco na cor como

do pão alheo.Qiiantos mi- lagres vemos neííe mun- do,^ quantos homens, 6c alvitres milagrofos, & to- dos ã cuíla do pão alheo5& nenhum do feu .^ A Elias fuílentava Deos cada dia com douspãesj&a S. Pau- lo primeiro Ermitão tam- bém cada dia com meyo pão :6c fendo os Miniíiros de hum 5 & outro milagre corvos, fempre o pão era damefa de quem manda- va fuílentar os famintos, & não tomado a outrem. O maior milagre neíle géne- ro foi o dos pães,que fendo cinco, fe multiplicarão a tantos milhares , que fu- ílentáraó cinco mil ho- mens , &; fobejáraõ tantas alcofas Mas eftes fobejos para quem foraõ ? Para os donos dos cinco pães, que eraôosApoílolos. Seme- lhante milagre o vimos 5 & eltamos vendo. O que hontem fe cotava por uni-

era dantes \ Porque enten- dades 9 hoje fe conta por deo o bom, 6c defmtereíià- milhares, ác por milhoens. doPaílor , que era coufa Mas à cuíla de quem.^Dos muito fora de razão que- mefmojs que daó a mate-

T iiij ria^

:^.w

29<> Sermão de

ria,5co_cabeda] paraomi- confirmação dous mila-

lagre. E em vez de terem parte na multiplicação, & quando menos nos fobe- jos,atèos feus cinco pães Ihosexcómungão de ma- neira, que antes os querem

gresj mas com tal condi- ção, que o que fízeíTe o primeiro ,desfizeíle o fe- gundo. Tomou pois Ge- deão hum velo de lãa das fuás ovelhas, & pondo-o

pcrder,que lograr 5 porque no meyo da eyra , diíFe;

lo lhos permitem conver- Quero que todo o orvalho

tidos em carvaó. defta noite caya na láa , &

2/1 O remédio defl-a nada na eyra: Scaflimíu-

grande perdição, &: deíla cedeo. Ao outro dia pofto

grande laílima o enfi- o velo no mcfmo lugar.

nou S. Gonçalo , fe ouver quem lhe queira tomar a lição. E em que coníiftio o remédio ? Cófiílio em tor- nar a converter o carvaó empaóíaílim como opaó le tinha convertido em •carvão. Nãoeílàa perfei- ção do milagrofo em po- der fazer os milagres, fe- nãocm os fabcr desfazer. E a razaó no noíTo cafo hej porque quando os mila- gres faó danofos , para re- fazer o dano do milagre, he neceííario que desfaça ofegundooquefez o pri- meiro. Tendo hum Anjo feito hua grande promeáa a Gedeaòjque também era

ò^i^ç: : Agora quero às a ve- ças, que todo o orvalho deíla noite caya na cyra,& nada na lãa : 6c também fu - cedeo do mefmo modo. Mas porque fenão conten- tou Gedeão com hum milagre, fcnão com dous, ScquedesfizeíTe o fegun- do o que tiveífe feito o primeiro? Porque fequiz certihcar da promeíla do Anjo,&: conhecerei eraò milagres de Deos. Eentê- deo que fendo o orvalho bem comum de toda a ter- rajnaó podia Deos defrau- dar húa parte delia com o primeiro milagre,fem que Iherefizeíleo dano com o

Paílor 5 pediolheelle em fegundo. Ifto hc oquepe-

dio

S. Gonç d Io Gedeaó , iil:o o que fez S.Gonçalo , & ido o que naó ha quem imite. Baila que tudo ha de fer para o particular, & nada para o comum j tudo para o velo deGedeaó, & nada para a eyra ? Aílim o exeçutaó fem nenhúa igualdade os que querem ter jurdiçaó atè no que cae do Ceo : & por mais que as queixas cheguem ao mefmo Ceo, nenhum dos que fazem os milagres os quer desfazer. Se cuidaó que he defcre- dito, & menos authorida- de do poder desfazer o que íizeraó , enganaófe 5 porque muito mais pode- rofos fe moílraráó no des- fazer do milagre, que em o fazer. Vede-o no noíTo cafo. Converter o paò em earvoens, pòde-o fazer o fogo queimando-o 5 mas converter os carvoens em paõ, o pôde fazer a om- nipotência obrando fobre as leys de toda a natureza. 272 Finalmente nefte milagre fe retratou o noílb bom Paftor a fy mefmo, & moftrou qual era, Eíle mi-

Pfalm,

úlo. 297

lagre teve aveço , & direi- to : & taes haò de fer os ho- mens, que governa® ho- mens. O bom Paílornam ha de fer todo bondade : Cum eleão elecius eris , c^ cum perverfo per verter is. \'^Tij\ .Nem tudo ha de fer indul- gência, nem tudo ceníura. Ha de ter excómunhoens para os rebeldes , & abfol- viçoens para os arrepen- didos: & tanto para os bra- ços como os pães , como para os pretos como os carvoens. Ha de faber fa- 2er,&: desfazer,converter, & defconverter.Deos con- verteo a Nabucodonofor de homem em bruto,& de- pois tornou-o a converter de bruto em homem. A vara de Moyfes era o mef- mo cajado com que eile governava as fuás ovelhas. Eque propriedades tinha efte cajado ^ Húas vezes fe convertia de vara em Ser- pente, ôc outras de Serpen- te em vara. Nem por fer a Ley de Cfiriílo Ley da Graça,ha de fer nella tudo graça. A ceremonia com q oAuthojr da mefma Ley

GOÍl*

298

■'«I

conflítiiío a S. Pedro fu- premoFaílor, foi meter- Ihena máo as chaves do Ceo,6c da cerra. E porque, ou com que myíterio cha- ves? Porque a chave tem huavoka para fechar, & outra volta para abrir. Nem ha de fechar tudo rigor 5 nem deixar tudo abertocom demafiada be- nignidade. Quando for neceíTario, fechar de pan- cada; mas fe não for neccf- fario, não andar às panca- das. Com ferem porem as mCigaízs do poder paíio- ralas chaves , eu notei noutra occafiaó , que naó diíTe Chrifto, o que fecha- res, fera fechado , & o que abrires, aberto j íenáo,o q atares, Terá atado, & o que defatares, defatado.E por- que ? Porque quer Chriílo que os feus Pailores fai- baó atar,5c defatar , Sc naó fejáo homens , que naó ataó, nem defatáo. Porque não atão, andão os vicios Toiros y & porque não ác[- ataó,eftão as virtudes pre- fas. Ohfe refufcitára hoje S^Ççnçalo, cQmo fc havi^

Ser r/í a ode

dever tocado tudo! Mas temo que o não haviaó de merecerosnoílbs tempos, como ta m. bem os feus o defmerecéraó. §• V. 273 /^Uantoà ter- V^ceira vigia , foi Santo,6c admirável Sã- toS. Gonçalo na idade de varaô 5 porque tanto que entrou nella , fahio da pa- tria,&fe partio peregrino ajerufalem a viíitar osfa- grados lugares de noíía re- dempçaó, Sc viver, como viveo,naTerra Sáta todo o reftante da mefma idnde. Não admiro nefta notável refoluçaó o deixar a pá- tria, onde o amor natural coíluma lançar aquellas íorteSjSc doces raízes , que tão difiicultofa mente fe arrancão : mas quando vos vejo, meu Santo,com o ca- jado de Paílor trocado em bordaó de peregrino , dei- xando as voffas ovelhas,«Sc de Chrifl:o,porir correr,&: venerar os paílbs q o mcf- nio Senhor andou neíla vi- da para as apafccntar;, 6c rematou na morte para as rc-

S. Gonçalo. 299

remirjifl-oheoqiienaófei eíle confelho parece que

admirar baílantemente , nem acabo de entender

274 Hiíavezfabemos que mudou Chriílo os tra- jos,&íe veftio de peregri- no: mas quando, ou para que ? Era no mefmo dia da fua refurreiçaó , tendo di- to três dias antes, q quan* do tiraílem a vida ao Fa- llor,re derramariaó as ove- lhas: Terctitiam paftorem , O" ãifpergenttir oves gregis, E porque duas delias hiaó defgarradas , & quaíi per- didas de Jerufalem para Emaús , eíla foi a caufa daquella peregrinaçam , querendo-as reduzir outra vez o Senhor, & unir com o Teu rebanho. Pois fe Chriílo como bom Paílor fe faz peregrino para tra- zer duas ovei has deEmaús a Jerufalem-,como S. Gon- çalo , que devia imitar a Chriílo, fe parte peregri- no a Jeruíàlem , deixando em Emaús naó duas ove- lhas, fenão todo o rebanho de que era Paílor ? Emaús quer dizer, Cófelho teme- rofo : Timens conjilium 3 &

Ibid

naó foi temerofo , fenaó temerário. Nota o Evan- geliíla, que Emaús ellava diílante de Jerufalem í^^- fenta edadios, Stadiorum fexaginta^ que fazem da noílà medida três legoas: & fe Chriílo naó fofreo , que duas ovelhas fe au- fentaíTem do feu rebanho três legoas, & as foi bufcar ao meyo do caminho: Ipje lefus ãppropinquans ibat cum illis ico-cvío fe aufenta S.Gonçalo das fuás ove- lhas em não menor diílan- cia,que de mil legoas,quã- tasdiíla Portugal de Jeru- falem .? Mais nota o Evan- geliíla, que eíla diligencia afez Chriílo no mefmo dia, In ipfadie : & fe o bom ibi, Paílor no mefmo dia aco- de a húataó pequena par- te do feu rebanhoj como S. Gonçalo deixa, & defem- para totalmente o feu , 6c fe vai viver tão longe del- le, não por menos efpaço de tempo , que quatorze annos inteiros ^

27 5 Se alguém quizer

bufcar efcufa a hua tão no^

taveL

H'

«If

30 3 Sermão de

tavel refoluçaó do noííb Santa, fora trocar a terra

Santo, difficultofamentea achará tal que fatisfaça. Se diíTermos que quiz trocar a fua terra pela Terra San- ta ; eíla razão , ainda que parece pia, não he baftan- te para deixar o feu reba- nho, fendo Paftor. Porque ainda que trocar a fua ter- ra pela Terra Santa , fora trocar a terra pelo Ceo , devera trocar o Ceo pela terra, não digo por acodir a to do o rebanho, fenaó a húa ovelha delle. Que Paftorha, diz Chrifto, o

pelo Ceo, devera não fa- zer tal troca,mas deixar,&: trocar o Ceo pela terra, nãofó para confervar todo o feu rebanho,como diziaj mas para acodir a húa ovelha delle. E fequizer- mosconíiderar , que a jor- nada da Terra Santa foi feita com efpirito, & defe- jo de converter os In- íieis Mahometanos, que a dominavão , & habitão, também eftaefçufa he in- fuíficiente, &alhea do ex- emplo de Chriílo. Quan-

qual tendo cem ovelhas,fe do os Apoftolos pedircão acafo fe lhe defgarrou , & ao mefmo Senhor,que ou

perdeo húa , não deixe as noventa & nove no defer- to 5 & bufcara ovelha perdida? Aííim o fez o mef- mo Chriílo. A ovelha per- dida era o homem : as no- venta & nove erão os nove coros dos Anjos : o defer- to onde as deixou, era o Ceo : &: fe o bom,& verda- deiro Paílor deixou oCeo, & reyo aterra para acodir a húa ovelha perdida; ainda que trocar S.Gonça- lo a fua terra pela Terra

viíFeos clamores da Ca- nanéa, que era Gentia,ref- pódeo, que as ovelhas, que Deos lhe encomendara , eraó os filhos de Ifrael , & não os Gentios : Nonfum ^. "]^' mijfus nifi ad oves qu/epe- rierunt domus Ifrael. E em confequécia defta mefma doutrina mandou a feus Difcipulos, que prègaf- femaosjudeos, & nam à Gentilidade : hi -viam gen- Matth. / ntm ne abkritis. E como as ovelhas, que S. Gonçalo

10.^.

. ' I.- . II '

S. Gonçalo. 501

deixava na fua pátria, & na riam : Sc diz o Texto fagra- fua Igreja , erao as que do, que vendo Deos que

Deos lhe tinha encomen- dado j ainda que a fua pe- regrinação ajerufalem fof- fe com intento de conver- ter outras do Paganifmo, comparado efte zelo com a fua obrigaçaõjnaó naó parece louvável, mas nem ainda lícito.

2y6 Primeiramêteref- pondojque a peregrinação deS.Gonçaio à Terra Sa- tã , naó foi licita, & lou- vável, mas verdadeiramé- te fanta 5 porque elie a em-

elle voluntariamente hia, o chamou, & lhe mandou, j^id.-^ qiiefoíTcCeniensquòdper' geret ad videndum^ vocavit eum. Pois fe Moyfes Jiia por fua própria vontade ; porque o chamou Deos ? Porque efte era o cafo co- mo o do noííb Santo , em que naó bafta a inclina- ção, & deliberação pro- priaj mas he neceíTaria ef- pecial vocação divina. A Çarça ardente juntamen- te, & illefa, como dizem

prendeo naõ por efpiri- todos os Santos, íignifica o to, 8c devaçaó particular myfterio, & myfterios da

fua, fenão por impulfo, 6c vocação efpeciai de Deos. Vejamosocafo refoluto, & definido na Hiftoria fa- grada. Era Paítor Moy- Íes,& andava nos deíèrtos deMadian guardando as ovelhas, que/etro lhe ti- nha encomendado, quan- do vio de longe a Çarça que ardia, & naó fe quei- mava. Reíblveofeentaóa ir ver de mais perto aquel- la maravilha: Vadam^ & vidtbo vijwnem hanc mag-

redempçaó humana 3 &af. fimdiílèo mefmo Senhor, que decéra a libertar o íèu Povo: ^efiendíutliiferemiKd,^ eum : a terra em que eftava a Çarça, fignificava a Ter* ra a que hoje chamamos Santa, Ôcaílim lhe chamou a voz da (^^LYf^x.Locus enim inqtio jias^ terra fana a ejí, '^^^^^^ E para hum PaUor como Moyfes, deixar como elle deixou a ailiílêcia das fuás ovelhas por ir ver, & con- templar de mais perto os my*

302 Sermão ãe

myfterios de noíTa redêp- pelo mcyodia, para que o

caó,6c venerar com os pès naó bufcaíTe erradamente,

defcalços a Terra Santa , não baila a vontade > & deliberação própria; mas heneceílaria particular,& efpecial vocação de Deos : Cernens quod pergeret ad *videndum , vocavit eum, AlHmofez Moyfes, que totalmente deixou entaó ooííicio, & o rebanho: & aííím o fez o noílb Santo chamado também, & inf- pirado por Deos, & por ií^ íb náo licitajôc louvável, fenaófantamente, & com adtode maior perfeição.

2 77 Mas fe foi grande a duvida em que da fua parte nos meteo a delibe- ração do noíTo peregrino em deixar as fuás ovelhas > muito maior he a que de- vemos admirar da parte de Deos na vocação divi- na taó efpecial,rara, &: naó ufadadomefmo Deos, co- mo agora veremos Pedio aPaílora dos Cantares ao feu divino Paftor lhe ma- nifeílaíTe os lugares onde apacentava as fuás ove- lhas , & onde defcançava

& de balde por outras par- tes : Indica mihi quem dili- <^ant. git anima mea^ ubipafcasy'^' ubi cubes in meridie , ne va- gar i incipiampoji gregesfo- daliumtuorum. E que lhe refpóderia o foberano Pa- ftor? Primeiro lhe diíTcq naó conhecia quem era: Si ignoras te \ porque fe co- nheceíTe fuás obrigaçoens, naó faria femelhante pe- tição : &: fem deferir a el- la, lhe mandou que feguif- fe as pifadas do feu reba- nho , & que trataíTedeo apacentarcomo os outros Paftores: Egreàere^ cr abi ^.^ poBveftigtagregum^érpaf- ' '^' ce hados tuos juxta taber- naculapaJiorum.Qn^m. naó reconhece nefta breve hi- ftoria , quam femelhante foi a petição da Alma fan- taaodefejo do noílb San- to: & quam diíFerente a repofta que elle alcançou de Chrifto, à que ou vio de fua boca a mefma Alma, em que fe reprefentavaó as de todos os Paílores de fua Igreja que mais o a mão? A

f '

45*. Gonçalo. ^05

j\ petição da Alma fanta, he , quam fínguíarm ente

&oderejodo noíTo Santo eítimou Chrifto os aíFe-

era de ver os lugares onde dos também íingulariíli-

Chriftoem fua vida apa- mos com que S. Gonçalo

centou fuás ovelhas com a na fua peregrinação acom*

doutrina que trouxe do panhou os paílbsda vida,

Ceo, & onde finalmente & morce ao mefmo Se-

defcáçouaomeyo dia,nao nhorjpois antepoz efta deJ

à fombra da arvore da vaçaó j&defejoà obriga-

Cruzjenaó pregado , & çaó, 6c cuidado da guarda

mortonella.ííTo quer di- das fuás ovelhas. De húa,

zer, UbipaJcaSi ubi cubes in & outra parte foi defufada

meridie. Mas fe ao noíTo Santo fendo actualmente Paftorlhecócedeo o mef- mo Chrifbo efta peregri- naçaó,6c que foíle ver, & viv^er naquelles fagrados lugares 5 como a Alma, 6c Paftora fanta, em que eraó íigniíicados os outros Pa- ítores, de nenhum modo lhe defere o Senhor a eftes mefmosdefejos, & refo- lutamente lhe manda, que apacentem as fuás ovelhas, &que trate cada hum de feguir naó as pifadas de Chrifto em Jerufalem , fe- naóasdofeu rebanho na

fínezajmas muito mais adi- miravel da parte de Chri- fto , a qual ainda naó eftà baftantemente põderada, ^{òi^c pôde dignamente encarecer ou vindo ao meP* mo Chrifto com S. Pedro, iftohe,ao primeiro, & fii-» premo Paftor com ofegu- do. Perguntou Chrifto RedemptornoftbaS. Pe- dro, fe o amava mais que

os outros DifcipuloS : ^^-Joanc^^

mon loannisy diligis meflus ^iisr. his > E como S. Pedro ref- pondefte a devida mo- ácíiizyTíifiis T>ommeyqma amo te-. Bem hbGÍsYÒsS^-'

fua terra: Abipoji vifiigia nhor,quevos amo: Pois,

g^^gum, Pedro, fe meamas, ài^^ o

280 Oquedefta admi- Senhor, Fafce ovesmeas^

ravel diíFerenca fe fegue ^ Apacenta miíxhas ovelhas.

Fei

^oj, Sermão ãe

Feita eíla primeira reco- Io, pois em lugar de Ihedí-

mendação, repetio Chri- zer, que continuaíle em

itid.

íloa mefma pergunta -, & como Pedro reípondeíTe do mefmo modo: Pois,Pe- dro ) torna a dizer o Se- nhorjfe me amas, como di- zes, '^Pafce agnos meos^Apz- centaos meus cordeiros. as perguntas fobre o amor eraó duas, ôc as reco- mcndaçoens do rebanho também duas , & ainda acrecentou o Senhor a ter- . ceira, ^icit ei tertio-^ác íbr- ite que Pedro fe entritte- •ceojcomofe o divino Me- "íl:re,a qiicm faó manifeltós òscoráçbens, duvidaíTe do 'feuamor, ou deíconfiaíTe ' do feu cuidado. Pois fe três vezes examina Chriílo o amor de S. Pedro,naó comograndej fenaócomo maior de todos, & as pren- dasqlhepede deíleamor húa, duas,& três vezes,he queapacente as ovelhns,& cordeiros do feu rebanho , ^afce oves meas-^ ^afce ag- fiosmeos ^ que novo,ou que outro amor he eílc de S. Gonçalo para Chnílo, & deChriíloparaS. Gonça-

apacentar as ovelhas, que lhe tinha encomendado, lhe infpira que deixe as mefmas ovelhas, & fe par- ta peregrino a Jerufalem, naõ a viiitar, fenaô a vi- ver nos lugares fagrados, onde o mefmo Senhor ti- nha paíTa do a vida, & pa- decido a morte?

2 8 1 A mefma vida , & morte de Chriílo femprc íixa,& ardente na memo- ria dono/To peregrino Pa- fíor não ha duvida que foi, comodejacob, s fua ama- da Rachel , pois por cila fervio duas vezes íete an- nos naqucUe voluntário defterro, fendo as fuás fau- dades as ovelhas, & os feus defejos, &:fufpiros os cor- deiros que apacentava, co- meçando dcfdc Nazareth, &: acabando no monte O- livete , &: repetindo cílc amorofo circulo com tan- tas paufas , &: eílancia.ç, quantos eraó, ou tinhaó fi- do ospaffos do feu aulente amor. Mas quem nos aca- bará de defcobrir o niylte- rio

S. Gonçalo'. ^of

fio deíla taó íingiflar no- Te naó podia apartar áú- vidade,& fem exemplo na les. Oh íingular,&admira- eftimaçaó de Chriílo ? O vel fineza ! E cila digo em

primeiro penfamentoque meoccorreo, foi, que em premio da pureza virgi- nal , que perpetuamente guardou o nofíb Santo, lhe quiz Deos conceder na terrayo que concede aos Virgens no Ceo. Hepri- vilegio concedido no Ceo aos Virgens 5 diz Saó Joaóno Apocalypfe, que clles íigaó ao Cordeiro, que he Chrifto, a todas as partes por onde, & para onde for : Virgin es enim funt : hi fequuntw Agnum ' quoctimqueierit.V orem os Virgens no Ceo naó fe- guem os paífos do Cordei- rO:,mas vem o mefmo Cor- deiroj & S. Gonçalo na ter- ra fem ver, nem poder ver o Cordeiro , lhe feguia, & adorava os paífos. Elles feguem os paífos do Cor- deiro onde eílà o Cordei- ro j mas S.Gonçalo naó fe- guia os mefmos paífos on- de o Cordeiro eftiveífejfe- naó onde tinha eílado, & porq tinha eílado alli, Tom.7,

conclufaó , que foi a que Chriílo aílim amado tan- to eílimou. A primeira peíToaaquê Chriílo apa- receo na manháa da fua Refurreiçaó, foi à Magda- lena. AíIlm o dizem os E- yangeliílas. Mas porque mereceo a Magdalena naó com exceiçáo de todas as outras devotas mulhe- res,mas também dos mef- mos Apoílolos 5 eíle taó fingular privilegio ? hç,àQ a Hiftoria fagrada, 8c o que ellafez,& os outros naóíi- zeraójôc achareis arazaó. As outras Marias, como os Anjos lhe diíreraó> que o Senhor refufcitára, & naó eílava alli, foraófe : S. Pe- dro, 8c S Joaó como acha- rão no fepulchro a morta- lha, 8c o Sudário, 8c naó o íagrado corpo, também fe foraó : porém a Magdale- na fomente porque fabía como os demais q aquelle era o lugar onde o Senhor fora fepuitado, iflo ba- ilou para que perfeveraíic

V Au

li!

^^o5 Sermão de

alli,&: naó fe apartaíTe do do abazterno a Sabedoria

mefmo lugar. De maneira divina, que he o nicfmo

queos outros deixarão o Verbo^&dizquerecrean-

fepulchro,porque Chriílo dofe pelos lugares da ter-

naóeílavanellejporèm o ra^eráo as fuás delicias ef-

amorda Magdalena naõ tarcó os homens :2)^//?í^^-praim;

fe fou be apartar do mefmo i?ar jjerjingulas d'm , htdens ^•^'•^'•

fepulchroi porque ainda inorbe terrarum,& delicia

ijue o Senhor naó eftava aielle,tinha eftado. E afllm como bafl-ou, que Chriílo tivti^Q eftado dentro da- ^uellas pedras, para que a Magdalena fe naópodeífe apartar dellas,eíla foi tam- bém da fua parte a iineza, ^da parte do mefmo Se- nhor a razaó,porque tanto eílimou o feu amor , & o antepoz ao de todos. 282 Deíle mefmo mo-

me£ ejfe ciimfilijs hominum. Mas fe ainda então não havia homensjquc eíliveP fem naquelles lugares, co* mo tinha as fuás delicias o Verbo em eílar com ellcs? Porque ainda que os ho- mens então não eílivelTeni alli, haviáo de eítar de- pois. Como fe diíFera o Verbo : Aqui ha de eílar o Para ifo terreal, & as fuás delicias eráo eílar com A-

doaíliília S. Gonçalo náo dam: Aqui feha de fabri- fóaofepulchro de Chri- cara Arca, & as fuás dcli-

llo,íènáo a todos os outros lugares, em que o Senhor vivo, ou morto tinha eíla- dotrefpondendo , êc pa- gando com eíla fineza o amor, com que o mefmo Chriílo em quanto Verbo tinha todas as fuás delicias ab xterno em eftar com os homens na terra. Notai muito. Traçava cite mun-

ciaseraó eítar com Noé : Aqui fe fundará a Cidade deHebron, &: as fuás deli- cias eráo eítar com Abra- ham.- Aqui fera a terra de HuSjScasfuas delicias eráo eítar com Job: Aqui fe le- vantará o monte Smay, & as fuás delicias erão citar comMoyfes:&: aílim dos outros homens, ^ dos ou- tros

§. VL

283

QUanto â quar- ta vigia , foi Santo, Sc admirável Santo S, Gonçalo na idade da ve- íliicej porque paílandofex humdefertoa fazer vida eremitica, foube deixar 9 mundo 5 antes que o mudo o deixaáè. Naó quiz queo achaíle a morte dentro doá

S.Gonçah: . 30/ tros lugares. Do mefmo modo S.Gonçalo. Em Na- zarech dizia : Aqui encar- nou o Verbo: em Belém, Aqui nafceo : no móce Ta- bor,Aqui fe transfigurou: no Calvário, Aqui morreo: no OUvecejDaquifubio ao Çeo:6cem todos eftes lu- gares erão as fuás delicias, cftar com Chriílo > não porque alli eftiveííè, ma^

porque alli tinha eftado. *icuciin-aiiivji.uv,«wivi.v^«.vy*

De forte que o Verbo fup- muros do povoado j mas

pondoofuturOj&S. Gon^ eilerefahioao defertopa-

çalo fuppondo o paíTado , ra a efperar em campanha,

ambos o mefmo amor, Oh que valente refoluçáo,

& com a meíma fineza i o 6c que bem entendida!

Verbo tinha as fuás deli- Como a velhice héo ori-

€Íascomos homens, onde zontedavida,&daniorte,

não eftavão , porque ha* oorizonteondefeajuntaa

vião de eílar j 8c S. Gonça* terra com o CcOySc o cem-

lo tinha as fuás com Chri* po com a eternidade; que

íl:o,onde não eftava , por- refoluçaó pode haver mais

que havia eílado, E por ef- bem aconfelhada, & mais

te modo excellente, 6c íiíi* digna da madureza de hu-

guiar comprío melhor que mas canSjque dçdicar à có*

todos o noflb peregrino o templação da mefma eter-

queDeos prometeo por nidade aquelles poucos

ffaias , que havia de fazer dias,8c incertos , que pôde

glorio fos os lugares onde durar a vida .^ Não foi ad-

tinha poíío os feus pès : Et miravel o noíTo Santo ve-

lociimpedim m^orum. glori- lho,porque iílo fez^mas he

!í' ^'^ ficabo, verdadeiramente admira-

^ Vij M

?°f Sermão de

vel,porque fez o que deve- que contamos , tanto mais

Senec

raó fazer todos os velhos, &não vemos algum que o faça. Notou judiciofamê- 3 teSenecajquede todosos ou tf os géneros de morte, fendo tantos,&: tão vanos, pôde haver efperança de efcaparjfóa morte qtraz comíigo,ou aposfy a ve- lhice, he morte fem efpe- rança. Mataadoença,ma- ta o incêndio, mata o nau- frágio, mata a efpada, ma- ta a feta,ou defcuberta, ou

faó as raízes com que efta- mos pegados à terra. A 'as confideremos quamdiíFe- renremente tinha paíTado o noíib Santo velho as ou- tras ilias idades , do que nòs temos vivido, ou def- baratadoas noíílis, & eíla feja a maior advertência de o reconhecermos por íingular , & venerarmos por admirável.

284 Emfímnáo tenda S. Gonçalo porque fugir

atraiçoada, mas de todos defy, íug.odenòspara o

eftes géneros de mortes feu deferto, & levantando

muitos efcaparao y ío da húa pequena Ermida fo-

morte da velhice ninguém bre as ribeiras do Rio Ta-

efcapou : AUagenera mor- tisfpei mixtafimt.nihil ha- ht qiiod fperet quem f ene- ãus dticit admortem. E fen- do táo defefperada eftaef- perança,mais á:i^r\:às faó para mim de admiração as

maga, fabricada pelas me- didas do feu eíJDirito 5 alli por com Deos em- pregava os dias , & velava as noites na altjílíma con- templação daquelle fum- mo bem, que cedo efpera-

- rr 11 , 2 ' *"^ «^v-tii, uuk. v-tuu cinera-

noílas^v^lhices, do que foi vagozarcomavu^a. Naó a aeb.Gonçalo, pois nos havia,oufc ouvia naquelle

não dcfenganamos com ellas. Quanto mais temos vivido neíle mundo, tanto mais amamos o mefmo mundo^éc a mefma vida5& quanto mais iaó os^nnoí.

hemaventurado lugar al- gum ruído, que perturbai Ic a quietação do Santo Anacoreta, fcnãoa tépos demundaçocns , ^ rcm- pcíbdcs os gemidos, ac vo- zes

S. Gonçalo. ^ ^o^

€cs mortacs dos que arre- debaixo dos pès dospaíTa-

batadosda fúria , Sc cor- rentes do Rio taó impe- tuonis,como fubicas, ou ef- pedaçadosnospenhafcos, ou afogados no remoinho das aguas pereciaò lafti- nioíliniente, & íèm remé- dio. Eraó muitos todos os annos os miferaveis nau-

geiros a braveza, 5c fúria do Rio,que a tantos tinha

acto.

trag

2^f Grande em pfefai mas táo aíhea do fogeiro que a emprendia , como difficulrofa ,&: impoíTivel por todas fuás circunftan- cias. AíTim fe riaô agora do

fragantes3& muito mais as imaginário remcdio os ^ lagrimas dos que nelles tantas vezes tinhaó chora

perdiaó filhos, pays , ou maridos. E que faria quá- do ifto ouvia, &c via hum coração taó cheo, & abra- zado do amor divino ? Quanto maior he nos San- tos o amor de Deos , tanto mais forte he, Sc mais foli^ cito o amor do próximo. Orava continuamêce, mas

do os verdadeiros perigos, E certamente quando íc naó confideraíTe no novo architevlo mais que o pe- fo, & debilidade dos an- nos 5 a velhice he idade pa- ra ter trabalhado , & naa para trabalhar,para ter fei- to, mas naó para fazer. E que proporção tem Ç di-

porque de ordinário para ziaò} as contemplaçoens

remediar os trabalhos hu- de hum Anacoreta comas

manos naó baftão as máos execuçoens,&; adividades

Ocioías, pofto que levan- de húa taó grande obra?Sc

4:adas a Deos : refolveofe o S.Pedro foi chamado nef-

efpirito de hum pobre, ôc cio , porque fendo pefca-

folitario Ermitão ao que dorquiz fazer tabernacu*

iiunca fe atreverão a inté^ los -, que fe diria do noíío

tar os braços poderofos Ermitão determinado a

dosReys, que foi uniras fabricar pontes.^ A fuper-

duas ribeiras do Tamaga ficie defta defaprovaçam

Çjpm húa ponte » ^ meter do vulgo ainda tem mu irg

^i::. /fom7> Y iij ma-

^"li

l uc j o

41 r~.

maior Fundo naThcologia erpiritiia],&: afcerica.QLiá^ do Marcha fe queixou de que Maria fua irmáa a naò aiudaíre,oquelhe refpon- deo o divino Meílre, foi: Manhãs Manha/jolicitA es 5 ér turbaris erga phiri^ 7na Maria optimampartem elegit : EíTe voíTo cuidado, Martha,poftoque bemin- têcionado, não lerve mais quede vos perturbar , ^ divertirem muitas coufas alheas da proíiílaó de Ma- ria: & fe cuidais que ella aíTentada a meus pès , & ouvindome eftà ocioía, enganaif-vos -, porque ef- colheoaparteque Iheeftà melhor, 6c mais me agra- da. ^ iílo meímo parece que eíiava dizendo, ou di- stando a S.Gonçalo a dou^ trina de Chrifro naquelle cafo,&: contra a fua decer- jninaçaó. Maria íignihca a vida contemplativa, & in- terior, que he a: que pro- feíTaó os Eremitas ; Mar- •tha figniíifa.avidaaanra, ^uehea que le emprega em acçoens extcriorcs,po- fto que cm fervido 'de

'ma o de Deos,&: do próximo ; & fe eíla das portas adentro dehuaçafa, & occupada em preparar o que lhe parecia neceíTario para hua mefa , divertia, & per- turbava tanto a Martha; qual feria a perturbação,& perpétuos divertimentos do noíTo Ermitão, empe- nhada a fua velhice na fa* brica dehúa ponte taòdif- íiculcoía ? Pareceme qu<? eílou ouvindo os ruidos dos carros, dos penhafcos, dos madeiros , &a conti- nua bateria dos inftrumé^ tos dos OiTiciaes, &trabar Ihadores, huns desbaftan* do, outros lavrando , ou- tros fabricando, 6c levan- tando as machinas para fuítentar os arcos, & guin- dar, 6c aflentar a pedraria ja hivrada ; Sc o author , 6c fuperin tendente da obra no mcfmo tempo dividido em tantas partes, com o cuidado, 6c os olhos nas máo6 de todos. Vede fe có- petiaaeíla fua jRidiga me- lhor que a Martha o Soli^ cita es , (^ turharis ergapltp^ rm^, :.

V ' ^' Mas

S. GonçA i%6' Mas efta mefma era a maior prova do ai- tiííimo grão da contem- plação a que o efpirito do San'to Eremita tinha fubi- do. A Alma que chegou ao cume da perfeição da vida contemplativa, nem asacr çoens lhe divertem a con- templaçãojnem a contem- plação lhe impede as ac- çoens 3 mas toda dentro5& toda fora de fy, juntamen- te eílà obrando no exte- rior,& no interior cótem- plando. Que vida mais a£tiva,&: mais aduofajque a dos Anjos fempre occu- pados5& nunca m ais di- vertidos ? Omnesfunt ad" . mintftratorijfpiritus in mi- nifterinm míffi. Os Anjos da guarda de dia^&i de noi- feeftão velandojcada hum íòbre o homem que lhe ef- encomendado : os Cu* ílodios dos Reynos , & Monarchias íèmprc atten- dendo ao governo, & con- fervação delias na paz, & <ia guerra, & em tantos ou- Çros accidentes , que nun- ca paráoros que guião com tanta ordçm, & concerto

lo. Cíli-

os AílroSj cada hum mo- vendo a fua eílrelía, quaíi todas maiores que efle mundo. E de todos diz Chrifto : Semper videntfa-^ \ %,ip\ ciem ^atris , qui in Calis eft : Que eílão fempre con- tem plando a face de Deos> comofe eíliverão no deí- canço>5cíbcegodo Empi* reoíem outra occupaçãOj ou cuidado. E tal era a c5^ templaçáo verdadeiramê-- te Angélica do noííb Ana- coreta, tão quieto , & fem perturbação no meyo da tumulto, & trafego da fua obra , como fenão tivera fahido da ília Ermida. Po-»- dendofe dizer delle o que do mefmo Deos , de cuja vifta nunca fe apartava : Immotusque manens das cunEia movéri.

2 87 Vencida efta pri- meira apprehenfaó , & co- nhecida a concordiaj&ar- monía, que confervão dê- trono mefmo efpirito, fe he perfeito , a vida adiva , & contemplativa , a qual não entendião os que con-- íideraváo o noííb Eremi- ta divertido do exercicio. V iiij da

fu

•^^^ ^ , Sermão de

da fua pronnaó 5 feguefe a do qual diz S. Paulo, aue regunda.cm que toda a tudo crè, tudo efp era ,^^ prudência, & providencia com tudo poác:Omnia cre-

humana podia reparar muito. E qual era? Que hum homem fó, &: defaíFi- íHdodetodaaoutra com- panhia, 6c poder, íe atre- veíTea hua emprefa , que muitos, & muito podero- íos juncos mais empren- deriáo,nem imaginavam poílivel. Se os fabricado- res da Torre de Babel, fen- do todos os homens que

T.Cot. II. 7.

dit^ omniafperat , omntafn ftinet. Hu dos que fe acha- rão entre os edificadores da Torre de Babel , foi Noè j & he coufa bem no- tável, que a ellefó enco- mendaíFej&dellefó fiaíFc Deos a fabrica da Arca. Fac tibí Arcam de ligms^tvxC Uvigatis, lhe diíTc o fupre- '^ '•*• mo Architedo daquella novamachina, & prefcre-

, , 1 *iwvrt iixai^iiiija, oc prcicre-

havia no mundo juntos, & vendolhe a traça, a forma, unidos no mefmo penfa- &as medidas com tanta

inento,o íim,& effeito que confeguiráo, feia confu- íaó,& defengano da fua te- meridade > verdadeiramê- |:eparece, que náo faziam grande injuria às caos, & prudência do noíJb Santo veiho,os que reprova vão, que elle fendo hum, Sc fó.

ain

da

miudeza,nem em comum, nem em particular faz mençaó de outro Artiíi- ce 5 ou companheiro, que ouveíie de ter parte na obra,fenaóo meímoNoè fomente: Manjiunculas in Arca factes ^ Ò' bit imine li- mes intriníecus^ & extrin- ^^'^

que a fua idade ficns-.&jir fácies eam.Voís''''

foffe mais viva, & mais ro buíla 3 intentaíle húa tal pbra. Mas o que ninguém cria, nem efperava , mten- fou,profeguio,& levou ao lim cm S. Gonçalo a cari-

fe a fibrica era taó grande, & taó nova,& previa Deos que todos os homens do mundo,cntrando nelte nu- mero o mefmo Noé , nam haviam de poder confe-

tí;ide,ôcamor dpProximp, guir, cgncinuar aquclla

!••;

S. Gonçalo. ^rjf

Torre na terra , havendo var dismiindiçoens do

decereíla fabrica os ali- ceíTesfobreaagua; como a encomenda, &: íiadehu homem ? Porque o in- tento da Torre era a vai- dade, o intento da Arca a caridade. O intêto da Tor- ra era celebrarem os ho- mens o feu nome antes de

fe dividirem : Qeiebremus fuerit fundamentmn^ & non Gcneí. nomen noftrum antequam potuerit perficere^ omnesquh intento da

Rio.

288 Mas ainda aqui nos falta por dar íatisfaçam a húa grande máxima da doutrina de Chriílo. ^is exvobis-volens turrim (edi- ficarei nonpriusfedens com» \.x\c.x^ putatfu mptus^ qui neceffa- ^ ^ ^9- rtj fimt : nepofieaquam po-

dhndamiir : o Arcaerafalvaros homens da inundação univerfal do Diluvio: Utpoffim vi- vere : &c quando para con- feguir os intentos da vai- dade, naõ baftaô todos os homens; para os da cari- dade, por árduos , &z diili- cultofos que fejaõ , baila hum ío homem. Trocai

vident-, incípiant iUitdere etí Que homem ha de vòs > O qual querêdo edificar húa torre, naó lance primeirp asíiias contas muito deva'- gar, &: computando o ca- bedal com asdcrpefasi nap vejafe he baílante \ por^ lhe naó aconteça começar a obra, 8c não a poder aca- bar,ficandoella, ^elleex-»

agora o nome de Noè em poílosaorifodas gentes ^

Gonçalo,o da Arca em Pó- Ifto he o que enfína Chri-

te,&:odo Diluvàoem Rio: fto Senhor noílb, & efta$

& vereis quam bem fun- faóascontas, Sco compu-

dada foi a caridade do nof- to que devia fazer o noííb

ío Santo na efperança de Eremita antes de pòr^nao

famento à obra : ver meiro fe tinha com

levar ao cabo afua obra-, digoa máo, fenaó o pen

poisailimcomo a deNoè

era para falvar os homens

xla inundação do Diíuvioj comprar os matenaes,

aíTim afua era paraosfal- ^que pagar aos Meílres, cq

pn- que

o:>

314* Sermão de que fazer ^ feria, & fuften- fabulas, que Orfeo com a tar os trabalhadores, &ir. fua Cithara edificou os to naò para começar a muros de Tliebas', porque obrajfenaô para a pòr em era tal a doçura , & fuavi- perfekaó. Agora pergun- dade daquelle pequeno in- ço fe fez S. Gonçalo efte ftru mento tocado porelle, computo? Digo que fim, que levava após fy as ar-

voresjos montes, os rios,a5 feras, & atè a liberdade dos homens. Aífim creciap fabulofamenteemTheba^ os muros, & aílim em A- marante verdadeiramente aponte.

289 DerãolheaS. G6-

& com taó nova , & a bre yiada Aritmética, q todo o refumio a duas adiçoena fomente : primeira,Eu naó poflb nada : fegunda, Deos pode tudo.O mefmo tinha feito S. Paulo, quando diÇCcOmnia pojjum in eo

Philip. ^^\ ^^ confortai : Eu pelas calo huns touros bravos,&

é-^i- minhas forças nenhuma feros,&ellecom a voz de

coufapoíToj mas pelasque húafó palavra osamanfou

Deosmedà, fou todo po- de maneira , que logo to-

derofo. Tal era o efpirito , máraó o jugo,& tirara ó pe-

6c tal a confequencia do lo carro, feguindo a quem

noíToSantoiporqueeunaó esguiava, comofetiveraó

poíTonada , eufem Deos eníino de muitos annos.

Dão poderei mover huma Chegava à ribeira do Rio,

pedra : mas porque Deos chamava os peixes, & eiles

pôde tudo, eu com Deos, corrédoem cardumes fal-

&Deos comigo bem po- tavãoaospèsdoSanto,em

detemos fazer aponte. E quanto elle não dizia ba-

aííl m foi. Naó deo Deos _ S.Gonçalo a Vara deMoy- fes i mas para lhe dar ainda mais, deolhe a Cithara de Orfeo,f:izendo-ade f:ibu- íofa vcrdadeixa,CoataQ as

lia, & os demais com fua benção fe retiravaó para tornarem outra vez quan- do foíTem chamados. Era neceíí:u'ia agua para mais ftcil íerviço da obra,tocou a SAn<

S.' Gonçalo. 3 ^ f o Santo velho com o feu co, elle eícurandofe por ef- bordaó em hua pedra , Sc tar fora de caía, lhe refpó* correo logo húa fonte: mas deo, que íiiã mulher o foc- porquea agua bailava pa- correria5dandolhe para ei- ra fatisfazer a fede, & nam la hum efcrito. Recebeo-o para alegrar, & dar forças a mulher, & rirídofe para o aos trabalhadores , tocou Santo,lhe diíTe : Padre Er-

.rioT •1?

do mefmo modo em outra pedra, Ôc (ahio delia outra fonte de vinho. Trabalha- vaô muitos braços, & mui- tos inftrumentos para aba- kr hu m grande penedo , (em elle fe mover, mas o impulfodehuafó maó do Santo, mais como andan- do por fy mefmo ,que le- vado por força , foi pèr onde erà necéíTariOvForé m como ha homiens mais du- ros que as pedras , Sc mais irracionaes que os brutos j aili m como com elies per* fuadindo-òs (O Saiito fúal vemente a quanto queria, femoílrava mais evideni temente a oculta divinda- de , que lhe governava a lingua vâílim ouve tão duro, & tão afbuto, que pe* dindolhe o pobre Ermi* táo,em cuja fantidade naõ criajalgum foccorroparaa

mitáo, efte credito não vail

nada •, porque o que nelle

me diz meu marido , he q

vos de efmola quanta

pezarefte papel. Defpedi*

do taò íècam ente, replicou

com tudo o Santo ,que f$

pezaífeopapel como mã»-

dava o dono da cafajSí qu«

elle pelo pezo fe contenta*

ria a efmola. Cafo vèr*

dadeiramêteda.máo ocul*

tadeDeos! Poz-feo papel

em húa parte da balança ^

& quando parece que ba-^

ftavaõ poucos gráos de tri^

go l^araia por em equili^í-

brio, viera 6"facos5& maia

facosj&po dera vir todo Q

ceileirojfem igualar o pezo

do papel, que naò chegava

a húa folkav fe queixa»

va Job de 'que a Omnipo*

tencia divina para o mor%

tiiicar' , ofleãtaíTe feu in A^

nito poder contra húa íok

fua.Qb-ra, .^or íkzmmm *> ilia,quetea ç vçatQ 'r- C^tu

/ >"

3^^ Sermão de

Job. 13 trafolhim.quoãvento rapi- como diz Plínio, he huma

^s- turyoífendíspotentiam tua: flor, a qual porque nunca

^ para canonizar a S. fc murcha, mereceo dcfde

Gonçalo oílenta feu poder a antiguidade o nome de

a divina Potencia em fazer immorcal. líTo íigniiica o

taó pezada húa meya fo- mefmo nome que Ihepo-

ina , que nenhum pezo a zeraó os Gregos,por onde

podcíie Igualar, nem leva- lhe cantou a immortalida^

tar,nem mover. AlTim có- de o Poeta h^ninodmmor*

correo Deos juntamente talesqtie Amararithi. E fc

como noíTo Santo no co- bufcarmos no Evangelho

jneçar,no continuar, Seno eíla quinta vigia , achare-

aperfeiçoarafua obra 5 & mosque depois de failar

alFim a deixou perfeita, & exprelTa mente na fegúda,

acabada para tanto bem & terceira,& fuppor nefla de tantos, antes que a ulti- ma idade IJie acabaílc a yi^ 4%'7 ói^O j. ofíiio -'• <; a íii-í

, ; apo ^"^Oncíuídastaó V^^ felizmente as quatro vigias, 6c idades da vida humana, qual cuida- mos que feria a quinta vi- gia, que eu prometi do iioííb Santo , naójà de vi- yo,&: mortal, fenaôdeim- -mortal, & depois da mor- te ? h íla nova prerogn ti va mais parece que lhe con- vém a S.Gonçalo de Ama- rante pelo fobrenome,quc pelo ijome. O Aniaxaatho^

mefma conta a primeiraj^c a quarta , introduz em quinto lugar outra inde- terminada , & nella hum Pay de famílias muito vi- gilante : §hiontamfi feira 'Pater famílias qtia horafur \^^^' ^■ veniret , vigilaret utique, Eíla pois, naó das idades que tem íim , mas da vida immortal quenaó acaba, foi,iSchea quinta vigiado noíTo Sanro , na qual lhe quadra admiravelmente o nomedePay de fiimiliasi porque elle verdadeira- mente he o Pay univcrfal nam íó daqucllagrande,& numerola, PrQYÍjucu>mas de

S. Gonçalo, 517

de todas as viíinhas , 6c có- cilía nas difcordias -, elíe

íinantes j as qiiaes em tudo emíim, fe andáo defgarra-

oqiiehaómifterde perto, doSjOs encaminha , & tal

& de longe, a eile recorre, vez os caíliga tambê amo-

quem o vio, o pode có- roíam ente , para que nao

tarj&crer. Se naó tem fi- degenerem deíilhos de tal

lhos, a S.Gonçalo os pedéj & fe tem muitos,a S. Gon- çalo confultaó fe os haó de mandar à guerra, ou ao ef- tudo, ou aplicar ao arado. Sehaò de caiar as filhas, S, Gonçalo heocaíàmentei- ro,&feos próprios pays, ou não podem, ou fe átí^' cuidáo de lhe dar eftado, a lembrança que ellas por modeítiaiè naó atrevem a lhe fazer , a fazem em fe-

Pay.

291 Por todas eftas ra- zoens confirmadas infi- nitos exemplos me parecia ao principio, quecò o no- me de Pay de familias fa- tisfazia S. Gonçalo às obri- gaçoens da quinta vigia, que lhe acrecentamos à vi- da. Mas bem confiderada o que depois de morto, òc immortal obra , & eítà obrando cada dia em be-

gredo ao Santo, que como neficio dos que o invocaó^ mais poderofo, & mais vi- não ha duvida , que lhe

gilantePay, fe naó defcui da. A elle encomendaó os Paílores os gados,6c os La- vradores as fementeiras: a elle pedem o Sol , a elle a chuva : &o ' anto pelo im- pério que tem fobre os ele- nientos,afeu tempo,& fo- ra de tempo os alegra com odefpacho de fuás peti- çoens. Elleosremedea nas pobrezas, ú\q os cura nas enfcrmidades,elie osrecá"

muito curto eíle nome. E

para inventarmos algum, 4 iguale as medidas, & encha

o conceito de fuás mara- vilhasjaílim como ao prin-; cipio diífcque no feu naf-* cimento foi minino como home, ailim digo por fim , que depois da fua morte foi homem como Deos: Alguns annos depois de morto S. Gonçalo em oc- ^fiáo de húa extraordiná- ria

m

318 Sermão de

riu tcmpeílade vinha tâo todos graças a S. Gonçalo,

cheoj&furiofo o Rio Ta maga, que náo levava envolto com figo quanto encontrava nas ribeiras, mas também nos montes. Entre outras couíàs vinha atraveííàdo na corrente hu carvalho de tanta grande- za, que julgarão attonítos quantos o viaó,que baten- do como pezofeu, & das aguas a Ponte, arruinaria os arcos, 6c a derrubaria feni duvida, S. Gonçalo,

que peio Habito, & lugar donde fahira viíivelmen- te, fe lhe manifeílou quem era. E eu torno a repetir, como dizia, que neíla ac- çaó,bem entendida, mo- llrouonoííb Santo, q para com as fuás obras nam fe portava como homem ho- mem, fenão como homem Deos.

292 Entre as caufas fe- gundas j comofaô osho- menSj6ca cauíli primeira,

C gritarão todos^S. Gon- quehe Deos, ha tal diíFe

calo, acudi àvoíía Ponte: rença comummente no

eisque no meyo deftes cia- obrar,que das caufas (c^xx-^

mores vem fair da Igreja das,comofaíláoosFílofo-

hum Fradinho veílido de fos,dependem as obras fó-

branco com o manto ne- mtntc infierí-y mas dapri-

gro, & hum cajadinho na meiracaufa dependem in

máo, o qual voando pelo feri , ó-inconjervari: dasl

ar ao Rio , lançou a volta caufas fegundas depende

do cajadinho a hum ramo as coiifas quanto ácriaçaój

dotronco,&fazendo-ocn- masdacaufa primeira naó

canar, 6c embocar direito dependem quanto à

pelo olho do arco maior, criação, fenaó tambê quá-

çllepaíTou precipitado c6 toàconfervaçaó.Quantoà

a corrente, 6c a Ponte fem criação, Deos,6c o Pay gc-

dano,nê perigo, íicou taò íirme,6c inteira como fora edificada. Com iguaes cla- mores, 6c triunfos deram

raõ o Filho : quanto à con- íèrvaçaõ, Dcoshefóoquc o confcrva fcm dependên- cia, nem concurlb do Pay. Da-

mas obras as tinha Deos criado,& feito para as fa- zer: Ah 9mm opere fu&^quod creavit 'Deus 5 ut faceret. Pois fe as úv)}ii'x fei to, co- mo as fez,& criou para as

S.Gonçãla. ^ic?

Daqui fe entendera aquel- de fer. Pois aílim como le modo notável de f ai lar meu Pay obrou ao fabba- com que diz a Efcritura , do naô fervil , fenão fobe- que Deos ao dia feptimo ranamentejaflimofaçoeu. defcãçou de todas as obras Ifto he o que faz Deos co- que tinha feito : Requievit fervando as fuás obras 5 & die feptimo ah univerfo ope^ ifto he o que fez S. Gonça- rei^uodpatrarat : & logo lofahindo porfymefmo a acrecenta,q todas as mef- confervara fua. Confer- "^ You-aenta63& ha tantos

centos de annos, que a có- Tervaj & a çonfervarà fem- pre 5 porque nas fuás obras náo obra como home ho-

, ^ ^ mem, dequem àQpQnÚQm.

fazer ? Forque a primeira tnfieri^ fenao como ho- vez fellas de novo pela mem Deos , de quem de- criação, & depois de cria- pendem inferi , é^ confer^ das, para que náo deixaf- Vâri, fem defer,fempreas ha- 193 Vamos a outras via de eftar fazendo pela obras de Deos homem, & confervaçáo.Heoqueref- de S.Gonçalo, Foraó os pondeo,& declarou Chri- difcipulos do Bautifta per- ito, convencendo admira- gíãtar em nome de feu Me- velmenteaosqueocalum- íi:reaChrifto,feeraelle o niaváo.de obrar ao fabba- verdadeiro Deos, 6c home do : Tater meus ufyue modo prometido peios Profetas, operatury ér ego operor. Por & efperado do mundo.T?/ ^^^ ventura Deos no mefmo esquiventurusesyanalium luf} dia do fabba do em q def- expeãamus> E qãttcÇ^on- cançou das fuás obras, dei- deo o Senhor? Em prefen- xou de obrar? Naô i por- çados mefmos difcipulos que fe deixara de obrar có- deoolhosa cegosjouvidos íervando-asjdeixáraó ellas a furdos, lingua a mudos 3,

íi^iáoa

3-0 Sermão de

mios a alejados, pès a mã- raçoens dos trifles, dos' af-

rDid.4.

cos, faiide.&: limpeza a le- proros,& vida a mortos. E eftafoiarepoíla com que os defpediojdizendo: £■«;?- tes reniintiate loanni^ qute audiftis^&vidiflis-.láQ^ái- zei a Joaó o que ou viftes, &viftes.O mefmorerpon- doeu a quem por ventu- ra duvidar do que tenho dito, ou eftranhar que Te diga de S. Gonçalo, q nam obrava como homem ho- mem, fenaó como homem Deos. Ide, ide a Amaran- te, vilitai no far^rado iVIau-

fli£l'os , dos perfeguídoS) dos defefperados , que na invocação do nome de S.Gonçalo acháraô a con- folaça®,oaíivio, arefpira- çaõjO remédio.

294 Aílím obra como immortal depois de morto o grande imitador deDeos homem. E porque o mef- moSenrhor deixou ditOjq depois de fubir ao Ceofa- riaó feus fieis fcrvoá na ter- ra naó íò femelhátes obras às ruas,fenão maiores:0/é'- Joann: ra qu^ ego facioyfaciet , c^ '"^•'^

foleo de S.Gonçalo as me- maiorafaciet , quta ad Ta- morias immortaes de fua írf;;/^W^. Seattentamen-

vida pofthuma, & vereis o que me ouvis. Vereis, ou pintadas , ou de vulto,co- motrofeos das fuás obras divinamente humanas , as muletas dos mancos , os braços dos alejados , os olhos dos cegos, as orei has dosfurdosjaslinguas dos mudos, as mortalhas dos mortosjou moribundos: & porque os maies interio- resj&invirivcisíiió os que maisatormentaó , & ma- taõ> tambcni vereis os co-

te confiderarmos as circú- ílancias deíles milagres, acharemos que os de S. Gonçalo comparados os do mefmo Deos home tem hoje no modo de os obrar grandes exceíTos de maioria. Grandes eraò os concurfos dos que em dos milagres que obrava, bufcaváo , &: íeguiaó a Chrifto : Seque batur eiitn multttudo nuigna debant jigna , qn.i: fncicbat fiiper hiò^qni injírmabanttiry diz;

quíavt- ^

S. Gonçalo. ^^i

dizSJoaÕ. Efepergun- quias, & eiicomendarre a tarmos ao mefmo E vange- feu patrocinio,naó faó cin- lifta a que numero chega- co mil,nem dez, vinte,

ibid.f,

ria a maior multidão de- íles concurfos ; naó com o nome de maior, fenaó de niaxima,diz que chegarão aferquaíicinco mil: Cum fublevaffet óculos lefus , &

fenaó trinta , & quarenta mil. Vereis que a multidão innumeravel denaturaes* & cftrangeiros naò cabe pelas eílradas , que cobrc os montes , que inunda 09

Ibid. 10.

vidijfet quia multitudo ma-> valles,& que não podendo xlma venit adeum : Sc logo todos entrar, nem chegar declarado o numero : !D//- de perto,cercáo tumultuo^ cubuerunt ergo viri numero famentea Igreja,veneran- quaji quinquemillia. AhS^' do,6c adorando de longe nhor,com quanto exceíTo as paredes fantas, queen- fe prova no voíTo fideliín- cerraó táo benéfico , & fo- rno fervo a verdade da- beranodepoílto. Eeftehe quella grande promeíTa! outro exceíTo de maioria. Quando naterra levanta- que também na compara- ftes os olhos para ver a çáo de vòs mefmo lhe pro- multidaó dos que pela fa- meteíles. ma,& experiência de vof- 29f Para receberem a fos milagres vos feguiáo, a faude,dizem os Evangeíij maior,&rnais numerofaq ftas,quea multidão dos q viílesyfoi de cinco milho- concorriaóa Chrifto , to- mens. Porém hoje fe do dosprocuraváo tocar feu Ceo onde eftais,aba terdes facratiíTimo corpo>do qual os mefmos olhos divinos , fahia a virtude, que os fa- & os puzerdes em Amará- rava : Omnis turba qudere^ te, vereis que pela fama , & bat eum tangere^quia virtus experiências dos milagres deillo exibat y & Janabat de S,Gonçalo,os que con- omnes. também procu- correm neíte feu dia a vi- raó o mefmo 5 mas porque fiçar fuás fagradas reli- o aperto,6c a multidão que : Tom./. ' X con.

322 ' Sermão de

contenciofamentc fe im- Invocareis oSenhor^&elIc

pedejhonaó permite , de longe venéraó o Santo, de longe fe encomendaõael- Je,6c de longe, ou recebem logo os milagrofos eíFeitos de fua virtude 5 ou a levaó comíigo alegres a fuás ca- fasjcomoprimicias, d< pe- nhores certos dos beneíi- cios,que na occafião da ne- ceilidade nenhum duvida Ihehajão de faltar. Mas

vos ouvira: chamalohei», & elle dirá : Aqui eftou.. Aquieftou jdiz Deos: & Aqui eftoujdizS. Gonçalo, homem emíim no obrar como Deos : Invocabis^ à* dtcet : Ecce adjum.

E porque algúa vez in- vocado S. Gonçalo, fuce- deràquevos naò conceda o que pedis, & pareça que vos nam ouve \ fabei de

que muito he, que aquella certo, que vos enganais, & venturofaProvincia, & as naó quero por prova ou-

outrasvifinhas, & coníi- áhantes logreni a felicidade de táo continuos, & certos favores : fe as remotiíli mas terras da Africa,da A íia,& defta America, onde ape- gas ha lugar, que naò te- nha levantado Templos, 4DU Altares a S. Gonçalo,fó com a invocação de feu jiome,comofe nelie fe ti- vera facramentado, pelo efFeito maravilhofo de

tro exemplo, fenaó o da mefmo Deos. Deos diz, que peçamos, & que rece^ beremós : Tetite^ & acci- I^^JJ*- j&/>r/>: 8c com tudo moílra a experiência, que muitas vezes pedimos, & não re- cebemo<í. Náohatal, aco- de S.Agoílinho. Que nam recebemos o que pedimos, he verdade: mas que naò recebemos, hefallb /porq

9-

fenam recebemos o que fuás graças de taò longe o pedimos,& queremos ; re- exprimentaõ, & tem pre cebemos o que devêramos :^ug^í^

pedir, & querer. AT-^^^r Ep^íi. " ^ominus cjuod volumus^ ut ÍX^. trtbuat qnod rnalhnius, A f- j[pi fa^ cambem algumas

fente.DeDcosdiziaoFro- fctalfiias : hivocabis , à* ^omimis exaiidiet : clama^ kfs^ ii^dicet : Ecceadfum :

fcMk.«

S. Gonçalo. vezes S. Gonçalo, & naó ítia fora Santo, nem amigo, fe aílim o naó íizera.Taó mi- lagrofo he quando faz por vos o milagre , porque vos ellà bem , como quando ceíladeofazer , & ofuf- pende, porque vos eftaria mal. Vede-o no mefmo Sá^ to. deixamos dito como para a fabrica da fua Ponte abrio duas fontes nas pe- dras, húa de agua,outra de vinho : mas a de agua ain- da hoje corre, & perfeve- ra,&: faz milagres: a de vi- nho fecoufe totalmente. E

3^3

fenaó também ojui*»

zo. Vede o que fucederia ao Povo de Amarante, fe perfeveraífe a fonte do vi* nho ? Por iíTo o Santo ain- da no tempo da fua obra, como notaó os Hiftoria- doreS,abria5 & fechava a mefma fonte três vezes no dia: a primeira vez a ho- ras de ai moço -, a fegunda a horas de jantar, & a tercei* ra a horas de cea : & neftes três tempos que fucedia .? Tanto que os ofíiciaes, & trabalhadores recebiaó ca- da hum por medida a fua

porque fe fecou ? Porque reção , a pedra fe fechava

maiores naufrágios podia outra vez 5 &a fonte naó

padecer aquelle Povo ne- corria. Taó provido, Sc vi-

íla fonte , do que dantes gilante era S. Gonçalo em

padecia no mefmo Rio. O que os feus milagres foi-

primeiroqueefpremeo as femparaproveito,& naó

uvas,&: inventou o vinho , foi Noè : & fendo Noè aquelle grande Piloto,que na maior tempcílade do mundo foube governar a primeira náo, 5c levou nel- ía a falvamento o mefmo mundo ; goftando depois o mefmo licor, que inven- tara, areou de tal maneira, que naô fóperdeo a modç-

para daiio daquelíes por quemosfazia. E eiftahe.a regra por onde haveis de conhecer os milagres, & benefícios do noíTo Santo , taó agradecidos quando vos negar o que lhe pedir- des , como quando volo conceder, pois vindo por ília maó húa,ou outra cou- áa,íèmpre he para voílb bé. ^X ij Atè

i

\li<

\

324 Sermão de

296 Atè aqui tenho com todas as fuás forças?

fallado em tudo com os >\uchores da vida, 8c mila- grés de S. Gonçalo. Por

Cuidando em feus pecca- dos 5 lembroulhe o novo propofito que tinha feito

íim quero acabar hum &arrependendofedaquel- cafo, deque eumefmofui laque tivera por melhor

teftemunha. Havia em Lisboa hum devoto,& có- frade do mefmo Santo , o qual todos os annos con

obra,pedioperdaó aoSá» to, ratificando com voto, quenaó faltaria maisà fua antiga devaçaó 5 fe cf-

corria para a fua fefta com capaíTe daquelle acciden- vinte & cinco cruzados. tecomvida.Náocraóaca-

Humanno porém em que os Oííiciaes eleitos eraó ri- cos, fendo também rica a Confraria , entrou elle em

badas eítas palavras, quã- do com fegundo repente ceílbu totalmente a dor,& paflado o moribundo das

penfamento, que feria ma- portas da morte à inteira

iorferviço de Deos def- íliude, achandofe taó fam

pender aquelle dinheiro como dantes , foi porfeu

com os pobres. Aílim o re- dar as graças ao Santo ,

folveo comíigo fem o có- que taõ alpero , & taó be-

jnunicar a outra peílba : jiigno tinha exprimenta-

fenaó quando no mefmo ponto lhe fobreveyo húa dor interior , qne de ne-

do em dous momentos. Mas quem haverá, que fe não admire do novo eftilo

nhum modo podia fopor- praticado nefte cafo con- tar-, Sc chamados à preíTa tra a ley geral da efmoIa,& os Médicos , refolvéraó contra a preferencia , & que logo logo tomaíFc os privilegio dos pobres tan- S.icramentos, porque in- tas vezes publicado , &

fallivelmentc morna. Que faria pois com efta fubita fentcnça, quem hum mo- mento antes citava fani; 5c

pregado por boca do mef- mo Dcos ? Quando con- correm Chriíto, «Sc os po- bres para a efmola, day-a, diz

i^

S. Gonçãlo. diz Chrifto , aos pobres, porque dando -a a elles,ma dais a mim: Queâ uniex hís minimisfeci^is^mihffe' ciftis. Pois fe neííe cafo concorre S. Gonçalo com os pobres, como ameaça o mefmo Chriílo de morte a quem quer dar a efmola aos pobres , Sc na 6 oííerta- k a S, Gonçalo ? Baila que iguala Chnftoospobresa íy mefmo, & quer que S, Gonçalo feja preferido aos pobres ? Bafta que an- tes quer Chríílo que feja feílejado S. Gonçalo com maiores aparatos,& maio-

^^S

§, Yim

^97 nPEnho acaba- ;i do 5 ou deixa- do fem o acabar, o mea difcurfo. Mas fe os Ser^ moens de S. Gonçalo to-^ dos eraó encaminhados à" doutrinados ouvintes, & naõ he licito faltara imi- tação do Santo no feu pró- prio diaj que doutrina pof- fo eu tirar deíle Sermaó, que feja acomodada aos qHC me ouvem ? Heyde exhortalos a q fejao bons Paílores, como S. Gonça-

res defpeías, que os pobres lo .? J ílb pertence aos Ec-

niais Ibcorridos ? Bafta cl eikfticos. Heyde exiior-

que fendo os pobres fub- talos a que vaó em pere-

liitutos de Chriílo , nao grinaçaó do Braíil a Jeru-

quer o mefmo Chriíl:o> q falem ? Aífaz peregrinos

o fejaó de S. GonçaíoPPois faó os que taó longe fe de-

aííim lie ^ feja também o fterráraõ da pátria. Heyde

mefmo Chriílo feu Prega- exhortalos a que façao mi-

dor,& acabe o feu panegy- lagres ? Baila que fejamos

rico, que eu emudecido Santos fem a fpirarà cano-

con fc0b,que o naó íoi lou- niza^ão. Que doutrina fe-^

var. E eée he o exceíTo de bem logo a que tirem os

favor, & lugar a que S. Gó- çalo fubio na fua quinta vigia, em qvive j&reyna immortal no trono daglo^ ria. Tom./.

da vida,&: obras de S. Gon- çalo? A primeira que me occorria muito útil , & muito neceí]íaria,he, que o X iij irxii'^

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32<^ Sermão de imicaíTemos em fazer pÓ- doclima,porq naô crcyo, tes. Coufa he digna de como cuida o vulgo , que grande admiração , & que os que lhe adminiílraò o mal fe poderá crer no mú- Erário, mais o querem pa- do, que havendo cento & rao Papado , que para o noventa annos, que domi- Pontificado. iiamos,& povoamos efta 298 Mas porque o def- terra, & havendo nella cuido que eftranha eíla ad- tantos rios,&: paíTos de dí^- vertencia pertence a pou- cultofa paíTagem , nunca cos j feja doutrina , & exé- ouvefle induítria para fa- pio geral para todos , q ao zerhúa ponte. Queriojou menos procuremos aca

que regato ha na Europa fem nome, & que lugar de quatro viíinhos , que nas pontes naófeja magnifico? por ellas fe conferva era Hefpanha a memoria de que os Romanos a do- minarão. Porque Anco Mareio fez a Ponte Subi i- cia, da Ponte , & de a fa- zer lhe formou Roma a dignidade de Pontifice, cujo nome, antes ainda de a mefma Roma fer Chri- flãa, fe unio ao Su mo Pon- tificado. Tanto honra eíle género de fabricas a feus Authores. Pois por certo, que nem por pobre, nem poravaréta padece a nof- fa Republica efta falta. Eu a attribuo à inércia natural

bar por onde S. Gonçalo começou, S. Gonçalo, co» mo vimos, fendo minino> foi homem : nòs fendo na idade homens,na vida, & nos coftumes fomos mmi- nos. Melhoro djffe Séne- ca do que fe pode traduzir na noíTa lingua : Adhuc nori folumpueritia in nobis ^ ftd ^^^^^ quod eft gravius^ptteriLnas i-.b 1 Ê- remanet : ér hoc quidi mpe- p'^*" tus ePt , quod authuritatcm habemiis ftmimfoittafut ro- rum^necpiierorum tantunjy fedinfanttnm. Temos a au- thoridade de velhos, & 05 vi cios de mininos ; & o peorhe, que naó fevè em nòs a mininiíTc, quehe defeito da idade, fenaó as mininiíles , que o faó do juizo ;

S.Gonçalo] 327

juízo : Nonfolltm fueritia depois a'terra , parece que innobis yfed puenlitas re- he começar o ç^ô^iííqxo pe- Tnanet. A primeira coufa lasabobodas , & acaballo que fez S.Gonçalo, foi por pelos aliceíies. Quanto os olhos em hum Chrifto maiSjque fendo a terra ,&

crucificado, 6c eftenderos bracinhospara fe abraçar c(?melle:êc ifto he o que moços , & velhos giiardao para o fim da vida. Então vem o crucifixo , entaó fe

o Ceo criados para o ho- memjalíim como o fim do home he o Ceo , 6c o prin- cipio a terra , aíllm parece que devia começar pela terra,6c acabar pelo Ceo.

abraçaó com fuás Chagas, Antes naó,& por iíTo meA

êc como he por força, 6c a mo. Porque o homem tem

mais naó poder,muita gra^ o feu principio na terra, 62:

ça de Deos he neceífaria o feu fim no Ceo, por iíTo

para que feja de coração, lhe propõem Deos primei*

Quem quer começar bem, roo Ceo, 6c depoisa terraj

6c acabar bem , ha de co- porque fe quer começar

meçar pelo fim, 6c acabar bem,6c acabar bem, ha de

pelo principio. Defde o começar pelo fim ,& aca-

principio do mundo enfi^ bar pelo principio. Aílini

nou Deos ao homem eíla começou, 6c aílim acabou

importantiílima máxima S. Gonçalo. E fendo a fua

nas primeiras palavras da vida ,6c morte hdaperpe-

YÁcúXMTTiún principio érea- vit l^eus Calmn^àrterram: onde nota S. Joaó Chryfo- ítomo, que Deos na obra da criação começou pelo Ceo,6c acabou pela terra; poriíTo naó diz o Texto: Creavit ferram^ & Qteltim , fenaõ Calum^ò' terra. Mas criar primeiro o Ceo, 6c

tua imitação de Chrifto^f foi coufa maravilhofa, que aíTim como nafcido tomou por exemplar a Chrifto morto na Cruz,allim mor- rendo imitou ao mefmo Chriílo nafcido no Prefe- pio. MorreoemfímS.Gó- çalo, entregando a Alma nas mãos da Rainha dos X iiij An-

íi

Sermão de

A njos , de que foi devotif- íinio,& fe achou prefente a feufeliciílimo traníico 5 & tanto que erpirou,re ouvio noar liãavoz , que dizia, Ide todos ao enterro do Santo.Concorréraó todos, & o leito em que acháraó defunto o fagrado corpo, foi deitado no cha6 fobre húaspalhas. Aílim acabou na morte imitando a Chri-

morrer ! ô ditofo começar, & ditofiíTimo acabar ! Efte foi o ultimo exemplo, que S.Gonçalo deixou ao mu- do, 6c com que deixou o m udo, que todos ta m bem havemos de deixar. E pois o não imitamos no nafci- mento, ao menos comece- mos defdeeíle dia feu ao imitar na morte, trazendo fempre diante dos olhos o

ílo nafcido no Prefepio, fim da vida ,para que por

xjuem aíTim defde feu naf- fcus merecimentos , & in-

cimento tinha imátado a terceíTaó configamosavi-

Chriílo morto na Cruz. dafemíim. Amen. í)h ditofo nafcer,& ditofo

SER-

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SERMAM

DA

D O M I N G A

VIGÉSIMA SEGUNDA POST PENTE COSTEN,

Na occafíaó em que o Eílado ào Maranhão fe repartia em dous GoTernos5&: eíles fe deraó a Peííbas par- ticulares moradores da mefma terra.

Cujus efl imago baec , à^fttperfcriptio ? T^icunt ei : Cíefaris. Matth.22.

§.i.

A6 ha terra ma- is diííicultofa de governar 5 q a pátria: ha mádo mais mal íbfrido^nem mais mal obe- decido, que o dosiguaes. Vivendo os Hehreos go- vernados por Deos, o quai

no Propiciatório rerpódia a todas fuás confultas , 6c ordenava em voz clara O' quefe havia de fazer, ou naó fazer ; foraó elles taò mal aconfelhados , q qui- zcraó fer governados por liomens, como as outras nnçoens : & fendo taó fo- berboS:,quedefprezavaó a. todas em tudo o mais? ne-

K

301

4i<>i,

5 50 Sermão da 'Dominga 'vjgefimaftgundd

ílepontOjqueeraafuama- a pátria, & os eleitos eraô

lorprerogatiya , pedirão fer femelhantes a ellas: Conflitue nobis Regem , fi- cut & tinivcr'£ habent na- lionês. Oi primeiros Go- vernadores pois,que Deos liies concedeo com poder, & foberanía real , foram Saul &: David ; Saul que andava bufcando asjumé- tas, que fe perderão a fcu Pay, & David que andava guardando as ovelhas do feu. Naó fez Deos diffe- rençadas calidades, por- que todos eraó filhos de Abraham ; nem a fez tam- bém dos officios , porque todos naquclle tempo vi- via5 de fuás lavouras , & dos Teus paílos. teve attençãoàs peíToas, Scaos talentos^porque afUm Saul como David debaixo do feu fayal eraó homens de taó grandes efpiritosy co-

iguaes (^ como dizia } & naó bailou que hum foíTe Saul,& outro David, para ferem bem aceitos. Ale- gráraóíèos parentes, mur- murarão os eftranhos, & os demais (^que eraóqua- fi todos} ficáraó defconté- tos. Naó digo o que diíTe- raó, porque as couíâsnam eraó para dizer , nem fao para ouvir: íbdigo queef- tamos no mefmo cafo. Te- mos repartido efte noílb Eílado em dous governos iguaes,&: debaixo de duas cabeças,ambas naturaes da mefma terra, fem fer a de Promiíraó:&; aíTim da par- te das cabeças, como dos membros , allim da parte dos novos Governadores , como dos fubditos ,fe po- dem recear, como fe te- mem, naó pequenos incó- venientes. O recurfo eftà

mo logo moftráraõ as fuás Ionge,o remédio naó pode obras. Mas quaes foraó os chegar, fenaó tardcj entre-

applaufos com que foi re- cebida naquella Republi- ca depois de taó apertadas inílanciasa eleição deíles dous governos? A terra era

tanto vos peço, que to- meis o melhor confelho. A obrigação dos Pregado- res , a quem a h fcncura chama Anjos da paz , he ferem

pofl Tentecojien. 531

ferem Miniftros da uniaó, Senhor,Cuja era aquella

& concórdia : & porque ef- ta devemos defejar todos , como bons Chriíláos, co- mo bons repúblicos, & co- mo bons vaíTallos , para eu fatisfazer à minha obriga- çaó,naó me occorre outro meyo mais efíicaz, que de- clarar a hunsjSc a outros as fuás. O meu intento fera eíle, o Evangeiho a guia, a

imagemj&cujo o nome ef- crico nas letras : Ctijus eji ^ imago h^c^&fuperfcriptio ? Reiípondéraó, que a ima- gemj&- o nome era do mef- mo Gefar; T>icunt e^Ctífa- m.Iíio he o que contém as palavras que propuz. O reílodo Evangelho ficará para outra occaíiaó , & também a moeda. Eu naò

interceílbra para a graça a quero para hoje mais que Virgem Senhora noíTa.Pe- a imagem do Cefar 5 por-

çamola com aquella atten- çaó que requere taõ im- portante matéria. Ave Maria.

5. II.

que com as imagens dos Cefares hey de fallar.

303 Cujzueft imago hac^ Todos os que governaó faó imagens de feus Frin- cipes : porque os reprcfen- taó na peííoa, & no exerci-

302

PErgutado Chri- cio dos poderes. Começou ílo Senhor noíTo

como Meftre da Leyjfe era licito aos Hebreos pagar tributo ao Cefar Empera- dor dos Romanos,refpon- deo, que lhe modralTem primeiro a moeda do tri- buto: Oftendite mthi numif- ma cenfus.E como n3.moQ' daeftiveííe eílampada húa figura com certas letras em roda i perguntou mais o

id.ao;

efte nome , ou titulo de imagem no primeiro go- verno do mundo, dado nao menos que por Deos ao primeiro homem, & nam nas proviíoens do officio^ fenão antes da creaçaó del- le, &do mefmo que o ha- via de exercitar. Faciamus hominem ad imaginem^ ò-'fi- q . ^ milituãimm noftram , & xlz^' /f/f/í/" : Façamos o homem ^ (diíTe

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ç5 3 2 Sermão da T>omínga -jigefimafegíinda

(^ diíTeDcos^à noíTa ima- re deo Deos o titulo de gemjêc femelhança , para imagem fua , porque lhe quetenhaa preíidencia,& encarregou o governo do governo do mundo. Sobre mundo , 6c que ajuntou à eílas palavras lie grave imagem a femelhança, ad queílaó entre os Theolo- imaginem-iérfimiUtttdinefn: gos,em que coníiíla no ho- para que no mefmo gover- memoferimagê de Deos? noíeíembraílê Adam^que

fe devia fazer femelhante quanto foíTe poífivel ao fu- premo Senhor a quem re* p refenta va : Imaginem di' xit obprincipatus rationem^ fimiiitudinem^ utpro vir i bus humanisfimilesficimus T>eo . 304 OhquantoSi&quã exceilentes documentos deixou Deos naquella pri- meira acção aos Principes de como deviaó fazer , ^

Hereges Audeánosdif-

feraójqueconfiília na ror nia,&: eílatura do corpo. E também he herefia politi- ca a de alguns Príncipes, os quaes tanto fe deixao levar deffas aparências ex^ teriores , que por ellas fa- zem a eleição das fuás ima- gens. Taò pouco importa Earao governo da Repu- liça a eftatura50ugentile*

za dos corpos, C dizSene- eleger as fuás imagés! To- ca } como para o governo das as outras criaturas má-

danáo fero Piloto fermo fo. Kefolvem pois todos os Santos, 5c Doutores Ca- tholicos , que a razaó da imagem de Deos no ho- mem confifte na Alma adornada de três potécias, emqucreprefentaao mef- mo Deos trino,& hum. Po- rém S. Bafilio & S. João Chryfoítomo acrcccntaó) que a Adam parcicularmé-

dou-as Deos fazer, ou má- dou que fe fízeífe m : o ho- me, queohaviaderepre- fentarcomo fua imagem, & a quem havia de entre- gar o [governo do feu mun- do,fello confuka, ôc có- felho, &: naô de homens, que ainda naó havia, nem de Anjosjqucjà eraó cria- dos , mas das trcs PcQbas divinas : Faciamus hominè ad

1iWu!.

põflTentecoften, 555

nd imaginem , & fimilitudi- moria, para que fe lembre

nem nojtram : &: para que ? Et prafit pifei bus maris^ & volatilibus Caliy & befiijsy univerfaqíie terra: para que governe os peixes domar, as aves do ar,& os animaes

da fua obrigação ; o enten- dimento, para que faiba o que ha de mandar > & a vó-? tade, para querer o que for melhor : & naó homens de húafó potencia Q que por

da terra. Efe paraaelei- ilTo fazem impotenciasJ& çáodequem ha de gover- faltandolhe a memoria, &

nar brutos, fe requere tan- to apparato j & prevenção deconfultas, & confelhos fabedoria do mefmo

na

oentendimêto, tem vontade. Com todas eftas qualidades formou Deos » & aperfeiçoou a imagem, Deos i que fera para eleger que no governo do mundo hum homem,que ha de go- havia de reprefentar a Ma^ vernar homens ? O cara- geftade divina : bem aílim £ter de imagem fua polio comoreprefentaó as Ma- Deos por ventura na Alma geílades humanas os que do homem,porquefe naó em feu lugar, & com feus

ha de entregar o governo a homens fem Alma ,? Sim-, masnaófó por iífo. Naó bafta que o que ouver de governar feja homem com Alma, mas he neceíTario, que feja Alma homem. Se tiver Alma, & boa Al- ma,naó quererá fazer mal : mas fe juntamente naó ti- ver a£tividade , & refolu- ção,& talento de homem , náofarà coufa boa. Deo- lhe Deos memoria , enten- dimento,& vontade: a me-

poderes governaó eftas, ououtraspequenas partes do mefmo mundo. A ima- gem do Cefar naó efta- va eftampada na moeda-, fenaó também, & muito mais em quem goyernava a Republica. Na moeda era imagem morta,em quç governava, imagem viva: na moeda davalhe o cu- nho o valor, em quem go- vernaua davaólhe as pro- vifoens o poder. E fe de qualquer delias fe pergun- taífe;

5 ;? 4. Sermão da TDo minga ^vige/imafeg unda

taíle -• Cujas eft imago bac \ Cuja he eíla imagem 7 De ambas fe havia de refpon- deremdifferente fentido, mas com a mefma verda- de5que era imagem do Ce- far : l}icunt et: Cafaris.

^of Suppoíla efta fig- reprefentar hum Principe nificaçaô nafcida com o fupremo nos olhos do mú-

§. III.

^06 /^"^Omeçádopois

V^^pela obrigação

das imagês, aílim comohe

grande dignidade haver de

mundfoj&cò a mefma na- tureza, de que faó imagens dos Princjpes os que go- vernaó em leu nome, & os reprefentaô -, fe eu pregara em outra parte , havia de repartir o Sermão em três pontos. Primeiro , como haóos Cefares de fazer as fuás imagens: fegundojco- mohaôas imagens de re- prefentar os Cefares ; ter- ceiro, como os fubditoS3& vaíTallos dos Cefares haó •de reverenciar , & obede- cer às mefmas imagens. Mas porque o primeiro ponto naó pertence a efta terra, nem a efte Auditó- rio; tratarei fomente do í^gundo, & do terceiro, que fió taó próprios do lu- gar, como neceílarios ao tempo.

do, (^ouíejamaior,ou me- nor o theatro ^ ^^irn hc muidifficultofo 5 Sc arrif- cado o acerto deíla grande reprefentaçaó. Facil no oue tocaaopoder 3 mas no mandar 5 & obrar, muito difficultofa, & de poucos, lífoquizfigniíicar o Pro- vérbio dos antigos, quan- do diíTeraó) que a imiageni de Mercúrio naòfe faz de qualquer madeiro : Ncn ex qnolibet lignofit Mercnrius. £ porque mais a imagem deMercurio,que a de Jú- piter, q era entreosDco- les a primeira, & mais alta foberanía ? Porque Júpi- ter era Deos do poder , Mercúrio da fabedona, 4SC prudência : 8c a mageílade do poder qualquer a pode reprefentar facilmente, as ac^ocns porém da fabedo- na,"

poft Tentecojlen ria 5 & prudência íaó mui poucos os que fejaó capa- zes de as compor , & exer- citar 5 como ellas requerê. Mais fácil he parecer Jupi- ter,que Mercúrio. Quan- do S.Paulo, & S. Barnabè entrarão em Licaonia, ad- mirados aquelles Gentios do que viaó em ambosjdif- feraó, que os Deofes em femelhança de homens ti- nhaó decido do Ceoàfua Cidade :& a Barnabè cha- mavaó Júpiter, 6c a Paulo Mercúrio : Vocabant Bar- nabam lovem^Tauhim vero Merctirium. Mas fe Paulo por tantas^Sc taó excellen- tts prerogativas era maior que Barnabè , porque de- rao a Barnabè , & naó a

^507 Subamos das dei- dades fabulofas à verda- deira,&ellanos dará a ra- zão deíla differença. O Verbo eterno como Filho natural de Deos Padrcjhe imagem perfeitiílima da mefmo Deos. E porque fer divino atè os Gentios coníideravaó duas eminé- ciasfuperlativas 5 húa da fumma bondade, 8c outra dafumma grandeza , poí onde chamavão a DcQ^ Óptimo Máximo ; decla-- rando Sala mão no livro da Sabedoria a fumma per* feição com que no Verbo fe reprefentão bua^Ôc 011? tra, diz que he efpeiho fem macula da Mageílade de Deos 5 & imagem de fua

Paulo o nome de Júpiter 5 honà-xà^-.Specítlumfine ma-

&aPauIo,&naó aBarna o de Mercúrio.^ Porque Barnabè excedia na efta- tura,&magefl:ade da pef- foa, Paulo na eloquência, na fabedoría, & na doutri- biiera. nz: ^ioniam ipfe erat dux 'verbkéc^. repreíentaçaó da fabedoria requere muito maior cabedal , & muito

maior home, q a da ma^e- fta diíTereiíca ílade. t> . - ,

go bonitatis illius. O que ^''^^ aqui reparo, he>que híia, &amerma reprefentação em quanto he da magefea?- dejfe chama eípelho; Spe^ culum mahfiatis ', & ena quanto he da bondade ^(^ chama imagem , imago bo^ mtat is illius. E arazáo de^ deixando por

40','

^^6 Sermão da dominga vigefinafegtmda por agora a Theologica,&: der,&: a oítentaçáo, & exc- bufcando fomente a Mo- cuçáo delle he muito fa- ral,qualhe, ou pode fer? cil: porém asda bondade, He a mefma que exprime- que faó as do bem mandar, tamos na facilidade das &bem obrarjSc bem fazer imagens,que vemos no ef- a todos, reprefentãofe nas pelho , & na difficuldade outras imagens , ou pinta- das que fe moílraó , 8c re- das,ou efculpidas , porque prefentão em fy mefmas. eftasfaò muito difficulto- As imagens que fe repre- faSj&trabalhofas, & que fentãoemfy mefmas, ou requerem muita arte,mui-

faó de pintura,ou de efcul tura. As de pintura hzér fe com muitos debuxos, muitas cores, muitas fom- bras,muitos claros,muitos cfcuros : as da efcul tura muito bater, muito cavar, muito polir , muitos che-

tafabedoria , muita pro- porção, muita regra. As imagens de efcultura fazé- fe tirando, as de pintura, pondo: para efte tirar, he neceífario muito defmte- reífe : para efte por , & acrecentar,muita igualda-

yos,muitos vazios: & hu- de: Separa húa coufa , & tnas,&: outras muita ar- outra, muita prudência, te,muita applicação, mui- muita juftiça, muita intei- ro trabalho. Pelo contra- reza5muita conftancia, & rio as imagens , que fe re- outras grandes virtudes, q prefentão no efpelho, ellas mais facilmente faltaó to- fe pintão fem tinta , & fe das,do que fe acháo juntas, entalhão fem fcrro,8capa- 308 Nas duas images recém perfeitas em hum de Júpiter & Mercúrio, q momento fem mais traba- feattribuíraò aos dous A- lho, ou artificio que húa poftolos, temos o exemplo reflexão natural. Pois por detudo. A imagemdeju- iífo as da mageftade fe re- piter pmtavafe com hum prefentão no efpelho, por- rayo na mão , a de Mercu- quç a magQlUde , &; o po- rio com hum báculo entre

fojlTentecoften. 337

duas ferpentes. E aqiiife omefínotempo fe Tuften-

via bem quatn fácil hehua reprefentaçáo^&quam dif- fic 111 cola outra. Fulminar rayosjeílremecero mundo com rrovoens, efcalar tor- res:, derrubar cafas , matar homens, fender de aíto a baixo cedros, cipreíleSíCn- zinhas, & todas as outras violências , & danos, que caufaóosrayos , tudo he muito fácil ao poder, em quemabufardeile. Porém meter o baíláo entre fer- pentes difcordes , & vene- nofas,&: fazer que não fe mordáo,nemfe efpedacê: domar ferezasjamanfar re- beldias 5 &■ reduzir a que vi vão conforme a razão os

tão os que a conquiítárão nãodospaílos deanimaes domeílicos, íènão da ca- ça,6c montaria dehomês: & que dificuldade fera ainda maior manter em paz,8cjuil:iça os que íe mantém da guerra injufta? Eíla he pois a primeira dif- íiculdade geral deíle go- verno •, mas eíla a obriga- ção , 6c officio dos que nel- le repreíèntáo a imagem do Cefar.

í. IV.

A Segunda dif-

30P _

ficuldade,que

mais ainda impede,& qua-

quepornatureza,&coí1:u- fi impoíUbilita a boa re me não tem ufo delia -, eíla prefentação deílas ima

he a diíficuldade grande em toda a parte,&: na terra em que eílamos,maiorque emnenhúa outra. Menos ha de ciacoenta annQS,que nefla terra fe não conhecia

gens,he,que as imagens, & o Cefar eftão muito diílá- tes. Quando refpòndéraó aChriitOjque aquella ima- gem era do CefarjoCeíar eílava em Roma, & a ima-

onome deRey,nemfeti- geríi em Jerufaiem. Que. nhaouvido o de I.ey : &: fera onde o Cefar, & o Ref

que difiiculdade fera fazer Gbedecer,& guardar nella

as Leys dos Reys "i DeíUe Tom. 7.

eílà na Europa , & as ima- gens na America ? O Rey em hum mundo, 6c os que Y ore-

n

•i^

Jeiem

fe- nhor. Tanto atrevimento Ihedàeílar o Príncipe 16- gCjorecurfo longe , o re- médio longe, écatè a ver- dade não íò eícurecida , iTiãs opprimida dos mef- mos longes. A Rainha Sa- chamava bemaventu- radososque ferviaòahl-

33^ Sermão da T>ominga vige [ima fegtmda,

o reprefentáo em outro? lesnáo tiveráo outro AtèDeoife temeo deíles longes : náo porque não ef- teja em toda a parte, & ve- ja tudo, mas porque fem íerviílo. Aílimo mandou notificar ao mundo pelo Profeta Jeremias ; Ttitas ne "Deus c ^cicino ego/um^é* noTíDeus de longe? Cuidais

que eu fou Deos de per- Rey SaJamáo em fua pre- tOj& não de Jonge ? Enga- fença. E deita bemaventu- naif-vosjporque ainda que rança fepriváo em tempo 210 Ceo íenho a minha de táo bons, 6c táo julios Corte,tanto aíJiílo na ter- Reyscomoos noíTos , os ra.como no Ceo: C^km queporíerviçofeu , & de & terram ego impleo. Ouve Deos, í'e expõe m náo às com tudo homens tão ig- inclemências dos climas, norantes,que interpretan- que he muito menos, mas do mal o verfo de David: às fúrias dos longes : & a ^^íumcainjomino^terram verjôc chorar de perto as 113. j 6. autem deditfilijs hominum : perdas temporaes, 5c éter- cuidarão que porq Deos nas,dequeclles íiiocaufa. puzera a fua Corte no 310 Diz a parábola do Ceo, demitrira de {^ o do- Evangclho,que partio hií minioda terra , èc o dera Rey para muito longe a aos homens. Náo creyoq conquiílar novo Rey- os que governáo as Con- no, & entre tanto deixou quiítas cuidáo o mefmo , encomendada a fua fazen- nias he certo , que muitos da a três criados , para que ásdomínãotão defpotica- negociafiem com cila. De- mente, como fe o cuida- ftestrcs criados hum naò rão.Tãofenhoresfefiizeni negociou , mas não rou- dellasjcomo fc ellas , & el- bou , & os dous dcrão táo

boa

.ibid.24.

pfí

/•nfel

fofl 7entecoflen\ 539 boa conta da fua negocia- ges tem depois osfeusper- çáo, que dobrarão o cabe- tos ; Sc por iííb os criados dal doRey, & merecerão na aufencia fervem tal delle grandes mercês. Di- refpeitOjOu tal medo, que tofo tempo>em que de três na prefença dão boa conta criados de que fez coníi- de íj. Porém quando os anca hum Rey , fervindo Keysnaó váo às Conqui- não à fua viílajfenáo mui- ílas> ou elías íàó tão remo- to longe delle, os dous ihe tas^quenão podem irj acrecentáraó a fazêda em comooslongesfempreíaõ dobro, & o menos diíigen- longes ; quam longe eílà o

te, pofto que a náoacre- centou , nem hum feitil furtou delia. Acharfeíia hoje hum par, 8c meyo de criados femelhantes a ef- tes ? Nem em tres,nem em trinta, nem em trezentos. E qual he a razão ? Omef- mo Texto a deo narrati vã- mente em bem clara prova do que imos dizendo. Diz

Rey dos criados, tão longe fe põem elles das íuasobri- gaçoens. Quando o Rel- vai do Reyno às Conqui- íi;as,& das Conquiftas tor- na ao Reyno , he Rey do Reyno, 6c mais dasCon- quiílas: mas quando o Rey fica no Reyno, &àsCon- quiílas manda os cria- dos, os criados faó os Reys

o Texto , que foi o Rey das Conquiítas , & não o muito longe do feu Reyno Rey. O Rey fallos fuás a conquiílar outro , mas imagens, & elles fazemfe

para tornar outra vez: Abijtin Regíonem longin-* quam acciperefibi Regniim , ér reverti. Qiiãdo os Reys vão do feu Reyno às Con- quiílasj^cdas Conquiílas tornâo ao Reyno : ainda queasConquidas eílejaó muito longe, aquelles lon-

Reys.

311 E quem lhe da eftes azos, ou eftas azas,fe- não aquellas que os levão , %c põem tão longe ? De Roma a Jeruíàlem ainda tinhaó algum vigor os ref- peitos do Cefar .' Si hmic Joana: dimittis^non esamicusC^e^ '^•"' Y ij faris.

3 -í^o Sermão da T>ominga vigefimafegunda

y^w. Mas de Lisboa à In- pois era fua imagem, que

i

ciia,& ao Brafil com todo o mar Oceano em meyo? a fé, a obrigação, a obediên- cia, o reípeiro, tudo fe ef- fria,tudo fe raaréa,tudo re- ferve. Vendofe taó longe de quem os manda , como pòdeni o que querem , naò íe contentão que- rer o que podem. Leváo os poderes de imagens , & tomão as omnipotencias deCefaresj &não de Au- guílos, ou Trajanos para confervação , & aumento da Monarchia, mas de Ti- berios , de Caligulas , de Neros, deftruidores delia : para que nos não admire- mos das ruinas da noíla, nem lhe bufquemos outra caufa. Porque percleo A- dam com o Parai fo a Mo- narchia do Vniverío.^ Por- que fe não contentou com £er imagem de Dcos, mas quiz fer como o mefmo Deos, que o fizera fua ima- gem. A tentação çom que o fez apoílarar o Demó- nio, foi com lhe dizer, que feria como Dcos. Masfe Adam era como Dcos,

lhe prometeo de mais o Demónio n?,qucllc //r//í , GcneC ernisficutdtj r O cquivo- '■'^" CO do //r//? foi verdadvcira- menre diabólico. Adam em quanto imagc de Deos era como Deos na repre- fentaçáo, mas não era co- mo Deos na foberanía : & iíioheoquclhe prometea o Demónio. E como A dam fe não contentou de fer como Dcos na reprefen- tação, queeraoque tinha por imagem , Òc quiz fer como Deos na foberanía, que era o que lhe vedava a obediência, &: o preceito; por iíib quebrou o precei- to, & negou a obediência a Deos. L líto que lez Adam na Aria,he o que fazem na mefina Afia, òc n.i no/la A- mericaosquenão fe con- tentando com fer imagens dos Keys , excedem tão exorbitantemente toda a medida, & proporção de imagens, como agora ve- remos.

§■ V. 312 ^ Ntcs de haver no mundo a arte

A

poftTentecoften. 341

arte da pintura C que co- que mais parecem Ricos meçou depois do incêndio feitios , que verdadeiras

de Troya ^ diz Plinio,que fe rerrataváo os homens cada hum pela fua fombra. Punhafe o homem empe, fazia fombra com o corpo interpoíloàluzdo Sol, &: aquelia fombra cortada pela mefma medida era a lua imagem. E como fe po- dia conhecer a imagem, fe não tinha feiçoens por on- de fe dilHnguiíle ? Diz o mefmo Piinio^que para fe conhecer, lhe cfcreviaó ao o nome de quem era : Omnes umbra kominis cíT"

imagens do que ha de crer a noíía que reprefentao. Mas ainda tinhaó outra maior impropriedade as imagens cortadas pela me- dida da fombra, porque fe- gundo o lugar em que eíli- veífe o Sol, feriaó fem ne- nhúa proporção muito maiores que os mefmos a quem reprefentaváo. E iÇ- to he o que fe vè, como eu dizia, na Afia, 6c na Ame- rica, nas índias Orientaes, ondenafce o Sol , ^ nas OccidentaeS; onde fe poé.

cumduãa : ideo & quospn* Não pôde haver fem elhã- gerent aáfcribere inftitutú, ça mais própria. A fom-

Faziãofe os retratos na^ quella rudeza da arte, co- mo em Portugal os que chamão Ricos feitios : nos quaes as imagens fenão conhecerião pela figura, fe o não diíTeíFe o rotolo. Ê helaftima, que prohibiu- do Alexandre , que nin- guém podeííe pintar a fua imagem,fe não Apellesj ca nos apareçaó algúas fi- guras tão dcífemelhantes dos foberanos originaes, Tom./.

bra quando o Sol eílà no Zenith he muito pequeni^ na,8ctoda fe vos mete de- baixo dos pès: mas quando o Sol eílà no Oriente , ou íiO Occafo ) eíla mefma fombra fe eftende tão im* menfamente, que mal ca* be dentro dos orizontes, Ailim nem mais nem me- nos os que pcrtendem, ^ alcançáo os go\^rnos ul* tramarinos. onde o Sol eílànoZenitK, naò fc y II) me-

í.

f^i"

342 Sermão da Uominga vigefimafegunda

metem eílas fombras de- damaó,aque vulgarmen-

baixo dospès do Príncipe, fenão também dos de Teus Miniílros. Mas quando chegão àquellas índias, onde nafce o Sol , ou a ef- tas, onde fe põem, crecem tanto as mefmas fombras, que excedem muito a me- dida dos mefmos R.eys, de que faó imagens.

Hecouíli muito nota- vel,& que por ventura não tendes advertido , quanto excedeo a medida de Na- bucodonofor a grandeza daquclla imagem, que elle

te chamamos meminho, contém a decima oitava parte do mefmo corpo. E que fc fegue daqui.^ Cou fa verdadeiramente não íó. fe mais para a d in irar , íe para rir. Seguefeque todo Nabucodonofor cabia dé- tro do dedo meminho da fua imagem. naó he grande a infolencia deRo* boani em dizer , que era mais groííb o feu dedo me- minho, que ElRey Sala- maófeuPay pela cintura. Mas qual fera a daquelles

mandou fazer depois que vaífallos, que fendo fómê-

vioemfonhosada fuaEf- te imagens dos feus Reys,

tatua.DizaHiíloriafagra- fe fazem tanto maiores q

da, que tinha de altura , ou elíes onde o Sol fe poé ,

cóprimentofeífentacova- ou onde o Sol nafce,

dos: Nabuchodoilofor Rex quanto he o exceílb im-

fecit ft atuam auream alti- menfocomque a fombra

Daniel.; ttidine ctibitorum fexag in- 3^- ta, i'\gora pergunto : E quanto vinha a fcr maior a grandeza deíla imagem, que a eftatura do mefmo Rej, a quem rcprefenta- va.<^ Segundo as regras de Vitruvio,&: a fymctría , & proporçoens de hum cor- po humano, o dedo menor

fe eíiende, fem outra me- dida,Ibm outra proporção, nem outro limite mais que o quenomar,ou na terra fecha os orizontes. A ima- gem de Nabuco era de ou- ro, as fuás faó de fombra: mas como as artes que vé, ou vaó exercitar, laò as da folida,& verdadeira alchi- mia.

CJMI

poft ^entecoflen. i \. |

mia ,elles ilibem cooTcr-^ grés dos rippliuididDs.Nei- tereílaíbmbraem ouro,Sc íesíamoros Santuários da fazerfe melhor adorar que Europa , ondeie veneraò o mefmo Nabuco. A ima- imagens milagrofas , alli creiTi de Nabuco para os fe vem penduradas as mor- feus adoradores naò tinha talhas, as muletas , asca- prémios , Separa os que deas, as amarras, os pès>os naó adora vaó tinha forna- braços, os olhos, as lin- Ihas. Là,ac naó he aífim. guas, os coraçoens dos que Os que adoraó, & os que proteftaó naquelles votos não adoraó, todos ardem: deverlhe miraculofamen- porque todos por diverfos te todos eftes benefícios. moaosficãoabrazados,& Deixadas pois as outras confumidos terras mais remotas , que

313 Ainda reíla a ma- também podem teílemu- iordor,& o maior eícan- nharneíle cafo j vos que dalo, E qual he ? He que me ouvis , que direis da quando eíias imagens tor- voífa ? Que milagres viíles naó para donde vieraó,ía6 nos mortos? (quenao taes as bulias de canoniza- fallo , nem quero que fal- cão, que leváo com figo, leis nos vivos. } Equaes que merecem fer colloca- feriáo as merecidas iníig^ das |pbre os Altares. Oh nias, ou trofeos dos meín quem lhe puzera também mos milagres, com que a diante as iníignias dos feus verdade fem lifonja^ & a

milagres! Vede que Xa- -'—^^ ^—

vieres da India,6c que An^ chietasdoBraíil ! Eopeor

he, que fe algum os nao imitou, nem teve imitado- res i eíle he recebido fem applauro,& eftà fepuitado fem culto. Mas naô deixe- znos em íúmcig os múd,-^

memoria ainda com hor^ ror, lhe adornaria as fe* pulturas ? Também alli fe veriaó mortalhas, naó de poucos que refufcitaííem ^ mas deiníinitosjêc fem nu-' mero, a quem tirarão a v'u da. Também fe veriaó ca-. 4eaSí naó dos que Ubertá^ Y iii j raé

- »

íi:

344 _ Sermão daT>ominga vige/ima fegmda

raó do cativeiro, mas das quellas canonizadas ima- naçoens.Sc povos inteiros, gens, que chegando aqui que fendo livres , fizeraó deípidas^Sc toicas , torná- cativos. Também fe ve- raóeílo£idas de borcado.

riaô amarras, naó dos na- vios, que falváraó, mas dos queíizeraó naufragar , 6c perder, fendo elles no mar, &: na terra a maior tormê- ta. Também fe veriaó mu- letas, não dos eílropeados quefaraíTem, masdos que fendo ricos , & abadados, os deixarão mendigando por portas, & fem remé- dio. Também fe veriaó braços,6c pès dos que fen- do poderofos, porque o eraó,os enfraqueceo , der-

& ouro; 6c pintadas as falfis cores com que en- ganarão a fama , por ella faó recebidas em andores, 6c frequentadas com rg^ marias. >

A Tègora tenho

^^4 , .

reprefentado- aos noíTos novos Gover- nadores,6cnaturaes o que naó devem imitar nos ef- tranhos. Nem creyolhc; fera diííicultofa a abomi-

rubou,6coprimio ofeuin- nação de taò perniciofos jufto poder fem mais ra- exemplos,naófócomoex- zao que a violência Tam- primentados em todos, bem fe veriaó finalmente mas também como feri- osol?ios,que fizeraó cegar com lagrimas: d>: os cora- çoens que afogarão em triílezas, em laííimas , 6c defefperaçoens : d:^. as lín- guas que emudecerão fem poderem fallar, nem dar hum ay, por Ihenaó fer li- cito clamar à terra,né ain- da gemer ao Ceo. Elles, 6c outros faO os milagres da-

doSjSc magoados. Saibaó porém que nelles como naturaes concorre outra terceira difiiculdade , que nos eftranhos naó tem lu- gar. Porque? Porque ain- da que huns, 6c outros faó imagens, elles faó imagens comas raizesna terra. As imagens naó ião obra dosElUtuarAos,6c Pinto- res,

I

U

pofiTentecoften^ 345-

rcsjíenaó também dos Jar- ceder aos que tem o o^over-

dineiros. Húa das coufas mais curioías , qiiefe nos jardins , onde as terras le cultivaó mais primoro- fa mente que nefta noíTa, faó varias íiguras de muf- ta^oii de outras plãtas for- madas com tal artificio, proporção , &: viveza de membros, que tirada a cor verde, em tudo o mais íe

no da fua própria pátria, & naó por outra razaó , ou funda mentOjíenaó porque temasraizes na terra. Alli tem os parêtesj alli os ami- gos, alli os inimigos , alli os intereíles da fazenda5da familia, da peííba : & qual- quer ácÇccs humores 3 ou rcfp eitos, 6cmuito mais to- dos j untos podem defcó- naó diltinguem do natu- por de tal forte a imagem, ral que reprefentaó. Mas dcreprefentaçaó de quem

efta mefma reprefentaçao he muito diíHcultofa de confervar. As outras ima- gens> ou fejaó fundidas em metal , ou efculpidas em pedra, ou entalhadas em madeira, ou pintadas nos

governa, que nem appare- cia lhe íiquedo que deve fer,&: em tudo obre, & feja ocótrariodo que he obri- gado. Se o humor das rai- zes lhe brotar pelos olhos , naó poderá ver as coufas.

quaílros, ou tecidas nos ta- nem ainda olhar para ellas

pizes, fem mais diligencia^ fem paixaó , que he a que

nem cuidado, fempre c5- troca as cores as mefmas

ferváo,&: reprefentaó a íi- coufas,& faz que fe vejaó

gurajqiielhedeooartifice. hiias por outras. Selheto^

Porem as que faó forma- das de plantas,çomo tem asraizes na terra, donde recebem o humor, crecen- do naturalmente os ramos.

mar, &occupar os ouvi- dos, naó ouvirá as infor- maçoenscom acautela c6 que as deve exammar , ou ficara taó furdo,que as naó

facilmente fe defcópoem, ouça, ainda que fejaó cla- Zc fe fazem monftros. Ifto mores. Se lhe rebentarpe- meímp fucede>ou pôde fu- la boca, mandará o que de-

/

■A

í^,

34,<^ Seymao da.^õmingdvigefimafegunda, veprohibir, &prohibiráo oíferccer o governo àOíi- quc deve mandar , & as veira,aquairecrcurou,dí- fuas ordens feráó defor- zendo, que naó queria dei- à^n^ ,& as fuás fentenças xarofeuoleo, cora aue fe aggravos. Finalmente, fe ungem os homés,&fealu- fair, & vecejar pelos bra- miaóosDeofes. Ouvida a ços,&: pelas mãos, quefaÓ efcufa.foraóà Figueira, & as extremidades mais pe- tambcm a Figueira naó rigoías , & onde fe expri- quiz aceitar, dizendo, que mentaó maiores exceílòs, os feus figos eraó muito eftenderàos braços aonde doces, & que naó queria naò chega a fua jurdiçaó, deixar a fua doçura. Em & metera a inaó,& enche- terceiro lugar foraó à Vi- rá as máos do que naó deve de, a qual diíle, que as fuás ^^-^^' uvas comidas eraó o fa bor, 31; Por certo que fe & bebidas , a alegria do os que tomáraó febre fy mundo, & a quem tinha eíles encargos fe aconfe- taô rico património , naó

Iháraó, naó digo comigo, fenaócom asmefmasplã- tas, que tem as raizes na terra, ainda que os gover- nos Foraó de maior íuppo- íiçaó, & aurhoridade , os naóhaviaódc aceitar. O

lhe convinha deixajo para fe meter em governos. De forte que aíllm andava o governo univerfal das ar- vores, como de porta em porta,fcm haver qué o qui- zeíTe. Mas o que eu noto

primeiro apologo que fe nefíasefcufis, he, que to^

efcreveo no mundo [ que dasconvicraó em húa fq

he fabula com fignihcaçaó razaó, & a mefma, que era

verdadeira ] foi aquelle naó querer cada húa á^zu

que refere a fagrada hfcri- xarosfeus frutos. E ouve

tura no Capitulo nono dos alguém que diíTeífe , ou

Juizes. QuizeraÓ ( diz) as propuzeífe tal çoufa a cila»

Arvores fazer hum Key arvores .^^ Ouve alguém, q

gue as governafle, & foraó iiRd^Q à OUvexra, que ha^

via

•í

foft ^entecoflen Via de deixar as fuás azei- tonas, nem a Figueira os feus figos, nem a Vide as fuás uvas ? Ninguém. So- mente lhe diíTeraó, & pro- puzeraó , que quizeífem aceitar o governo. Pois fe iÇÍQ foi o que I he diífe- raójSc offerecéraó , & nin- guém Ihefallou em have- rem de deixar os feus fru- tos ; porque fe efcufáraó todas com os naó quererê deixar ? Porque entende- rão, fem terem entendi- mento, quequem aceita o governo de outros , fóha de tratar dei les, & naó de fy: & que fe naó deixa to- talmente o intereífe , a có- "veniencia, a utilidade, 6c qualquer outro género de bem particuíar,& próprio, naó pôde tratar do co- mum,

5 1 é Saibamos agora , & naó de outrem , fenaó das mefmas arvores, fe efte bom governo , do modo q cilas o entendéraójfe pôde confeguir, 6c exercitar as raizes em terra? Aílim as que o offerecéraó, como as que o naó aceitarão, todas

concordáo,que nao. Que diíTeraó as que offerecéraó o governo ? Diíferão a ca- da hiia das outras : Vehi^ ò' impera no bis\\ináQ^Sz go*

Judie

9.12,

vernainos. Vinde ?Xogo feeilas haviaó deir , ha- viaófe de arrai^cardo lu- gar onde eílavãó,6c deixar as fuás raizes. £ cada húa das que náo aceitáráo, que refpondeo ? Reípondeo, que não podia ir , porquj movendofe havia de deir xarás fuás x'aizes , èc fem raizes náo podia dar fruto; Nunquid pojjlim déferere^^'-^'>*- pnguedinemmeam-tér veni- re, tit inter ltg7ia promove ar l De maneira que governar, &: governar bem , não pô- de fer com as raizes na ter- ra. Governar mal, 6c para deftruiçãodo comum, iííbíim. E na mefma hi- ftoria o temos , que ainda vai por diante. Vendo a^ arvores , que as três a que tinháo oíFerecido o gover- no, o não quizeráo aceitar^ diz o Texto, que fe forãé ter com o Efpinheiro , U lhe fizerãoamefma offer- ta. E que refpondeo o Ef- pinheiro?

/

>4

5 4.8 Sermão da dominga vigejimafegunda

pinheiro ? He repofta mui- to ái<^m de ponderação. A ^.. VII.- > propoíla das arvores foi a Íbid.r4. meíma : ^^2/, é^ impera fu

Zbid.if

pernos-. & elle refpondeo não como Efpinheiro , fenão como efpinhado : Si verè me Regem vobis confti- tuitis^ venite^ &fubumbra mea requiefcite\fi autem fion vultis 5 egrediatur ignis de rhamno^ à* de^oret cedros Libani: Se verdadeiramê- te me dais o império, vin- de todas deicarvos a meus pès , & porvos à minha fombra: & fe ouver algúa que repugne, fahiràtalVo- godo Efpinheiro, q abra- ze os mais altos cedros do Líbano, Não fei fe repa- rais na diíferença. As ar- vores, que lhe ofFerecéraõ o governo, diíferãolhe,/^- ni : & elle diíTelhes, k^enite. Não íbu eu o que hei de deixar as minhas raízes, fenão vòs as voíTas. Em conclufaô, que quem ha de governar bé, deixa as fuás íaizcsi 6c quem governa n\al,arranca as dos fubdi- tos,6c trata de confervar as fuás.

317

Stahea partí- L^cular difíícul- dade, & o grande perigo cm que eftaó de fe não có- formarem com o foberano original, que reprefentaô asimagens,que tem as raí- zes na terra. HeneceíTario para fe confervarem neíla nova reprefentaçaó, &pa* ra governarem como de- vem , que fe apartem da$ fiías próprias raízes. Olhai para todas as varas defdc a maior à menor com que fe governa a Republica. AqueihcS varas não tiver também fuás raízes ^ Sim tívcrão. Mas para gover- narem,& terem jurdiçaó, todas foraó primeiro cor- tadas das mefmas raizes,6c por lífo todas faó varas fe- cas. Qae remédio logo pa- ra que as novas varas,que nos governão, tendo como tem as raízes na terra, con- fervem a imagem do Ce- farquereprefentaó.^O me- lhor, & anticipado remé- dio ouvcra fido efcufaréfc como

pofiTenfecoJien. 349

como fizerão as arvores que pôde a diligencia, & a

bem entendidas j mas a eí- cufa não tem lugar. O receo de poderem fer co- mo o Efpinheiro, quepro- meteo fombras, & amea- çou rayos,tambem me não cuidado i porque todos conhecemos a moderação, ^ modeíHados que acei- tarão o go\^erno. Mas por- que os mefmos governos antes coílumão mudar as condiçoens dos homens , que con ferva las j o mais fe- guro mcyo de todos feria cortar as raízes. E quando areíoluçâo de algum foiTe tão animoíii que afiim o fi- zeiTej cu me atrevia a lhe prometer da parte de Deos, que nem por iíTo lhe farião falta. A Vara de A- ramnão tiaba raizes na terra ; & com todo rever- deceOj íloreceo, &: deo em meyo dia o fruto, cjue as raizes lhe não podião dar em menoi de hum anno. Mas deixados os milagres a Deos , Sc recolhendonos aos limites da natureza, vos aconfelho , q^e façais com toda a applicaçaô o

induftria. Que faz o Jardi- neiro para confervar a re- prefentação das fuás ima- gens, por mais que tenhaò as raizes na terra ? Traz fempreos olhos poílos na figura quereprefentao j 8c contra todo o Ímpeto do humor, que as mefmas rai- zes naturalmente cômuni- cão à planta , endireita- do, jà dobrando ,jà ligan- do, jà decotando, conferva nellas a imagem taó pro- porcionadaj inteira, Sc fem mudançajcomo fe a tive- ra lavrado em mármore, ou fundido em bronze.

3 1 8 Tudo iílo he ne- ceíHirio a quem ha de re- tratar, ou transfigurar em fy não outra , nem menor , ou menos fagrada imagê> q a da mefma PeíToa Real , a quem reprefenta. Fia de endireitar, ha de dobrar, ha de ligarjha de cortar : & como.^ Ha de endireitar a intenção , tendo-a fempre muito re£ta de fervir a Deos,&: ao Rey . Ha de do - brar a vontade ., para que fempre fe incline^ 6c íi ga o

X

^

jjfo Sermão daT^ammgavrgeJtmafegunda

juizo,& ditames da verda- Oraabri mdhoros olhos,

deira razáo. Ha de ligar, & arar o appedte, que jun- to com o poder, he muito vioIento,& rebelde, para quefenãodefenírée. E íi-

ôc logo a vereisi mas he ne- ceíTario le\^antar o penfa- mento. S.PauIodiZjqueo Verbo eterno he a figura dl própria fuílancia do

nalmente, fealgum átí^its. ^c\ár:Q\ ^ii cum/it fpkndor .rr.n^ 1. ... gloria,^ figura fubftãntU^^

(jus. E que he,ou quer di- zer o Verbo? He, & quer dizer a palavra. Pois a palavra de Deos he a fi- gura da fua própria íuftá- cia yfi^urafiibílanti£ ejus > bim. Porque toda a fua fu- ílancia , & todo o feu fer imprimio , &: exprimio

affedtos quizer brotar no que não he decente a tão foberana repreíentação , decotalo logo , &: cortalo para que a não defcom- ponha j & fe acafo fe fente por dentro , naó apareça fora. A figura que haveis de trazer fempre diante dos olhos , he o mefmo

Hebr.i.'

Rey de quem fois imagê : Deos na fua palavra, como

6c náo como aufente,fenão própria, natural, & perfei-

como prefente •, nem como tiífima figura de íy mefmo,

inviiivel, fenão como vi- E allim como Deos impri-.

ílo. Mas como pôde ifio fer,feelle eílà tão diftan- te? Muito facilmente , fe não tirares os olhos do feu RegimentOjno qual vereis ao mefmo Rey tão natu- ral, & vivamente retrata-

me, & exprime a fua figu- ra na fua palavra, afiim os Reys, que fa5 os Deofes da terra, fe imprimem , & eílampáo nas fuás. De ma- neira que quem as pa- lavras, a firma, & 3S ordena

do em fua própria figura, do Rey nos feu s Regime- como fea tivéreis prefen- tos,vè apropria figura do

te. Dirmchcis que no vof- fo Regimento ledes fim as palavrasj&c firma do Rey , mas naó lhe vedes a figura.

Rey, ouve ao Rey em fua própria figura. ísTunca o pincel de Apcllcs retratou táo felizmente a Alexan- dre,

'Ht^a.

íi

foftTentecoJien. ^fi

dre, & o reprefentou aos quede Key: In hac mepo- olhos taó próprio , & taó tms parte confpicite qu^elã"

vivo,como os Reys no que

efcrevenij&ordcnaójíere- trataó>ou reproduzem a fj mermos. Sapiens in verhis producet feipftim :diz oEf- pirito Santo. Mas ouçamos a hum Rey.

319 No tempo em que os Godos dominarão a Ita- lia,humdos Reys que ti- veraó a fortuna de eícre- ver com a penna deCaíIio- doro , defpachando feus Regimentos a algunsMi- niílrosauíente$,que nun- ca o ti n hão vin:o,diz aíTim:

tetprajentes : non eíf ^obis damnum abfentié me£ : titi- lius eft mente noffe^ quàm corpore. Folgai { diz} de me ver antes no que vos efcrevo, que em minha própria peílba , entenden- do que me '^ç.àts melhor do que os que na minha Corte eítaó prefentes j porque vereis o queelies naóvem , 8c fabereis de mim o que eu lhe encubra a elles- aifi m q por eíle mo- do nenhum dano recebe- reis da minha au fencia.

Yenetefpeculum cordís^fpe- nem a m inha prefença vos €ulum vohmtatis^ ut qtiibus fará falta porque na pre- non fiímfacie notus , fiam fença , como os demais.

msrú qualitdte recognitus'. Quando chegarem a voííàs máos eâas minhas letrasj recebei-as como hum ef-

vermeheiso roílo , & na aufenciajpelo que vos or- deno, vermeheisa Alma. Mas naó deixemos fem

peiho do meu coração 5 da póderaçáo chamar o Rey minha vontade, Sede mim às fuás ordens efcritas et

mcfmo : das quaes,pois me naò conheceis pelo roflo, me conhecereis pelo ani- mo. Notai agora o que acrecenta com juízo ver- dadeiramente real, & dei- criçaó> 6c agudeza mais

pelhos de íy mefmo : Tene^ tefpeculum corais^ fpeculum volufitatis. A mais perfei- ta figura, que inventou a natureza, ànao pôde imi- tar a arte, he a que fe no efpeiho. Porque o q fe na,s

y

.^

^^t Sermão da T)omin_ga vigefimafcgunda

nns cores da pintura, ou to obíervarem as ordens

nojvulto das eílatuas , he húa femelhança , Sc re- prefentaçaó dapeílba^po- rèm no eVpelho naó fe fcmelhança, ou reprefen- taçaó, íe não a mefma pef- foa por reflexão dasefpe- cies. O efpelho naó he ou- tra coufa que hum impedi- mento das eípecies com que vemos, o qual as naó

do feu Regimento , feráó imagens do Cefar^ Sc pelo contrario no ponto cm q íenaó conformarem com ellas, perderão a femelhá- ça, a íiguraj&: o fer de ima- gens fuás.

3 2 o Perguntaò os Theo- logos, fe Adam pela def- obediencia perdeo o fer que tinha de imagem de

deixa paírar,^^: tornaó para Deos ? £ refpondem geral- os olhos. P- aílim como o mente que naó j porq naó efpelho fendo impedimê- perdeo a memoria, en ten- to da viíla por meyo da re- dimento, & vontade, em fiexaó melhora a mefma que confiftia a femelhan- vifl:a,aílim na aufencia, çadeDeostrino,&hum, a que também he impedi- queomefmo Deosotinha mento da vifta , por meyo criado. Mas eíla repoíla

da efcritura fica a mefma viíla melhorada. Sem ef- critura he a aufencia im^ pedimento , com efcritura he efpelho. Eíle efpeiho pois dos Reys , em que mais vivamente fe repre- fentaafua mefma PeíToa, quenafua própria figura, heo q haó de trazer íem- pre diante dos olbos os quetempor obrigação, & officiofcrimagcs do Rey. Entendendo queemquá-

tem neceílidade de diíiin- çaó. Omefmo homem de dous modos era imagem de Deos : hum como ima- gem naturai , outro como iip.agem politica. Em quã- to criatura racional com a fobcranía do livre alve- drio cm três potencias, era imagem, que naturalmen- te rcprefcntava a Deos 5 a qual de nenhum modo po- dia perder , porque nella coníiília a fua própria cf- Icncia.

Nk»

poftTeniecõJten. _ ^^^

íència. Pòrèmem quanto comeíle, comendo tambe

fenhor do mundo com o governo de todos os ani- inaes,era locotenente do mefmo Deos> &; imagem politica rua,8c efta naõ a

elle j logo perdeo a ima- gcm^emque reprefentava a Dcos politicamente, & osanimaes^q naõ viao, nem reconheciaó nellea

podia perder Adam> fenâo imagem» que tinha pcrdi- quede fadbo a perdeo.Mas do, por inftinto natural fc quandoj&como? Tinha- rebelláraó, & Ihenegáraó lhe Deos dado por Regi-- a obediência. mentOjqueguardaíTeoPa-. 321 Viíles (^ diz elc- raifOí^cquenem elle, nem gantementenefte paííb S. lua mulher comeíTem do Ghryfoftomo^^viítesafo- fruto da arvore vedada. E geiçáo que o voílb cao cm quanto Adam guardou vos reconhece, a prompti- eíle Regimento Ç que não dão que chamado aco-

tc fabeao certo por quan- to tempo foi 3 confervou inteiramente em fy cfta íègunda imagê de Deos, fendo venerado , & reco- nhecido por fenhor>&:obe- decidonoar, no mar, & na terra de tudo quanto vivia neftes três elemen- tos. Porem depois que fal- tou àobfervancia do mef» mo Regimento , antes o quebrantou em tudo, naò guardando o Paraiíb, por

de, o amor com que vos fe- gue,& o alvoroço natural que vindo de fora , vos faea receber , & a faltou vos feíleja : & pelo con- trario, íe vos disfarça ílcs, & cobriíles o roílo com húarnafcara, eííe mefmo cão, ladrando , remete a vòs,& como eílranho, ou inimigo rebate contra vós em voíTa própria caía.? Pois ifto mefmo fucedeo a Adam com todos os ani-

que deixou entrar nellea maes,depois que defobc-

Serpente, nem fe abften- decendo, mudou a figura,

do da arvore prohibida , & perdeo a imagê deDeos,

porque confentio que Eva que era o caradter villvel

Tom. 7. Z do

I

^ f4 Sermão da dominga vtgejimafegunda

do domínio do Uni ver fo , quenelle tinha delegado. Tanto vai de guardarem, ou naó guardarem o Regi- mento;. & ordens do fupre- iiio Príncipe, os que eile fubftituío em feu lugar, para que como imagens íuas o reprefentem. Eu naó me queixo das imagés

§. VIIÍ.

322 /^Díroatèquiba-i

(^quãdonaó fobeje 3 para que os noíTos DO^amenteeicitos tcnhaó entendido o modo^co que podem 5 & devem íaiísfa-^ zer as obrigaçoens de ima-

emmafcaradas, porque fei gens do Ceíar,em quefem- inuito bem as cores, coque outro exemplo ft vem de

honefta , & modeítamente fefabem tingir, ôc fingir, em quanto allim lhe im- porta a fuás pertençoens > mas a minha queixa , & de todos he , que depois <jue fe vem feitas,ou enfei- tadas em imagens, entaó tirãoa maícaraj& moírraó defcubertamente o q eraó, êcíempreforaó. Aílim que jiaòha outro meyo certo, &regurode fe confervaré na inteira repreíentaçaó de imagens do Cefar,os que por mercê, &c authorí- dade Tua tem eílc nome/e- naòa verdadeira,^ exada obfervancia de fuás ordes j & veremfe, ficcomporcTe, & rctrataremíc em icws Regimentosjcomo em eí- peliios.

prefente coníiicuidoí,: que era o primeiro ponto tia noíTapropoira. Oiegunda pertence aos íubdicos, & vaíTaliosdo mefrao Cefar, &he,como devem obede- cesse reverenciar as mef-" mas imagens; em que to- das as diííiculdades5que no primeiro difcuríò apontá- mos, eííão facilitadas , 6c por iífo fera eíle muita breve.

323 Primeiramente nosíubditosnao occorrea: Giiíicuidade do acerto na indiíterença, ourciòluça6. do que fe ha de obiarj por- que ella fo pertence a que manda 5 6c não a quem lo deve obedecer: fendo pri- vilegiofingular da ubedi- -encia.

foflTentecoflm. ^Tf

cncia, que podendo errar movero bem,aíííniíàbem

quem manda 5 & errando líiuitas vezesjfó o que obe- dece, ainda {^ç^^mào eíTes mefmos erros , fempre acerta. Do mefmo modo naóeíláo expoílos osfub- ditos àquella terrivel ten- tação,em que mete as ima- gens dos Cefares o eílar longe delles j porque fe as imagens, que os reprefen^ tão,eftáo longe, os que fe devem conformar com el- !aS) ainda que ellas fejaô disformes, fempre as tem àvifta. Finalmente,© íè- rem imagens, que tem as raizes na terra, tão fora ef- de íèr inconveniente, que he o que mais convém a toda a Republica. Os que nafcéraó, ou fecriáraó na mefma terra, comoas qua^ lidades de cada húa faó differentes , &: diíferentes os climas,6c influencias do Ceo quenelias dominão , & conhecem as inclina-

os meyos efficazes, & mais provados,com quefe pode obviar o mal. E de todas eftaspropriedades, & no- ticias,na6fó importantes^ mas totalmente neceífa- riasjcarecem os que vem de novo , Sede fora, fem lhes valer, como inexper- tos, nenhua ciência , òiÇ^ curíb, ou juizojpor agudo i & bem inftruido que feja. Adam & Eva tinhaó cien^ ciainfufa, & fabendo, co- mo náo podiáo ignorar, que as cobras naó fallavãoy por informação de húa delias, tendo-os Deos po- fto no Paraifo para gover- narem o mundo, o mundo, & o Paraifo tudo perderão em poucas horas.

^24 Pelo contrario, quiz Deos acodir ao peri^ go de fe perder total men- te, em que o Povo de If- rael eílava no Egypto 5 & a quem efcolheo para eíla

çoens,&: coílumeSjOu bos, grande emprefa de o con- ouviciofos dos que as ha- fervar,& livrar de taó po

bitãOjSc de tudo tem larga experiência , aíTimcomo podem fuavemente pro-

derofos inimigos } A pef- foa que efcolheo > foi a de Moyfes, o qual poílo que

3T<í

veíhdodcpelles, & com hum cajado na mão guar- dava ovelhas em hum de- ferto,na6 tinha menos que quarenta annos de vida, Sc experiência do mefmo E- gypto. No Egypto nafcé- ra 5 entre os Egypcios íè criáraj&nasefcolas do E- gypto aprendera quanto elles fabiaó : & por iííb não com outros inftrumentos , íenáocom o mefmo caja^ íio vcnceo todas as diííi- culdades, & confeguio fe- lizmente a emprefa , obra- do os maiores milagres, q jamais tinha viílo , nem vioomundo. Então que- remos que remedee os ca- tiveiros do Egypxo:,& faça milagres no Egypto, quem nunca vio o Egypto. O Profeta Abacuc quando Deos lhe mandou, quefof- feaBabyloniafoccorrer a Daniel, que eílava no lago dos Leoens , prudentiíli- mamente feefcufou , di- :2endo, que nunca vira a Babylonia , nem fabía on- de eftava tal lago; Bubylo- raníei. Tiem 71071 vidjy ^ lacumnéf- ^^ ^'^ ^JSi £ fefoi a Babyloíiia^Sç

vige/imafegimda tornou a Judéa , & fez em meyo dia pelo ar,o quehú diligente caminheiro naó podéra em meyo anno,foi porque o mefmo Arijojquc lhe deo o recado da parte de Deos , o levou, & trou- xe, & lhe moftrou o que nunca vira , & enfmou o que naó fabia. Suppofto poisque os que vem de mil legoas a eíía noífa terra,ta6 nova para elles, como Ba- bylonia para o Profeta, trazem , nem fao trazidos de Anjos em fuprimento das experiências que naó tem , & quando começaó a decorar os primeiros ru- dimentos delias 5 fe voltaõ outra vez para oiide vie- raój muito melhor provi- dos eftão hoje os lugares, que elles haviáo de occu- par,nos que com tanta ca- pacidade de conhecimen- to, juizo, talento,& verda- deiro amor da mefma ter- ra,a cultivarão como pro-' priaj& não desfrutarão co- mo alhea. E quando de feu cuidado , (Sc trabalho co- Iháoalgú fruto, QiYccin^in* d^mçno^ ficará onde naf- <:eo>

^'k

m

põflTentecoJien. 35"/

ceo, mie he o mefmo que experiência do Teu erro os

femearícde novo : & na5 dallo a terrajpara que o le- ve o mar.

32<r Todas eftas razoes de conveniência , & utili- dade perfuadem no pre- feri te governo a prompta fogeiçaó, &: alegre obedt- cncia dos fubditos, refpei« tandoeílas novas imagens do Cefar com tanto maior propenfaó , & vontade, quanto mais tem denatu- raesjdomefticas 5 & fuás. Mas he tal a protervia da condição humana , %c vi- cio táo próprio da pátria ; que por ferem naturaes* domeílicaSrScfuas as mef- masimagenS:, em vez de conciliarem maior vene- raçãOjObediencia , 8c reA peito, degeneraó em áç^C" prezo, defobedienc ia, 6cre- beldia. Ailimlhe fucedeo aSaul , &: a David, fendo ambos eleitos por Deos,&:

05 mais dignos do governo da fua pátria. Huns obede- céráo^outros fe rebelláraó,

6 em alguns durou a re

fogeitou à razaó. E fe buf- carmos as raízes a efte vi- cio, acharemos, que toda elie nafce da igualdade da$ peíToas, prefumindo cada hum, que a elle íe devia a eleição do lugar , & a pre- ferencia. A eleição do fum* mo facerdocio na peíToa de Aram foi tão mal recebida de muitos, que Datan , A^ biron , & Core levantarão tal tumulto no povo , que para Deos o focegar, & ca- ftigar os rebeldes, fe abrio fubitamente a terra, & vi- vos foraó fe pui ta dos no Inferno com todas fuás ca- fas,&familias , & abraza- dos com fogo do Çeomais dequatorze mil homens, que feguiraó a mefma re- belliáo. E porque a fegui- rão .^ Porque muitos deli es erâoiguaes, & parentes de Aram^,^ náo fofriaó que lhe foífe preferido. Mas^ tanto fente Deos, & táo fe- vera mente caíHga a ce- gueira de femelhantes am- bíçoens > tendo dado por

beldia naó menos que (ttc ley ao mefmo povoj que a,nnos inteiros i atè que a quando em algum tempo Tom,/, Z iij oa-

( J

"

•^ 95^ ^^'^i^^ÕdaT^ommgavigefimafegnnda

j ouveíTenide eleger quem que a repreTentaçaó 5 cm

Dcur 1 .«f

OS governaíTe a todos, naò foíTe outrem, fenaó de feus irmãos, & de nenhum mo- do homem eftranho : N.on J)õteris alterius gentis homi- nem Regem f acere , qni non fitfrater tuus. Fina 1 mente, fe como diz Chrifro .Se- nhor noíTo, o bom Paftor he aquelkjque conhece as fuás ovelhas, ôc as ílias ove- lhas o conhecem a elle:

Joann.

queellas confiílem, pofta em qualquer materia,fem- preheamefma. Quê ver- dadciraméte crè em Chri- ílo, tanto adora em hum Crucifixo de ouro, como cmoutrode chúbo. Qiie- rem com tudo os lifongei- ros,&: os liíbngeados, que íe devaó os governos,&: fejaó aptos para elles os nomes pompofos > &: ap-

EgoJumTaftor bónus 5 & pellidosilluíires: como fc çognofco oves meãs , & cog- as acçoens, &: feitos honro- nofcuntme meí^ : como as poderá governar, & enca- minhar bem o eftranhoj C&mais fefor Mercena* rio^ que nem elle as co- nhece açllas, nem ellas a elle?

5. IX,

31S

MAs contra tu- do iílo fe le-

vãtaaquclla politica mais fcguidapelocoílume, que approrada pelos exeplos, a qual tem perfuadido ao mundo, que olhe , ou fe deixe cegar do reíplandor das imagens, fcm advertir

fos fenaó hajaó de eíperar com maior razaô daquel- les,que querem aquirir a honra,que dos-qiiecuidaó, &: dizem, quejá atem. O meímo luílre dos illuílres lhes tira o temor, Sc os en- che, ou incha de inimuni- dade, quelhedaó confian- ça para grandes oufadias; & das ouíadias grades naf- cem maiores ruínas. O mais illuítre dos elemen- toSvOmais alto por lugar, &: o mais nobre por cálida- de, he o fogo , & delle fe acendem os rayos no Ceo, &:featea5os incêndios na cerra. O feu natural onde chc-

i

poJlTen'

chega, he levantar fuma ças,& fazer cinzas :& nao he acomodado inftrumert- to para edificar, & confer- var Cidades, o que coftu

todos faó honradoS5mas da nobreza do meyo. Epor-* que não fizeraó as Arvo- res eíle mefmo ofFereci-* mento aos Cedros , às Pai-

jnaabrazarTroyas.Osou- mas,&aosCiprefies^ Naa tros elemétos fervem-nos faó eítas Arvores entre to-» de graça,& o fogo à nof- das as mais altas , as mais fa cuíla, porque para fer- celebradas j as maisiílu» TÍrhadeterque queimar, ílres? Pois porque naó tr\r & fe naó queima, naó fer- tráraó cm cófideraçáo pa- '" * ' ' ' ra querer a verde , & flo-» rente Republica das plan- tas, que ellas a governaf- fem ? Por iíTo mefm o -, por- que eraô as mais altas, 8r as mais illuílres. O alto, &

ve. Tal he a luz do mais illuftre elemento : & tal muitas vezes o governo dos mais illuftres. Naó era illuftre David, &foi illu- ílriíiim_o feu filho Sala-

mão : & o Reyno, que fu- o illuftre he bom para o hi íl:entou,6c amplificou o^ zarro, & oftentofo , mas

naó era illuftre, perdeo, &

desbaratou o illuftriftimo.

327 NoApologoque

referimos da Efcritura fa-

frada , em que as Arvores ufcáraój&elegérao quem as governafíe he muito

naõ para o útil , & neceíla- rio. As arvores nao as fez Deos para bandeiras dos ventos, fenaó para fuften- to dos homens. Que im- porta que a fua altura, ou a fua altiveza feja muita,fe o

para notar, que aquellas, a íèu fruto he pouco > A quê

que oíFerecéraõ o gover- fuftentáraòjà mais os Ce-

no, foraó a Oliveira , a Fi- dros, as Palmas, ou os Ci-

gueira,6c a Vide, fem en- preftes ? Pelo contrario a

trar outra nos pelouros de- Figueira he a que faborea

íla eleição. Reparai agora o mundo, a OUveira,a que

nosappellidosdc Figuei- o alumia > a Vide,a que o

ía^Vide, §ç Oliveira, que alegra i U toda», entre as

Ziiij plaíi^

6o

Scnnao duT^on.

Eoclef. ^4 »7.

plantas as que mais o fu- ílentáo. O que diz a Efcri- tura das ou trás tres arvo- res ai tiírimas3& illuílriíli- mas, he, quetodas bufcaó a fua exaltação nos montes mais levantados: ^/^C^- 4rus exaltatafum in Liba^ no^ & quafi Cyprejjíis in m^^ teSion: quajt Talma exaU tatá f um in Cades. Hon- remfe embora com eflas arvores os Teus m5tes> que os noíTos valies naó hao miíter quem procure a fua cxaltação,fenão quem tra- te do noííb remédio. Os Cedros, as Palmas, & os Cypreíles faó os Gigantes das arvores, & o que trou- 5teraó os Gigantes à terra > náo foi menos que o dilu- vio. Oh que duro feria o governo daquelle foberbo Triunvirato no forte do Cedro, inflexível j no ru- gofoda Palma, afpero-, & no funefto do Cipreíle, rriíle ! Porém o das outra$ arvores de meãaeílatura, feria igual, feria modera^ do, fcaa fuavcque por iífo todas allegáraò a fua do- çura. Jp, iíto he pelas mpf-

^iga vtgejtmafegit7iãa mas razoens o que deve- mos efperar do noíTo.

328 Sendo poistaó particulares as conveniên- cias do novo governo nas imagens, que temos prc- fentesjdo noífo feliciífimo Cefar, que Deos guarde , feja também noTa,& mais exacta que nunca a fogei- çaó, refpeito, & reveren- cia, com que todos os vaf« fallos da mcfma Magefta- deos venerem , & obede- ça õ, naó como fe a Real PeíToa eftivera prefence» fenaò em certo modo ain* da muito mais. Tenho ob* fervadoaílim no Ceo co^ mo na terra, que mais eíti- maô os fupremos Monar-r cas os obfequios , que fe fazem a fuás imagens, que a fuás próprias PeíIbas.Lé- brame haver lido em S. Agoílinho no livro dos feus Comentários fobre 05 Pfalmos,*quc reíidindoem Romano tempo, em que ainda naô eílava deílerra.» da de rodo a idolatria , fc admirava muito de queos homens foíl em aofTcmplo fio Sol; de que hoje fe vem íiaQ

põJiTentecõften. 5^1

naó pequenos veftigios, & que naó mandou, que o

que alli de dia , & naõ de noite adoraífem a imagem domefmoSol com as co- fias muitas vezes voltadas a elle ? Pois fe tinhaó o Sol

adoraíTema elie , fenaóa fua Eftatua ? Porque era maior oftentaçaojSc gloria da fua5que chamava om- nipotência, fer venerado,

prefente, porque naó ado- & adorado na imagem, que ravaôao Sol, fenaó a fua oreprerentava,que em fua imagem > Porque entcn- própria PeíToa.

deo a religião, ou fuperíli çaó dos Romanos , gover- nada pelos primores da fua própria politica j aue mui- %o maior mageftaac era do Monarca dos Planetas fer venerado de taò longe em fua imagem , do que

529 Soem huacircun- ílancia obrou Nabuco co- mo defconfí ado , que foi cm fazer a mefma imagetn de ouro. Faze-a,Rey> d^ pedraj6c feráó as fuás adoM raçoens pira ella muita mais reverentes, & para ú

adoradoemfymefmo,po- muito mais gloriofa*s. Na ílo que viilo. Ao menos af- Eftatua de ouro podo pa? íimhe certo, que o julgou recerque adoraó a mate-» a foberanía de Nabucodo- ria,6cna6 a forma, o preçQ riofor, quando fe reputava do metal,&na6 a reprefen-* fuafoberbanaõfôfenhor, taçaódaimagem.Onde a mas Deos detodo o mun- do. Fez aquella Eílatua de ouro de tão defmedida grandeza comofabemos, & com as fornalhas acefas contra os que a naó adoraf- fem, mandou, que ao fom de trombetas todos do- braíTem os joelhos diante delia. Pois fe Na bucodo- -|iofor eílava prefence,por-

matéria das imagens he menos preciofa ^ alíi eftà a fé,'6ca reverencia mais fí* na. Eefta he aiineza do noíTo cafo, adorando , ref* peitando,6ç obedecendo o original foberano do noílo CeíarjOaò nas imagens df ouro, que atègora fe manda vaó, fenaó nos már- mores naiuraes , U dome*-

^^2 ^^^^^oda^Bomingavígepmafegunda íticos da noííli mefina ter- to do fervico Real , & Di- rá. Seo eíFeito for qual fe vino.que com fumma paz, cípera, & eu me eftou pro- quietação, & concórdia fe iTietendo defta mudança verifique em todo efteEl- tíamacdoAItifiimoiOpre. tado,oqQe Chriílo refpó- ícnte governo fera taó deo à pergunta, que hoje aceitoa peos,&ao Rey, Ihefízeraõno Evangelho, queSuaMageftadcocon. iftohe^quea Deosfedèo íirme , & faça perpetuo : de Deos , & o de Cefar a com menos á^Ç^t{2. fua, Cefar : Reddite quét funt com grandes utilidades C^faris.Cafari.&quafunt noílas, & com taó conhe» 'Dei^^Deo. cidas melhoras, & augme-

SER.

3<í3

ààkààÈ ^à^ààààààààààMà^ ffffffffffff^fffffi=ffl'i

SERMA

DE NOSSA SENHORA.

DA GRAÇA.

ORAGO DA IGREJA MATRIZ DA CIDADg

do Parájcuja fefta fe celebra no dia da AíTump- Ção da mefma Senhora.

Mma. opúmam partem elegtt . Luc . i o.

'■'■^BiM^ Rande día,grã'^ È» de Feira :, grande Evangelho : & ííixi»^ grande difficul- dade também a de cócor- dar com propriedade , & verdade o concurfo deílas três obrigaçoens. O dia he grande i porque he aqiielle ferniofodia,emquea Vir- gem Maria, depois de pa^

gaf o tributo à morte> co*

mo verdadeira filha de A^ damjrefufcitando logo co mo verdadeira Máy de Deosjfubio ao Ceo a gozac para jfempre a gloria defua) viíla. A feíla he grande i porque he da Senhora da Graça, titulo defta Igreja Matriz, a primeira, Sc ma- ior de húa tao dilatada Provincia,& cabeça de to>« das.Q Evangelho he graiv dej;

j^4 SermaUe

de > porque nelle debaixo bridadc do me/mo titulo

Martha&Mariaferepre- ção da mefma Senhora,

íencaó as duas vidas a£ti va, (Sc contemplativa , em cujo complexo fe contém, Sc côprehende toda a per- feição Evangélica. E he fi- nalmente grande a àim- cuidade de concordar o concurfo deRds três obri- gaçoensj porque fendo a gloria o fim , &: a graça o meyodea confeguirjante- Jori

naó confta , nem ficou em memoria. Mas neíta q pa- rece fem-razão, & impro- priedade, acho eu três gra- des propriedades, & ade* quadas razoens. A primei- ra,porqueagraçahe o di- reito por onde le deve aos Juílos a gloria: aíegunda, porque a gloria fe diílri- bue a cada hum pela medi- por a graça a gloria , & o da da graça: a terceira,por- iiieyoao íim,náo parece que quando acaba de fc diíTonancia , fenão defor- aperfeiçoar a graça , entaó

dem maníFeíla : & porque applicando o Evangelho a melhor eleiçaÓ,&: a melhor parte à gloria da Senhora, em vez de celebrar a mef- ma gloria no dia de fua Aífumpção , trocala pelo titulo da Graça,tambê pa- rece impropriedade, por lhe naó dar nome de iniu- ítiça.

331 O motivo queti- veraò os antigos fundado- res,para que havendo Ic

fe começa a poíluir a glo- ria. £ como o dia em que fe cerrou o direitojcm que fe igualou a medida, 6c em qucfeconfumou a perfei- ção da graça immenfi da Máy de Deos,foio mefmo dia da fua gloriofa A fi um p- çaó : Sc naó em ditierentes horas , ou momentos da- quelíe dia,fenaó na mefma hora, & no mefmo momc- to,emqueacabou decon- í limar a immenfidade da

yantado eíle Templo de- graça,começou a Senhora baixo do titulo da bcnhora a gozar a inimenfidade da da Graça , unilfem a ceie- gloria j não foi piedade.

m

íí:

Noffa Senhora àa Graça. 3 ^f Ôcdevaçaó particular, fe- em queviveo neftemun- naó juftiça , que nefte dia do,fempre creceo mais , & foífe celebrada, co tno he , mais atè o ultimo inftante com titulo de Senhora da da vida. Logo em nenhum Graça. Tanto aíTim, q em outro dia, fenaóno ultima nenhum outro dia,ou fefta da mefma vida, que foi o da Virgem Senhora noíTa mefmodia da AíTumpçaá fe lhe pode dar própria, & da Senliora, fe podia,&: de- cabalmente o titulo da via celebrar própria, & ca- Graça/enao nefte. Epor- balmente a fua graça 3 por- que \ Porque em todos os que naquelle dia fe aca^ outros dias fempre a fua boudeconfumara mefma graça hia crecendo, nefte graça em toda fua perfei- chegou ao fummo grão ^aô,&: grandeza. E iftohe de fua grandeza , & fe vio o que faz efta nofla \ greja; toda junta, &confumada. 3^ Masporqagraçada No dia da Conceição foi a Virgem Maria foi cófumaJ Senhora còcebida^cm gra- da no dia,em que acabou a ça , mas eíla graça creceo vida temporal, & a gloria delHe a Conceição atè o da mefma Senhora també Nafcimêto,derde o Nafci- foi confumada no dia, em mento atè a Prefentaçao que começou a eterna-, pa- no Téplo, & dcfde a Pre- ra entrar naaltiflimaque- íèntaçaóno Templo atè a fl:ão,quefe naó pode evitaç, Encarnação. No dia da En- neftes ternios,& nefte dia , carnação efteve a Senhora entre a graça , & gloria da chea de graça,mas eífa gra- mefma Senhora,ambas có^ ça foi crecendo até a Viíi- fumadas: 6c para refolver a taçaó , da Vifitaçaó atè o qual pertence, conforme a Parto, do Parto atè a Puri- noflb Thema,a eleição da licação, da Purificação atè melhor parte, Mana optU aMorte,&Refurreição,& mam partem ekgit % peça- Afcençáo de feu Filho , & mos à mefma Senhora da por tantos ajançs depois, Gloria,& da Graça nosaC-

6^

i

^65

áíta de tal modo com graça, q a mereçamos ver na fua gloria . Âve Maria,

§. II.

Maria óptima farte elegit.

333 /^^Ccupada Ma-

V^ ria com toda a

fua attençaó em ouvir as

Sermão de

fua próprio , applicaa Igreja Catholicaà,prerente íblé* nidade da gloriofa Af-, fumpçaó da Virgé Senho- ra noíía. Naó comparando Maria (^a Magdalena } a Martha , mas preferindo MariaCaMáyde DeosJ) a toda a Corte celeílial An- jos, & homens. Divide a gloria doCeo em duas par-

palavras de fcujôc noíTo di- tes,húa, que comprehende vinoMeftre, a (Tentada a todos os Bemavéturados,

feus figrados pès : Sc occu- pada tam.bem Martha com todo o feu cuidado nas prevençoens,& policias da inera,em que havia de fer- vir,& regalar a taó fobera- nohofpede: Maria enten- dêdo,que ainda erriley de cortefia era maior obriga- ção a da fua aíliílencia: & Martha queixofa de qfua Irmãaa deixaíTe i ref- pondco o Senhora queixa dehúa ,& accdio pelo fi- lencio de outra, pronunci- ando como oráculo divi- no,que Maria efcolhéra a melhor parte: Marta opti- mampartemelegtt. Efta hi- íloria tomada em allego- ria,por naò ter Evangelho

outra,que unicamente per- tence a Maria , &: efta can- ta j& apregoa, que naó he melhor de qualquer modo , fenao em grão fu- perlativo óptima , Ofti^ mam partem ekgif.

334 Poreftemodofé concorda muito acomoda- damente o Evangelho a gloriada Virgem Senhora noífa j mas a fegunda diííi- culdade, que refervamos para eíle lugar, naóconfi- fte em concordar o Evan- gelho com a fua gloria , fe- naó com a fua graça. E que feria fe eu d i iTeífe,q m u i to mais própria mente fecon- cordaóo mclmo Evange- lho,ôc as meíniás palavras com

Nvffa Senhora ãa Graça, ^ 6j

çonio titulo da Graça,que de quem confeguio a opti-

com o da Gloria da mefma Seuliora Aílimo digo, &: aílimoprovo. Porque tu- do o que Maria acquiria aospèsde Chriílo , & as

m^Lfiptimam partem ekgit. Na cóparaçaó literal, Ma- ria Magda lena foi preferi-» da a Marcha na melhoria da graça : na comparação

melhoras em que foi pre^ allegoricajMariaMáy de ferida a fua Irmáa , hiílo Deos foi preferida a todos rial,literal,& propriamen- os Bemavérurados na me- te eraó da Graça, & naó da Ihoria da gloria. Porém na Gioria.Cóíirmafe do mef- comparação noíla, & deílar mo Texto,o qual ò^iz^ que Igreja particular, em que a Maria eíiava ouvindo ao feftejamos debaixo do ti-

Senhor: Audiebat ver bum illiiis. Naó díz^que via, fe- naó que ouvia, & o ouvir, que he o fenuido da fé^per- tence a eíla vida^onde a al- ma fe melhora pela graça , & naó à outra , em que fe

tulo da Graça , nomeímo^ dia, em que a Igreja uni- verfal a celebra debaixo do titulo da Gloria : quan- do a comparada não pode íèr fenáo a mcfma Senhora comíigo,nêa comparação

beatiíica peia viíla. Logo pôde íer outra, fenáo entre quanto à concórdia do E- a mefma Graça,&a mefma

vangel ho to o titulo , mui- to melhor concordado o temos CO o titulo da Gra- ça, que com o da Gloria» Porque à Gloria íóCc attri- bueem parábola , & por acomodação, & da Graça falia hifto;ial, própria, 6c naturalhi ente.

3 5f S o reíla a compa- ração de húa parte boa, &c ©urra melhor, & a ventagê-

Gloria ; a qual deites dous títulos havemos de dara^ preferencia, & de qual ha- > vemos de dizer-. Mar moj?" ttmam partem elegit : de Maria em quanto Senhora . da Graça,ou de Maria em quanto Senhora da Gioria?^ Eíte íerà o altiílimo ponto do aojílxj difcurfo. E poílo que ambos os títulos na Máy de Deos fejáo iramê- fosj

363 " Sermão ãe

fos y para maiór gloria da do com a fombra ? Será co-

iTiefma Senhora, daremos mo hum homem compa-

a preferencia ao titulo da rado com húa formiga?Se-

íua Graça. Ohfeamefma como hum Serafim có-

Senhora da Graça nos aíli- parado com húa borbole-

íliíle com a Tua para pene- ta ? Não. Porque a pedra ,

trarmosjou nos deixarmos &odiamante,o Sol ,6c a

bem penetrar defta verda- de!

§• IIL

fom bra, o homem,& a for- miga,o Serafím,& a borbo- leta, tudo faó coufas natu- raes , 6c criadas por Deos em quanto Author da na- tureza: & como faó natu- raes , nenhúa delias tem comparação com o quehe fobrenatural Tanto aílim.

L 33^ 13 Ara demoftra- \ çáo, & intelli- gencia delia [ que não he fácil ainda aos maiores en- tendimentos] havemos de

fuppor, queaíTim a graça quefeDeos criaífe, como

como a gloria, faó bensfo- pôde, outros mil mundos

brenaturaes. E fe me per- mais perfeitos que eíle, &

guntardes [ como deveis povoados de creaturas

perguntar, ou todos, ou muito mais nobres ,& ex-

quafi todos } que coufa he cellentes, fempre o fobre-

bem fobrenatural? Haveis natural as excederia incó-

defaber,quehehumbem, paravelm ente. Porque he

o qual na nobreza , no pre- gráo muito fuperior a tu-

ço,6c na dignidade excede do o que comprehende em

atodososbens danature- fyaesferada natureza. E

íza,aírim viíiveis, como i^- taes faó a graça,&: a gloria,

viliveis. E para que decla- que fe podem comparar

remos efte exceífo com ai- entre fy,como nós as coni-

gum exemplo: fera como paramos neíta noíla que-

hum diamante compara- íláo.

do com as pedras da rua .^ 337 Digo pois, outor-

$erà como o Sol compara- no a dizer,que havendo de

£a.

Noífã Senhora daGrãç a. ^69

fazer efcolha entre a glò- &:adadivadeprerente>co-

ria,Sca graça, coniornieo noíTo TÍiema , Maria opít- mam partem eíegit , antes devemos efcolíieragraça, que a gloria. E iílo não por húa razaó, fenaó por mui- tas. Seja a primeira , por- que a graça envolve com- íigo a gloria : & ainda que poíTa haver graça fem gío- ria, não pôde haver gloria fem graça. A graça he fun- damêto da gloria, & a glo- ria he confequêcia da gra- ça; a graça a ninguém he devida, &: a gloria he devi- da a todo o que eftà em graça. Diz o Apoílolo S. Pedro , que na graça , que hea forma com que Deos nos faz participantes da natureza divina, nosdeo as maiores5&maisprecio- fas promeíTas. Eíle he o fentido daquellas pala- vras : Ter quem maxima^& ^^^'^ pretiofa nobis promiffa do- *■ navit^ utper h£c ejficiamt' ni divina confortes natura. De forte que na dadiva nos deo Deos a dadiva, & maisaspromeíFas. Mas fe

mo nos deo as promeíTas dadiva ? Porque as pro- meíTas futuras faó a gloria, & bemaventurança , que havemos de gozar noCeo, a dadiva preíente he a gra- ça de que gozamos na terra : ác porque na graça fe envolve a gloria5& bem- aventurança , que lhe he devida , por iíTo quando nos deo a dadiva , nos deo juntamente as promeílas: Máxima^ Ò']pretiofa nobis promijfa donavit.

338 AíHm declaraóef- tefamofo lugar de S. Pe- dro os mais doutosjôc mais literaes Expoíitores , mas eu tenho outro melhorEx- poíitorque todos elles, o Real Profeta. ^Àa míferi- ^^^^^ cordiam , & ver it atem dili- 83! 1 2^1 git 'T>euSigratiam , à* glo- riam àabit T)õminus. Por- que Deos ama a mifericor- dia,6c a verdade , por ií!Co. dará a graça, & mais a glo^ ria. Reparemos muito na-^ quelie, ^uia ; porque.Pois porque Deos ama amife-» ricordia,6c a verdade: por-

ás promeíTas faõ de futuro, que Deos xnifericordio-

^70

Sermão í^e

fo,& verdadeiro , eíTa he a razaó , ou eíTas faó as ra- zoens porque ha de dar a graça , & mais a gloria ? Sim. A graça 5 porque he mifericordiofojèca gloria, porq he verdadeiro. Co- mo a graça com que Deos nos perdoa os peccados, 5c nos reconcilia comíigo^a ninguém he devida, toda he liberalidade, & dadiva de fua mifericordia : po- rém a gloriajcomo Deos a tem prometida a todo o q efti ver em graça, toda per- tence à fua verdade, por- que como verdadeiro naó pôde faltar ao que pro- metido. Excellentemente S. Agoftinho : lllequi tri- buit mifericordiam Jervat *veritatemy indulgentia do- fiavitycoronamreddet . Do- nator efiindidgent ia ^debitar coron£. O mefmo Deos Cdiz Agoílinho } que na graça nos moftrou a fua mifericordia, na gloria nos moftrarà a fua verdade. Na graça a fua mifericor- dia, porque nos deo a in- dulgência que naó devia > & na gloria a fua verdade ,

porque nos dará a coroa de que fe fez devedor;2)í7. nator indidgentia , debitor corona: Sc o modo com que. fe fez devedor naó he por- que recebeífe de nòs aJgúa coufa,que nos haja de pa- gar, mas porque elle nos prometeooque naó pôde deixar de cumprir : í)^^/» l^orem "Dominiis ipfefecitfey nonaccipiendo , fed promit- tendo. Non ei dicttWyredde quodaccepifti-fedredde quod fromififti, E como nos ar- chivos da graça eílaó de- pofitados os créditos da gloria , vede fe fe deve an- tes efcolher a graça, que a gloria, poisa graça , 6c a gloria tudo pertence à gra-

ça.

339 Por efl:a conexão infaliivel da graça com a gloria chamou S.Paulo bé- aventurada aefperançn,có quenefta vida efperamos a mefma gloria : Expeãan- tes beatamfpem , é^ adven- 2 1 j/'^' tíim gloria magni T>ei. Mas para que nos naó engane- mos com eíla efperança, como com as demais, que tanto coílumáo enganar i

^

Noffa Senhora da Graça. 3 / 1

hc neceíTario advertir , ventagem à correfponde-

que ha húa grande diífe- cia do amor infinitamente

rença entre os fundamen- defignal, mas reciproca do

tos delia. Olugardaefpe- homem para com Deos, &

rança he entre a fé, & a ca- de Deos para com o home?

ridade ; Te a efperança fe A verdade deíla ^-^—

funda fomente na fé> nani he verdadeiramente bem- aventurada , porque tem a bemaventurança duvido- fa: mas fefe funda na cari- dade, que he a graça , en- tão hc certamente bem- aventuradaj&fem nenhúa duvida-, porque lhe naó pôde Dcos negara bem- aventurança, & gloria que efpera : Expeõfantes beata fpemy & advent um gloria magni ^Dei.

$. IV.

5^0 A Segudarazaó yl^j^porque mais íè deve efcolher a graça, que a gloria , he tirada cia definição , & eíTencia de húajSc outra. Agraçacon- íiíle em amar,&fer amado de Deos,a gloria em ver ao mefmo Deos : &: pofto que o ver a Dcos feja a maior felicidade, quem negará a

fobera- nillima correfpondencia o mefmo Deos a fez de fé, quando diífe: Ego diligen^ tes me diligo,M2iS ainda cô- parado o ver a Deos c6 o amar a Deos de noíía parte -, nenhum entendi- mento haverá jufto, & def- intereffado, que naó efco- Iha antes o amar. E fenão tomemos por juizes aos q mais vem, 6c maisamão a Deosjque faó os Serafins. Ao lado do trono de Deos noCeo vio o Profeta Ifa- ias dous Serafins, os quaes com duas azas cobrião os olhos, & com outras duas abrião o ^Q\to'fDuabus alis n^i^^^ ^oelãbant faciem ejus , & duabus volabant. Todos os Anjos vem , 6c amão a Deos,6c quanto mais vem^ mais amá05 6c quanto mais vem , & mais amáo, mais alto, ^ mais eminente lu* gar tem cada hum na fua Gerarchia. PoisfeosSe- A^aif raíins

I

J

B7^ Sermão de

rafínsfegundoefta ordem, Dcos; porque mais fepre-

aílim como tem o fupre- zaò os Serafins, & maisef-

mo lugar na fuprema Ge- timão na felicidade fupre-

rarchia, aíTinifaõ os que madofeu efladoaíingula-

maisvem, &mais amáo a ridadedoamor , q a pree-

Deos, como fe moílráraó minenciadover. PoriíFo,

ao Profeta com os olhos como nota S. Dionyfio A-

cubertospara naõ ver, & reopagita,a denominação

lo com o peito aberto para do entendimento, queíao

amarPParaamar digo, 6c osolhos com que fe a

para mais amar j porque o Deos, a deixarão aosChe-

movimento das azas [naò rubins,queeílãohumgráo

fendo para voar , porque mais abaixo , & tomáraó

eftavão firmes ) mais era para fy a antonomafia do

para tolerar o incêndio do incendio,com que fe abra-

s

amor, como dizem huns S3nchcs Interpretes , ou para mais

Cornei. í _ '.

bic. oexcitar,&acender,como dizem outros. Pois fe tan- to amão,6c tanto, &: tão ar- dentemente eíláo amado j como parece que api^gaó

záo no amor do mefmo Deos , chamandofe Sera- íins,quequer dizer os ar- dentes. A fegunda razaó, & muito mais alta, he, que fechaó os olhos, quando

^ - -^ 1" 'o-^ abrem o peitOí porque tem

com huas azas o mefmo q por maior fineza, & mais acendem com outras; & digna do mais perfeito

r. ,_- 1 f

como negaó ao mefmo amor a viíta do objedlo amado.^

341 Duasrepoflas tem eílabem fundada duvida. A primeira, que cobriaó osolhos para não ver,quã- do abriaõ o peito para amar, fendo o objeítoda YÍfia,&doamor o mefmo

amor o amar fem ver, doq amar vendo. Heoq enca- receo S. Pedro nos primei- ros ProfeíTores do Chri- ílianifmo, dizendo, que fem ver a Deos o amavaó .• ^tem chm non videritis di* ligitis. E he a dilFerença \.%!''' verdadeiramcntcScrafica, çomqueamao na terra os bem-

Nopi Senhora da Graça. ^73

Bemaventurados da gra- eflasduaspalavraSjnãodu

çaj& no Ceoos da gloria. Os da gloria amáoaDeos, masvendo-o: os da graça também o amaó, masfem o ver.

34.2 E fe eíla ventagê tem em quanto fomente amão a Deos,que he huma parte da graçajque fera em quanto J^mão a DeoS5& faó amados de Deos, em que coníiíletoda ? Eíla reci- proca correfpondencia de amor entre Deos, & o ho- mem, queeftà em graça, declarou a Alma dosCan-

nai( enTU

vidou de chamar a cada húa delias infolente , &c a ambas infolentiílimas: In- foLens ver bum , ò* ego iUi : nec minus infolens dileãus r>.^er~ meus mihi : nifi quod utro queifífolentius utrumquefi'^^ mui. Mas a Alma que ifto diíTe, era hua Alma, q eíla- vaera graça, & he tanta a alteza5aque amefma gra- ça levanta a Alma, naó em quanto ama , fenáo em quanto ama , & juntamen- te he amada de Deos ; que o que podia parecer info lencia da parte do homem

tares, quando diíle : 'Z>/7<?- ^ Bus meus mihi 'iò' ego illi: da parte de Deos he jufta Deos he o meu amado, & condecendencia , tratan-

eufouaamadadeDeos. E fendo Deos quem he por íiia infinita grandeza, & fo- beranía: & fendo o home quem he (^ ou que naó he 3 por fua vileza, &: baixeza, emrefpeitodeDeos tam- bém infinita ; quem have- rá que naó eílranhe, & fe aííbmbre defta confiança, &; igualdade de fallar : iUe

dofe com tal familiaridade Deos com o homem, & o homem com Deos, como fe foraó iguaes : ^ajtex £quo moremgererey& repen- dere vicem , como nota o mefmo S.Bernardo. Com- paraime agora o amar a Deos no Ceo por razão da vifta, com eííe fer amado de Deos na terra por razão

mihiy& ego tUi'. Elle o meu da graça. Os Bemaventu-

amado,& eu a fua amada ? rados no Ceo diráó, q por-

S, Bernardo comentando que vem a Deos, amão ne- ,

Tom. 7. Aa iij ceíía-

^4

3/ +

ceflariamente a Deos nos diremos na terra, que porque eliamos em graça de Deos , fomos amados neceíTariamente de Deos. Sobre eíla minha propoli- çaó, cabia melhor ainda a cenÍLira de infolente, fe- nâoforadeféjcomohe. Se a viíla de Deos neceílita aosBêaventuradosa amar aDeosjtambem a graça ne- ceílita a Deos a amar ao homem. A viíla neceílita aos bêaventurados a amar a DeoSjporque não podem deixarjnemceíTarde amar a Deos vifto : & a graça ne- ceílita aDeos a amar ao ho- mem , porque não pôde Deos deixar,nem ceifar de amar ao homem , que eílà em

;raca.

§.v.

343

tagem

A

Terceira ra- zão, ou ven- porque prefcín- dindo a graça da gloria ( q heofcacido em que falhi- mos J fe deve antes efco- Ihera graça, he, porque a graça faz ao homem íilho

Sermão de

& de Deos, a gloria herdeiro. Se os homens conhecerão o que encerra eíle nome fi- lho de DeoSj& como a gra- ça não nos o nomejfe- não o fer do que o nome fignifica , que difFerente- mente eílimariâo em fy,& reverenciarião nos outros efte nafcimento infinita- mente mais que Real! Sc nafcer de Felippe em Hef- panhajOudeLuisem Fra- ca , ou de Ferdmandoem Alemanha,fetemcom ra- zão pela maior fortuna j qual fera a daquelles, dos quaesfedizcom verdade: Non exfangumibíiSy fed ex .^^ ^eonatifunt^ Os outros i «s- nafcimentos eílimãofepe- lofangue, o dosíilhos de Deos por não fangue. Mas a caufa de os homens nam fazerê deíle altiíllmo naf- cimento a eílimação que mercccjhejporque naó co- nhecem a Deos. Se não co- nhecem o Pay 5 como hão deeíHmarosíilhos.^ Aílini o poaderou com profun- diílimo peníiimento o E- vangeliftaS. Joaó : Vídete^]oi% qualcm charitatem dedit no^ ^ '

NojJ^ã Scyih o ra da Graça. Í7'S

bis Tater^ utfilij t>ei nomi- naó diz aíllm, fenão que O

nemítr^&Jtmus.Tropter hoc mundus 710)1 novitnos^ quia nonno^vit eiim. Vede o que chegou a nos dar a immen- fa caridade do eterno Pa- dre, hum dom táo excel- lenteyíScrobre humano, & hum foro táo chegado a fua própria divindadcjque naó nos chamemos fi- lhos de Deos^mas que ver- dadeiramente o fejamos. E fe o mundo não eftima como devia aos que fomos filhos defte Pay,he5porque o não conhece a elle: -Pr í>/- ter hoc mundus non novit nosyquia non novit eum.Qo^ moíediííera a Águia dos EvangeUftas : Eu foudef- prezado, porque o mundo conhece o Zebedeo de quem fou filho por natu- reza,&não me eftima co^ mo devéra,porque não co- nhece a Deos,de quem fou filho por graça.

34.4. Notai o que diz, & não diz S Joaô. Parece

mudo não nos eftima,por- que não conhece a Deos, de quê fomos filhos : Trop- ter hoc mundus non novit nos, quia non novit eum. De íbrte,que porque o munda nos não conhece por filhos* de Deos, fe fegue que nani' conhece a Deos ? Sim. E a razão he^ porque prefume, & faz conceito de Deos,; não como de Deos j fenáQí como de homem. O ho'-> fóprefilha, & faz^her-^ deiro ao íervojquandõ náo{ tem filho próprio. Aílim;^ áií^Q Abraham a Deos,que fuppofto não ter filho/ería feu herdeiro Eliezer íeu fervo : Ego v adam abf que liberis : & Eliezer vernacu-.Pl''''^^; lus meus yh ares meus erit. E ^ ^ depois que Deos deoa Ar^^ braham hum filho , que foi:;- Ifaac, difie Sara fua mu- lher, que lançaífe fora a If- mael filho da efcrava,pórc

òi t

que não ha via de fer hér-ii' deiro com feu filho .' Ejice^ que havia de dizer, que o ancillam^ò' jilium ejusy nàn ^l^f* mudo não nos eftima, por- enim erit bares fiítus ancil^^ que não conhece que fo- la cum filio meo Ifaac Iftoí mos filhos de Deos : mas he o que fazem os homês ,

(Aa iiij &o

Roman 8 i6.

37^

& o mefmo prefume cuida de Deos quem o não conhece : ^ma non noxtt eum. Como Deos tem íilho próprio 5 & natural, igual em tudo a fy mefmo, 8c nòs os homens fomos fervos, cuida o mundo ignorante, que naó havia de fazer Deos aos fervos herdeiros com o filho. Mas he tanto pelo contrario, que para que os fervos foíTem her- deiros com o filho , fendo fervos por natureza,os fez primeiro filhos por graça. ExpreíTamente S. Paulo; Ipfe enirn fpirltiis teftimo- niumreddit fpirtttú nojiroy quodfumusfilij ^et. Si fu» temfilij^ é^haredes : h cre- des quidem T^eiy coháredes éLutem Chriííi : fitamen cÔ- Jyatimuryiít & conglorifice-

34^ Neíla ultima pa- lavra conglorificemur , & na palavra coháredes declara o Apoílolo , que aílim co- mo a graça nos faz filhos, afiim a gloria nos faz her- deiros. Para que nòs ago- ra vejamos fe nos havemos

Sermalde \

& ros,que de filhos , & fe ha- vemos de eftimar mais a herança, ou o naícimento. onde os Pays faó ho- mens, pôde fuceder,&fu- ctáG muitas vezes fer o nafcimento tão baixo , 8c tão vil,& a herança tão co- pioíaj&tão rica,quc fe def- preze o nafcimento, & fe eftime a herança; mason» deoPayhe Deos, tão infi- nito na nobreza, como na eíTencia, ainda que feja a gloria a que nos faz her- deiros, claro eítà que fem- prc havemos de eíhniar> naófó maisjfenaó infinita-

mente mais , a graça, que nos faz filhos. Efie foi o er- ro, & o acerco daquelles dous filhos do Pay, que re- prefentava a Deos , hum louco,outrofezudo. O lou- co, que era oProdigOjem vidadoPay pcdio que lhe dèfle afua herança, por- que eílimava mais o fer herdeiro,que filho: porem ofezudo, que era o irmão mais;velho, deixoufe ficar fempre na cafa do Pay fem fallar, nem fe lembrar da

de prezar mais de herdei- herança, porque tanto me*

no^

Nojfa Senhor a nos eftimava a herança, que o nafcimentOjComo íe fora filho,& naó herdei- ro. E ifto he o que deve fa- zer todo aquelkjque com juizo maduro , & inteiro comparar a graça, & a glo- ria.

§. VI.

1^4,6 A Quarta razão s' ' Jtlk, deíla preferé- cia he taò fútil , & bem ar- guida como feu Author. Aquillo he melhor ( diz Efcoto } cujo oppofto he peor : o oppofto da gloria, quecófifteem vera Deos, he nao ver a Deos : o oppo^ Ào da graça , queconfifte em amar a Deos , he na6 amar à Deos : logo me- lhor he a graça , que a glo- ria , porque peor he na6 amar a Deos, que he o op- pofto da graça , que naó ver a Deos,que he o oppo- fto da gloria. E que feja peor naò amara Deos, que naó ver a Deos , he mani- íeftoj porque naó querer ver a Deosynáo pôde fer licito, fenão meritório , &c q^uerer não amar a Deos^c

da Gr aça, 577

não he íêmprepeccado, & graviílimo peccado , masnãohe poílivel moti- vojquéofaça tolera veljOu licito.

547 No Teft a meto Ve- lho, & Novo temos dous famofos exemplos defta Theologia nos dous maio- res Heroes da caridade, Moyfes & Paulo. Determi- nado Deos a acabar de húã vez com o Povo de Ifrael pela idolatria da bezcrrói oppoz-fe Moyfes a efta de- terminação, que Deos lha revelara jdizendo: Aut di- mitte eis hanc nexam , aut gxocf, Jinonfacis -ideie me de libro P-^i^- tuoy quemfcripjifti. Ou vos, Senhor, haveis de perdoar ao Povo efte peccado , ou fenaó fazeis o que vos pe- ço,rifGaime do voífo livro. Efte livro,GomQ confta de muitos^ lugares da Efcritir- ra,heolivroem que efta6 efcritos os que faó prede- ftinados para a gloria. Mas paremos aqui, & vamos a S.Paulo. S.Paulo decla- rando o grande ^ntímeii-^ to que tinha de ver como' os da fua nação naôque- ria6

37^ Sermão de

crer em Chriílo , & fe vem que fe embarcaó para

precipitaváo obftinada- eftas partes, ou outras po-

mente a perpetua conde- voadas de Gentios,os Mi-

nação, diz que por elles niftros Evangélicos , nani

defejava fazer hum tal fa- fe podem perruadir,fenaó

crihciode fy mefmoa queostraz,ouleva aellas,

l>»eos,que Deos o privaífe algum motivo de intercf-

eternamente da gloria,qiTe fes temporaes. E certo que

confifte na fua viíla , com para desfazer efte eno-ano

tantoquc a mefma gloria, bailava a cófideraçáorque

de que elle fe privava, a fazia hum homem muito

ouveíTem ç\\tB, de gozar

crendo em Chriílo Jfto he

o quequerem dizer aquel-

las animofas palavras : Op-,

tabam ego ipfe anathema

IT"' €e à Chrtfto pro fratribus

ç .,,. meis^ quijunt cognati mei

!■■ fecundum caYnew. E aíllm

entendem eíleTexto,&: o

bem entendido, quando fe embarcava de Roma para os defterros do Ponto Eu- xino: Vel quo fefiinas irey velundey -vide : Olha donde yàs,& para onde. Eífesjcu- jos intentos taó groífeira- mente julgais, vede donde vem,& para onde: & coii-

de Moyfes S Joaó Chryfo- fiderai '( ainda têmpora,

ftomo, Theofílado, Ecu- mente) o que làdeixão,&

meniojRupertOjCaíIiano, oquecàachaõ. Mas a rarl

Origenes, S.Bernardo, & zaó porq avaliais taó bai-

^ntre Theologos, & Inter- xamente os rifcos dos ma

pretes he a fentença mais literal,& comum.

348 Antes porém que <perremos efte ponto nam quero paíFar em filencio hua advertência muito ne- ceífaria a eíla nolTa terra. Os que eftimaó o que fe

res, as incomodidades das terras, & a ellranheza dos climas a que expõem ávi- da, he,porque não conhe- ceis como elles o valor das almas. Parecevos que fa- zia bem Moyfes,& que fa- zia bem S. Paulo cm que-

vècomos olhos j quando rerem trocar a gloria, &

bem

NojJ^a Senhora daGraça. 579

béaventurãça do Ceo pela de Deos pelo amor do pro-

falvaçáodas almas de feus próximos ? Náo creojq íeja táo rude a voíTa fé, que di- gais que faziáo mal. Pois muito menos he trocar Portugal, que o Ceo, 6c querer falvar as almas pro- priasj& mais as alheas, que levar a vera Deos as alheas à cufta de o naõ ver por to- da a eternidade. E ifto he- o que fazia não depois de Chrifto S. Padlo,fenam; antes de Ghrifto Moy fes.

34.9 Agora pergunto: Eíles dous homens taó va* lentes,&: táo deliberados^ que aílim fe refolviaó a náo ver a DéoSrfuppunhaô também com o impet05& fervor da mefma refolu^ çáo, que o naõ haviaó de amar ^ Abfit : De nenhu m Eiodo. Porque aíHm como por hum motivo tão pio, & de tanta caridade feria ac- ção naó licita , mas he- róica oíFereceríe a naõ ver a Deos ,aíllm feria não íô iiiicita, mas Ímpia querer- fe expor ao não amar. An- tes he certo , que quanto mais renuaciavão a vifta

XI mo , tanto mais fortes raizes lança vão no amor do mefmo Deos. Ouça- mos a eloquência deChry- foftomo arguindo nefte cafo a S. Paulo : ^uid aisy ^aule-i nonne jam ãixijU\ 835. §luis nos feparabit à charu t ate Chrifit> Ehtm Paulo, naófoisvòs aquelle quejà diíTeftes , que nenhúa cou- fa vos fe pararia do âmoÊ deChrifloi'Náo fois aquel-^ leque quereis, que a voíía almafe defataíTe do voífo corpo, para eítar fempre Gomelle.'^ Pois como ago^ ra quereis carecer de o go» zar,&:verpor toda a eter- nidade } Antes por iílb mefmo,refponde em nome de S.Paulo o mefrpoChry- íbíícMnoV Porqiíe] eu amo muito a C hrifto , por iílb me quero privar deo ver^ & gozar, para queemlu-. gar de mim , que fou hum^ fói,o vejaòy ac gozem vmm tos, Scfegundo o/^meude4 íèjo,o amem^& louvem to^ dos : hnh cmia amoChri-i ftum^ cupio fifarari á frui< tione Chrífiiy Mt^lur.eSy imo

onh

380 Sermão de omneseum amento & law Ceo, fenáo também quc- dent, E quanto foíTe agra- rer antes padecer as penas davel a Deos efte exceíTo do Inferno. Ifto não per- de caridade , aílim em S. tendeo Moyfes, S. Pau- Paulo,comoem Moyfes, Jo,mashereroluçáo famo- poílo que a nenhum delJes fadeS.Anfelmo, &àqual aceitou o ofFerecimento , no meímocafo eftà obri- íe vio bem nas mercês com gado todo o Chriíláo : Si que depois honrou a hum , htnc feccatiptidorem^ ò' il- &a outro: fazendo geral- Imccernereminferni horro- mente, & para com todos remy& neceffarto uniillorú tal difí^erença entre a fua haberêimmergi^prmsmem graça,& a fua gloria j que a inferna immergtrem , quàm quem^ naó quer a fua gra- peccatum in me aamittercm.

An fel. Hb. de -'■imilin cap 1^0.

ça,caftiga-o com oprivar da gloria, & a quem por fe- melhante motivo náo qui- zer a fua gloria, premia- o com lhe aumentar a graça.

í. VIL

35-0

MUi dilatada coufa feria , fe ouvefíemos de ponderar comoatègoraas outras ra- zoens deíía differéça ; mas porque naòhe bem , que totalmente fiquem em li- lencio , de corrida as irei

Se de húa parte,diz Anfel mojfe me puzeíTeo pec- cado,& da outra o Inferno com todo o feu horror: & me foíTe neceíTario efco- Iherhumdosdous , antes me havia de lançar logo no Inferno, que admitir em mim o peccado. Mais: E fe folie poílivel (^como de po- tencia abfolura não repug- na 3 ver hum home a Deos no Ceo eftando em pecca do : qual feria no tal caio maisditoíò, eíle homem, ou Anfelmo?Náo hadu-

Salar Tsner.

Ov.eJ. Aniajj.

apontando. Seja a quinta, vida,queAnfelmo.Porque que por confervar a graça Anlclmo no Inferno con- náo he licito , ôc louva- fervava agraça,ainda que vel renunciar a gloria do padecia as penas dos con-

dcnados.

Noifa Senhora da Graça. ^'Sl;.

denados, &:o outro no Ceo graça, nao mora Deos

poíloque via a Deos, em que confiíle a gloria dos Bemavêturados, naó cita- va em graça.

3fi Maisaindaj&naó fuppondo cafos extraordi- nários, fenaó o que de fa- £to eílá fempre obrando Deos no Ceo , & na terra. No Ceo fempre Deos eílà; comunicando a fua viíta, aos que depois da morte íaó dignos da gloria; & na terra fempre eííà comuni- cando a fua graça aos vi- vos , que fe difpoem para ella. E porque modo , ou com que diíferença de au- thoridade3& honra comu- nica Deos a huns, & outros a fua viíla, & a fua graça ^ Bemditafeja a divina Bó- dadejuuncanas demoílra- çoens mais divina í Aquel- íesa quem comunica a fua gloria, leva-os ao Ceo , & dalhes lugar na fua Corte : porém aquelles a quem co- munica a fua graça , vem elleem peílbaadarlha, & fallos morada fua. Se hi- mos ao Ceo,moramos com Deos, masfe eítamos em

comnofco^, fenaò em nòs. E para que em nada feja menor eíla aíHftencia pef- foal de Deos em nòsjque a vifta do mefmo Deos nos queeftaó na gloria j con- cordaó os Theologos, que para fer verdadeiramente bemaventurado o que a Deos, não baila ver ao Padre, ou ao Filho, ou ao Efpirito Santo j mas he ne- ceíTario ver todas as três PeíToas divinas 5 porque deílemodo he vera Deos como elle he : Tunc 'videbí- , joan. museumficutieft. Pois af- í-^. íim como no Ceo osBem^ aventurados da viíla , nam fóvêhúa peílba da Trin- dade, íènaó todas tresj af- fim na terra os Bemaven- turados da graça naó tem dentro em fy o Padre, ou o FilhojOu Efpirito Sã- to, fenaó todo Deos trino , & em todas as peíToas. E ifto com tanta diíferen- ça,& ventagem,quanta vai deobjeílo a morador. He texto expreíFo do mefma- Chrifto: Siquisdilmt me^ J^^^^* JermonemmeumJervamh& ' ãd.

3^ .- Sermão de

ài eum njéhiemus^ ér ma^ijío- diamfuam magvam regcne-

nem apiid ip[um faciemus. ravit nos in harcdítatcm m-

I. Pctri 1.3.4.

Slui diligit me,cis ahi a gra- ça : Et ad eum veniemus , eis ahi as três peíToas divi- nas : Et manjionem apudip- fumfaciemusy eis ahi a mo- rada perpetua 5 & aíTiften- cia permanente.

35 2 Mais outra vezj poílo que depois do que acabamos de dizer, pareça que não pode haver mais. E a razaó deíla nova diffc- rença, ou ventagem he: que a gloria que havemos de gozar no Ceo pela vi- íla, apoíTuimos na terra pela graça. Efcrevendo o ApoftoIoS. Pedro aos no- vos Chriílãos do Ponto, Galacia, Capadócia, Afia, & Bithinia , aonde fendo Summo Pontiíice,& Vigá- rio de Chrifto, tinha ido pregara Fè[ para que ve- jais outra vez, qúam alto miniílerio he o da conver- íaó dos Gentios, taó pouco conhecido da gente rude} diz eftas notáveis pala- vras : BenedíãíisT>eus Ta^ ter domint noftrí Icfu Chri-

corriiptibilem^ Ò' inconta' minatãy é^ immarcejcibilê^ confervatam in Cífiis in lo- bis. Quer dizer : Bem dito feja Deos,Pay de noíTo Se- nhor Jefu Chri ílo , o qual pela graça do bautifmo nos gerou fegunda vez pa- ra a gloria incorruptivel, &perpetua,que eílà guar- dada no Ceo, & em nòs. Neflasduas ultimas pala* vras,no Ceo,&em nos, />i C alisto- in i;í?^/i-,e íià o rna- ravilhofo deíla fentença. Que a gloria eíleja guar- dada no Ceo , bem fe enre- de 3 porque o Ceo heo lu- gar da gloria, 8c no Ceo he que a havemos de gozar 5 masfeaquelles com quem fallava S.Pedro eílavaó na terra, como nòs eílamos; porque lhe diz que eíía mefma gloria não eílà guardada no Ceo, fenam nelles mefmos, & em nòs : Ser-vatam in C^lis^ò' in uo^ bis^ Porque acabava de lhes lembrar, que eílavaó gerados fegunda vez pela fiiyquifecundtim mifericor- gradado bautifmo, como

nò$

KoJTa Senhora nos eftamos: & eíla mefma gloria , que depois have- mos de gozar no Ceo pela viíla,jà agora apoílliimos na terra pela graça. De for- te, que o Chriílão que eftà em graça, quando vai ao Ceo, naó leva o direito •para a gloria comíigo, íe- não a poíTe da mefma glo- ria em fy. Por iífo não diz, qeftà guardada para nòs, fenãoemnòs, mC^Us, & invohis. Veja agora cada humfeefcolheria antes a poíTe do bem,ou prefente , ou futura,ou dentro em fy, ou fora.

§. viir.

3f3

M Ais ainda. Diz S JoaÓ Chry- foftomo , que alíim como não havemos de temer o Inferno por horror das pe- hasjfenãopor ter ofFendi- doaDeos,& perdido fua graça : aílim naó havemos dedefejar o Cep, princi- palmente por amor da glo^ ria , fenão por gozar da mefma graça, éc amar ao mefmQDeos eternaméte;

da Graça. ^ g-^

Utgehennãm timere nonde- bemus propter ignem ^Jed ç;^ qtáa offèndimus tam bonum íoft-ho- ' Tíominum^ & ah íllrnsgra- Tx^qI}' tiafiimus alieni : ita adreg- "^^• numnobis fejiinandú prop- ter amarem in iUum , út ejus gratiafntamur. De manei- ra que o ámor,& defejo ordenado da gloria,naò ha de fer por amor da gloria , fenão por amor da graça. He erro em q cahio Moy- íç:s^ mas de que logo emendou no mefmo aóbo com admirável retradta- çaó de palavras. Tinha Deos dito a Moyfes , que eílava em fua graça .• Inve- exoí nifU gr at iam coram me, E^>*^° fobre eíla fuppolição de '^" eftaremfua graça , inílou Moyfes dizendo : Si ergo invenigratiam in confpeêlu tiio , oft^nde mihi facien% tuam^utfciam í/, & inve- niam gratiam ante óculos tuos. Pois Senhor, fe ef- tou em voíTa graça, conce- deime a viíla de voffo ro- íl:õ,paraque efteja emvof- fa graça.Quem haverà,que não veja,6c note neftas pa- lavras como Moyfes no

^84^ Sermão de

mefmo a£to de as pronun- jo querer a graça para go- zar a gloria > muito melhor derejojSc muito mais alto penfamento he defejar a

ciar trocoua ordem com que as começou a dizer, & com que acabou. Quando

começou, ordenou a graça gloriajpor fegurara graça,

de Deo1^ para a vifta de O primeiro fez Moyfes c6

Deos : Si invenigratiam in menos coníideraçáo , quã-

confpecfu tiio^ oftende mihi ^ do diíle : Si invcntgratiain

faciem tuaín-, &cquádo aea boujordenou á meíma vi- ílade Deos, para a mefma graça de Deos : Oftende mi' hi faciem tmm^ ut invenia gratiam ante qcuIos tuos. Pois a mefma: graça nas primeiras palavras he me- yo para alcançar aviíla de Deosj&logoa mefma vi- fta de Deos nas fegunda^ paIav.rasliemeyo para ai* caçar a mefrmâ graça ? Sim: porque aílim. emendou Moyfes,&: melhorou o feu defejo. Ordenar- a graça para a glòriajôc fazer a glo- ria fim da graçajbom defe*- jo hej mas ordenar a gloria para a graça, 6c fazer a gr.ar ^a fim da gloria , I;e muito

in confpeãu tiio^osfende mi- hi faciem tuam : 6c o fegun- do com muito mais fino,ôc prudente juizo , dizendo.* Oftende mihi faciem tuam^ ut inveniam gràtiam ante óculos tuos.

3 f4, Finalmente,feja a ultima razaó de efcolher antes a graça, que a gloria, a eíleril idade da mefma gloria, 6r a fecundidade da mefma graça A gloria no Ceo he liúa felicidadegrá- <ie,mas felicidadcque não crece, porque hiia gloria náx) cauia outra gloria^ po- rém a graça na terra he hu- ■ma felicidade jou húabé- avcnturança , que femprc crece, porque fempre húa

melhor defeJD> Porque ■? graça ellà produzindo ou- Porque a graça antes da tra graça. Depois que o E

gloria eftà perigofa , 6c der pois da gloria cílà fegura. E poílo que he bom deíe-

vangelilia S.João declarou

a gloria de Chriílo pela fu-

pcrabundácia de graça de

q^up

cann .14.

Noffa Senhor quôeílavacheo : P^idimus gloriam ejus quafi unigeniti àTatre^pknum gratiíS , & veritatis^ áit que defta en- chente, coíiio de fonte pe- renne recebemos todos a graça, & não húa *fó graça , íenáo húa fobre outra íem- premais,&mais : qiieiílb quer dizer '.^eplenitudim ejíis omnes accipimns gra^ ^^çjiampro gratia. Onde fe deve muito notar, que tê- do fallado na gloria,& gra- ça de Chrifto jfóda graça diz, que recebemos graça por graça , & graça fobre graça,6cda gloria nãojpor- que noCeonaõ dáDeos gloria por gloria,ou huma gloria fobre outra. Efte privilegio, & efta preroga- tiva he da graça. £ quamfuperior feja porií^ fo mefmo à gloria do Ceo, cm nenhum outro dos que muito crecéraó na graçajO podemos ver melhor, que no mefmo S. Joaó, Vio S. )ca- Joaó no feu Apocalypfe a ^4«7Deos aífentadoem trono de Mageílade, &que o af- fiftiaóem roda do trono quatro animaes myíterio* Tom.;.

da Graça. 3 8 f

fos todos cheos de olhos, o primeiro femelhante a Leão, o fegúdo a Bezerro , o terceiro a Homem , o quarcoa Águia. Ninguent ignora que neftes quatro animaes eraó reprefcnta- dos os quatro Evangeli- ítas,S. Marcos noLeáo,S. Lucas no Bezerro, S. Ma- theus no Homem, S. Joa6 na Águia > & todos cheos de oVciQS^mte^iò' retroy por - que todos na parte poíle- Tior tinhaô as noticias da divindade, & na anterior as da humanidade deChrí- fto, de quem efcrevéraõ. Vindo pois a S-Joaôídalhc o Texto o quarto lugar, & dizquefóeile voava : quarttifn animalfimtle aquí^ líevolanti. FoisfeS. Joaó entre todos os Evangeli- ílas foi o que mais altamé- teefcreveo, porque fe lhe o ultimo lugar Ôc fe to- dos os outros animaes ti- nhaô azas i porque fe áiz , que elle voava .? Primei- ramente dáfe a S. Joaó a ultimo lugar , porque eíle efcreveo depois dos ou- tros Evangelizas , ac não Hb me-»

i

Sermão de annos

W^

§. IX.

ss

ATèqui temos vido as ra» zoens porque comparada a gloria com a graça, íe de-

38^

menos qiic trinta depois , havendo outros tantos que S. Matheus, S. MarcoSjSc S. Lucas eraó morros. Mas daqui mefmo fe acrecenta mais a fegun-

daduvida porque fe os „^ o- 3 -

outros três Evangelizas veefcolher antes a graça, eííaváo no Ceo vendo que a gloria. E fe alguém a Deos, como voava ellefó cuidar, que naó falíamos eílandona terra > PoriíTo atègora no que principal- mefmo. Porque os outros mente devíamos fallar , eflavão gozando na gloria,, quehea Virgem Senhora dóde fenão fobe, & b.Joaó nofla da Graça , cuja feíla eftava merecendo na gra- celebramos •, digo,qo que ça,onde fempre ^c crece. atègora diíTe, aflim coma Eu vos prometo , diz S. foraóprerogativas dagra- Bernardo,qfeDeos défie ça,aílimforaòexccllencias licença aos Bemaventura- da Senhora debaixo do

mefmotitulo. S. Thomás com feu Mellre Alberto Magno diftinguem na gra- ça Al Virgem Maria três

^,,^ ^^,...... eltadosdeperfeiçáoiopri-

gloria,pai a depois voarem meirodcfde o principio de à mefma gloria mais cheos fua Conceição, a que cha- degraça; logofeaefcolha mão de fuíliciencia : o fe- fefarianoCeOjOndcrcnaó guadodefdc o pontoem pôde fazer, porque fcnao que conccbeo o Verbo fará na terra ? Em S. Joa6 eterno, a que chamaó de naó foi clciçaô fua : mas he abundância: o terceiro por certo, que ellc foi o mais todo o tempo da vida atè amado, & quando os me- a morte, a que chamáodc nos amados viao, cllc voa- exccUciicia fingular. Por va. to-

dos, que o eíláo vendo no Cco,para virem à terra a merecer,Sccrecer a maior graça,que todos aceitariaó eíle partido deixando a

Noffa Senho i todas as Vazoens pois que referimos , muito melhor, &mais altamente enten- didas, comparandofe a Se- jihora comfigo mefma, co- mo aquella lingulariílima alma, que fobre todas as criaturas amou,& foi ama- da de Deos, também nam pode deixar de eftimar mais a graça, que a gloria , pois no mefmo amor reci- proco coníifte a graça. Eí^ timou mais a graça, que a gloria, não por aíTegurar no Ceo a mefma graça,em que fora confirmada defdc o inítante de fua Concei- ção , mas por aumentar mais, & mais o amor , que fe iguala com a vifta por toda a eternidade. Bata- lhava no coração daMáy deDeos o mefmo amor,por húa parte com odefejo de mais depreíTa o ver, & por outra com a razaó de mais oamar eternamente , & porque eíle motivo foi o vencedor , poriílbefco- Iheo como melhor parte a da graça: Maria optimam j.<artemelegit. I j6 Naquellaspalavras>

' a da Gr aça. 387

Indica mihiyfiení diligít^^l anima mea^ ubi pafcas , ubi cubes in meridie : manife- fíou o amor da Senhora quáto defejava ver a Deos no meyo dia da gloria : & a repoftafoi, q mais convi* nha porenta6,quena au* fcncia de feu Filho fícaífe apafcentando o feu reba- nho: Abifoft 'veftigiagre-^^-^A,^ gum tuorum&pafce hados tuosjuxta tabernuctíla pa- fórum. Aílim o fez a Sc* nhora, fendo dalli por di- ante o oráculo de toda a Igreja, &: Meftra dosmef- mos Apoftoios, naõfó em Jerufaiem,& na Judéa,mas peregrinando a outras par- tes do mundo. Durou, nao digo eíle defterro da glo- ria, mas efta aufencia de feu Filho, não menos que vinte & quatro annos de- pois que elle tinha fubido ao Ceojcomo prova oCar- deal Baronio , fundado no teftemunho irrefraga- velde S. Dionyfio Areo- pagita : até que finalmen- te em tal dia j como hoje, foi chamada a bemditiíli- ma JMãy a receber da mão _Bbij de

A^S

Sermão de

Cant 4.8.

\im

defeuFilho 5 & gozar por toda a eternidade a coroa immenfada gloria, que ti- nha merecido a fua graça. JE digo que foi chamada-, porque aílim o declaraõas vozes de toda a Santiílima Trindadejnão em comum, masdiílintamente repeti- das por cada hua das divi- nas PeíToas : Vtnt jfonfa mea^vemcie Libano^vemco- ronaberis, O Padre diíTcj /^w/,' chamado- a como Fi- IhajO Filho diírej^;2ijcha- mandoa como MãyjO Ef- pirico Santo diíie>^//j chamando-a comoEfpofa. Mas fe toda a Santiílima TrindadCí&cadahCia das divinas Peílbas poríy, & portão particulares moti* vosdeíejava vera Virgem Mariano trono da gloria , c^nde também como Filha viíle o Padre, como Mãy o Filho, & como Eípofa o EfpiritoSanto: Sca mefma Senhora fufpirava por eíle dia com tão ardentes defe- jos, &: violentiílimas fau- dadesjquc cilas, ôc o amor lhe romperão os laços da yida,&: lhe delatarão a al-

ma j como as mefmasPer- íbas divinas , que podem quãto querem, não íóper- mittírao , mas quizeraó, queamefma Alma fantif- fimacontinuaíTeneíle mu- do privada do Ceo, & da gloria , & padeceíTe feu amor efte largo martyrio por tantos annos ? Aqui vereis, quam verdadeira hc a doutrina de todo o no ílb difcurfo, & a* razoes delle. AíTentou no Confi- ílorioda Santiílima Trin- dade o Padre,que a fua Fi- lha,o Filho,que a íua Mãy, ^o Efpirito Santo, que a ília Efpoíli íe lhe dilataíle a vidadeDcos, 6c a gloria por cfpaço de vinte 6c qua- tro annos, para que em to- do eíle tempo mereceíTe m ai 6c m ais, & creceíTena graça •, porque computa- dos tantos annos de gloria com outros tantos de gra- ça, não por eleição da mefma Senhora, fenaó por decreto de todas as Peílbas divinas lhe convinha, ^ importava mais o crecer na graça, que o gozar a glo- ria. Vt c HW H lar es merita^ ejus

Pct. Da-

miau.

'cimda

A(>i"ipr.

Vug.

Noffa Senhora da Graça, 5 89

ejus ajjítmptionem ad glo- Santos dizem o mefmo c5

riam tamdiu dtjtuhfii ,- S.Pedro Damiaó.

í. X.

1^ K As quem po«

diz termos naó de menor ex- preílaó,masde mais pro- funda intelligencia , que por iílb naó repico. qui- zera, que todos os que me ouvis foífeis Theologos , para a demoílraçaò dos aumentos de graça, a que a Senhora creceo neíles últi- mos annos de fua ia n ti fil- ma vida. Procurarei po-

' "dera declarar quaes foraó os aumentos de graça com que a Virgê Maria (^ em todo efl:e tem- po mais propriamente Se- nhora da Graça ^ acumu- rèm de os reduzir às regras lou, húa íbbre outra , as de outra ciência mais vul-

immeníidades da fua .? S. Epiphanio diífe : Gratia Saneie Vir gtnis eft immen^ Dm. dcT^ S.Boaventura : /^w^»-

gar5& maispra£l:ica5pela qual que nenhum enten- dimento humano pode comprender efta immen-

.audib. pi certefuit gratia qua iffa fi dade^ ao m enos de ai gu m

^om^. fiiit plena \ Sc S. Aníehno; modo a poílamos todos

ui?^' ^^damplííís dicere pofiíl)

íap f . T>omina^ immsnfitatè quip*

\f^^'pegrati£y &gloriíe^ érjeli- le modo de conta, que vul

:ellenr. ^P3-

conjedurar. 358 Todos fabeis aquel-

citatis tii£ confiãerare inci' fienti & fenfus deficit , ò" linguafatifcit. Eltes San- tos com palavras claras, & expreffas apregoaó por immenfa a graça da Virgê Maria .'ÔcS. JoaóDamaf- ceno, S Jeronymo^ S. E- frem, S.Bernardo, S Jgna- cio MartyrjS.Pedro V ero- nenfe , & /^uaíl todos os Tom. 7.

garmentefe chama ao ga- larim, em que tudo oque fepoíTue , & precede em hum numero, fe dobra no feguinte. Suppondo pois a mais aíTentada Theo- logia C em que ella naó pouco obrigada ao doun í- .suar. * limo Soares de nolfa Com- tom. 2: panhia '} que os ados do aiip^íg. amoriôc caridade da Virgé '^^^-^i Bb iij fan-

•■

mm

390 Sermão de

fanciíllma, os quaes todos quinhentos 8c doze* no de- cr:ió perfeitiílimos , con- cimo, mil & vintC & qua- tro. De forte, que em dez quartos de hoia , 6c com dez a£bos de caridade me- receo a Senhora , Ã: creceo a mil & vinte quatro gráos degraça. Agora faça cada

dignamente mereciao ou- tro tanto aumento degra- ça, qual era o que tinhaó emfy,5tporiíro huns fo bre outros fempre mais, ôc mais hiaó dobrado a mef-^

ma graça i façamos agora humdevagaremfuacafaa

a conta aos gráos de graça, conta que refta em todos

4 a :'enhora podia acqui- os quartos de hora de hum

rirem hum dia, & para dia, que faó noventa 6c

que a conta proceda com féis, porque ainda que fe-

toda a clareza, naó prefup- gundo a forçofa ley da hu-

ponhamosnaalmadamef- manidads alguns quartos

ma \' irgem mais que hum da noite occupaíle o bre-

gráo de graça, nem coníi- viiUmo fono os fentidos

cleremos que fazia cm cada quarto de hora mais que hum aâ:o de caridade, lílo poílo,no primeiro quarto de hora,& pelo pri- meiro afio de caridade, dobrou a Senhora o mere- cimento , & mercceo dous gráos de graçi : no fegun- do quarto mercceo qua- tro ; no terceiro , oito ; no qu irto, dczafeis : no quin- to, trinta 6c dous : no fcx- to, feífenta& quatro: no fctimo, cento ^Sc vinte oi- to : no oitavo, duzentos & 5;incoeata <k fcis ,; no wono,

exteriores da Virgem, eíTe fono naó interrompia as acçoens da alma, que fem- pre vigiava,amava , & me- recia; Ego dormia y& cor ^^^^^^ meumvigtíat. Mas porque a. entretanto naó íique cor- tado o íio, Sc íliíbenfa a de- moftraçaòdanoífa conta, eu a refu mirei breviíFima- mente, repetindo as fo- mas de dez em dez quar- tos.

Nos vinte quartos de

hora daquclle dia tinhao

crccido os gráos da graça

da Senhora a numero de

qui-

Nopi Senhora da Cr aça', g 9 1

quinhccos & vinte & qua- quatro contos, fetecentos

tro mil & duzêtos & oi te- ta & oito. Em trinta,a qui- nhentos & trinta Sc íetc contos,quínhentos fetenta quatro mil nove cen- tos 5c doze. Em quarenta, a mil 6c trezentos Ôc feten- ta & féis milhoens , fetenta & fcis contos í fetccento§ & trinta & cinco mil qua^ trocentos ^ oitenta 6c oi- to. Em cincoenta , a hum conto quatrocentos 6c no- ve mil duzentos 6c vinte niilhocnS) cento 6c fetenta 6c fete contos , fetecentos 6c fetenta 6c nove mil fete- centos ^ doze. Em ítÇd^n" ta, a três milhoens de mi- lhoens, duzentos U, onze contos , quarenta ^ hum mil fetecentos 6c trinta & cinco milhoens,6c quarcn-' ta 6c féis contos quatrocé- tos 6c trinta 6c fete mil 6c oitocentos 6c oitenta 6c oi- to. Em fetenta , a fete mil

6c noventa 6c quatro mil feiscentos6cvinte 6c qua- tro. E m oiten ta,a féis con- tos trezentos 6c oitenta èc cinco mii quatrocentos ^ vinte 6c dous milhoens de milhoens, Be cento 6c no- venta 6c féis contos oito- centos 6c oitenta &dous mil&: cento 6c oitenta 6c oitomilhoens,cento èc fe- te contos, Sc cento trinta 6c quatro mil 6c novecen- tos & fetenta Sc {^is. Em noventa 6c féis finalmente,' fazafoma de quatrocen- tos 6c treze mil , quatrocê- cos Sc fetenta Sc cinco con- tos , quarenta Sc oito mil quatrocentos 6c quarenta 6c nove milhoens de mi- IhoenSi feiscentos Sc feten- ta 6c hum contos , noventa mil milhoen$,6c trezentos 6c noventa 6c fete contos, fetecentos Sc oitenta 6c fe- te mil céto 6c trinta 6c kiSy

&duzétos 6c vinte 6cqua- que he o ultimo quarto de tromilhoensde milhoens, horadehum dianatural.

duzentos & treze contos , quatrocentos fetéta 6c três mil quinhentos Sc dezafe- te milhoenSj& trezentos &

35^ Demoftrada efia immeníidade de graça acquirida peia Virgem Se- nhora noííà em dia , Bbiiii cui-^

m

392 Sermão de

cuidareis fem duvida to- ceição tinha acquírídoem

dos, & eftareisefperando, queeu tire por confequen- cia as immenfidades da

trinta & quatro annos da vidadeíeu Filho , & qua- renta & oito da fua. Sup-

mefma graça, a que a mef- puz em fegundo lugar, que ma Senhora creceria no ' * '

compridiílimo efpaço de tantos dias, mezes, & an- nos, quantos fe contarão defde a Afcenção de feu Filho atè a fua gloriofa AíTumpção. Mas nao di- go, nem direi tal coufa; porque feria diminuir, de apoucar muito , & Bizer grande aggravo à mefma

em cada quarto de hora fazia a Senhora fomente humaíto de caridade, & amordeDeos, fendo efl:cs adbos tantos, quantas eram as refpiraçoens da mefma Senhora , cuja memoria, entendímcntojéc vontade, nem por hum momento fe divertia da attenriíllma contemplação do divino

graça. As duasfuppoíiçoés objedbo, com que fua alma que fiz na conta defte dia, iníeparavel mente eftava

foraó ordenadas à clare za,& evidencia da mefma cota, & fingidas como por exemplo com dous defei- tos contrários à manifefta evidencia da verdadeira fuppofiçaó.Suppuz q a Se- nhora no primeiro quarto daquelle dia tiveíTc hum fógráode graça , & efta fuppoíiçaô íbi (ingidajpor- que no dia da Afcençaóde Chriílo tinha a Senhora tão innumeraveís gráos de graça, quanta defde o in

íèmpre unida , amando-o de dia,& de noice fem cef- far com mais intenfos, & efficazes affecios", que os Serafins da gloria. Ifro he o que entaõ naò fuppuz para a clareza da conta, 5c o que agora fupponho pa- ra a confequencia , &con- je£lura da graça, na qual como em hum pego , ou abifmo fem fundo afoga- dos, 6c perdidos todos os números da Arichmetica, fórcílaao dircurfo,& en-

llante de lua puriíllma Cp- tcadiméto humano o paf-

mo

NoffaSenhoradaGraça. 393

mo, & à língua o filencio , fi mt^L^quod in ea divina ope-

& coníiíTaó de que a graça deMaria he incomprehen- fivel.

, 35-3 Quê fomente íou- be achar paralelo á graça da MãydeDeos, foi oau- tiquiílimo Aadrès Crecen- fe,oquala comparou com o inefFavel my ílerio da hu- manidade do Filho, a que chama inHíiitas vezes infi- nitamente infinito. As fuás

rata ejtgratia tnfih ties tyi- finitè. E como a immenía grandeza do infinito a pôde comprehender entê- dimento infinito, qual he unicamente o de Deos-,por iíTo conclue S.Bernardino, fa liando da perfeiçam da graça da Senhora neíle D.Ber- mefmo dia 5 que o conhe- ^^j;^ , cimento delia eílà refer- deAf- ' vado para Deos : Vt foli ^ 'J'|;-

palavrasfaôeílas;JV^///W, ^20 cogmfcendd referve- quõd nosfiiperat^ in divi- tur.

naoperata eft gratia^ nemo Andrjas mlretur mttims ad novum , Crere '. ^jyieffdhHe quod in eaper- de Dar- aVíuM ejt myfteriiimyab omm Viíg?"^ Infinitate infinines infimte èxemptum. Notemfe mui- to eáesnovos, & últimos termos 5 ab oníni infimtate mfimties infinite Foi o my- íleriodeDeos feito home infinito fobre toda a infi- nidade, exemptum ab omni infinitate-^ porque foi infi- nito infinitas vezes , infini- tiesy Sc infinito infinitamê- tc^ijifimtè. Eneíla infini- dade, ou infinidades fe pareceo com elle a graça da Mãy infinitamente in-

^61 Nodiada AíTump- çaódefceoomefmo Filho de Deos a honrar o triun- fo de fua Máy , acompa- nhado de toda a Corte do Ceo, Anjos, & Santos: os quaes admirados diziam; ^i£ eft jfla^qu£ afcendit de defertO:, delkijs ajfluens^m-^ ^ nixafuperdtleBumfutim^ Quem he efta, que fobe do delertOjnaò chea, mas inundando delicias , fu- ílentada do feu amado z' O feu amado he o bemdito Filho , primeiro motivo daquella admiraçao,o qual para maior mageftade do- triunfo , quiz ellefer em* peíToa

Canr;

394 Sermão

peííbaoqiiclevaíTedebra- tanto que apareceo aglo-

m

ço a fua Máy. As delicias, ou inundação de delicias, que juntaraente adrnira- vaójéc das quaes naô hia cheajmas como de fonte redundante manavaó , & cnçhiaótiido, naô poden- do Ter as da gloria para on- de começava a fubir 3 eraó fem duvida as da graça, que na terra,& na vida taô immenfaméte tinha acqui- rido. Aílim comenta eíle lugar o doutiírimoCardeal Hailgrino : Affincre mitím dicitur grattarum dcUàjSt Ó"virtutum\ & innixafu" per dileõfuwy ctíjus inniteba»

riofa triunfante reveílida das immenfidades de fua graça, maiores na grande- za, que todas as delicias, que ate entaó fe tinhaõ go- zado na gloria,tudo quan- to tinha decido do Ceo à terra defapareceo à fua vi- íla. Excellenteméte S. Pe- dro Da miáo : In illa inac- ccjjibili Ince perluc€7is , Jic p Pam. ntronrmque fpirituum Ije-^^^/^^^ betabat dtgnitatem ^ ut (mt Virg, ' quajinon jmt y & compara- tioiíe tllhis , nec poJJJnt , nec debeantapparere. Que Re- gião mais povoada (* hc cóparaçaô do mefmo San-

turgrati£. Mas o que eu fo- to ) Que Regiaó mais po bretudo admiro nos mef- voada que o Ceo de noite?

mos admira dores, he, que cm tal dia , & em tal con- curfo chamem à terra de- Cant. 8. ferto : ^laeft ifia , qu£ af- í- cendit de deferto ? Se toda a Corte do Ceo tinha deci- do com o feu Principe à terra : Se defpovoado o mefmo Ceo, todo naquel- lediaeííava junto na terra donde começava a mar- char o triunfo , como fe chama deferto ? Porque

Tantos Planetas , tantas conítellaçoens, tanta mul- tidão de Éííreilas maiores, & menores fem numero. Mas em aparecendo o Sol, o m efm o C eo fu b i ta m en- te ficou hum deferto, por- que tudo à vifra deilc fe fu- mioj&defiparcceo, & elle aparece. O melino fu- ccdeo a todas as Gerar- chiasdoCconcíledia Por grandes, &: iniiunicraveis naò

Nojfa Senhora da Graça. 3 9 f

naócabiaôna terra, mas com osapplaufos das vo-

tanro que abalou o triun- zes, com os aíFedbos dos

fo, & aparecerão os fobe- coraçoens, & com os jubi-

ranosrciplandorcs dagra- los,& parabéns de toda a

ça,ouda'ScnhorLida Gra- alma, que Maria em quan-

ça, tudo o mius deíapare- to Senhora da Graça , ain-

ceo,6c ficou hum deíerto: da em comparação da fua

giuége/hfta.qusafcenditde mefma gloria, cfcolheo a

dtfertú ; porque codas eífas melhor parte : Maria opti-^

Gerarchias em iua prefen- mam fartem elegit.

§. XI.

^6z T Sto poílo C para Xque nos naó falte

çaeraócomoíenaò fora6> ta/mt tmiquãm mnfinv j & porque todas em lua com- paração, nem podiao, nem

de viaò aparecer, C'' com" ^ '■. '

paratiotie iUiiis^ necpojjtnt^ o fim de taò largo difcurfo,

nec debeant apparere 5 quando o temos acabado^

aparcceo, & fe fez men- perguntara eu a todos os

ção do fcú. amado , innixa que me ouvirão > fe fariam

Cant. Jufer dikã^mjnum^Q^h& eftamefma eleição : fe a

*'^' nova confirmação deita temfeitoatèagora,ouíea

mefma verdade j porque determinaó fazer? De nm-

junta com a graça de Ma- guem creo, fe he Chriílaó,

ria a de feu Filho avulta, & tem , que naó faria a

& aparece -, por ítr graça mefma eleição , cftimando

de homem Deos, abaixo mais a graça de Deos,que

do qual, como diz S, An- a mefma gloria, como fez,

fclmo, nenhúa fe pòdecó- coma maior luz de todas

íiderar, nem entenderina- asluzesdoEfpirito SantOj

ior que a de lua Máy: §lua fua fobcrana Efpofa Maria

maior fub 'D^o necitieat m" Senhora noíTa ; bailando

telligi. E iílo baile finai- para iífo, quando naó ou-

mente,para que todos ce- vera tantas razoens, como

kbremosj & confeAêmos vimos, fer eleição, ^ refo-

I

rlKt

396 Sermão de

liiçaó fua. E digo, fe he daSanciíTimaTrindadcao

Chriílaójêc tem féjporque o contrario feria não dar credito às Efcrituras fa- gradaS5que allegamos: naó imitar , nem venerar os exemplos dos maiores Sá- tos de hum5&: 011 tro Tefta- mento Moyfes & S. Paulo: &: cerrar as portas da pro-

Padre, ao Filho, & ao Ef- pirito Santo. quem naó tem fé, como dizia , naó tremerá de ouvir , &c ima- ginar hum táo horrendo lacrilegio. Entaó prezem- fe os q lílo fazem de fer de- votos da Senhora da Gra- caj6c de ter dedicado a fua

pria cafa a toda a Santiíli- Igreja, 6c poílo a fua pátria maTrindade, que em to- debaixo do titulo, & pro-

dasastres PeíToas , como ouviíles da boca do mef- mo Chriílo, fazer mo- rada na alma, que eftà em graça. Se quando tresAn-

tecção da mefma Graça. Como a graça coníifte em amar , & fer amado de Deos, quem de todo co- ração eílima mais a fua

jos em figura das tresPeA amifade, que a fua mefma foas divinas foraó fer hoA viíia, pôde aífirmar com

pedes de Abraham, elle os náo recebera , & agafa- Ihára com tantas demo- ílraçoens de cortezia , & amor,antes os lançara de fua cafa , quem fe naó af- fombraria de tal defcome- dimento ? Pois o mefmo, & muito maior he o que fazem a Deos os que nam aceitaóa fua graça, ou fe defpedem delia, naó dan- do com as portas na cara a três Anjos , fenaó verda- deiramente às trcs Pelfoas

verdade, que faria a mef- ma eleição, que fez a Se- nhora da Graça.

363 MaspaíFandoàfe- gunda pergunta , refpon- deinie,fe fizeíles efta elei- ção atègora.? Ohvalhame Deos, que confufaójiSc que anguftias feráó as voflãs, quando no dia do Juizo fe vos fizer eíla meíma per- gunta ! O lume da razaó natural , fem chegar aos preceitos da Ley de Deos^ ellà ditando a todo o ho- mem,

Noffa Senhora mem, que entre o bem, & o mal deve eleger o bem, & entre o bom , & o me- lhor, eleger o melhor. Ve- jamos agora nos voílbspé- fa mentos, nas voílàs pala- vras, & nas voíTas obras, que todas aíli haóde apa- recer publicamente, que he o que efcolheíles: a gra- ça, ou o peccado ? Nos pé- íamentoso peccado , nas palavras o peccado , nas obras o peccado y & íem- pre,Ôcemtudo , ou quafi tudo o peccado , com per- petuo efquecimenta , & naó efquecimento , mas defprezo da graça. E por- que.? Nas obras por hum appetite irracional, ou por hum viliílimo intereíle: nas palavras por húa mur- muração da vida alhea^ ou por hum impeto da ira:nos penfamentos por húa re- prefentaçaó do defejo vaó, & tal vez por húachiméra nãofô fingida,mas impof- íivel. E he poíIivel,que por ifto fe troque , fe venda, & fe perca a graça de Deos:6c fobretudoj que fentindofe tanto outras, que não me-^

da Gr aça. 597

recém nome de perdasjío as da graça fenão íintão ! Verdadeiramête] , que não fei onde eftà a noííà fé, nem o noíTo entendimen- to ! O que fei he, que fe- melhante infenfibilidade fófeachaem almas, que eftão deílinadas para o In- ferno , 6c nefta vida me- recem o ódio de Deos, co- ^^ moEfau: Efau autemodio cÍjj. habui, Vendeo Efau o feu morgado a Jacob por hum appetite taó vil,& hum go fto taó groíTeiro , & taõ breve comofabemos, Ôc pondera a Efcritura fagra- da, que depois de fazer ef- ta venda fe apartou dalli : TarvipendenSymàdprimo^ Gere^ genita vendidijfet , fem fa« ^^^^ zercafo do que tinha fei- to, nem pefar o que tinha vendido. AíHm acontece aos que perdem a graça d$ Deos , & muito mais fe t vendem por aigúa coufa defeugoíl:o.Por qualquer outra perda fe enrrijflecé, &poreíla,&com efta ra6 fôraeíláo de le entriíle- cer, que antes íealcgraôí Latantur cu malefecermt.

i

35)8 SermaÕde

3^4 Aos que atègora tima a ambição humana, fizeraótammàj&taóerra- & nenhum pendor faz em

da eleição como efta, peço que tomem a balan- ça na mão, & pefem o que Efau não pefou. Dizeime: Quaes faó as coufas neftc inundo pelas quaes os ho-

refpeito de hum gráo de graça , como também o não faria, ainda que Deos levantaíTe hum novo Im- pério, no qual hum home dominaíTe a todos os ho-

mens coílumão perder, ou mens,&atodos os Anjos, vender a graça de Deos ? Finalmente, fobrc as ri-

Geralmente,diz S. Joaô Evangelifta,raó, oudefejo de riquezas , ou defejo de honras, ou defejo de go- ílos, & deleites dos fenti- dos. Pondeme agora tudo iílo em húa parte da balã- ça,& da outra hum gráo de graça,& vede qual pefa mais. Ponde todo o ouro, toda a prata,todasaspero-

quezas, & honras acumu- lemfe todos os goftos, to- das as delicias , todos os prazeres, nao quantos fc gozáraó, & podem gozar nefte mundo , fenaó tam- bém os que fe perderão no Paraifo Terreal 3 & para que vos não admireis de que pefe muito mais hum gráo de graça , fabei que

las, & pedras prcciofas, ainda hc mais digno de fe que gera o mar , & a terra, appetecer, que tudo quan-

& hum grào de graça, nam pefa mais fem nenhúa comparação , mas omef- mo feria fe toda aterra foífe ouro , & todas as pe- idras diamantes. Acrccen- taimaisà balança todas as honras , todas as dignida- des, todos os Cetros & Coroas, todas as Mitras &

to gozãOj& quanto hão de gozar por toda a eternida- de com a viíla clara de Deos todos os Bemaven- turadosdoCco ; &: fendo iíío aílim , pôde haver ma- ior locura, que por húa on- ça de intereíTc ,por hum pontinho de honra ,&:por num inítantc de golto per-

STiaraf ^ ^ tud9 quantQef- der, naó hum gráo de

Nojfa Penhora da Graça. 5 99

graça de Deos, fenão toda Pois ifto he o que fazeis,

Píalfti.

fem o entender, todas as vezes q defp rezais a graça de Deos. Ouvi ao mefmo Chrifto como fe queixa- va defle defprezo por boca do Profeta : Tretíum meum deo,erao temporal,queel- cogitaverunt repeUerc.QhQ- €1.^ le herdou de feu Pay Ifaac, gáraó os homens a tal ex- tremo de cegueira, &mal. dade, diz Chrifto, que en* tráraó em penfa mento de regeitar , Sz defprezar O meu preço. Ah Senhor,que os mefmos, que crem em vòs , & fe chamaó Chri- ftãos,não chegarão a en- trar em taô abominável penfamento ■-, mas com os

a fua graça ?

365 Mas para q aca- bemos depefaro que ain- da naó eftà pefado , torne- mos ao morgado deEfau. O morgado,que Efau ven-

o qual indo a fer facriíica- do, não chegou a derra- mar o fangue: o morgado, que nòs vendemos, he o fobrenatural, & da graça, do qual o Filho de Deos nos fez herdeiros, tendo -o comprado com todo o fan- gue , que derramou na Cruz. E eíle preço infini-

to he o que nòs taó vil, taó penfamencos, com as pala-

impia,ôc taó facrilegamê- vras, com as obras, & com

te defprezamos, Dizeime, tudooquecuidão, 6c fa-

fe quando na MiíTa fe leva- zem,defprezão, & daó por

ta o íangue de Chrifto no nada eíle voílb preçoí No

Caliz,ouveíIe algum, que em vez de o adorar, & ba- ter nos peitos , lhe voltaíle o roílo , lhe fechaíTe os olhos 3 & com o geíto de ambasasmãos o regeitaf- fe^&lançaííede fy,quem haveria que não abomi- naíle tal homem , & fe po- deífe, o queimaíTe logo?

ta aqui Hugo Cardea],quç em tudo o que fe vende,ou compra naó ha hu pre- ço, fenaó dous. o pre- ço da coufa comprada, ou- tro o preço daquilío com que fe compra : ^od emi- tur^é'quo emitur. Eíles íàõ os dous preços, q defpre- za todo aqueile que pecca, acYeU'

400 & vende , ou troca peccado a graça de Deos. Hum o preço da graçajque Chriílo nos comprou com feufangue,& outro o pre-

Sermão de pelo á\^no de fer abominado: Et fajiguhicm teftamenti plhitum dtixerit : Sc do mefmo Chrifto com ex- preííàó,& reflexão de fer

ço do mefmo fangue, com Filho de Deos, o qualpi-

quenoscomprou a graça za, & mete debaixo dos

It le me perguntais atèon- ^hs'.^i FiltumT>ei Loncul-

de chega eíte defprezo ? caverit.

Tremo de o dizer, mas he bemqueo ouçais, & fai- bais. Chega eíle defprezo naó a dcfprezar de qual- quer modo a graça de r)eos,&ofanguede Chri- ílo, mas a meter debaixo

^66 Chegada a verda- de, Sc evidencia do noíFo difcurfoaeíle extremo de impiedade, & horror :, que fenáo podéra crer, ima- ginar, fenáo fora de féi bemcreo que não haverá

dos pès,&pizar a mefma alma tão perdida, nem có-

graça, 6c o mefmo fangue, ciência tão defefperada,

6c o mefmo Filho de Deos. que conhecendo o erro, &

Sa6 palavras exprelTas , 6c cegueira em que atègora a

tremendas doApoíloIoS. fofreo a paciência, 6c mi fe-

Paulo : ^uifdium 'Dei con- ricordia divina , fem a dei-

Hcbr. culcaverity &fangíii7icm te- ^'''^^ JiamentifolUitum duxerit^ inquojanâlificatus ejt ^ & fpiritíú gratine cÓtumeliam fecerit } vede fe falia no- meadamente da graça, no- meadamente do langue, Sc nomeadamente de"Chri- ílo. Dagraça,aquefazta6 grande injuria : Spiritui grátis co7it ume liãfn fecerit : doíàngue , que reputa por

tar mil vezes no Inferno, como pondera o mefmo S. Pau Io, Sz como tal def- prezo do íhngue de Chri- llo,6cdopreçodo mefmo finguc merecia^ bem creo, digo, que ninguém havc- ni,qucnão tenha mudado derciòluçáo, Sc com ver- dadeiro arrcpendimenco , 6c dor do paOjdo, a não te- nlia feito muito firme ác an-'

Nojfa Senhor, antepor a graça de Deos a tudo quanto pôde ter , ou defejarneíle mundo, em quanto no mefmo mundo, excepta a fua graça, lhe pôde dar o mefmo Deos. E para que iílo naó íique íó em bonspropoíltosjque podem eíquecer, & tornar a fer vencidos do mao co- llume i acabo com decla- rar a todos,& lhe proteftar da parte do mefmo Deos , fobpena de faivar, ou nao falvar, o que devem fazer. 3Ó7 Tudo fe reduz a três pontos, & muito bre- ves, para que vos fiquem na memoria. O primeiro, que logo, & fem dilação o queeftiver empeccado íe ponha em graça de Deos por meyo do Sacramento da Penitencia,fazendo taó exado, 8c taò fiel exame , & confiíraó de toda a vi- da paífada, como fe aquel- la foífe a ultima para ir dar conta à divina Juftiça. O fegundo,hum total, 6c fir- miflimo propofito de con- íèrvaramefma graça , & perfeverar nella , lem fa- zer cafo de fazenda^ hoíi" Tom .7.

ida Gr aça. 401

ra , ou qualquer outro m- tereífe , & conveniência humana, & com refoluçao de antes padecer mil mor-' tcsy que cometer hum pec* cado mortal. Terceiro^ naófóconfervar a mefma graça, mas procurar com todo o cuidado de a aumê- tar comoexercicio con- trario de virtudes, & obras Chriftáas : com obfervan- cia dos preceitos divinos, com a frequência dos Sa- cramentos, com a oração, com a efmola, com o jejú> 6c mortificação de todas as paixoens dacarne,com amor dos inimigos, com o pèrdaó das injurias, com a paciência dos trabalhos,& conformidade com a von- tade de Deos em todas as eoufas, que nefta mtfera- vel vida ordinariamente faó ad verfa s : & como dan- tes com os penfamentos , palavras, 6c obras oífendia ao mefmo Deos, ailim da- qui por diante as ordene todas com reála intençaa a feu divino ferviço, 6c au- mento de fua graça , na qual taõ brevemente co- Cc mo

402 Sermão de

mo vimos, pôde acquirir, daGraça vos pedimos uni-

& multiplicar muito gran- des theíòuros^ & recupe- rar em poucos dias de ver- dadeira contrição, Sc amor deDeostudoo queefper- diçouj&rperdeoem toda a yidapaíTada.

368 E porque delibe- rada, & reduzida a alma a eíle fegundo, &: feliciflimo citado, he certo, que nam le defcuidarà o Demónio em procurar de a derrubar delle com tentaçoens-,aqui entraopatrocinio, &: am- paro da Senhora da Gra- ça , 6c feu fantiílimo nome terrivel fobre todos ao mefmo Demónio , nome- andoa, & invocado- a mui- tas vezes no meímocon- ílido 5 &; dizendo ; Maria M^tergratKCt Mater mi fe- rie ordiíT^tu nos ab hoflt pro- tege : Maria Máy da graça, Maria Máy da mifericor- dia,vòsque podeis for- talecer a noíTa fraqueza , nos defendei deílc cruel inimigo.

369 AíTim poftrados diante de vofib foberano acatamento, como Trono

camente efta, que vos efti- maíles fobre todas. E con- íiadamcnte,Senhora, vos fazemos efta petição de- baixo da promeíla do vof- fo Apoftolo : Adeamus er- 20 cíim íiducta ad thror.nm , gratt£ 5 ut mtjericordiam » 6. confeqttamur^à^gratiã in- veniamus in auxilio oportu- no. Graça , & mifericordia nos promete debaixo do voíFo amparo. E como nos pôde faltar a graça, ou a mifericordia , fendo vòs Maria Máy da graça , & Máy da mifericordia: iWíí- ria Mater grátis , Mater mifericordia ? Com.oNJáy àà graça não tédes abú- dantiíllma graça para vòs, fenaó para voílbs íilhos , quefomoso.9 peccadores. O mefmo Anjo, que vos faudou dizendo ; Gratia pLna^-àQYQccntou logo,<S/>/- ritus Sanãiis fuper-veniet in te : porque naó foftes chca de graça,fcnaó fobre- chea : 'F/ena (ibi^iiper plena 7/í>^/>5 como diz voíFo de- voto S.Bernardo:Cliea pa- ra vò§) Çc para nos fobre- cheaj

UNMft

NojTa Senhora ãa Graça. 40 3 cíieas^om que deitas fu- bemanòs^&nospertende perabundancias de graça vencenpelo que, Senhora náo podeis deixar de par- da Graça,a vos vos perte* tir liberalmente com nof- ce defendernos de fuás te- co como Mãy da graça, taçoens,8caftucias:rí^;í^^ Mater praM. ^ muito me- ah h o fie protege, t. nam nos o devemos defconfiar vos dizemos, Tu nos ab ho- devoíFa mifericordia ^ co- /^/r^r^^^ , mas para qu€ mo Máy de mifericordia , eíla protecção leja perpe- pois temos razaÓ de vos tua,&fegura atèa morte, pedir,ou demandar a mef- acrecetamos, Ethoramor^ ma graça, naÓ fôde mife- tisfufcipe. Eíle ditoío dia, ricordia, fenaòdejuftiça. Senhora 5 foi aquelíe, em Omefmo Anjo vos diílè : que pagando como filha Invemftigratíãapud "Deu : de Adaó o tributo à mor- Que vòs achaftes a graça. te,na mefma hora em que Quem achaoperdido,tem começou a voíla gloria , fe obrigação de o reftituir a confumou a voíTa graça: quemoperdeo, &:fe Eva pelo que^Senhora da Gío- nos perdeo a graçajvòs co- ria,& da Graça, por voíTa moKeparadora de todas as fantiílí ma morte, nos con- fuás perdas 5 a deveis nam cedei para a noíTa húa tal por mifericordia, fenaó hora, em que acabando ef- porjuítiça, acporreílitui- tamiferavelvidaem Gra- çaó a feus filhos. O mefmo ça, na eterna, & feliciílima inimigo, que a ella tentou, poíTamos acópanhar voíTa & venceo, nos tenta tam- Gloria.

Ccij

SER^

40+

■mm

VO

SERMAM

DE

SJOAM EVAlSIGELISTA

Fefta do Príncipe D.Theodoíio na Capella Real, anno 1(^44.

ConverfusTetrusviditillumdifàpiihm, quem ddigcbat Jefusyfeqnentem. Joann.21,

ff. I.

Uidava eu, que

dos que íèguê

ao mundo havia

venturofos , & deígraçados. Também na fantidade ha fortuna. S. Joaó Bautiíla foi dcfgra- çado com Reys, S, Joaó Evangelilla foi venturofo Gom Principes. S. Joa6 .Bautiíla foi aefgraçadocõ

Reys 5 porque hum Rey o fez nafcerem húa monta- nha, 8c outro Rey o fez morrer em hum cárcere. S. Joaó Evangelifta foi vé- turofo com Principes,por- queo PrincipedoCeo, & oPrincipe da Igreja, am- bos andaó em competên- cia neíle Evangelho íbbre qual fe lhe ha de moílrar mais afeiçoado. Fez Chri- {ío a S. Pedro Principe uni-

A

|o3nr.

M.2I.

[bid.2:^.

Sermão de S.loaõEvangeUfla, 405- univerfalda faa Igreja, & porque fe moftra fenrido apontando S. Pedro para Chriílo do cuidado , que S Joaó, diíTe : T>omine, htc moftrava Pedro ? Os fenti^ autem quid? Senhor , fe a mentos eraó diverfos, mas mim me dais o Pontifica- a caufa era a mefma. Sen- do, fe a mim me entregais tiãofe ambos , porque am- as chaves do Ceo, aos me- bos amavaó muito a S. recimentos de Joaó, que João. Pedro fentiafe da lhe haveis de dar? Que ref- dignidade , que lhe dava ponderia Chrifto a S. Pe- Chritlo; porque como Pe- dro? Sk eum voio manere dro amava muito a Joaó, donecveniam.qtiidadte^Sè queria a dignidade para eu quero que Joaó fe fique elle,&: não para fy : Chri- aíTim, quem vos mete, Pe- fto fentiafe do cuidado, dro, a vòs nilTo ? Quem vos que moftrava Pedro , por- fez procurador de Joaó ? que como Chrifío amava ^///í?í2í//^é'? Notável repo- mais que todos a Joaó, fta de Chrifto, & notável naó queria que ouvefle propofta de Pedro! Chri- quem fe moftraíFe mais fto & Pedro ambos parece cuidadofo que elle. Onde que eftaó queixofos pelo eftà Joaó,dizia Pedro,por- quehaviaõ de eftar agra- quemehaóde dar o Pon- decidos. Na repartiçam tificado a mim ? Hic autem dos lugares fentemfe as ^íí/V.?Ondeeftoueu,dizia dignidades, que fe dão aos Chrifto, porque ha de ter outros: nos negócios dos outrem cuidado de Joaó? amigos, fentefe que haja ^idad te ? De maneira, q defcuidados,masnam que o Príncipe da Igreja, &: o •liaja cuidadofos. Pois fe Principe da Gloria anda- Chrifto era amigo dejoaó, 6c Pedro eftava feito Pon- tifice : porque fe moftra fentido Pedro da dignida- de, quelhedava Chrifto? Tom. 7.

vão ambos em competên- cia fobre qual havia de amar mais a S Joaó ,porq fer amante do Evangeli- fla amado , ouhe deftmo, Ce iij ou

40 6

Sermão de

"^ ■•^\

ou he obrigação dp$ ma- iores Príncipes.

371 Taó qualificada, Senlior,5c taó authorizada comoiílotem V. A. ade- vaçaó do feu amado Evá- gcliílaSJoaó: authoriza- da com os cuidados do Príncipe da Igreja,& mais authorizada com as emu- laçocns do Príncipe da -Gloria. Com tudo , Se- nhor, eu quando confide- ro a V. A .Príncipe de Por- tugal 5 naó deixo de ter meus efcrupulos neíla de- vaçaó. S.Joaó foi o valido deChriíloi&: hum Prín- cipe de Portugal logo em feus primeiros annos aíFei- coado a validos! Devaçaó a valido, ainda que Santo, cm hum Príncipe ! Efcru- puíofa devaçaó. diziaó os Ifraelitas aDeos,que lhe naó havíaó de chamar Baalim , que quer dizer, Senhor meu j porque ain- da que Baalim era nome de Deos, equivocavafe cp Baal , 4 ^^^ "O"^^ do ído- lo. Pois feonome do ído- lo, ainda pofto cm Deos, craperígoíbi o nome de

valído^ainda que pofto em S.Joaó , porque o naó fe- ra? Valido ainda que feja S. Joaõ,he valido ; & aifei- çaó a valido no noífo Prín- cipe! Pois por certo, Se- nhor, que não faó ç,^^s os exemplos,que V. A. vè: náo he eífa a doutrina com que V. A. he criado.Quan- to mais que havendo de haver valido , parece que naó havia de fer S. Joaó. Os validos inventáraóíc para os Príncipes defcan- çarem nelles j & S. Joaó era hum valido , de quem diz o Evangelina : Recu^ hmtfupra peãuí ^Dominii]cihi^. Queeíteve encoítado íb-***^ breopeitode feu Senhor. Lindo talento de valido! Em vez de o Príncipe dç;{* cançar nelle, elle defcança no Príncipe/

§. II.

373 /"^Omiftoferc- V^>prefentar af- íim, cu acho duas razoens muito forço fas para o Príncipe N.S.fe affeiçoar a elle grande valido de Chri-

A

S.loãdEwtígeVfia. , . 4^7

Chriílo. Aprimeira,pelas porque o foi pnmeiro do partesdo valido : a fegun- SereniíTimo D. Theodoíio da, pela authorídade de feuAvo: EttamT>omtno quem o inculcou. Quiz anja noftro lauãabútter aã- ElRey Athahrico tomar hsfiffe. Sendo S.A.demui- porfeuvalído a Tholoni- to menos annos fonhou> CO patrício Romano , & qire lhe aparecia o Senhor cfcreveolhe aíTim em húa Dom Theodoíio > & que Epiílola, que he a nona lhe encomendava muito , livro 8.de Cafriodoro : Ad que foíFe grande devoto relevandãjlorenúfmaata* de S. JoaÓ Evangeliflra , de tis mftr/folíCítudinem vé^ quem eíle toda a vida fora fumeftte wum prudentif^ devotiíTimo. Náo foieíia fimum adhibere, quem con* a vèz primeira 5 quetelíci. f{atetíamT>omino dvo no- dades de S. Joaò tiv^-ao 0rô laudabiUter adhafijf^. principio em fonhos. Eíte Querovos por cópanhei- íbnho myftcriofo toi o rono governo deftes meus principio defta devaçao:ôc primeiros annos,dizAtha- efta herança dmna foi a larico a Tholonico, por que deixou a hu tal Meto

. duas razoens-.porq tendei hum Cal Avo. prudência para o fer , & ^n outrji vez ao porque o foíles primeiro daCruz foi S. João is- do Senhor Theodorico vangeliíla deixado em he- meu avo : ^em conftat rança; Sc a meuver,eftehe etiam Domino avo noftro hum dos grandes louvores laudahiliteradhajiJfe.^E^^s doDifcipulo amado : ler mefmas faó asrazoens,que hum am Jgo,de quemiepo- oPrincipe,queDeosguar- deteftar. Hum dos gran- de,tcm para fer taô affei- desefcandalos, que tenho coado a eíle grande valido do mundo, he , -porque íe

àe Chriílo. A primeira^ nãohade teftar dos ami-

porque tem grandes par- gos? Na morte teílaò os

tes para o fer : a re<5unda , homes de todos feus bens,

^ " Ce iiij &pojs

a

(>;

Joann.

408

& por eíTa mefma razaó parece, que haviaó de te- ftar dos amigos em pri- meiro lugarj porque entre todos os bens, nenhú bem ha maior que os amigos, 6c entre todas as coufas nof- fas ^nenhuahe mais noíTa que os amigos. Pois fe os amigos faó os noílbs ma- iores bens , & os bens mais

Sermão de

rusmortuuseft: Lazaro he morto. Notável diííercn- ça! Quando Chriílo diz que Lazaro dorme , cha- malhe amigo noíTo : La- zartis amicus no/ter dormit-, quando diz que Lazaro he morto, naô lhe chama amigo : Lazaras mortuus efl. Pois fe lhe chama ami- go quando diíTe que dor-

rbid.14

noíTos, porque naÓ tefta- mia, porque não Ihecha mos delles ? A razáo heef- ma amigo , quando diíTe

ta j porque os bens de que teftaó,& podem teílar os homens, faóaquelles, que permanecem depois da morte j &:osamigos,ainda quefejaó os noíTos maio- res bens, faó bens que fe acabaócomavida. O ma- ior amigo permanece ate a morte, depois da morte ninguém he amigo. Mor- reo Lazaro eftando Chri- ílo aufente i & he muito de reparar o modo que Chriílo Senhor noíTo deo efta nova aos Apoílolos. A primeira vez diíTe: La- zarus aniicus nofter dor mi t. Lazaro nofib amigo dor- me. Dahi a pouco expli- coufe maisjôc diíle: La;^a'

que morrera .^Porq quan dodiífe que dormia, íu- punha-ovivo; que o dor- mir em rigor he de quem vive > quando diífe que morrcrajdeclarava-o mor- to : & o nome de amigo acabafe com a vida : de- pois da morte ninguém he amigo. Lazaro vivo he amigo : L azar lis amicus nofter y Lazaro morto he Lazaro : Lazarus mortuus eft. E como as amizades humanas faó bens que naó permanecem depois da morte, por iíTo os homens naó teílaó deíles bens, por iílòfcnaódeixaò os ami- gos cm teíiamento. S. joaóEvãgcliihi foi cxcei- çáo

à

■^-

|oinn ip

S.loaÕEi^angelifta. 409

çaõdefta regra, como de com a morte: as finezas do

todas. Fez Chriftofeutc- ftamentonahora da mor- te, & a principal herança de que teílou , foi S. Joaó : Mu líer^eccefilius tuus . S a- bíaqoamor do feu ama- do naófe havia de acabar com a vida j por iííb foi a herança principal de feu tefta mento.

374, No Sacramento da [^luchariftia confagrou

fangue de Chrifto ainda depois da morte perfeve- ráraó. O corpo de Chrifto concorreo a redempçaó, padecendo j o fangue de Chrifto concorreo à re- dempçaó, derramandofe: pois por iíTo teílou Chri- íto de feu fangue, & náo te- ílou de feu corpo , porque o corpo depois da morte naópadeceo, o fangue de-

Chrirto igualmente feu pois da morte ainda fe der- corpo,& fangue ; mas no rzmo\x'.Exivit Janguis.EÇ-

modo da confagraçáo re paro eu em húa differen- ça grande. A confagraçaó do CalizjchatnoulheChri- fto teftamcnto : Hic Cálix Lnc.22. novum teftamentum eji tn ^' me o fangume : à confagra

fa foi a caufa porque ad- ip^^".' vertidamente o E vangeli- ftafallando da lança, naò diíle que ferira, fenaó que abrira : Latus ejm aperuit : ''^'^■ porque a lançada nam foi ferida para o corpo , foi

Ibid-ip.

çaó do corpo naó lhe cha- porta para o fangue : nam mouteílamento ; Hoc eft foi ferida para o corpo,

corpus meum-t^ nam diíTe mais. Pois fe Chrifto cha- ma teílamento ao fangue, porque naô chama teíla- mento ao corpo > 6c fe te- ílou do íàngue,porque naó teílou do corpo ^ A razaó muito a noíTo intento hc eílaj porque as finezas do

porque o corpo naô a {cri- tio ', foi porta para o fanr gue,porque o fangue fahio por ella : Exivitfanguis. E como no corpo áç^^ois de morto naó havia fentimê- to para padecer, & no fan- gue depois da morte ainda havia impulfos para fair.

corpo de Chriílo acabarão por iífo ^teílou Chriílo de

feu

41 o Sermão de

fcu fangue,&não de feu noíTo Senhor. Provo em

corpo : Hic Cálix novum tejlamentumeft in meofayf guine-. Oh divino JoáOjque bem moftrais fer Tangue de Chriíto na fineza de voíla amizade! Náo fe aca- barão roflas finezas coma morte, antes depois que Chriftomorreo por vós, morreíles vòs mais por

próprios termos. Quando Chrill:ofezo feu teftamc- to n^ Cruz, teve duas cou- fas de que teílar r teílou do Reynoj&teíloudeS.íoão. Saibamos: E a quem dei- xou eíles dous legados ? O Reynodeixou-oa Dimas, S. loão deixou-o a fua Máy. Pois como aíIim,Se-

elIc-poriíToteílou de vòs nhor, parece que fe ha viaó voílbMeftre : por iíío te- de trocar os legados : o

ílárãódevòs noíTos Prin cipes.

37f Ora eu me puz a confiderar em razáo de herdeiro , a qual devia mais o Principe, que Deos guarde, fe a ÈlRey noíTo Senhor, fe ao Senhor Dom Theodofio .? Em quanto herdeiro delRey noííb Se

Difcipulo bailava deixalo a hum amigo , o Reyno convinha deixalo à Máy: pois porque deixa o Difci- pulo à Máy, & o Reyno a Dimas .^ Porque a quem Chrift-o amava mais, era bem que deixaíFe o me- lhor legado. E o Reyno de Chriílo fer o melhor do

nhor, a herança heoRey- mundo, àMáy,a quê a ma- no de Portugal : em quan- va mais, deixou a íoaó , a to herdeiro do Senhor D. Dimas,a quem amava me- Theodofio, a herança he nos, deixou o Reyno. Por- S.Joaó Evangelifta. Poisa que muito menor herança qual deve mais S. A.em ra- era o Reyno,do queloaó. zaó de herdeiro .<* Naó ha S. Ambrofioexpreííli , &

duvida 5 Senhor, que em razaó de herdeiro deve V. A. mais ao Senhor Dom Theodofio , qucaElRcy

eftremadamentc .• Matri dixit-.Ecce filius títtis: : La^ ^^, troni dixit- liodic mccií eris in Taradifo : plurisfinans^

í. III.

5*. haõ Evangelifia. ' 41 1

qiiodpietatts officia divide- bat^ quàm quod Reg?iu C^-

kãe donabat. A May , a -n t

quemamava mais, deo a 37^ A Pnmeiraboa loaó, a Dimas, a quê ama- 't\ parte, que eu

va menos, deo o Reyno : reconheço em S.Ioaò para porque pondo em fiel ba- valido, he fer E vangelifta. lança de húa parte o Rey- Os validos haó de fer E- no do Ceo , de outra parte vangeliílas. O oíficio dos a S.Ioão , entendeo Chri- Erangeliftas he dizer ver- fto,que dava mais a Ília dade 5 & os validos haó de Máy em lhe dar a Joaó, do ter o dizer verdade por oh que a Dimas em lhe dar o ficio. Alguns homens tem ^ —' ^ ^ ' havido Evangelizas, mui-

tos homens tem havida vahdos : mas valido, 6c E- vangelifta juntamente S.Ioaóo foi. A razaó,ou fem-razão diílo he ; porq os q faó validos não que- rem fer Evangelizas: & os

É^cjaoiTlíirisputans^qmd pietatis oficia diviaebaty fuàm qmd Regnum Cdtlefle dynabat. E feSJoaó fem lifonja he melhor herança, que o Reyno do Ceo, fem ingratidão podemos di- zer, que he melhor heran-

ca também, que o noífo de que faó Evangeliftas nam

Portugal. chegaó a fer validos. Sq

Efta he a primeira ra- em S. loão feajuntáraó ef-

zão,&; mui juftiíicada, que tas duas propriedades, das

S. A. tem para fer mui af- quaes fe compõem a ma-

fedo ao grande v alido de ior prerogativa fua. Sabeis

Chrifto, por fer herança qual he a mais finguiaif

do Senhor Dom Theodo- prerogativa do Evaugelir

fiofeuAvo. Aíegundahe, ftaamado? Heferamado

pelas boas partes, que em íendo Evangeíiíla. R^P^-

S Joaó fe achaó para vali- ro eu muito no noíTo Evã^

dp>como agora veremos. gelho em húa coufa em

que naó vejo reparar. ^^

^12 Sermão de

joann jc^j^^s quid veTum efl tefti- Ter amados. Oh que gran-

W^:

monmme]us\ diz S. Joaó por fim de feu Evangelho, que tudo o que diz nelle he verdade. Ociofa adver- tencia,ao que parece, por certo. Leãofe todos os E- vangeliftas, & nenhum fe achará, que fízeíTe feme- Ihante advertência. Pois fe Gs outros Evágeliftas naó dizim que he verdade o que efcrevéraó 5 porque cizS íoão, que he verda- de o q le efçreveo ? Náo

de gloria de Chrifto! óq grande gloria de loáo í Grande gloria de Chnílo, que o feu amado feja hum > vangelifta : grande glo- ria de loaó, que fendo E- vangeliíla feja o amado. Masiílo naó fe acha em toda a parte: na Corte do Ceo,&: na de Portugal ; íóno Principe da Gloria, &no noífo Principe. O q importa, Senhor ,he,que feja fempre aílim. Os ama-

tij ha Igual authoridade ? dos fejaó os Evangeli- Náo era Evangelifta co- ftas: Sequem naó for Evá-

mo os demais ? Sim era, mas era Evangeliíla ama- do •,& porque o amor po- dia fazer foípeitofa a ver- dade, advertio, que ainda que era amado, era verda- deiro: 'Dífcipulum quem di- ligebat : (^fcimtis qnia ve- rum] e/l tejimonhim ejus. Ordinariamente nas Cor- tes dos Principcs, os que contrafazem a verdade, faó os q grangcáo o amor. Na Corre de Chriílo naó heaflimios que tem por profiífaó fer verdadeiros, iàó os que tem por premio

gelifta, naò feja amado.

377 Equalhca razão porque os Evágeliíhs de- ve fer os amados.^ A razaó he evidente: porque o ma- ior merecimento para fer amadojhe amar,6c a maior prova de amar , he filiar verdade. Perguntou Dali- la a Sanfaó por trcs vezes, em que parte tinha vincu- lada fua fortaleza, iSc que remédio podia harcrpara fer vencido ^ Rcfpondco Sanfaó a primeira vez, que fc o atalfcm fortemcnrc com nervos : a fcgúda vez, que

S.loaÕ Evangelifta. 41 1

que fe o ataíTem com cor- 'vices mentitus esmihi. Pela

das : a terceira vez, que fe primeirafalfidade em que

o ataíTem com oscabel- ovaíTailofor achado , ha

los 5 mas de todas as três de cair logo da graça do

vezes rompeo elle çom fa- Principe, & cair para fem-.

cilidade as ataduras. E pre. Parece demafiado ri-

que faria Dalila vendofe aílim enganada ? C^ei- xoufe muito de Sanfaó : diíTe^que fabia de certo, que a n^ió amava , ^ fez- Ihe efte argumento,* ^ííí7- modo dicis quod amas me ? per três vices mentitus es mihi\ Como dizes tUjSan- íàój que me amas, fe me mentifte três vezes ? Bem tirada confequencia : mê^ tifl:eme,logo naò me amas. A confequencia he clara: porque amar he entregar o coração , mentir he en- eobrilo: bemfe fegue lo- go, que quem nao falia verdade, naó ama ; porque como ha de entregar o co- ração, quem o encobre? De maneira , que da ver- dade de cada hum pòdc julgar o Principe o feu amor : com advertência porém , que naó deve ef- perar, como Dalila, pela terceira mentira ; Ter três

gorjporq agraça deDeos naô fe perde por qualquer mentira: bem pôde hum homem naò fallar verda- de, & mais ficar em graça de Deos. Com tudo no Principe naò he bem que fejaaííim. Porque ? Por(| para Deos, que conhece os coraçoens , bem pôde haver mentiras veniaes, mas para quem os naò co- nhece, todas he bem que fejaò mortaes,& que por todas fe perca a graça. A graça confiíle no amor: quem naò falia verdade^ naó ama-,logo onde fe pro« va o defamor , bem he que fe perca a graça. Percafe a graça , onde fe provar o defamor, que hea menti* ra : ganhefe a graça, onde fe provar o amor^que he a verdade: & andem jim- tos çomoem S.Ioaò o titu- lo de Evani^eliíla com de amado,

Naé>

f

4,144 SermaÕ de

lf% Naó fou amigo cas , diíTe-as S. de deixar duvidas na mi-

nha doutrina. Todos me eftaó pondo contra efta húa grande inftancia. S. Alatheus, S.Marcos,S. Lu- cas também foraó Evan- geliftas j com tudo não al- cançarão privilegio de amados: logo S.Joaó naó foi amado por fer Evan- geliíla; & fe foi amado por Evangelifta, qual he a ma- ior razão ? A maior razaó he efl-a: porque S, loaó E- vangelirta, como notou S. leronymo, diíTe no feu E- vangelho muitas coufas, que os outros Evangeli- rias deixarão de dizer : & dizer as verdades , que os outros dizem 5 não he ac- ção que mereça ílngular amor i mas dizer as verda- des, que os outros deixaó de dizer , quem iíiofaz, merece fer fingularmente amado. As verdades que diífeS. Mathcus, diíTe-as S. Marcos, diíle-as S. Lu- cas :ns verdades quediíTe S. Marcos, diflè-as S. Lu- cas, diíle-asS. Matheustas verdadçs quç diffç §, Lu,-

Matheus, diíle-as S. Marcos : mas muitas verdades quedifle S.Ioão,naóasdine S Ma- theus, nem S.Marcos,nem S.Lucasj elle as diíTe. E quem fabe dizer as ver- dades, que todos os outros callão, elle merece fer mais amado que todos. Não ha de fer o amado quem calla as verdades, que os outros dizemjfcnaó quem djz as verdades,que os outros callão. AíTim o fez S. Ioão,& por iíTo foi o íingularméte amado: T>if' cifulum qtiem dtligebat.

§• IV.

379

ASegúda qua- lidade de va- lido que teve S. loão, & a que cu admiro muito nc- ííe grande Santo, he fer valido,quc ficou aflim : S/c etim 'uolo mancre. Pergun- tou S. Pedro a Chriflo; domine , hic atitem qiúd ^ Senhor,fc a mim me fazeis Principcda voíTli Igreja, S.loaòjovonb valído,que hwi de fer ? Keípondeo o Se-

S.loaÕE^vangeliJia. 415'

Senhor: Si c eiím volo ma- mais acomodada para o

iíére : Quero q fique aílim. Eíla he, a meu ver, huma das grandes excellencias do Evangelifta , fer hum valído,que ficou aílim. Ser vali do,&- ficar logo de ou- tra maneira , iíTo acontece a todos, mas fer valido, & ficar aílim como dantes, he íingularidade de S. loaó. S. Pedro, que media a S. loáo pelos outros validos

que Deos pertendia. Deos de hiãa pequena parte de Adaõqueria fa^er fubita- mente húa Eva, que foífe taó grande como elle; pois por iíTo a formou do lado, &c naó doutra parte j por- que he propriedade dos lados crecer muito em pouco tempo. Ainda ago- ra coíla,6c Eva ? Ainda agora húa parte taô pe-

imaginava que havia de quenadoladode Adáo, &

crecer muito com o vali mento : Hic autem quid^ Mas S. íoaó, que fe media confígo , ficoufe aíIIm co- mo dantes era : Sic eum v&' lo manére.

380 Húa das circun- ílancias em que reparo

taó grande como o mef- mo todo de que era parte? Sim : porque a colla era parte do lado de Adão. Adaó era Principeuniver- fal de todo o criado: & naó hacoufa que mais creça, nem mais depreíTa, que os

muito na criação do mun- lados dos Principes. Veja dojheformarDeosa Eva feem lofeph com ElRey

do iado de Adão- ; naó a pudera formar da cabeça , para que fora entendida.^ Não a pudera formar das mãos, para que fora exe-

Faraò : vejafe em A mão com ElRey AíTuero : ve- jafe em Daniel ElRey Dário. E que fendo taô na- tural o crecer nos lados

cutiva ? Não a pudera for- dos Principes, que S.Ioaô, mar dos pès, para que fora que era o lado do maiov

diligente ? Pois porque a forma do lado .^ Porque o lado de Adáo era a parte

Priticipe do mundo>nam

trataíTede screcentamen-

to^&fç deixaíie iicar aili m:

Sic

f

^m

Cant. 7-7'

*^i

4IÓ

■Sermão de

Síc etim vólo manère ? Gra- de excellencia do Evano;e- Ma!

381 Trescoufas hane- íte múdojque fempre cre- cem, & nunca ficáo aíllm : húa faz a natureza , outra

-rli

melhorando yàclaritntein - ^p clarttatem , como diz S. Paulo. Eíla he a cílatura das palmas alentadas pela natureza j eíla he a eftatu- ra dos Santos infpirados pela graça -, & efta he a ef-

fiiz a graça, outra faz a for- tatura dos validos aíTopra-

tuna. A natureza as pai mas: a graça os Santos: a fortuna os validos. A eíla- tura da Alma Santa diziaó as outras Almas fuás com- panheiras , que erafeme- Ihante à palma : St atura tuaafftmilata eji palma. E porque mais à palma , que a outro corpo bizarro, Sc viftofo de quantos criou nos campos a natureza ?

dos pela fortuna. Eílatura que por mais crecida , & por mais remontada atè as nuvens que a vejamos, fempre crece mais,&mais. E fenão lembraivos dos três que agora dizia, Deo Jacob por béçáo-a Jofeph> que creceíle fempre : Fi- cca^c Ims accr t/cens lo feph, f/ms i? -»• acere/cens: &:ondefecum- prio cila benção ? Na pri-

Porquc todas as outras ar- vança,Sc valimento de Fa- vores, ainda que fejaó os raò. Amam graó privado

cedros mais gigantes do Libano,tem limite no cre- cer , & termo na cílatura : a palma náo , fempre crece. Taes faó as almas dos Santos. Como a vir- tude não tem termojcomo a perfeição náo tem limi- te, fempre eltão crecendo na virtude , fempre eílaó

de AíTuero , atè o dia em que acabou creceoj & por- que não teve mais para on- de crecerjacabou. Pareceo defgraça5& foi natureza; que aíllm acontece à pal- ma, ou crecer, ou acabar. Daniel na privança de Dá- rio, tendo fubido a fer dos três fuprcmos Princi-

fubindo na perfeiçào,fcm- pes de toda a Monarchia , prefeeítáQ renovando, ainda q Rcy queria que

cre-

S.loão Evangelifta, 41 7

crcceílc mais , & que foífe crece a eftatura dos mef-

_ .. . 1 iTTt

cUefófobre todos -.Torro Rex cogitabat conflituere etm fuper omne Regnum, Offenderaòfe os grandes de tanto crecer : 5c o remé- dio que inventarão para

mos adorados. Hontem Pygmeos, hoje homens, à menháa Gigantes, o outro dia ColoíTos Pefamedeíla ultima comparação, por- que quando lhe acrecentei

qiicnaó creceíTe mais Da- a grandeza, lhe tirei a ai- mel, foi bufcaremlhe oc- ma. NáoaíTimomaiorv^ cafiaó com que o tiraíTem lido do maior Príncipe b, doladodoRey. Na5 he ]Q2.Q'.Sic€umvolo manére. frafefódanoíTalinguajfe- Sempre ficou na mefma naó do meímo Texto fa- eílatura, fempre fe confer- s;rado : Vnãe Trincipes, & vou do niefmo tanianho, fatraP£ qiiarebant occafio- & nem apparencias de ma- nem^ut mvtnirent Tímielí ioría lhe grangeou o lado. èlatere Regis. Do lado o Levantoufe queíláocn- querião tirar, porque do treos Apoftolos,qualde.^ lado lhe vinha o crecer. lesfoíTemaiorP^/^^m/^^íLuc Não fei que influencias vtderetur effe mmor > Efta ^^• o lado do Príncipe , que queílão,ameujuizo, foi o cm todo ea-e elemento em maior louvor de S. loão. que vivemos, náo ha parte Que feja S. loãoremquc- táo fértil , & táo fecunda ftão o valido, &: que ainda comoaquellesdouspèsde efteja em queftáo quem terra ; tudo alli fe dà, tudo he o maior ! Grande lou- "" vor de valido í Naquella

mefma hora , &naquelle mefmo lugar em que fe le- yantou a queftão,que foi à mefa da cea, tinha Chriílo feito publica entrega do feuladoa S. loão 5 ac na-

alli medra, tudo alli crece. Crecem os parentes , os amigos, os cnados.xrecem as honras, os poílos , os tí- tulos : crece acafa,a fazen- da, o regalo : crece o po- der, o dominiojO refpeito.

a adoração , & fobre tudo quella mefma hora , & na- Tom./, I>d qucHa

4^S Ser mau de

quella merma mefa fe ú- retiir. E tinha crecido, &

4

nha S.Pedro valido defua valia , para faber por elle o fegredo do traidorj&elle o tinha perguntado a Chri- ílo. Pois íe o valimento de S. Joaó eílavataó declara- do, fe o lado do fea VáwQx.- pe lhe eílava taó publica- mente entregue todo , & fóa elle ; como duvidaó ainda os Apoílolos, & có- tendem fobre qual dos do- 2eheomaior.? Náo eílà claro, que o maior entre

medrado taó pouco S. loão com o feu valimento, que todos os outros Apo- ííolosnaó podiaó plei- tear com ellea maioría,re- não amda as apparencias. De forte que no cume da fua privança, Sr no mais fubido,& remótado do feu valimento, naófónaóera maior, mas nem o parecia: ^ús eoYum videret ur. S o iftohe ficar aíilm.

382 Mas nefte ficar af-

todoshejoaó ? AíTim ha- fim de S. loão, quem ficou via de fer,feJoaó naó fora mais acreditado, o lado,ou

hum valido, que ficou af- íim. EraS. loáo tanto do feu tamanho fempre , taó medido com a fua eílatu- ra,sS: taò igual configo, que por mais que creciam os valimentos , elle fem- pre fe ficava afilm como dantes era: na valia era fem contenda o maior, mas na maioria como os demais: ^ús eorum víd^.' retureffe maior. E notai, que a contenda em rigor naó foi fobre quem era o maior,fcnaó fobre quem o parecia : . ^is eoriim vide-

o valido ? Eu cuido que ambos. Afilm como nos validos, que náo ficão af- fim, tanto heo deícredito dos validos,como o dos la- dosi afiim nefie grande va- Jídojque ficou aílim , taó acreditado ficou o lado, como o valido. Não fiava taó delgado como ifio a máy de S, loão, & fiada no fangue que corre pelas veas,pedioa Chrifiopara cada hum de feus filhos hum dos lados, & hua das maiores cadeiras do Rey- no : "Dic iitjcdeant hi duo

fijj

tfhtfli

S.loao.E filij mel , iinns addexteram, é' alitís aãfiniftram in Reg- no r//í>. NaódiffirioChri- ílo porentaó , mas a feu tempo de a metade deíla petição fez dous defpa- chos : deo hum lado a S. loâoj&cdeo húa cadeira a S. Pedro. Pois fe a mãy pe- dia para S.Ioão a cadeira, & mais o lado, porque lhe naódeoChriftoo lado^Sc mais a cadeira ? E que lhe naòquiz dar ambas as coufas que pedia , fenaó hua fó, porque lhe na6 deo a cadeira , fenaó o lado ? Deolheolado,&naó a ca- deira, para acreditar o la- doj&deolheo lado fem a cadeira, para acreditar a S. loaó.Sc Chrifto amando a S. loaó mais que a todos lhe naó dera o ladojfcnaó a cadeira, moftrava que eíti- mavamaisa cadeira, que o lado J&: era defacreditar o lado : & fe lhe déíTe o la- do,&:a cadeira juntamen- te, moftrava que S. loaó naõ eftimava5& queria o lado , fenaó também a cadeira 5 & era defacredi- tar a S»l9áo. PoriiTolhe

Vãngeliftd. ^ 4^^

naó deo a cadeira, fenaó o lado, &poriírolhe deo o ladofem a cadeira. Que- rer antes a cadeira, que o lado, he afrontar o lado: querer olado3&; mais a ca- ^. deira,he afrontarfe o va- lido: querer o ladoj&nao querer a cadeira, he honra do v,alido,8c mais do lado. Ifto he o queninguê faz, iftohe o que fez S Ioaò,& iílo o que Chrifto queria ; q foíTe feu valido S.Ioaó,& que fendo valido feu, fe íi- caíTe aíTitn : Sic eum volo manére.

§. V.

38 j A Terceira qua- jnLlidade admi- ravel,que refpíandece no Evangelifta, foi fer hum valido, que fez do fegredo ignorância. Hum dos ar- gumentos de feu valimen- to,que S.Ioáoallega nefte Evangelho, foi pergun^tar a Chrifto : ^h í>ft,qui tra- j^^^^ dette ? Quem era o trai- 21-^0. dor,que o havia de entre- gar? Refpondeolhe o Se- ílhorjque era Judas:&acre- Ddij centa

420

ccntao Evangelifl"a : Hoc

Sermão de dãoofeí

Teclo

a memoria, joann. atitem nemo jcivit íHfcum- fendo que o haviaó de en- '^^ ' beríthim-.Q^M^i^íonm^vxm comendaraoefquecimen- ofoubedos que eftavso à to. O fe.s;redo encomen-

mefa:logo náo o foubc o jnefmo S. loão, que era híi dosqueeftavãoa ella. He confequencia de S. A^p- ílinho. Pois fe Chrifto o difleaS. loão , comohe poíTiveli que S. loão o naô íbubeíTe? Claroeftàqueo foube .-pois íe o foube S. loaój como diz que o nam foube ? Hoc atitem nemo fciíit ? A razão he eíla : porque o que Chriíto diflc a S, íoaó 5 diílelho em fe- gredo,6cS.íoãooquefabe cm fegredo naó o fabe. Nos outros homens o ia- berem fegredo he fabcr, em S. íoaó o faber em fe- gredo he ignorar : Nemo fcruít. Nenhum ícgredo he fegredo perftitOjfenam o que paífa a fer ignorância ; porque o fegredo que fe íiibevpodefe dizer, o que feignorajnaò íepode ma- ni fcilar. [{ lia he a cau ía de os homens comummente não fíbcrcm c;uardar

dado à memoria corre pe- rigo j o fegredo encomen- dado ao cíquecimento eílà feguro. A razão he: por- . que o fegredo encomen- dado à memoria he caute- la, & oquefe guarda com cautela, podefe perder: o fegredo encomendado ao cíquecimento he ignorân- cia, & o que fe ignora to- talmente, não fe pode ma- nifeftar. Logo o perfeita fegredo heíó o que chega a fer ignorância , & tal era odeS. loão : IJoc aiium nemo fcivit difiumbentjum. Bufqueiprovaa eíle pen- famento,&:fó em hum ho- mem Deos a achei.

384 Falia Chriílo da incerteza do dia do luizo , &: diz aflim : T>edie auttrn Marc. ilía ru-inofctt^ neqtte Ârigeli^ ' ^^^ neque Filnts. Odiado! ui- 20 ninguém o fabc.nem os Anjos, nem o mclmo Fi- lho do homem. EAc tex- to hc hum dos m:iis diffi-

grcdos ; porque cncomcn* cukofos, que tem o Tclla-

mcn-

S.loãÕ E'vangelifla '. ^ 421

mento Kovó-, tão diffiçul- quando havia de fer o dia

tofo, quefe canfárão nelle todos os quatro Doutores da ígreia contra a herefia dos Arrianos. Dizer Chri- íloquenê o mefmoChri- ílo ílibe quando ha de fer o

doíuizo, fabia-odema neira, que não queria re- velar efte fegredo aos A- poftolos : & nas PeíToas di- vinas, como Chriftojofa- ber em fegredo he igno-

dia do luizo : notável pro- rar. S. Hylario : ^od Fi-

pofição! Chriílo em quan- Ihís hominis nejcit^ facra-

toDeos fabe quando ha meraumeft^quodraceat. O

de fer o dia do íuizo , por- que Chriílo chama igno-

que a Ciência á'iYÍa2i he rancia do dia do luizoj

comua, & igual em todas nãohe ignorância, he fer

as três divinas PeíToas: gredo •, mas chamafe o fe-

Chrifbo em quanto home gredo ignorância , porque

também fabe quando ha nas Peílbas divinas o en-

de íer o dia do mizo , por- cobrir he como o ignorar.

que ainda que a Ciência O mefmo paíTou em S.

de Chriílo em quanto ho- Ioaò(que delle,& de Deos

memnãoheinfmita , he fallaô com o mefmo efdlp

univerfal, ScperfeiriíTima, os Evangeliílas ) quiz di-

^ conhece todos os futu- zer que encubrira, & diífe

ros, & decretos divinos, que ignorara : Hoc atitem

Pois fe Chriílo em quan- nemofcivit dtfcumbenthm.

to Deos, & em quanto ho- 385 Ainda naô eílà en-

mem fabe quando ha de carecido o íino do fegredo

fero dia do luizo, porque deS.Ioaó. Tornemos ao

diz que o naó íabe ? T>e die noíTo Texto. §^1 recubuit

mitem tila nemo fcit , neque fuprafjeãiis T>ominh & di-

,Fãíus> A expoíiçáo deíle xfn^iiseji^^qui tradet ie>

"paílb mais recebida de to- Diz S. loaó, que vio S.Pe-

dosos Doutores, he eíta: dro aquelle difcipulo

porque ainda que o Filho amado do Senhor, o qual

de Deos fabia muito bem naCeaeíle\^ereclinadofo-

Toni.;. Dd iij bre

42 2 Sermão de

brefeu peito, 8c lhe per- os perguntara, íTm ; que

guntou quem era o trai- dor? Reparo. Parece que S. Joaõ naó havia de di- zer, que era aquelle que perguntou a Chriílo , que era o traidor , fenaó que era aquelle a quem Chri- ílo diíle, quem era o trai- dor. Fundo a duvicla:por- ^ue o intento de S.Joaó era provar , que elie era o amado de Chriílo , & o amor de Chriílo para com S.Joaó naó fe prova com S.Joaó perguntar o fegre- doa Chrilio , fenaó com Chriílo revelar o fecíredo

lhos diíFeraó , não. Não dizer hum homem o íè- gredoquefabe, he muito. Masnãodizer quefabe o fegredo , he muito mais. Porque.^ Porque nró di- zer o fegredo que íabe, he guardar fegredo às coufas : mas naó dizer que fabe o fegredo, hc guardar fegre* do aoíegredo. A viíla de S. Paulo fe verá melhor eíla fineza de S. locão. A S.Paulo arrebatou- o Deos ao terceiro Ceo , & revê- ^-.^^^' ioulhe grandes íegredos : 1 2.4.' Au divi arcana vcrhay qua

•a S.Joaó Pois fe Chrifbo 7ionlicethominiloquí\Ouvi revelou o fegredo a S. fegredos, q fenaó podem

Joaó , porque nam diz S. Joaó, que Chriílo lhe revelou o fegredo.^ Porque diz fomente, que elle lho

contar. Ora vede quanto vai de S. Paulo a S. loaó. S. Paulo naó diíTe os íe- gredos que ouvira , mas

perguntou : Et djxit: G^uis diílè que ou vira fegredos : ejl^qui tradct te ? Naó fe Audivi arcana verba , qua

podiafubira mais em ma- téria de fegredo. Foi taó efcrupulofo valido em matérias de fegredo S. Ioaó,quenem quiz dizer

non lie et homini loqui. S. loaó não diíle os fegredos que lhe diíTeraó, nem á\^z que lhe diíícrão fegredos, que os perguntara íò diíTe: ■os fegredos, que lhe diíTe- Et díxit\§luis ejl^qui tradcP raó, nem quiz dizer que TeP S.Paulo guardou fegre- Ihe diíferaó fegredos. Que do às couíàs , porque nam

Axkii

S.lõaõEn)àngeliJla. dííTe as fevelaçoensi mas fem a fuftanck náo guardou fegredo ao fcígredo , porque diíTe que lhas revelarão. S. loao guardou fegredo às cou- íiiSjporque não diífe quem

423 de paó. Pois fe com menos mila- gres íe podia fazer cabal- mente o myílerio , Deos que fempre acurta de mi- lagres > porque náo quiz

não vos direi a verdadeira razão , mas dirvoshei húa moralidade muito verda^ deira. Todos os Sacra me- tos faõ inftrumentos da

era o traidor j Sc guardou queficaífea fuítancia do

fegredo ao fegredo, por- pão no Sacramento ? Ea quenãodiíTe que lhe dcC- cubriráo quem era. Que muito logo, que feado taó fecretario S.IoãOjfoíTe taò yúiáolDifcipulum^quem

diltgebathfus,&aixit\^is graça,&: efte de mais graça

eft,quitradette> que todos : & não qui^

§. VI. Chriílo,queagraçafedef-

2S(J A Quarta,&ul- fejunta com o pão , nem

/\tima boa par- que o pão andaífe junto ca

te que admiro em S. loaÓ, a graça. O maior abufo, &

hefer valido , que quiz a o maior nfco que tem a

graça por amor da graça, graça dos l'rincipes,he an-

Logo me explicarei mais. darem o pão, &a graça ju-

No Sacramento da Eu- tos. Seno Altar federa o

chariílía deixou Chrifto pão a moyos , amda que

asfontes de fua graça j mas não fora confagrado , mui-

he muito de reparar, que tascómunhoens fe havia»^

não quiz Chrifto que íi- de fazer por amor do paó,

caífe alli a fuftancia do qfenão fazem por amor da

pio. Fundoo reparo. Me- graça. Querer a graça poi?

iTos milagres eráo neceífa- amor da graça,he devaçáo,

riospara eítar o corpo de querer a graça por ainorf

Chrifto , & a fuftancia de do paójhe fome.Por líio ha

pão juntamente , que para tantos famintos, ou tantos

cftaro corpo de Chriílo esfaimados da graça, lo-

^ Ddiiij dos

T Co-

ri a th.

14. IO

m

424 Sermão de

àos querem fer cheos de dio Chriílo a eíle íncon-

graça , mas não de graça vazia. Gratia T>n í7i me 'vactianonfíiit^áizidi S.Pau- lo em bem mais honrado fentido. A graça ha de fer para vòs encheres as obri- gaçoens da graça , & nam para a graça vos encher a \òs^ ou vòs vos encheres com ella. Entáo íeria a graça menoscuftofaa quê adàj&mais bem avaliada em quem a logra. Por líTo Chriílo não quiz que o pão andaíTe junto com a graça. Mas porque os om- nipotentes do mundo não

veniente. No mefmo Sa- cramento ainda que nam ella pão quanto a fuílan- cia,eílà pão quanto aos ac- cidentes : porem a graça não fe mede com o pão. Muitas YQzts quem co- munga húa hoília muito grande, leva pouca graça > &quem comunga húa par- ticula muito pequena, leva muita graça : para que en- tendão os homens, que a graça não fe deve medir, com o pão.

387 Oh que bem go- vernado andaria o mudo.

fazem eíla feparaçáo co- feviíTemos pobres de pão, mo poderão lem grande os que vemos ricos da gra

milagre i chegou a graça a transfuílanciaríe tanto no pão, que ninguém bulca a graça por amor da gra- ça, íenão a graça por amor

ça í Mas íb na de Oeos he lilo : na graça dos homens, querem eiícs que íeja de outra maneira. Ninguém teve mais graça com o leu

do pão, &: pela medida do Puncipe, que David com j)ão, ou peio pão lèm me- lonatas:^: qu.i 1 ibi a prova

dida, fe avalia a graça.Por- que tem hoje mais pão que todos , quem ontem não tinha hum pão ? Por- que eílà mais na graça,que todos. Oh q groíicna taó

defia graça .^ O Texto fa-

grado o diz : Spoliavit fe ionatbas túnica qua erat uv^ ' ^eg:. dtitus.sí^dtáiteauí 'David: '^'^' Defpojoufe lonatas de Icusveíhdos, (Sc dco os a

grande í jMas que ucu- David. Defoitc que a pro- va

'^i^i:...i

S. lo ao Enjangeítjla, ^ 4.2 f

va da graça do Príncipe nelle o rendido , & naó o

faóosdefpojos : Spoliavít- fe. Notável coufa í que cuidem os homens , q não tem a graça do Príncipe, fenão quem lhe leva atè os velHios ! E que tenha a graça defpojosjcomo fe fo- ra guerra ! Os defpojos faó íinaes de haver vencido ao inimigo: & que a graça dos amigos dos Principes te- nha os mefmos llnaes ! Por iíTo eu temo , que eíle mo- do de conquiílar a graça he fazer guerra : quem faz guerra quer defpojos. Quem conquiíla a graça pela graça , contentafecó o coração. Vejafe no noíTo Evangeliilia. Conquiftou a graça de Chriílojá: veio- fe a rematar a conquiíla em que ? Em lhe render

rendofo. S. loãofoube eílimaragraça do Prínci- pe, como le ha de eílimar: a graça por amor da graça , & nada mais.

388 Três 5 ou quatro vezes falia S. loão em fy neíle Evangelho , &: fem- pre fe chama aquelle Dif- cipulo , nunca fe chama loaó ; ^ífcipulus ille. Pois porque fe não chama S. loaò pelo feu nome? Aper- temos a duvída.S.Ioáo ne^ fce Evangelho falia em' Ghriílo, falia em Pedro,& fállaemfy: aChriftocha- jnalhe Chrifto , a Pedro chamalhe Pedro, mas a fy não fe chama loaó : pois le a Chrifto chama Chrifto, & a Pedro Pedro, a loaò porqlhenáo chama loaó .^

Chriíloo cor^2iO : Recu- Arazaóhe , porque loaó

buit_ fuprapeõfus ejids. Mui- ' qu er dizer graça & amou

toeílimou S. loão o cora- S. loaó a graça tanto por

ção do feu Príncipe ; mas amor de fy meíma , que

eftimou-o, porque fe lhe o nome de graça quiz ter

rendeo,&: não porque lhe ~. cí)èi ella. Os ^ue amão a .

rendia. O coração do Prin- graça dos Principes mais

cipeha-fede eftimar pelo defen tereílada mente , ao

rendimento , & não pelas menos querem com a gra-

rendas : ha-fe de eílunar çaonome^ querem com a,

Ul

i .J

.14.

42 ^ermaÕde

graça as vozes: mas S.Ioaã de gloria: & S Joaó amava

amou a graça dofeuPrin- a gloria de Deos , como

cipetaó finamente átÇ^a- tereíIado,que quiz a graça aindafemo norne> quiza graça ainda fem as vozes. Por iíTo callou o nome de Joáo, porque era nome de graça. A graça por amor da graça ;eftehe o timbre do Êvangelifta.

385? O mais fino amor da graça confente configo outro amor,que he amar a graça por amor da gloria. S.JoaópaíTou adiante, 6c atè do amor da gloria quiz feparar o amor da graça. Moy fes dizia a Deos : Si invenigratiam in ocultstíãSy oflende mihi fa- dem tuamiSç.nhoT^ÍQ achei

gloria de hum Deos cheo de graça. Vai muito de húa, confideraçaõ a outra : por- que amar a graça por amor da gloria, he querer gozar o premio: amar a gloria por a mor da graça,he que- rer fegurar o amor. Qual he a melhor couía,que tem a Bemaventurança? A me- lhor coufajque tem a Bem-^ aventurança, naôhe o go- zar a gloria, he o fegurar a graça j porque o^sBem- aventurados naÓ podem perder a graça de Deos ; & ifto he o que confiderava S.Joaõ. Moy fes confidera- va a graça como penhor da gloria, S.Joaóconfide*

graça em voíTos olhos, mo- rava a gloria como feguro

ItraimeovoíTo rofto, em da graça. "O amor de Moy-

que confifte a gloria. E S. fes era intereíTado, porque

Joaó que dizia ? yidimus ordenava a graça à gloria,

gloriam ejus , gloriam cjuafi enca minha va o amor à vi-

unigeniti â Tatre pknum fta. O amor de S. Joaó era

grati£\ Vimos a fua gloria, fino,& puro , porque que-r

como gloria do Vnigenito ria a graça por amor da

do Padre cheo de graça. De forte qu e M oy fes a ma- va a graça de Deos , como graça de hum Deos cheo

graça •, queria amar lem at- tencáo a ver.

g9o Daqui fe enten- dera hum myílerio gran- de.

^JoaoE^vangeliJla.

de,& nunca aíTaz entendi- do, do noíTo Evangelho: *ÍDifcipuhm , quem dilige- bat^ qui & recubuit in cana fuprapeãus^úmini. Enca- rece S.Joaó o amor que havia entreelle, 8c Chri- íto , & para prova deíle amor, diz que adormeceo fobreo peito do Senhor. Boa prova de amor , por certo! Amar he defvelo, adormecer he defcuido: pois como pôde fer, que o -defcuido feja prova de defvelo; & que o adorme- xer feja prova do amar? Adormeceo , logo amou: he boa confequencia efta? Sim ; porque S. Joaó ador- meceo com o peito recli- nado fobre o peito de Chrifto: & não pôde haver mais fino, nem mais pro- vado amor , que aquelíe que entrega o coração , & fecha os olhos. Entregar o coração os olhos aber- tos, he querer a vifta por premio do amor : entregar o coração com os olhos fe- chados, he naó querer no amor nem o premio da vi- íta. Donde fe infere ckra-

mente, que teve mais per- feitas circunílãcias o amor de S.Joaó, que o amor dos Bemaventurados j porque os Bemaventurados amão com os olhos abertos, S. loaò amou com os olhos fechados. Os Bemaventu- rados amão com as fatisfa- çoens da viíla, S. loaõ ama fem osintereíles de ver. Se he boa a minha coníe- quencia, digaó-no os mef- mos Serafins da gloria. Vio Ifaias os dous Serafins, 4 alliítem ao trono de Deos , 6c diz que com duas azas voa vaô , & outras duas cobriaó o rofto : Uuahus . volabant , ó* duahus veU^ bant f aviem. Pois fe todos os Anjos eftão fempre ve- do a Deos, como cubriam efíes Serafins os olhos? He que como os Serafins no Ceofaó por antonomaíia os amantes , qucriaó ao menos na reprefentaçam oíFerecera Deos amor mais fino que o dos outros Efpiritos bemavêturados. Eamor mais fino q o amor dos Bemaventurados, he abrir o coraçaõj 6c fechar os

4^8

Serma^dê

os o\\\os'fDuahus Võlabant: eisahio coração aberto: *íDudbus velabant : eis ahi os olhos fechados. Os ou- tros Bêaventurados amaó com o coração aberto , & comos olhos abertosrmas os Serafins, que os vencem noamor,amáocom o co- ração aberto , & com os olhos fechados. Bem aílim como S. Joaó, de quem aprenderão eíla fineza: iJífiípuluy quem dilígebat^ qui rectibittt fitara pecfus T>omini.

S' VIL

391

T^ Como em S.

Cloáo havia ta- tás qualidades de amante, & taó grandes partes de valido , que muito que o amaíTe tanto o Principe da gloria Ch ri ílo: q muito que o amaíle tanto o Prin- cipe da igreja Pedro! Para que acabemos por onde começamos : o maior en- carecimento, que fe pode dizer de hum valido, hco qucdiífe Curcio de Epa- ininondas privado de Ale-

xandre Magno : Multaiík fine Rege profpere , Rexfine illo nihil maguce rei gejjít. Foi taó grande homem E- pamínondas , que fendo valido de Alexandre Mag- no, elle fez muito grandes coufasfem Alexandre, A- lexandre nenhúa coufa grande fez Tem elle. Outro tanto podemos dizer de S.Ioaócó toda a proprie- dade : fendo valido, nam de Alexãdre , mas do mef- mo Chrilí o. loaò fez mui- tas coufas grandes íem Chriílo vifivelmentepre- fente, Cbrifto naó fez as maiores coufas fem loaó. SJcáoTem Chriílo vêceo os tormentos de Roma, fcm Chriílo bebeo os ve- nenos de Efeíb, fem Chri- ílo padeceo os deílerros de Pa d mos, fem Chriílo converteo , ^ rcduzio a Chnílo a Afia, fem C hri- íloenfinoua todo o mun- do, éy- propagou a Ley do amor de Chriílo. Grandes coufiis fez S. loaó ícm C hní i o : Multa tile fine Re- ge pr o fperc. Pelo contrario Cliriíio icm S.Ioão apenas fc2

LUí:... l

S, loaoEvangelifta. fez coufa grande. Fez guncou Chrifto o primeiro mila- gre nas vodas, & ahi eftava S.JoaóiRefufcitou Chri- 11o a filha do Principe da Sinagoga , & levou coníi- go a S. Joaó: Inílituío Chriílo o Sanciílimo Sa- cramento da Euchariftia, que foi a maior de fuás maravilhas, & tinha a S. Joaó fobre o peito : Trans- %uroufeChrifto no Ta- bor, & S. Joaô aíHílio na- queila gloria : Derramou fangue Chriílo no Horto, & S.Joaó acompanhou-o naqueilapena.-emíini, re- mio Chriílo o mudo mor- rendo na Cruz,& naó teve outrem a feu lado, fenáo S-Joaó: Rex (ine illo nthil magn£ reigejjit,

392 Efe iílo fucedeo ao Principe da gloria , que muito que ao Principe da ^Íi:)S€om a efpad: Igreja aconteceíTe o mcf- Deo a fortuna a '

mo? Arrojoufe S. Pedro ao mar para bufcar a feu Meílre, mas S. Joaó foi o que lhe moílrou a Chri- fbo : Quiz faber S.Pedro na Cea, quem era o traidor, mas S.Joaó foi o que o per-

429 Atreveofe S. Pe- dro a entrar no átrio dbi Pontiíice, mas S. loáo foi; o que o introduzio : Re foi- veofe S.Pedro a reconhe- cer a fepultura de Chrifto, mas S. Joaó foi o que o guiou. De maneira que o Principe da gloria , & o Principe da Igreja ambos fevaliaó à^^. Joaó •, mas com eíla diíFerença : o Principe da gloria valia fe de S.Joaó como de yalído* o Principe da Igreja valia- fe de S.Joaó como de va- Jedor. E o noíTo Principe como.^ Por ambos os titu- los. Tem V.A.Senhor,em S.Ioaó valido , & valedor : valido para a devaçaó, va« ledor para a neceíHdade. Reílicuío Deosa V. A. a feus Reynos em tempo que he neceífario defende-

a na maó.

V. A. por

competidor hum Princi pe Balthafar, taó poderoío como o de Babilónia. Mas fibida coufa he, que bafrá- raó três dedos com iiuma pcnn apara fi z ç r t r e m e r a Bakhaíar. Oh que acomo- dada

430 Sermão de

dada emprefa para o noílb ras de noíTa confervaçaõ :

Príncipe! Três dedos de S.Joaócom húa penna, & húaletra,que diga : Con- tra Balthafaremfatís\Com amor , & entendimento tudo fe acaba. Eíta penna hedaFenizdoamor : cfta

com eíla penna fe faráó autênticos os varicinios, que taó gloriofamence fal- láo da Coroa de V. A.ne- íle felicereynado. Final- mente Q que finalmente aqui vem a parar tudoj)

penna he da Águia dos en- com efta penna, que he de rendimentos. Com efta hum Evangelifta, que tem

penna fe efcreverà a kn- tença de hua demanda taòjufta: com efta penna íè confirmarão as Efcritu-

por nome graça, fe firma- rão aV.A.depoisdecum- pridiílimos annos , os de- cretos da Gloria.

S£K<>

451

âââiâi #â=iââáiiâi -àààààà

SERMAM

DA SEGUNDA

DOMINGA

DA QVARESMA.

AJfumpJit lefusTetrum^é' l^cohum^ &loannem^ & du- xit tUos in montem excelfumfeorfum^ & trans- figiiratuseftanteeos, Matth.17.

S portas quaíl

'§M da terra de Pro- miííaó mandou M oy fes apre- goar em dous montes al- tos, & oppoílos (^ com vo-^ zes, que todo o exercito immenfodos filhos delf- raei eílendido pelos cam- pos mil agrofa mente ou^ via } em hum chamado Garizim , as felicidades dosqueguardaíFema Ley

de Deos , 8c em outro que fe chamava Hebel, as mal- diçoens, & defgraças dos qanaó guardaílem.Taes fe me afíguraÔ nefta entra- da da Quarefma os dous montes também muito al- tos, 6c não íó opp oitos, mas totalmente contrários, cu- ja hiíloria Evangélica ne- íle Domingo, <Sc no paífa- donosreprefcntou, U re- prefenta a Igreja. Nopri. meiro monte o Demónio, 4 ainda fe chamava Prin- cipe

Matth.

Matth. »;.2.

Si rmão dafegunda IDomin^a mundo , mo- cio eílão aparelhadas para osquedefprezaó

cjpc deíle

li mu a Chriílo todos os Reynos do mefiiio mun- do , & codas íuas glorias : OHéndit et omnia Regna fmmdi ^ (^gloriam eorum. Nofegundo Chriílo ver- dadeiro Rey> 6c Senhor do Ceo moílrou a alguns Dif- cipulosfeus mais familia- res, naó todo o Reyno, toda a gloria do mefmo Ceo, porque não eraó ca- pazes de a ver os olhos humanos 3 mas algúa parte delia : Ettransfguratus efi

5 &: que- brantãoa mefma Lev , a que o Demónio tentador nos incita com a falia ap- parencia das glorias do mundo.

394 Como ambos ef- tes montes faó de gloria, poíioquetaó diverías , a cada hum deiles refpondc afiia aíiUmpçaó. Ao ^ri- mQivo^AjJumpJit eum T>ia' Matth, bolíis: ao íègundo, Affiimp- '^^• fit Icjus Tetruniy & laco- ^^^, ^^ bum^ Ò' loannem, E certo 171-

anteeos. Oh quanto vai de qbaftava fer húa aíTump

monte a monte ! o quanto vai de Reynos a Reyno ! ò quanto vai de glorias a gloria ! Também hum de- ites montes , & com mais razaô, fe podia chamar o das felicidades, & outro o das maldiçoens. E tam- bém eftà bradando o pre-

çaò do Diabo, 8c outra af- fumpçáodejefu, para to- dos amarem, 6c defejareni aaflumpçáo de leíu , & abominarem , 6c renega- rem da aíTumpçáo do Dia- bo. Mas que heo que ve- mos ? O caminho do mon- te Tabor,por ondeie vai à

gaó em cada hum deiles : gloria do Ceo , deferto , 6c Que as felicidades eílão quafifem haver quem o

pize : ^ a cílrada do outro monte fem nome, por on- deie vaias glorias do mu- do, chca,Sc rebentando de gente de todos os eílados» amda daqucUcs que pro-» feíTaó

guardadas para os que guardarem a Ley de Deos, a que Chriílo transíigura- do nos anima com a viíla da gloria do Ceo : 6c as maldições dp mcfmpmQ-

1».

da §luarefmA,

íc^xo o defprezo do mef- dio a cíioraó. ^

mo mundo ! diíTe Da- porei hum monte a viíta

vid, que todo o homem, do outro monte , & huaâ

que tem fé,&: entendimen- glorias a vifta da outra glo-

to, o que faz muito de pro- ria : o monte da tentação a

pofitoneílevalledelagri- viílado monteda Trans-

mas, he difpor a fua afccn- figuração , Sc as glorias do

çaó : Afcenfiones in corãe Taim. /uodíípofuít^invaUe lacry ^i-^7- marum^inloco^ quempoftiit. Pois fe todos defejamos5& efperamos que a noíTa af- cenção, & aíTumpçaó feja para gozar eternamente as verdadeiras felicidades da Bemaventurançajcomo deixamos o caminho do

mundo à viíla da gloria do Ceo : comparando nao bens males 5 fenáobens com bens. Por efte meyo mais clara , & manifeíla* mente , que por nenhum outro, fe vera a diíferença dos falfos aos verdadeiros : 6í}àqueos noífos enten- dimentos, &: vontades an-

monte por onde Chrifto dáotaó enganados, ao me- nos guia à gloria do Ceo,6c nos nos defenganaráó os feguí mos com tanta anciã, olhos. A luz da divma gra- & contenda, não digo a çafe firva de noios abrir, eftrada, feiíáo os preci- & allumiar por interceíTao picios, por onde o Demo- da chea de graça. Ave Ma^ nio, debaixo do fali o no-, ria, me de glorias do mundo , nos levaàsmaldiçoens do Inferno?

39 f Ora cu c5 a graça divina quizera hoje desfa- zer eíla cegueira, que tan- tas Almas tem enganado, & perdido , as quaes neíla vidaanaó conhecerão , 6c

agora fem nenhum reme- diíferença dos bens, que

396 OOdo o monte Ji da tentação co as glorias do mundo à vi- ílado monte da Transfi- guração com a gloria da Ceo5quemnos moílraràa

3

4 5 Sermão déifegtmda^ominga

íe prometerr^õ no primei- tão claramente como a luz

Pfalm. 46.

romontejP^ fe prometem no fegun'do5fenão quem fe achou tm ambos , tentado em hum, & transfigurado no outro ? Efta mefma du- vida tiveráo muitos, que refere David , os quaes perguntava© : Quem nos moíírarà os bens ? Multi

Ihiij.

Matih.

17-2.

Itid.

do mefmo Sol nos podem moftrar a grande diíFeren- ça, que ha entre os bens da gloriado Ceo, & os que também fe chamão bens das chamadas glorias do mundo. O lume do Sol he puro , 8c fem mancha : he tanto para cada hum , co-

dicunt: ^is oftendit nobis mo para todos : & todo fc bo7ia ? E refponde o mef- goza juntOjôc náo por par-

mo Profeta,queo]umedo roílo do Senhor nolos mo- ítraria : Signattim efl fuper nos lúmen vultus tui ^omi- Nunca o rofto de Chri-

ne

ílo Senhor noíTo efteve mais allumiado5& mais lu- minofo, que nefte dia de fua Transfiguração , em que refplandeceo o fcu ro- fto como o Sol : Refpltn' duit fácies e jus ficiít Sol. E emíinal de que logo aqui fe virão os bens , diíFe S. Pedro em nome de todos : Bonum eft nos hic ejje. Sen- do pois o lume do rofto de Chrifto o que nos ha de mofcrar os bens, & fendo o lume do mcilno rofto co- mo o do Sol , três coufns acho no lume do Sol, que

tes. Neftas três proprie- dades pois do lume do Sol, nos moftrarà o rofto de Chrifto três diíferenças dos bens do Ceo aos do mundo,que também feráó os três pontos do noííb difcurfo. No primeiro ve- remos,que os bensdo mu- do laó bens com miftura de males , & os bens do CeopuroSjôcfem miftura: nofegundo, que dos bens do mundo , quando mui,ro logra cada hu m os feus,*6c nos bens do Ceo logra ca- da hum osfeus, & mais os de todos : no terceiro , que os bens do mundo , fc che- gão a fe gozar todos , he fuccírivamenrc,& por par- tes > porem os bens do Ceo fcm-

iam

çaó afará taò o mefmo Sol.

fempre, todos, & junta- bens feffl males ,• na terra mente. Prometi que tudo ha bens,& males juntame- ifto veríamos os olhos, te. E porque razão ? No & pofto que a matéria de Inferno ha males j por- aleunsdeftes pontos feja que ha mãos : no Ceo ha fuperior a todos os fenti- bens,porque ha bonsí dos, a luz da Transfigura- & na terra onde andão de clara como miílura os bons com os máos, era jufto que andaf- fem também mifturado» ^. IH. osbens,&osmales.

398 A primeira me- 307 r^Iza primeira ílira deíla verdade he a JL/diíferençada mefma natureza em tudo noíTapropoíla, que todos o que criou para o home. os bens do mundo faô bens No maior mimo dos fen- com miftura de males , & tidos, que he a Rofa , cer- os bens do Ceo bens cando-a de efpmhos, nos^ puros,& fem miftura. E aí- deixou, diz S. Ambrofio, fim he. Quando Deos nof- hum claro, Sc defengana- fo Senhor fabricou efte doefpclhodeftadeliciofa, grande edifício doUniver- & dolorofa miftura : Spma ^^^^^ fo, dividio-o cm três par- fepjítgratiamflõns tanqua ,b í. tes : húa na terra , que he humana fpeculumprceferens'^^^;^ cfte mundo em que vive- vita , qu£ Juavtt atem per- ' ' ' ' funãionis fu£ finitimis cu* rarumfpinisjá^pè compun- gat. A mefma coníidera- çaó feguio , & adiantou Boecio, o qual ajuntando ao exemplo da belleza o

mos 5 outra debaixo da terra,que he o Inferno,ou- tra acima da terra , que he o Ceo : & cm todas eftas

três regioens repartio os bens,& os males, mas com

grande juftiça, ôc diff'eren- da doçurajcantou, ou cho- ca. No Inferno hafó ma rou elegantemente : Ar- íe^ fem bens 3 no Ceo ha matfpina Rofam , mella te*

Eeij giint

43^ Sermão da fegunda^omifiga

gunt apes. E aílim como encia , diíTeraò que Deo5 naó ha neíla vida Rofa tinha dous tanques , hum fem efpinho, nem mel fem de meljoutro de fel, 6c que abelha iaílimiião ha pêro- nenhua coufa mandava

la fem lodo, nem ouro fem fezes, nem prata fem li- ga, nem Ceo fem nuvem, nemSolfemfombra , nem lume fem fumo, nem tria- ga fem veneno, nem mon-

aos homens,que naó vieíTe paíTadapor ambos :6c que efta era a caufa, porque em todas as que chegaváo à terra , vinha a doçura do

bem miílurada a amar-

te fem valle , nem quanti- gura do mal. Naó podéraõ

dade fem peio, nem en- fallar mais ao certo, fe ti-

chente fem minguante, verão lidoa David. Dizo

nem trigofem palha, nem Real Profeta , que Deos

carne fem oíFo, nem peixe tem na mão hum Caliz,

femefpinha , nem fruta, pelo qual de beber aos

porfaborofaquefeja, fem homens,cheo de vinho pu-

caroço, ou cafca quedei- ro,&: miílurado : CaUx mvcúvtx,

tarfóra. No mefmo tem- manu^ominivinimeripU'''*''^-

po de que fe compõem a nus mifto. Repara , Scper- ^^,.,,^

nofla vida , naó ha veraó guta S. Agoílinho: piorno- ibit^

fem inverno, nem dia fem noite. E neíla mefma fe- melhança he tanta a diífe- rença, que para haver ve- raó,6c inverno, he neceíTa- riohumanno, 6c para ha- ver noite,6c dia, faónecef- farias vinte òç quatrç ho- ras j mas para haver mal, 6c bem , baila hum mo- mento.

395) Os Gentios fem enfinados da experi-

do mert^jtrnixto^Sz o vinho era puro, como era miílu- radoi6cfeera miíturado, cosno erapuio .^ Porque naó ha bem natural, Si de- fi:c mundo , ainda que da- do pela mão de Dcos,por mais purOjôc defecado que fcja, que não traga cm fy, 6c configo algúa miílura de mal. O vinho hc aquclle cordcal ílm pi ez, medicado pela natureza para alegrar oco-

da§uarefma. 437

o coração humano : mas íhor que Salamáo, vede o

não ha alegria, ou cauíà de alegria tão contraria , & alhea de toda a triííeza, que não que penar ao coração. Se ri, o rifo fera miílurado com dor : íe go- íla, o goílo fera metido en- tre pezares. Aífim o dei- xou em provérbio Sala- mãoide prefente como ex

que faria ? Fabricou hum Palácio real ernjerufalé, que depois do Templo queelle edificara, foi o fe- gundo milagre: no monte Libano traçou vários reti- ros,8c cafas de prazer, em que de mais de fe ver jun- to todo o raro , &: curiofo do mundo , a amenidade

primentado , & de futuro dos jardins, a frefcura das CO mo Profeta : Rifus dolo- fontes, a efpeíTura dos bof-

remifcebitur , & extrema gaudij luBus occupat.

400 E pois nomeámos o mais fabio de todos os homens , & o mais opuíen- to,& deliciofo de todos os Reys, elle nos dirá o ver- dadeiro conceito que fez , 6cnòs devemos fazer dos hcns do mundo. Eu me refoi vi, diz Salamâo , a m e dar a todas as delicias , & gozar todos os bens dcfta viá-x-fDíxi ego in cor de meoy Vãdara, & ciffluam delictjs , é^fruar bonis. Com eíle

prefuDofto querendo , po- menlos : os gados maiores,

dendò , ^ íabcndo fazer 6c menores, que naqu elle

quanto quizeíTe , porque tempo também eráo ri-

niní^^uem pode tanto, nem queza dos Reys , não ti-

Guiz mais, nem foube me- nháo numero : os cavallos Tom./, ^ . Eeiij

quês, a caça , & montaria de aves, 8c feras, & atè as fombras no veraó , &os Soes no inverno excedião com a arte a natureza : o trono de mar^m em que dava audiência, 5c a carro - ça chamada Ferculo , em quepaífeava, eraó de tal architectura, &: preço, que faz particular defcripçam dellesaEfcritura : às galas deSalamãoomefmoChri- ftolhe chamou gloria: os thefouros de ouro , &: pra- ta,que ajuntou , eraó im

i '

Sermão da fegunda Dominga repartidos em coufa viraó léus olhos ,n€ inventarão feus penfamé- tosjnem appetecéraófcus defejos, que lhe negaíTe : Omnta qu<e de[ideraverunt oculi mei non ncgavl eis^ nec ?.cá. prohihiú cor meum qitin om- *°*

438 eílavaó

quarenta miJ prefepios : a fumptuoíidade da mefa, para a qual concorriaódi- verfas Províncias, & a ma- geftade, grandeza , & or- dem dos OiHciaes, & Mi-

niftrosjcomqueera fervi- nivoluptatefrueretur. Ef- ^o j foi a que encheo de tandopois neílas felicida

pafmoaRainha Sabà : as baxel]as,&: vafos eraóde ourOjas muíicas de vozes exquiíitas de ambos os fe- Xos,&os cheiros , & aro- mas com que tudo recen- dia, quanto cria , & exhala o Oriente. Não fallo na calidade, & gentileza das Damas , filhas ácl^nnci- pes,5c €fcolhidas em diíFe- rentes naçoens, entre as quaes ÍÒ as que tinhaó no- me, ôceílado de Rainhas, eraofeíTenta, fervidas to- das com appararo, & mag- nificência Real. Tudoif- to gozava Salamaó em

des de Salamáonaó re- copilados, mas eíiendidos todos os bens do mundo , faibamos por fim , que có- ceitofezdelíesr Elíeodiz, & em bem poucas pala- vras: C//j^Wt^ convertijjem aduniverfdopera^ cjuafece^ ibid runt manus meay& adlabo^ res in qtúbus fru ira fiída- veram^ vtdi in omnibus va- nlt atempo* afjllEíione m ani- mi: Voltando os olhos a tudo quanto tinha feito, em que de balde tinha tra- balhado, & faado ( feito diz,& trabalhado, v*^ fua- do,& náo gozado , porque

fummapaz,& com igual tudooque gozou, foi de fama, fem inimigo , ou re- húác^frujlra )&ío que vi ,

ceoquelhedéífe cuidado, & em tudo fe empregava comtalapplicaçaó, & ex- ceíTojquecllemefmo con- feíla de íy , que nenhuma

& achei em tudo, hc,que tudo hc vaidade, ícafíiic- çaó de animo ; i-^anitatem , & affliãwntm animi.ho-^o fe todos os bens do mundo . laõ

da§íuarefma. 4^^

faó vaidade, como podem dados, afflicçoens , & do-

fer verdadeiros bens ? E TQs:Setoto Regm temfore

que lhe concedamos o nec ad unum qmdem hor^

nome de bens > fc todos quadrantempuram habml'

caufaóafflicçaó do animo, fe.meramque Utttiam^ jed

como podem fer bens fem multis tilam curis , angon-

miítura de males ? bus, dolonhusque fermtx-

401 Mas porque nam f/^;». Efeeílatriíle miftu-

cuidealguem,que do tem- raexprimentáraó nas ma-

pode Salamaó para cate- iores felicidades do mun

ráó mudado os bens do do entre os Reys Salamaó

inundo, ou melhorado de & entre os Emperadores

natureza; ouçamos outro Carlos; que poderão di-

erande oráculo quafi de zer das fuás particulares,

noífos dias. Quando o Em- ainda os mais bem viítos

perador Carlos Quinto fezaquella grande acçaó, em que teve poucos a quê imitar,& terá menos imi- tadores , de renunciar o Império j dando as caufas defta retirada depois de tantas vitorias, confeíTou eom lagrimas diante de todo o Senado de Bruxel- las, que a principal,ou hu-

nia das principaes fora; , ^

porque em todo o tempo & na Coroa o precedia o C diz) de minha vida , de- Rey . Tudo governava,tu- pois que puz na cabeça a do mandava Jofeph , tudo Coroa, nem hum quar- lhe obedecia , com nunca to de hora tive de pura, & vifta,nem efperada f-elici- verdadeira alegria, fenaó dade 5 mas onde ? INo b- fempre miílurada cui- gypto. Nmguem he, nem ^ - Eeiiij pode

da fortuna ?

S. IV.

4.0Í I^^Randesforaó l^as q fonhou Jofeph , & faíraólhe taó verdadeiros os fonhos,que de vendido, & efcravo íe vioVifo-R.ey doEgypto, & com tal authoridade, & poderes, quefôno nome,

3

44° Sermão dafegttnda dominga

pòdeferfelicecoma Al- achará que andaõnelletao

ma noutra parte. O cor po, o poder, & a dignida- de eílavâo no Egypto , a iVlmajO amor, & a faudade andavão peregrinando em Canaan 5 com que toda aquella apparencia dos maiores bens da fortuna vinhaõ a fer fuplicio , &

contrapefados os males com os bens,que ainda em comparação dos maiores fe pôde por em balança fe pelaómais os males.

40^ De/oíeph foiPay Jacob também aíFáz dito- fo. Aquejacob teve pela raaior ventura de fua vida.

deíterro. No Egypto vi- foi quando ao cabo detá-

vo, na pátria morto : no tosannosdefervir alcan-

£gyptoapplaudido,napa. çouDor premio a compa-

tnachc^rado : no Egypto nhiadeRachel. Seo que

dandode comer ao mun- muicoledefeja, muito fe

dp, na pátria comido das preza jfe o porque muito

feras: no í^^gypto tudo, na fetrabalha, muito fe eíli-

patria nada. Ainda que ma3nenhum goílo.ncnhúa

J ofeph naÓ fora levado ao alegria teria mais quem

Egypto para efcravo, fe- tanto amava, quefe igua-

nâo para Vifo-Rey, igual- laíre;com efta. Mas vede

mente hia vendido : por- quam penfionados o

que muito melhor fortuna mundo os í^oílos , & bens

era para elle eílar em cafa de Jacob , fendo o filho maismimofodo Pay, que na Corte, &: no Palácio de Faraó , fendo o primeiro Miniíiro, &o mais valido doRcy. Abra os olhos o mundo,&:naó fe contente com ver os homens por fo- ra,pcncrre-os também, & coniidcrc ospordumo,<5c

defta vida. A felicidade foihúa,as penfoens forao três, & todas aíTáz psfa- das.A eílerilidade da mef- ma Rachel, os enganos de Labam, & os ciúmes de Lia.Por mais amadas, & por mais pertendidas que iciaó as que chamamos venturas, todas no cabo fao Racheis. Náo ha ila- chcl,

da^arefma. 44.1

€hel, que naÓ tenha o feu de. Muito eílimão os ho-

Labaó,& a fua Lia. Se Ra- mens a gentileza , muito

chel agrada, Labatn mole- eftimaóovalor, muito ef-

íla:fe Rachel dàgoftojLia timão o entendimento:

da pena. Qaanto mais que mas perguntem os fermo^

para moleftar, Sc dar pena, fos a Abíalam, os valentes

baftalhe a Rachel fer Ra- chel. Lede a hiftoria ía- grada, êc achareis que foi taó mal acondicionada aquellarermofara5que era neceíTario todo o amor de Jacob para atarar,Sc fofrer feusantojos. Muito mais trabalho lhe deo depois, do que tinha trabalhado porella antes. Tão trava- dos andao nefta vida os goílos com os defgoílios, tão mi (lurados os males com os bens. Se Rachel tem bom roílo , tem nià condição : fe Lia tem boa

a David, os entendidos a Achitofel, que penfaó pa- gou o primeiro à fua genti- leza, o fegundo ao feu va- lor,^ p terceiro ao feu en- tendimento. Era Abfalam taó galhardo mancebo , que do atè o cabello da cabeça, como falia a Efcri- tura, nenhum pintou a na- tureza mais bello. As Da- mas lhe compravaó os- cabelíos a peio de ouro, & dos mefmos cabelíos ihe teceoamortco laço, com que pendurado dos ramos de hum carvalho, acabou

condição, tem máo rofto : infamemente a vidajpaílà- & não ha bem nenhum taó do pelos peitos com três

inteiro , que poífa encher os olhos , & mais o cora- ção.

Eftendei a viíla , ou o penfamcnto por todas as coufas do mundo,& vereis que não achais húa in- ííanciiíjnem hum exem- plo contrario a eíta verda-r

lanças. E eíla toi a penfaój que pagou Abfalam à fua gentileza. Era tão valente David,que tremendo todo o exercito de ífrael á vifta do Gigante Golias , elie fó,& defarmado aceitou o defaí]o,&: derrubado a feus pés,com a fua própria ef- pada

44 ^ Ser^^Õ dafegunda dominga

pada lhe cortou a cabeça feu entendi mento. Fiai- Masfoitala inveja , & vos- de entendimentos, ódio, que defde aquella fazei làcafo de valentias, hora lhe cobrou ElRey & prezaivos de gentile- Saul, que mais de húa vez zas í Tem os males taó vi-

ço ma lança, que trazia na máo por cetro, o quiz pre- gar a húa parede. De ma- neira que 1 he foi neceíTario a David homiziaríè pela mor te do Gigante ,como fe matara hum Hebreo, & fugir da fua vitoria , como fe fora delito. E eíla foi a penfaõ, que pagou David ao feu valor. Era taó en- tendido Achitofel, & taó prudentes , & fabios feus confelhos , queporteíle-

ciados,& corrompidos os bens, que a gentileza he laço, o valor delito , & o entendimento locura.

404 Mas para que he irmos bufcar exemplos ao Teíta mento Velho, fe no Novo,6c no noííb Evange- lho temos o maior de to- dos. Transfígurouíe Chri- ílo no Tabor, apparecéraó alli Moy fes, & Elias > & quádo parece que haviaó de dar o parabém ao Se-

munhodo Texto fagrado nhor, da gloria com que o feouviaó como oráculos viáonaquellemonte,oem

do mefmo Deos. Seguio as partes de Abfalam,quã- do fe rebellou contra feu Pay, aconfelhou-o como lhe convinha 5 &: porque o moço fatal naó quiz fe- guirfenaóoquejà o leva- va ao precipicio, foi tal a fua defefperaçaójque atan- do a banda ao pefcoçOsSc a húa trave, fe afogou a fy mefmo. E efta foi a peníliô, que pagou Achitofel ao

que lhe falláraó , foi da morte que havia de pade- cer no do Calvário : Lo- que bantur de exceffti, quem \'i'^' completiiTus erat in leru fa- lem. Pode haver pratica mais alhea da occafiáo que efta.? Qu^^ndo o roflo de Chrifto eftá rcfpíandccen- tccomoo Sol, então lhe fallãonoccclypfc? Quan- do as fuás roupas cli-áo brancas como a neve, en- tão

da^arefma. 443

tàõ lhe fallaõ nos lutos? E fazermos taó pouco cafo

no dia que tem mais ale- gre na fua vida , entaó lhe fallaó na morte ? Sim. Por- que naó ha alegria nefte mundo taó privilegiada, que naô pague penfaó à triíleza. Atè no monte Ta- bor, atè na Peífoa de Chri- fto , atè no milagre da

dos feus chamados bens, pela miftura que fempre trazem demales^comofe verdadeiraméte foraò pu- ros males fem nenhúa có- poíiçaójou temperamen- to de bens. He doutrina, que defpedindofe do mun- do o Redemptor dellenos

Transfiguração , por mais deixou eftampada com feu foberanos que fejaó os exemplo no meímo mon-

bens, húa vez que tocáraó na terra, naó pode haver gofto fem pezar, nem glo- ria fem pena. Tanto affim, que fe faltar o motivo na prefença do que he , have- lo-ha na memoria do que ha de fer : transfigurado agora, mas crucificado de-

te Calvário. Duas vezes no Calvário deraô fel a Chri- ftoj húa antes,outra depois de crucificado. Antes de crucificado , quando lhe deraó vinho miftura do fel ; 'Dederunt ei vinum cum Matrh; felle mixtum : depois de^^'^"^'- crucificado, quando dizê- pois. £ fendo a Transfígu- do na Cruz , que tinha fe- raçaójcomo logo áiílh o de, lhe deraó fel, Sc vina- mefmoChrifto, parecida gre : ""Dederunt in efcam com a Refurreiçaó, & naó meamfel^ò' infiti meapota- 1^^^^' com a morte 3 viráó dous verunt me aceto. E como fe '^' homens do outro mundo, ouve o Senhor em hum,& que mifturem a morte outro cafo ? Em ambos a Transfiguração, & con- provou hiia, 8c outra bebi^ fundaò oCalvariocom o da,&emambosanaóquiz

beber. Aíli m o referem da primeira, & dafegunda os Evágeliílas pelas mefmas palavras : Cíè;f/^///?^/f/, i.^3^/

Ta bor.

405- Seja pois a con- clufaó dcftas expericcias , & defenganos do mundo,

44-+ Sermão da fegnndaT)omingd

noluit blbere. Na primeira ambas as bebidas hia fcí.

I

bebida, he cerco que hia o amargo do fel moderado com o doce do vinho, & nafegunda hia o mefmo fel naó moderado , fenaó exafperado com o azedo do vinagre.Pois í^q o fel hia táo differentemente tem- perado em húa, & outra bebida, porque igualmen- te as regeitou o Senhor ambas, fem nenhúa diíFe- rença? Porque na primei- ra o vinho mifturado com o feI,&o doce com o amar- go , era o bem miílurado com o mal : na íegunda , o fel junto com o vinagre, era hum mal fobre outro mal, fem nenhua miílura de bem:& provando Chri- llo,& reprovando igual- mente húa, & outra bebi- da , quiz-nos deixar por doutrina , & por exemplo naconfufaò dps bens , & males de que fe compõem efte mundo, que tanto de- vemos defprezar, & abor- recer o bem miíhiradocó- o mal, como fe o bem,&o mal tudo fora m:jl,fcm ne- nhua mitlura de bem. Em

em húa juntamente com vinho, em outra juntamé- te com vinagre, que he vi- nho corrupto; & he tal a corrupção, que caufa nos bens a companhia, & mi- ftura dos malesjque o bem miílurado com o mal fe converte totalmente em mal , & perde todo o fer que tinha de bem. Faça- mos pois de todos os cha- mados bens defte mundo a eftimaçaò, & conceito que elles merecem : indigno, qualquer que feja , de fer amado como bem , fenaó abominado, & aborrecido como verdadeiro, & puro mal:& pela miUura que tem de doce, ainda mais abominado , & mais a bor- recidojcomo mais falíò,<5c

enganoío.

§. V.

4,06

cclcffia

quei

da gloiia

SOo que

os bens dá- lia pátria íó os bens da- a terra de Promiffiõ os bcjiS da- quclic Taborda Berna vc- turança,

^a^arepma. 44 f

turança , aquellesuni- arvore da Ciência , &: a

camcnte fe podem cha- mar bens , porque faó bens fem miftura de ne- nhum mal. He o Ceo co- mo o Templo de Sala- máo, em que nunca fe ou- vio golpe de martello, porque là, como diz o E- vangelifta Profeta, nao ha coufa que caufe dor , ou pena, nem tire da boca hum ay : & faó os morado- res do mefmo Ceo, como as Eílrellas fixas do Fir- mamento , onde naó che- gao fumos dos vapores da terra , que as offufquem :

arvore da Vida. Mas a da Ciência continha dous contrarios,a da Vida naó : porque a ciência era do bem,& juntamêtc do mal, que he o contrario do : & a da Vida era da vida fó- mente,& naó da vida,&: da morte, que he o contrario da vida.Pois fe ambas craó arvores do Paraifo , por- quê havia nellas efta gran- de differença > Porque também o Paraifo naó era abfolutamente Paraifo,fe- naò Paraifo terreal : & por iífohúa das fuás plantas

gozando todos em fumma era parecida às delicias da

paz a pátria do fummo terra, &: outra femelhante

bem , que naó feria fum- às do Ceo. A parecida às

mo, nem bem , fenaó ex- da terra , era da ciência

cluiífe todo o mal por mi- do bem,& do mal j porque

nimo que feja. E por iíTo na^rerra fempre o mal anda

os bens naturaes da mefma miílurado com o bem : âc

pátria faó puros, finceros, a femelhante às do Ceo,

& perfeitamente bens , era de vida fem morte }

fem corrupção, contrarie- dade,nem miftura de mal. 407 Entre todas as piá- tas do Paraifo terreal ou- ve duas arvores maisin- ;íignes 5 &dequefófabe- ;nosonome, que foraó a

porque no Ceo todo o liepuroj^c íincerofem mi- íl:ura,nem companhia de Aílim o diz S. João

maj

defcrevendo a Jerufalem da gloria: & naó outra p;2ão deftâ djjíFerença de

CQB-

}

4^'^' Scrmaodiíug

cottfíis , íeti.io ierein húas as Í€giindas, que faó as do Ccoiôc outras as primei- rasvquefaó , ou foraó as deíle mundo: Et mor sul' tranon erity neque luãttsy Apoc. neque dolor erit ultra , quia 21.4. prima abierunt.

408 Para prova dos bens deíle mundo fempre mifturados com males, tomei por teílemunha a natureza; & para prova dos bens do Ceo puros, & fcm miftura, tomemos por teftemunha a arte. A arte para purificar o ouro, co- mo elle he o mais preciofo metal , aplicalhe também o maisefficaz, ^poderofo elemento, que he o do fo- i'.yf^* go : Aurum quod per ignem probatiir. Alli o purga, &; alimpa das fezes , alli o prova, & lhe apura a fineza dos quilates j & entaó fe reputa entre nòspor ouro purifiimo. Mas para que íe veja o noíTo engano , po- nhamos eíTe meímo ouro noCeo. Diz S.Joaõ, que as ruas da Cidade do Ceo VlpfK. faó de ouro limpo : ^toí^^ 2i.ai. Ci<uiía^}s aurum mundum.

'iridá ^ominjra íe perguntarmos y eíla limpeza , & pureza cfo ou- ro do Ceo em que confi- íle? Depois de dizer au- rum munaum , acrecenta , ibij, tanquam vitrum ferluct- dum^ que he puro , &: lim- po, porque he diáfano, Sc tranfparente como vidro. Logo fe o ouro entaó he puro , & limpo , quando chega a fua fineza a fer diáfana , & tranfparente como o vidro i bem {ç^íq- gue,que o noíTo ouro craf- fo, eípefix), opaco , & que nenhúacoufa tem de diá- fano, nem tranfparente, por mais que nos lifongee comafuacor , & nòs nos enganemos com elle , de nenhum modo he ouro limpo, Sc ;puro. De ma- neira, que comparado o ourodaterra,queos Rcys põem febre a cabeça, com o ouro do Ceo, queosBé- aventurados trazem de- baixo dos pès, platea ejus ; todo o da terra eílà pene- trado de fezes, &cheo de efcoria, poílo que nòs a nao vejamos ^ èz íó o do Çeohepuro , Sc limgo.

aurum mundum do, fe pedirmos ao mefmo Evangelifta, que nos diga com que

ingredientes

fe

purifica tanto efte ouro do Çeo ? Refponde, que com entrar no mefmo Ceo : Nonintrabit in eam ibiiz;. aliquod coinquinatum, E como aquella he a nature- za do Ceo, &eíla a da ter

ãa§luarefma, 44.7

Sobre tu- da noíTa vontad e, e m quá- to quer, he o bera j '& o ob- jedoda mefma v<ontade, em quanto não quí^r, he o mal :& como tudo o que ha no Ceo he o bem, & o que não ha no Ceo he o mal j por iíTo ha no Ceo tudooque quizermos, & não ha o que naó qui- zermos. Se nos bens do

ra j a mefma diíFerença de mundo ouvera eíla fepara- ouro a ouro nos eníiua, çaó, também na terra po

que aílim como na terra naó pôde haver bem, que careça da miftura de mal, afllmtodososdo Ceo faó puros,&fem miftura.

409 Se quereis faber de mim (" dizia pregando S. Agoftinho } o que ha no Ceo ? Naó vos poíTo dizer o que ha, fem dizer tam- bém o que naó ha. Ihl erit quidquidvoles , & non erit quidquid nolles. No Ceo ha tudo o que quizerdes, & naó ha o que naó qui- zerdes. Logo parece que o Ceo he feito pela medi- da da noífa vontade.? Naó. A noíTa vontade he a fei-

derao homem querer, & gozaro bem fem o mal: mas por mais que queira, naó pôde 5 porque fempre o mal anda naó junto, fenaó penetrado, & infe- paravel do bem. E para que acabemos de conhe- cer a futileza com que os mefmos chamados bens nos lifongeaô, & alegrão 9 & com falfas aparências degoílo disfarçaó o mal, que fempre levaó comll- go, levemolos nós ao exa- me do Ceo, &làfe defco- brirà o feu engano.

410 Diz o mefmo E- vangelifta S. Joaó [ o qual

ta pela medida do Ceo : & he força, que tornemos a porque .^Porque o objeâro ouvir, fuppoílo que S.Pau- lo,

448 Sermão da ftgiinda dominga

lo, que também vio o Ceo, ÍI05& as da grande alegria.

nos naó quiz dizer nada.^ Diz pois o Evangeliíla t?ó notável no que diz , como nas palavras com que o dizjqueatodos os quede- íle mundo paíTaó ao Ceo , lhe enxuga Deos os olhos de toda a lagrima ; Etab- Apoc 7. Ji^^g^^ T>eus omnem lacry- *7- mam ab oculis cortim.E que quer dizer toda a lagrima? Quer dizer todo o género

que a grande alegria, 6c o grande gofto fazem re- bentar os olhos em lagri- mais j porque fe naó haò de admitir no Ceo ? Porque todas eíTas lagrimas foraò deíle mundo. E lagrimas defte mundo 5 ainda que foíTem de alegria, & gran- de alegria 5 nunca podiaó fer de pura alegria, & ain- da que foíTem de goílo, &

de lagrimas [como aguda, grande goílo , nunca po-

& literalmente comenta S. diaó fer de puro goíl ojpor»

Ambrofio) porq neíle mu- que no mundo naó ha go-

do naó ha lao;rimas de ftofemmiílura de pezar,

dor,& triíleza, íenaó tam- bém lagrimas degoíto5&: alegria :&: aíTim de híias como de outras enxuga Deos CS olhos dos que vaó ao Ceo. As palavras do grande Doutor da Igreja laóeílas; jihjlerget ''Dctis omnem lacry mam , 71 am iri- fiitia jdpe lacrymas edu- cit^fapè& Utúia^jape & gaudium. Mas que as lagri- mas da triíleza, & da dor naó tenhaó lugar no Ceo, bemeflà: porém as lagri- mas da alegria, 6c do golto, & mai^ ^s do graiidc go-

nem alegria fem miítura de triíleza : & femelhantes miíluras de nenhum modo tem lugar no Ceo, onde as alegriasj&: osgoílos , co- mo todos os outros bens, faó puros, 6c fem miílura de mal. A alegria no Ceo hc lem trifteza, o goílo he fem pezar, o defcanfo hc fem trabalho, a fegurança he fem receo,o focego fem fobrefalto, a paz íem per- turbação, a honra fem ag- gravo, a riqueza fem cuí- dado,a fartura íem faílio> a grandeza fem cnveja , a abuji-

ãa ^arefma. 44^

abundância fem mingua,a abundantiafine indigentia : companhia fem emulação, oãavus pax fine perturba^ a amizade fem cautela, a tione : nonusjecuntas alTJ^

faudefem enfermidade, a vida fem temor da morte \ emfím todos os bens pu- ros, &: fem miít ura de mal, & por i^o verdadeiros bens. O Bemaventura- dosdoCeo,olhailàde ci- ma capara eíle mundo, & tende nova gloria accidê- taldos bens que gozais, naò digo em comparação dos malesjfenãodos bens, quenôs padecemos.

411 Mas confirmenos cila corrente de bens fem males hum compédio dos mefmos, & femelhantes âttributos 5 com exclufaó cada hum do feu contra-

que timore : decimus cogni- tio abfque ignorantia : unde- cimus gloria (me ignomima: duodecimus gauàium fine trifiitia. Atè aqui o Dou- tor Seráfico, o qual neftas doze prerogativas de bens fem males nos defcreveo hum inefável zodiaco de glorias , o qual todos os Berna venturadosnaó nos dozemezes doanno,nem nas doze horas dodia,mas fempre,& fem ceifar eftaã correndo, & gozando im- movel mente no circulo fem fim da eternidade. Di- tofos elles, que gozaô tan- to bem ; & nòs também di-

rio, os quacs reduz S. Boa- tofos,fe nos difpuzermos ventura a numero de do- ao nao perder.

2C, como outros tãtos fru- tos da Bemaventurança. Trimus eft fanttas abfque infirmitate-.fecundusjuven^ tus fine feneãute : tertiusfa- tietasfmefafiidio : quartus libertas fine fervitute : quin- tus pule hritudo abfque de- formitate \fextus impaffibi-

41a A Segunda dif- jCjkS^réí^^ da nof- fa propoíta , he, que dos bens do mundo quando muito logra cada hum os feus : dos bens do Ceo, &

litas abfque dolore '.feftimus no Ceo Ipgra cada hum os Tom. 7. Ff feus,

45 ^ Sâr//:ao dafegunda 'T>om'mga

íeus, & mais os de todos, cida a verdade, fe lhe nam

DiíTe quando muito; por- reftituiíFe.Suaeraafazen-

que muitas vezes naó ba- da doPay de familias do

fta, que os bens deíle mun- Evangelho, encomendada

do íejaó noíTos, para que o a hum feitor, para que ar-

mefmo mundo nolos dei- ' ^ xe lograr. Sua era de Na- both a vinha, & naó fua

ZI.2.

por todos os direitos hu- manos, mas por diftribui- çaó,6cdoaçaó divina, & por mais que elle a quiz Iograr,& defender, baftou queElRey Achab tiveíTe appetite de pi atar no mef- mofitionaòhum bofque, ou hum jardim, fenaóhúa horta de verduras popula- res, Hortum o ter um s para que em adulação do mef- mo Rey lhe fofle tirada poriuftiçaavinha,& mais ávida. Sua era de Miphi- bofeth a herança de feu Pay Siíul,em que vivia pri- vadamente, quando tinha direito para afpirar à Co- roa,6í bailou o falfo teíle- munhodebura criado in- fiel, para que acufado fal- famente de crime de lefa Magcílade, lhe foíTc con- fífcadaamcfma herança, &z ainda depois conhe-

recadaíTe as rendas dos que a cultiva vaó, & nam baftou que conííaíTe por efcritos o que cada hum devia , para que o mefmo feitor naó roubaíTe grande parte das mefmas rendas com tal aftucia , que nem demandar o pode o Se- nhor, & em vez de o acu- far, o louvou. Mas q mui- to que a cobiça,&: inHdcli- dade alhea nos naó deixe lograr os bens deíle mun- do.por mais que fejaó nof- fos-, fe nos mefmos lem outro inimigo, ou ladraó bailamos , & por noíTa vó- tade , para nos deípojar dellesí PozDeosa Adam noParaifocom obrigação de que o cultivaílc&guar- ^^^^ dalle: ^t operarctur^& cu- ;.if. flodiret íllum Sc eíla fcgú- da parte quando menos parece que naó tinha lu- gar naquclle eíiado. Outro homem, de quem Adam ouvefie de guardar o Pa- ra ifo.

raifojnaòohaviano mun- MasnaóíicaíTim. Fupara

do. Para os animaes tam- bém naó era neceílaria a o-uarda, porque todos por inftinto natural , & foge i- ção inviolável o obede- ciaó: logo de quem havia de guardar Adam o Parai- fo^Dequem o naò guar

lograr o meu , heime guardar de vòs: & vòs pa- ra lograr o vpííò , haveis^ vos de guardar de mim. Poriílbchamao Santo ao meuj&teu com elegância verdadeiramente áurea, palavra fria : Meum^ac tuu

dou . Havia- o de guardar frjgidíim illud ver hum. E defymefmo: & porque quefrieza50u frialdade hc

Adam o naó guardou de Adam, fendo os bens que poíTuia todos os do mun- do, elle mefmo,& elle fe defpojou de todos,fem ha- ver outro, que lhe impe- diífe o logralos.

4,1 g Dando a razaó defta differença entre os bens do mundo, 6c os do Ceo S.Joaó Chryfoílomo, diz em húa palavra, que he, porque no mundo ha ineu,&:' teu,& no Ceo naó: Vbi non eft meum , ac tmim frigidíim illud njerbum.An- tes parece,que porque no inundo ha meu,& teu, por iíTo havia de lograr cada humofeu pacificamente, & fem cótenda : eu o meu^ porque he meu ; &: vos o voífo , porque he voífo.

efta do meujfic teu ? He taí frieza,& tal frialdade, que naô ha amor no mundo tão ardente por natureza , &:táointenfo por obriga* ção, que logo não esfrie. Em havendo meu, & teu, não ha amor de amigo pa- ra amigo,nem amor de ir- mão para irmão, amor de filho para pay,né amor de pay para jfilho , nem amor de próximo , por líiais religiofo que feja,pa- ra outro próximo , nem amor do mefmo Deos pa* ra Deos. Antes de haver meu , & teu , havia amor, porq eu amavavos a vòs,Sc vòs a mim: mas tanto que omeu,& teufe meteo de por-meyo,8cfe atraveíTou entre nòs, lo2;o fe acabou o Ffij axiioti

4-52 Sermão ^afegunda dominga amor 5 porque vòs me mitesdecadahum,inven- nãoamaisamim jfenaó o táraóos marcos j & para meu 5 nem eu vos amo a guardara vinha , & o po- vos, fenão o voílb. No mar, inventarão os vala- principiodo mundo , co- dos, asfylvasjas {ç.Yts^^ mo gravemente pondera as paredes de pedra liga- Seneca, porque nao havia da, ou foi ta > mas tudo lílo

guerras ? Porque ufavaó os homens da terra como do Ceo. O Sol , a Lua , as Eftrellas , & o ufo dafua luz he comum a todos, & aíHm era a terra no princi- pio: porem depois que a terra fe dividio em diífe- rentesfenhores, logo ou- ve guerras, & batalhas, & fe acabou a paz , porque ouve meu,& teu.

414 Que direi dos me- yos, & dosremedios, das induftrias, das artes, ^m- fl:rumentos,que oshomês tem inventado , para que €ada hum podeíTe poíluirj & lograr o feu íegura , 6c quietamente -, mas fem proveito ? Para guardar a cafa inventarão as portas, Ocas fechaduras i mas pela mefma abertura,poronde cncra a chave, deixa tam- bém aberta a entrada para ii^azua. Para finalarosli-

fe rompe, & fe efcalla. Pa- ra guardar as Cidades in- ventarão os muros , os fof- fos, as torres,os baluartes > as fortalezas, os preíidios, a artelharia , a pólvora; mas naó ha Cidade taó forte, que por bataria , ou por aíTalto, ou minada por debaixo da terra, ou pela ar, fe naó expu gne, & ren- da. Para guardar os Rey- nos, & os Impérios inven- tarão as Armadas por mar, & os exércitos por terra , tantos mil foldadosa pè, tantos mil acavallo, com tanta ordem,&: difciplina , com tanta variedade de armas, com tantos artifí- cios,&:machinas bellicas; mas nenhum deíles appa- ratos taó eílrondofos, & formidáveis tem bailado, nemparaqucos Aílyrios guardalTcmo fcu Império dos Perfis, nem os Perfas o fcu

o feu dos Gregos, nem os Gregos o ícu dos Roma- nos, nem os Romanos fi- nalmente o feu daquelles a q\iem o tinhaó tomado, tornando a fcr vencidos áos mefmos que cinhaô vencido , Ôc dominado. Mais inventarão , & fize- raô os homens a eílemcf- mofimdc coníervar cada hum o feu. Inventarão, &

guim com a chuça , todos foraó ordenados p::ira con- fervarem a cada hum no feu , & todos por diíFeren- tes modos vivem do voíTo.

§■ vn.

41 f TT Sta he húa das

^, razoens,a qual

o divino Meftre Chriílo

Senhor noíTo nos allcga>

firmarão Leys, levantarão para que façamos os nof- Tribunacs , conílituiraó íbs thefouros dos bens do

Magiílrados, deráo varas às chamadas Juíliças com tanta multidão de Mini- ílros maiores, & menores, €c foi com cífeito tão con-

Ceo,& no Ceo, & naô dos bens do mundo, & na ter- ra } porque na terra ha l^^-uiath, droens , & no Ceo n2LO'.^^^<^' Nõlite thefaufízare vobis

trario, que em vez de dc« interra^ ubi arugo^à' tinea Ôcrrarcm osladroens, os demoUtur^ & ubi fures efo-.

nictéraõ das portas adcn* •troi^c cm vez dcos extin- guirem, os multiplicarão í éc os que furtatáo com ínedojéc com rebuço, fur-* táo debaixo de ProvifoéSa &: com imra unidade. O Solicitrdor com a diligen- cia, o Efcriváo com a pcn^ na, a Tcftcmunba com o i^ramcnto^ o A vogado a allegaçâo, ojulgador f fçaten,ja , êc, atè oBeii-.

diunt^&furantur^ Thefam fizate atitem imbis in O^. ki ubi neque arugo-^nequetiÀ nead^moíitttr ,& aht fures, non effoimnU necfttmntur. Nas quaes palavras fe de- ve notar m uito, quenáo fó. nos aconíelha, &: manda í>> Senhor,que guardemos. ^^^ noííbs bens dos ladroensv da cobiça , fenãotambem dos ladroens da nattirezar : VkidrugOy&tinea demoU^ Ff iij tur^

4 í 4 Sermão ãafegtinda 'T^ominga

tur. Os bens deíle mun- Que faó todos os eíemen*

tos, fenáo huns roubado* res unívcrfacs de tudo o que grangea,& trabalha o género humano ? O fogo nos rouba com os incên- dios, a agua comasinun- daçoensjoarcomas tem- peib des, & a mefma terra com os exércitos innumc-

do,como faó corruptiveis, ainda que náo haja ladrão, que os furte, el!es mefmos fcnosroubáoi porque as roupas, por preciofas que fejáo, come-asa polilha, que nafce das mefmas rou- pas j & os metaes , ainda que fejáo ouro, & prata, roe os a ferrugem,que naf- ravcis de pragas , que co- ce dos mefmos metacs. mo femcada comos den*

Porém os bens doCeo,quc faô in corrupd veis , nem dclles fe pôde gerar vicio de corrupção,que os gaite, nem a lima furda do tem- po, que tudo confomc, lhe pòdc meter o dente j por- que a fua dureza he como a fua duração , & faó bens eternos. Oh quanto mais nosenfinou o divino Mc- ftrc neílas paIavras,do que cilas dizem! Quando não ou vera Coííàrios no mar, nem falteadores nos cami- nhos, nem ladroens publi-

tesde Cadmo, nafcem, & fe levantão delia , para ou- tra vez nos roubar o que nos tem dado. Ouçamos ao Profeta Joel. Rtjiduum eruca contídit locujia : re- fiduum locujla comtdtí ^í-H bruchus : re fiduum bruchi comeãitrubigo. V'icráo,diz JoeI,quatro pragas fuccef- íivas à terra, hãa fobre a outra E que íizerao ? To- talmctcdevaíUráoa mef- ma terra, íèm perdoar a quanto ella cultivada, ou cfpontanca mente cria ,

cos , & fccreros no povoa- & fem cultura. O que áni- do i qucmjia tão podero- xou a lagarta, come o o íza

fojqucpoffaconfervar, & lograr o que poíTue ncíle mundo contra os roubos inevitáveis da natureza?

fanhoto; o que deixou o gafanhoto, comeo o pul- gão; & o que deixou o pul- gão, comco a ferrugem. De

BB

De forte, que para ferem eftecafo,os cuidados, os

defpojados os nomens dos maiores bens, & mais ne- ceílàriosàvida, quacs fao aquellesdc queella fe íii- ftcnra,náo depende a fua perda,& defgraça das ho- llil idades , & roubos dos Sabéos,&dos Chaldêos, que deriruirào as terras, os gados , & as herdades de Job 5 mas baftão as pra- gas naturaes da mefma terra corrupta, para que cm hum momento fique

trabalhos,& osfuoresdos que toda a vida, & todo o amorempregáo em acqui- rír,& aumentar os chama- dos bens dcfte mundo, fc no mefmo tempo cm que cuidâo que faò feus, ná© fabem para quem traba- lhão ? He ponderação do frande Rev , & Profeta )avid, trifte verdadeira- mente,&digna de quebrar as mâos,& os ânimos a to- dos os que debaixo defta tão pobre como Job, qual- ignorância fe canção. Lhej pr^w querquefoífe tão rico, & fmrizau&ignotat cm ca- 387. abundante como elle. Tu- gregabtt ea : Acquirem, dooquenafcena terra, o ajuntão, enthefourao, & SoI,&:achuvaocria; mas não fabem para quem. o mefmo Sol, fe he dema- Cuidáo que he para fy o fiado, o queima^ & a mef- que chamaó feu, & nao he ma chuva, fe he muito cò- feu, nem para fy •, porque tinuada, o afoga : para que he para outrem, & tal vez acabemos de nos defenga- paraomaior immigo.Af- -mr da pouca firmeza , ou fim lhe aconteceo àquelle fegurança ,que pôde ha- Rico, a quem o Evange- ver nos bens, que não faó lho canoniza com nome do Ceo , pois as mefmas nâofó de nefcio , mas de caufas, que os dão , os ti- eftolido,/«/í^. Dava o pa- rlo, & as mefmas que os rabem à fua Alma pelos produzem,os matão. muitos bens, que tinha jii-

416 E como ficáo bal- tos para muitos annos ; A- r^^^.^ 4a4os, ainda fcm chegar a nima nita^habes multa hcna - 9. . ''^ Ffiiij m

4S^ Sermão da fegunda, dominga

in anrwsplurmos, E fendo jamos, que ouve bum hc

mandado fair deíle mun- memcaó mimofo da for-

donaquella mefma noite, tuna , que todos os bens

obidao. ^ P^^g""^^' 9.^1^ i^^e iize- que poíTue deftc mundo ,

t^o.íov. Et qu£ parafti^ ou herdados, ou acquiri^

cujuserunt^-^ todoseíTes dos,os logrou pacificamc.

bens,queajuntafte,&cha- te,fem que a inveja dos

mas bens, cujos feráó ? O iguaes,nem a potencia dos

trabalho foi teu, Sc os bens maiores lhe inquictaíFe a.

lerão d^ quem naô fabes. poíTe, ouduv^idaíTeo do^

Nao aíTim os h^m do Ceo, m inio ; que felicidade hc a

}>ra]m. GIZ o mefmo Profeta. La- defte homem ? Primeira-

ia/a. hresmanuumtuarum.quia mente com fer fingida &:

manducabis, beatus es , & nao ufada , fe os bens faó ^ene tibi ent. Vos tra balJia- icis neíla vida -, mas na ou- tra fereis Bem aventurado, porque comereis o fruto <ios voííbs tra bal hos,ou os mefmos trabalhos de vo€- fas máos; Labores manuum

poucos, nãodevedeeílar contentei 6c fe Çàò mui* tos, quem duvida,que ain- da defejamais.^ Sendo ccr- to,queemhum, & outro caio mais vem a padecer, loerai

que a lograr o qae tem titarum, Aquelle foi cano- Mas íê por graça efpcciai nizadopor nefcio, & eííe de Deos he eíTe homem

por Berna venturadoj por que os que trabalhão pelos bens do Ceo fabem de certo , que trabalhão paraf^^&parao quehe,& hadeferfeu eternamente.

5- VIII

417

M

As conceda- mos 3 ou hn-

táo moderado, &taó fe- nhor de feus appetires,quc com o fcu pouco, ou o feu muito, fe por ratisfei- tojpoíTue, & logra mais algúa coufa que o fcu / Não. Pois eíhi he a ditfc- rença,que ha entre os bens do C eo, & os u o n 1 u n d o. Os do mudo quando mui- to,^ por nula^rc, tanto d* xia-

JM

da^arefma. 45-7

natureza, como da fortu- portionem fubftantia^ qua na,Iogra cada hum os feus: TpÊcontingit. E eíle pecca- os do Ceo naó logra ca- do cometido em prefença da hum os feus/enaó tam- do Pay, coram te , confeííà

bem os de todos. Oh fe en- tendeííemos bem eílepõ- tOy que pouco caíb faría- mos dos bens da terra] Arrependido o Filho Pró- digo do mal aconfelhado que havia íido em fua vi- da paíEida , veyo bufcar outra vez a caía do Pay-) & lançado a ícuspèsjlhedif. íè : 'Pater^Decvavi in Caiu , ér coram te: Pay meu j eu em voíTa prefença pequei contra o Ceo. Os pecca- dos, que fe condenaó no Pródigo ) todos foraó co- metidos em aufencia do Pay,âc muito longe dellei ibid. x^i^ regionem knginquam:

IrUC.

que peçca do foi I ogo eíle gra cada hu m o feu , fena ni de que principalmente fe o de todos, Nomefmoca- acufa, cometido em pre- fença do Pay, 5c contra o Ceo ? O único peccado, que cometeo o Pródigo em prefença do Pay , toi pedir que lhe déífe em vi- da a parte da herança, que lhe tocava, porque queria

lograr o ít^x^Ti^miida mihi es , ^ omnm mea tmfunt :

o Filho arrependido, que foi peccado contra o Ceo : ^eccmnin C^lum ? Sim; porque pedir fóafua par- te, & querer lograr iòm en^ te o feu, foi igualar o Ceo com a terra. Na terra, quando muito, logra cada hum a porçaó dos bens, que tocáo a cada hum : ^a mihi portionem fubfianti£^ qíi£ mecontingtt ; & quem he filho do Pay do Ceoj & criado para o Ceo , con- tentarie co m o feu , h e injuria, he aggravo , be peccado grande, que co- mete cot ra o mef mo Ceo, porque no Ceo náo lo

íb o temos.

4 1 8 Eftranhando o fi- lho mais velho as fedas com que o Pay celebrava a reftituiçaó,6c vinda do mais moço , as palavras^ com que o confolou,foraó eílas : Fili^tufemper mecum

45"^ Sermão dafegunãa n^omlnga

Fiiho\ vos fempre eftais hum. Sedfic à perfecíis^é'

coraigo , & tudo quanto tenho, he voíTo. Nefte tu- do repara muito S. Ago- ítinho : porque tendo o Pay outro filho, & o Pró- digo outro irmáo , como podia o Pay dizer a hum dellcs,quetudoo que ti- nha era feu ? ^tdfibi vult, omniameatuafunt^ quafi nonfint & fratris ? Nem obáa , que hum dos filhos nunca íahiífe da cafa do Pay , & o outro fora delia

immortalíbus filijs haben - tur omnia^ utjmt ò* omniu, jingula^ ét omrúa Jingulo- rum : rerpondeelegante,& doutamente o mefmo S. Agoftinho. Nefte mundo, onde os homens faó mor- taes , & os bens também mortaes, cada hum logra fomente o feu •, porem no Ceo, ondeos homens, & os bens faó im mortaes, ca* da hum lograodecodos,& todos o de cada hum, O

viveíTctaò perdida mente> peccador arrependido lo- porquejà eftava arrepen- gra a gloria do innocente,

didodeíTamefma vida: Sc onde oPayhe Deos,tan- to direito tem à herança dos fcus bens os arrepen- didos,como os innocentes. Aílim que a duvida toda eíl:à,ondea põem Agofti- nho,quc he no omnia : Om- ma mea tuafunt. Pois fe os herdeiros , & os irmãos craó dous-, como diz o Pay que tudo era de hum ir- mão , fendo também do outro ? Porque fallou co- mo Pay do Ceo , & dos bens do Ceo,onde tudo he de todos > & tudo de cada

que nunca pcccou, & o in- nocente, que nunca pec- cou, logra a do peccador arrependido: & nem o in- nocente por innocente cx- clue o peccador , nem o peccador por peccador defmerece o que logra o innocente i mas todos go- zaóodecadahum, & ca- da hum o de todos : Om- niumjingíday ô' om/.ia Jin» gulorum.

419 Haverá por ven- tura na terra algum exem- plo, que nos declare cfta reciproca, & total còmu- meação^

nicaçaõ, taõ total, & toda também em todos , como total , & toda em cada hnm? Nun- ca ouve, nem podia haver tal excmplojou íemelhan- ça na terra -, masfó a ouve depois que deceodo Ceo. Equalhe? O diviniílimo Sacramento : Tanis^ qui de í^jT ^^^^ àefcendit : o diviniíli- mo Sacraméco lie penhor

4fP

a íèmelhança $

porque fem femelhança não pôde haver figura. Lo- go fe o Sacramento , em q não vemos a Deos,he figu- ra da gloria 5 que confífte emveraDeosi onde eftà efta figura , & efta feme-í Ihança? Admiravelmente o dizem as mefmas pala- vras da Igreja : ^íam pre-

da gloria, ôr figura daglo- tioficorporis , & fmguinií ria. Húa , & oucra coufa tui têporalisperceptio pra- nos enfina a Igreja: pe- J%"íír<2í.Notefe muito apa- nhar da gloria , future gío- la vra perceptio : náo confí- Ti^noms pigniis datm : ^^ íle a figura, & femelhança gura da gloria , quam pre' do S:icramento com a g1o^

tiõficorpjns , ér fmgumis tiii têporalis perctpttoprafi^ gurat, O penhor, para íèr penhor, náo be neceífario que ren ha a íè m e 1 ha í i ca , fenáo o p reco, & va I or do que aíTegura. Aífim ve- mos, que a baxella, outa- peceria he penhor de tan- ta quantia, quanta fe nos fia debaixo delia : & ifto mefino tem o valor, & pre- ço infinito do Sacramen- to, em quanto penhor da gloria, ^^las para fer figu- ra da gloria^ naó bafta o valor , & o prejo j fcjoam

na no que recebemos, po- lio que feja o mefmoDeos; mas confiíí e no modo com que o recebemos : Tempo- r di s per ceptttpr afigurai. E porque,^ Porque a ilim co- mo no Sacramento tanto recebe hum,como todos, & tanto recebem todos, como cada hum i aílim na gloria tanto lograó todos> como cada hum, & tanto cada hum,como todos. na terra, como ha a divifaó de meu a teu^cada hum lo- gra os feus bem, mas nam participa os dos outros?

»

Luc. 3)

Mattb. 17.4-

46^0 Sermão dafé^\

porém no Ceo os pro- prios, & os dos outros ta ri- to Hió comuns de todos, como particularesde cada hum, porque nao tem lugar cita divifaó.

4Í0 Daqui fe enten- derá o fundamento, por- que S.Pedro noTaborfoi notado pelos dous Evan*

feliílas S. Marcos , &• S. ,ucas com húa ccnfura taò pcfada como de naó fa- beroque diíTc : Ntfiims quiddíceret. O que áiííi^ S. redro, foi , que fizeíTcm alli três tabernáculos, hum para Chrifto , outro para Moyfes, outro para Elias : Faciamm hic tr^a ta^erna^ culãitibiimumyMoyJi tmurrh &Elf£imufn. E cm que efteveo erro, ou dcfacerto digno de taò notável , 6c declarada cenfura? Eílcrc cm que íendo o Tabor naòíó hum retrato da glo- ria do Ceo, fenaò hCia par- ticipação própria , & ver- dadeira do que nella íe go- za vquizS. Pedro introdu- zir 5 & cítabelecer noTa- borhua couía taô impró- pria, & alhea da meíaia

haf

unda Vomivga gloria, como teu, &:tcii: Tíhi unum^ Moyfi unnm^ & Eliaunum. Excellentemé- tc S. Pafc ha fio. Error in céLíífa eft^quta triafipromit- m^' h'." titf acere tabemacuUy unu Jciltcetj ac privai um Jofu ^ alterum Môyfi^ & ídiud E- Itíf^ua/inon eos caperet usu, tahemaculunf jfeu in unop^ mulconfiperenonpojjent. S. Pedro como deíIntereíTa- donaóquiz introduzir na gloria o meu » &onofíb, porque naó diíTc que faria tabernáculo para Ç^^ ncid para os companheiros, 6< a aqui naó errou callan- do: porem tanto qne fal-i lou,& difíe v^ntum ttvi , naó parando alii, mas queren- do dividir os tabernacu-» los , & fazer outro para Moyfcs, & outro para É^ liasj como fc todo?} naa coubeílem no mcfmo ta-^ bernaculoj ou o niefmo ta- bernáculo naó foíTc capaz de todos i aqui, ^ ncíla ái^ vilaò, he que cilcvc o íeu çno, porque na gloria do- Cco, que o Tabor rcprc- fentavajO tabernáculo de Moyfes hc de Elias, & o do Elia^

da ^arefma. 4^1

Elias he deMoy fes, fico de borem. Os indoutos', por- Moyfes , & Elias de que também muitas vezes Chriftb, & o de Chrifto hc de Moy fes,& he de Elias, ^hede Pedro , & he de João, 6c he de DiogOjfem excluir a ninguém , mas cómunicandofe naó univerfalmente a todos/e- naó particularmente a ca- da hum.

í. IX.

421 /^^Ontraefta dou-

trina porem , poílo que taó provada, me parece que eftão replican- do naó os doutos, & in- doutos da terra^fenaó tam- bém os Bemavencurados do mefmo Ceo. Os dou- tos, porque muitas vezes leraó no Evangelho : Tunc redàet tmkutque fecundum opera ejm: Et in qua menfu-

Marc.4. ra menfifuerttis^ remetietur

^ 'uobis : & em S. Paulorj^i

■X. Co- farcèfeminati parcè éy ine-

úrxt.^.e.fef .^^ qui femmat in beyie- aífímlà por dentro ha m:^- dí5íionibíiSy de benediõíio- ior es, 6c menores dignida- nibus i^metet : Etunuf- des, maiores, & menores

'»: Co- quifquepropriam mer cedem coroas, maiores, & meno- accipietjecundím Juum la"^ res lumes da viíta de Deos,

&na

Match ■6.27.

tem ouvido na interpreta- ção deftes textos , que os prémios do Ceo fe haó de diílribuir a cada hum por jufl:iça;&que a medida la do gozar ha de fer a meí~ ma que foi do fervir : 6c que quem fêmea pouco , colhera pouco, 6c quem muito, muito : 6c queapa- ga,que ha de receber o tra- balhador, ha de fer confor- me o feu trabalho. OsBê- aventurados finalmente j porque he certo , que no Ceo ha muito differentes grãos de gloria, como fo- raó diíferentes na terra os da graça: 6c que aílim co- mo cà por fora vemos que no mefmo Ceo húa he a claridade do Soljoutra a da Lua, outra a das Eftrellas: Alia dar it as Solis^alia cla^ ritas Luna^ & alia ciar it as ^ ^ Stellarum : Stella enim ^if.^x! Stella differt in ciar it ate 5

^6i &na

rança maiores, & menores participaçoens , ou como diz S. Paulo , pefos delia. Pois fe os BemavenCura- dos na gloria, & as glorias dos Bemaventurados naó •faó iguaesj como pôde fer primeiramente , que em tanta deíigualdade do que poíTuem , eftejaõ todos igualmente contentes : & que fendo o que cada hum poíTue próprio de cada hú, gozem todos igualmente o de cada hum , & cada igualmente o de todos ?

Sermão dafegunda T>ominga mefma bemaventu- nefta mefma differenca, pofto que deíigual , toáos refpedbivamente , & cada humeftaó igualmente có- tentes -, porque nenhum quer, ou defeja mais do que tem : fundandofe a igualdade do mefmo con- tentamento na medida da própria capacidade, & na proporção da juftiçajconi que fe vem premiados. Cà, onde todos apetecemos fer maiores,naô fe entende iílo j mas fácil mente fe pô- de comprehender por va- rias femelhanças. Levai ao 422 Para declaração de- mar três vafos, hum gran- 'fíe,que parece enigma, ha- de, outro muito maior,ou-

tro muito mais pequeno, & ene hei- os todos ; nefle cafo o vafo menor tem menos agua, o grande tem mais , èc o maior muito mais:& com tudo neíia mefma dcfigualdade ne- nhum admite, nem pòdc admitir mais do que tem ^ porque cada hum fegúdo a ília capacidade eílà igual- mente cheo. Tem hum pay três filhos, hum mini- no, outro moço , outro homem feito : velho a to- doí.

vemos de fuppor, que no Ceo ha ver , & gozar a Deos , em que coníiíle a gloria eífencial : & ha go- izarfe da mefma gloria dos que vem a Deos, & o go- ■záo, que faó duas coufas muito díverfas. Na gloria, que confiíle em ver, & go- zar a Deos , ainda que al- guns poífaó fer iguaes, ha -muitos grãos de differen- «ça,& exceílb , fcgundo o maior, ou menor mereci- mento de cada hum, Mas

da^arefma. j^,6^

dos da mcfma tela: & qual porque aílim o pede a na-

eftà mais contente ? Por ventura o que levou mais covados ? De nenhum mo- do. E fe naó trocai os vefti- dos, & vereis fe queralgú o do outro. Mas cada hum fe contenta igualmente do feu, porque he o que lhe vem mais jufto , & mais proporcionado à fua eíla-

tureza das partes, & a ar- monia do todo. E fe eíla uniaó j conformidade , & ordem fe acha era hum corpo natural, & corrupti- vel, qual fera a do corpo celeílial daquella fobera- na,& fobrenatural Repu- blica,onde a vontade do mefmo Deos, que o beati-

túra. O mefmo paífa nos íica,hea Alma, que o in Bemaventuradosdo Ceo. forma.

Porque aílim como a glo- ria da vida clara de Deos os enche por dentro aílim os vefte por fora. Nem obftaa capacidade maior, ou menor do merecimen- to, nem a eílatúra mais, ou menos alta da dignidade, para alterar, ou diminuir a

423 E quanto à fegúr- da parte da objecção, em que parece diíHcultofo go- zarfe cada hum das glorias de todos, & gozaremíe to- dos da gloria de cada hum. aílim como fatisíizemos à primeira diííicu Idade com a proporção da juftiça, af-

vic.cap 30.

igualdade deíla fatisfaçaó, íim refpondo a fegunda

a extcnçáo da caridade. O Ceo he húa Republica immenfa^ mas onde todos feamão : & cfik a cari- dade tanto no auge de fua perfeição, que todos, & cada hum amaó tanto a qualquer outro, como a fy mefmo. Donde fe fegue^ que ainda que os gráos da gloria fejaò deíiguaes fe- gun-

& contentamento década hum no feu eítado j por- que como bem declara Auguft. outra femelhança S. Ago- decí- ftinho, também a cabeça he mais nobre que amaó, ^ amaó mais nobre que o pè, & nem por iífo o defeja ler maójnem a maó defeja fer cabeça, nem a cabeça defeja fetcoraçaôi

4^4

gundo o

Sermão da fegunda T>om'inga merecimento de todos , & cada hum, como

Laurét. Juftin. deLôg ti tas

cada hum, a alegria, &o goílo deíTa mefma gloria , ou glorias, he igual em ro- dos, porque todos as eíli- maó como próprias, & ca- da hum como fua. Expreí^ famente S.Lourenço Ju- ílmiano. Tanta vis Í7i illa calefti pátria nosfociat^ ut quod infequifquenonaccí' pit^ hocjeaccepíjfein altero exultet. Vna cunãis erit beatttudo latitia , quamvis non unajít omnihis fublimi' tasvtta. Notefe muito a palavra beatttudo U titia , em que o Santo diftingue na mefma bemaventuran- ça duas bemaventuranças, húa da gloria , outra da alegria : a da gloria he par- ticular , òc determinada, porque coníiftc na viíla de Deos, que fc mede com o merecimento , & graça defta vidaj porém a da ale- gria naó tem termo, nem limite, porque he immen- fajôcfem medida, fegundo aextençaõ da caridade: a qual comprehendendo , &: abraçando a todos , fe ale- gra , & goza da gloria de ao fogo cm que ardia o feu

fefora própria. Eefl:e,co- mo fe fora própria , naó quer dizer, que naó tem, nem pofiiie cada hum a gloria dos outros, porque verdadeiramente a tem,& poíTue 3 diz o Santo , naó emfy , mas nos que ama ^"l***- como a fy mefmo ; ^^t quod Civit. infe quijque non accipit^ hoc JJ ^caiu fe accepijfe in altero exultet. gci. Efta mefma razaó he de hí^^i* S. Agofl:inho,de S. Boa- '''i"^'i't ventura, deS.Anfelmo, & *^'^^*' de todos.

424 E para que o ufo, ou abufo da pouca cari- dade deíle mundo nos naó efcureçaaintelligécia dep- ila verdade,com dous ex- emplos deíle mefmo mu- do a quero declarar, hum lingularem S.PauIo,ourro univerfal em todos os ho- mens. Erataó immenfa a caridade de S.Paulo, que elle padecia os males de todos os homens, & nenhu mal temporal , ou efpiri- tualfucedia nefte mundo, que naó acrecentaflc no- va, & particular matéria

ãã§luarefma. ^ 4.6 j

coração. §uis infirmatuTy abrazavaó, & quêimavaó :

Cor. i^ ego non infirmor > Quis ^ihfcãndalizatuT-^&ego

' -^- ^ ' '■ ' fíi?;^ /^r^r? Efe a caridade

de Paulo o fazia padecer os males de todos , fcindo mais natural à natureza humana gozarfedos bens , que padecer os males i

'^' fcandalízatur , & ego non urorl Aílim como todo o pcfo da redondeza da ter- ra pefa, Sc carrega para o •centro •, aíllm todas as en- fermidades , todas as do

fes, todas as penas , todos quem duvida, que a cari- es trabalhos , todas as af- dade de qualquer bemavc- flicçoens, ^ tribulaçoens , turado, a qual no Geo he iniferias,pobrezas,trifte- mais perfeita, que a dos zas^anguftiasjinfortunios, maiores Santos na terra 3 defgraçasj emfim , todos excite, aíFeiçoe,& obrigue os males do género huma- naturalmente,&fem mila- no carregavaò de toda a gre,acada hum, a que fe parte fobre o coração de alegre,& goze dos bens de Paulo, adoecendo elle de todos ? todos,&com todos : Quis 42 f E fe naô C para infirmatur^ & ego non infir- que cada hum fe p^rfuada Wí?r?E aíTim como no mef- peio que exprimenta em mo centro eftá o fogo do fy mefmo } pergunto a to- Inferno, em que ardem os dos os que fois pays , ou condenados , pagando as máys. Náo lie certo, que penas das culpas , que co- ospays , & as mãys tanto metéraóneftavida; aílím amão, & eftimaóos bens

ardia no coração de Paulo *o fogo da caridade taó forte, 8c intenfa rnente,que 'todos os efcandalos,& cui-

de fcus filhos , como os próprios ? Atè as feras mais feras, fe fe lhes fizer efta pergunta , refponde-

pas,qiiedenovofe come- ráóquefim. Eeuacrecen-

tiáo,naófó o atormenta- to,quenaó feràverdadei-

vaó de qualquer modo> ropay , nem verdadeira

mas verdadeiramente o mây,oquenaóeftimarme-i

Tom. 7. Gg nos

4^6 Sermão ddfegundaT>ominjia

nos os feus bens , que os que fe o amor de todos os

de feus filhos. Por iíTo os Corcefáos de Jerufalem, quando David renunciou a Coroa em feu filho Sala-

paySj& mãySj quantos ou- ve defde o principio do mundo , & haverá atè o fimjfe uniíTe em hum

maója lifonjacomquebe- amor, comparado eílecò

o amor do menor Beni- avenmrado do Ceo,naó fo o naó igualaria , mas nem pareceria amor. Vede ago- ra, conclue S. Boaventura, quamimmenfaferà a glo- ria dos que aílimíe amaó, fendo elles infinitos, &a gloria de cada hu m,as glo- rias de todos I

426 Oh bcmaventu- rados vòs , & bemaventu- radas, naó digo a yoílajfe- naóas voíTas bemaventu-

jarao a mao ao mefmo David, foi, dizendo todos a hua voz,& com o mefmo conceito, que Deos fizeíTe o trono 5 &: Reyno do Fi- jho maior, &: mais felice ainda queodoPay. Epor iííba Mãy de Nero, tendo ouvido de hum oráculo, que fe chegaífe a ^ç;r Em- perador feu Filho, a havia de matar, refpondeo : Ocr ctdat , dummodo imperet : Matemeembora,com tan- to que feja Emperador,

ranças! eílà gozando

Afilm eftimou mais a Mãy elta verdade, quem a diífe a hQnra,& Império do Fi- na primeira palavra , que

lho,quea vida própria. E feaeíles extremos íè ef- tende o amor natural da terra, que fera o fobrena- turaldoCeo? Hetaógrã-

efcreveo. A primeira pa- lavra do primeiro Pfalmo de David he, Beattisvir , píài». Bemaventurado o home. »■»•. E qual he a bemaventu-

dc,ou por fallar mais pro- rança,queofaz,&lhedà o priamente , he taó perfei- nome de Bemaventurado?

to, taó puro , & taó fobre- humanoo amor, com que todos os Bemavcnturados reciprocamente fe amaó}

Naóhehúa, nem mui- tas, fenaó todas as bem- avcnruranij-as de todos os Bcmaventurudos) porque todas

da^arefma. bemaventuran- vòs í^ozais os

t%>das as çasde todos concorrem a fazer Bemaventurado a cada hum. Aílimo decla- ra expreíTamence o mef- mo texto original Hebrai- co, em que Diviá efcre- yeojoqualtem em lugar dcBeatm vir^ Beatitudi- nes virii. fe cada hum pe- la fua gloria particular he perfeitiílima mente Bem- avènturado, & gloriofo , que fera peias glorias, & bemarcnturanças de to- dos ? Pela fua gloria Bem- aventuradocada hum pe- lo que elle mereceo, & pe- ks glorias de todos fobre bemaventurado também pelo que elles merecerão. Exceíib verdadeiramente de comunicação de bens ,

¥-7 frutos de feus trabalhos, pois gozais . oqueelles merecerão 5 & vòs naó mereceftes.

427 Vòs (^ ponderem os da terra bem o que di- go 3 vòs naó foftes Patri- arcas, & gozais a gloria dos Patriarcas : vòs nao foftes Profe tas, & gozais a gloria dos Profetas : vòs naô foftcs Apoftolos , & gozais a gloria dos Apo- Solos ; vòs naó padeceftes . martyrio, & gozais a glo- ria dos Martyf es : vòs naó foftes Doutores, nem eníi- naftes, & gozais a gloria dos Doutores : vòs naó vi- veíles nos defertos>6c gOf^ zais a gloria dos A naco-" retas : vòs nàó profeíTaíles continência , & gozais a

que podéra parecer inju- gloria dos Virgens: vôs fo-

fío, fe a gloria naó fora fies peccadores, &tal vez

premio da graça. De vòs grandes peccadoresj^ go-

pois,& de todos vòs, ò fe- zais a gloria dos innocen-

liciílimos habitadores def- tes : vòs finalmente fois^

fa Pátria celeftial ; de vòs 5 homens com corpo, & naó

&.a vòs fe pôde dizer com efpiritos , jSc gozais as glo-

t-sãAÒ-.AUjUboravenmt^ rias de todas as Gerar -

(^vos in labore s eorum m- troiftis : Que os outros me- fecéraõjôc trabalharão? &

chias dos Anjos. Aíílm o

difcorre , & contrapõem

admiravelmente o Sera-

Ggij fim

S.Bona' vent. ii Solilo-

4<> 8 Sermaõ dafegunda T>omínga

fim dos Doutores da Igre- acomodar à brevidade do

jaS.Boaventurajpoftoque tempo, & fuppondo que

com a ordem mudada, mas baftaó as demoílraçoens

com o mefmo fentido. Ibi deílesdous difcurfos para

virgo gaudebit defan6f<e vi- fundar fobre ellas húa grá-

duítatis mérito: ibi njiduA derefoluçaó ; acabo com

exultabit de cafto virgini- tat is privilegio : ibi Confef- for de Martyris jucundabi- tur triumpho : ibi Martyr tripudiabit de Confefforum hravio : ibi ^ropheta lauda* kit de Tatriarcharum pia conver/atione : ibi Tatriar- chaexultabitde Tropbeta-

fazer a todos os que me ouvirão húa pergunta. Gredes ifto que ouviíles , ou naó? Quem cré o pri- meiro, 6c fegundo ponto, he Chrifíaó, quem naó crè o fegundo,he'Gcntio-,mas, ou íejais Genriosjou Chri- ílãos , fe totalmente nao

rumfide : ibi Apoftoli , & tendes perdido o entendi- Angeli gaudebunt de mérito mento,&:ojuizo, não po- »mniuminferiorum:ibiom' deis deixar de eflar pcr- nes inferiores Utabuntur de fuadidos do que ou viftcs , gkria^&coronafiiperiorum, ou a defprezar a falfidade

de huns bens,ou a defejar

428 inAltavanos ago- £"^ ra o terceiro pó- toda noíTa propofta , & mofl-rareomo tudoiftofe goza no Ceo, naõ fucceíli- vamertte,fenaó por junto, reduzindo toda a eterni- dade a hum inftante, & eftendcndo eíTc mefmo in- Hante por toda a eternida- de. Send© porém forçofo

juntamente a verdade dos outros.

429 O Gentio naõ fa- be que a Alma heim mor- tal, nem crè que ha outra vida. E com tudo, fe ler- des os livros de todos os Gentios, nenhú achareis, nemFjlofofo, nem Ora- dor,nem Poeta, que lo c6 olumedarazaó , & expe- riência do que vem os olhosjnãocúdcneo amor,' ou

da§íuarefmã\ 4^^

iDucoÈiça dos chamados tcdo vérda-deiro mal^qu

bens deite mundo, &:naó louve o derprezo delles. Gentio ouve , que redu- zindo a dinheiro gran- de património , que poí^ fuía, o lançou no mar , di- zendo : Melhor he, que eu te afogue , do que tu me percas. Deixo os rifos de Piogenes, que metido na fuacuba zombava dós A^ lexandreSjScfuas riquezas. Deixo a fobriedade dos Sócrates, dos Senecas, dos Ep ide tos, 6c meadmi-

gozar a do falfo bem. Não feria louco o que pela do- çura da bebida tragaíTe jú.- tamente o veneno i* Efta pois era a razaó , & a evi- dencia, com que fem féj nem conhecimento da ou- tra vida fe defenganavaó os Gentios , & huns pelo peio fe defcar regava ò dos falfos bens , outros pelo défprezo os iiictiaó debai-i xodospès. -^'f

430 EfeaíHm os tra- ta va o Gentio, que naó te-

raj& deve envergonhar a mia delles, queolevaíTem

todolChriíláo , o exemplo ao Inferno, nem lhe impe-

domefmo Epicuro neíle diíremoCeo3quedever€-'

conhecimento, fendo elle, folver,& fazer o Chriftão ,

& a fua Seita a que mais profeífava as delicias. G'^/i^ ãsbis mi^íus F mintis aolébis: dizia oComico Gentio, & fali ando com Gentios : Se tiveres menos goílos,tam- bem ceras menos dores. E porque na miftura desfal-

que não reconhece nós bens domtmdo a vaidade do prefente, fenaó tambê, écm.uitomáiso perigo do futuro } Será beai, que por hum inílante de goílo me arrifque eu a hua eterni- dade de pena, & por hua

ibs, 5c enganofos bens, di- âpprehenfaó de bèrri mi-

vidiaóobemdo mal, &: llurado com tantos males,

coiitrapeíavaó o que ti- perca a gloria da viíla de

nliaódegofto,com o que Deos,&ogozar naó íó a

caufavaó de dor % antes minha bemaventurança ,

queriaó naó padecer a par- ítnzóíi de todos os Bem-

Tom.j. Ggiij avcn-

4^7 o Sermaã dafegunda 'Domivza

aventurados? O fé, ô en- aolosagloriado Cco. O-

rendimento , onde eftás ? Mas o certo he, que nem entendimento tem os, pois naó fazemos o que íizeraó, & entenderão tantos Gen- tios : nem fé, fenáo morta, & fem acção vitaI,pois el- la nos naó move a viver como Chriftãos. Se o que- remos fer, & emendar o deslumbraméto defta taó enorme cegueira, eu naó vejo outro remédio, que nos abra os olhos , íenaó tornar pelos mefmos paf- fos deftes noíTos dous dif- curfos aos dous montes donde eiles fairaó. Oh que

Ihai, & notai bem, quanto vai de monte a monte : ve- de, & coníiderai bemjquá- to vai de glorias a gloria. Naquelle monte eítáo os males fobre -dourados nome de bens : neíle eíláo osbensfemfombra , nem apparencia de mal. Alli eftàofalfo , aqui o verda- deiro • alli o du vidofojaqui o certo: alli o momenta- neo,aqui o eterno ; alli o que vai parar no fogo do Inferno, aqui o que nos le- va a fer Bera aventurados no Ceo. Vede, vedei &CÓ- íiderai bem o que deveis

duas eílaçoens taó pro- efcolher; porque qual for prias de hum tempo taó a voíTa eleição neíla vida, íanto como o da Quaref- tal fera a voíla remunera-

ma ! Húa ao monte da ten- tação, outra ao rnonte da transfiguração : húa ao monte, onde o Demónio jffioftrou a Chriílo as glo- lias do mundo, outra,onde jChrii&ç^moílrouaos Apo^

ção na outra: ou padecen- do fem íim todas as maldi- çoens com o Demónio, ou gozando na eternidade tO' das as felicidades eoxm Chrillo.

SEX^

1 . 4*71

SERMAM

DE

S BARBARA-

SimtleeH RegnumCalorum thefauro abf condito in agro

^uem qui invenit homo^ abfcondit^ é^pr a gáudio il-

Uusvadít-i&vendituniverfa.i quahabety

&emitagrumiUum,M2itth,i'3^.

5. I.

Síim como ha huns homens , que nafcéraófó parafy, & ou- tros, que naícéraó parafy, & para a Republicai& por iílb faó os mais beneméri- tos do género humano, Sc celebrados da fama : aíllm ha huns Santos, que foraó cfcolhidos para louvar a Dcos, 6c outros para lou-

var a DeoSjSc favorecers^c ajudar aos homens. E fen- do eíla fegunda prerogati- va taó parecida ao mefmo Deos, que não nafceo para fy,fenãoparanós5 & tão femelhance aos Anjosjque juntamente vem a Deos no Ceojôc nos guardão na terra: fe fizermos compa- ração no mefmo gener® entre todos os Santos , & Santas,facilmente achare- mos j que não igualou, Gg iiij ma^

i

r '

4.72

mas excedeo a Quem ? Aglorioía Santa Barbara, a cuja protecção, & memoria com tanto ef- trondo,& abalo dos ele- mentos, fe dedica eíle ale- gre dia.

432 Nas palavras, que propuz, diz Chrifl-o Me- /l-redivino,&: Senhor nof- fo, que he femelhante o Reyno do Ceo a hum the- íburoefcoadido no cam- po , o qual como achaííe hum homem venturofo, fe foi logo a vender quanto tinha,para cóprar o cam- po, ôc fe fazer fenhor do thefouro. Para intelligen- ciadequethefouro efcon- dido foíTe efte , he neceíTa- rio faber primeiro,quaI fe ja o Reyno do Ceo , que Chrillo chama femelhan- te a e' le : Simile efi Regmim Calorum thefauro abfcon- dito. S. Gregório Papa ad- verte aqui doutamente? que o Reyno do Ceo nas divinas letras fe divide,ou diftingue em dous Rey- nos, hum eterno, outro tc- poral, hum futuro , outro prefente , hum na Jgi cja

Sermão de todos : Triunfante, que defcança em paz no Ceo, outro na guerreira, &:Militanre,que ainda trabalhaj&: peleja na terra. Daqui fefegue, que aílim como ha dousRey- nos fcmelhantes ao the- íouroefcondido, aílim ha dous thefouros efcondi- dos, femelhantesahum,& outro Reyno : & eftes faó osdous thefouros , que S. Barbara comprou com o preço de quanto tinha: i^^endit tmiverfíi^qua ballet > & emit agrum tUum.

433 Tinha S. Barbara como filha única , & her- deira de Diofcoro feu Pay, fenhor nobiliífimo da Ci- dade de Nicomedia, hum riquiíll mo património dos bens, que c ha mão da for- tuna. Tinha mais outro maispreciofo, & mais ri- co, que era ode todos os dotes da natJreza , &: gra- ça, fermofura, diferirão, honel}idade, &as demais virtudes, por onde o dcíc- jo,& emulação de todub os Grandes a procuraváo por eípoíà. E tendo ja conla- gradotudoiíloa Dcos na ílor

S. Bar bar a. 47^

flordaidade-, atè a liber- primeiro, que para publi

caros poderes, & louvores deSBarbarajadlm como ostrovoens artelharia faó mudos, afiim as vozes mais polidas dos Prégado- res5&toda a noíTa eloquê^ cia he barbara. Ave Ma- ria,

§. II.

Simik eft Regnum delorum t he J aur o abf condito,

43 f T T Uma das cou- jt Jlías admirave- isj que fez5&: tem Deos ne- íle mundo, & dequefua, fabedoria, & grádeza mui- to fe preza, faó os feus the- fouros efcondidos. Por ventura (^ diz Deos a Job 3 entraftetu nos meus íhe- fouros da neve, ou viíle os meus thefouros da farai- vajos quaes eu tenho guar-» dado para o tem po dos ini- migos 5 & para o dia da guerra^Sc da bataIha?iV//»^ quid ingreffu

dade, & avidalhe facrifi- cou a fua fé, &: o feu amor : a liberdade, em hum dila- tado martyrio prefa por muito tempo, & afferro- IJiada em hum Caftello: & a Vida, em outro martyrio mais breve , mas muito mais cruel ? fendo varia- mente atormentada com todos os géneros de tira- nias,&: finalmente degola- da com a maior detodas,^ por máo de feu próprio Pay.

4,^4 Eíle foi o preço verdadeiramente de tudo quanto poíTuia , com qae Barbara comprou os dous thefouros, hum para fy, ou- tro para nós. Para íy, o da eterna coroa,que goza em paz na Igreja Tnunfante do Ceo : para nòs , o do perpetuo íoccorro ycom que noj> ajuda a batalhar, & vencer naiVIiluante da terra. Defic,quehe oque hoje vimos reconhecer di- ante de feus alçares em quidingreffm es ihcf aures ptTpetua 2C. áo de graças , mviS'i ant thtfatírosgraiidi" he o de que rrararei fómé- nis vidjdi s ^U£pr^paravi \^^^^' te, Coiíteíiando porem intemfmhoJttSyO' indicm -'

474 Sermão ^s pfgn^.òheíii^ Porvenru- thcfoiiros efcondicíos ti- ra podeacègora a efpecu- nbaja profetizado Jacob ; laçaó dos Filofofos defco - Imindat tonem mar is quaft d 'if briraorigem,& verdadei- lacfiigent,& thefaurosabf ''' ^ rascaufasdos ventos, taò cayiditos arenarum. inconílantes,6cleves zWqs^

43 De maneira, que na terra, na agua, no ar,co- moemdiíFerentes, & va- íliflimos campos, téDeos efcondidos feus thefouros. Mas nenhum deftes, com ferem táo grandes , & taó vários, he o que o rnefmo Deos defcobrio a S. Barba- ra, Sc de que el Ia co m os ca- bedaesdefeu merecimen'

6c taó encontrados nas fuás opinioês,como oNor- te,& o Sul? Mas por iíTo os defenganou David, que Deos , que criou os ven- tos, lhe conhece o nafci- mento , & os tira quando, & como he fervido , do fc- creto de íeus thefouros; Pfaim. guíprodiícit ventos dethe- ^.-....^...^ ni^iccuucn- '•^*' * Jaurisftás. Naó he^ menor to fe fez fenhora. O maior, maravilha, que naó crecê- o mais nobre , o mais ma- doafuperfíciedo mar hu ravilhofojócomais efcon- dedo com todas as corren- dido thefouro do \Jn i ver- tes dos Rios, que nelíe de- fo, he o quarto eIemento,o faguaó, fejaó taes as inun- fogo. He tão efcondido, daçoens do rnefmo mar, que Pitágoras , & outros que tenhaó afogado Cida- que refere S. Agoílinho, des, & fepultado Provin- porque náo vemos a esfe- cias inteiras. Mas todos ra dofogo, aneo-áraõ to- eftes dilúvios particulares, talmente. Os lugares,em íem ferem ajudados do que a natureza collocou Ceo, nem das nuvens , os os elementos, occupaó to- tem depofitado Deos nos dooefpaço,quefe eftcndc ocultos,6c profundos abif- defde o centro do mundo mos dos feus thefouros : atè o Ceo. A terra ao re- Toncns in the [auris abyjfos. dor do ccn tro , a a c^u a fo- Finalméte deites mefmos brç a terra , o ar íobrc a

iigua,

Pfâlm 32-7.

S, Bàrhm-a.

agua, o fogo fobre o ar atè fez mençaô dos ou tros três o concavo da Lua, ou do elementos, a naô íq7. tam- bém do quarto ? Se í^z niénçaó da terra , da agua , & do ar, porque a naó fez ta m b e m do fogo ? Forque Moyfes, como notaó S, Logo final he (^inferiaó ef- Baíilio, S. João Damafce- tes Authores^que o fogo no,& Béda,fó faJlou das naó tem esfera. Mas fendo coufas manifeftas , & que evidente por outras de- fe vem. E aílim como caí- moílraçoens, que a perfei- lou a criação dos Anjos, çao do Univerfo naó po- porque faó im\Ç\vQ,is , af-

Empireo. Masfe a esfera do fogo he taó immcnfa, & o fogo naturalmente lu- niinoío , como a naó ve- mos ao menos de noite?

dia carecer deíle thefou- rojo que deviaó inferir, como nos dizemos, he,que íenaó vè,por fer thefouro efcondido. E porque o naó poííaó contradizer FiJofo- tos^ nem Mathematicos, kaófe as primeiras pala- vras, com que a Efcritura

lim nãofaJlou do fogo ele- mentar, porque eílà efcon- dido a noílbs olhos.

437 Efte thefouro pois taó propriamente efcon- dido, he o que Deos defco- brio,& de que deo o domi- nio a S.Barbara,fazendo-a governadora, protedora ,

fagradadefcreve a criação 6c defeníbra do fogo. Oh

do mundo , & acharemos gloriofa filha de Eva, ma-

nellas expreíTamente a ter- ior fenhora que a primeira

ra, a agua, o ar, maso fo- mulher,aindanoeíl:adoda

go naó : Terra mtem erat geoeí: ínaníSy^vacua^&Jpiritus ^^' KDomirã ferebatur fuper aquas. Terra autem, eis ahi a terra : Super aquas,GÍs ahi ^ agua : Spiritm Tíomini , ^i^ ahi o ar. E porque ra-

innocencia,&na felicida- de do Paraifo ! O maior poder,ou poderes,que nu- ca Deos deo a algum hof mem, foi a Adam. E que poderes lhe deo ^ Sobre a

terra, íòbre a agua, fobre o ^^ .2a_ó Moyfes aíÈim €omo ^y\Ftpr^Jitpifàl?mynaris^i^'

D

Sermão de

^ volatUibus CcU^ & áe- Jlijs , ac tmi-verfjj terr£. Tudo o que fe move neíle mundo, ou andando na ter- ra,ou nadando na agua, ou voando no ar, fera íbgeiro a teu império. Mas aílini como Deosdeoa Adam o domínio dos três elemen- tos inferiores, o do quarto, & íiipremo, porque lho naódco? Se ao império da terra ajuntou o da agua,6c ao da agua o do ar ; ao do ar porque naô ajutoutam-

nis ante Ipfum pT£cedet'l^-x^ ra qualquer parte que vol- te o rofto, lliem dclle cha- mas de fogo : Ignis à facie ejmexarfifSQ oIha,he com olhos de fogo : OcuH ejns tanquamjícimMa jgnis : Se ouve, com ouvidos de fo- go : 'Dem^qui exaudiet per ignem : Se falia, com vozes de fogo : Audijii verba ti- Uns de médio igrds ; E ate o mefmo Deos Te cria vul- garmente , que era fogo: "^Den s nofter ignis cohfumcns

pr?im. 96 J.

Pialm.

Apocal. 1 14.

36.

Ibidi-f.

bem o do fogo ? Forque ef- eft. íílo hc o que viraó os fe refervou-o Deos para Profetas no Ceo, &tam-

fy. Lede os Profetas, que faó os que vivendo na ter- ra fópodiao entrar, & ver a Corte do Ceo , & acha- reis, que todo o apparato da Mageítade de Deos he fogo 5 & tudo quanto de- creta,&: executa , por in- ílrumentos de fogo. Se ef- aíTentado,© feu trono he Daniel, dc fogo ; Throiius ejíís 7 9-ío. jlamma tgnis : Se fae a paf fearcomoem carroça, as rodas laó de fogo : I^or^ eJHsignrs accerij.is: Se leva

Exod. 9.18-

bem o vio todo o Povo na terra, quãdo Deosdeceo a lhe dar a Ley no Monte Sinai : 'Totus autem mons Smaifnmabat : eo quod def^ cendijfet T)omin7ísJuper eip inigne: De todo o monte faiáo, & fubiaó nuvens ef- peflas de fumo , porque Deos tinha decido fobre elleemfogo. Tudo o que feouvia,eraótrovoeRS, tu- do o que fe via, relâmpa- gos : Et ecce c^ptrunt andi- ri tom t rua , cr micarefitUwná.xô.

k

'mm

diante a fua guarda reai,os gura. Atèos Gentios, por

chi-

archeirosfao de fogo: Jg

eíles cftcicos,ao ítujii pi ter

«y. Barbara

chamarão tonante , & lhe deraó por armas osrayos, cantando os feus Poetas do falfo Deos o mefmo, nem mais,nem menos,que David aííirmou do verda- deiro: Intonuit de Calo ^o- pfaim. minuSy ò" AltiJJirmis dedit ipi^t- vocemfuam \ gr ando ^ò" car - bonés íffnis. È eíle he,como dizia, o Império, & gover- no do quarto, Sc fupremo elemento, que Deos refer- vou para fy, & tendo o ne- gado a Adam, &naó con- cedido a algum de tantos famofos Heroes , que paf- íaraó em tantos feculos , o delegou finalmente em S. Barbara, fogeitando a ef- fera do fogo, & feus prodi- giofos, & temerofos eíFei- tos ao arbitrio de feus po - deres, & o foccorro , & re- médio delles à invocação 4efcunome.

í. III.

' 438 C Se m«e pcrgu- tardes quando lhe deo Deos a envefti du- ra deíleímperio,ou a poífe defte governo^ & de que

477 modo ? Refpondojque por meyo de dous rayos fataes, pouco depois da morte da mefma Santa. Concorre- rão para a morte, ou para o triunfo de Barbara dous bárbaros, hum menor, ou- tro maior tyrano, ambos crueliílimos. O primeiro tyrano3&: menor foi Mar- ciano , que martirizou o corpoinnocente3& virgi- nal da Santa com os mais exquifitos tormentos : o fegundo tyrano, & maior foi Dioícoro feu Pay , que com entranhas mais feras:, que as das mefmas feras, defembainhou a efpada,& lhe cortou a cabeça. Que faria àviíta deíle eípecba- culoofogo , que com in-' ftinto oculto, & mais que natural, fentia naquelles fagrados,& coroados deff pojos,6c começava a re- conhecer a no va íogeição, & obediência, que depois de Deos lhe devia ? Rat- gaófe no mefmo tempo as nuvens, ou vemfe dous te- merofos trovoens , dçfpa- raòfe furiofamente dous rayos, os quaes derí u-ba a-

d©,

^^

'47 S Strmã^^dê

do, abrazando , te coiifu- íem ufo de razaó , com ou-

mindo os dous tyranos5eni hum mo mento os desíize- raó em cinzas. Ah mifera- veis idolatras , &: tyranos impijílimosjquc íe no mef- mo tempo, em que os dous relâmpagos vos ferirão os olhos, invocaíTeiso nome da mefma vidlima, a quem tiraftes a vida, ella fem du- vida vos livraria da mor- te! Mas nem os tyranos cegos foubéraó conhecer onde tinhaó o feu remé- dio: nem os mefmos rayos, que nefta execução come-

tros dous rayos racionaes y & de grande entendimen- to. Aos dous irmãos S.Tia-r go, & S. João mudouihe Chriftoonome , ou acre- centoulho , chamandolhe r^yos-.Jacohum Zebedaiy & loarmemfratrem lacobi^ Maicj. C^ impofiiit eis nomina Boa- ' ^' nerges^quodefifilij tonitrui. Boanerges propriamente quer dizer filhos do tro- vão , & porque do trovão nafce o rayo , Boanerges em fraíi Hebrea, ou Syría- ca, qual era a vulgar da-

çavaô jàaprofcílar o cul- quelle tempo, íigniíicara- to,& veneração de Barba- yos. E que fízeraó eílcs

ra, efperáraõ fcu impeno , ou cófentimento para vin- gar fuás injurias j porque naóobravaó como caufas naturaes por próprio im- pulfo, mas guiados por de- ílino oculto , & entendi- mento fuperior, que os go- vernava.

439 E para que veja inos,quam entendidamen- teferviraóaS. Barbara, ôc fem efperar fua obediên- cia lhe obedecerão ; com- paremos eítcs dous rayos

dous Rayos tão entendi- dos? Negando os Samari- tanos a Chriflo a entrada da fua Cidade , quizeráo ambos caftigar eíle á^Ç- prezo,&. vingar cila inju- ria de feu Mcílre, fazendo com.o rayos , que deccíTc fogodoCeo,& abrazaíTc os Samaritanos : mas eílc fogo, eíie zclo,&: eílc pcn- famcntotáG bravo, &: tão bizarro tudo ficou no ar; porque ? Porque confultá- rão, 6c pedirão licença a Chri-

-Vm

t^-

Luc.p.

S. Barbara. ^yp

Chrifto : Domine^ vis dict- eílà , que lhe não havia de

mtiSy ut defcendat ignls de Cxlo , ò" confumat illos ? Refpondeo o Senhor, que elle não viera ao mundo a homens , fenam a

conceder a licença. Mas o mefmo Senhor, que nam havia de conceder a licen- ça pedida , depois que a Magdalenafcm a pedir lhe fal vaIlos,& que elles como fez aquelle obfequio , não feus Difcipulos havião de fódefendeoaobra,mas a

matar

perdoar injurias , & não vingallcis. O mefmo havia de refponder S. Barbara,fe os noíTbs dous rayos a con- fuItáraó,ou lhe pedíraó feu confentimento para vin- gar as fuás injurias, & ma

approvou,&: louvou : Bo- num enim opus operata eft in ^^f^^- me. Omefmohaviade fu- '"^■'°' ceder aos dous rayos do Apoftolado, fe elles abra- zárãoos Samaritanos, co« mojuftamcnte mereciãoj

tar,& abrazar os tyranos. Mas o que elles , fendo ta6

Mas elles fendo rayos fem entendidos, não entende-

entendimento entenderão rão, nem íizerão , fizeraó

melhoro cafo. Ha cafos, fem entendimento os nof-

€m que por pedir licença fos rayos, porque eraô go-

fe perdem as mais glorio- vernados por outra intel-

fas acçoens. Notou difere- ligencia mais aJta.

tamente S. João Chryfo- Itomo, que fe a Magdalena pedira licença a Chriílo para lhe derramar húa yez aos pès, outra fobre a ca- beça os feus preciofos un- guentosCque erão as aguas de Córdova, ou de Âmbar

440 No cafo da prifaõ de Chrifto, S. Pedro fem pedir licença tirou pelaef- pada , enveftio os inimi- gos , & começou a cortar orelhas : os outros Difci- pulos pelo contrario, che-r gáráofe ao Senhor,& pedi-

11- daquelle tempo 3 como ef- tsio Ucguç^: domine, Ji j^err ^ ^ te regalo foíFe tão contra- ctitimus ingladlo ? F quem a^-'*^' rio à mortificação, que o fe moftxou mais íiel fervo. Senhor profeíTava , claro maisvalenre, 6c mais zelo-

fQ

4,8 ò Sermão i^e

íoda\^id;i,& da honra de IheniandaíTem. Mas com

razão he regeitada de to- dos efta fucileza , como alhea do texto,& da conò^x.^ ção do rayo ; porque os ra- yos depois de caliíicarem a fua obediência com a execução, então he que a proteftâo com dizerem. Aqui efba mos ; i^«%í,e^r^^ 'vertem ia dicent : Adftimus. lílo he o que íizcrão os dous rayos vingadores

feu Senhor ? Na6 ha duvi- da, que Pedro, & co mo tal olouvão todos os Santos. Entre os outros Difcipulos tcUiibem fe achavão os dous Boanerges , os dous Rayos, masquem fe por- tou como rayo foi Pearo, porque eíTa he a bizarra natureza dos rayos, ferir, & executar primeiro , & depois proteftar a fua fo-

geiça6,& obediência. He das injurias de S. Barbara, texto excellente no livro começando a proteftação, Job. í8. ^Q^Q]^\]\[^iyiquídmittesful' & reconhecimento da fua gura-i&ibunt^Ò' rever ten- obediência, & íbgeição à tia dicent tibi : Adfiífnus? Santa,peiaanticipadaexe* Porventura, diz Deos a cuçáo doquedeviáoàfua Jobjfaótaesosteus pode- honra,femefperaroman- res,comoosmeus,quedcf- dado, ou licença do feu pidas do Ceo osrayos,& império. EJl nirnirum h^c elles depois de executa- circumlocntio obfequeyitif- rem tornem a ti , & te di- Jímnrum famulorum : diz gão: Aquieftamospromp- tospara obedecer o que nos mandares.*^ Caietano demaíiadamente fútil ne* ftepaíTo, diífe, que eftão aqui as palavras trocadas, & que primeiro fe havião deprcíentaros rayos obe- dientes,& dizer, Adfumus^ 6c depois exccucar o que

S. Gregório Papa o doutif- fimoPineda.

441

§• IV.

T

Emosvifto co- mo S. Barbara dominou o mais efcondi- dothefouro da natureza, q hc o fogo, 6c como Dcos lhe

S. Èarbara. 48 1 Ike fogeitou as mais vio- efta flngiilar prerogacira lentas , & temeroíàs par- de S. Barbara , qualquer tes, ou efFeitoscícIIc , que outra Virgem, & Martyri faó os rayos. Dizendo po- mcr eceo igualni tm.^^ por- tem o Evangelho, que os que deo o mefmo preçoi thefouros, de que falia, A mefma natureza parecd ninguém os alcança de também que confirma eílç graçajfenão comprados,& direito em duas exceiçoê^j comprados tudo quan- oulimitaçoens, com que to poííiie : Vendit univerfa^ produz os rayos. Não os quahabet , & emit agrum Poetas , que merece pou- íY/a^/jfeguefejquc vejamos co credito, mas os Autho-

qual foi o preço propor cionado , & juftojcom que anoíla Santa , & ella fó, comprou, & mereceo efte extraordinário dominio. He queílão curiofa, & naó fácil. Para inteiligencia

res da hiíloria natural, co- mo Piinio, & os mais, ex- ceptuáo da jurdição dos rayos entre as aves a A- guia,6c entre as arvores o Louro. E aílim como a Águia , & o Louro náofaô

delia, havemos de fuppor dominadas , fenão predo-

que eftes thefouros, quaef- minantesao rayo, aflim à

quer que fejão, ou os com- Virgemj&à Martyrpare-

praó os Santos por mãa ce queJie devido efte pre-

propriajoupormáo alhea. dominio : à Virgem , em

Os ConfeíTores compraó quanto Martyr , como à

por mão própria, com as Águia, pela Coroa , & à

virtudes,&boasobras,quc Martyr,em quanto Virgê,

elles per fy mefmosexer- como ao Louro, pelaLau-

Citáo : os Martyrcs com-, práo por mão alhca , co m os tormentos, & cruelda- des , que lhe fazem pade- cer os tyranos. Mas daqui parece que fe fegue> que , Tom,/»

reola. Que cauía ha logo , ou que razão de diíFerença entre tantas Virgens , & Martyres, para que a íin- guiar prerogativa deftc dominio a dèíle a ^lymã. Hh Ju.

i mi'

! \

^ .«. f 1

482 Sermão de

Juftiçajcomo premio de fez. Os equleos , as cata-

feu merecimento, única- ílas^os efcorpioens,& pen-

mente a S. Barbara? tes de ferro, as laminas ar-

442 Arazaó manifc- den tes, os chumbos derre-

ftahc} porque o martyrio tidos, os peitos cortados,

de S. Barbara entre todas, os dentes, &: voracidade

& todos os Martyres,foi o mais violento, & furiofo de quantos fe padecerão a mãos dos tyranos. Os ou-

das feras, tudo fe expri« mentou em Barbara: não havendo parte faã, & de que não correíTe fanguc

tros Martyres padecerão a em todo o delicado corpo,,

mãos dos Ncros, & dos &fcrindofejà não o cor-

Dioclccianos } S. Barbara po, fenão as feridas huas

a mãos de feu próprio Pay; fobre outras. Vencido pois

género de martyrio pela Marciano, & vendo efgo-

atrocidade dcfta circun- ílancia,naó lingular, & inaudito , mas não imagi- nável. Soube Diofcoro, quefua íilha era Chriftãa, & porque nenhum meyo lhe bailou de promeífas, ou ameaças , de benevo- lência, ou rigorjcom que a podeífe apartar da ^pri- meiramente a entregou ao Prefidente Marciano de- baixo de juramento , que todos os tormentos, & gé- neros de martyrios , quan- tos atè então fc tinháo in- ventado, os havia de ex- primentar,& executar nel- ia: Sc ajiiai o jurou, Ôc fe

tados em vão todos feus tormentosj, pronunciou fi- nalmente a ultima fenten- çaa& mandou aosverdu- gos,que cortaíFem a cabe- ça a Barbara. Os verdu- gos.^ replicou o Pay, iíTo não. Eu fou, & com eftas mãos, o que lhe hei de ti- rar a vida. lílo diíle de- fembainhando a efpadajôc deícarregando-a com toda a força na garganta inno- ccntc, comhum golpe lhe apartou a cabeça dos hom- bros. Oh efpedl.iculo , ô portéto de deshumanida- de,nQca viílo, como dizia, ouvido, iinagin.-ído í Hum

S. Bar bar a. 4^^

445 Hum Pay le- fejava a vida , outro tiraa-

mos nas F fcricaras, que ti- raíTe a vida a fua filha, que foijeptejem comprimen- to de hum voto, que tinha feito a Deos. Mas que

do-a a quem a tinha dado» Hum com o maior exem- plo da fé, outro com o ma* iorefcandaIo,& horror da natureza. Em fim ambos

paraçaó tem aquelíe caio pays,& ambas filhas, mas

com eík? Aqueile foi hum com tal diflPerença em ,

cxccíTo de Religião, efte & outro efpedtaculo, que

humprodigiode cruelda- vendo o facrificio dejep*

de. AlJio Pay era Sacer- te choravão de laftima

dote, aqui facrilego, ím- pio, 6c blasfemo. Humfa- crificava a filha amada a Deos, outro a filha aborre- cida aos Ídolos. Humdcr- retendofelhe as entranhas de compaixão como cera, outro com o coração mais duro que os mármores. correndo] he dos olhos lagrimas de piedade , & amor , outro vomitando pela boca labaredas de ódio, & ira. Hum derra- mando o fangue da filha CO mo próprio, outro naó como alheo , mas como do maior inimigo. Hum tremendolhe a máo da ef-

mulhcrcs,& homens , & a vifta do parricidio de Diofcoro pafmavão , & ef- ta vão atónitos os leoens,& os tigres. E como o mar- tyrio de Barbara foi o mais violento, & furiofo de to- dos os martyrios , por iííb mereceocomelleo domi- nio do mais violento , 6t furiofo de todos os Ele- mentos.

444 Cóparaimc o Pay de Barbara, na violência , & fúria defta fua acção 9 com o fogo,&: vereis quam parecidos, & femelhantes íaó hum, & outro. Notou advertidamente Séneca , 5^^^.^

pada, outro triunfando de quehe natural da violen- d ver tingir na purpura, cia, & efficacia do fogo, ; que lhe íaíra das veas. nãoconfentirque as cou- Hi^m matando a quem de- fas fejáó o que faó |: Ignis

Hhij mhit

:i||i;

4^4- 'Sermão de

nihileffey ^uoãfit , patitur, tureza,&: ellas por inditu- EraDiofcoroPayde Bar- to, fem geração. Ouça- bara,masa violência , & mosao Authordo feu Ri- furia, ou por melhor dizer tual no livro dos Faílos. o fogo da fua tyrania não Nec tu aliudVtftam , quam coníentio que fofle o que ^iva intelltge flammam, era. Era Pay,&: deixou de Nataque de flamma cor- lerPay. Mas allim havia poranulla vides. de fer , ou deixar de fer o lure igttur Vtrgo eji.quafe- que era,para mais própria- minanulla remittlt mente íer como o fogo. Neccapit Entre tod©s os Elementos E como o Pay de Bar- o fogo não hePayitodos bara, fendo Pay por natu- os outros geraó,&faÓ fe- reza,deixoudeferPaypor cundos,fóofogohc efte. tyrania,& tendo-a verda- ril,&nao gera. EíTa he a deiramente gerado, lhe ti- propriedade da etimolo- rou tão cruelmente a vida, gia,com que os Latinos fa- como fe a não gerara , em biamente lhe chamarão perpetua memoria át^ç: /^«/j.XJompoemfeonomc portento da deshumani- igmsá^m,^àç^gigno,co- dade lhe deo juílamente moi^ái^tr^çi.nongignens, Deos o dominio do Ele- o que não gera : porque as mento, que não he Pay, Salamandras, que alguns nem gera : & aílimcomo lhe perfílhaó, faó fabula, dia padeceo a violência. Mais fízerão. Para guar- &furiado mais violento.

Ovid ia Faftis.

dar perpetuamente o fo go, que chamavão fagra- do, inítituirão a Religião das Virgens Veftaes. E porque razão Virgens ? Para que ellas, & o fogo, a quem guardavão , foíTem femclbantes : clle por n^-

& furiofo de todos os mar- tyrios, aífim dominaffe a violência, & fúria do mais violento, & furiofo de to- dos os Elementos.

4+f E fe a íingulari- dade do martyrio de S. Barbara mercceo eítc do- mínio

\J'JÁ

S. Barbara] 4^/

mmiocómumfobre o fo- das as criaturas irracio- go, não foi menos devido naes, nenhúa traz maisim- à caufa do mefmo marty- preíTo , & expreíTo em fy rio o dominio , & império efte carader, que o rayo ,

particular fobre as partes mais violentas , & furiofas do mefmo fogo, que faó os rayos. Quaíido o Pay cruel encerrou a Santa na-

oqual he hum tridente de fogo dividido em três pó- tas, & por iíTo chamado trino, ou trifulco. i//^ /»^- ter^Reãorque^eúm ^vui

quella torre, mandou que dextra trifulcis ignibus ar feabriíTem nella duasja- mataeft^ diz Ovidio i3c

nellas ; & como depois viíTe abertas três , & fou- beílc da mefma filha , que cila tinha acrccentado a terceira em hora da Trin- dade do verdadeiro Deos, trino, & uno , que adora- va ; efta fé, & proteílaçáo conftante foi a caufa do feu marty rio. Vamos ago- ra ao miíterio, & propor- ção do premio , com que Deos o remunerou. Ém todas as coufas , que Deos criou, como marca , ou ca- radber próprio Ç a modo dos grandes artifices 3 im- primio alguns veftigios do íeuíòberano fer, trino , & hum, poílo que muitos os naóconheção, comodiíTe David : Et veftigia tuanon cognojcentur . Mas entre to- Jom./.

Séneca : Opifex trifulciful- minis Jenfit^ eus. Por ou- tra parte a mais natural hoftilidade dos rayos,(que íèmpre bufcão o mais al- to} hecombater,& efcal- lar as torres. Tanto af- fim, que em alguns lugares de Itália , que refere Píi- nio, foi vedado noteppo da guerra levantarfemfe torres, porque todas ba- tiaós&deftruiãoos rayos : Turres bellicis temporihis defierejieri^7iuUa non earMm fulmine diruta.^ como a caufa do martyrio de S. Barbara foi a Fé, & prote- ílaçáo da SantiíUma Trin- dade efculpida, oa decla- rada nas três janellas da fua torre ♦, para que o pre- mio foíTe proporcionado Hh iij naò

Pliniuv

lib. 2. cap.4.

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^'^ Sermão de

mo fo ao martyrio, fenaó 4^7 He tal a bondade

TS^T^^^^^^A^A^"^"^.^' ^^Í^^^^^C o qual ainda

moriadaTrindadedeolhe quando mais irado fc náo

o doniinio dos rayos , que efqtiece de fua mifencor.

reprefentaóamefmaTriii. dia Jquequando quer ca-

dade nas fuás três pontas : íligar os homens , o que

& cm memoria da torre fella Tutelardes torres, 8c dos caftelíòs, para que as guarde , & defenda dos mefmosrayos.

mais fente he,não haver algumiquefe lhe oponha, &lherefifta. Efta he a, queixa, que faz por boca. delfaiasno Capitulo cin- coenta & nove , onde o Profeta defcreve ao mef- ^ ' ■_. '■ y" moD^os irado contra os

í>íi446 pAra >=bem vos cativos de Babilónia , & ^ 1 fejaórodopo- armado de juíhça,de zelo»

oeroío, & todo piadofo de indignação, òc vingan- DcosCque me naó quero ca para os caíligar , ò^^^dc- congratular neíle caíò ' anoíTají^voíra Santa, fe- naó com a voíía iníinita bondade. jPara bem vos fejaó eíles m cfrn os pode- res , que cómunicafces à

Ç p ^ , icrva, Cv ue- w,,,t»í.^^í,;>,,^ c^aují uurci.r luu-

tenlora noíia, para que te- t tonem hoíiihusjtiis , & ^^/-

nha a voíTa miíericordia, cifíuudimm immicis fuis

quem modere os rigores Eítascraóasarmas,deque

de voO-ajuí^iça, & quando Dcosjà cílava veítido de

íiruircomo inimigos

. In-

duíusejíjuftitía, iit loricuy & galea falutis^ zn capite s^ ^p. eJHs: hidíLtus c[l vejUmen- •7-»5i- tis ultionis y é- opertus ejl quaji palito zeli : Jictit ad vindtãam quaJi adretribu.

a voífa maõ' armada de rayos queira fuhninar o nuindojou vos tenha maó nobraço^ouosapague, & divirta,antes de chegarem à terra.

ponto em branco , para executar o caíligonaquel- les homens. £ a fua quei- xa, no meyo deíla mefma dehbcraçáó , qual era >

S. Barbara] 4^7

Bédita feia tal bondade,ac nal Hebreo, non afcendtftts, tal amor ! Et vidit quia non infraãuras, & interrufUo- efl 'Vir : & aporiatiis eft.quta nes ] neque oppofuiftis mu- nonefíqui occurrat. Aílim rumpro domolfraeU utfta

provocado de íiiajuíliça, aíllm irado, aílim armado, aíTím deliberado a caftí- gar,& com os inftrumê- tos da vingança nas mãos: o que Deos mais fentia, o que mais o magoava , o que mais o aíHigia, &: qua-

retis in pralio ir.die T>omi^ ni. Foi o cafoj qiie tinha Deosficiado a Gidade de Jerufalemcoín o exercito dos -Chaldeos para a ca- íligar,& deílruir: ^ tendo aberto brechas para o aíTalto real (^ que iíTo quer

fi defefperava, ( que tudo áizGtfiaãuras,& innrrup

iíTo fignifíca aporiatus eft } tknes ) queixafe Deos de

emfim o de que fe quei- queos cercados nam fizef-

xava o bom Senhor, he de fem contramuros ás mef-

naó haver hum homem, mas brechas, Neque oppo*

que Te oppuzeíTe , & con- fuiftis murunii & naó fahif-

trariaíTe a fua mefma deli- fem a defender fortenien-

beração, & acodiíTe pelos te a entrada dos inimigos.

que queria caftigar,&ro- Pois íè o fitiador era Deos,

gaíTe, & intercedeífe por ellcs: & com efficacia de razoens, como Moy fes , o perfuadiíTe a perdoar : ou lutando com elle , como

& o exercito de Deos , & de Deos havia de fer a viv toria, & o eaíligo , In 'dm ^omini s porque fe queixa o mefmo Deos de nao ha-

Jacobjà força de braços, & ver quem fe lhe oppuzeíFe^

a braços o reduziíre,& ren- & refifí:iíre,iVd/?í afcendiftis^

'^ ex adverlo^nequeojjpofmjiis'

murum^ Forque lendo a condiç^\ódeDeos naó có- denarjfenaó perdoar, nam aíTolaryfenáo confoiarjiiaò matar , fenaó dar vida 5 íiii iiij 9.uan«

deífe

448 A mefma queixa fez outra vez Deos pelo Profeta Ezechiel , dizen-

Eiech do ; Non afcendijtis ex ad- 'i í- verfo [ ou como o origi*

i

iRcg.

488 Sermatde

quando, a mais naÓ poder, rabit : carbmesfucceyinfunt

toma as armas para nos ca- abeo. Inclinavit cJos , &

itigar.oquemais defeja,& defcendif. & caligo fub pe-

reíifta,& o obrigue a em- conCpenu eJHs,fuccenfi funt

quando da femelhantes Calo'Domrms,& excelíus

poderes contra fy , ou fo- dabrt ■vocemfuam. 7mZ

brefy mefmoa Barbara , gittas,& dépavtT fui-

naoaeIla,nemanòs.fpnaó * i. ,1 r- ^ 'J"i

guT, é- conjumplit eos. Et

naó a ella,nem a nòs, fenaó

C;sdtirAr°"^;^' ^^'''"' ^'^^à-revdatJ rum funda.

^^«.rr^í&fe queixava de neT>omini, ai tnfptr atice

raoter hum homem, que fpiritusfurons eius. Nam

felheoppuzeíTe , jàagora tz lingua. quepoíTa decl™

terá hua mu!her,que p. «é- ,„ a profopopea tremen-

ça,&odefarme.„,,,,,,.v..^ da defta defcripçaó , S

As mais temerofas, & formidáveis armas deDeos faó os trovões, & os rayos : Vomimmformídabtmt ad^ verjartj ejits : & fiiper ipfos in Calís tonabit. Armado

emudecendo. 'Inclinará Deos os Ceos,& avilinhar- fehamais à terra para ca- íligar feus habitadores : debaixo dos pès trará hum remoinho de nuvens ne-

deitas armas nos pinta Da- gras, efcuras , & caJigino- vid ao meímo Deos com {:,s', das ventas lhe fairáó tal horror de palavras, que fumos efpeíTos de ira , de ate pmtado faz tremer, indignação , de furor : da Lormnota eft, & contremuit boca,como de fornalha ar- dente, exhalarà hum vol- cáodefogotragador, que tudo acenda em brazas, & converta em carvoens: atroará os ouvidos attoni-

Urra '.fundamenta montium ^l^eg. coricuJfaJunt,& conquaffa. tayqiLoniarn iratus eji eis, Afcenditfurmis de naribits ejusy&ignisdeore ejíis vo-

S. Barbara. 489

tos com os brados medo- nome, por mais que as nu-

nhos de fua voz, que faó os trovoens ; cegará a vida com o fuíilar dos relam-

veiis fe rafguem em tro- voens, fe acendaó em re- lâmpagos , & fe desfaçaò

pagos alternadamête ace- em rayos,(S. Barbara! )em fos, abrindofc , & tornan- fe invocando, &foandoef-

dofe a cerrar o Ceo teme- rofa mente fendido : defpa- rarà finalmente as fuás íàt- tas, que faó os rayos,5c co- rifcos : abalarfehaó os mo- tes, retumbarão os valles, aífundarfehaó atè os abif- mosos mares , defcubrir- feha o centro da terra , & «parecerão revoltos osfú- damentos do mundo. Eno meyodefta confufaó, af- fombro,terror,&defmayo, quaes eftaráó os coraçoens dos homens , & que fera delles ? Confumilos ha Deos, diz David , Et cm- fumpfit eos. Mas ifto fe en- tende do tempo , em que David efcreveo , muitos feculos antes de hai''er na terra a gloriofa defenfora deílas baterias, & ácí^cs ti- ros do Ceo , atè entaóin- venci veis. Porém depois que no mundo foi conhe- cido aquelle nome fagra- áoy ou o fagrado daquelie

te poderofo, Ôc portenrofo nome, os trovoens , os re- lâmpagos, os rayos tudo fc diílipou,& aquelles eílron- dos, medos,& ameaços do Ceo, não paráraó fem efFeito,& fe desfízeraó fem danoi mas donde a terra temia fer abrazada,fc vio regada,porque os rayos fe refõlvéraó cm rios, & o fogo fe verteo em agua : Píaim. Fulgura jnpluviamfecit, ^^'^'^'

449 E u naó quero, poíTo dizer , que depois que no mundo ouve Si Barbara^ os rayos naó fof- fem nocivos aos homens > ou aíFom brando- os com o ar,ou tirandolhe a vida , êc fazcndo-os em cinza com o fogo ; pois eftáo cheasas hiftorias de mor- tes notáveis de grandes perfonagens feridas , & ef- pedaçadas com rayos. Mas oque quero dizer he, que de peilbajque inyocaf-

490 ScrmaUe

fea S. Barbara & algum podem evitar : outros faò

hiíWha,nemcomolo- nos,&?ópara eftespode^

go direi,a pode haver. Se^ aproveitar as oracoens , t

raes^d^oi^d ;r "T "^ -^os:i^W^.^.,,;i._

aesdepoisdedifputarro- ^^. tynmonahhus ttafur^^^^-'

hua fentença verdadeira- preces fuennt, & vota íL

mente Eftoica : Maloful^ ^./.^/Atèaqui^eneeact

men non Umere, quàrn r:ofe : Jo grande Filofofo 'mas

fintes quero não temer 6 fem fé. Para nos porenTI

rayo que conhecelo. Tu, fabemos que naõ^ha fado

i.ucilio,enrina aos outros mais que a Providencia

comoosrayosfe fazem eu divina^emprelivre, & t^l

para mim fo quizera faber do Doderofa : digo que ne^

comofe naô temaó : Ita^ nhum rayo poderá fazer

•mw ^uealws docequemadmodú mal a quem fe encomen^

jiant, ego mihtmetum tUo- dar a S.Barbara.E porque^

rum excutt maio , quàm na^ Porque allim o promereo

turamindtcart. E fe per- Deosà mefma lianta An-

guntarmos ao mefmo Se- tts de ofl^erecer a garganta

neca como fe podem nam à efpada do tvrano,fezBar.

temer os rayos?Refponde, bara oraçaó a Deos , que a

que naò temendo a morte. Sòquemnaó teme a mor- te, naò teme o rayo. E naó bailara , fallandogentili- camcnte , encomendarfe hum homem aos Deofcs.? Abfolutamente naó. Por- que os ray os, diz elle, huns faó fatacs,&neceíí-irios,& eftesde nenhum modo fc

todos os que a tomaífem por inrerceííòra concedef- fefuadivma Mageltade o que pediílcm : & no mef- mo ponto íè ouvio huma voz do Ceo,que dizia : Af- iim ícrà como defejas. Lo- go nenhum rayo pode fe- rir a quem tomar por iví^ tcrcellòniaS. Barbara. A con-

S. Barba confequencia Ke evidente. Porque aqueIlaívDZ,que fe ouviodo Ceo/fòi voz de Deos : & o rayo,que fae do trovaó, também he voz de Deos, como diz Job : la- ^^- ^7' nabit T>eus invocefua.Lo- go efta fegunda voz de Deos he força, que fe con- forme com aquella pri- meira também de Deos, porque naó feriáo vozes da rumma verdade, fe 'bua-' contrariaíleaoutraj íii''°*^v

5. VI.

45^^. A aqui temos ZjLviílo quães faó os poder es, &: domínio de S. Barbara fobreo fogo na- tural, & contra os mais violentos, & furiofos par- tos delle , quaes faò os rayos. Mas de trezentos annos a eíla parte tem cre- cido muito mais a jurdi- çaó,& império da mefma Santa fobre o Elemento do fogo. Ate o anno de Chriíl:omir&: trezentos & quarenta &:quatro,o cam- po em que dominava S.

''^' 491

era ;i Regia 5 doar, com os ícus relâmpagos, & rayos ,; & com todos . 05 o Litros; meteoros ardentes , que nelle acende o fogo , env que também entraó os va^^ ftiílimos corpos, 6c formi^ dáveis incêndios dos Ca-r metas Efte univerfal do- mínio como governadora, & protectora exercitou a noílà Santa pí^fk-eípaço mais de mil annos,que tan- tos fe contarão defde o feu martyrio atè o anno re- ferido de mil trezentos & quarenta & quatro. E fa- ço aqui efba diílinçãd de tempos , & de poderes j porque nefte anno fe acre- centou à mefma Santa fo- bre a jurdíção do fogo ele- Sponda- mentar , & natural , a dos "oaíl fogos artiíicíaes,cujospro-^^i '344- digiofos exceíí<^s , que ca- da dia vemos crecer mais> «Sc mais com novos horro- res da natureza , entaó ti- veraó feu principio. Com- razão clamão as Efcritu- ras, que das pa rtes S eren-> trionaes,& do Norte faí-> ria todo o mal. Aílim fe vio na Germânia^ porque del- ia

i

i-erem. 1.13.

49 J Strmaode

la fahio naquelle annopa- ria, porque, atè entaó efta

rapefte imiv^erfal do gé- nero humano a fatal invé- ção da pólvora , fendo feu defcobridor Bertoldo Ne- gro, o qual trazia no ap- pellidoacor,quehavia de ter o feu infernal invento. O primeiro Profeta , que profetizou os males , que no Setentriáo haviaó de terfua origem , foi Jerc

va cncerradOi , & oculto nos fegredós da natureza , & quando fe inventou, en- tão fe àç^Çzohxio^T andetur . Os primeiros q feachaó haver ufado da artelharia pelo artificio da pólvora (^ao menos na Europa] fo- ráoos Mouros contra os Chriílãos na Batalha de Al2;ezira em Hefpanha.

mias, quando em figura de De maneira, que bem ad- húa caldeira ardente ,0/- vertida a Chronologia dos

Iam fuccenfam ego video , vio o incêndio, com que Nabuzardaó havia de abrazar a Jerufalem. E verdadeiramente que as fuás palavras muito mais naturalmente fe podem entender do incêdio , com que Bertoldo abrazou o mundo. Ab Aquilone pan- detur malum fupcr

tempos, no mefmoíeculoj &quaíi pelos mefmos an- nos tiveráo feu infauílo nafcimento as maiores duas peíles do mundo , a pol vora,& o Império Oto- mano. E parece que aílim eílava profetizada húa, U outra muitos feculos antes por Daniel no Capitulo fe- timo. Fallaallio Profeta

»rt*..*, ,„^^^„* y,*y^t/ 01717168 w inn vy . X til ia a £ H W XlUH.La

' '^"^^ habitat ores terra. Aquelle dos quatro mais famofos fogo abrazou fomente os Impérios do mundo , & habitadores de Jerufalem , eítetemabrazado, &:con- fumidoatodas as naçoens do mundo. E delle íe diz com maior propriedade , ^andetur malum , que o malfc abriria, 6c defcobri-

com grande efpecialidade das três partes do Roma- no, que lhe havia de rou- bar, &: dominar o Turco na Afia, na Europa, 6c na Africa,chaniandoao mef- Daniel- mo Turco> Comu par\,uLú^ 7.8. pela

W

bid.

SjBarbara. pela baixeza de feus prin- Deos cipios. E na mefma or- dem da narração diz, que vio a Deos aíTentado no trono de fua Mageílade, & queda boca lhe faia hum rio de fogo arrebatado:

Fluvim igneusy rapidus que fua Providencia, que fe fa- •'° egredtebatur à facie , hoc çáo. Efteriopoisdo fogo efiy ah ore ejus. E que rio » - ^ ^ ^ . ^ ,

de fogo nomeadamente arrebatado, & furiofo hc eíl:e,fenaó o da pólvora, inventado no mefmo tem-

495 porque naó as

coufas naturaes faó efFei-

tos da fua boca , & da fua

vozilpfedixityCrfaãafunt'^ ^'^^"^

fenaó também as artifi- ^^'

ciaes, quando querendo,

ou permitindo difpoem

arrebatado, & furiofo da pólvora fe dividio logo em tantos canaes , huns maiores, outros menores, quantos faó os canos de

po do Império Turquefco, ferro, ou bronze,por onde

como logo nota o mefmo o mefmo fogo furiofam^-

I. Profeta : Afpiciebamprop- te rebenta , & por iííb fe

ter vocem fermonum gran- c ha mão bocas de fogo. Na

diiim^ quos cornu illud lo- Cavallaria as pifl:olas,& as

quebatur ? Era o author à^- Ite invento de profííTaó Religiofo, ao qual, como bem diz Eípondano , fora melhor, que notempo, em quefaziaaquelías experi- ências, fe eftiveíFe enco- mendando a Deos : mas permite o mefmo Deos lemelhantes invençoens, aflim para caftigo dos máos, como para gloria, & exaltação de feus Santos. Primeiramente faia efte

caravinas, nos Infantes os mofquetes,& os arcabu- zes, nos exércitos, & nos muros das Cidades os ca4 nhoe^SíÔc as culebrinas»^ E todos eHes infíru mentos, & os que os manejaó, fica- rão defde entaó fogeitos ao imperio,& debaixo da protecção de S. Barbara.

4f I Vede quanto íe aumentou o feu dominio comoinvento da pólvora na mulddaó,na variedade.

rio de fogo da boca de naforçajnos eíFeitos , &

ain-

Sermão de flicilidade dos tanta mulrídaó de rayos, quantas faó as pedras das fuás muralhas. Os rayos que caem do Ceo em mui- tos annos/aó contados, os quefe fulminaó da terra na bataria, ou defenfa de húa praça, naó tem conto.

ainda na

tiros, í^ machinas de fogo, a que prefide. Para fe ge- rar hum rayo he neceíla- rio, que as terras naó fejaó extremamente frias , que por iílb na Scithia faó ra- riíUmos : he neceíTario,

que o tempo feja Eftio, ou Ainda quando os do Ceo Outono: que as nu vens fe- fenaó contentaó com fe-

jaó efpeíTas, & húmidas que as exhalaçoens fejaó fecas & cálidas : que o mo- vimento, ou anteparifteíis as acenda : que a rotura por onde fae feja pela parte in- ferior,& não pela de cima: 6c que a matéria feja craííâ, & pingue, porque fenam diflipe, ou apague o fogo, antes que chegue a terra. Tudo iílo he necefiario para formar hum rayo na Região do ar. Na terra po- rèm, quam pouco bafta .? Bafta que aos que tem o fupremo poder lhe fubá à cabeça hum vaporíinho, ou de cobiça, ou de ambi- ção, ou de inveja, ou de ódio, ou fomente de vai- dade, &: gloria , para que contra hua fortaleza , ou fobrehúa Cidade chova

rir os montes , ou com fe em pregar nas feras, & nas eníinhas, ou com meter medo aos homens 5 raro he o rayo, que feja reomais que de hum homicidio. Mas os que faem de húa peça de artelhariajfe o naó viftes,ouvi o eílrago, que fazem. Na batalha naval entre os Ccfarianos , & Francezes na ribeira de Salerno matou húa bala de artelharia quarenta Ceíà- rianos: Na batalha cam- pal dos Alemães contra os Efpanhoes junto a Rave- na matou outra peça com hum íó tiro mais de cinco- enra Alemães : Na guerra de Alberto Cefir contra os Polacos em Bohemía, não clizem as hiílorias ác qual das partes, mas afiir- maó.

S. Barbara. 4Pf

maó, que húa bala ma- ferno havia de fair apol-

tou oitenta foldados. vora,dc nenhum modo

4f2 Que femelhança dera ao rayo o nome de

tem com a fombra difto as inimitável, pois a noílà ar-

telharia naô o imita,mas vence. Todo o apparato, & fabrica eftrondofa de hum rayo a que fe reduz no ar ? A húa nuvem 5 a hu relâmpago, a hum trovão > & aomefmorayo. Etudo iílofe vèj&exprimenta ventagem no tiro de húa peça. O fumo he anuvem> o fogo o relâmpago , o ef- trondo o trovaó , a bala o rayo. E digo com venta- gemi porquea nuvem aca- bou no primeiro parto , & em fe rompendo fe desfez, êcdefvaneceo: & a peça inteira , & folida dura an- nos,ôc fecuIos,defparando> & lançando de fy no mef- mo dia, & na mefma hora naófohum, fenáo muitos rayos. Pouco ha diííemos, que o fogo natural era eíi teril, & náo gerava ; mas depois que o Artificial fe ajuntou com a pólvora em todo o género de viventes tem filhos de fogo. Ani- nhara, que do mefmoln- mães defogo nos camelos,

íer-

Balliílas, as Tcrebras , os Arietes,as Catapultas, & todos os outros inftrumen- tos bellicosjque com tanta força de engenho inventa- rão primeiro os Gregos, depoís os Romanos , & com canta força de braços naó confeguiaó em muito tempo^éc trabalho, o que faz em hum momento húa maó com hum botafogo.^ Muitos ouve 3 que quize^ rao imitar os rayos, que a

Í;entilidade chamava de upiter , em que foi taó famofa a arrogância de SulmonReyde Elide vi- vendo, como he fabuíofo no Inferno o caíligo do feu atrevimento. Virgílio lhe chama louco, porque quiz imitar o rayo, que nam he imitavel. *DemenSiqui nimbo 'i & non

imitabilefulmen ^^re^ér comipedum curfu

Jtmularat eqmrum. Mas fe a fua Mufa adevi-

49^

Sermão de

I

'<-

ferpentes de Fogo nosba- íiliícos,aves de fogo nos falcoens 3 & em todos os outros inílrumentosfulfu- reos,homcnsdefogo. Ho- mens de fogo na artel lia- ria , homens de fogo nas bombas, homens de fogo nas granadas, homens de fogo nos petardos,homens de fogo nos trabucos , ho- mens de fogo nas minas,6c aílímíbbre a terra, como debaixo delia homens de

Averiguada conclufaõ hc entre os Meftres de haa,5c outra milicia , que compa- rada a da terra a do mar, eftahe muito mais traba- Jhofa,&perigofa. Na terra peleja contra vòs hum ele- mento, no mar todos qua- tro : na terra tendes para onde vos retirar, no navio eftais prefo, &naó ttndQg outra retirada,que lançau" dovosao mefmo mar. Na terra ajudão huns cfqua-

fogo,que nelle, & delle vi- droens a outros efquadro^ vem, ens,& huns terços a outros

terços, no mar eílais com os companheiros à viíla,& nem elles muitas yqzqs vos podem foccorrer a vòs, nem vòs a elles. E quanto ao exercício da artelharia, na terra borneais a voíía peçacuberto de hum pa- rapeito de pedra de cinco pès, ou de hua trincheira defcixinade dezoito, no mar dctraz de húa taboa de três dedos. Na terra cor- re a artelharia íobre huma efplanadaíirme, ^fegura, nomarfobre hum convéz í l- m p rc i n qu i c to , &: ta m - bem inquieto da parte có- traria

§. VIT.

^^l np A5 neceílario X he ao intrépi- do, &: temerofoofficio da artelharia ( que tudo iílo comprehende) opatroci- nio deS.Barbaranaterra. E pafíando da terra ao mar , bem fe deixa ver quanto mais importante ferà,6c quanto mais admi- rável,& milagrofo , defen- dendo aos que pelejaó os mefiiios inftrumentos de fogo, metidos em hum lenho, ôc fobre as;ondas.

S. Barbar a.

'497

traria o ponto a que íe ni- vella o tiro. Os Gregos chamarão àpeça de arte- Iharia bombarda pelo boa- to 5 os Latinos tormentum^ pelo que atormenta o cor- po oppoílo que fere : eu na terra chamaralhe tormen- to,&: no mar tormenta : Ig- niSi é^fulphnr , érf^iritus frocelUrum. Grande ci- rcncia Geométrica he ne- ceílaria para entre dous pontos inconftantes tirar Âúa linha certamente re- éba, qual ha de feguir a ba- lapara fe empregar com cíFeito. Mastudo iílo de fazer o fabio artilheiro náutico maiores eílra- gos do inimigo , dos que acima referimos , confe- ^uindo com hum tiro, por fer no mar, o que nam pôde foceder na terra. Ex- plicarmehei com hum ex- emplo famofo da fagrada Efcritura.

4jr4, Por occafiaó do ieílamento de David faz a Efcritura hum Catalogo dos feus mais iníignes Ca- pitaens, que he a melhor, & mais preciofa herança , Tom./.

que Hum R.ey pode deixar a feu filho,eomo bem o ex- primentou Felippe Segú- do nos que herdou de Car- los. Começa poiso Cata- 2. ^^^ logo :Hac nommafortium ^^^• T>avid: Eftes faó os nomes dos valentes de David. E- rão eftes valentes trinta,eA colhidos entre todo o exer- cito, os quaes fe chamavaé os trinta fortes de Ifraeí; deftes trinta eraó efcolhi- dos três , os quaes íècha- mavaó os três fortes: & de- ites três era efçolhido hu,o qual naó fe chamava o for- tiííimo, fenaóo fapientif- fimo. As palavras notáveis do Texto faõ eftas : Sedens in cathedra fafientijjimus ^rinceps inter três : ipfieft quafi tenerrimm ligni ver- miculm^ qui oãingentos in- ter fectt impetu uno. Eftà af- fentado na cadeira o Prin- cipe fapientiílimo entre três, o qual de hum Ímpe- to matou oitocentos, &he como o bichinho fem for- ça vqueroe as raizes da ar- vore. Três duvidas nam vulgares tem eíle Texeo. Se eíte primeiro , & mais li afFa-

4^8 Sermão ãe

atFamado Capitão de Da- tem acontecido , fcm dii

■!;•'■'

Vià. matou oitocentos^ co- mo os podia matar de Ímpeto, Interfecit oãm- gentos impetu une ? E fenaó entre os trinta , fenaó entre os três fortes de If- rael,eraelleomais forte; porque naó fe chama o fortiílimojfenaó fapientif- íimo , SapientiJJimm inter fr^^ .<^ Final mente, feaquel

vida a deitara a pique com hum tiro, & no tal cafo dehumfó Ímpeto matará, oitocentos, & ainda mais homens : Occidit oãingen- tos impetu uno. E por húa vitoria taó notável , que nome,ou fama alcançara o Artilheiro? Naó nome,ou famadefortiíllmo, fenam <ie fapientiílimo ; porque

Ia fua grande façanha a de- aquellaacçaónaó foi obra clara a Efcritura por hua das forças do feu braço , comparação ; porque fe fenaó da ciência pratica compara a hum bichinho daGeometria militar,com femforçajque rocas raízes que governou taó acerta- da arvore .-7/7^^ í^«^í/^;;í damenteotíro,& por iíTo tenerrimus ligni vermicw fapientiíTimo na arte: Sa- /ííj ? Deixada a interpreta- fientijfimus inter três. Fi- ção literal defta hiííoria , nalmente, para tirar a ad- quc naó he fácil > eu que miraçáo de hu m taó gran- areferi,& tomei porexê- deeftrago, executado por pio, digo,que nella eftà ad- hum inltrumento fem for- miravelmente retratado ças,traz a h fcritura a com- quantopòde obrarofabio paraçáo do bichinho, que artilheiro com hum tiro fem ellasroeo as raízes da iiaónaterra,fenaónomar. arvorej porque alojados Atirando a hua Capitania, muitos homens debaixo ou a outra grande nao de de húa grande arvore , fe guerra,fe lhe penetrar ella por Jhe faltarem as abalaopayolda pólvora, raízes cahio fubitamente ou lhe romper outra par- fobreelles, a todosoppri- tevital^comoalgúasvezes mio,ac acabou de hum

SiBariãfâ. 499

golpe, T^aõ fendOi a eauía tccçaó, que nos defenda, & principal de tamanha rui- livre. Verdadeiramente,

na a grandeza, &: pefo da arvore, fenaó o bichinho, que lhe roeo a raiz : Ipfe e(t tanquam tenerrimu^ Ugni njermkuliís, -■'

45" f Por eíle íingular exemplo fevé quãto mais poderofa he a artelharia no mar, que na terra ^aju-^ dandofe,6c dandofea maó o Elemento da agua com o do fogo. antigamente tinhaó feito a mefma com- panhia entre fy eftes dous Elementos contra Faraó no Egypto : Grando^ & ig- nls" mifia pariter fereban- tur\ & a mefma fazem na- turalmente em todas as batalhas, ou conflitos na- vaes. O fogo queima , a agua afoga, o fogo mata , a agua fepuita. Mas fe tanto he oeftrago i que faz yi & pôde fazer hiia peça de ar- telharia nas nãos inimigas, daqui fc deve fazer refle- xão, ( como a fazia Aga- menon no incêndio de Troya ) que o mefmo fará nas noífas, fenão tivermos álgúa mais poderofa pro-

que he tão pia, & chrifl-ãá-^ como bem entendida ar- chitedura aqueila, que cm todas as nãos de guer- ra) que faò Cidades nadan<- te«, a cafa que os Hereges, 6c outros menos devotos chamaó praça de armas, nòs como templos peque^ nos a dedicamos a S. Bar- bara, & a fundamos fobre osalmazens mais fecretos, cnl q a pólvora vai guarda- da.. Como fe diíTera a noA fa Fè, ou a nofla confiança com os olhos na vigilância de taó foberana Protefto- yiztth. ra: Non fínetperfodi domuni ^4-43 fuam. Para mim naó íaô necefl^arios outros nviía- gres de S. Barbara, mais q eíle taó univerfal , & taó continuo em todos os va- fos de guerra prenhes de mais aparelhados incen- dios,queo cavallo Troya- no.

4f6 Vendo Moy fes nos defertoà de Madian, que á Çarçaardia,&naó fequei- ^^^^ mava, difle : Vadam^ & vi-^ ^ ' debiivifivnemhcmc magna \ liij Q£^

w

■!í>'

iif

f^ Sermõde

Qyero ir Ter efte grande E defta mefma ncceílida- ^ilagre. O milagre confí. de de comer para fe íu- ítia,cm que eftando o fogo ftetar, nafce aofogoaquel- tao vifinno à Çarça , ella Ja voracidade,com que taó

com tudo íem o admitir em fyy eíliveíTe taó verde , que como bem dífíh Philo Hebreo, mais parecia que a Çarça queimava o fogo, que o fogo a Çarça ;& que cm vez de o mefmo fogo a abra2ar>a regava,para que mais reverdeceíTe. Por iíTo

facilmente fe atea,&:tan. to mais, quanto a matéria he maisdifpoíla. Suppofto iílo,quem naó terá por mi- lagre, & continuou mila« grés de S. Barbara, princi- palmêtenas nãos de guer- ra, em que perpetuamen- te fc conferva o fogo , &

Moyfes não folhe chamou muitosfbgos, abílerfeelle

milagre, mas grande :F/^ de fc atear em matérias

/wnem òancmagmm.E nao taó difpoílas^como as dos

leria grande,nem milagre, mefmos corpos navaes ?

leafome , & voracidade Pode haver matéria mais

do fogo naó foífe qual he, difpofta,& mais golofa pa-

U myft eno com que os ra o fogo, que taboas fecas.

Antigos fingirão a Vulca- breu, alcatram, fevo, efto-

no Ueos do fogo manco,& pa,& pólvora, & tudo ííIq

arrimado a hum bordaÓ, aíTopradodos ventos , ôc

lie porque o fogo entre em perpetuo moto , que

todos os Elementos necef- por fy mefmo he caufa do

lita demateria, em que fe calor, & o calor do fogo ?

luífente. A terra, a agua,o Se as nuvens húmidas, &

arfuítentaÓfe , & confer- vaófe em fy mefmos, o fo- go fe naó tiver em qiiefe íuííente,apagare, & morr re. Aíli.n fe apagou nas alampadas das Yirgensi

frias naturalmente produ- zem fogo por antepariíle* íis, como naó obra os mef- mos cffeitos em matérias tão difpoílas todo o Ele- mento da agua , que as ro-

nekías pola falta de óleo. dea,por natureza mais hu-

midoj

S Barbara. foi

mido , Sc mais frio ? Mas defcartegando pólvora, &c

para que faó argumentos, onde as mcfmas maravi- lhas fe demoftraó melhor nas experiências da vifta, do que as pode coníiderar, ou arguir o difcurfoíPcn- devos no Galeaó S. Do- mingos, Capitania Real de noíía Armada nas qua- tro batalhas navaes de Pernambuco, fuftentando a bataria de trinta & cinco iiaos Olandezas ; & que he

tendo nas mefmas mãos os murroenscom duas me-^ chás acefas, ou os botafo- gos fíncados junto aos car- tuchos : & que bailando qualquer íaifca para exci- tar hum total incêndio, Sc voar em hum momento toda aquella maquina: que entre tanta confufaó , Sc viíinhança de pólvora , Sc fogo , eíliveíTeo Galeaó tremolando as fuás ban-

o que fe via dentrOj^ fora deiras táo feguro,& fenhoir cm toda aquella fermofa, do campo, como húa roca

& temeroía fortaleza nos quatro dias deíles confli- tos ? Juga va o Galeão fef- fenta meyos canhoens de bronze em duas cubertas

batida das ondas, & naó das balas j quem negará que fupriaalli a vigilância} & patrocinio de S. Barba- ra,o que nenhúa providen^

tinha guarnecidas porhú, cia humana podéra evitar? &: outro bordo o convèz.

os caítellos de popa , Sc proajas duas varandas, Sc as gáveas com feiscentos mofqueteiros. E fendo hu Ethna, que lentamente fe movia, vomitando labare- das, & rayos de ferro , Sc chumbo por tantas bocas maiores,ác menores : dan- do todos , Sc recebendo pólvora , carregando , Sc '^ Tom. 7.

457 ÇObre eft'fe^cOv

reconhecimento, - que vi** vaSjSc louvores deve toda a nlilicia Catholicâ, aíílní no mar , como na terra, m fua grande Prote£bora ? Sc que documentos darei eu aosGíficia^s maiores, Sc li iii me-

Vil

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4Reg.

2.11,

5^^ SennaÕde

menores da nobiliirima ar- os rayosdoSoI jde outros

tedaartelharia,feus fub ditos,& devotos .? Para o triunfo de S. Barbara fe me ofFereciaa Carroça de E- lias por fer de fogo : mas

lugares da mefma Efcri- tura tiraó os Santos Padres a verdadeira caufa. Eftan- do Elias retirado em hum monte, mandou-o chamar

pofto que tao fmgular en- ElRey Ochofias por hum tre todas as que vio com Capkaõ de Infantaria, admiração o mundo, por- acompanhado de cinco-

quedenenhú modo igua- enta foldados , o qual lhe

la apompa,8c mageílade, deo o recado do Rey com

quehe devida às vitorias eílas palavras: Homo 'Bei,

da noíTa Santa , nos fer- hac dicit Rex : Feãma^def- \ ^,'«'

vira para notar no mefmo cende: Homem de Deos, "

fogo a diíferença , como diz ElRey, que decais lo-

fervemas fombras , & os go, &: lhe vades fallar. E

oppoftos para mais illu- que refponderia Elias? Si

ftraroscontrarios.Defcre- homo T> d fim , dtfce.idat

vendo a Efcricura o modo, ignis de C^lo, & devoret te ,

com que Elias arrebatado &qmnqítaginta tuos : Se

da terra fe apartou de Eli- fou homem de Deos , deça

feo, diz que foi em huma foçro do Ceo, que te abra-

xrarroça, porque tira vaó ze^^a ti,&:aos teuscincoen-

cavallos,&que a carroça, ta. Allím odiíTe j&aíllm

&oscavallostudo era de fe comprio logo : deceo

fogo:^:? ecce currm ignetis, fubitamente fogo do Ceo,

& equt ignei divifenmt queabrazou,&confumioo

íitrumqne. E fendo que o CapitaÓ, & os foldados.

Texto fagrado naó dane- Sabido o cafo por ElRey,

fte lugar a razaó , porque mandou outro Capitão

triunfou Elias pelo ar em carroça de fogo , podendo fer antes de nuvens mais viftoíamcnte douradas c6

outra companhia do mef- mo numero: 6ccomoeíle déí^Q o recado com igual comedimento; a rcpofta . I .w , de

tornei. 1 cap. :ccl. 8.8.

S.Bar de Elias foi como a pri- mcira,& o Capitão , & os foldados todos foraó abra- zados com fogo doCeo cm hum momento. Tal era o império, que Deos tinha dado a Elias fobre o fogo, de que eile ufava taó def- poticamente : & efta foi a razaó , porque o mefmo fogo, comofogeito,&fub- di to fcu, fe donverteo cm carroça, & cav:9-Hos para o levarem triunfo: IgnisE' liam quafi fuum imperato- rem rever etur , et que quafi famulus fuum ultro offert obfequium^ diz S. Chry- foílomo, & os outros In- terpretes literaes , Corne- lio.

4f8 Combinemos ago- ra fogo com fogo, império Gom império, & Barbara com Elias. A Elias , & a Barbara deo Deos o impé- rio do fogo 5 mas com que diíferente mageílade exer- cita hum , & outro o mef- mo império.? Elias manda ao fogo que queime , & Barbara,que haó queime : Elias mandalhe, queabra- ze homens A Barbara,que

bar a, 5-03

os náo toque : obedecci\- do porem o fogo a Elias, queima,&abraza como fo- go que he, mas obedecen- do a Barbara, como feper* dera a própria natureza, quaíi deixa de fer o que he, por naó faltar ao que deve. Da parte de Elias parece que he igual o poder no império , mas da parte de Barbara moftra q he mui- to maior na obeuiencia.Sc quando Daniel foi lança- do no lago dos Leoens , el- les o coméraó, naó era ma- ravilha : mas que famin- tos, & como paílo à viíla refreaíTem a própria vora- cidade, a fua abftinencia era a que provava o mila- gre : & aquillo he o que fa- zia Elias nos homens, que dava a comer ao fogo , iílo o que faz Barbara nos que livra dos incêndios. Ver- dadeiramente era galante a confequencia, com que Elias fazia decer o fogo áo Ceo .' St homo ^eifum^def- cendat ignisde CaíOy & de- vorei te : Se fou homem de Deosjdeça fogo do Ceo, q te abraze. Bafta que o final li iiij de

g,

50+ Ser

de íer de Deos era abrazar, & confumir homens ! Pa- ra bem parece que havia de dizer,Se fou de Deosjeu rogarei a Deos por ti, eu te guardarei, eu te defende- reij & ifto he com que pro- va a noíTa Santa fer mais propriamente de Deos. fi- lias imperando ao fogo, moftrava que era de Deosj mas de Deos vingador, de Deosrigorofo, de Deosfe- vero : & Barbara no mef- mo império moftra tam- que he de Deos; mas de Deos perdoador, de Deos piedofo , de Deos benig- no, emfím de Deos, no de que mais fe preza Deos.

4fp Naó ha duvida, que na comparação de im- pério a império, o ufo , &: exercício dcMc foi muito mais humanOj& benéfico , ScporiíTo mais divino em S.Barbarajqueem Elias. E paífandoa comparação de togo a fogo,aí]im como no que domina S. Barbara defcobriremos húa grande novidade, aílim na combi- nação do mefmo dominio fuljiiemoscom a verdade,

maÕde onde pôde chegar o en- carecimento, & de nenhu modo paíTar a imaginação. JàdiíTemos, com a opi- nião comum dosHiftoria- dores,quem,&quãdofoi o primeiro inventor da pol- vora. Mas febéfe lerem, & entenderem as Efcrituras , acharemos,que quatro mil annosantesa tinha in- ventado Deos no fogo ar- tificial, que cho\^eo fobre Sodôma. Que foíTe artifi- cial,& não natural aquelle fogo, confiadas palavras, com que Moyfes refere a mefmahiftoria, dizendo, que o Senhor choveo do Ceoenxofre,6c fogo feiro pelo mefmo Senhor : 'Do- mintís phíit fiiper Sodomam ceneC fulphur^a 'tgnemàT>om'mo 'i'^^ de Calo. Onde he muito novo,& digno de fe notar aquelle termo, Tiommiisà 'Domino, para declarar,co- moadv^crtcm todos os in- terpretes, que tal género de fogo não foi eíTeito das caufasnaturaes, masdaar- tcj^Sc íabedona divina, a qual não cria nada de no- vo, mas das coufas cria- das,

S\ Barbara. ^05-

áas,compondo-as, & unin- fornalha de Babilónia, re- do-as entre fy, produz ef- prefentavaa fegunda pef- feitos novos,& maravilho- foa da Trindade, o Filho : fos, qual foi aquelle fogo Etfpeciesquarti fimilis Fi-^^'^^'''" verdadeiramête artificial. lioT)ei.^ E quando Deos

Mas que o artifício foíTe o mefmo da polvorajnaó ba- ila efte texto para o pro- var, porque faz mençaó do enxofre, Ignem^ & fui- phur. Temos porém outro, em que o mefmo Moyfes no Deuteronomio torna a defçrevero mefmo fogo, & diz expreíTa mente, que

para livrar a hum homem, qual era Loth, do primei- ro incêndio da pol vorajco- mete efta diligencia a dous Anjos,& eífes reprefenta- doresdeduas peíToas di- vinas j vede qual he o im- pério, o dominio , & a jur- diçaó de S. Barbara, pois a ellafó encarregou Deos o

eracompoftode enxofre, cuidado,&fuperintenden-

&falitre jquefaóos dous ciauniverfal de livrar, &

ingredientes da pólvora: defêder a todososhomés,

Sulphure^ & falis ar dor e aííim na terra , como no

comhurens, in exempB Jub- mar,do fogo, ^ incêndios

verfionts Sodoma, Deíle fo- da mefma pólvora I

gopois,&do primeiro in- ^60 Fabriquem pois

cendio , que caufou no os Serafins, que faó eípiri-

mundo a pólvora, livrou Deos a Loth. Mas por meyo de quem ^ Nam de dous Anjos , mas eífes reprefentadores de duas peíToas divinas , porque craódous dos três , que aparecerão a AlDraham no valle de Mambrè Q bem aíTim como o Anjo, que li- vrou aos três mininos da

tos também de fogo,novo carro triunfal a S. Barba- ra, melhor, & mais gíorio- fo que o de Elias : di^ntQ do qual naó fejaó levadas em urnas triftes,& funeílas ascinzaáde homens abra- zadcSj^f morros, mas vi- vo», & dando vivas à ío^ berana Froteéiora todos arquelks [ numerofem nu- mero j

S*^^ . Sermão de

mero] que liyroiido fogo, vosaproveitar de hua

& dos incêndios. E o noíTo mÇxgnç^ Capitão do mar,& da guerra, que hoje tan- to apparato , & grandeza celebra a mefma triunfa- dora, leve como nobiliíll

coufa boa, que trouxe ao mundo o uro,8c invento da pólvora. DasBiborasnaó fe tira veneno , fenam tambê triaga. E que coufa boa trouxe ao mudo a pol-

1 n ----""- -^^ •^ivyuA^.cn^aiuuoapoi- ma partedosfeus triunfos, vora.^Hum defengano uni- rodando em carretas dou- verfal,de que nenhnm ho-

radasos canhoens ganha- dos em tantas,& taô famo- fas vitorias , com os quaes melhor, que com colunas de bronze, fc honraó as portadas defua illuftriíTi- ma Cafa : digno fucceflbr

mem fe devejà fiar das fuás próprias forças. An- tiga mente havia Achilles, haviaHercuIes,havia San- foens : depois que a pólvo- ra veyo ao mundo, aca- boufe a valentia dos bra-

daquelle immortal Heroe, ços. Hum Pigmeo duas

quecomoMartedapatria, onças de pólvora pôde

adefendeonaguerra , & derrubar o maior Gigante

comoPay,cerradasaspor- Que fundamento cuidais

ínt-^r. í"*^' ^ ^^^°" ^^' ^^^^ ^ Filofofia Symboli-

" ^ ca das fabulas,para fingir,

que os Gigantes fizeram

guerra ao Cco,&quÍ2era6

toriofa em paz §. IX. 4^1 17 AvôsCanimo

ílfos Miniílros de Vulcano,que continua- mente exercitais o perigo-

apear do feu trono a Júpi- ter j fenaó porque enten- derão , & quizeraó decla- rar aquelles Sábios, que os homens , que fe íiaó cm

lo manejo do fogo nos ma- fuás grandes forças,naó te- lores, &: mais arrifcados mem a Dco^, nem o vene- mílrumentos da voíTa ar- raó,como fenaó depende- te; o que vos digo por raòdelle. Ouviaarroean- fim ke,que nam deixeis de cia facrilega, 6c blasfema ,

cora

S. Barbara. cóqfallavahú deíles cha- mado Mefencio. Dextra mthi T>eus , & telum , quod mijjile libro : O meu Deos he o meu braço,& a minha lança. Por certo foberbif-

4,62 Sirva pois a pól- vora, que fempre trazeis nas máos^de vos lembrar o perigo, em que igualmen- te trazeis a vida , vivendo de maneira jqueíejaagra-

íimo Capitão, que naó ha- davel a Deos, de quem por vieis fallar táo confiada- taó ordinários accidentes

mente, fe fora em tempo, que o menor foldadinho do exercito contrario, vos podéra refponder com húa boca de fogo. Eíle he pois o derengano,que trouxe ao mundoapolvora,para que todo o homem, Sc muito mais os que vive na guer- ra, & da guerra , fe perfua- daó,quefó Deos lhe pôde confervaravida, & naó o feu braço, nemafua efpa- da. Aííim o dizia David, aquellefoldado tãoesfor- çado,& tão forçofo , que com as mãos defarmadas efcalava Uííbs,'&; aífogava Leoens: Glaâius meusnon Jalvabit me.

eftà mais dependente, que a dos outros homens. E va- lendovos da poderofa in- terceííaó da voíla vigilan- tiíllma Protectora a glo- rioía S. Barbara : de cuja devaçaò,& invocação vos prometo por fim, o que a mefmaSanta tem provado ao mundo com vários ex- emplos. Ainda os que ef- taó ardendo no meyo das labaredas, invocando feu nome,feelle lhes naó íal- va totalmente a vida tem- poral , ao menos lha íu- ítenta quanto bafte, para que, recebidos os Sacra- mentos, alcancem a eter- na.

SER

4(^3

SERMAM

DO

t

S A B B A DO

ANTES DA DOMINGA DE RAMOS,

r. na Igreja de N.Senhora do Defterro. Bahiajanno de 1(^34,

CogitavermtTrincipes Saccrdotumut ò Lazarum in-

terfaerent^qtiia multipropter illum abíbant ex Judais^ &

credebantinlefum. In craftinum autem turba multa ^

qua venerat addiemfejiumycum audijfent quia ve-

nit lefiis Jerofolymam^acceperunt ramos palma-

rum^ò' procejjerunt obviam ei, Joann .12.

§. 1.

Thcmahe gran- de , mas o Ser- mão fera peque- no. Saó as pala- vras do EvangcliílaS.Joaó aos doze Capítulos de fua

hiftoria fagrada ; querem dizer: Fizeraó confulta os Irincipes dos Sacerdotes. Quando logo encontrei cíleprincipíojfiz eftacon- fidcraçaó. Confulta, os Principcsdos Sacerdotes! Sem duvida , que fairáó

Sermão do Sabbado antes delia grandes bens à Re- publica:he gente Ecclefia- llica, Re pelo confeguinte dou ta, & fanta-, que fe pô- de eíperar de h Cia confulta fua, fenaó coufas de gran- de gloria de Deos5& gran- des bens dos homens? A f- lim o imaginava eu, mas enganeime. Contra Deos, & contra os homens íim, O que fahio da confulta, foi, que em todo o cafo inorreíTe Chriílo,Gomo no dia dantes fe tinha decre- tado) iíTo quer dizer aquel- le Et^ut &Lazarum,como interpretaó os Doutores: ^ naó q dêíTem a morte a Chrifto, fenaó que tam- bém tiraíTem a vida a La- zaro , a quem o Senhor pouco antes tinha refufci- tado; Uf ò* Lazarum in- ter jicerent. Hajuizosmais apaixonados ? Ha fcntença mais enorme ? Ora ouça- mos as cauíàs,que allegaô , êc admirarnoshemos mui- to mais. Morra, dizem, Chrifto, porque faz mila- gres , porque faude a enfermos, êc vida a mor- íosjporque he amado,por-;

âa dominga de Ramos, f o5> que heeftimado, porque he feguido : & morra La- zarOjporque fendo refuf" citado por virtude de Chriftojhe caufa de o ama- rem, de o eftimarem, de o feguirem : ^lia multiprop- r^^j^^. terillumablbant exludaisy »i- Ò" credebãt in lefum . (^Hon- ra do crime í 3 Tudo ifto mÍIÍ paíFoucomQhoje: Ju era- ibidu. jtinum amem : porém ao outro dia, diz o E vangeli- íla, que entrou o Principe da gloria a cavallo por Je- rufalem triunfando (^den- tro porém dos limites de fuamodeília, 6c humilda- de ) fervindolhe de pom^ pofo acompanhamento a multidão infinita do' po- vo, que com palmas , & ac- clamaçoens devoto o fe» guia ; Turba mttltay qu£ ve- ntratad diemfeftum^ acce" perunt ramos palmarum^ ò* procejferunt obviam eL Atè aqui a letra do noílb The- ma. O que temos que ver, hehúa caufa cri mejfenten^ ciada, apellada, revogada. Do primeiro tribunal fai» ráó culpados os innocen- tes: do íegundg fairáò con- denados

fio Sermão

denados osjuizes. Pouco difto parece que eftà no Tliema, mas tudo tirare- mos deli e. Naoo moftro logo, por naó gaílar dous tempos.Peçamos a Graça.

í. 11.

' 4<>4 r^IziaPlatam, JLyque os que julgaô, ou governaó,era bem que dormiíTem fobrc as refoluçoensjquetomaf- fem. Parecialheao grande Filofofo, queojuizo con- fulcado com os traveíTei- ros, era força que faíííe mais repoufado. AíHm acontcceo aos noíTos Jui- zes do Evangelho os Prin- cipes dos Sacerdotes^ dor- mirão fobre a refoluçam, que hontem tomáraó^de tirar a vida a Chrifto, po- rém hoje acordarão em Confelhocom hum confe- lho taó deíacordado,conio foi confirmarem hiia Ç^n tença a mais injufl:a,a mais barbara, amais facrilega^ que nunca íedeo, nem ha de dar no mundo. Pergun- tara eu a fuás Senhorias

do Sabbado dos Principes ' dos Sacer- dotes ;E bem, Senhores, fazer milagres , refufcitar mortos, fer cftimado, fer querido, que culpa he, ou contra que Ley? NoExo^ do, no Levitico , no Deu- teronomio, que íàó os Câ- nones por onde vos gover- nais,naó ha Texto, que tal prohiba : pois ignorância ? Seria afronta de hum Tri- bunal taó authorizado, querer prefumila nelle. Deoarazaóde tudoEuti- mio em duas palavras;//^* que t Ota res eft invidia. O cafo he, que tudo nefte ca- fo he inveja. Pois me naó efpantOjqueachaíTcm os Principes dos Sacerdo» tes na mefma bondade crimes, na mefma innocê- cia culpas,no mcfmoChri- fto peccados , porque - nos TribunacSjOu pubiicosjou particularesjonde a inveja preííde , as virtudes faó peccados, os merecimen- tos faó culpas, as obras, ou boas calidades faó crimes. 40)'' Filava Saul hum dia muito maicncolizado, &íriíi:e, dcícjou quclhe b«f-

'mtes âa T)omngã de Ramos] j i i

bufcaílem algum bom mu- os Doutores Hebreos j

fico, naófeife para fe ale- como refere Nicolao de

grarjfeparafe cntriftecer Lyra, queefte Cortefaó ,

mais. Acudio logo hum que aqui falloujCra Doeg,

dos Cortefaós , que o alli- capital inimigo de David.

ftiaó, dizendojque naó po- Capital inimigo de David,

dia SuaMagcftade achar & gafta tanta retho rica em

outro como David j por- feus louvores? Capital ini-

- que além de grande muíi- migo de David, & de hum

cojcra mancebo muito va- fundamento taó leve, co-

lente,de grande intelligen- mo fer mullco, toma occa-

cia nas matérias de guer- íiaó para fazer hum aran-

ra, cortefaó, avifado , gen- zel taó largo de fuás gran-

til-homem, & fobre tudo dezasPSim. Defcobriolhe

muito virtuofo,& temente a Deos : Vuíifilium Ifaifci- entempfallere , & fortijjl- mum roborey & virum helíi^ cofum^& prudentem in ver- bis^& vir um pulchrum , & ^ominus ejl cum eo : Ha

a tenção delicadamente hum Expoíitor grave Por- tuguez , & de nofla Com- panhia : Sctebat Saulem ejje mvidum^& alienis laudtbus incredibiliter cruciar t : lau- dat igitiir T>avidem apud

mais panegy rico que efte ? Saulem^ ut Saul invidiafti

Pareceme que eftaó dizê mulis agitatus interficiat

do todos os que o ouvirão, T>avidem. Sabia Doeg,que

que he grande coufa ter era Saul grande emulo de

hum amigo em Palácio, & -

que efte o devia fer mui

verdadeiro de David, pois

fabía fazer taó bons oííi-

ciospara com elle diante

del-Rey. Tal heo múdo,q

muitas vezes parece fíne-

David 5 que o invejava muito , & como no juizo dos invejofos os mereci- mentos faó culpas, & as excellentes calidades deli- tos, louvou, 6c engrande- ceoaDaviddiãtede Saul>

zas de amifadejO que faó para que Saul, como fez, ódios reíinadiííimos, Di- défle fentenca de morte

con-

}v3^

fii Sc^rmaÕ do Saíhadõ

contra Da '/id. DiíTe, que como levava par cõmpa^^

era prudente , guerreiro, esforçado, gentil-homem, vírtuofo, & dotado de tan- tas outras boas partes : & quem bem entendeíTe to- da efta ladainha de enco- mios,& louvores, bem po- dia dizer por D2Lvid)0rate proeo. Eraò capitulos,que contra elle fe prefentavaó ao Rey, não menos que de lefaMageftade. Pareciam louvores , & eraó acufa- çoens : pareciaó abonos, & eraò calumnias. Calum- niadooinnocente na fua virtude, &: acufado o be- nemérito nas fuás boas obras, fem que à innocen- cia fe lhe déíTe defefa, nem ao merecimento lhe valef- fem embargos, porque era ojuiz a inveja.

466 Que bem o entê- deoaílimo mefmo David!

nheiraafuafama ,& efta nunca fabe guardar filen- cioi começou a correr lo- go pela Corte,que era che- gado o valente de Ifrael, o matador do Golias, aquel- leaquemas damas de íe- rufalemcompuzeraó a*le- tra,que então andava mui- , j^. to valida : Tercuffit Sanhi.i\ mi lie, T>avid decem miUia, Coufa maravilhofa a que íefegue! Tanto que che- gou aos ouvidos de David o que paíTava, diz a Efcri- tura,que começou a recear muito aparecer diante de A chis : 'Fojíiit T)a\:;d Ser- mones ijios in cor de fiio^ cJ- ^^^ '• ' extimiát valde a facie A- chis Regi s\ &: a ultima re- foluçaó que tomou, foi fu- gir dalli , & irfe meter em húa cova : Fugit antem inde infpeluncam Odollam, Pois áfi?

Denos a confirmação, quê David, que rcfoluçam he nosdeoaprova.PaíToufeo eílavoífa ? Que quer di-

Uf

perfeguido mancebo para aCortede Achís Rey, & Reyno contrario ao de Saul,&: que por iíTo pare- cia fcguro. Hia fó, defco- nhecido,&: disfarça doimas

zerirdefv^os fazer Ermitão de hum deferto , quando vos YtdQs taõ acreditado em húa Corte ? Qiiando vos vedes com tanta fima duntcdoRcy , para que fií-

antes ^omln^ fugis de Tua prcfença ? En- jCendia-o como prudente, obrava como experimen- tado. Saó os louvores no pribunalda inveja accufa- çoens: & porque David íe viotaó louvado, homizi- oufe. O verfe louvado era yeríc aççufado, o ver fuás grandezas referidas , era •veras fuás culpas prova» das, teve logo muita razão de fe homiziar, & fugir tã- to de fy,como de feus emu- los. Os Satrapa9,& primei- ros Miniílros de Achís ^raó mui picados de inve- ja contra os Hebréps : & <:omo havia de efcapar 4elles 5 & viver na mefma Corte David criíiiinofo das fuás vitorias, & Keo da fuafama? Se fe diíTera de David, queera hum falfa- rioj hum perjuro, adul- íero> hum homicida , hum roubadordpalheoj&r ou- tras baixezas, fe as ha ain- da maiores 5 paíTeára Da- vid na Corte , & entrara muito confiado no Palácio do Rey , porque ai li tem (eílesferviços premio , ou quando menos, paífaófem Tom. 7.

\adeRdms^. yr^

caíligo: porem dizendofe delle tantas virtudes, tan- tas grandezas, tantas faça- nhas, tantas excellenciasi andou como prudente em fe homiziar,em fugir j^por- que todas eífas excellen- cias,&: grandezas eraõ cri- mes contra a peíToaj&pri- vad!os de Achís, & delito» fem perdaà contra as leys da inveja. Coníidero eu , que ha mandamentos da ley da inveja, allim como haMandamentos da Ley deDeos. Os Mandamen- tos da Ley de Deos dizem. Não matarás, Naò furta- rás,Naó alevantarás falfo teftemunho ; os manda mé- tos da ley da inveja dizem, naó feras honrado, não fe- ras rico, não feras valente, não feras fabio , não fer᧠bemdifpofto ,&: também dizem , não feras bom Prègador:&fcacafo Deos vos Vez mercê, que foubef- feis por os pès por húa rua, que foubeífeis apertar na mão húa efpada, quefof- féis difcreto, generofo , ou rico,ou honrado i no mef- mopòto tiveíles culpas no ^ Kk tri'^

f 1 4* Sermão do Sabhado

tribunal da inveja,porque o refufcitou Chrifto que peccaftes contra os feus culpa he fer hum homem mandamentos. Por eftas refufcitado > Taò longe culpas efteve taó arrifcado eft^ve de culpa nefte cafo , David, por eftas foi hoje quenem a teve em ado. condenado feu filho Chri- nem em potencia , nem a lio, que alllm lhe chama- teve, nem a pode ter Cu- raó as Turbas no Evange- rou Chrifto hum moço ce- \ho'. Hofanna fihopavid. godé feu nafcimento, & Era grande Pregador, fa- perguntarão os Difcipu^ 2ia muitos milagres, dava los, cuidando que excita- faudea enfermos, refufci- vaóhúaqueílaódeRrande tava mortos,& comoeftas habilidade; T^omme, quis joa excellencias, ou eftas cul- pccavit, htc, aut Parêntesis- pas eftavaó provadas com ejus, tit ca cus nafieretur > osapplaufos,comasaccla- Senhor, por cujos pecca- maçoens, com o amor, & dosnafceo efte moço ce- feguimétodospovos,«^«/// go, pelos feus,ou pelos de Mantexlua^ts, & crede^ ftus pays ? Rimfe muito imntmlefum. Confirmou- defta pergunta os Expofi- le o primeiro decreto , & tores , 6c em particular fahio a fegunda fentença , Theophilado,porqu€ fe o que morra Chrifto, ut & moço nafcéra cego por Lazarum,tdeft, ut Chriftn, feus peccados , feguirfehia

à' Lazarum interfciant.

S' III.

4^7 lI)Emeftâ,cumal LJeftà : porem a Lazaro porque o códenaó? Não lhe neguemos fua de- fenfá natural. Sc o conde- não , como dizem, porque

quepeccára antes de naf- cer : & que maior difpai a- te pode dizerfe, ou imagi- nar, que ter hum homem peccados, antes de ter fer: ier peccador antes de fer homem ? Naó menos ia^ nocente que il lo eftava Lazaro. Eftava morto, quando Chnfto o refurci-

tClí,

antes daT^omlnga de ^antof, fif

toMy &C por beneficio do como os demais , fizeralhe naò fer eílava impeccavel. o pay húa túnica, ou pello- Aílim que podemos dizer te, naó fei que eftofaíi-

delle neíle cafo, o que de Eurialo diííe feu grande amigo Niío ; Nihilifte^ nec aufus^necpotmt^ Nem teve

nh2.mdhoryt uni cam foly- mitamy com que aparecia os dias de fefra na Aldeã menos paftor que os ou-

^ulpajnemapodeter: in- tros.Ahquantos Jo^ésdc- ^nocenteemad:o5&empo- ftes ha hoje no mundo! tencia. Mascomferaílím, invejados, murmurados, faó taó linces os olhos da perfeguidos, porqueíPor- inveja,que neíles impof- que Ihesdeoa fortuna c6 liveis de peccado defco- que trazer húa capa me- briraó,&: acháraó culpas liior que a voíTa. AíTimef- d i gnas de morte, ut & La- ta va condenado o innocê- s^aruminterficerent.E^OT' te moço, quando trouxe que?^//^[ eisaquiacul- íua ventura por alli hum p:i )qu!a fmlti propter //- mercador Ifmaelita , que

fcnef. 7.t8.

bim credebant inlefum\^or que muitos por caufa, ou por õccafiaó delle criaó cmjefu.

4,^ Fizeraó coníèlho fobrejofeph feus irmãos : fahio delle que morreíre,& quafi com as mefmas pala- vras, que temo^ no Evan- gelho, o refere a Efcritura: Cegitavertmt eum occidere. Sabida a caufa, era porque o amara Jacob particular- mente, & além da famafrra,

prometeo por elle vinte rcales, &os cobiçofos ir* mãos, que eraó dez, por quatro vinteins , que ca- biaó a cada hum, venderão a feu irmão, & as fuás cbn- ciências.

^69 Tinhaólhejà des- pido a túnica caufa das in- vejas5& naó tinha bem vi- rado as coftasjofeph, quã- do os vendedores arre- metem a ella,& a começaõ a fazer,ou desfazer em pe^

ou pellote do campo com daços. Parai ahi ingratos que hia guardar as ovelhas i;rmãos,parai,&refpondei.

Kkíj me^

5 1 6 SermaÕ

me, que quero arguirvos. Não eftà vendido Jo- feph? VoíTa cólera naõ eílá vingada ? VoíTa fereza não eílà ÍUísíqíxí-Sí ? EíTa túnica que culpa tem, ou que culpa pode ter ? Por- que a fazeis em pedaços ? Bem Çtiy que naó haveis de ter boca para me refpon- der, mas refponderà por vòs Ruperto Abbadeiir^- tern£ glorÍ£ monumentum impeccabile Ç notai muito a.que\lG rfnj)eccai?ik ^ Fra- teriííe gloria monumentum impeccabile laceratur : adeo nec morte^nec venditionefa- tiattir invidia. Nenhuma culpa tinha a túnica dejo- feph, que mal a podia terá feda, oulãainfeníiveljfem vida 3 fem alma , Tem von- tade. Com tudo nefta in- capacidade natural, & ne- fte impoíUvel de culpa, acharão híía os invejofos irmáos,&: foi,fer inílrumê- to da gloria de Jofeph : Fraterna gloria monurnsn^ tum. Era prenda da parti- cular afleição dcjacobjcra gala com quejoíbph fe au- thonzava, com que luzia

doSabbado mais que os irmãos , com que grangeava refpeito noseílranhos , & ifto lhe bailou por culpa, para fem ' culpa a defpedacarem:A/<?-' numentum impeccabile la-, ceratur. 1^2.0 fei fe fe pode- ra achar em toda a Efcri- tura paíTo que mais aovi-- vodeclaraíTe o queremos- entre mãos. Nenhúa culpa- tinha cometido Lazaro, antes nem a podia ter quã-: do o refufcitou Chrifto> como vimos5& neíla gran- de innocencia, antes nefta. impeccabilidade foube a inveja defcobrir culpas, & culpas dignas de morte,, que foraójferinfrrumento das glorias de Qhníko.quia multi propter illum crede- bantinlefum. Fora famo- faj&: mais que todas, a re- furreição de Lazarojadmi- randofe , & pafmando a gente de ver paíTar pelas ruas de Jerufalem o que ti- nhaó viflo de quatro dias morto na fepultura, & co- mo toda eíla admiraram redundava em fama , & gloria do refu feita dor, por íerinílrumcnto da gloiia, dcíla

antes daT>õínmga de Ramos. fi/

defta" fama , condenaó â dia por JetUfalem triuii-

Lazaro a perder a vida: UP éf Lazarum inter fie erent\ Bem aíTim como a inveja dos irmãos dejofeph, nam contente com fe vingar nelle, paíTou a executar a vingança na tunicá inno- cente : Adeo nec morte , nee

farido, recebido com pal- mas, & acclamadodo po- vo : Acceperimt ramos pai- marum , é' procejferunt ob- viam ei. AíTim o diz o The- ma. Mas vejo que me aí- guem.Naó tinha eu pro- metido ao principio, que

venditionefatiatnrinvidia, na revogação das fenten

ças, fícariaõ os Juizes con

^WW'l

i^un^j^'. oui

ror .ií:x?"up

470

I Ronúciada çô- trà Chrifto, & contra Lazaro eíla taó in- jufta fen tença, como a in- iioc^ncia quanto mais cal- la,então allega melhor por ly diante de DeóS , fervio

ãénados ? Onde eftáo èftas condénaçoens ? Onde ef- taó eftas penas ? EíTa he a graçajferem-no, &nam o parecerem. Não íè execu- tar a morte de Lazaro foi a primeira pena : entrar Ghriílo por Jeruíàlem tri- unfando foiafegunda.Ve-

efte íilencio de appellaçaó jamosa primeira,logo paf-

ante feu divino tribunal, faremos à outra.

Não tardou muito o def-- 471 Eftavajob cuber-

pacho Q que no juizo do to de lepra com as doreSj^c

Geo não ha dilaçoens3& ò trabalhos^ que tantas ve-

que fahio nelle foraó dous decretos contra os dous dos Pontifices nefta ma- neira. O primeiro , quê a fêntença dada contra La- zaro fenaòexecutaíle:que ficaíTefócm intentos, Co- gitaverunt.O fegundo,que Chrifto entraíTe ao outro Tom. 7.

zes fe tem repetido nos Púlpitos , & nunca aíTáz exageradojcomeçaa quei- xarfe, & dizer aíli m : T>ies mei tranfierunt^cogitationes tHeadiJipataJunt^ tor quen- tes cor meum. Paíráraófe meus dias 5 & os contenta- mentos que neiles tinha Kk iij tam-

Job. ,7: II.

■^^PIP

Éd^

fiS Serrnao

também fe paUaraõ , que para naó durarem muito , bailava ferem meus, T>ies mel: alguns intentos que ú- ve, cogitat tones me£ , abor- toumos a fortuna^não che- garão a ter execução, dijjl' patíefunty 6c ifto, diz Job, hea maior pena que pade- ço , porque quantos foraó cntaó ^íTqs intentosjtantos verdugos tenho agora,que me atormentaó a alma, tor quentes cor meum. Naó acabo de meadmirar, que hum homemjque tanta ra- zão tinhade faber avaUar tormentos, fahiíTe com íe- melhante queixa, t bem, exemplo da paciência, taó mimofo andais vós da for- tuna, que de coufas taó poucas vos queixais tanto? Naó tendes perdas de fa- zenda, mortes dos filhos, mina da cafa,& do eftado, doresjtriíiezas, defempa- ros, miferias, o corpo feito hCia chaga viva •, que tem que ver com tudo ilto os intentos naó executados, para, fo yos queixardes dellcs 3 Cogitãtio?ies mea Jlpatafaut? Fallou co-

do Sahhado '-.>% mo grande Meftre de par- ciencia. Tinhatomadoos pulfos Job a tudo, o que he dor, a tudo o que hepena,. a tudo o que he tormento , & porque achou, quenam ha dor taó exceíltva , pena taó cruel, tormento tão in- fofrivel como hum penfa- mento fruftrado , hum in- tento fem execução; por iíFo tendo tanto de que fe queixar, fe queixa de fe fruílrarem feus penfamen- tos,&de feus intentos fe- não executarem , Cogita^ tioncs me£ dij/ifata funt. Como era taó difficultofo o credito defte encareci- mento, não o quiz fiar Job dos Expofitores, ellefe fez comentador de fy mefmo no verfo feguinte : Sifujii' nueroy infemus dontus me a J'^^ '7' eft. Tutredini dixi\Tater '^ ''*' meus es-, mater mea^ é^foror mea^ vermtbus. Naó cuide alguém, diz , que faó hy- perboles, ou exageraçoens fantafticas o que digo,por- que de verdade he o tor- mento que padeço taóin- fofrivel , & taó dcfefpera- do,quefc durar mais hum

.-.;,. pOU-

UO.:

antes da T>ominga de Rémss. f i ^

pouco, Sifíipyii^erú v bem verdugos; que lhe aperta^ me podem abrir a cova. O raóo garrote à; alma,fí?r^ que os mortos fem padc* quentes cor meum , cxecu- cerexprimencaò nafepul- tandonelles a fentençade tura,iílbhe o que execu- Deos,fentençanaó menos taó em mim os meus pen- que de morte, ScfeDultura: famentos: porque nam-ha- Sífuftinuero/epídcMrumdo' corrupção ^ o que tanto pe-' musmeaefi, netre,& desfaçajnáó ha bi- chos, que tanto comáo, & carcomáo hum cadáver, como os mcímos penía- mentos me eftão morden- do o coração, & roendo a alma:& o peor he , qué nãoacabáode matar, mas matandomeme eftáo ge- rando outra vez, como fe foraõ meu pay , & minha- mãy,para maispenar vTíí- tredini dixi\ ^ater meus es tu;mater mea^ & foror mea^ 'uermibus. Comparemos agora o cogitdtiones mea de Job , com o cogitaverunt dos noíTos Juizes : & vere- mos fe ficáraó códenados. Tiverão intentos de ma- tar a lj7íZ2iVO^Cogita'verunt ut Lazarum interfaerent^ ficarão eíTes intentos no ar, nam chegarão a ter

472 Satisfa^amôls ago- ra aos curiofos. Suppofto que foi fentença de morte efta,& as de morte faó taô varias, perguntar me ha 6, que género de morte foi? Gnome nãolhefabéreieu dar, mas digo , que he húa morte da cafta daquellas , que por mais penar não matãojhu a mortein terior, que fe fabe fcntir, mas não fefabe explicar ,táo rigo- rofa, tão cruel, que feDcos mandara pendurar de hum pào todos eftes Principes dos Sacerdotes contra os foros de fua dignidade, muito mais benigna , êc piadofa fora a fentença. DeoAchitofel hum con- felhoa Abfalam,com que fem duvida ficaria desba- ratado feu pay David, con-

exccu(^2ió)Coptatíones me^e tra quem o ingrato filho fc dijjipatte jiint , & aílim levantara, não o aceitou não executados fôramos Abfalamporpermiflaôdo

Kk iiij Ceo,

T20 Sermão

Ceoj&tonloú outro htm diífercnt&qJhe àto Cufai. ; Tanto que 'Achitofel vio ifl:oCou\rihum caforaro, & efpantofo ^ poemfe a cavallo', partefe para fua cafa, faz feu te fta mento, deita hum laço ahúa tra^ íf if . ^^' enforcafe: y^%V in do- mumfuam , d^ dtfpofita do- mo fua , fufpendio interijt. Muitas queíloens fe pòdê levantar fobre efte cafo. A dos Canoniftas bem à raãoeftà,& he,fe fe havia de enterrar efte homem cmfagradojounaó? AEf- critura diz , que o enterra- rão na fepultura de feu pay : Sepelierunt eum cum patribus [uis ', masiftonam faz argumento, porque na- quelies tempos nem as fe- pulturaseftavão nas Igre- jas» nem ha via ainda o Ca- pitulo Tlacuit i & dado que hua,& outra coufa fo- ra,entre todos os Santos & Doutores, que efcrcvé- rão fobre o paílb, hum Rabino diz,que náo efta- va Achitofeíem feu juizo. Se aíTim he ( agora entra a minha queílaó ) fe eftava cru feu juízo Achitofcl,co-

i^o Sabbado mo fez húa acção tão defa- íizada,como he enforcar- íehum homem com fuás próprias mãos ? Diífe -o a fagrada Efcritura , & he prova maravilhofa do nof- io intento : Vtdens qíiodnon fuiffetfaõiwn eonfiliúfuumy abijtin domuni fuam^ò' fuf' pendio interijt. A única, & total razão, porque fe en- forcou Achitofel , diz o Texto, ^oi^Fidens qiiodnon fuiffetfaãum confiimmfuúy Porque vio, que naó fora executado feu confelho. Quem dera credito a tal caufa, por mais Doutores queodiíreráo>feo mefmo Efpiriro Santo o náo affir- mára ! Tão cruel executor he hum confelho não exe- cutado, taes dores, taes pe- nas, taes tormentos cau ia n-a alma de quem o coníi- dera,q eftãdo hum. homem em feu inteiro juizo, efco- Ihendo fegundo as regras da prudência do mal o me- nos, teve por melhor mor- rer a fuás próprias mãos agonizando em húa forca, que viver padecendo os rigores de hum tormento taó defcfperado. Allim o

GX-

antes da dominga de Ramos. 5-2 1

exprimentou AchitofeljSc deílapena em húa, vilania

paraqueaílitno expritné- taíTem os invejofos Pon- tífices, ordenou Deos^que naó chegaíTe a ter execu- ção o confelho, que entre fy tomáraójde tirar a vida a Lazaro , ficando ntrlles eíTe mefriio confelho nam

da condição natural dos invejofos, com que mais fencemosbens aiheos, & fuás glorias, que os males , & tormentos próprios. En- trou Chriílo Senhor noílò hum dia no Templo àt^t- rufalem , & vendo que fe

executado, por executor eftaváoalli vendendo da mefma morte , ou por bas, cabritos, cordeiros &

ventura ,de outra mais cruel, que a que lhe deter- mina vão dar: Cogita verunt Trincipes Saceraotum ut& Lazarmn interficerent.

473 /^Ondcnados te- Vw^mos os Juizes pela primeira fentençain- juílamente dada contra Lazaro. Ainjuíliça da fe- gunda dada contra Chri« fto era muito mais atrõ3:& para que o foíFe ta m bem em a pena , & o caftigo , mandou Deos , como di- zia mos, que entraííe o Se- nhor por Jerufalem triun- fando : Acceperunt ramos palmar um , é- procefferunt

ainda novilhos, indignado de tamanho defacato , to- ma as cordas,com que vie- raó atados aquelles ani- maes , faz delias huns co- mo azorragues, começa a açoutar os que compra^ vão,6c vendiáo. Compras, & vendas feitas na Igreja caíliga-as Deos por fua própria mão; & não come- te a outrem a execução de femelhantes delitos : fetíi repararem fua authorida' de. Mas cuidava eu, que fe aggravarião muito eíles homens úq (c verem tão afpera, & tão baixamente tratados por Chriílo , ôè que quando não chegai- ítímalhepòras mãos , ao menos o blasFemaíIem. obviam ei. Fundafe o rigor Fui porem- ver o Texto,5c

achei.

1

52 2 Sermão

achei, que nenhila pa- lavra diíTeráo contra o Se- nhor, não o reconhecendo portal. Comparando pois eíle paíTo com outros de fua vida mui difFerentes, fazeftapóderação S.Joaó Chryfoilomo. Se quando Chriílofarou o mudo , o accufáráo por endemoni- nhado : Se quando Chrifto deoviftaa hum cego, o querião apedrejar; Se quá- do refu feita a Lazaro , dão contra elle fentença de morte : como agora que os açouta , 6c os trata como e fera vos, nem fe quer húa palavra dizem contra ChriíloPComo o não ac- cufaôjcomoo não apedre- jaó, como o naó mataó ? Divinamente o Santo Pa- dre : Animadvertis invidia incredjhílem^ & quonampa- Bo in alios coUata beneficia tnagis eosirritahúnt ? Naó vedes, diz Chryfoílomo, a vilania deftcs invejofos, que mais fe doíâo dos bens alheos,quc dos males pró- prios r Sarar Chriílo en- fermos, dar vida a mortos, erão bens ,alhcos> por iílò

do Sahhado ofentião tanto, que q«c* rião apedrejar a Chrifto, &c tirarlhe a vida : açoutallos Chrifto a elles, & tratallos como efcravos, erão males próprios, por iftb o fentiaò taó pouco, que nem huma palavra diftèrão có- trao mefmoChrifto.Mais. Os milagres, que Chrifto obrava,erão fama,& gloria para Chrifto , os açoutes com que os caftigava, eraó p en a, & afronta para elles, mas como era gente inve- jo fa, mais fentião a fama, & gloria de Chrifto, que as penas,& afrontas fuás :ex* ceftb verdadeiramente da inveja, não admirável, masincrivel , invidíam in- credihilem.FciTCccri enca- recimento a confirmação que hei de dar a efte paííb , mas tem bom fiador.

474 Ardia no Inferno o Rico Avarcnto,& vendo dalli o pobre I;azaro no Seyo de Abraham,difte af- íim : Tater Abraham-.mife- , reremet^ & mitte Lazaru , i^ 23. HT tyitingat extremum digtti in aqua?fi, nt refrigerei lin^ guam ;//í'^^//.PayAbraham,

tCtt-

antes da dominga de Ramos. p ^

tende compaixão de mim, de, nem amor, que fe o

mandai a Lazaro, que mo - lhe a ponta do dedo na agua, &: me venha refrige- rar a lingua. Náo lhe de- ferio Abraham a gofto-, mas como da avareza he tão próprio o pedir, como o náo dar , tornou o Ava- rento a fazer fegunda pe- tição : Rogo te pater ^ut mit'

ouvera, não fora Inferno , fora Paraifo: como he pòf- íivel, que tiveíTe efte con- denado tanto amor para com feus irmãos, que lhe queira mandarPrègadores da outra vida, para que fe convertão ? Quanto mais , que para o refrigerar do incêndio, qualquer outro

tas eum in domum pdtris o podia fazer tao bem co^ mei^habee enim quinquefra^ mo Lazaro : & para pregar

tresyutteftetur illis ^ne ò" ipfivenlant in himc locum. Rogovos muito , Pay A- braham,queao menos mã- deis a Lazaro a cafa de meus irmãos, que lhe diga p que porca paíTa , para que não fe condenem. Ou eu meenganoj ou cftas pe- tiçoens dizem hua coufa , &pertendem outra. Se as labaredas do Inferno fam tão grandes como fabe- mos,& o Avarento o fabía por experiência, como he poílivel , que tiveíTe para fy, que as podia refrigerar tão pouca agua, quanta pô- de levar aponta de hum dedo ? Mais. Se no Infer- no náo pode haver carida*

a feus irmãos , muitos ou- tros o podião fazer melhor que elle. Qual he logo a ra- zão, porque em húa , & outra propofta fempre in- íiíle unicamente em que Lazaro j em hila , Mttte La^arumyçm outra, Rogo ut mit tas ettm ? O cafo he, que nenhúa deftas coufas pertendia o Avarento ^ & todo o feu intento, & tei- ma, era tirai lo do Seyo de Abraham, & fazer, que ao menos por algum tempo náo gozaíTe o dcfcanfo em que o via. He futileza de S.Pedro Chryfologo, & a razão não tão delicada j mas taó natural comofua: ^odagit dives^non efi no^ vciii

I

7':'

5^4^ Sermão do

velli doloris^fed livoris an- tiqui : zelo magis incendi- tuTy quàm gehenna. Sabeis , diz Chiyfologo , porque bufca o Avarento tantas traças,& invençoens, para quefaya Lazaro, íe quer por hum breve efpaço, do Seyo de Abrahaò?He por- que fe eftà comendo de in- veja, porque agora em tanta felicidade o que noutro tempo vio em tan- ta miferia : Zelo magis in- cenditur^qttam gehenna. A- qui vai o fútil do penía- mento. O Avarento eftà no Inferno, mas o Inferno do Avarento mais eftà no Seyo de Abraham , que no mefmo Inferno. Porque mais o atormenta no Seyo de Abraham o defcanfo,& felicidade, que alli eftà go- zando Lazaro, que no fo- go do Inferno as mefmas chamas, em que elle eftà ardendo. Pedia que fahifie Lazaro do feu defcanfo,& que trouxe ftc agua para o refrigerar , & o refrigério eftava naõ na agua, que havia de trazer, fenam no defcanfo,de que havia de

Sabbado v-u fahir. Como era invejofo, maisoabrazavaó as glo- rias alheas, que via, que os Infernos próprios, em que penava : Zelo magis incen- dituTy quam gehenna. Efte foi o género de caftigo a que a divina Juftiça con- denou os injuftos Princi- pes dos Sacerdotes mui conforme a quem elles eraó. Eraó invejofos , co- mo vimos 5& porque ne- nhúa pena os havia de atormentar tanto como as glorias de Chrifto, entra o Senhor diante de feus olhos em Jerufalem triun- fando com húa univeríàl acclamaçaó de filho de David , & Rey de Ifrael, com hum perpetuo vidor nas bocas, & nas mãos de todos : AccepeTunt ramos palmarum^ & proceffernnt obviam ei.

475" Bem pudera eu dizer, que foi efte maior caftigo, que fe Deos lhe mandara dar cem açoutes, como pelas ruas publicas os negociantes do Tem- plo: bem pudera dizenquc foi maior caftigo, que fe os lan-

antes da^omlngn de Ramos. ^i^f

lançalfe logo nas chamas : as cruzes, em q invifivel-

do Inferno, como o Rico Avarento -, mas em parte quero ir menos rigorofo, por ir mais próprio. Sabi- da coufa he, que a pena a que os Juriftas chamaó ÍT^Z/Wj, he entre todas a

maisproporcionada.Digo Mardocheo,fó porque hua pois, que foi eíla pena dos vez fenaó levantou paííàn-

mente hiaó crucificados na alma , cruce mentis 3cvci lembrados eftareis da hi- íloria de Aman privada delRey AíTuero. Mandou- Aman levantar húa Cruz^ para crucificar nella a ^

Pontífices, pena , & tor- mento de Cruz. Elles qui- zeraò crucificar a Chriílo, & Chriílo crucificou-os a elles. Naó he meu o penía- mento,ou a fentença, fe- naó do grande Padre da Igreja S. A^o^'m\\o •Quam cTucem . mentis invideiitiai Jud£orum perpeti poterat , quando Regem fuum Chri- ftmn tanta_ multitudo cia- mabat. Que vos parece que foi para os invejofos Pontífices entrar Chriíto porjerufalem triunfante? Que vos parece q foi ,diz Agoftinho, fenaó crucifi- calos? Aquellasacclama- çoens do povo eraó os pre- goens, que hiaó diante pu- blicando o delito fua injuftiça : aquellas palmas, que levavaó nas mãos, eraó

doelle. Ataesfoberbas,8c. infolencias chegaóos pri- vados de quem nam fabe fer Rey . Porém trocou a . fortuna as mãos, revogou-, afentençaem outro tri- bunal fuperior , & o cruci- ficado foi o Aman. Aílim aconteceo aos Principes: dos Sacerdotes. Elles no feu tribunal quizerão cru- cificara Chriílo, porém o tribunal divino em pena defua injuítiça , ordenou quenelles fe executaíTe a fuafentença)&que foílem elles os crucificados, nam em húa cruz , porque eraó muitoSjfenáo em tan- tas cruzes V quantas foram; as palmas do triunfo de Chriílo: ccceperunt ramos palmanim , à^ exkrunt ob^^ viam et,

§.ví.

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1.

■■(,■:'

p6

S' VI.

47^

vangelho, & fatisfeito ao que prometi. Reílame dar íatisfação ao lugar em que

Sermão do Sahhaãõ

unum adverftu T)ommm^ &adverftu Cbrijlumejm. Ajuntáraófe os Reys da terra, & uniraófe era votos os Príncipes contra Chri- ílo, diz David : & nam hc pequena a diíficuldade de- lia Profecia. Seaentendc-

'Enho cóclui do com o E

eftou, q he o do Defterro , mos da morte,que Chrifto

cuja dcvação nefte fabba- com eíFeito padeceo , nam

do feriai convocou a elle ouve entáó mais que hum

tão grande Auditório. Co- Rey,que foi Herodes . fe a

íiderei devagar, que parte entendemos da morte,quc

deftedifcurfo lhe acomo daria. E porque nenhuma achava, que lhe ferviíTe, determinei fazerme hum aílintea mim mefmo , 3c acomodarlhotodo. Tudo quanto atèqui tenho dito, foihúa reprefentação do quepaíTou no defterro de Chriílo. Para intelligen- cia deita conllderaçáo ha- vemos de fuppor , que os Juizes, que condenarão a Chrifto à morte, quando o Eterno Padre lha comu- tou em defterro , nam foi Herodes, como parece, fenão Herodes , & junta- mente o Demónio. Provo. v^AvA.í. Aftítenmt Reges terr^^ ^ ^' Trincipes conveneruut in

lhe quizerão dar quando nafcido,da mefma manei- ra náo ouve mais que hum Reyjquefoi também He- rodes (náo o mefmo, fe- não outro do mefmo no- me: que hum tyrano, que perfeguio innocenteSjuam havia de viver trinta & tresannos. 3Diz agora S. Joaó Chryfoftomo : Nun- quid Herodes Reges ? Por ventura Herodes he mui- tos Reys:Herodes he mui* tos Principes .í> Claro eftà, que não: pois fe he hum Rey,&humfó Príncipe, como diz David, que fc ajuntarão , &: fe uniram Reys, &■ Príncipes contra Chrifto : AHtterunt Reges tcrra^

' ' M Ml

antes da Dominga de Ramof, '^ty

terr^y é* 'Prinàpes come- acclamado por Rey de If- neruntinunum ? A reporta rael, &que muitos criaó do mefmo Santo Padre he nelle : Multi abtbant ex lu- J^^;'; o que eu dizia: In Rege He- d£is,& credebantin lefum-^ rodepeccatt quoque Regem ScHerodes, &com elle p oftendit. Olhava David Demónio, porque o co- ^ com olhos proféticos , que meçavaó a ver em feu naf- vcm o vifivel, & invifivel, cimento bufcado, & vene- rado dos Reys do Orien- te, & dentro da Corte do mefmo Herodes acclama- do por Meílias, & Rey dos , , Judeos : Um ejt qut natus 2.2 eíiRexJudaorum. K^*..

/^jj Viíiaafemeíhan-

& por iíTo diz, que fe ajun- tarão Reys , & Principes contra Chriílo 5 porque os que o condenarão à mor- te, não foi Herodes , fe- naó Herodes , & mais o Demónio. Herodes Rey

de Judea, o Demónio Rey ça da condenação de Chri-

dopeccado:HerodesPrin- ftono tribunal dos hom es,

cipe da terra, o Demónio feguefe ver a condenaçani

Principe do Inferno : In dos Juizes no tribunal de

Herodepeccati quoque Rc' Deos com a mefma pro-

gem ojlendit, E fe bem con- priedade. A primeira pena

íiderarmos o motivo que a que Deos condenou os

Herodes, & o Demónio tiveraó para querer tirar a vida a Chrifto5&: aos inno- centes na occaíiaó de feu deílerroj acharemos, que he amefma,eom que a in- veja moveo os Principes dos Sacerdotes a querer matar naò ao refufcita- dor,fenáo também ao re- fufcitado, Eílesjporq viaó a Chrifto reconhecido, &

Princip es dos Sacerdotes foi , como vimos , que íi- caííem fruílrados os feus intentos: & tal foi também a de Herodes. DiíTe Hero- des aos Magos : Ite^interra^ gate diligêter deptiero : Ide> informaivos donde eílà eíTe miniíio que dizeis: Et cum inveneritisy renuntiate mihèy E como o achares avifaimc , ut&ego ^erãem údê"

P8

Sermão

aaore?neiwi , para que eu também o adorar. lílo pronunciava Herodes c6 a boca,&:como coraçáo di- 'ziarldejinformaime, que ■cu lhe tirarei a vida, & mil •vidas (^como tirou a tantos mil innocentes. } Mas que fez Deos .^ Ou por An- JO5OU por fy mefmo aviíòu aos MagosjquevoltaíTem por outro caminho : & quando o Tyrano vio feus intentos fruftrados^F/Ví^wx qtioniam ilhif/ís effet a Ma- gis^ diganos o mefmo S. Joaó Chryfoftomo, qual ficou. Saõ palavras, que fe as mandáramos fazer de encomenda , ^^o vieraó mais medidas com o-in- tento : Conjidera quaiiam Herodempatiprobabilefue- rít^ qui certèfuffocari etiam pra indignationis magnitu- dinepotuitj cumfs ita illu- fumatque irrifum viderM, -A pena que Herodes fen- tio vendo fuás traças át^^- vanecidas, &: feus intentos fruftradosjconfidere-o que fabc que coufa hc a inveja, que explicarfe com pala- vras naò he poíilvel. Mil

do Sahhadõ vezes quizeratomarhum laço,&enforcarfe (^ digno caíligo daquella cabeça tão indignamente coroa- da,3 &: he maravilha como a mefma dor colérica, que o fazia raivar, lhe naó áéí- fe hum na garganta, ôc o afogaíFe. diíTe a Efcri- tura de Achitofel : Vtdens quodnofifuijfetfaãum con- JdhmfimmyMjt^ & fufpen- diointerijt. È da mcfma maneiradiz Chryfoílomo de Herodes : Vtdens qiionm illufus efet à M agis, fujf o ca- ri etiam pr£ indignationis magnitíidinepotuit. E nòs vejamos agora fe he igual a condenação de Herodes com a dos Principes dos Sacerdotes. Elles conde- nados a ficarem os feus in- tentos fó em mt^Vítos : Co- gitaverunt Trincipes Sacer^ dotum ut CT Lãz^ariiyyi /;/- terficcrent: & ellc condena- do a ficarem fruílradcs os feus , .& zom barem delle •os Magos : Videns qnoniam ■iUuJks ejfct à Magis.

478 A ícganda pena

coube ao fcgundojuiz o

Dcmomo: 5c íbi^ver entrar

a Chri-

antes da Dominga de Ramos. ^29

a Chriílo triunfante no efcapado das mãos de He-

rodeSjhia entrando vivo,& triunfante nos braços da Máypelasruas do Egyp- tOj ao mefmo paíTo dentro dos Templos, & derruba* dos dos Altares hiaó cain- do as imagens dos falfos Deofesjcm que o Demó- nio era adorado, desfeitas empÒ5& emcinza.

479 He Theologia cer- ta, que quando Deos lan- çou do Ceo os Anjos máos, huns foraó parar no Infer- no,& outros fícáraó nefta Região do ar , aos quaes por iíTo chama S. Paulo Aéreas poteftates. De forte, que nefte mefmo lugar nos eftão ouvindo muitos De- mónios, Sequeira Deos, que fejaófóosque fenaó vem. a razaó deite confelho divino , divinamente S. Bernardo: Diabolusinpde' namjuam loctim inaereme^ dium inter Calum^ ò* ter^ ramfortitus eft^ ut videaty é^invideaf^ ipfaqueinvidia torqueafur. Quer áizcrJ^H' ra maior tormento do De- mónio lhe deo Deos eíle cárcere livre do ar,elemen- Li to

Egypto, como os Princi- pes dos Sacerdotes verem o feu triunfo por meyo de Jerufalem. Pintanos iílo maravilhofamente o Pro- feta Ifaias:^í afcendet Do- mimis fuper nubem levem^ò* [^' ^^' ingredieturç^^yptum.SO' birà o Senhor, & entrará pelo Egypto, levado como em carro triunfal em hua nuvem leve. Eíla nuvem leve (diz S. Ambroíio^he a Virgem Santiífima, Mãy do mefmo Senhor mini no, que o levou em fcus bra- ços ao Egypto : nuvem, porque ella he a que nos defende dos rayos do Sol . dejuftiça,& leve, porque nella entre todas as cria- turas nunca ouve pefo de peccado. E que fuccedeo ao Demónio á vifta deíle triunfo ? O mefmo Profeta o áiz\Et commo^vebuntur à fade ejus fimulacra c/^- gypti. E à vifta defta entra- da triunfante cahiráó der- rubados por terra todos os ídolos do Egypto. Aílim foi, porque aífim como o defterrado minino, tendo Tom. 7.

!^>

BI

I;

530 Sermão do Sabbado

to meyo entre o Ceo , & a terra, porque vendo fubir os homésdaterraaoCeo, & deita Igreja Militante, onde osperícguejirgozar da gloria na Triunfante i a vifta,& inveja defte triun- fo lhe íirva de maior Infer- no aos que ficáraó, que aos que eítão penando. ouvimos a S. Pedro Chry- fologo , que menos pena davão ao Rico Avarento as labaredas do Inferno em q padecia, que as glorias , que Lazaro gozava no Seyode Abraham: & eftc foiocafl:igo,mais que do próprio Inferno, a q Deos condenou o Demónio, no mefmo defterro com que livrou de fuás mãos a feu filho ; para que vendo o entrar triunfante pelo E- gyptOjpenaífemais, & fe desfizcífe de inveja, allim como fe desfizeraó os mar- mores,6c bronzes das ima- gens, & íimulacros em que era adorado ; Et commove- buntur à facie ejusfimula» €ra (i^gypti.

§. Vil

ACabei. Efup- 1 '

480 _

pofto que te- nho fatisfeito ao Evange- lho,& ao lugar ; algúa ju- ftiça parece que me fica para pedir ao Auditório a mefmafatisfação. No E- vangelho temos a Chrifto triunfante em Jerufalem : naquelle Altar temos a Chrifto triunfante no E- gypto : jufto he, Senhores, que entre também Chri- fto triunfando, ou pelo E- gypto , ou pelajeru falem de noíTas almas. Que outra coufahehúa alma , onde eftà levantado altar a Ve- nusjidolo da torpeza : on- de fe fazem facrificios a Marte, idolo da vingança : ondehe adorado Júpiter > idolo da vaidade; que cou« fahe, digo, húa alma de- ftas , fenão hum Egypto idolatra .? Entre pois Chri- fto triunfando pelo Egyp- to defta ai ma : Et comove* antur à facie eJHS fímulacra ç_y£gypti^^ cayáo , èí ren- daófcafeuspès todos eíTes ídolos.

antes da T^ominga de Ramos. 5 3 ^

Cava a torpeza, mana Santa, em que ne- nhum Chriftão ha de taó

ídolos.

caya a vingança , caya a

vaidade, &acabemfe ido- latrias tão pouco Chri- ftãas. Que coufa he por ou- tro modo húa alma, onde rey na a ambição : onde leys a inveja : onde manda tudo o ódio t que coufa he, torno a dizer,húa alma de- itas, fenaó húa Jerufalem depravada, 8c perdida , & onde por ódio , por ambi- çaó,& por inveja fe fen- tença de morte contra o mefmo Chrifto ? Ora,pois, Jerufalem, Jerufalem, con- 'verteread T>ominum T))eu tuum , acabemfe ódios, acabemfe invejas, acabéfe ambiçoens : cayão todos eíTes vicios aos pès de C hriílo, &:levantemfe pai- ra as nas mãos em final da vitoria : Acceferunt ramos palmar um^ & exierunt oh* 'viam et.

4,8 1 Não duvido que

fraca Fè,& de tão fria pie- dade, que fenão lance ren- dido aos pès de Chriílo. O que porém quizçra eu encomendar, & faberper- fuadir a todos he, que nos nãoaconteçajO que acon- t€ceoaos que acompanha- rão a Chriílo no feu triun- fo. He advertência de S. Bernardo. Quando o Se- nhor hia paíTando pela$ ruas de Jerufalem, tiravaó muitos as capas dos hom- bros, para que o Senhor paífaíFe por cima delias \ porém tanto que o mefmo Senhor tinha paífádo, tor- nava cada hum a levantar a fua capa, &: polia outra vez aos hombros como dantes. O mefmo nos acó- tecea nos neíla Somana. Dcfpimos, ou parece que defpimososmáos hábitos de noíTos vicios, lançamo-

o facão aílim todos os que los aos pès de Chrifto , pa- temnome de Chriftáos, raquepaífe por cima del-

não movidos da eíficacia de minhas razoens , mas obrigados da fantidade do tempo. Entramos na So-

les com a Cruz às coftas j porém tanto que paífou , tanto que fe acabou a So- mana Santa , & chegou a LI ij Paf-

v^^

53- Sermão do

Pafchoa , torna cada hum aos mefmos vícios , & a re- veftirfe delles, comofejà não foraó peccados.Oh fe- pultemolos para fempre com Chrifto morto , & deixemos eíTes máos habi- ros,como Chriílo deixou as mortalhas na fua fepul- tura. Façamos diante da- quella Senhora huns pro- poíitos , & reíoluçoens muito firmes de fer perpé- tuos efcravos feus , & de feu béditiílimo Filho : fe- guindo-o,ôc fervindo-o sê-

Sabbado

pre5& em qualquèi parte: ou no Egypto,como de- ílcrradosdefte mundo, ou em Jerufalem, como mor- tos ao mefmo mundo ; naó havendo trabalho , ou fe- licidade, nem fortuna taò profpera,ou adverfa, que nos aparte de feu ferviço, de fua obediência , de feu amor,& de fua graça, para que vivendo , & morrendo com elle,& por elle, o acó^ panhemos na vida, onde naó ha morte, por toda a. eternidade. Amen.

vi

SEIti'

m

SERMAM

S.JOAMBAUTISTA,

NA PROFISSAM DA SENHORA MADRE Soror Maria da Cruz, filha do Excellentiífirno Du- que de Medina SydoniajReligiofa de S.FrancifcOs no Mofteiro de N.Senhora da Quietação, das Framengas, em Alcântara.

ESTEVE O santíssimo SACRAMENTO

cxpoíto. An no de 1644.

EUfabeth impletum eft tempmpariendi^érpeperitfilmm. Et audierunt vicinh& cognaú ejus, quia magnificavit T)o- minusmifericerdiamfuamcumiUa , & congratulaban- tur ei.Et venerunt circúciderepuerum^& vocabant eunt no?nmepatrisfiii Zachariam. Et refpondens mater ejuft dixif-Nequaquam/edvocabiturloannes: Luc.c.í.

vozes dos homens. Admi*

§. I.

Senhor.

O dia em que nafce a Voz de Deos 5 juftamê- emudece as STorn./,

raçoens emudecidas faó a retórica defte dia \Mirati funtunivepft y pafmos, & aílbmbrosfaõ as eloquen*' cias deíla acção : Faõíus eft timor fuper omnes vkinos Lliij f#-

554^ Sermão de

eonim. Hedia hoje defal- vai muito de lugar alugar

laremoscoraçoens, 6c de callaretn as linguas : por if- íb a língua de Zacharias emudeceo,por iíTo os cora- çoens dos Montanhezes fallavaó : Tofuerunt in cor- de fuo dicentes, E fe em qualquer dia do grande Bauciíla he perigofo o fal- lar,& os difcurfos mais dif- cretos faó os que fe remete aoíilencio 5 que fera hoje no cócurfo de tantas obri- gaçoens, emqueascaufas dotemorj&os motivos da admiração fe vem taó cre- cxàos^ Setodaarazaódos aílbmbrosno nafcimento do Bautifta era verem que dava Deos a hua alma a maó de amigo ; Etenim mamis Domini erat cum ti- lo -, quanto mais deve af- fombrar hoje noíla admi- ração, ver que Deos a outra alma a mão de Efpo- fo : Etenim manus 'Domini erat aim illa > Bem fei que ©rigen. diíTe Origeucs , que dar Deos a máo ao Bautiíla foi

Defpofarfe Deos nos de- fertosjhe coufa ordinária; mas defpofarfe Deos nos Palácios : Deos defpofado no Paço.' Maravilha gran- de. Hecafo efte, em que acho contra mim todas as Efcrituras.

483 Se lermos o Pro- feta Ofeas, acharemos,que querendo Deos defpofarfe com húa alma, diíTe, que a levaria primeiro a húde- ferto: ^ucam eam infolitu^ ^^^* '^'■ dmemy& loquar adcor ejtis. Se lermos o Profeta Jere- mias, acharemos,que lem- brando Deos a JerufaJem o tempo,que com ella fe àzí- pofára, advertio, que fora noutro áç,Çç:no:Charitattm Jcíid; defponfationis tu£j quando fecuta es me in deferto. Se lermos os Cantares de Sa- lamaó, acharemos, que os defpoforios daquella al- ma,fobre todas querida de Deos, num deferto íe tra- táraójnoutro dcfcrto Çc có-

feguiraó : i^?/^ ejhjlu, qu£ Canr.3, defpofarfe com fuaalma; afcmdit per dijirtinn ,diz mas muito vai de dcfpofo- no çap.g . ^/^ efi tjía , qu^e cw.s, rio a defpoforiò , porque afcendit de áejerto inn:xà

miÊmm

6encí.

Jhper ãHcãnmfuum , diz no cap. 8. Mas para que hc multiplicar EfcrituraSjfeo mefmo Efpofo , que eílâ prefente, nos pode efcufar aprova? O myfterio cm que Deos mais propriamê- tefedeípofacomas almas he o Sacramento foberano da Euchariftia. Porqnclle C como gravemente notou S. Agoftinho) por meio da '^«gafl^. yniao do corpo de Chrifto fe verifica entre Deos, & o homem , Emnt duo in car- melina. E fe bufcarmos os lugares emque Deos fígu- racivamcntc celebrou ef- tes deípoforios , achare- ihos,queosprincipaes, af- fim noVelhojComo no No- vo Teílamento , foraó de- fertos. A principal figura do Sacramento no Teíla- ínentoVelho foi o Mannà, durou quarenta annos, & todos foraõ de deferto; Tàtres nofiri manducave- í?^''"' funt Mannâ in deferto. K principal figura do Sacra- mento no Teílamêto No- vo, foi o milagre dos cinco paens,&:o milagre dos fe- se,6í ambos fucedéraò no

Bautijta, f.rf

deferto : 7)ejertus locm ejh ^^^^"^ ^'' é" nanhabent quod mandu' j^^^^j. cent. Vnde eos quis potefl hkfaturarepanibus infoli- tudine ? Pois qual he a ra- zão [ para que mais funda- damente nos admiremos] qual he a razãos porque fe defpofaDeos nos defertos fempre ? Náo heo Monar- ca wniverfal do mundo, não hc o Príncipe eterno da gloria? Pois que ha de defpofarfe defigualmentc na terra,porque naó bufca efpofa com menos defi- gualdade nas CorteSj&nos Paços dos Reys , fenáo nos defertQS5& nas folcdades?^ 484 A razaô he •, porq efpofa com as qualidades de que Deos fe agrada,nã o feacha nos Palácios, acha- fe^os defertos. O Sacra- mento nos fundou a du vi- da iSJoão nos fundara a repoíta.Fez Chrifto hum Panegyrico do Bautifta (quedetaó grande fogei- to Deos pode fer baftan- te Orador) as palavras fo- rão poucas, a fuftãcia mui- ta, & começou o Senhor ^íTím-.^idexiJiisindefertu 1^,^.7. Lliiij ^'^:

Í3<> Sermão de

videre ? Hommem moUihtis homem, que feguia todo ò

'vejlitum ? Ecce molUhus 'vejiiuntur^in ãomibus Re- gumfunt. Sabeis quem he JoaójeíFe a quem todos fa-

bem, & que fugia de rodo o mal. E para dizer que feguia todo o bem, diíTe, que vivia no deferto , para

•i . ' A. '^ *"■ M"'" ♦^ ivjLct iiu ucicrLu, para

lusaver?[dizChriíto3He dizer que fugia de todo o

hum homem,que vive no mal,diíre,que não vivia no

deferto : não he dos ho- Paço.ExphcoulhcChrifto

niens,que vivem no Paço. a vida pelo lugar, & para

Notavd dizer ! Pois Se- dizer quem era, diíTeonde

nhor, eíte he o thema, que morava. Ainda nam digo

vos tomais para pregar do bem. Para dizer quem era,

Bautiíta ? Quando quereis diíTe onde morava,& onde

concluir , queheo maior não morava. Para dizer

dosnafcidosjfundaisoSer- que era homem do Cco,

mão em que vive no de- diífcque morava no defer-

ferto,8j: não vive no Paço .? to : para dizer que naó era

bim. rodaa perfeição re- home da terra, diíre,qnaÓ

lumidaconfiftccomodi- morava no Paço. Eque

zem os Theologos , inpro" eftando os Paços dos Reys

Jecuttone , &fiiga, emfe- da terra tão mal reputa-

guir,&: em fugir; em feguir dos com Deos,que aauelle

a virtude , & em fugirão Senhor, que fófe dcípofa-

vicio.PojiíTo os preceitos va nosdefertos,hojeo ve-

Ecclefiafticos, & divinos, hunsfaópoíitivos, outros negativos j os pofitivos, que nos mandão feguir o

jamosdefpofadoem Palá- cio .' Maravilha grande.

485- Mas qual fera a razaó deíla maravilha ?

bem,osnegativos,quenos Qual fera a razão , porque

mandão fugir ao mal. Pois Deos, que fe delpolava

para Chrifto refumir a nos dcfcrtos, hoje fede fpo-

poucos fundamentos toda fano Paço .^ A ra7no he^

a pcn-eição do Bautiíla, porqueiPaçoda^Rainhas

que itz> DiíTcquc era hum dePort.u-al, he P^ço com

pro-

S.loaS Bautífta. ^37

propriedades de deferto. Reys (diz S. Gregório Pa- ^^«& Deos comummente def- pa} em cujos Paços Reaes ^^'

de tal maneira fe contem-

pofafe no deferto , porque naó acha no deferto as co- diçoens do Paço : hoj c def- pofafe no Paço 5 porque achou no Paço as condi- çoens do deíèrto. Quando a Job no meio de feus tra

porizà com a vaidade da terra, que fe trata princi« palmente da verdade do Ceo 5 & Paços onde fe fer- ve a Deos como nos er- mos,naó faó Paços, faó de«*

balhos lhe parecia melhor fertos: ^i adificantfibifo'

a morte, que a vida , entre Utudines, Bem dito , que

as queixas que fazia delia, edifícão-, porque ha duas

diíFe defta maneira : Et maneiras de edificar :edi-

nunc reqíiiefcerem cum Re- ficar por edifício, &edifi-

giòm^é' Confulibus^qui adi- car por edificação. O e'difí-

ficantjibifelítudines. Se eu gío faz dos defer tos Pala-

fora morto, eftivera agora defcáçado entre os outros Reys , & Príncipes , que edificaó defertos. Notável

cios, a edificação faz dos Palácios defertos. Hu Pa- ço onde fe ferve a Deos, he hum deferto edificado. Pa-

mododefallarlCí/»^ Regi- çoonde Deos fe ferve> bm^ qui adificant JoUtudi-^ 6c o mundo fe contem-

nes \ Reys que edificaó de fertos í Se diíTera Reys que edificaó Palácios j bem ef- tava.-masReysque edifi- caó defertos i Os defertos edificaófe ? Antes desfa- zendo edifícios, he que fe fazem deíertos. Pois que

poriza : onde a claufura có- petecomádas Religiões: onde as gafas faó difíimu- laçaó do cilicio : onde a li- cença do galanteo, a liber- dade dos faráos, & outras mal GntçnâidsLS grandezas faoexerciciosde efpirito

Reysfaóefl:es,que trocaó ondefair do Paço para o

os termos a Architedura? noviciadomaíshe mudar

Que Reys faó eíles5qedifí- decafa,quie devida; eíle

cão defertos ? Saó aquelles ermo corteíaó nam lhe

ena-

ii\

538 SermaSdé

chatttein?aço,cliamemlhe pois nos licénçâ ò paA de ler to : ^i adificant fibi mo : Et apertum ejt iUico 9S Socrat. foktudines. diíTe Sócra- ejm. tts do Emperador Theo- doíio Segundo , que fora táo religiofo Príncipe , & taó reformador da Cafa Real,que convertera o Pa- ço em Moíleiro : Talathim

§■ II.

Erdadeiramê-

te, que me vi

embaraçado no concurfo

jic difpofuit^ut haud alienum das obrigaçoens de hoje ^

éffet a Monafierio. Efta có- porque faó todas taó gran-

to eu entre as grandes fel i- des,quecada hua pedia o

cidades do noílb Princi- Sermão todo. Para naóer-

pe,que Deos guarde, & a tenho ainda por maior,qa do outro Theodoíio. O ou- tro Theodofio fella, o nof- foachou-a: o outro criou, efta reformação , o noílb

rar, aconfelheime com o mefmoSJoaòBautiíla, & fcguireifua doutrina: èlui habetfponfamyfponfus efi^ ^^^ amtcmautem fponjl gáudio gaudet. Eu fou amigo de

criafe nella. Oh que gran- Chrifto (" diz S.JoaóJ) a ef-

des fundamentos para pofahedo efpofo , a feíla

taó grandes efpcranças ! . hedoamigo. Aííim feja. A

E como no Paço de Por- feftaferàdeS.Joaó, o dia

fugal tem o Ceo tantas feràdaEfpofa, & oEvan-

prerogativas de deferto, gelho fe acomodara tanto

que muito, que Deos co- a hum, & a outro , que pa-

ftumado a fe defpofar nos reçajque he de ambos. Va-

defertos,o vejamos hoje moscóelle, femnos apaiw

defpofado no Paço ! Cef- tar hum ponto. '"^

fem pois as admiraçoens 487 Elijabeth impletum

com as dos Montanhczes, eft temptis pariendi^ &pepe-

rompafe ofilencio com o deZacharias, &: comece- mos a fallar íicíta acçaó,

Tttfilinm. Ifabel depois de com prido o tempo dos no- ve mcfeS;foimãy de hum filho.

SJoaÕ filho. Aquella palavra,?;»- pletum eft temj?us^ácpois de comprido o tempo, pare- cco fuperflua a algíãs Dou- tores antigos, Naó eílava claro,que S. Joaó havia de nafcer como os outros ho- menSjpaíTado o tempojqtie a natureza limitou para o nafcimento ? Pois porque dizhua coufa fuperflua o Evangeliíla, que nafceo S. Joaó depois de comprido o tempo: Elifaheth imple- tum eft tempm ? O Cardeal ^^^'^ Toledo, & todos os Lite- raes dizem, que naó foi fu- perflua efl:a advertência, fenaó muito necefl^ariaj fuppofl:oqueem SJoaófe anticipáraó tanto as Icys da natureza, que aos Ígís mtÇc$ de concebido ti- jjhaufo de razão. Equem anticipou o ufo da razaó tantos annos, podiafe cui- dar,que também anticipa- ria o nafcimento alguns mefes. Pois paTa quç íe foubefl^e,que naó foi aífim, digaoEvangelifl-a, q naf- ceo S Joaó depois de cheo, & comprido o tempo; Eli- fabeth impktum eji tem^us»

Bautifta. f59

Efl:a he a verdadeira intel- ligencia deíle Texto -, mas quanto mais verdadeira , tanto mais funda a minha duvida. Que fe diga,que S, Joaó nafceo comprido o tempo, porque naó antici^ pou o nafcimento i bem dito efl:à:mas porque o naó anticipou ? Porque náo an- ticipou o tempo do nafci-» mento, aílim como antici^ pou o tempo do ufo da ra- zaó .í* O uíb da razão, fegu« do as leys da natureza, ha- via de íer aos C^tQ annos do nafcimento, o nafcimê- to aos nove mefes da con- ceição. Pois fe anticipou o ufo da razão tantos an- nos, porque naó anticipou: o nafcimento alguns me- fes ? Porque o nafcimento pertence ávida da nature- za, o ufo da razaó pertence à vida da graça j & nas ma* terias temporaes,o que co-^ fl:uma fazer o tempo, bera he que o faça o tempo : nas matérias efpirituaeSjO que eofl:uma fazer o tempo, melhor he que o faça a rat Zaó. Para nafcer ao mudo, faça o tempo,o que ha de fa*

m

í

Mai-c.

22.

Hl

Chí-y-

540 Serina O de fazer o tempo : para nafcer mudo, faça o tempo, o que a Deos, o que ha de fazer o ha de fazer o tempo: Elifa- tempo,faça-oarazaó. Ca- hth impletum eft tempusj, minha va Chrifto de Be- mas para dar frutos a Deos> thania para lerufalem, vio o que ha de fazer o tempo, no capo húa figueira mui- faça-oarazaó : Exultavit to copada, chegou, & co- infansinutero. "Eí^^h^hÚ^SL mo naó achaíTc mais que das excellencias , que eu folhas 5 amaldiçoou-a. E venero muito entre as grã- notaoEvangeliftaS.Mar- des do Bautiíla ; fer hum cos (coufa muito digna de homem,em quem fez a ra- fe notar) que naó era tem- zaó,o que faz nos outros a podaquella arvore ter fru- tempo. Efperarem os an- to : Non erat tempusficorú. nos pela razão,iíIb aconte- Poisvalhame Deos ^ paA ce a todos, mas adiantarfc maó aqui todos os Douto- a razão aos annos , fazer a res ; fenaó era tempo de razaó o que havia de fazer fruto, para q o foi Chrifto o tempo j ifto fe acha no

bufcarPEfeo naó achou, quando o não havia , por- que caftigou a arvore? Se a caftigou, tinha ella obri- gação de ter fruto. E fenaó era tempo,como tinha efta obrigação ? Tinha efta

Bautifta : fe bem gloriofa- mente imitado hoje.

488 Oh que gloriofa me- te equivocado temos hoje oanno ; o Abril mudado em Setembro, & os frutos,

1>"3— ' ' '- que havia de amadurecer

obrigação [ diz S. Chryfo- o tempo, fazonados na ra- ílomo ] porque ainda que záo ! Quem podia fazer porferPrimavera naó de- outono dos frutos, apri- via frutos ao tempo, por ma vera daí> flores , fenaó a Deosfequererfervir delia, efpofaqueriaade Chrifto? devia-osá razaó. Eas di- Flores app ar uerint in terra vidas da razão na m haó de 7ioJira^ternpuspn f-.átioiíts aã* ^^"''^ efperar pelos vagares do i^êw/Y.^Alíim obedecemos tempo. Para dar frutos ao tempos^ondeaílim domina

ara-

' S. loaÕ Bautifta. f4i

a razão. QLiejào mundo, pois de pentear defenga"

& a vida não faibaó enga- nar ! Que vejamos tantos defenganos da vida em tão poucos annos de vida! Que he ifl:o?He que fez a razaó, o que havia de fazer o tê- po. Seguiremfeaos annos os defenganos, he fazer o

nos j & que os cabellos de Abfalaó na idade de ouro íintaó os rigores do ferro í Que enxugue a Magdale- na as lagrimas dos pès de "^ ^' Chrifto com os cabellos, mas que os naó corte 5 & que haja outra Maria, que

tempo,o que faz o tempo: ponha aos pés de Chrifto masanticiparemfe os de- os cabellos cortados, com

fenganos aos annos, he fa- zer a razaòjO que o tempo havia de fazer. Queixa vaie . Marco Tullio,q fendo os homens racionaeSjpudeíTe mais com elles o difcurfo do tempo , que o diícurfo da razaó. Mas hoje vemos o difcurfo da razaó mais poderofo, que o difcurfo do tempo. Que não baftaf- fem noventa annos para '•^cg- dar íizo a Helí , & que ba- ^' ílem dezoito annos para fazer fezudo a SamuelPOh que grande viftoria da ra- zaó, contra a fem-razaó do tempo ! Hua velhice enga- nada,he a maior fem-razaó do tempo: hua mocidade defenganada, he a maior vitoria da razaó. Que nam 1^^^ <;orte os cabellos Sara de-

os olhos enxutos ! Qúela^ Gen.48. cobna primavera dos an- nos enterre a fua Rachel i he inconftancia da vida : mas que Rachel na prima- vera da vida fe fepulte a fy mefma ! Grande valor da razaó. Dar a vida a Deos quando elle a tira, he diíll- mular a violência , entre- garlha quando elle a dà,he facriíicar a vontade. Quem dedica a Deos os últimos annos, faz Chriftão o te- morda morte : quem lhe eonfagrà os primeiros, faz religiofo o amor da vida.

489 As batalhas da ra- zaó com os annos he hua guerra,em que reíiftê mais os poucos, que os muitos. Deixaremfe vencer da ra- zão os muitos, annos, nam hc

Luc.i

2,Reg. ^9-

f42 Sermão ^e

he muito : mas deixaremfe Defenganárao a Bercellai

vencer , & convencer os poucos 5 grande poder da razaó í E maisfe confide- rarmos a refiílencia favo- recida do lítio. Poucos an- nos5&nas montanhas (^co- mo eraó os do Bautifta} naó he tanto, que fenaó de- fendaó à força da razaó ; maspoucosannos, & em Palácio, convencidos , & defenganados ! Graó vito- ria. OiFereceo ElRey Da- vid a Bercellai hum gran- de lugar no Paço, & elle, que era de oitenta an- nos,que refponderiaPOí^í?- genarim fum hodie : non iri' digeo hac viciffltudinei^tÇ- pondeo , que aíTáz tinha aprendido em tantos an- nos a defenganarfe das Cortes , que o deixaíTe o Rey viver retirado coníl- go,&: tratar da fepultura ; porém que aceitava o lu-

os muitos annos próprios, para naó querer o Paço pa- ra fy, & enganáraó-no os poucos annos aiheos,para querer o Paço para o filho. Naó fei que tem o Paço,& os poucos annos ,que ain- da quando o conhecem os muitos, naó fe atrevem ao deixar os poucos. Teve conhecimento para o dei- xar hum velho , naó teve animo parao aconfelhar a hum moço. Sendo mais fá- cil de dar o co nfelho,que o exemplo, deo o exemplo Bercellai, mas naó fe atre- veo a dar o confelho . An- tes parece que fe fuflituio a pay nos annos do filho, para lograr na mocidade alhea, o que na própria ve- 1 hice naó podia. E que naó havendo valor na velhice para deixarem totalmente o mundo5ainda aquelies, a

gar para hum feufilho,que quem o mundo deixa; que

tinha de pouca idade: EJi hajarefoluçaóna mocida4

firvus tms Chamaam , ipje de,para meter o mudo de-

'vadat tecum. Parece que baixodospès^quemomú-

fe implica nefta acçam o do trazia na cabeça ! Oh

amor de Pay, mas explica- que bem fc dcfafronta ho-

fe bem o engano do mudo. jc a natureza humana.

dl.

S.loa^ dizia S.Paulo: Mihi mun- ^^^^'^' dus crucifixus eft , ò' ego mundo: O mundo cftà cru- cificado em mim, & eu eA tou crucificado no mundo. Sc o mundo ellava crucifi- cado em Paulo , tinha o mundo viradas as coftas para Paulo: fe Paulo cita- va crucificado no mundo, tinha Paulo viradas as co- ftas para o mundo. Eque dèeu as coftas ao mundo, quando o ni\;indo me vira as coftas -, n^ô he muito: mas quequahdoo mundo me moftra bom rofto , cu de rofto ao mundo; efta hea valentia maior. Que quando o mundo fe ri de vòs, vòs choreis por elle> ô fraqueza í Mas que quan- do o mundo fe ri para vòs , vòs vos riais delle > a va^ lentia í

490 He taó grande va- lentia efta , que fendo pró- pria das forças da razaó, naõ fiou S. Paulo o credito delia , fenaó dos poderes do tempo. Falia S. Paulo dcMoyfes, & diz aífim; Adueb. ^^yf^^g^fàisfaãusne^^^ ,1. VitJeeJfefilítmfJía Tha-

BmtUía. f43

raonisy magis eligens ãffligi cum popuío 'Dei^érc . M oy- ÍQS depois que foi de maior idade, deixou o Paço del- Rey Faraòj deixou a Prin- cefa , deixou quanto alli pofiliíaj&efperava 5 efco- ihendo o viver pobre , & fem liberdade,com o povo de Deos no cativeiro do Egypto. O em que reparo aqui he no grandisfaõfus: que fez ifto Moy fes depois de fer de maior idade. E a que vem agora aqui a ida- de ,? S. Paulo tratava da re- íòluçaô, & naó dos aniios deMoyfes, Poisíea refo- luçaó eftava no animo , & naó nos annos , porque diz que era de maior idade Moyfes, quando deixou o Paço , & fe cativou por Deos.? Direi Moyfes cria- rafe no Paço delRey Fara^ defde minino , era todo a mimojSc favor da Prince- íà do Egypto, que o adop- tara por filho, & como tal era fervido, & venerado c5 authoridade,&: magnifieê- ciareal. E deixar Moyfes^ a grandeza , & regalo da Paço,deixar aamor de húa Fria-

1

'54'4< Sermão de

Princefajdcixar a cercania foou logo pelo lugar , que

de húa Coroa , pareceolhe a S.Paulo, quenaó era fa- çanha crivei em poucos annos j por iíTo ajuntou a refoluçaó com a idade, pa- ra que a idade délTe credi- to à refoluçaó : Moyfesgra-

engrãdecéra Deos íua mi- fericordia com Santa Ifa- bel : ^ia magnificavit T^eus mtfericoràiam fuam. Notável dizer ! Parece q naó eftà boa a confequen- cia do texto. O que foou

disfaõtus. Como fe difíera: pelo lugar, havia de fer o q Ninguém duvide efta ga- íliccdeo em cafa de Zacha-

lliarda acçaó de Moyfes , porque quando a fez,era de maior idade, bem cabia nos feus annos. Ora feja embora a refoluçaó de

rias. Suceder húa coufa, & foar outra, iílb acontece nas Cortes lifongeiras , & maliciofas,&naó nas mon- tanhas íimples. OnoíToE-

Moyfes vitoria do tempo , vangelho o diz : Divulga

que a grande acçaó , q nòs bantur omnia 'verba hac :

celebramos hoje, com fer que o que fe divulgava, era

taó parecida em tudo o o mefmo que fuccdia. Pois

mais , não fe pôde gloriar fe o que fucedeo,foi nafcer

delia o tempo, fenão a ra- oBautiíla; Elifahethpepe-

zaó. Obrou aqui a forçada ritfilium -, como diz o E-

razaó, o que fez o poder vangeliftajque o que foou.

do tempo : Eltfaheth im- fletumèfttempus.

§. in.

491

E:

Tauàterunt 'vi- ]cini, ò" cognati ^jns , quia magnificavtt Í)ens mifericordiam fuam cumiUa. Tanto que nafceo

foi,que engrandecéraDcos fua mifericordia: Et andie^ runt , quia magnificavit Deus mifericordiamjuayn 7 Grande louvor do Bauti- íla ! Quando as vozes di- ziaó em cafa de Zacharias, que nafcéra Joaõ, repctiaó os cecos nas montanhas, q Deos cngrádecéra fua mi-

$Joa6(diz Q EvangcliltaJ fericordia> porque quando 1 : Joaà

S. loa o Joaõ fae ao mundo, aunié- taófe os attributos a Deos : quando loão nafce, Deos crece. Não he arrojamen- to, fcnão verdade muito cháa.Diííe-o o mefmo S. loão 5 6c mais faltava em íeus louvores com grande modeftia : Illu oportet cref- cere^me autem minui : Im- porta queellecreça^&que eu diminua. Aquelle(^eile3 naóTe refere menos , que ao Verbo humanado. Pois comoaíllm ? Deos ainda em quanto humanado naó pòdecrecer. Como logo diz S. loaó : ll/um o^portet creftere: Importa que elle creça ? E dado que podeíTe crecer , que dependência tinhaóos crecinientos de Deos 5 das diminuiçoens do Bautifta? Deos lie gran- de fem depender de nin- guém. Como diz logo : 11- lum oportet crefcere^ me au- tem mlnui : Importa crecer elle, & diminuir eu ? He poílivel crecer Deos ? E he poííivel que o feu crecer dependa do Bautiíla? Sim. Porque ainda que Deos> porfer infinito, nam pòdc Tom./.

Bautifia. 5-4.5-

crecer em fy mefmo , por fer limitado o conhecime- to humano,pòde crecer na noíTaeftimaçaó. E naefti- mação dos homens, nem Deos podia crecer fem di- minuir o Bautiíla , nem o Bautifta podia diminuir fem Deos crecer. Ora ve- de como. O conceito que os homens fazião de Deos antiguamentejcra tal, que quando o Bautiíla apare- ceo no mundo, aífentáraõ ^^ que elle era Deos. Confor- n. me efta refolução,lhe foraó oíferecer adoraçoens ao dèferto, onde o mefmo S. loão os defenganou. E co- mo o Bautiíla, & Deos, na opinião dos homens , erão iguaes > tanto que por feu teílemunhofe desfez eíla opinião 5 neceífariaihente creceo Deos , & o Bautiíla diminuio. Diminuio oBau- tiíla, porque ficou menor que Deos : creceo Deos, porque ficou maior que o Bautiíla. De forte, que de- pois que o Bautiíla veio ao mundo, ficou Deos,para c6 os homens, maior do que dantes era : porque dantes Mm era

•M''

54'^ fiz-

era como o Bíuitifta, de- pois começou a fer maior queclle. Donde fe infere, em grande louvor deftc grande Santo, que a medi- da do Bautiftahe fer me- nor que Deos,& a medida deDeos he fer maior que o Bautifta. Naó tenho me- nos abonado fiador, que S. Agoílinho : G^úfquis loan- j.Aug. neplm eft^non tantum homoy fedT>etíseJt. Sabeis quem he Joaó ? He menor que Deos. Sabeis quê he Deos? He maior que loaó. Com eíla difFerença porém-, que em quanto S. loáo o nam diíFe, eraó iguaes •, depois que o tefbem unhou, come- çou Deos a ler maior. Que muito logo, q creça Deos nos feus attributos, quan- do S Joaó nafce no mudo ! Et audiertmtj quia magntfi" cavtt ^etis mifericorúiam Jnam.

4*92 Deíla maneira crc- cco Deos naquelle tempo, &: tambcm eu hoje,íc a c6- fidcraçaó me naó engana, o vejo muito crecido. En- tão creceo nas minguantes de Joaó , hoje. crece nas

maode

minguantes do mundo. A- pareceolhe a Nabucodo- nofor aquella taó repeti- da, 6c taó prodigiofa efta- tua i & vio o Rcy, que to- candolhe hua pedra nos pèsde barro, a eílatua fe diminuioa poucas cinzas, & a pedra creceo a grande- za de hum monte : t^aãnsDin.!. eft mons magnm^ & replevii terram. Para entender eíla figura, que he enigmática, falhamos, quem era a pe- dra,& quem a eílatua. Em fentido de S. A mbrofio, & Ami^r. S. Agoftinho, aeíhtuaera "^^^ê^^- omúdo,apedra era Dcof. Pois fe a pedra he Deos, como crecea pedra > Deos pòde.crecer .^ E fe a eílatua hc o mundo, como dimi- nuea eílatua ^ O mundo diminuefe.? Tudo faõ ef- í-eitos da eílimação dos homens. Segundo a cíli- maçaó q fazemos de Deos, & do mundo , ou crece a eílatua, & diminuç ape^ dra,ou crecea pedra, & ái^ mmue a eílatua. Se pomos a Deos aos pcs do mundo, crece o mundo, 3c diminue Deos, fc pomos o mundo aos

SJoaoBautífta. 1^7

aos pès de Deos , crece derrubar com húa pedra

Deos,6cdiminue o mCrdo. Deixara Deos por amor dos nadas do mundo , he fazer a Deos menor que nada: mas deixar o tudo do mundo por amor de Deos, he fazer a Deos maior que tudo ; Accedet homo ad cor aM , & exaltabitur Deus.

ao Golias, bailou a funda ^^'^•?' de David , para derrubar comoutrapedra a eílatua de Nabuco, foraò neceíTa- riosimpulíbs ( poílo que inviíiveis } do braço de Deos. O Gobas tinha de altura féis covados, a efta/* tua tinha féiTenta j que nas

Bcmditofeja elle, que de grandezas mais pompofas quantas vezes vemos a domundo,femprefaó ma

Deos táo pequeno , & taô apoucado nas Cortes dos Reys, o vemos hoje tam grande,^ taó crecido!Taó •crecido , & tão acrecenta- doeílà hoje Deos em fua

ioresos Gigantes, que as eílatuas. Nunca asmachi- nas vivas igualaó a medi* dadas fonhadas. Sonha a fantaíia, promete a efpe- rança,profeciza o defejo ,

grandeza , quantas faó as reprefentaa imaginaçam: grandezas do mundo, que & ainda que a foltura de

vemos a feus pés arroja- das, ii eftatuadeNabuco, na eftatúra reprefentava •grandezas, na matéria ri-

fles fonhos, o comprimen- to deílaspromeífas, o pra^ zodeílas profecias, a ver- dade deílas reprefentaçoês

quezas, na íignificação ef- nunca chegaó j mais triun- tados, &tudo ifto abrazado fa o amordivino , quando

T. Rcg, i7-

em fogo do coração fe re- de hoje em cinzas aos pès deChriíto Ninguém me- lhor façrifíca a Deos o mú- do,que quem lho offerece em eftatua. Porque o mun- do em eílatua he muito maioi'quefymermo. Para

piza o fantaílico , que o verdadeiro : o eíperado^ que o poíTuido. Deixar an- tes de poíTu ir, he ufura de -merecer ; porque quem maisdá,mais merece , & quem os bens na efpe- rança,dá osonde faó maio- Mm ij rè$.

54 S ' Sermão de

Tcs. A melhor parte dos deo. Não ha duvida, que bensdeílavidahe o efpe- dos bens temporaes mais rar por elles : logo mais faz liberal he o mundo em fuás quem feinhabil ira para os promeífas, que Deos cm efperar, que quem fe priva fuás liberalidades.Náo co-

Mat.h. 4-

dc os poíTuir.Por iíToChri Ho chamou os Principes dos Apoftolos, quando lã- çavaó as redes, & não quá- do as recolhião : Mittentes retetnmare. Porque mais faz quem deixa as redes lançadas, que que^n deixa os lanços recolhidos. As redes quando fe lançaó,le- vão em rada malha húaef- perança •, os lanços quando ferecõlhemjtrazem muita rede vazia. 493 Oh quantaSíSc quam

íluma Deos dar tãto,quan- to o mundo coítuma pro- meter. Bem fe fegue logo, que mais a Deos quem lhe as promeífas do mú- do,quc quem lhe torna as dadivas fuás. Se dais a Deos o que Deos vos dà, dareis muito y mas fe dais a Deos o que o mundo vos promete, dais muito mais. Oh quão liberal eftà com Deos, quem dandolhe as maiores grandezas, ainda bufca artifícios de lhas dar

bem fundadas efperanças, acrecentadas ! t que artifi- ôquantas,&:quam en- cio pode haver para acre-

tendidas grandezas hon raóhojeem piadofo facri- ^cio os Altares de Chriílo! niQiv T. Dizia S.Paulo aos Roma- nos, que ninguê pôde dar a Deos fenáo o que Deos lhe der primeiro. Mas eu vejo hoje hum efpirito tão engcnhofamente liberal, que havendo recebido de Deos tanto, ainda lhe oíFe- rccc mais do que Deos lhe

centarosbens, & grande- zas do mundo? Eu o direi : que nos exemplos delia acção não fe pôde deixar de aprender muito. Os bens, &: grandezas do mu- do falíamentc fe chamaó bcns,porquefaó males, & fem razaó fe chamaó gran- dezasjporquefaó pouqui- dades. Pois que remédio para fazer das pouquida- de5

dcsgrãndezías, & dos ma- les bens ? O remédio he deixalos,& deixalos em ef- perançasiporque eíles,que o mundo chama grandes bcnsjfó faó bens,qiiando fe deixaójfó faó grandes,quã- doíeefperaó. Aeíperança Ihedàa grandeza , o dcf- prczo lhe a bondade; deíprezadosíàó bens, ef- perados faó grandes. E af- íim : mais quem deíp re- za o que efpera, que quem o que poíTue. Dehúas, & outras: depoíTuidas, & de cfperadas grandezas, faó defpojos as cinzas,que hoje íè rendem aos fobera^ nosimptílfos daquella pe- dra divina. Oh como defà- parece a efliatua! Oh como creceomonte ! Denoííàs diminuições aumcta Deos fuás grandezas, de noílbs defprezos fua Mageíladc. 494 vio S . loaó no Apocalypfc aquelles vinte & quatro Anciãos, que ti- rando as coroas dascabe- ças,as lançavão aos pèsdo trono de Deos : Mitt entes coronas fuás ante thronum. Tornou a olhar o Evange- Tom.r,

lu

BítUtljid. ^4^

lifta,& vio,qiie Deos tinha muitas coroas na cabeça : Et in capite ejus diadema» ta multa. Pois fe as coroas .'^®^'^ fe lançavaó aos pès de DcoSjComo tinha Deos as coroas fobre a cabeça.^Por* uc tanto crecc Deos cm ua grandeza , quanto dcP* prezão os homens por feu amor. As coroas na cabe- ça de Deos era ò aumentos de ftia grandeza : as coroas aos pès de Deos eraó def- prezos do amor dos ho" mens; & com as mefmas coroas,que arrojava o def* prezo humanoj fe authori* zavaaMageftade divina: porque tanto crece Deos nos au mentos de fua gran- deza, quantas faó as gran- dezas, que põem aos pès de Deos noííb amor. Diga»» felõgo, que creceo , & íc engrandecco Deos hoje duplicadamence: húa vez: medido co m S . Ioaó>outra vezmedidocom o mudo. Ser antepoílo ao mundo, &fer preferido a loaó, he crecer muito Deos em fua eftimaçaõ,6c«ngrandecer- > fe muito em feus attribu- Mm iij tos:

ff^

Sermão de '£luia magntficavit m aior graça, liâô IZC^ÇCeni

^etis mijericordiam fuam, /^9^ Et njenerunt circú- Cíderepuerum, Vieraó cir cuncidarominino. Supo- 11o que o minino era S. Joaó^parecequeo naóha- viaó de circuncidar. A cir-

deinnocéte aos remédios de culpado ! Grande ac- ção: grande facrificio.Fal- la Zacharias à letra do ma- Zichau; ior facriíicio da Ley da Graça, o San ti íH mo Sacra- mento da Euchariília , &

cúncifaó naquelle tempo diz aíTim \§luod bonuejuSy era o remédio do peccado &qiiGdpulchrum ejus^ nifi original5ComohojeoBau- frumentum eleãorum >y ò*

tifmo. Pois fe S. loaó efta- ra livre do peccado ori- ginal, feeftava em graça de Deos, Sc fantifícado nas entranhas de Tua mãy,por- que fe fogeita ao rigor da circuncilaó ?■ Porque ain- da que a circuncifaó nam lhe tirava o peccado ori-

vtnum germimns^ Virgines? Quecoufa fez Deos boa, que coufa íqt. Deos fermo- faneíle mundo , íenaó o paó dos eícolhidos , & o vinho dos ca ílos*^ Quefe- jabom,& boniíllmo o fa- criíicio do corpo,&fanguc de Chrifto facramentado ,

ginal>dequc eílava livre, naó haverá quem o negue, acrecentavalhe a graça da Mas que diga o Profeta,

juftiíicaçaó com que naf- céra fantifícado. E eíla he nos fervos de Deos a maior fineza da virtude , fogeita- remfeatomar para aumê- ro da graça, os rigores que Deos deixou para remédio da culpa, A circuncifaó nos outros homens era re- médio da culpajem S.Ioaó era aumento da graçajÃ: fogeitarfe S. loáo par;^

que naó ha outro taóbom como elle : Sluodbonu ejiis^ & quodpulcbrujnejiístí^Tiò íci como o havemos nos de conceder. E para que nam vamos mais longe : o facri- ficio do corpo, &: fanguc de Chrifi-o na Cruz,nao he taò bom como o íacrifício do corpo , & fangue de Chriílo no Sacramento? Heo mefmo fu.ílancial me- te.

da mcfma

SJcdÕBautifídl te. Pois porque diz Zacha- ferénças > & riasr queo facrificio do igualdade yêcagens:^<?i corpo, ^ Tangue de Chri- honumejus^& quodfulchru. ílo no Sacra mento he me- W»x ? Tal foi o a£to da cir

Ihor que todos ? A razão da ventagem eu a darei.O facrificio do corpo, &fan- gue de Ghriílona Cruz,

cuncifaò do Bautiíla com- parada com a dos outro» alhos de Adam. O corpo ^ & farigue que os óucrog

foi facrificio para remédio deraó ao golpe da circua-

de peccado : o facrificio do cifaó para remédio da cui-

corpo, & fanguede Chri- pa,deo-o S. loa ó [que anão

fto no Sacramento , he fa- tiiíha ) para aumentos

crificio para aumento de da graça 5 & que fe facrifi-

graça. Ainda que em Chri- quehuminnocente, para

ílo naò havia peccados crecer na graça,ao que eílà

proprios,nê merecia graça para fy$ tinha com tudo to- mado porfua conta a fa- tisfaçaó de noífos pecca- dos, 6c os meyosdeneíTa juftificação. Equefacrifi- quetantoChriílo na Eu- chariília para au m ento da graça,quanto facrificoH na Cruz para remédio da cul-

fogeito o peccador para remediara culpa ! Grande acçáo doBautifta.Mas nao foi íua cila vez> nem fua fomente.

49(> Duas innoccncias temos hoje fogeitas aos re- médios da culpa -ambas condenadas ao rigor , ^ ambas ao habito da peni-

pa ! Qiie empenhe corpo , tencia 5 que taes injuíliças

& fangue para aumentar como eílas fabe fazer o

merecimentos iinnocen- amor divino. Condenain-^

cia, como empenhoucor^ aocencias como culpas,

|po,&: íangue para alcançar caftiga merecimentos co-

perdão ao peccado í He mo delitos. Que facão grã-

circunílancia de facrificio de penitencia os grandes

taò relevante íefta, ^ue da peccadores, he muito ju-

Mefmaidoãtidade tira dif- âo; que aipenitencia he re^;

Mmiiij m^à^i^^

mk

ff2 . SermaUe

medió do peccado. Mas uniaóao Verbo fua alma

queoBautifta fe defterrt não era impeccavel > As

ao deferto, fe condene ao mefmas palavras o dizem:

cilicio, fe caftigue com o ^ipeccatumnon noverat,

jejumiminino,emqucpec- Pois como pode caber de-

cou voíTa innocencia? Hu litona innocencia : como

corpo delicado condena- pòdefer, que o impecca-

do a tanta afpereza I Húa vel fe fízeíTe peccadorrPrí?

almainnocente caftigada nobispeccatumfecit > K^Ç-

com tanto rigor! Se o Bau- pondo. O impeccavel não

íiftaforao maior pccca- fe pôde fazer peccador de

Gor,que havia de fazer fc- culpas, mas pódefe fazer

namifto?Masifl:ofez,por- peccador de penas. Nani

quehavia de íer omaior pôde cometer peçcado

Santo. Não pôde chegar a quanto à culpa^ mas pôde-

mais o mais fervorofede- fe fogeitar à pena do pec-

fcjodafantidade, que fo- cado,comofe o cometera,

geitarfc aosremedios do Jílohe o que hz Chriílo

peccado , quem goza os poramordenòs.&ifí-ohc

o que muito encarece S. Paulo em feu amor : ^/ pi cc atum non noverat ^pr o nobispeccatumfecit. Nam pôde o amor chegar a ma- ior extremo, não íe pode

f ' .. f M

privilégios da innocencia. Encarece S.Paulo o amor deChriílo para os ho- niens5& diz defta maneira aos Corinthios; ^ipecca-

tum non noverat ipro nobis , ^^ ^^.^

€o^rtt. P^ccatumfectt. Amou o Fi- adelgaçar a maior fín^eza ,

lho de Deos tanto aos ho- que a fazerfe peccador nas

mens, que naó tendo co- penas,quemhe innocente

nhecimento de peccado^ nas culpas. Que o pecca-

fe fez peccador por. amor dor de culpas fe faça pec-

delles. Eftranha fen tença í cador depenas, bufca na

Chrifto naó era innocen- penitencia o remédio de

tiffimo, antes a mcfma in- feu peccado : mas f zcrfe

jwoceaeu ? Por ra^aó da peccador de penas o inno-

cento

S.loao <cnte de culpas , íie bufcar na penitencia o defafogo de feu amor. A penitencia no peccador paga , no in- nocente obriga: naquelle, pelo que oíFendeo , nefte, pelo que ama : vede quaes agradarão mais a Deos, fe as fatisfaçoerts de oíFendi- do , fe as obrigaçoens de amado ?

49/ O igualmête ama- do , que amante Senhor ! cófenti os termos da igual- dadejquantoentre o áivi- no5& humano fe permite, pois vemos hoje as finezas devoílb amor competi- das, como as dividas de noííà obrigação defempe- nhadas. Hua alma inno- cente de culpas, maspec- cadora de penas,hua inno- cencia em habito peniten- te vos oíFerece hoje a ter- ra,Eípofodo Ceoj qucef- Casfaó as cores de voíTb pcnfamento,eftas as galas de voílb amor,eftas as pur- puras do voíToReyno. F/- ha Babylonis induutur pur^ i^"«/«rd!,é' ^//í?>C dizia S.Ber- nardo em femelhante ac- jaõ à Virgem Sophia )

Bautifta. y^j

^fubinde confcientia pan" nofajacepfulgentmonilibusy . moribusfordent. E contra tu^forispannofa^ intusfpe- ciofarefplendes yfeddivinis afpeãibiis non humants : /'«- tuseftquod deleõfat , quia intuseftquem dekãat. Ne a romancear me atrevo ef- tas palavras , porque em tanta differença de elei- çoens, ou fe ha de topar co o aggravo,ou com a lifon- ja . E contra tu (^ò ifto que- ro repetir } foris pannofd , intus fpeciofa refplendes : Pelo contrario vòs,ô efpo- fadeChrifto( diz S. Ber- nardo } como dentro ten- des a quem quereis agra- dar, por dentro trazeis as galas : por fora Yç:íziàz de íayal , por dentro de ref- plandores : Foris pannofa y intus fpeciofa rtfplendes, Verdadeiram.ente,q quan-' do reparo neftas palavras> me parece que vejo íi- naes do dia do íuizo. Hum dos finaes do dia do luizo fera (^ como diz S, loaô Apocalypfe^ Ntíúií^ o Sol A^qs^;. de cilicio : Solfaãusefni- ^er tãquamfacfus cíUfinus»

Efejà veniós cilicio o Sol, fe mortifica- das fuás luzes , fe peniten- tes feus refplandoresj de- baixo da afpereza de taó groíTeiros ecclyples > que havemos de dizer ? Que fe acaba o mundo ? Que he chegado o dia do Juizo? Com muita propriedade fe pôde dizer aíllm j por- que melhor merece o no- me de dia do Juizo aquelle

Serfnaode veftido de penitencia o Sói, fendo in?

nocente, porque naó ha fa- criíicio mais fermofo aos olhos de Deos , que huma innocenciailluftreem ha- bito de penitencia.

498 Aquellas pélles de que Deos veftio aos pri- meiros fenhores do mun- do, eftavaólhe muito mal a Adaó,mas eílavaólhe mui*» to bem a Abel. A Adam eílavaólhe muito mal ,

em que o mundo fe deixa , porq erào habito de pec- que aquelle em que o mú- cado com penitencia, a A-

dofeacaba. Quanto mais, que também fe acaba o mundo para quem acaba comelie. Como cada hum de nòs tem o feu mundo, o univerfal acaba com to- dos, o particular acaba cada hum. E que muito, que fe vejaó finaes do dia do Juízo em húa alma pa- ra quem hoje fe acaba o mundo ! Mas perguntara eu ao Sol,porque fe veíle de penitencia? Por culpas.^ Náo i que o fez innocentc a natureza. Pois porque.^ Para os olhos do mundo por luto, para os olhos de

eftavaôlhe muito bem, f °*^ porque eraô habito depe- nitencia fem peccado : em Adáo eráo habito de peni- tenciado,em Abel eraó ha- bito de penitente. Eíia grande ditíerença ha entre a penitencia dos peccado- res, & a penitencia dos in* nocentesi que a penitencia dos peccadores he reme*- dioja penitencia dos inno- centcshe virtude. Nam quero dizer, que os ados depenitécia nopeccador, & no innocente naó fejáo virtuofos fempre. digo, que os peccadores tomáo

Deos por gala. Veítefe de a virtude da penitaicia pe

Í9

-^^

S.loaÕBautífta. SfS

lo que tem de remédio, os naó merecidos , 'quaes faó

innocentestomaóo remé- dio da penitencia pelo que tem de virtude. Donde fe fcgue.que a penitencia ho- ra os peccadores, os inno- centes honraò a peniten- cia. A penitencia honra os peccadores, porque lhe ti- ra a afronta do peccado,os innocentes honraò a peni- tencia, porque íhetiraó a itiiftura de remédio. Oh ditofòBautiíla^ô ditofa al- ma imitadora voílà ; am-

os dos innocentes. O me- recimento oífendido o pôde fatisfazer a innocen- ciacaftigada.Ohquegran- de facrificio para DeósíOh que grande lifonja para o Geo ! diíTe Chrifto^que Uc.íf, faz maior fefta o Ceo ao peccador penitente,que ac^ juílofem penitencia. Pois fea innocencia do jufta agrada muito, & a penitê- cia do peccador agrada mais i quanto agradará

bos em habito de peniten- aquelle excellen te eftado ,

tèsj bambos honradores que abraça a perfeição de

da penitencia.Ditofos vòs, ambos, & ajunta a p^nité-

que fazeis trofeos de vito- cia de peccador com a

m-

ria os inílru mentos do def- agravo, & gozais a prero- gâtiva de peniten tes,fem o defar de arrependidos. E m vòs he virtude , o que nos outros he remedío^em vòs eleição, o que nos outros neceííidade.Sò em vòs na6 he remédio do peccado a penitencia, fendo que a Voílapenitêcia poderá fer remédio do peccado. Por- que oífenfas não mereci- das, quaes faò as deDeos, , fe de dar nome aro mininoj» fe pagaò com caítigos & queriãoos circunftan-

nocencia dejufto.^Iílo he o que fez o Bautifta hoje na circunciíaó , fojeitando izençoens de innocencia a remédios de j>eccado : Et venerunt eircuncidere fue^ rum,

s.y-

4PP TI? Tvocaõa^i eum

gJàmmme patris

fui Zachariam. Feito o

aâ^o da circúcifaõ> tratou-

o

j^S^ Semaodâ "^"" "

tes , que fe lhe puzcíTc o vaíTea memoria dos pays

nome de feu pay, & que fe chamaíTe Zacharias. Gu- vioiftoS. Ifabel, ^ài^ç^:

no nome, quem profeílava o efquecimento dos pays na vida. Quereis que fc

Nequaquam, Por nenhum chame Zacharias, porque cafotnáofeha de chamar he nome de feu pay? Alie-

allim. E porque razão ? Porque não fe ha de cha- mar Zacharias o filho de Zacharias ? Não era nome fanto ? Não era nome illu- ftre? Não era nome autho- rizado? Não era nome glo- riofo ? Sim era, mas era no- me de pay ; l^ocahant eum nominepatrisfui, E o nome dos pays, quanto mais il- luftre,quanto mais glorio- fo, tanto menos o ha de to- mar quem profcíTa íèrvira Deos , como profeílava o Bautiíla. Nonomeperpc- tuafe a memoria dos pays : na Religião profeíTafe o prai.4^. efquecimento delles : Obli- "vifcere poptilum tuum , ^ domumpatristui.^ como o Bautifta havia de fer(^ co- mo foi } primeiro funda- dor,&: exemplar de Reli- giofos j não quiz prudente S.líabeijquetomaíreo no- me de Zacharias > porque não era juíto , que confcr-

gais contra vòs. Antes por- que he nome de feu pay, fenão ha de chamar aíllm ; Vocabant eum nomine pa* tris fui Zachariam , é' ait mater ejus: Nequaqua.Quc grandemente imitado, fe bem em parte excedido vemos hoje efte exemplo do grande Bautifta. S. Lu- cas,porque cfcrevia para a memoria dos futuros, de- tevefeneíle lugar em con- tar a genealogia dos pays de SJoaó ; eu que fallo aos olhos dos prefentes , nam mehe neceíTario determc em tãofabído, como tam- bém me não fora poílível em tão grandiofo aílump- to. Muito fez quem deixou o nome de Zacharias, au- thorizado aiíim com húa teara -, mas muito mais hz quem deixa o glonoíiíli- mo nome de Gufmáo(^glo- riolbnoCeo, & na terra ^ cujo Real , U efclarecido faji'

S.loao Bautifla. f^7

fangue fe teceo fempre nas de S.Marcos perguntou/e

purpuras de toda Europa; &hoje com mais gloria, que em nenhíi outro Rey- no( pofto que com igual mageílade em tantos ) o vemos felizmente coroa- do,&: veremos em immor- tal defcendencia , no noílb de Portugal. Eílehe o fa- moíiílimo eni todas as ida- des: o eminentiílimo em todas aspeíToas : o aííinala- diííimo em todas as em- prefas : o celebradiíllmo cm todas as hiftorias , no- .inede GufmáOj& eftehe íó que hoje vemos deixado pelo humilde da Cruz. Não íei fe admire nefta eleição o virtuofo, feo diC- pellat, He do Texto. Por creto. Emfim a virtude,8f que S. MatheOs diz aíTim :

bufcavãoajefu Nazareno ^^^ cmcí^<:3.do: lefum quaritis J'^' Nazaranu crucifixU. Pois fe oAnjo de S. Marcos cha- mou a Chriílo Jefu Naza- reno crucificado •, porque razão o Anjo de S. Ma- theos lhe chamou Jefu cru- cificado fomente, & nam fallou no Nazareno ? O melhor comentador dos E vangeliílaSi o dputifllma Maldonado, notou adver- tidamente, que o Anjo de S. Matheos apareceo co- mo Anjo, &o Anjo de S. Marcos apareceo como homem : Matthms Ang^e- lumy Marcus hominem af-

Matth.

O entendimento tudo me parece Angélico.

500 Quando os Anjos mo íèpulchro de Chrifto perguntarão às Marias o quebufcavaò , ufáráo de differentes termos (^ fegú- do diverfos Evangeliílas.) O Anjode S. Matheos per- guntou,fe bufcavâo a J eíii

Angelus i^úmmi defcendit de Caío^qui dixit mulieri' bus: Hum Anjo do Senhor deceodoCeo, quefallon às mulheres. ES. Marcos diz aíllm : Intr antes monu- mentum^ vid^runt juvenem jedentem: Entrando no fe- pulehro, viráohú mance- bo aíTentado. E como o

crucificado : lefum^qat cru- que fallou às Marias em S. cifixus efti qu/trms.O Anjo . Majccos^era homens ^, em

55*8 Sermão de

S. Matíieos eraAnjojpor mòuonomcda Cruz, &

iííb o de S. Marcos chamou a Chriílo Jcfu Nazareno crucifícadoj&odeS. Ma- theos chamoulhejefu cru- cificado fomente 5 & nam fallouno Nazareno. Ora notai. Entre o Nazareno, &o crucificado havia efta differençaem Chriílo5que o Nazareno era nome dos pays , o crucificado era nome da Cruz : & antepor o nome de Nazareno ao de crucificado, antepor o nome dos pays ao nome da Cruz, iíío fazem os An- jos, que faó como homés -, mas tomar o nome decru- cifícado, ôccallar o de Na- zareno, tomar o nome da Cruz,& deixar o nome dos pays, iíTo fazem ús Anjos,

'que faó como Anjos. O Anjodc S. Marcos, que

•fallou como homem da terra : Piderunt jwvenemfe- de?item: antepoz o nome dos pays ao nome da Cruz: leftnn quarítisNazaranum cYucifixíim. O Anjo de S. Matheos, que faJlou como Anjo do Ceo: Angelm ^o- mini defcendit de Calo : to-

deixouo nome dos pays: lejum ^qui crucifxas eft , qu^eritls .(ò\i difcriçaó mais que humana! Oh eleiçam verdadeiramente Angéli- ca ! Sei eu, que as Marias ouvirão os Anjos, mas nc- nhúa delias aprendeo a mudar o nome. Maria Magdalena naó fe chamou da Cruz , fenaó Magdale- na: Maria Cleofc nam fe chamou da Cruz, íenam Cleofé. Naó foubéraó dei- xar o nome dos pays,& to- mar o da Cruz aqucllas MariaSjporqueeftava cftc religioío primor guarda- do para outra, quenade- vaçaó havia de vencer as Marias , & na difcriçam igualar OS Anjos.

50 1 Mas aííimcomo em cafa de Zacharias fe le- vantou queílaó fobre o nome do Bautiíla ; allim hc bem que a tenhamos hoje aqui fobre eíle nome da Cruz. Quem contra- diílc o nome deJoaõ,foraó as peífoas mais authoriza- das,queafiiiHaó à celebri- dade da fclla: y^ vaierant t^ic^; cde^

ímt

S.JoaõBautlJla, ffp

celebritath grafia : comen- zçr , que naíp quer que ^

ta o Cardeal Toledo. Quõ aqui impugnará o nome da Cruz , fera cambe a peíToa mais authorizada,qalIifte à celebridade da feíla, que he,quem ? Chriílb facra- jnentado.EalIim como

nomefejada Gruz, fenam do Sacramento ? A razaó he muito forçofa. Porque profeíTar Keiigia6>mais he façram enÇârfe, que ç rucifi- carfe. Todos os Samtos co- mummente chMmaÔ cruz

diziaó,que nao fe havia ao eilado Religioíb : ; mas

chamar Joaó , fenaó Za charias : aíHm diz Chri- ílo, que nao fe, .hayia de chamar da:Giiuz> femaó dp Sacramento. ,Naó he imst;- ginaçaó fem fundamento minha , he acomodaçam verdadeira, tiradaa CO m: ' to- xia a propriedadejdô Te56- toi O nome que la querisp dar ao Bautiíta, era Zacha- rias. E Zaeharias que quer dizer ? Quer dizer ; Me- moTÍ<tT>ominh A memoria <io Senhor. I0b mefmohe o Santiílimo Sacramento daEuchariília. Hea me- moria do Senhor, que elle nos deixou .por prendais em fuaaufeneia : H^c qm>- .tiefiunque feçeritis yin memoriam facktis. Eftá fundado. Agora pergunto eu. E querazaó tem Chri- ôo ^cra,inçníado para úi-

com licença fua, eu digo, que o eftado Religiofo tem mais do Sacramento , que da Cruz. A razaò em que me fundo, tieeíla. For- que na Cruz morreo Chri- ftohúa fp vez -, no Sacra- mêto morre todos os ô^:3i^. Oxfacriíicio da Cruz foi .cniento^nias foi único j o facriíicio do Altar he in- cruento, mas he quotidia- no.

592 'A maipr fineza do amor he morrer \Maiorem If^'^ charitatemnemo hahet',m^s tem hum grande defarefta fineza,que quem a faz,nap pode fazer outra. He a jn^- iorfineza,mas he a ultima. E como Chdfto amam taó extremamente aos ho- mens , & via que morren- do na Cruz íe acabava a íiugferig A fua^ fínezas -, que fez?

«íf-

^mm

m

5<>o Sermão de

fez ? Inventou milagrofa- amor grande fe compara à

mente no Sacramento morte,&o maiorao Infer-

modo de morrer fem aca- bar,para morrendo poder dar a vidajôc não acabando poder repetir a morte. Efta -hea ventagem^que leva em Chriílo o amorjq nos moftrou no Sacramento, ao amor que nos moílrou . na Cruz. Na Cruz morreo húavez i no Sacramento moríecada dia : na Cruz deoaviday no Sacramen- to perpetuou a morte. A Efpofa 5 como quem me- lhoras fabeavaliar,nos di- rá a verdade deíla fineza: Fort is eft ut mors dikãio^ c^mxdurajicut infernus a mula- tio, O amor fe he grande [que iíTo quer dizer dí/e- ãio } he como a morte i & fe he maior Q que iíTo quer áiztTamulatio^hccomoo Inferno. Notável dizer! Porque razaõ compara Sa- lamaó o amor grande à morte, Sc o amor maior ao Inferno ^ Eu o direi. Entre a morte,6c o Inferno ha ef- ta diíferença, que a morte tira a vida, o Inferno per- petua a morte. Por iílb o

noj porque mais he per- petuar a morte, que tirar a vida: tirar a vida,he mor- rer húavez j perpetuar a morte, he eftar morrendo fempre. Eis aqui a deíi- gualdade do amor deChri- ftonaCruz , & no Sacra- mento. Competio o [amor de Chriílo no Sacram éto , ^&o amor de, Chriílo na Cruz •, o da Cruz foi como o da morte, porq chegou a tirar a vida : Fortis eíí ut mors dileãio j o do Sacra- mento foi como olnferno, porque paíTou a perpetuar a morte : ^Duraficut Infer- nus íemulatio^ muito mais foi perpetuar a morte, que tirar a vida j porque tirar a vidajhe morrer num inílá- te, perpetuar a morte, he morrer toda a vida.

5-03 Eis aqui a razaõ porqueoeílado Religiofo fe parece mais com o Sa- cramento, que a Cruz. Na Cruz morrefe húa vez, no Sacramento mor- refe cada dia. Sei que diíTc S. Agoílinho , que os Mv

S.loaoBautijia. 5^i

Martyrespagaôa Chrifto todos, S. Paulo : §luoUdie

a fineza que fez em fe dei- monor:Q'3.à'3L dia morro. De

xar no Sacramento , por- maneira , que aílim como

que morrem por quem Chrifto no Sacramêto in-

morre por d\es:^íacceííis ventou hum modo de mor-

ad menfamTrincipis debes rer fem acabar , para mor-

Jimiliapr^parare^ hoc beati rendo poder dar a vida , &

Martyresfecerunt. Mas ef- nam. acabado poder repe-

1^ ^^^^ ta razão de S. Agoftinho tir a morte ^ aílim os Patri-

"^'("dènos licença o lume da arcas das Religioens( &

Igreja 3 impugnafe fácil- melhor que todos o Sera-

mente.Porq muitas mor- fico em feu divino Inftitu-

tesnão fe pagaó com húa to } parecendolhe pouco

morte : Chrifto no Sa- amor não morrerjêc pouca cramento morre todos os di^asj os Martyres morrem húa vez: logo naó pagaó os Martyres a Chrifto no Sacramento. Pois que di- remos a ifto ? Digo que os Martyres pagaó a Chrifto na Cruz, os Religiofos pa- gão a Chrifto no Sacramê-

mortejmorrer húa vezj acháraó efte modo mila- grofamente natural de vi- ver morrêdo, para na mor- te multiplicarem as entre- gas da vidaj& na vida per-, petuarem os facrificios da morte.

504, Grande lugar do

to. Gs Martyres pagaó a Protopatriarca das Reli

Chrifto na Cruz 5 porque gioensS. Bafilio. Falia o

morrem húa vez, por quê grande Bafilio das ccllas

húa vez morreo por elles : dasReligioens maiseftrei-

os Religiofos pagão a tas,&: diz, que a cella de

Chrifto no Sacramento, huma Alma Religiofa he

porque morrem cada dia, emula, he competidora da

por quem morre por elles fcpultura de Chrifto:0 cel-

todos os dias. Ha quem o UDominicafepulturaamU"

diga ? Náo he menos Re- la ! Pois faibamos j que ca-

ligiofo,queo exemplar de lidades tem húa cella para Tom./. Nn tão

5^2 Sermão de

taó nobre competência ? te. Es húa fufpenfaó glo-

Em que prefumpçoens fe funda efta emulação ? Que fe compare a cella a qual-

riofa de morte, & vida (^fc bem gloriofa com pena} onde pofta a alma nas

querfepulturaj juftafeme- rayas do viver, & morrer, Ihança porque onde o ha- participa indecifamente o

bito hehúa mortalha, o leito hum ataúde , as pare- des taó eftreitas, ^ taó pouca luz, como eílas que vemos, muito ha de fepul- tura. Sepultura fim: mas fepulturanaó outra, fenão a de Chriílo 5 porque ra- zão? Porque nas outras fe- pulturasmorafó a morte 5 na fepultura de Chrilto morou a morte , & mais a vida juntas. Na fepultura de Chrifto eftevc a vida morta, & a morte refufci- tada : & taes faó as voíTas cellas, ò Religiofos efpiri- tos : O celía dominicitfefful' tur£ amula , qua mortuos

mais rigorofo de ambas; infenfivel , como morta , para o goftofo da vida : fenfitiva,como viva, para o penofo da morte. Em ti fevè multiplicado o mila- gre natural da Feniz , fen- do pátria , & fepulchro quotidiano, onde fe morre àvida,&fenarce à morte, faltando cinzas, mas nani faltando incêndios. Em ti, C& com maior proprieda- de hoje] fe verdadeira a metáfora dos orizontcs, fendo oriente , & occafo juntamente, onde o Sol no mefmoinrtante morto, & nafcido refufcita a hum

fufcipis^Ò' revivifierefacis. emisferio,quando fe fepul

Ò cella verdadeiramente ta a outro Emtifinalmé

imitadora da fepultura de te (^ com feres a melhor

Chrido , pois eítà em ti a parte do Piraifo^fe fem

vida morta, & a morte re- fufcitada : a vida morta, porque naó tem ufos a vi- da ', a morte refufcitada , porque tem alentos a mor-

fingimento a fabula do In- ferno, fendo cada Religio- fo efpirito hum Ticio em bemavéturan.^a depenas, que náo podendo morrer, para

S.loa^ para morrer mais vQzç;Sy tem morta a vida , 6c im- mortal a morte : Semperque renafcens nonperit^utpoffít fapeperire. Naó he muito, que achee;?. comparações no Inferno ao maior facri- ficio, quando no Inferno as bufcou a Alma Santa ao maior Sacramento. Dehú, & outro fe pôde dizer com grande femeihança : IDura ficut bifernus amulatio, E comooíacrifício da Reli- gião,por fer morte perpe- tuada, fe parece mais com o Sacrainento, quecom a Cruz •, fendo o oíficio dos nomes declarar a eíTencia das coufas •, parece q quem profeíTa Religião, nam fe deve chamar da Cruz, fe- naó do Sacra mento:^ri;<?- cahant eum nomine patris fui Zachariam^hoc ejiy me^ mor iam ^omini.

ff. VI.

50^ /^Om tudoref- V^ ponde S. Ifa- : Nequaquam: Por ne- nhum cafo. E com muita razáo. Porque ? Peia mef-

Baufiftã, í^3

ma,que o perfuadc. Porq feonomc do Sacramento diz tudo o que ha no eíla- do Religiofo,& o nome da Cruz diz menos, pelo mef- mo cafo fe deve tomar o nome da Cruz, Sc não o do Sacramento. Na eleiçam dos nomes ha húa grande diíFerença tomada dos fins porque fe elegem: os no- mes que fetomão por ver- dade dizem tudo,os que fe tomão por vaidade dizem mais, os que fe tomão por humildade dizem menos. Ecomo a mefma humil- dade,que defprezou a grá- deza dos nomes paternos , foi a que fez a eleiçam do nomeReligiofoj por iííò com difcreta improprie- dade efcolheo o nome di" minutivocja Cruz,emquc he mais o que fe calla^ que o que fe diz. Como refpon- do a Chriílo facramenta- do, com o mefmo nome do Sacramento quero confir- mar a rcpofta. O Sacramê- todo Altar chamafe cor- po, & fangue de Chriílo. Eííenome lhe deo o mef- mo Senhor : Hoc eji corpus Nn ij meum:

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5^4 Sermão de

meum : Hlc eft Cálix fan- mo paíía no noíTo cafo:

guinis mei. Pergunto : E ha no Sacramento mais algCia coufa PHaalma, & ha di- vindade. Pois fe no Sacra mento naó eílà corpOj& langue , fenão também al- ma, & divindade , porque fenão chama corpo, & al- ma5rangue , ^ divindade de Chriílo, fenão corpo, & fangue fomente ? Porque eíle nome deo-o Chriílo ao Sacramento na hora em que fe quiz moílrar mais humilde. A hora em que Chriíto fe mofírou mais humilde, foi a mefma em que inftituío o Sacramen- to de feu corpo, & íangue , difpondo aos Apoílolos a pureza do lavatório : & a fy com a humildade de lhe lavar os pès. E coUio Chri- fto poz o nome a efte my- ílerio com advertências de humilde, por iíTo declarou

que ainda q fenão tomou o nome ao Sacramento , fc- guiofelhe o exemplo. Dei- xaie o nome do Sacramen- to,porquediz mais,toma- fe o nome da Cruz,porquc diz menos ; que fe preza o verdadeiroamor , do que he,&nãodoque fignifíca. Baftelhe à Religião fcr Cruz ex vi verhorum^Tiuiá^ que feja muito mais per concomitantiam. Tão jufto foi logo deixarfe o nome de Zacharias quanto à íig- niíicaçáo, como quanto à realidade : Et fat mater ejus : Neqíiaquam.

§. VIL

505 A Caboufenosa /\Thcma5& fe me naó engano tenho pon- derado todas as clauíulas delle,com alsua femelhan-

fómenteomenosque nel- ça às obrigações deíle dia. le haviaj que os nomes,que Mas também vejo, que re-

compõem a humildadcjsê- precallãomais do que di- zem. O que diz, he corpo, & fangue i o que calla,he alma;^divindade.O mef-

parariaó os maiscuriofos, em que paíTei em filencio aqucllas palavras : Audíe* runt viciíú^ ò' cognati , ò* congratídabantur ci. Con- fcífo,

riiíiimi

msà

S:loaS fisíTo", íjueiiâo fallei neftas .palavras j & também con- feíTojqueas deixeijporque não achei nellas femelhan- ça/enáo muita difFerença do noíTo intento. Cognati^ (^ v/dm congraíulabafituT ei. no nafcimento do Bautiítadizo Evangelho, que os parentes, & os viíi- nhos eftavaó muito conte- res, & agradecidos [j porem cànaóheafílm. Tão fórà eftáo de poderem eftar c5- tentcs os viíinhosjôc os pa- rentes; que antes o pa- renterco,&: a vifinhança razaõ de eftar queixofos. Tem razão o parentefco de eftar queixofo, porque fe a fy deixado : tem ra- zão a vifmhança de eftar queixofa, porque osef^ tranhos preferidos. Quan*- do o Tangue fe deixado, porque naó ha de eftar queixofo o parentefco t E quando as Eftrangeiras fe vem preferidas ás natu- raes, porque não ha de ef- tar queixofa a vifinhança.? Não fe diga logo aqui ; Cognati^é' vícini congratu- hbanturei. Acudoaeftas ^ Tom./.

Bautijfa. f^f

duas queixas, & acabo.

5-07 Primeiramête di- go, que não tem razão o parentefco de eftar quei- xofo 5 porque quand© ás obrigaçoens do fangue fe deixaóporamorde Deos, não he fazer off^enfa, he fa- zer lifonja ao parentefco. Da parte de quem he dei- xado he facriíiciojinasda parte de quem deixa he li- fonja. Tudo provo. Hof- pcdou Martha a Chriftô em fua cafa, & tinha cfta fenhora húa irmãa,a querii o Texto chama Soror Ma- lhc; x\^\Ethuk erat Soror no- mine Maria : a qual fe reti- rou com Chrifto -, & aíTen- tada humilde a feuspès, o eftava ouvindo,&contem- plando. Chegou Marthà aoSenhor,&: diíTelhei^^?- mtne^nonefttibi cura^ quod Soror mea reliquit mefoiam minijirare? E bem Senhor, tanto vos defcuidais de mim, que naó vcd^s^ que minha irmâa me deixou .? Efta foi a hiftoria; duas fáó as minhas pondera- çoens. Digo que Martha na queixa que fez de Ma- Nniij ria

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ria oíFereceo hum grande porque a deixara

facrifícioaChriftoj&Ma- "' ' "

rianaoccaíiaójque deo à

queixa, deo hua grande ík-

tisfaçaó a Martha.

508 Difficulto aíTim. Chriílo naó foi o que cha- mou a Maria 3 Maria foi a

- Maria? Mas deites dous facrifícios qual he maiorj o de Maria, ou o de Martha > Eunam me atrevo a dar fentença neftacaufa. Sòdigo, que fe nefte lugar pregara S. chrri ^- „,.._. _ Pedro Chryfologo,havia que íe allentou a feuspès de dizer, que o facriíicio íagrados.Poisfeaoccaíiaó de Martha era maior que jufta.ouinjuíla da queixa ode Maria. Pergunta S. Gen

Pedro Chryfologo, quem * fez mais, fe Abraham em

a deo Maria , & não Chri floi porque propõe Mar- tha a fua queixa a Chrifto, & naó a Maria ? Porque Martha nefta acçaó nam pertendeo tanto dar quei- xas de Maria, quanto oíFe- recer facrifícios aChrifto. Como fe diíTera Martha r Não cuideis, Senhor, que Maria he a que faz as fí- nezas,que eu também vos ofíereço as minhas. Maria facrifíca fua devaçaó,eu fa- crifíco minha foledade :

facrificaralfaac j fe Ifaac em fe oíferecer ao facriíi- cio ?ílefolveq Abraham; & verdadeiramente tem a Efcritura por fua parte. Pois fe Ifaac era a vidbima, que havia de ficar niorto: fe Abraham era o Sacerdo- te,que havia de fícar vivo; como era, ou como podia fer, queofacrifício foíTe maior em Abraham , que em Ifaac ? A razão he eíta.

Rehjuit mefolam miniftra^ Porque Ifaac facrificava a re. Ella ofFerecevos o eftar fua peífoa, Abraham facri-

com vofco, eu ofFereçovos oeftarfemeila. De forte que em húa acçaó havia al- 3i dous facrifícios : hum de Maria,porquefc fora para Chriílo, outro de Marcha,

ficava a fua íòledade: Ifaac ofFereciafe a fícar fem vi- da, Abraham offereciafe a ficar fem Ifaac. E fegundo o muito q Abraham ama- va aqucllcfíJho, maior fa*. crifício

S.Joa^ crifício fazia em o dar a el- lc,queelleeinre dará fy. Bem digo eu logo, que foi grande íacrificio^o q Mar- tha offereceo a Chrifto en- tre fuás queixas, pois lhe facriíicou não menos que a foledade de Maria: Reli- quit me filam minijir are.

cop E que Maria na mefma occafião, que deo à queixa,deo húa grande fa- tisfaçáo a Martha , não ha duvida. Porque ? Porque deixar Maria a Martha náo por amor de outre, fe- náo por eílar com Chrifto, foi dizerlhe claramente: que fazia tão grande efti- maçãodeíiaa companhia, que por Deos a podéra deixar, & fócom Deos a podia fuprir. Vendo os fi- lhos de Ifrael, que havia quarenta dias, que faltava Moyfes,por cftar fechado com Deos, determinarão abalar dope do monte, & irfe.Foraófeter c5 Araó, & diíTeraó allim : Fac nohis Exod. ^eos ^ qui nos fracedann gi. * Moyfienimhmc vira nefi'i-- mus quid acciderit \ Araó, fa^einQS hum Deos, q nos

Bautíjfa. s^7

acompanhei porque na m íabemos que feito he deftc homem Moyfes. Linda çó- fequenciapor certo! Daí hum Deos, porque falta Moyfes. Moyfes nam era homem .<* Elles mefmos o dizião : Moyfienim httic vi-- ro. Poisfe Moyfes era ho- mem,porque pediam hum Deos em falta de Moyfes ? Porque haprefenças, que por Deos fe podem dei- xar i &c ha aufencias>quefó Deos fe podem fuprir. Gomo os Hebreos amavão tanto ao feu Moyfes, & fe vião forçados ao deixar, faziaó efte difcurfo. que fe ha de deixar Moyfes, por hum Deos fe ha de dei- xar j&jà que fe ha de fuprir com outrem o feu lugar, com hum Deos fe ha de fu- prir. Por iílb pedião a A- raó hum Deos, 6c não ou- tro fubftituto daquellaau- fencia: Fac nobis T>eos^qui\ nospr£cedant. Efta fatisfa- çaóderap os Ifraelitas a Moyfes, quando o queriaó deixaria efta foi a fatisfa- çaó,que deo Maria a fua ir- mãa 5 quando a deixou,, Nniiii Dei-

I

f68

Sermão de

Deixou de cftar comella, mas por eftar com Deos : ^iuaetiam fedefis fecus fe- (íes T>07nini. Naó tem logo razão o parentefco hoje de fe moílrar fentido,ou quei- xofo, fenáo contente , & agradecido : Cognati con- gratiilabanturei.

fio Et audierunt vici'- ni. Também fenam deve queixar a viíinhança de ver as Eílrangeiras prefe- ridas às naturaes. Eporq? Porque húaaima, que por mais fervir a Deos quiz ajuntar a claufura com a peregrinação , neceíTaria- mente ouve de deixar os naturaes5&: bufcar os Ef- trangeiros. Húa das couías que muito agradou fempre a Deos em feus fervos, foi a Gen?T2. peregrinação. Por iíTomá- l'^l]l doua Abraham, quefahif- fe peregrino de fua pátria: poriílo quiz que peregri- naffe Jacob em Mefopota- miaJofephnoEgypto; & mefmo povo querido de Ifrael , porque o efco- Iheo para fyjO fez peregri- nar inteiro tantas vczes,6c por tantos annos. E como

Deosfe agrada tanto dos peregrinos C^^e também ^^^^th, o quiz fer nefte mundo 3 ^ que faria húa alma defejo- fa de agradar muito a Deos,vendofe obrigada à claufura pelo feu eftado,8c inclinada à peregrinaçam pelo gofto divino ? Pere- grinação, & claufura nain podem eílar juntas ; pois que remédio ? O remédio foijcntrandoem Religião, efcoiherhumMofteiro de Eftrangeiras ; para q vieíTe deíla maneira a achar jun- tas a claufura, & a peregri- nação : a claufura no lugar, aperegrmaçaó na compa^ nhia. Quem cuidaria , que era poílivel eílar juntamê- te em Portugal, &: peregri- nareniFlandes? Pois iíIq hc o que vemos hoje cora noífos olhos.

fii Falia David da, peregrinação dos lilhos de Ifrael para Paleílina,^ diz aílim: Cum exiret de terra^?íL\.^^ ç^yE^yptiy lingnam qna non noverat audi^it'. Quando o Povo fahio do Egypto,ou- vioalingua,qucna6 ente» dia. Particular moao de re-; parar \

««M

S.loao parar! Se David pondera- va a peregrinaçáo dos IC- raelitas, parece que havia de dizer, que paftaraó cli- mas incognicos, que cami- nharão terras desconheci- das. Pois porque naó repa- ra nas terras, fenaó nas lin- guas ? Porque naó diz, que andáraó por terras eílra- nhas, fenáo que ouviram Jinguas eílrangciras ? Por- que julgou difcretamente o Profeta, que a formalida- de da peregrinação nao çó-» fiftia tanto na mudança dos kigares, quanto na dif- ferençadas linguas. Nam efl:à o fer peregrino na ef* tranhcza das terras que fe caminhão, fenam na eílra- nheza da gente com que fe trata : Cum extret de terra t^ígyptiilifiguam qua non noverataudivit. Sahir do Egypto para onde fe ouve outralinguajiíTo he pere- grinar. K fe he verdadeiro peregrinar o viver entre gente de lingua eftranha , bem digo eu, que fe viraó aqui juntas milagrofamê- te a claufura , & a peregri- nação ; a claufura no lugar,

Buutifla. ^6c^

a peregrinação na compa- nhia. Naó deve logo de ef? tar queixofa a viíinhança j pofl-o que a queixa parecia juftiíicada j antes obri- gação as Religiofas Portu*- guezas de fe èdiíicaremj & alegrarem muito de verem (^ fobre hum táo grande exemplo 3 hum tão novo, & particular efpirito na proíiífaó de feu eftadojtro-. cando as apparencias do fentimenío em motivos de parabensi Vicini congéatu^ labantur ei.

fij Temos acabado a Sermaó,& com eile as Vi- (florias do Impoííivel , quo aílim fe chama. Doulheef-í te nomejnão por fer Ser<^ mão do Nafcimento do Bautifta, com o qual pro- vou o Anjo, que nada era impoííivel a Deos : ^i/a ^"c»^^ non erit impoffibile apud T^eum omne ver bum s íenão por fer Sermão defta pro- fiíTaó foi emniííí ma, que ce- lebramos, na qualíem ha- ver reparado , deixo pro- vados fcis impoííiveis. No nafcimento do Bautifta venceofehum impoííivel, ^ue

570

Sermão Je

que foi ajuntarfe eílerili- dade com parto : Elifabeth feperitfilium. No aáo de- fta profifTaó vencéraófe féis impoíliveis , que foraó os que ordenadamente vi- mos em Ç^^s difcurfos. No primeiro,ajuntarfe a Cor- te com o deferto. No fe- gundoa mocidade com o defengano. No terceiro a grandeza com o defprezo. No quarto a innocencia comocaftigo. No quinto a vida com a morte. No fextoaclaufura coma pe- regrinação. Efeisimpoíli- veis vencidos na terra,que devem efperar, fenaô lú.s coroas ganhadas no Ceo? Darvos-hano CeOjErpofa fereniíTimade Chrifto , a Corte com o deferto hua coroa de folitaria entre o Coro dos Eremitas. A mo-

cidade com o dcíengano húa coroa de prudente en- tre o Coro dos Doutores. A grandeza com o defpre- zo hua coroa de humilde entre o Coro dos Apofto» los. A innocencia com o caíligo hua coroa de peni- tente entre o Coro dos ConfeíTores. A vida com a morte húa coroa de mor- tificada entre o Coro dos Martyres. Aclaufuracom a peregrinação húa coroa de peregrina entre o Coro das Virgens. Aílim triun* fa^quem aílim vence: aífim alcança, quem aílim mere- ce : aílim goza , quem aííim trabalha:aílim reynajquem aílim ferve : neíía vida a Deos por graça ; na outra vida com Deos por gloria: §iuam mihh & vobisy &c»

EINIS.

I N-

ââiiâi ààààààààààààà' àààààààà

ffffffffffff:fffffffffifffff

I ND EX

Dos Lugares da Sagrada Eícíkura.

OsNumeroSyfígrííficãoasTagmasy&asC&/ums.

ExLib.GeneC Cap. I . V. I. T A* principio creavit Deus J C^lãj (S t erram, pag. 5 x y, col.i. v.l.Terra autem erat inanis,^ vacuAy pag.rLiG.col.i.^Sp.âpf^.coLi. , Voiá. Et fpiritm Domini ferebatítr fn» per aquas^pag.á^li^xol,!. v.^i^. Fiat Ihx, E.faãa efi lux, pag. 62. col.i.

«'.4. E: vidit Deus Incem qmd ejfèt bo" \^ }ia,pag.6z.ço/. I.

'Verf.i^l .Benedíxitífue ei<;p Ç}C).coL l. ,■ Ibiá.Crejate^O' mfíltipiieammi,p. ^. coli.

V. 24. Sccmdumfp^ciesfHas , fag. 59, col.i.

^ f . i6. Faciamus hominem ad imagi- nem , Ç^ ftmilitPídmem noflram : &

, praJttpifcibHs maris.ZSc.pag.xz/^.c.í. injin.&fic^i^.p,^ g I .Í-.2. ífi fin.^feqq. ^p'^7y. coLx. 'infin.^feqq,

C>2.^.x.Y .z. R-qiiievit diefiptimo ah uni-

verfi opere quodpatrarat^p.'^ i ç.e. i . s-',^. Ab omm opere [m qmd crcfívit

Deus,utfa€eret,pag, ^19 xol. i ." V. ij.rt operaretnr^^ cufiodiretillum^^

pag.â^iyO.col.iànjin. V. x^.Erpim dm in carne f^naypagx^f,

coli.. Gúp.'^,v.^.Nequaquam morte mor temi»

m,pag.'z6^col.x.& fiqq. v.^.Et eritisficHt Dij^p. 194. cal. x. ift

finp.z6^.c.%.^p.'^^o.c.2.inprinc, Í/.9. Adam, ubi es ? pagxi.eol.i.. V.Z I . Fecit quoque Dominas Deus A-

díe,& uxori ejus túnicas pelUceasy ^

induit eos,pag.f^/\..col.t. v.xz.Nefortefumatetiam de ligno vi»

ta, ^ vivai in aiernum^pag. xf^.çoi^

v.ij!^.Coílocavit ante Tara^fumChs»

rHbim,& flammeumgladium ad ett^

' fiodiendi^é, m vii^m ligm vit<s;,pag. x^Q»

Col.X.

Gap.6. V.4. Gigantes autem eram fuper

terram^p.^.col.x. V.14, Fac tibt Arcam de- lignis kviga»

tis,pag.'í^i'i.col.x. l^i^úMatiffíncHlaiin Ana fácies ,

51^

Index cios

bituminc fivics intrinfe^Hs j O extrin- fecffs, pa^.^ 1 i.çol.tr^ ' ■" " ^ '"' v.i^. Et Jic fácies eam, pag. g iz.col.z. - ^.ZO..ytpo]fint vivere,p.'^i'2^.c9l.i. Cap. 1 1 . v.í^.CelebremPis nomen noflrum , ^ antequíim àividamur^ p.'^i'^.coí.i. Cap.ii.v. I. Dixit antem JDominus ad Abram : Egreàere de terra tua^ i3c. p. 5^68 cqI. I . Cap. 14.V. I ^.MelchiÇedech proferem pd' nem ( era,t enim Sacerdos Dei altijfi- mi, ) pag.z^i.col.z. C^p.i^.v.z.C^ g. Ego vadam abfcjue li- beris : ^ , Eliex^er vernaculus meus ,, haresmeHserit,p.'^'j^.col.z. Cap. i^.Y..'L.4pparnerftnt eitres viri^a^. . , 91.C-0/.I. - ,

"V.io.Revcrtensveniamad te tempore ifloy vila comité ^& habeb.tt filtfim Sa- ' 'ra Hxoriua^pag.^i .col.z.Ç5 feq. . \V, 14. Juxta condigam reverter ad te hoc eodem tempore^vita comité, p. 91. L. col.z.mfin.CSfi<l. Cap. i^.v.râp.DommHSpluitffiper Soda- mamfiílphur,& igriem à Dommo de Calo,púg.^O:\..col.z. Cap. i I .V. 10. Ejíce ancilkm , :^ fUifir» cJHs: non emmerit haresfilim.analla CHmfiliomeo/faaCyp.O^yy.c.Z-tnf». C^\-).zz.v.Z.(^fe^^ToUefltfim tuum fim- gcnitum, ^uem dtligts, Ifaac, de. pag, ^GG.coL.T.. i-.iS. Benedicemur in fentine tuo om-^ nesMg.^6.coL%.p.ç)J .col.x. (Sp.ioi, col.z. Cap. 2 •'. V. í^4. Parvipcndem ^uodprimO'

íTrnita'vnidídíJ[et,p.^97 -col.z. Cap- 2.9. V. I Profcãuscrgo lacob vcnn m

taram oncntaUm.p .'^G^.coLi. C^^.7;7.v.iXiinmmpoljmu^,p.3i.$^

, V. 1 8. Cogltaveríifít iUum eç^id^re^pag.

^i^.ccl.i. '; ' '"^ :

v.i^.Ecce fomniator venit : venite, oc

cidamtis epim,pag.%zxol. 1 . infin.

Cap.g8.v.27. . KnHsprõtHlU mannm , itk

qua obfietrix Ugavit coccinam , pag.

-• -■ : -ijj.eol.z.

Ibid Ifie egredietur prioTy pag.zi^.c. li Cap.59.v.i. Igitur lofiph dftãus efi in

zj£gypt!'í7njdc.pag.^G^.col. i .

C^p.^i.y.^.Exp/oraíoresefiiSip.jT^.c.z.

Cap. 48. V. 7. Aííhi enim cjuàndo venie^

bam de Afefipotamia^ ^c.p.f^ 1 .c-Z.

Cap.49. V. ^. 6c 4. Rnben prtmogtnttus

mem^c. non crefcas,p. 101.C.1.& 2#

V.^.Catfilfis Leonis /f(da,pag. ^^.col.i,

infin, Ihiá. Re<jMÍi^fi-ens acmbffifii nt Leo,p\ 98.6-0/. I. «í^W. I àf-Ifachar Aftnftsfortis, pagi/^^.i.z.

inprinc.& p.çS.coLi. v.i y.Fíat Dan Coluber in via, p^^-4.^. col. I .infin .^ p.^ ^'Col. i . v.z I .Ncphthalí CervHs ^mij[fií,p.^^.c,

I .infin.& pag.^S.col. 1 . V.ZZ' Filius accrefccns lofeph ,filÍHS «í-- crefcens,pag. i o i .col. i .tnprtnc.& c. z. C^ pag./^i6.col.z. V.zi .Benjamin Lúpus rapax,p.'\^.^.l» infin.(S p.g^.col.i.

ExL.ibr.Exodi. Cap.^.v.:^. Fad.im, & vidcbd vi/micnt hanc magnam.p.ii^Oi.col. i Mfin.d p, á^ç)<).col.i.tnfin.^fc!j. 'y.^.Cemens íjkod pager et ad vidctídu^

vocavU enm.p.-xp 1 xol.z .m pnnc. <u.i^.Loci4S entfn tn que fias, terrafanFlA

eft, p. 1^0 \. col.z, 1.^. Deficndt u( Hbsrem mm^pag.^o i ,

Ca|?,

Lugares da Sagra

Ç3p,4.V.24. Cum<^ue ejfetin itinere.in di~ verforío^occurnt ei DominHSy ^ vole- kit occidere eum^p. 1 6 1 .c.l.infin. V. t^.SponJfí ifanguintim tu mihi es,p ^g.

i6'^.col.iJnpnnc. vx6. Et àimijit eHm,pag. 1 6'2^.co!.i.

Qà^.^y .z\.Grandoy & ignis mifia pari' terferebantHr,p.í^(^^.col.\.

Cap. 1 2.V.29. Faiium ejl ^amem in noBis médio, per CHJfit Dominus omneprinta^- genitnmin terra t/^gypti,p. 190.C.1.

Cap. 9 .V. I G.Et ecce caperum audiri to- nitrua,^ micare fulgura^ pag.^jS.c.

V. 1 8. Totm amem mons Sinai fuma- hat : 60 qmd dejcendijfet Dominu-s fi- per eum in igne^p.^jG.col. 1 .

Cíip.23. V. 1 5:. Non apparebisin conJpeBtt meo vacHHs^pag.ijG.coLz.

Cap. 5 1 . V. I . Fac nobis Deos, qtii nospr^' cedam : Aíoyftenim hmc viro ignora- mmcjíiid accídentjp.^Sy.col. i.infin.

'V. 1 t.Ns <^Hdífo dicant zy£gyptijp. i ai.

col.i. * V. 5 r. C? g i. Am dimitte eis hanc no- xam\aHtf%nonfacis^deUms deli. bro tm^cjíiemfcnpfiiii^p.^fj, c.i. Gap.3g.v. i^. luvemfii grattam coram me^^ag.^ycoL.í. í/. I g. Si ergo ínveni gratiam in confie^ ãu tuo, ojíende mihifaciem tuam^ ut [ciam te , ^ inveniam gtatiam ante óculos tms\,pag.'^%'^.col.z. ^ fiqq. (3 pag.^xG.col.i.

Ex LibnLevíticí. Cap.6,v.i2. Tgnis in altarifemper arde-

bit^pag,'!.'^ r.. col. i jn fin.& coL 2. Cap. 16. V, t, Ne ingredtaiur SatiBua- rÍHm,qmdcfl mira vdum^ mfi hu

daEfcritura. 57^

amgfecerity pagl^^^.eol. lànf.a. Úp, XJi^.col. I . V. 7. P^itulmn pro peccato ojferct, & arie-

temin holocauflum^p .i^^ii^.c . i .mfin. v.i\.& I^. Hisrite celebratis^ &c. ul- tra, vdmninirabitit; Sanãa,p, 25'g.í'. i.mfin. £x Libr.Deuteronornij. Cap.^.v.i^,. Deus tuus ignis conjumens efl,pag.^'j6.coL2.. v.'^6.AHdijliverba illin$ de medío ig- gnis,pag. 4.7 6. col. 2. Cap, 1 7. V. ( f. Nonpoteris akerius gen tis homine Regem facere^qut nonjjtfrater tuHS\pag.'x^!^%.col.\. Cap. 18. V .it.Hochabebisjigntim : Quoi Prophetapradixerit, &' non evenertt : hoc Dominus noncfi locutus^pag. 1 1^, coL\. Cap.29.v.Z3. SHÍphure, & SoUs ardor e comburens , in exemplam fubverjionis Sodoma^pag.^o^.col.i. Cap.^2. v.^4.iVô««^ hjíc coditafint apt-íd me,(3fignatain íbejoaris meisf pag, iy.col.i.in me d. v.'^^.Mea ejl ultio, & ego retribuam eis in tempore ,pag. 1 7 .col. i . in med. Cap.33.v.i9. Inundaíionem marisqMoJi lacfugent , ^ thefauros abfcondttos arenarum ,pag. 4 74. eol.z in princ. Ex I..ibr.Iofue. Cap. 7. V, 9. Quid fácies magno nomim tuQ?pag. i^i.col.j.

ExLibr. lucltcum. Cap.^.v.^.Niinfuid pojj/tm deferere pin- guedinem meam, (3 venire , Pit inter ítgnapromovear} pag.'^^'j.c.^. v.iz^Veni^& VíKpcra nobis,p.'^â^J.e.7. v.iâ^.Feni^^ impera fiiper nos,p-. 548. çcl.j,

"^r 15*,

fJ

574

Index dos

v.í^. Sivere me Regem vobis confli^ tnitis^ venite , &fih umbra mea re- tjuiefcite :Jiautem non vultis^egredia- wr ignis de rloamno^\í devoret Cedros Lihaniyfag, 548.CÍ?/. i .

Gap. 14. V. 1 2. Proponam vobis problema, pag. 1 y^.col.z.

Cap.ió.v.iy. Qmmodo dicis ejuod amas me ? Per três vices menWfis es mihi,p.

Ex Libr.i.Regum. Cap.i.v. lg. zy£fiimavit eam temí^len-

tam^dixitqm ei : VfqHequo ébria eris?

pag.ji.vol.i. Cap.2.v. I o. Dominam formidabum ad-

verjàrij ejí4s,fuperipfos in CahstonA'

bít^pag.^HS.col. I. Cap.g V.12. (^fiqq. In dte ilUJufcitabo

adverpAm HeU,^c.p. 5*4 1 .c. i . ■C^^.^.Confiitue nobis Regem.pcm Ç3 uni-

verjk habent nationes,p . 7^ ip coL i , Q'A^.\ ^ .V .^p.Peccavi :fed honora me co-

ramfmiortbpu populi mei , ^ coram

Ipael^pag. 1 '^^.col.z.&feq. Cap. 16.V.7. Homo videt ea, qudeparent ,

Dominus autem inmeíur cor, pag.6^.

CO Li. V. i^.Fídifiliíim Ifii fcientempfallere ,

k3 fortijjimum robore, (3 virum belli-

cofíimJS prudemem m verbis, & vi-

rumptilcbrum ; ^ Dominus efi cum

eo,p.^ 11. col.i. Cap. 1 7. v.4.^.^ fe<^:j. Et egrejfíís efi vir fpurii^s de caft-rísPhilifihinornm,nomi'

ne Coita h, de Geth, altitadtmsfix cft'

biíor;im,^ p^lmi , ^cpag.^/^y.col.z.

inprmc. Cap. i8.v,4. Expoliavitfe Ionath.ts tú- nica ejua erat mdfítus, ^ dedtt eam

DAV:d,p.i^'íí^.col.z.tfjfih

V. 7. PercuJJit Saulmille, ^ David de

cem millia,pag.6j .col.i, Cap.2i . V. 1 1 . PercHJjit Sanlmille^íS Da-

vid decem mtllia,p . 5- 1 ixol.i. V. 12. Poptít David [ermones tfios in

cordefro , ÇS extimmt valde a fac e

Achis Regis,p.^ i t.col.x. Cap.2i .z/. i .Abtjt ergo Davtd inde,Ç^ffi'

gtt ínfpelnncam Odollam^p.^ il.c.z. Cap. 28. V. 1 5-. J i i xta Tex c. Hcbr. jQtta-

re tncfuietafti me, m afcendenm ? pag.

ZlS.col.l.

Ex Libr.2.Regum. Cap. 12.V. I ^.Peccaviypag. 1 55". col. i. #'»

princ.&fetjíjl. Ibid. Dominus quoque tranfiulit pecca-

tum tH(4m,p. I "^^.col. I . Cap. 1 4. V. 14. Omnesmorimur , (3 cjHaJi

aijHa dílabimur,p.z^.col. i . v.zó.Et quando tondebat capillum, ^c.

p^.$^i. col.i.in prmc. Cap, 1 7.v.2:^. Vtdens cjHodnonfuijfet fa-

ãnm conJilÍHmffium,pag.^zo. col. 2.

&feqq. Ibid. Ãbijt in domum fuam:^ dijpo/tta

domo fiia^fiffpendio interijt,pag. ^zoc.

I .^fecjq. Ibid. Et fepHhusefi infepulchro patris

Jfíi^p.^xo.col. I. Cap.ip.v, gf. ^56. Oãogenarius fum

hodie : ÇSc. non indigeo hac viciJJitHdi-

n\pag.tç^Z.col.i. V ; j.Efifervus tuHs Chamaam.ipfe va-

dat tecum^pag.^i^r.col. i . Cap.22.v.8.9.io.;:^. <S feqq. CommotA

#/?,0í contremuit terra : fmdamenta

monti.m conctfjfa f:nt^ Õ concjuajja-

ta,c]íioniam mitus efi eis. Afcenditfft»

mas de naubfis ejui , ^c.f^ig. 488.<-.

i.infin.^fcqq.

EM

Lugares da Sagrada Efcritura.

v.^i. Cribrans aquas de nubibus Ca^ lorHm^pag.^ ; .col.ian princ. Cap.i^.v.S. Hac nominafortium Da-, z'iJ,pa^.^^ j.col.z. Ibid.Davídfidem in c athedra fapien^ úljimm Princeps inter tres,ipfe efi qua- ji tenerrimm Itgni vermtculus , qni oãingemos inter fecit impetn uno^pag. ^0)^X01.2..^ feqq.

ExLib.g.Regum, Cap. 1 1. V.50. PalliuntfuHnt novHm,pag. 103.C0/.1. í/.ç^i. Ecce ego fcindanj- Regnum de mann Salomonis, ^ dabo tibi decem Tribns^pag. i o^.col.^anprinc. Cap, 1 7. V. I . P^tvit Dominíís,in cujus conf- peã!*[h),Jí erit ros, ^plfívia. p. i o jr. coL I . Cap.i8.v.24.. Deffs, qffi exmdierit per

ígngm,pag.^y6.col%. Cap. 29. V. 14. Zelo z.elatusptmpro Do' mino Deo exerciiuumy k3c. & dereli- UusÇnm ego folus^pag.ioi.c.^. V. 1 8. Derelinquam mihi in Tfraelfip' tem millia virorum , quorum genua nonJuntincHrvataanteBaaly p. 102. €ol.z. Câp.zi.v.z Hortumolerum,p.^^o.c.i. í/.if. Fenundatus efi, ut faceret ma- lum,pag I 'ip^.col I . Q'^'^.xi.y ."S^. Anignoratis quod noflrafit Ramoth Galaad, & negligimus tollere eam de m^nu Regts Sp ^e? p.\ 09.^.2. «z/.ó. Congregavit Rex Ifrael Prophe^ tas, cjuad ingentos cirúter viros ,pag. 109.C0/.2. Ibii Iredebeo in Ramoth GaUad ad

belUndum^an cjuisfcere? p . 1 09. í-. 2 . Vdià.Afcende^ ^ dabit eam Dominus mmanHtua,pag.iio.c.i.

v.S, Remanjtt vif Hnus: fed ego odi eum^

quianon prophetat mthi bonum yfeâ

inalum,pag. 1 1 o col. V. 1 3 . Stt [ermo tuus fimilis eorUm , (3

loquere bcna, pag. 1 1 o.col.z-in princ. 1'. 14. Vivit Domm^Siquía quodcuncjue

dixerit mihi Domm^Sy hocloquar^ p.

IlO.Col.2.

Ex Libr.4.Regum. Cap.i.v. 11. Homo Dei, hac dicit Rex 1 Feftina, defiende, pag.^01 .cz. v.lt. SihomoDei egofum^ dejcetidaí ignis de Calo,Ç3 devorei te^ & quin* quaginta tuosypag.joi.c.í.&fejq. Cap.2. V. 1 1 .Et ecce currus igneus^& equi ignei diviferunt utrnmque.p. joi .cl* Cap.4.v. yVafa vácua non pauca,p.i'j6.

col.i. Cap. 5'.v. 7. ánimadvertite^ ^videte^ quod occaftones quarat advetfum me, pag, yi.coLidnfin. Cap.20. V.9. Kis ut afiendat umbra decem lineisy an ut revertatur totidem gradi- bus ? pag.zo/^.coi. I V. i o.Factle efi umbram cr encere decem lineis: nec hoc volo ut fiat ,fèd ut re - vertamr reirorjum decem gradibus^ pag. to^.col.x.

Ex Libr. I . Paralipomenon. Cap.xo.v. I . Eo tempore.^ quofolent Reges ad bella proceder e ,p.izy .çol. 1 . ExLibr.Tobiç. Q^>.^ .v.i6.Rogo te, indica mihiyde qua domaram de qua tribu es tu? p.^o.c. i. V. I H.Ego fum Azoarias Anania magni filÍHs.ipãg.i:)C .c. 1 .& pag.^z.e.l. Ex Libr.Eíther. Cap. 7. V. 8. Etidm Reginamvuh oppri>- inere,weprafent€yin àomomea^ pag, yi.coLi..

Ex

. ::'-^»»*i«pi

•^16

ExLibr.Tob.

Çap.^.V.l^.C^ lâf.EtriHnc requiefcerem ctim Regibtis,^ Confulibus , qui aãt- ficmtJlbifolítíidmeSip .^-^J.col. i.(S

V. I o. Si bonafHfcepimus de manu Deiy mala quare nen frfcipiamus ? fog.^^ col.z. dap.'r.v.'2. 5/'í'<!5' egohabm n7enfes va-

Index do9

CfíOS.p.

''d.X

y^.coi.i.

v.S. Nec afpiaet me vipis hominis, pag.

ij^.col.i. Cap. IO. V.6.FÍ qtíízras iniquit atem. meã ^

^ peccatum meum firmeris ? p . z^.c.

l.inprinc. v.j. Et feias cjuia nthil impiumfecerim^

pag.i^.c.\.^ 1. Cap, ig.v.xj. Contra folium, qmàvento

rapittiyjftendispotmtiam tnam ,pag.

5 i^.col.t,in fin.CSfiq. V.Z7. Obfervafli omnes [emitas meãs, ^ : vc-flio^apedirnimeorum corfiderafii,

pag.zf.coLi.infin. Ibia. Secundúm Septiiaginta. Et

r adices peànm meortim conjiderafii ^

pag.iú.col.i. Cap.i4.v.2. EtnnnqHtmin eodemflatu

permanet,pag.ix.coLi.in med. Cap.:^8.v.22.0' xi.Ny^nqmd ingrejp^s es

thefiifiros nivis, ant thefauros grandi

nisvidifti\ ciua;pr^paravi in tempfis

hofiís^ in dicmpHgn&^^ belU ? /'.47 5. 1;,;^ íol.i.infin.Z^y feqq. >J».:^f ISJHncjíiidmittes fulgura^Ç^ ibíit :

Ô' revertentia aicent ttbt : Adfamus ?

pag.\%c.col.i.^ X. Cap, I 7.V. 1 1 . Dtes mei tranfierimt , cogi^

, tationes meee dijfipatxfiwt, torquentes

cor meum^ p.^;J .col.x.in fm.^feqq. . ' -^.15. SífitjlmHçro^tnferpHs dçmus mca

jeqq. V. I ,\..PHtrediyn dixi : Pater meus es : Marermea, Z^firormea vermíbus^ pag.^ S.col.Z. Ú feqq. Cap.^7.v.5'. Tonabit Deus in vocefua^p.

í\.C)l.C0l.l.

Ex Libr.Pfalmorum. Pfalm. I .V. I .Beatus vir,pag.<^66.col.i.Ç^ jeqq.

V. 5. Et erit tanquam lignum^ quodplx'

tatum ejijecus dectirjns aquarn : ^uod

fruUumf. um dabtt in temporefuo ,p.

l^x.col.i.inpytnc.^p.l^-i.c.r.^feqq.

Ibid. Folmm ej^.s non defluet, pag.zc)%.

col. I .

Pfahn.a.v.2. Afliterunt Reges terra , CS

Príncipes convenernnt m tínum ad-

verfus Dowtnum , ©' adverfus Chn-

flum ejHs, p.')X6.c.i.mfin. ^fiqq.

Pfalm.4.v. ^.r? qmddtUgitis vatntatew ,

(3 qutcrttis mendacium ^ pag.ic}-'.c.v.

infin.CSfeq.

V.6. Mtílti dicHnt : Quiis ofle

bona'?pag.i^'^^.çol.i. V .y . Signatnm efl fiifer nos Ifimenv/ih tas tui Domine.pag.ò^':í^áf.c. i . Plillm. 1 7.V.9. Jgnis afacie ejus exarjity pag.úf'] 6x01.2.. \-

V .lòf.Inlonmt de Cdo Dominas ,. CS AlijJimHs dedii voçcm [nam: granào , C3 carbones igms^pag.^jy.ci. v.zrj . Cum eleito eleitas cris j CS ( tim perverjò pervertem, p.ic)"/ .Cl. Pjabn. 1 S.v.z.C£li enarrant gloriam Dei, CS opera manHum ejns annHntiat fir^ mamcntiím.pag.ii^<^.col. 1 . v."^. Dies diei crnílat vcrbum : CS nox

tio clí indicat fcientiam^p.Zâff^.c. i . «/. c. /;; omnem terram cxtvit fonas ^fl- r?í,CS infncs orbts terra verba eorfim^ /;.249.f.i. ^^!f^y

idy

cnait nct>!s

Lugares da Sagrada Efcritura^ 57/

V. 1 3. Jl^ occultis meis mmda me, (3 ab Pfal.6 :^.v.8. Accedet homo ad cor almm :

aliemsparceferv9 tuo,p.'^^.col.i> 'Pãlm.zz.v.^. Farafii m confpeãu meo menfam, adverfrs cos, qui tnMant me, pag.í6y.col. I .infin, Tiàím.-^z.v.y.Ponens in thefaaris abyjfos, p.í^y^.coi.i.mfin.

V.S^/pfedíXíf, Ó faãafint , p4g. 495. coi.z. VÍ2Xm.'i^^.^.^.Nolmtintellig€re ,«í benc

a^eret^pag.^^xol.i. Pfalm.3 6.V. lo.Çí^res locnm ejm,^ non

mvenies^fag.í^y.c. i.

" v.'7^f.P^idt impiHmfrperexaitatum , ^

eUvíimmficm cedros Ltbaniyp. i ç6.c. 1 .

%>.l^6.Et tranjiviy& ecce non erat:^ quéL-

jivi exm,(3 non eíí inventus locns ejust

pagi^6.c.i.& x.^p.igj.c.i.

Pfalm,3 7.V. i4.£^o autem tanquamfitr-

dusncnafídí-ebamyp.i^^^.c.^. Pfalm.^S.v. ';.Thefiúr(z^t:& ignorat cui

congregahit ea,p.^f^.c.z. l^íúm.^z.v.fjadíca me DeHs,& difcer- tie caufam meam de gente nonfinãíH^ab homine iniqm eripe me,p.^^.€. 1 .in pn^ ^Jeq. IJ^falm 4:^.v. 7. Gladm meus nonfdvabit

me^p.^oj.c^i.infin. Píàlm,44.v. 1 1 . OblivifcerepopulH tuum^ & domumpatris tHÍ,p.^^6.c.i. •Í/.15', Adducenmr Regi virgines poíi eam,p zi à^.c.zjnfin. Pfahn.49.v.2 1 .Stamam te contra faciem

tuam,,p.iz^.c.i. Píalm. fo, V. f. Peccatummeum contra

me efijèmper,p. izS.c.l. Pfaliii^jy. v.8.yí<5Í mhtlum devenient tark- quam aqua decurrens,p .ij.c.i.in princ. IPíalm 6i.v.^. Preíium meum cogitme- írmtrepsllere:,p:'i(^^x,Zy Xom.7,

^ exaltabitnr Deus^ag. ^/í^j.col. Plàlm.óS.v. 10. Zdmdomm tua come*

ditmeyp.io^-c.i.m fin. V. zz. Dederunt in efcam meam fel : Cf

infiti meapotaverHntme aceío,p.^^^,

col.z. Pfalm.yi.v. 7. Eritindiebus ejus jufii^ ^ tia y Ç3 abmdantia pacis y.pag. ^^

colz. Pfalm.yi. v.zo. Velm f@mnÍHmfmgen^

tinm Domine, imaginem ip fórum adni-»

htlumrediges,pag.\y.col.t. VÇúm.j/^^w .^. Çalix inmanu Domini

vinimèriplenfís miflo, pag.^7,6. coLz^ P falm . yó.Y.zo.Et vefiigia tua non cog-

HofcentHr,p./!fi$.c. i ,m fin. Vfalm.y/.v.zf. Panem ãngelorum mm^

ducavithomo,pag.z^y.c..i, Pfalm. 78. V. 10. Ne forte dicant in Genti-

bus,pag.i^i.C'i' Pfalm.8o.v.6. Cumexiret de terra t/£-'

gjpi : linguam^quarr^non neverat , aíf'

divit,p.^6^.Col.Z.&feqq. v.ii. Dilata os tuum, & impkbo illud^

pag.Z^^.C,Z.&feqq. V. 17. Cííavit eos ex adipefrumentiypag, . z^-^.coLz, ]?Mm,B^.y4.Etenim pajfer invenitfbi

domum : Õ turtur nidumftbi.ubipmat

fHllosfuos,p.zzi.c.i.infin. v.6.C^ jMeatm vir , cujus efi auxilium

abs te : afien/iones in cordefuo difpofuit,

in valle lacrymínrum , in loco quemp o

fuit^ag,zzi.e.z.^feqq.(3p-â^ll.s.l. v.iz. ^damtfericordtam, ^ ver-tmum

diligit Dem:gratíam^ é'-g^^'^^'^*^''"^^^^^

DominHs,p-i6<^.c.'i'^ ■'

Píalm.96.-z^. :^./gnis ante ipfimpraceder^

^■Mi

178

Index dos

Píàlm. loi.Y.ii.Tn omniloco dominatto-

nis ejpís benedic anima mea Domino, f.

ifi.coLi. Pfalm. I og.v. f. Fnndafii terram fitper

ftabilit-atemfíiam^p.zi J.coí. z. ^' 5 ^ -^^ refpick terram , Ç3 facit eam

tremer e, pag. iz^^xol. i .infin. Piàlm. I09.v^4-./»r^■^;í■i Dominm,^ non fanií ehit eum : tu es- Sacerdos in ^í«e-

numfecundum ordinem Melchifedech,

p.zji.c.i .infin, (S'fèfq.& p. zf^.c. i. plàlm.iio. V.4. G? j. Memoriam fecit ^ mirabUÍHmfHorHm,ÇSc.efcam deditti-^

memibusfe.pag.i^y.c.t. Pfalm. 1 1 T^.v.i&.Calum Cali Domino \

/>rf^.^5'8.í•.^.^ ;>.-558 c. I. Jbid. Teritam amem dediffidjs hominíi ,

Píàlm. 1 1 8. V. I 'è.Revela óculos meos.pag.

iz^.col.i. V.S^. In éSternum, Domine , ver hum ^ tHfim permanet in Ca/o, p. x^j.c, i . ^y. I ;5 1. Os menm aperni, & attraxi Jpi-

ritfimjp.x/^. jp.ig7. I^ifius es Domine : Ç3 reBnm ju-

dicifím tufim, pag.'^^.c0Í.z.& pag. 79.

col.i^ pfalm. 12 7. V. a. Labores manHum tua-

rum cfuia manducabis : beatutet^^ be^

netibierit^p. ^^^6 c.i, Pfalm. 1 34. V. 7. Fulgura in pluviam fe-

€it,pag.jfi^.e.z. -!/. 8. ^iproducit ventoí de thefauris

fiis.pag./^y^c.i. pfalm. i:^6.v.9. Beatus í^ui occiditpar'

vulosfiio^ ad patrem, p, i ^/^.col. i . Pfalm. 142. V. 2. Ncn intres in judicium

€umfiivo tuo,pag.^S.c.i. Pfalm. 148. v.4.£r a^ua omnes , cjUd; fn.

feruiosfiunt , IdHdentmmen Domint,

pag.zz^.col.i.

Ex Libr. Proverbiorum.' Cap; I . V.24. rocavt, & renuiflis, p. i j jC col. I .inprinc. Ibid. Extendi manum meam,ÇS nonf.-iit

qui afptceret, pag. 1 5-5- .g. i .in pnnc. •v.-L^. Defpextfiís omne conjiltum, />. 15'5'J

col.i. V.z6. Ego (^uoque in interitu veflro ri» debo,& fubfannabo^.i^^.coLi. v.zS.Tunc invocabunt me^fS" non exau- diam, pag. 1 5*5'. c-o /. i . Cap.2. V. lAf.Latantur cum fnalefecerin^

pag.-^^j.c.t. infin. Cíip.S.v.ij. Ego diligentes me ^di/igo^p. 'i^yi.col.i. v.^o.&Qji. DeleSiabarperfmgules diesy ludensin orbe terrarum: c5 aeltcia mea ejfe úim filijs hominp!m,pag. 'XpG.c.i. Cap. 14.V. 1 5. Rtfiis dolore mvfccbitur^f^, extrema gaudij luUus occupat, P- AZ7 çol I, Cap.2g.v.2 6.7'r^^í//i mi cor tuummi^

hi,pag. 1 5rf .£•<?/. 2 . infin. Cap.^o.v. 16. Ignisnunquam dicit^Sf^ffi- cit.pag.'L'j2..c.\.infúi.t3feqcj. Ex Libr. Ecckíiaítcs. Cap. I .V.4. Generatiopréítent , & grftéra- tio advenit : terra amtm in <íte> num ftat,pafí^. ly.c.i .infin.& c.i. Ibià. Terra amem tn xiernum Jlat, pag^i

Zl6.C0l.2.ÇSfi(^.

v.f. Ontur SeU& occídit,p.ii6c.r. V.6. Gjrai per Aíeridie?n, ÇSfieHitnr ad

A^ailonem , Inflrans nniveyfa tn ctr-^

cuitu^pag.- i6,c.2. V. I o. NihilJ . b Sole novum ,p. i t^C).c 2 .' Cap.2.V. I. Dixi cgoin cor de meo : Va-

díim^ é' ajjhiam deltcijs^^ fruar bcnis^

p^g,^7,J-col,i.

V. IG"

riiiifirTii

Lugares da Sagrada Eferiturá^

V.io. OmnU^ua áefidemveytmt ocfiU fiiorfám.p.iSj.C.lAnfin.Ó' Cl- màyHonmgavíeí-s : nec prohihi. cor mcHm quin emni volHpxatcfrmretHr^p,

V. II. Cftm me convertijfem univerfa . omra^qmfecíratít mantis taça , Ç3 ad

labores^in pinhas frufir a fadaveram , vidi in omnibm vamt atempe' M^Uãio- . f^ew attimi.píig ^'^'à.c.%. uW; ^i.:. v-

Ex Lib.Cantic.Çantkor. ,Cai5. 1 .V.7. indica mthi^ quem diUgit anL

mameayubipafcas^ubi cabes in meri- - . ^die^ne^-vagariinctpiampofigregesfoda^ . êtim.tíidrHm,pAg.y:>7-^col.z.^'pq^.^^

. p.'^'è'js.r.fnprmc. v.^. Slígn0yaste,p.'7^oi.c.z. Ibid. Egredere, C5 abipofi vefifgia gre-

gttm^O pafie hados tmsjuxta taberna- ' €Hta pajiemm,p. :^Qx.c.i.^feqq. 0" p. gS/.cz. - '

Gap.2.v 9. En iffefiatpofl parietem no- ftrum^p.x']'}^,col.'L'^íeqq.

Jí>. ia. Flores ^pparuermt m terra nofird ,

tempus putatíonis advemt,pag. 540. c. ■i.infin. V.16. Dileãrn nfeusmihi^ ^ego ilU,p, . 373 c.i.

Cap.^.v 6QuaeP: ifta, í^m afcendit per

, defertum r^ag.fQ^^.c.rdnfin.

Cap.4.v.6 Vadam admontem myrrha ,

ér^d coUâmthuris,pag.i6^.coL 2. &

feq^.&pag.ijg.col.i.

^. 7 Tota pffkhra es arnica mea , £? ma^

çtãa non ejitn te^p.ió^.c-^. ^fiW- :

.^.H.Kem,Jponfa mea, veni de Líbano ^

%iem cor@naberis,pag.i^^.ç.i- 'V.<^. Vvilneraf^i çor meum^foror meajpo' Jdj vídneraflt cor weum, p.i6^<C.i' Cap f^v.i. i^entat dileãm meus in hov mmfm^mi^^-^omdmfruãHmpQmoríi

579

Ibid. J^eni in hortum meun^ , foror me a fponfa^ mejfm myrrham meam,p^i6.J4» i.Ópag.iyS.çoI.z. -z/.! I. Coma eJHsJjçíft elàca palm^ranf » , nigrdi qptafi çorvHs,p,zgz^ç.z. V. 1 2. Lábia ejus dtfitlUntia mjrrham primam^, i j^.cz.infin. &feqq. Cap.7.v.7.. StÉúratua ajfimilata efipd->^

m<e,p4g.^i6-c.i. Cap.S.v.)- QMi!sèliifia,qua afiendit deferto, delíá/saffiffens, tnni;cafuper du leãur^fnnm '^.p.l^)^'C. x. ^ [eqq. &p. ^'^^xoWL.infin.d (eq. v.ó.Fortís efi m mors dileBiê^pag. 560^.

Ibid . DuraficMinfernus (ímuUuo, pagí loó.c.i.infin & p.^6o.ç i.& ^. ExLibr.SapieiKiae. Cap.4.v.8:c^9. C^Kí mtemfmt fmfu ,hominis\^ (Htasfmeãmis vita immpi' çulatayp.x^2..c.i.infin. C^p.^.y.íEgo dprmio, é'Cormmmví' .gilat.fag.'2^^oxol.x. -&. :^. Fíenitentiam agentes, fí? .pr£ angu^ fiiafpiritmgementesypag.^^. coL i. íí»

princ. Ibid. Vicentei intra fe,p.$^.c. i. Ihid. Hifin/qfíos habmmm aiiquando

inderifpim,&in fimUmdinem impro^

perij,p.ff.càf.i. Í/.4. Nosinfitipui ojitam lUorum (^sít"

mabamus infaniam^Õ finem UlorHmf"

ne honor.c.Mce qHomodo çompmatifí^nt.

inter Ftlioiêei, Í3tnter Smttosfirs ti- . lorum eBjpag.f^. çoLiàn princ. í/. : X Ergo erravimus k viíi vent.aiis , p

SolinteíligenÚAmn eft ortusnobis.pãg,

^T^.colt.mjin. V.2. ^iã néis\pr.ofmt fupcrbia }pag. Oo ij 53. c<

,8,

Vonò.Diviúamnjjahantia quid contulit

fiobis ^pa^.f^.col.i.tn prwc. V. 9. Iranfierunt omnia tila tanquam

Hmbra,fag.^^.c.i. Ibid. Tanqaam n^intim percurrens^pa^.

v.io.Ettanquamnavis^^Ha pmranjit jitU Plantem aquim : cnjvii^ cumprate- rierit^non efi vefiigm mvemre,p.f^.c. i . i>. I i.Aut tan^Ham avis^qua transvolat in aere^ verberam levem ventum : ^ nHUumfignUrmtnvenmr uineriiillm^ pag.^/!^.c.i.infin.

V. I l.Aut tantjriam fagitta emijfa in loctt

^efiinatií, divtfus aer cotinuo in feredu-

jks efi,m ignoreturtrãfttus illÍHs^p.^\.c,z.

V. I g.iS/c <í3 nos natí continuo defivimus

effè, Z3 virtHtis e^uidem nullHmftgnum

valftintHs oflendere : in malignitate ííh-

temnoflra confHmptifHmHs,p.^í:^.c,x.

I v.ijí^.Talia díxerunttn Inferno hi qui feccAvernnt^p.i^í^.c.i..

Cap. 7. V.26. Specnlnjine macuU Dei ma-

iefiatis, Ç^imago bonitatis illius^p.'^ BJ-^-^-.

ExLibr.Eccleíjaíticj.

Cap. y.Y.y.Noltfie/-íJHdex, nifivaleas ir- YHmperc intqmtates : ne forte exttmef- çasfaciem potentis^.i^-^.c.x.infin.

Cap. 10.V.8. Regnum a gente in gentem transferturpropi cr tnjuftmas^p. 1 8 .£■. i .

Cap.20.v. 29. Sapiens in verbisproducet

feipfHm^p.:i^^\x.\, Cap.24.z/, I -j.QuaftCedrm exaltatajitm

tn Ltbano,p. ^6o.c. i . «'. 1 8. Et q.'^aJiCypre[Jiís in monte Sion : quaji Palma exaltatafum in Cades,pag.

V.z^^ei ed;:m mc^adhuc efurient : (^ q'ub, junt ms^adhHcJinmt^ p.iji.c.i.

Index dos

Cap. 48. y.^.Qhí rcceptfis es in turbine ig-

nis m currH equo, h igneorn^ p.yCi.c. I . ExProphet.llaiae. Cap.2.v.4. Conflabunt gládios fuosin VO'

meres^^ lanceasfnas tnf alces, p.^^.c. I . v.ii^.Quid efl quod debm ultra f acere vi-

ne£ mea,& non fect ei ? p.^í^.c.z. C^p. 6. V. 1. Du.rbus velabant faciem ejuSy

(3 duabusvolabant,p.yji.c.z. C3 p^g,

^ty.col.x.CSfeq.

Cap.7.v.i4.juxtaTcxt. Hebr. Eccey

abfcondita concipietyp.zj±x.x. Cap.8.v.3./^í?í:^ nomen ejus Accelera.fpo' lia detrahere,F.ftmapradan, p. 94.^.2. Cap.9.v.6. Cujíís imperiumfuper hume- rum ejus,p.<^^x. I . Ibid. Vocabitur nomcn ejus Deusfortis^ ?.94.c.i. Cap. 1 1 .v.G.Habitabit lúpus cum agno,p, ^6.col.i. V. j.Et leo quaftbos comcdet paleas^ pag, ^d.col.i. Cap. i^.v. 1 2. Quomodo cecidifii de Ca- lo^Luctfcr p.i.zoxol.i. V. I g. Qhí dtccb,:s in carde tuo : In C<e-

lHmconfcendam,p.2.'2.cx. i. Ibid. Super afim Dei cxaltaho foliunt

meum,p.\<^j^x.i.tS p.ix^. c. i . V. i^.Simdis ero AlttJJimo, p. ^. 1 94 . c. 1.

ÇS pag.iz^xol.i, v^if.rcruntamen ad infirnum deíra^ hêris in profundum laci,p.zz(^ c.i, Cap . 1 9 . V. 1 . Ónus iy£gypti,p. 1 1 2 .c. r . < Ibit]. Ecce Domin^.s ajccnd:tfupe nu levem,^ ingrediaw tyE^píu p .i^zc^x . i. Ibid.^í comov. buntur Jim::Uichra ^/E-» gypti àfacie cjus, p.^z^ c.\.ÍS fc.-jq. Cap. g5'.v.4. Ipfe veniet, (S falvabft ncs^ pag.^i\xol. I.

v.b.7 mf faltei Jlçin çervus çlaudus , ^

aperta

JMlMCjugjkiii

Lugares da Sagrada Efcritura^ 581

aperta erit lingua mutoríí, Õc.p.^^.c. 1 . Cap.ó^. v.20. Pueri çentum annorum^p.

Cap.^S.v.ii, De mane ufque ad vefpe

ramfimes me,^p.i\.c. i . Cap.40. v.4.0w«?.f vdLis implebitur , (^

omnis motis^\3 collishumiliabitur^fag.

Cap.45'.v.i5'. VeretHcs Deus ahfiondt-

tHs,Deus IJrael Sahator,p.zy^.c.t. Cap.yg.v.ç^. Novijfimtim virorum^pag.

izj.col.z. C^p.^H.v.^. ínvocabís , & Dominus ex- audtet : clamabis, & dicet: Ecce adjum^ pag.Q^zx.c.u jnfin.^ c.x. Cap.f 9.V. i6.>Er vjdit quia non efi vír\(3 aportatm eji^ qma non efi qui occmrat, pag.ií^^j.c.l.in princ. V. 1 7. IndmHs efljufiitia^ ut loricay& ga- leaj^lutís tn capite ejus : indpitus efi ve- fiimentis nhionis , & opertm efi quafi pdlioz^eh^p.é^Q.c.x. t/. 1 8. Sicm ad vindicam quafiad retri^ buúonem hofiibusfiis^^ viçijjitudinem inimicis Çms .p ag.â^6 .c .1. Cap.6o.v. lg. Etlocumpedummeomm

glorificabo^p .'ipj .ç. i ànfin. Çap.óg.v. I . Quis efi ifie^qui venk de E- - kom^tinãis vefiibus de Bofraf p . iS^.r.

1.& feqq.^ p.l^y.C.Z.Ç^ fiqq. Ibid. IfieformoÇus infiolafua^ gradiens in mnltitudine fortittidinisjtiâi^p. iSy. c.z.infin.^ fiqq, Ibid. Ego qmloqmrjufiittam^Ç3 prO" pi^gnatorfím adfalvanaum^p. j ^J.c.i. lf.2..Qi-are ergo nérum efi indumentum tuum , ^ 'vefiimenta tuaficut calcan- num m torcúlari ?p.i^j.c.i, v.':t^XorcHlãr cãlcavifolm, (3 de Gentu

bus non efi vir mecum^ p. 1 87.C.2. Ibi d . Afpeijus efifanguis eorumpiper ví' fitmenta mea,p. 1 88 .c. i . "^

TLt^o.coLz.

Ex Prophet.Icrcmiae. Cap. í . V. 1 3. Ollamfuccenfiím ego video^ pag.^C)Z.c.i.

v.i^.Ãb Aquilone pandetHrmakm p- per omnes hahitatores terríe,p.^^2.c.i. Cap.2. V.2. Charitatem defponfationis tua, quando ficma es me tn ^efirto, p, ^24. çol.z. Cap. I i.w.i^.Cogitfivertintfuper me con* jtlia^ dicentes : Aítttarnus lignum in pa- nem ejus,<3 eradamus eum de terra vi' ventium,p.z6'i^.c. i jnfin.^feq. Q2cç.i.':^M.iyEntafiieDem e vicino egQ fiim,& fion Deus de longe} p.':}7%.c,i. v.i^. Cíeluw,& terram ego tmpleo, pagj 7,'^S.c.i. Threnor. Câp. f ,v. 19. Torcular calcavit Dominus virgini filias Itida^ />. i SS.c. i .' Threnor.Cap.g.v. i.^<? virvidensp^pt- pevtatem meam^f. 1 6o.c, i . »

í/.go. SAturabkHr opprobrijs, pag. 141.' coLz, Threnor. Cap.4.v.22. Filia Sion, notp addet ultra , ut tranfinigret tc^ p . 2 14. col.i.

Ex Prophet.Baruch. Cap. 3.V.38. Pofihdícin terrisvifiisefi^ÇS cnm hominihus converjatus efi^p , 272» c.í.tnprinc.

Ex Prophet. Ezechielis. Cap.S.v .5'. Et ecce idolum zjsli in ipfo m2. íroítu^p. i oj.c. 1 .inprinc. V. 1 1. Etfeptuaginta viri de fenioribus domus ífael, (Sc.fianttum ame ptãw ras : ^ unusqmfque habebat thnnbpt" hmin manu jua^p.ioj .Cl. V. 14. Et ecce muUeresfidebant pUngen* tes Adomdem^p, 1 07 .c. i .

^mmmm

582

v. i6.Etecce£jíiaJi vigintl^mntjue viri dorfa habmtes contra templi^m Domini, fag.ioj.c.i.inprinc,

Jbiá.Eí fácies ad Orientem:^ adora-

bantadortum S^lisyp.ioy.c.z. Cap. I o. V. 1 8. Egyefa eft gloria Domini k

lminetenfpã,p. i i^.c.z.injin.^fe^. Cap.i'^.v.f.N'&nafiendiflis ex adverfi ( aut juxta Text.Hebr.«<?» afcendi- ftisinfraãuras^^ interruptiones ) ne- £^fie oppofHtflis murumpro domo Ifrael: mftaretis m pralio in die Domini^ pag. ^^y.col.i.tnfin.&feqíj.

ExPropher. Daniclis. Càp.2.v. 2 T . fpfi mtitat têmpora; ^ Sta- tes : transferi Rcgna,atque cShflilHit^p.

, i%.coLi.

-z/, 2 1 .Ti'(3 fq^. Th Rex videbas^ & eC' ce quafi ji atua una granais^ (Sc.p.^/\'J, col\.infin::3 fqcf.

Í/.34. Abfcijfíis lápis ftne mmibm.p.ZoÇi, col.i.^ p.^\'] .c-t.inprmc.

v.l^^.NnllHsque locas mventm eftcis,p. 2.06.C0I.1.

Ib id . Faãus eftmons magnm, & imple-

Index dòs

v.cf.Thrcfius ejfUfflamma ignís^pay.

^yó.col.i. Ihid.Rot^ eJHs, ignis accenfks^p.â^jG c . il v.io. FIhvíhs igneus f rapidusque erre»

vitt erram ^p.íif^\.

Gjol.z.

C.ip.^^.-z/. I. Nabuchodonofor Rcx fecit fiatuamaurcam alitudine crd-hitorum fxagintay dc.pag.:2^^^.cõl: i. C^ p^g- , ^^J.col.t. v.gz. Et fpecies quartiJlr/tUts FtUo Dei, pag.'^0).col.z.inprinc. '""^ ' Qà^.6N.i\.Porro Rcxcogitahat conJUtHe- re eumjupcr omne Regni'.m\'p.^ i J.c. I . Ibid. Fnde Príncipes, é Sair apa quare^ bant occafoncm, vA tnvemrcnt Damcli ex latere Regis, p^g.4. ly.ci. Cap-7-V.2. Etccse quaí.'íor venti Cali pugnabaiít m m ar i magno. p.yx. i. fy .8, Cornu parvHl4im,p.\<^)z.c.z.ffjfiK

diebatur a facie ejus, (Sc.p.íy^ i.c. I . ' v.li. Afpiciebam propter vJcem fermo~ nnmgrúndiHm^ qms cornn illftd loque* batiír,p.^c^7^.c.i. Cap.i4.v.:^4. Babylonem mnvidijÇS U* cnm nefcto p.'2^^6.c. 1 .i»fin. Ex Prophet.Ofee. Cap.2.v.i4. Ducam eamin folitudinemi k3 loquar ad cor ejMs.p. 5" :^4.6'. i . Ex Prophct.Iotlis. Cap.i.v.4. Reftàuura cruca comeàitlo' enfia : refid'APim locufia comedit bru» chus rrcílduum bruchi comcdit rubtao, pag.^f^.col.z. Cap.a V. 1 o. A facie ejus contremuit ter' ra^motifunt Cdi : Sol i5 Luna obtene- bratifum,(^ Stelk retr>ixcrfíntfp lendo» rem fuum.pag . 1 4^]. col i . ^'. 1 1 . Dominns dedit voccmfuant ante f a ciem excrcitusfeii : quia mnlia fimt tiimis c afira ejus^quiafortia, \S facie tia veibnm eJHs^pag.\^.col.\. v.ix. Magnus emm dies Domini,Ç^ ter»

ribilis valde^pag. 144.C. i jnfin. Ibid. Et qfiisjufiímbit cpim ? pag. 144.

col.i.tnfin. VDU^.Nnnc ergo, dicit Doininns^ conver^ timim ad me ni totó corde vefiro , pag. Í^.C0l.Z.^fq.

Ex Propher.Tonas. Cap.:>. V.4. Adh;ic qHodragiMA dies , CS Ninivefnbvertet:ir,pag. 145-.^. i . Ex Prophcr.Nahum. Cap. I ,V. I Onsís Níni'yc,p. i 1 2,c. I.

Ex Prophct.Habacuc. Cap.:^.v.6. Afpcxit, 5* dijfolwt gentes, p. iLi^.ci.inprtnç, Ex

Lugares Sagrada Efcriturar 58^

Ex Propber.Zacharia:. ^uavit enim Regnum Ca{orum,p. 149.

col.i. Cap.4. V. I. BhHpís efl: in defertum^ut ten-

taretíirkDiabolo.f.ii i.c.i. v.íÇ.AJfpinip^i: eum Diabolíís infdnElam Civitatem, ^ftatmt eumfmperpinna- cnlum TempU,pag.i ii.c.z. inprinc. (^

Cap.6.v.i2. Ecce viroriens nomenejpís, pag.^Sf.c.z.

Cap.9 V.17. ^md bonumcjfis , ^ quid pHkhrHme]Hs: niftfr^mentíím ekão- rfim,& vintim germinam virgines,pag.

Cap. I i.v. 17. o Pafior^^ Idôlfim ! pag. ^^xol.zàn med.

Ex Propher.Malachiae. Cap. i.v.^.ii/í^í amem ódio habmyp.'y)'j. CO Li.. V. 1 o. Non efi mihi voluntas in vobis : & mnnHs nonfufcipiam manu vejha,p. 1^6x01.1. V.M. Ab ortH enim Solis ufcjue ad occa- fiim, magnum efi nomen meyi.m in Gen- tibíis, ^ m omni loco facrificawr, ^ of- fertHr nomini meo oblatio munda, pag- : 1/!^6.Col.i.<^ fetjq.

Cap.4.v.2, Etfmitasinpennis ejus,p.^^ col.i.infin.

Ex D.Matth^eo. Cap. i.v. I G.Maria, de qua natus efi; fe-

C^p.z.v.i.P^bí eft,qm natus efi Rex Tn» dieorum fp.fTLj.c.^. v!^.Iteí3 interroffãte diliqenter de tuC"

ro^p.^xf.col.ianftn. Ibid .El cum invenerins , renuntiate mi-

hiypag. ^1'jc. l.in fin. Ibid./^ ^ ego vemens adorem eum^pag,

^1'j.col.i.tnfin. v,i'^.^fiqq. S/rge^ ^ accipe puerum^ O marrem ejus, ^fi'!ge in fL/£gyptum , , Ç5cpag.^ 6S.C0Í.2. m pr-inc, V. 1 6. ndens quoniam illfijhs ejfet k Ma-

gisp.^^S.CA.&feqq. Ibid.^ bimam^& infra^p Si.eol. i . Cinp.'^.Y:Z.Pmfmfíim agite : appropin-*

pag..^'

[^.c.^.

1/.6. Aíitte te deor[tim,p.i i i.c.i. v.%.Iterum ajfnmpfit eum in montem ex-

celfiim'úalde^t.l\\.c.'h. Ibid. Ofiendit ei omnia Regna mundi^ ^

gloriam eorum,p.^'2,^.c. 1 . V. g.Si cadens adoravéris me^p. 2 1 \\c. 2 j V. I %.Mittentes rete in ?nare,p. f/^Sx. i . Cap.^.v. /^ly . Qhí Solem [num oriri facit

Cuper bonos^S maios. p.'i06x. i. Ibid .Etpluitfiiperjufios^^ injnfios^pag^

loGxol.i. Cap.6.v. 10. Adiwniat Regnum tuum,p2

I49.Í". I. V. 19. Nolite thefíuriz.are vobis in terra*.

ubicerugo.^^ tineade?nolitur,& ubifif»

res ejfodmnt,& furamur^p. 45*^ .í-,2. v.roThefauriz.aieautemvobtsin Calo:

ubi nequé terugo^^neque tinea demolitur^ Ç3 ubi fures non efiodium.necfurantur^

pag4S^x.z. Câp.y. v.i.N'oíitejudicare, ut nonjudice^

mim,pag,Syc.i.inprinc, V.lJn quo enim juÀicio judicaveritis Jh^

dicabimini,p.Sjx.i. inprinc. Cap.9.v. 8. J^/ dedtt poteflateni talent

hominibus.p.ià^jx.i.infin. Cap. lo.v.y./» viímgentiHm neàbieritís^

p.'^QOxol.x.infin. v.x^-Si Ratremfamilias Beelz^ebub VO"

caverum: quanto magii domefiicos ejnst

pag^ox.%.in princ. VãèiMs ergotimmrins m. Nihil efitm^

í

11

efi opertum^cjHodnon revelabitur j <^ occiiltam, cjf/õdnonfiiemr, p.So.col. z. inpmic.&fèc^. v.i^ .Nolite ttmere eos^qm occidunt cor- . pus, animam autem nonpojfint occi-de- re :fed potius timste eum, t^mpotefi Í3 animam , (3 corp%s perdere in gehen. nam,pag.'j%.c. i . tnfin. Cap. I i.v.i. loannesin vincHlis,pag. 5*6. col. I .^[eqq. 'v.yTu es^cjuiventuruses^an dium cx- peElamus} p.6%.c.i.z5 p.^i<^x.i>infin. v.í^.Eantes renunttate loanm ejHíeaudi' fiis,i3 vidifiiSypag.^%.col. 1 anfin. & p.

g20.í:.I.

■z/.j. Caci vidcnt^clmdi amhulant^ mor-

tui re/krgfint,p.6S.c.i.infin. V. 6. Et beatHs efl, cjui nonfaeritfcanda'

lÍK.atus inme^p.G^.c.z.inprmc. V. 7. ^id exiflis in deferi um videre ? p.

èg.çol.i.pag.f^^.col.l.tnfin. ^feqq.^^

Ibid. irnudinem vento agitatam ? pag.

6g.c.z. -zf.S. Hominem moilibin vefiitam •''/'. 69.

C.1..C5 p.'y'>^6.col. I .in princ. ' Võià.Eccc qni molhbm veíiíyrntptrjn do'

77nbHs Regnm funt^p .^i^G. cl .inp. inc. 'v.<^ Prophâtam^p.i 08 .c. i .infin. Võ\á.'Plmqr:am Prophetam.p. Gc).col.z.

^p.io^.e.i.infin. 'v.iQ. Ecc!^ ego mino Angelum meum^p.

6(^.c.zànfin. v.i l\ .íoannes Baptifla ipfe efl Elias, pag.

I íé.í-.i. Cap. I g.v. 28. Vis im(is^& colUgimtts ea} . p.jiy.c.i.infin. v.i^o. Sinitc mraque crefcere ufque ad

mejpm^p.y ^.c.zjn prmc. v.í^^,SimíÍe efi Regnnm Cdornm thc^

Index do?

janro abfcondito in agre : quem qui íh^ vêntt homo,ahfcondity & pree gáudio tU Ims vadit,íi vendit univerfa , q^a ha- bet^& emit agrptm tllHmfpag.^ji .c. I . (Sfeqq. '«'.47. S.igenâ. mijfain mare^pag.i^x.z.

in med. v.^i. Ideo omnis Scriba do^HsJtmilis eji Patri-familias^ qmprofert de thefanra fm nova,(3 vetera^p. 1 6o.c. I .

Cííp.i y.v.z^.NonJiimmiJJíisni/íadoveSf quAperierunt domjis Ijrael, pag. 200. co/.x.

Cap. 1 6. V. 2 7 . T/mc reddet unicniquefç. cnndkm opera ejus^p.i^G i.c.i.

Cap. 1 7.V. I . Ajfumpfit lefus Petrum , Ç5

lacobt4m,^ loannem^ ^ dnxit tllos in montem exccljHmfeorfnm, pag. 42 1 . r. I. (Sfeq.

v.z. Et íransfiguratus efianteeos^p.^'^!,

C.l.&fiqq. IbiJ. Refplendnit fácies ejus p.cut Sol,p.

434.^.1. v.^' Bonum efl nos hic cjfe^p.^'^^c. i. Voiá.Factamfii hic triatabernacftia, tibi

finum, Aloyfi unum, ^ Elia unum^p,

ófio.c.i.^z. Cap. 18. V. 10. Semper videntfaciem Pâ'

tris^qm m CccUs eji.p.'^ t i x.z. v.zyQjfi voUit ratton-m ponere cnm

fervislHis^p.áfi.c. i. v.x^.Dccem mdlia talenta^p./^%,c. i. C-àp.lç).y .ij.X^id ergo erií Kobií ? p.rg,

ZOO.C.Z. v.zH. Sedebitisf:pcr fedes duodecim, jf*"

dícames dttodecim tribns ífrad^ p. 200.

c:Lz, Cap.20 V. zi.Eicf!tfid.a»t hi dno (ilij

mei^unus ad dexierum, (S unas adfm-

firam in Regnç tHo,p .4 1 S.f. 2 . tnfin. Cjí

fiqq. Cap.

Lugares da Sagrada Eícritiira.

Cap. 1 r,V. 19! Nanejuam ex te fruãns rtajcatur ínfempiternum, ^g^i^i .co/.i^ iSp.-i^z.c.i. Cap.ix.v. 19. Ofienditemihi nffmijma cenjuí,p. '^'^i.c.i.tnfin. v.io. Cujfís efi imago hac , ^ [uptr- firiptiú P^j.gxp.c. 1 .^fi(jiq. v.iiDicmtH : Cafrris.pag. 519.^.1.

Ihiá.Reddite ergo quaÇmt Cafarts^C^-

fan:(^ quafmt Dei,Deo,p.^6z.c.z. Cap.2g.v.2,5»/>ffr cathedmm M^jftfide^

rum ScribA^^ Pharifsi.p . 1 98.C-. i . v.S-Amant antem primos recubitus in

CAnis, oprimas cathedras injjnagogiíf

f.ago.c.i. 'v.zj .S:pHlchra dealbata^p. 292.^. l . Cap.24.v.29. SolobfcHrabitur, Ç3 Lufia

non dahit lí^men fuum^ (S Sielk cadent

deCalõ^p.i\ox.i. '

. «^.30. TuncparebitJignMmFilijhominií i inCalo,p.z^^.i.i. Ihià.Tmc videbunt Filium hominis ve-

nisntemin nubibus Cdi,p.^^.e.i. fi? 2. ^.43. Nonjineretperfodí domumfuAmy

Cap.Xj-.v. 1 5*. vnicmqtie fecHndum pro-

priam virmtemjp.^'^.c.z. nj'\<^.Pofi mfiUíim vero temporis venit

Dominas feívorurn iUoru^ & popiit rá- - tion em cum eis,p./^i .ci.in fin.^feq. <v.'\^.Venttebet}fdíãi,p.%7^.c.l. , 'O.\o. Ouofidiyifecflis tini ex his frd'

tribtis méis minimis^ mihi ficiflts^ pag.

q25'.r.i. 1^.41. Difceditekme nidediãi in ignem

4£trrnum,pctg,^z.col.t. in prittc. ^p.

Gap.26. V.8. V^í ^Hidperdim hxc ? />• 1 59^ Tom.7,

o. Opusemm hnum operata efi m

me.pag. ^y^.cal.z: v.zi. dmendico vohls ^(^hía mm pe* flrâm me tr^dimrns efí f ^ox. i.[."/^ v.zz, Nmqmd egofum Dominstp.Tpl

co/.i. t/.i6. Hocefi corpus meum, p. 565. c.x.

infin.^ feíjq. v.-^i. Percutiampaftorem, & difpergeU'*^

tur ovesgr€gis,p.z<^g.c, I . •^.jS. rt videret finem^p .jG.c.z. V. óc. Blasphemavit,p. 14 1 .col. x. V. 68. Prophetiza nobis Chrtfie : Qnk

efi quite percuffií ? />. 1 1 ^X. l . Cap.27.v.i3.^<'w audis quanta adver-

Jumte dicunt tefitimnia f pag, 134.

col.i. v.z\.Accepta aqua, lavit manus coram

põpulo,dicens : Innocens ego Jkm àfan^

gUnejufli hujuSyp. 6^x.z.(5fiq. V. 25-. Sanguis ejusjuper nos , pag^ 66,

cd.i. 'Z/.34. Dederunteivinuw cumfelkfm^

fiHm,p.óf\lxol.z. Ibid. Cíimgufiajfet,noluit bihere.p.^^T^,

col.z.infin. v.XJ.Et tmpofuerunt fuper caput ejufi

caujamipjiusfiriptam,p.6i.e, i.inftn,

& c.z. ^.^z.SeipJun» nonpotefi falvMm facere^

pag.i^ix.z. V ôl^.Seduãorille^p.iàfix.z. Cap.iS.í/. 2. Angelus Domim defcendk

de Calo^p.^^y x.z.&feqq. VS' Dixit mulieribm,pag.^^j, c.i. ^_

Ibiá.lefum, quicructfixuseft, qumtis^, ^fj.c,i.injin.&fiqq,

Ex XX Marcoi Cap.2.V.i7. fycobu Zebedxi,^ loannem

5^^ Index dos

fratrem Taçohi: ^ impofuit eh nomina. Bomerges^ qHodefi, FdijtonitrHiypag,

Cap.4..v.24. In qna menfura menJífíierU

tis, remetietnr vobis,p .46 1 .c.i. Cap. 6. V. g 5-. DefertHS: efi íocuSy (Jc. pag.

f^f.c.z.íMprífíc. - Cap.8.v.2. Nechabem qnad wandHcent, p-f7,^.£.z.tnprmc\

'Z'.i\.. F'ndeillos. quis poterit hrcfaturare fanibHs infihtudim f p. ^25-. co.l. 2. m princ. t/.8. SMHraúliint.p.zj^.e.'l\. .v «'.2.4. Fidea homines,v€ht arbwes^am-^ hHJmtes,p.\-ii^.c.\.tnfin. Cap. 1 1 . V , 1 2. Èfíír/jt^p.^ I ,çol, I , mprtac. »'. I g . Síqiiidfone mvmiret m ea^, p. 21..

cot. i, Ibid. Non enimerat tempní ficorum, jO>^

3 i .eol, I .p.ag.'ip..c. I . ^;>. 5'4o.í-. i . a/. 14, £/ refpondens.dtxit et : Iam non Amplms in íeternum ex tefrPíãum qmf

quam mAnducet^p.-^

.e.z.

Cap. í '^.y,'^z.D'e die autem tilo nemo fcit^. nsque Angelí, neqne FUiHs,pag, 4x0.^:. lànfin.t^ feqq. Cap. 1 4.V. g . Simonis Leprojl^p . 77 .c. 2. 'Z'- g 3 . C<^pit pavere, i5 tadere,pag. 183.

col.i.infin, "V.i^/í^.Dederat antem tr aditar ejus ftg- num. eis, dicens : Qy.emcumque ofcnla.- tusftiero. ipfe efi. : t.€ne:e eum^pag^^i.c. l.tnfm.^ feqq. Cap. 1 6. v.^-. Et introeuntesin: M,m^men' tum viderunt jHvenem fedentem ,pag. S^^J.c.i.^feqq. *V. 6. lefum quA. itis NAZ.cirentHm ^ cniçi'- fixjim^p . 5" 5: 7 . c. 2 .in pYinc. Í5 fcqq.. 'V. 10. Pradicaverfim íibiqtic, pag.z^^, (o/.i..

Ex D.Lnca.

Cap, I .V.28. Avegratia plena,p.^oi.c.%', v.zç. Turbata cji mjcrmone ejusp. 1 84.

col.z. v. "^o. ISTe timeas Maria, p, 1 84.^.2. Ibid. Invenifii, gratiam apHU Denin^ to

403.^.1. 'u.\x. Dabitilli Dominus Dens feder»

Davidpatris cjm : ^ regnabit in domo.

lacob in aternam^ pag, 96. col.i.injin.

&feq. v.T^f.Spiritus S4nãffsjMpervenie:in te^

pag.^oi.c.1.. '£'.37. Qnianon erit impoffibile apnd.

Diumomne verbftm,p.^6^.c.%. •z;. 3 o .Fiai: mihifecfindum verb^m tnam^,

pag. i84.<r.2. v.à^i. ExHltavitinfansinfiterOy p. 5*40-

col.i. v.^j.jS.&fêqq. Elifabethimplcfím ejh

tempmpartendí : ^ peperit filiam. Et

ÁHÁierunt vicini^ ÍS iognati ejas , quid

magnificavit Dominas mifericordiam

finam cum illa, & congratulabAnitir ei^

Et veneram circuncidere pHeram^ ^c,

v.ò-j^. Miratifimit uníverfi.pag. 5'33- fv

1..<^. fe-cjq:. v.6f. FattHsej} timorfnper omnes vici*

noseorfim,p.^'2^-:i^.c.x. tnfim. Ibid. Divulgabantur amríta. verba hac^

pagj^.c.z.. ^.66. Fofiuertmt in cordejucy dicentcs, /.

534.^.1. \h\á. Etenim manus Domini trat cnf»

illo,p.s^:i^à^.cA, t/.So. Pner antem creficíbat^^c. pi 542^

col 1. Cap.2.v,7. Peprrit Ftliíím fiuum Primo-

genit.:?7J.^p.lb6'C.i..

Lugares da Sagrada Efcritura

^S;

Olp.'!'. V. 2, Faílum efl verbnm Domini

Juper loannem^CSc.p. iii.c.i .^ [e^^.

'tv.\ Et venit in omnem regtonem lorda*

' H/s, prádicam baptifmum p^nit^nti^

in remijJiawmpeccatõrHmy pag. iz i . c.

•«/.4. J^ox cUmantisin deferto, pag.ivz.

celi.infiK.

Cap.6.v. 19. Omnis turba í^aar&hat mm

tanger e^ quiá virtus de Uh èxihat , ^

ftnabat omaesyp .o^zi .e.7..infin:

•v.'Xp .Nolitejudicare^ & Konjffdicabi'

mini:noUtecondemnare , & non con- âemnabimini,p,%G.c.i.

Cap./.v. "^.Líicrymis c<£pxt rigare pedes ejus^\3 capilUs capkisfiutergebat,p.f^ i .

COI.Z:

^^- 39 Qi^fdpeccátnx efi, pag.^ 5 .coi. 2 . ^

p.iy^.coí.i. v.^j. RemktPímur eipeccata mnlta^pág,

Cap.S.v, 5*. Exijt quifeminát, fiminare^

p^g.iiz.c.z. vil. Sémen efi verbum Dei, pag. 1 22.

€al.z, Cap,9,v.!^ I .hieebant cxcefum ejus^quem

<:ompletwruserMin Jernfdsm ,j!'.44i.

' €01.2,.

«/, 5g. Nefciens qnid Âiceret, f.^^o.c. i .

* ^.5*4. Dómine,vis dicimus^ ut ignis def.

■cendat de Cds^ & eenfumat iltos ^p^g. ^j^.c.iinprwi:.

Cap.io.v. 27. Diiíges Dcminum Deum íuHm extoto cor de tuo , ^ ex tota mi- ma tHa,& ex omnibm •viribfís tnis , (3 ■^x omni mente ttfa^.z^^.c.'!.^ fiqq-

' ^. 59. Et h-uic^rM firornomine J\ãari^^

J>.S6S.C.2.

ibid. Qndí etiam fedem feçns pedes 2?^- '^ni,p.^6^,<;,idnpnn€y

Ibiâ. Atídtebat veybumi/ãus,p.'^Sj.c.i. v.±o. Domine, non efi tihi curdi , qmdfi-

YOY mea reliqmt ms falam miníjirare? f^

iy).c.i.(^ p.S^^^.C.Z.^S feqq. v./^i.Martha,Manha,(olicita es , ^

tmbaris ergaplurima,pag.'^ lo.col. i . &

c.x.infin. v.^\,Manaoptmam partem etegit^pag,

'^io.c.i.(^p.'^6:^.c.i.&feqq. ->

Gap. 1 1 .v,2. Advemat Regnn/n tuíim^^pl

àf.if.lnBeehebfíb Príncipe Damonio^

rum ejicit tí^monia^p. 1 4 1 .c.i. Cap . 1 1 . V. 1 9 . Anima mea habes mui f/t

bónainannosplfirimos, pag.^fj^.c.x.íf&

fin. vôjo. Quáí aniâmparaflí, tujus ermt} p,

45'6.ír.i. . ^

t/,^8. SI vmerit in fecunda vrgilm^ & jC

in UríídTJígiiia venerit , & tta inveíie.^

rit : beatifunt fervi iUi,pag. x8 1 .coL i,;

&feqci. . i/.'ic^. Quontamft fçiret Pater-familias l

quá horaffir veniret , vigdaret utiqke^

pag.'^i6.c.x. Cap. 14. V. i.Sabbathê mandncare panem ^

ièiffi obfirvabant eum,p . 1 92.^^/. i . m

fn. ^.y\I)i<:ehatáHtem &^d invitatos pa^

rabolam,p. I94.C-. 1 . Ibid» íntenãms qmmedo primos accubi-

tm eUgertnt.pag.i^T^.cd.i . \3 p. 201.

ç.l.infn.0'feq. i/.^.CHmpocaíHsfierisad nu^tias,^€,

pag.i^f.ç.i.

Ibid.jEf tm<: inçipias mm rubore novif .fimum loçHmtenere,pag.\<)'yc. i.xnfn. p.iz6.c.r.^.p.zz^.c.i.

V. 10, Recumbein nòviffmol^co^ p.i^i.

"

■«■m

>

58 S Index dos

Ibid. Amke^ afiendefnperÍHs,fag. 126, C^p.zi.v.i^. Eruntjígna in Sele^ ^ Lh'

col.x.ÇSp.iz^.c.i.

y.l!^.^ 29. Quis ex vobís volens turrim

^dificare , non prius fedms compmat

frmptHs, cjHt neceffkrij funt : ne , pofiea-

, ^Ham pofuent ffindantentumy^ non po - tHeritperjicere^omnes qni vident , ma- piant illudere ei ? p.^ii^.ç.i' . . /

pap. i5'.v.7. Dic9 vohts^ cjuod itagaudití , tritin Cdlofiíper uno peccatore paniten'

\ tiam agente^ qukmfuper nonagintano'

\ vcmjuflís.qm non indigent panitcntia^

'p.i%.Pater,damihi por t tonem pibftan» tia^qua me contmgit,p./^^y.c. i . í»jí».

í/. I iJn regione longinqtíam^p. 45*7.^. i . V. 1 8. Pater^peccavi in CalHm,& coram

te,p.^^y.c.i.& feqq. V. ^ I .FfUytufemper memm es, Ç3 omnia , mea tnafunt^p^â^^-j .c.x.infin. &fiqq. Çjãp.i6.v.z.Redde rationem vilUcationis jtHa \jam enim non poteris vilUcare^p. '^f.c.i.mfin. k^.i^.Pater Akraham, miÇercre Tsm, Í$ mim Lazjirumy ut intingat extremum Àigiú in aquam , nt refrigerei linguam m€am,p.^i.l.c.'2..infin.^fe<jiq, . v,irj.Í5 28. Rogo te pater ^t mittas enm in domum patris mei:habeo enim cjmn- (^ue fratres^Ht teftetur ilhs^ne & tpjtve- niant in hfinc locHm,p.^X'i.c. i .Ò/èqq. Cap. ij .Y .T^j.ybicunquf fnerit corpus ^tU Ihc congregabutur Ú aquiU,p.Zy0.c,z. Cap. i^.v .f .DeJccnde,p.io^.c.l. •vAZ.Abijt in Regionem longincjuam ac»

€iperejibi Regnií,^ reverít.p.-^-m.c. i . í;. lg. Negotiamini dnm vcmojpag^i, €ol.z. v.ii.Serve neqfíam,p./^z.C'Zf

na,pag.Si.c^z. v.'^7,.CaIf*m, 0 terra tranjibunt : verba atitem mea non tranjibum^ p. i.c. \,Ç3

Cap.22. V. 1 •j.Dividitc inter vos yp. 248.

col.i. V. i^.Hoc eft corpus meumtp.^o^.c. i. ^

pag.^$ 3 '^' ^ .tftjin.&feqq. v.lo.HtceftCaitx novum tefiamemum

inJàngHÍnemeo,pag.j!^p^. c. i.p. 4.10.

coÍA.t^p. j6^.c. I .tn prtnc. (S feqq. , v.Zíí^.Quis eorum videretur ejfe maior ^p,

i^f.c.i.^p-^iJ.ci.C^fiqq. v-Tfi. Satanás expetivit vosjut ribraretf~

eut triticum,p.zf. Cl. v.^'i^.Prolixius orabat,p. i y^.c. i , v./S^.EtfaíiusefiJiidoreJHs/tcHt gutta

fanguims.p. 1 7 1 .c i .ÍS? i.p. 1 71. c.z.p,

\ j^.ç. I . G^ z.íSp. I %^.c.z.infin. v.i^^. Domine .^fipercutimus in gladio l

p.^79 cz infin. V.6 1 .Refpexit,pag. 1 25.C. I. Cap.2g.v.2. Subvertentem gemem «#7

Jtram^p.\\\.c.z. V. 14. Ego nullam caufam invenie in ha*

mineiflo,p.6\c.Z' v.z^Jefumvíro tradidit voluntati eo^

rum,p.6^.c.z. v.g4. Pater, dimitte illis : non tnimfci^

nn t qutdfi cÍHnt,p . g 5 .«"• I . v.^T^.Hodtemeçumerii inParadrJo.pa^

^lo.c.z.infin, Cap.i4.v. I iJpfa die,pag. 299.^.1. Ibid. Staaiorumfexaginta^ P''£- '^9^

col.z. V. 1 5. ípfe lefus appropinquans ibat CHta

iUís,p.z99 Cl .

Ex D.Joannc, Cap. I . V. I g. Qui non ex fanguinibusjèd

ex

^í^

Lugares da Sagra

(ol.iJnfin-.pag.x^^.colA.^leqq.'^?. Ihió.Et habitavit in nobts,pag.^^z.c.u

Ihiá.EtvidímHsglor^íim ejus, gloriam qt4aJiFmgemti.à PMre^ píemmgram, ^veritatis.p.TL-} '2^.c. i .pag. 585". col. i. in princÔ pag4'i.6.c.i .

^.16. De plenimãine ejusomnes accrpi- \ WHs^ ^ gr a- Um progfMta.p. 585". c. i .

v.i^. Sacerdotes j& Levitas^ p.%<^.c.l.

Ibid. Tfí quis es ? />.88.(r. i .^ feqq. pag. izy.c.z-in pritjc.^ p.f^^.c.z,

V. 20. Et confejfus efi^^ non negavit: & confejffis efi : Qtiia nonfum ego Chri-

flHS,p.97,.G.l.^Z.^p-lOl.C.X.(^fi^q.

v.^i.Elus estti } pag.ioi.col-zanfin.d fiq.&p.ioS.c.i. Ibid. Nonfim,pag, iox*coii. ^pag,

Ibid. Propheta es ttt ? pag.io^. c. l-pag.

\OQ.C.\.(Sp.ll$.C.l.

\h'\à.Noi9,pag. 10^ xA. v.iX.Qíiiddtcis deteipfo ?p.SS.col.i.& feqq.

v.i^.Ego vox clamantis in deferto , pag, ii^.Ç'i'mfin.p.ii6.c.z.^ f.iiy.c.z,

f »»/». i/.z6.Medm veftrumfietit, quem vos

nefiitís,p.ici.c.z. v.i8. Híecfi5lajHtJttram/ordanem,p.

lOl.C.l.

Cap.-^. V. 19. Lux venit in mundum , ^ dilexerum hominesmAgis tencbras^quã lucem,p.6t.€.i.<^z.

v,Z^.§í^habetJponfimi^onfas efi: ami^ cus ante jponji gáudio gaudet^p.^l S.f.i.

v.^a. Illnm oportet crefc^re , m ±^t^_

da ECmtun, fSp

minuiipag.j^f.c.í. Cap.4. V. 30. vi//; labor averHnt, (3 vos in

labores eorít introifiis,p.i\.6j .c. lànfin. Cap.c. V. 1 7. Pater meus ufque modo ope-^

ratttr:^ ego operoryp.'2^\^.c.i. - V. zz. Pater omne jHdiei'^m dedit Filio, p.

60.C.Z.& p.6 1 . c. i.inprinc. Cap.6.v.2. Seqtfebatur eum mnltitudo

magna^quia videbantfigna^ qudLfaáe-

batjuper his^qui infirmabantur, /-^^-o.

col.z.infin. V.')- CfimJkblevaffH óculos lefus , ^ vi-

dijpt qtiia mnltitudo máxima venit açl

efim,p.'^zi.e.i. «z/.io. Dijcubuerunt ergo' viri , numera

quafi quinque millia,p . 52 1 .c. i . v. iz.SHperaveruntfragmèta^p.zyi .f . r.^ v.zj. Operamini non cibum^quiperit^feã

qtiipermanet in vitam aternam , quem

Ftlkis hominis dabit vobis^p.z'2j x-z,^

feqq. Ibid. Huncenim Pater fignavit Demypl

Z'ipx.zA3feqq. v."! I .Patres noftri maducaverunt Man^

nàindefirto,p.^^fX.i.^ v.^Q'Hic efipanis de Cdo defcendens : ui

Jiquis exipfo manducavertt , non ma*.

riaturp.x6f.c.i, v.f^. NtJimandHcaveritis camem Filij

hominiSy(S biberitis ejusfanguinem, non

habebitis vitam in vobis^p . 1^9. É^2, V, ff. Caro mea^vere efi cibus,p.z^7^x.JÍ

ínfin. v.f^.Qffi manducai me^ (^ ipfi vivet^

propter me,p, ^T^^x 2 . infin. v.f^.Hic efi panis,qHÍ deCdo defiendit^

p.l'^lX.i.^feq^.^p.ií^S9-^'^' Ibid . ^í" manducat hunc panem, vivet . inaternum,p.zf^x.j.&fiqq. vJSi,Hoc i)osfiandaHz^tf P' ^^o.€.^.

v,6y

i)

' Index dos

cvno vUcrith Fílium hominis af- fwnem <.mdmmfâeiemHS, ;>.5 8"i xol. i

590 ^'.6^. Si

^ céadentcmuhí eratpyim^ p.ZiSp.c.z. ■V .6^^SpíritHsj(i^qm vivificai : caro non prodeftqHidqHamyp.ià^o c.X.é^feejaf. Cap.7.v.54 Quibreúsm^^ér ^^^ invcniâ'

' íís,p.i^6.c.i. CiLpM.v.ii.Etin peccati> vefiro moris'

7?tÍHÍ,p.l^6.C.l.

w /\.S. Samaritanas estUy<3 Damonium hahes,p.i^i.c.2. Cíip.9.V.i. Rabbi^quispeccavit ,hic,aut parentes cjus^ut caçus nafçeretur? p.Si,

Cap.io. V. ij^. Ego fum Pafior bmus: é^ cogn'ofi:o oves meãs y ^ cognofcfim mi

Gap. I i.v. I i.Laz,n-ru:amícm mfierdoT'

mit^p.\o^<c.\jnfi}i.& eol.i, f.14. LAz^cirtts mortuuseft.pag.Llo^x.l, infin.^ col.z. ^47. Qjiia hic domo multa fignafacit^ ' 'P^^ 6^-c.l.infiíí,

' ■©'. 48. Vement Romani^ ^ toUent noftr» ' iocHm.p.íipx.i.

Cíip, 12. V. IO. 1 i.'^/cqíj> Cogitaverunt Príncipes Sacet-datí-i^f^ tit Í3 Laz.arum imcrficeyent^&c.p.foS.c. I .&fi^^q. ij.l2.Hofiííinafiiío David, p.^i^.c,i. ^'.1^. Eccemundus tatus ^ofleum abtjtj p.09 c.l.inprinc. Cap. I ^.V.iS. Hoc^utem ncmofcivit dif- €HmhentíHm,p.^^o^^.iJnprtnG. & coL l.l^feqq. C:\v^i ^.Y.z. Fado parare vobis hçnm^ p.

I99.C.2. ■'í/. 1 2. Opera qna ego facio^faciet, ^ ma- iorafaciet : qnia ad Eatrew vado, pag,

'V.i'!. Si quis diligit me.fiermonem mcum

ihfin.<iy fcq. Cap.ij.v. lg. Maioremhac dileãionem

nemo haht,p.^^^.c.x. Cap. 16.VM4. PetiieÇ^ accipietii,p.'^iz,

col.i.

Cap. 1 9. V. 12. Si huKçdimittis , non et

a-micus Cifaris.p.'^i 9 r.i. infin. v.i6. Mulícr, eçcefilmstuHs.p 409.^.1. 'Z/.g4. LatusejHs aperuit.p^^^Of^.col i. lhió,Exivitp.nguis,& aqua^pag.Gô.c.Z,

p'lji .cqL I .tnprinc. ^ col.z. ^^.409.

col.z. Gap.zi.v.r^.Etfiimus quia verum efi

teftimoniu ejus.p.^i i .c.x.mfin. ^ fiq. V. i^. Simon loannis, diligis me pias htsf

Ibid.Tufiis qpiia amo tep. ?og.f.i, Ibid Pafce agnos meos,p.::^o^c. i, '^'. I y.Dícit tertí0,p. ^04 í". i. Ibid. Pafce eves meas,pag. '^c^.cffl. i m

fin-é-fiq-

■V.ZO. Converpís Petrus, vidit ãlum diÇ-

€ipulum, quem diltgebat lefus ,feqMn^

■tcm^p.^C^.C.l.& feqq. Vo\ò. Qui & recubutt in c£fiAfuperpe-

ãus ejusyp.^oó.-coLz.^ p^g,^z 1 c^2. i*

fin. \h\á. Et dixit : Domine^qaisefi^quitra'

Àct te fp.c^i^ col.%.^ pag.iigZic,x:in.

fin.&fcqq. v.Z I . Domiíie, híc amem qmd ? p . 405*,

C.\.^ l.^p.^l.^.c.Z.afeqq. v.zz. Siccumvolo mancre d9nevveni%^

quidadte} p.j^0yc.i.& Z- ^ p. 414,"

4:.Z. ^ fcqq.

Ex Libr.A6luam Apoílolor. Cap-l .v-^ Et nubes fvfccp:t eum nh e:u- Jis eorum,pag.7.j j^.coL i. /crví^bit,^ ad enm venismHs^p mm- ^.z^.Vt abirft in lGCMmfuffm,pag. a o r ,

ç^i^ "^ .Ca?.

Lugares da Sagrada Efcríttira? fp í

Cap.^.v.i y.SciO'<jtíiai>er ignorantiamfe- detn accipiet fecmdHmfmm laborem^,

cifiís^Jicut ^ Príncipes vefiri,p.'^'i^.c.i. Cap.i^.v.ii. f^ocabant Burnibam , fo- V27n : Paulmn vero-, Aiercurmmypag.

Ihid.^oma??^ ipfe erat dtix verbi, pag.

Cap.i.7.v.28.-^ ipfaenim vivimuSy. ^

movemury&fHmm^p.x/^i.c.x.

Ex Epiír;D.PaLil,ad Romanos. Cap.i.v. 1 .In ciuojMdicas aherum , teip-

fitm eondemnas.p . 8 6. col. i , iujín . v.í^ An divitias bonitâth ejm , é^ pati-

entí£,& lo-nganimitatis contemnis^ pag.

lô.c.t.mfim. v.^. Secundam amem duriíiam tuam^^

impanitens cor, thefa,Hriz.as tibi iram ,.

in dte ira,,^ revelationis jufli judiei} ' Det,p.z6.c.z infin.&fe(j^. Cap.8. v^i6. rppenim Spmtustefiimonm

redditfpiritíii noflra , ^mdfíímus Fdlj

Dei,p.:2,'/6.c.i.. V. 1 7. Si OHtemfiUj, & h^rcd^s ; hteredes

qnidem DW, coh^eredes autem Chrifii : , Ji tamen compatimur , m & eonglonfi-

cemur.pag.-^jGx.i. "^•^f- Qji^^^i^go nos feparabit k charitate

ChriJíí?p^'^'j6:c'-2. Cap.p.v.^. Optabam eggipfe anÀ.hsma-

ejfe à Chrífioprofratabus meis^quiftint

cognati meifecundumcarnem, p. 278.

col A. Cap.i i.v.g^. Quam incomprehenjihilian

funt judiem cjus \p.Tl.c. 1 .infin. í/.ç^f. Aut quis prior d^dit illi^ & retri-

buetíir ei} pag.c^^^.c.i . Cap. 1 5'.v»i9.. EvAngelium Chrifli,pag.

257X.1.

Ex Epiít. I ad Corintlr. Cap.g^.V.8. FhusqxifqHe propy.iam merae-

p<íg.^6i.e.i,infii. C^p.^.v.^-Nihil mihi confcius fum , pag,

i^c.i.& 2. \hià.Sednon inhocjufiijica^uspim : qui

autemjudkatme^ Dominus eíí,pag.i'^,

col,x. v.^.Notitemte tempHsjudicaref p JJ^c»

1 .inprinc. Ibi d .QHpadufque veniat I>ominus> , q^ã

Ç3 illHminabit abjcondita tenebrdmmg

pag.'^^x.iànfin. Cap;7.v.29. Fi & quihabent ftxores, ta*

quam mithabentesjtm.,p.'^x^t-^feqq:.; 'U.'2pEt quiflent^tanquam nonfienies t

& qui gaudent, tanquam nongauden"

tes : & quiemunt ytanq^ammn pojji'^

dem-es.pag.;^ c.z.&fiqf. •y.^i. Et qMUtuntur hoc mundo' , tan^

q>tam non utantur^p.'^.c.x.&fiqq. Ihiã.Pr^terit emm figura hujus mmtdi^

p.â^c,i. Cap.p.v. 14. Gmnes inftadiocurripmifeã

unus accipit bravmm-p . 2 o ^.í". i . Cap.io.v.ii. O mniain figura, conúnge^

bantitliSyp,iS'^.€.i. v.iz. Quifieexifitmatfiare ^ v.ideat n&

cadat,p.zi^.c.z. Cap. 1 1 .v.2g. qua noUe tradebamry/p^

a45'.c.2..,..r, ^^.24. Hoc ejt corpus meum, qftoâprom^.

bistradetur^p.^Gi.c.z.itiprinc Cap.i 5.V.7 . OmniafifjJrert^p^2.6S'^,%^ Ibid. Omnia credit, ommaJpsrat.yOmnm

fiíjfinet^p.-^ix.cz. ^'. 1 1. Cumejfemparvulks', kqúeBm! hU

parv--4lm,fapiebam m parvulus.,cogiía^

i>am Mparvulus-. ^iuando-auiemfaãu^

fiim vir^ ev-ãcuavi quiS crantpaxv-HB^

\

í

^92

rrnjn'/ indexdos

Cap.i5'.v.io. ex addir. KcchC Gratía

ejm in me vdctia non fnu , fed gratia

eJHsfemper in me man etjp.zy^.c. 2. in

fin.à feqq.^ />4X4.c-.l. tHpnnc.^

*:/. 2 1 .jQjfottdie morior^pag. 2^ 3 •^•'i . ^ p-

^ói.c.z.in princ. •z/. 4 1 . Alia c Untas SoUs.alia çUritas Ln- n^^& alia claritas Stellam. Stella enim àftella dijfen in clarita^e,p./\.6i.c.l. V. \6.Non prius qmà [pintuale efi , fed qmd animakydeinde qnod (piritmle,p. 289.^.2.

Ex Eoift.i.ad Corinth. Cap.2.v. M.Evartgelium Chrijii^ P-'^S7'

col.l. Cap.g.v.iS. J claritatein daritatemj p^

0^16. Ci-in princ. Cap.f. V. 15". Pro omnibHs mortnus efi Chrifipis,p.\6\,c.\. v.z I . ^i y^on noverat peccatHm,pro no-

hispeccam?nfecit,p.^^z.c. i .^ feq^ Cap.6.^^ i . Ne in vacuum graiiam Dei

recipiatis,p.zj2.c.i.^fip. Cap.9.v. 6. O/iiparcefimtKat , parcè ^ meíct:^ qmje?7}inat m benediãioni- bus, de benediãionihus (3 metet,p.^6l, col. i .infin. 'V. I "i^.Evangelium Chrifii,p.Z^j.c.í. Cap.i i.v.'l.^-Qj4Ísir,firmatHr,& cgomn infirmar"^. Qiiisfcan dalizjttnr , (5" ego non HYor ? p.^ó^.c i .in ^nnc. & c.z. Cap.i2.v.4. Audivit arcanaverba,qu<e non licet homini loj!íi,p.í\.zz.c.z, Ex Epift.ad Gaiatas. Q-xv).i^.v.Z'^ . Spiritu vivimns ,fpiritu ^

amb'Mem'^Sy p.1âf'yC. i . Cap.6.v. 14. Mihi mundus crucifixus efi, ^ eoo mundo.p.f^i^T^.c.iin p,inc. Ex Epilt.ad Philíppcnf. Gap.i.Y.ó.C^ -j.Cnm informa Dei efièt ^

non rapinam arbitratus efi ejfefi épejua^ lem Dco,t:^c.pa7.X'^\,.c9l.x.(S feqq. (^ pag.ZT^^.col.z. Cap.4. V, 1 2. Seio abfíudare , (Sfciv efifri- rejp./^d^.c.z. V'i\ Ommapojfum ineo , qui me con* fortat.pag.xi^.c.i.

Ex Epiíl.ad Colofleníès. Cap. I . Y.xo.Pacificansperfanguine Cru* eis eJHS, five qH4L in terris ffive ^ha in Cáílís,p.i6^.c.z. Cap g.v.^.Afí^rm efiis: C3 vita vefira efi abfcondita cum Chhfio, in De9,pag, 27f.c. 1.CÍ2. 1/.^, Cfim Chriflus apparuertt, vita ve^ ííra : tunc C^ vos apparebitis cum ipjh ingloria.p.zy^.c.i.^ fiq. ExEpiít.adTitum. C^ip-Z.v. I '^.Expeãantes b:atam fpem, & aâventHmgloriA magni Deiy pag.yjo, CdLz.&feq.

Ex Epiíl.ad Hebrícos. Cap I .v.i .Novijfime locutus efi nobis in Fílio,p.z^6.c.i. v."^. Qui cumfi: fplendor glori<t , ^ fgt^

raffíbfiantia ejus,p.'^fo.c.l. V. 1 4. Omnesfunt admimfiratorij fpiri* tus in mmificrium mijfi,p. 3 1 1 .í" I- Cap.4.v. 1 6. Adeamus ergo cumfiducia adthromímgratiâi : Ht mi(eríC9rdia?n confequamur, ^ gnniam -nv^niam^s in auxilio opportHno,p./^ 2. c.z. Cap.6.v.6. Riirfam crticifigentes Filium

Dcip.^ox.z. Cap.7.v.iT. Translato enim ftccrdotio ^^ neceffc efi, Ht çj^- Icgis fausLuw fiat,pAg. Z^ i.col.ijn fin .0 feqq. v.ZT^-Et alijqiiidem piares faãi funt Sa- cerdotçs^ídtirco qtíod morte proh^berin~ t»rpermanc}e,pag.xfz.col. i .

,v

Lueares da Sagrada Ercritiira: f9^

íttermm, fempkernum hde( fic^dd

Cap.ç.v. 1 1 . Pontrfexfamyt^irttm hmra,

G'4. lo.v. I4.^w<« 9lfUtione,c(íHfrnímavà

infempííertmm/ànãíficatos^p.tS^.c i .

Í/.19. ^f Pilíffm Dei, conculc(!iverky(S

. Jàngmnemteflamenú follmam dum-

rity in quo fanãificams efty ^ ffirim

gráúa contHmtliamfecerit^f. ^00.6,1.

Cap. I KV> 24.6c 2^: Mojfes granas fa^

Uhs negavitfe ejfefiíium fdiA FbaraU'

vis : magis eligem affigi vum pepul»

Cap. n.v. 1 7. Ohedite Prafofins veBns^ ÇSfubjaceteeis.Ifji enim pervigHant , i^mji rnmnm po animahis vesím reddtíHrí^p.lfi.c.l.

ExEpift.J.D.Petri.

Cap. i.v.^.ÔC 4.. BehedtBíís Deus, &P^" terDommmftri Tefii Chriftí , qui fe- 4mdum mifeníordiamfmm magnam reireneravit nos in hícreditarem incor- mptibilem^^ incontaminatam, & im- marcifcibilem, cmfervatam in CaUs in vobts^p.-i^^ZX.iÃnfin.^ feqq, v.J.AumTnquoÀper ignenf prob^tur.p.

?/.8. Quem chm mn vidsriíis , diligiiisy vag.'iiz.c.z.infii.

Ex EpiJb:2.D.Petri. Cap. 1.V4. Per qHen^^tnAxima,^ pretio^ nobis promi[fa dimavit : fitperhíscef' ifciamini dtvin^ confortes na:ur^, pag.

%i. I o. Fratr es Jat agite, utper b&na opera €enar/i vefiram vocationem, & eleíiio' 4í€mfaciatis,p. 1 1 9.<?. i . £5* feqq. Ex Epift.i.D.Ioanu%

yabemMs-amd Patrcm.Iefitm Chrifinm jHftum,p.i^'è.c.x. . ;

Gap-.'' .V. 1 . f^tdeíe qHítlémcharitatem de^ . ^dit^mbis Pater , «í fil^j Dei nomine-

míir^&Jtmus. Propterhoc mund'isn(n^- ^ 'novit nos: quia nonmvit mm, p.TJ^.

çoL%.infin.êfeqq. r ^

"^^.í. Oftoniamifidebimus mmpcuticjtt

^.281. Cl. ' ' Ex Libr.Apocalypíis. Gap.T.v.14. OquH ejm tanquam fiam*

ma igms,p.^'j€.c.x. V.16. GladiHsutrâqpte parte acHtus, pag.

143 .c.x. Cap.4.v.6. Ante,^retrKp.'2^%$.c.x. v.j. EtqaartHm- animal fimile aquik

mlanti,p.'^%S ^^'^• v.lO.Mittebamcor()nasfiias ante thro"

num^p.^^^^-c.i.infin: C'X^.''^ .&' Agnfimjianten^ tanqmm oc*

oípim,f .1%^.C' I .^ i- «^. 9 .Cantabmt cant.icmn novtím, p-^'ifi.

(j.i.infin. v.ii. Dignui efi Agnm, qm (fccifm efi,

Mcipere virtmem, ^ divinitatem, pag.

%'^^.c.i.&feqq. C^p. ó.v.^.Fídifiíbtmaltare animas in*

terfeãoruntprpptef verbftm Dei^.z^S.

€.%.infin.&fiq. V. iz. Solfa^Hs eíí niger, tanquamÇai;-^

cuscilicinm.p.SS^ c.'2..infin. Capj.v.iy. Et abfiergn Deus emnem

laçrjmam abocuUs eorum^.ò^i^.c. i . Cap.i4.v.4. Virgines enimfunt, Hi (è-

mtmtur Agnnm qmctínqíie ierit.fag^

goj-.í-.i. í^.ó. Habcii^em Evangelium tíernum, pt

l^ó.c.Z.infin.&feq. ^. j.QMía vmt horajfidkij e^u, p. i^y*

í

f94 Index dos

Cap. 19.V. li. Etmtapiteejusdiadema' Cap.2

ta míííta,p.f^g.c.í.én prtnc. Gap. 10. V. II. Et vidí throriHm magnum .IgOfiàiÂnm, (3 fedentemfuper eum^k cu- jHs confie ãh fugit terra , (^ calum, p.

t;. II. Et vidi mortHos magno s y& pn/tiloí fiantes in confpeãu throm,p.iS.ç. i .

Xhià.Etlihriapertifunt: ^ almsliher apertus efi, ejui efi vita : ^ judicati funt mortm ex his cjHétfçripta erant in lihris jècmidkm opera ipforum^p.-i^.c. i .

, V 4, £/ mcrs ul ra n»n erit^ ne-

^H€ InlÍHs.nec^Hs dolorerit ultra , e^uia

prtma aipferHm,p.;^^6.c.l. v.zi. Platea civttatis aumm míwdnm^

J&.446. c. 1 .infin &[€Cfef, Ibid. Tanquam vurum perltuidHm^p,^

446.C.X, V. 2^. Nam ciar it Dei illuminavit

eam^^ lucerna ejm efi Agnus, p. x 54.

col.l.&feefq. v.i 7. Non intrabit in eam alit^Hod coi»*

qmnaium^.^'j.c, i. »

IN

f9f

I N D E X

Das couías mais nota^^^is.

Os Numeros^ftgmfich às Tagims.

A S Acções de cada hum

.- :^ f\ faó a fua eíFencia, pag.

: >i 15', 1 1 6. A verdadeira fidalguia he Acção, p.i 17. Nas Acçoens íê de- vem fundar as eleiçoens, & fegu* rar as pred^ílinaçoens^p.i 1 8,

'^<laÕ. Elcufa que teve Adão para naô refponder a Deos,quando lhe per- guntou aonde eftava^ p. 21. Por valofjSc virtude do fanguedc Teu Filho foi a Virgem Maria prefer- vadadopeccadode Adaõ ,p.i6i. < ufque ad í óf. Adaó nafcendo uni- camente l)omem,nem por iílb dei- xou defermininojp.aS^» A Adão deo Deos particularmente o titulo de imagem fua ;6c porque, p.ggi» Porque perdeo Adão com o Pa- raifo a Monarchia do Vniverfo, p. 540. Perguntafejfe Adão pela def. t)bediencia perdeo o fer que tinha» út imagem de Deos,p.3f i.

Jima. E bem- porque mais fe deve temer a morte da Alma, que a dd ^orpo, he o juizo de Deos mais te- . meroro,qu.e o dos homens 1 6c por- que, p.78. ÔC ulterius. Por mats, que húa Almafofle fenhorade to- do o mundo j fempre ficaria vafla ^ porque Deos a pode encher, p. íff. O que devem procurar os verdadeiros Chriftãós,he encher a Alma com a graça,ôc a graça com as obras, p.ayS. A Alma que che- gou ao ciime da perfeição da vi* da conteraplativa,nem as acçoens. lhe divertem a contcmplaçáo,nem a contemplação Ihe.diverte as ac- çoeils, p.^ 1 1 1 0 que ou ver de fer verdadeírkimagem de Deos, nam baila queieja homem c5 Alma ^ fenão também Alma com home, p.522. He tanta a alteza de huma Aima,que eílà em graça, que che- ga Deos a fe tratar com o homem com. tartta familiaridade , como faaõigu^Sjp.37g. .^, ;

i

5^6

Altura. A mefma Altura dos graa-

des lugares he o final certo de fua

niina,p.io9. Naõ ha Altura nêfte Z .mundo, que naõ feja preeipicio, p.

211. Os lugares aítos, ainda que

não haja enveja, nem competen- ( cia, que os inquiete, elles mefmos

fe inquíetáo,ÔC a quem eítànelles,.

p.i 19210.. ^^mhifAo.. A Ambição dos homens

mais os leva a fubir pelo difficul- ; toío,que a decer pelo- fácil > p.roó..

Onde ha enveja , êc Ambição de.

Iugares,na5 ha virtude,p. x 1 8s. " «á^/^í>..Hum dos grandes efcandalfis

do muiidb, he naõ le teftar dos t' Amigos^ p. 4.07; O maior Amigo ! permanece atè a morte: depois da

morte,ninguem he AmigG,p*4o8. 'Amor. Naõ pronoftica m.elhor, quem

- melhor entende , íènaõ que líjais

- ama, p.ii;^. A cegueira do. Amor próprio, he muito maior, que a cc- gueirados olhos^p. 124.& ulterrus. O Amor he hum íehtimento, que faz iníènfiveis, p.139. Não ha mo- tivos,porque hajamos de amar a Deos fobre todas as coufaspara o fim da vida, pelos quaes ji. agora o naõ devamos amar aífim,Jpag.i 5-0.. Maishedceftranharo Amor dos primeiros lugares, do que os mel^ mos lugares, p. 230. De quantas

' partes ha de conftar o. Amor de Dcos,p.283. Porque a graça con- íifte em amar , & ler araado de Deos, mais fe deve efcolhcranrcs a graça,que a gloria, ainda que a gloria confifte cm vei* ao mcfmo Deos, p.^/i.ufq.ad 374. Paor hc

Index dar

não amar a Deos, que não ver a Deos, p.577.urq.ad 58a. O Amor, & deféjo bem ordenado da gloria,, naõ ha de íer por amor da gloria , fenâo por amor da graça, pag.3 83. NaCortedeChriíto, os que tem por ofítciofer verdadeiros, faó os que tem porpremio o fer amados: & porque , P41 2. Amar he entre- gar o coração: mentir he encu- brilo, P413. A graça ha de que-

^ rcríè por Amor da graça,p. 423. ufq.ad 417. Naó pôde haver mais. fino Amor, que aquelle , que en- trega o coraçãojSc fecha os olhos,- p.4i7. Ate os Gentios condenão o Amor,ou cobrça.dos bens do mú» do,p.468. Deixar a Deos por amor dos nadas do mundo , he fazer a^ Deos menor que nada : mas dei- xar o tudo do mundo por amor de: Deos, he fazer a Deos maior que tudo,p.5'47. Tanto crecc Deos em íuagrandeza,quanto deíprezão os homens por feu Amor,p. 549. Qp^ injuíliças íabe fazer o Amor divi-- no,p.55'i.

'jânjçi. Porque quiz Deos, quando ca-

^ ibgou os Anjos máos,ficaílem par- te deli es na Região do ar,p.529.

Annos. Seguircmíè. aosannos os de- Icnganos, he fazer o tempo>o que faz o tempo : mas anticiparemíc os dcfenganos aos annos, he fazer a razão,o que o tempo havia de fa- zer, p.5'41. Poucos annos cm Pa- laciojConvencidos , £c dcfengana- dos, grande vitoria da razaô,p.542..

Apçfiolos. i\ perturbação que caulou nos Apoíiolos a doutrina de Chvi-

cotifasmalsnotdvets. < fto^qmn Jo lhe prometeo, Sc pro- fetizou no Sacramento a comida . de feu corpo,p.i40; Sutisfa-z Chri- . ftoásdifíiculchides dos Apoftolos fobre a doutrina dcfte myílerio-,.p.

aAi. Como os Apoilolos,fendo tao : põucos,fe pode eítender a^fua pre-

gaçáo às mais. remotas diílancias : do mundo, p.H9- Quando os do-

ze Apoftolos repartirão enu-e fy o . mundo, fe levara cada hum a lua

alcofa dos fragmentos do paó^com. , que Chriílo deode comer a cin-

- GO mil homens,baftariáo aquellas . fobras afuftentato mundo todo,

p.169. 270. \árte. Antes de haver no mundo a Ar- teda pintura, retrataváofe os ho- mens cada hum Vela fua fombra,, p.240. He teftemunha a Arte,para prova dos bens do Ceo,puros ,6c . fem mifturade mal,p44.6. Quem : forão os primeiros, qfe achaoha-

- ver ufadadaartelhariapelo artiH- . cio da pólvora, p.49i- Maishene-

ceíTario para fe gerar no ar hum rayo natural,que na terra hum ar-

: tifiGÍal,p.494-QiJ^^^^^ '''^'°'' ^^^''^^ 20 fazem eíleS,lbid.

'^ml^Htoí.Uc tal maneira fumio em " fy oi Verbo encarnado os Attribu- tos de fuadivindade,quc depois de - encarnar não aparecião nelle . mais, que os vaííos da mefma di- vindade,p.255. A primeira proprie- dade dadivindade,que hefer Deos -• Efpirito,he o primeiro Attributo, > queGhriftoreftaurou no Sacra^

mento, p.i59.wM<^ ^44-

B

}f^7.

AS Batalhas da razão ca

Batalha. .„

os annos he húa guer- ra, em que refiftem mais os pou- cos,que os muitos,p.5'4 1 . Bamfia. Dceftar o Bautifta einpri- zoens fe pi'ova,que hade haver ou- D-o juizo,ôí: outro mundo,pag. 5',6. . Como fe verifica dizer Chrilto, % o Bautifta era Elias ; êc dizer o- Bautifta,que não era Elias, pa 16.: Mamjmo; Se queremos rémiflaõ dos. : peccados, tomemos a penitencia», como Bautifmo,p.i49i Ainda que os.Bautifmos lejaó femelhantes- nos adultos,6c nos innocentes ; faS : com tudo muito difFe rentes nos

- bautizados, p^iSô; Maixezja. o ultimo lugar eftà livre

deinquietaçoens;;6c não por 00-;

tro privilegio, lenão por fer o mais , baixo, pi220;22r. BâMavmturança. A melhor couCãjqué : tem a Bemaventurançajuam he <>;■

gozar a gloria,he o íèguraí a gra- . ça,pi426. ComonoCeo acômu-;

- íiicaçáo da gloria dos Bemaventu- rados he univeríàlmente de todo?,! & particularmente de cada hum^i p.46 i.6c ulterius.Qimmgrande fe- ra a gloria dos Beraaventurados 5, fendo elles infinitos, & agloriade cada hum. as glorias de todos^pag,.

466.467.

Benção. O que tiver Bênção para to- ' dos, pode entrar em preíumpçoés^ , de Meflias,p:96i97. A. defiguàlda- dedas Beuçoensnãoargue- defí;- gualdadfi;

.5p8 Index das

gualdadc^deamor cmqucmasdà, juizo de Dcosbaíbfer Bom no

lenãodifFcrençade merccimétos, cm quem as recebe, p. 98. Porque razaó ninguém eftà contente com a fua Benção, Ibid.Ôc p.99.

Bens. Naó faó talentos os dotes da natureza, 6c bens da fortuna,6c os doens particulares da graça, fenão também os contrários , ou priva- ções de tudo ifto, p.42.6c ulterius. Ainda que os amigos fejaó os noí^ fos maiores Bens, não íe còíluma no mundo teílar dos amigos j por- que íaó Bens,que fe acabão com a vida,p.4o8. A grande differença que ha entre os bens da glo- ria do Ceo , êc os das glorias do mundo, p 4^4. Todos os Bens do mundo, faó Bens com miftura de males : & ella he a primeira diffe- rença,queha entre cllcs,6c os Bens da gloria, p.455r.urq.ad444tSò os Bens da gloria, íàó Bens íèm mi- ftura de nenhum mal, p. 445'.uíq. ad 44S, Dos Bens do mundo, quá- do muito logra cada hum os íèus : dos Bens do Ceo,&: no Ceo logra cada hum os feus^ & mais os de to- dos : òc cfta he a ícgunda diíferen- ça,que ha entre huns, 6c outros èens,p.449. ufq. ad467.0s Bens do Ceo gozãofe por junto, 6c nam fucceíTi vãmente: 6c he ú terceira diíFerença,que elles tem dos Bens do mundo,p.468.6c ulterius.

Bom. Para íeies bem julgado no jui- zo de Deos, bafta que vòs fcjais bom : mas para feres bem julgado no juizo dos homcns.he necellario que ningucm fcja mao, p. 83.

ultimo inílante da yida : 6c no jui- zo dos homens bafta ler máo em qualquer tempo, p.84.>Seeu fou Bom, por mais que me julguem mal os homens, naó me podem fa- zer mdo.E fe eu íou máo, por mais que me julguem bem,naõ me po- dem fazer Bom^ag. i g 7. Se fores Bom, fera o voíío lugar bom : 6c fe fois melhor, fera melhor, p. 19& 199. Bondade. He tal a Bondade de Deos , que quando quer caítigar os ho- mens, o que mais fente he naó ha- ver algum, que íe lhe opponha, 6c lhe reíifta,p.486i487.

c

CapA. A^Otejada a Capa de Elias

^^com a de Ahias , fc

quanto vai de capa a capa,de eípi*

rito a eípirito , 6c de zelo a zelo, p,

10:5.

Caridade. A Caridade de qualquer Bemaventurado cxcita,aftciçoa,6c obriga naturalmente, Ôc fcm mila- gre a cada hum, a que íè alegre, 6c goze dos bens de todos, p. 465*.

CaJUgo. Qual he a juftiça, com que Deos nos haja de caftigar pelo que naó conhecemoSjp.^l. 6c ulterius. No juizo de Deos não baila a cer- teza do futuro para o caíHgo,6c ba* fta a emcda do paliado, para o per- dão, p.77. De Deos faó mais para fe temer os caíligosj 6c dos homcs, 06 juiios,p, 79.6c uicerius.

Ciufi.

^ confasfnatsnotaveíi, f99

C4///S.Qiiacs faó as caufas naturaes da o íangue do Horto, para Ter prefe-

inquietaçãodos lugares altos,pag. ai8.

Cafas. Como paíTaõ as Cafas de hum domínio a oiitro,pag. 19.20. Com que razão, pia,&: chri(tãa nas nãos aCafa,aque os Hereges chamão Praça de armas, nòs a dedicamos a S.Barbara,p499.urq.ad 50 1 .

Clanfira. Como íè pôde ajuntar a Claufura com a psregnnaçáo,pag. 5-68.

Ceo. O Reyno dos Ceos em todos os tempos tem três eftados :6c quaes faó , p.149. no Ceo ha melho- res lugares,p.i99.urq. ad ioi. No mundo o ultimo lugar he o me- lhor: mas no Ceo he melhor o -primeiro, p,^26.^^ 7.0 Sacra aen- to não íêrà eterno no Ceo pela eceniidade de feus efteitos: fenão também de fua própria fuílancia, p.ajT^.uíq.adzóo.

'Cegueira. QLiaó grande he a cegueira dos que vem excedidos nos ta- lentos, p. 47. Porque acha mais a vontade, fendo cega,^que o enten- dimento fendo lince, para julgar ^ p. 6g. A cegueira do amor pró- prio he maior que a cegueira dos olhos,p. 1 24.6c ulterius.

Cidades, Quaes forao as mais afama- das Cidades do mundo , p. i ^5. 14. E como todas tem paflado,Ibia. E quantas paíTáraõ de humdomi- ntoaoutro,p.i8.i9.

Conceição. Quando, onde, 6c como o Filho da Virgem Maria obrou .0 Myfteiio de ma ConceiçâG,p. 165*. 6c deinceps. Que prerogativa teve

rido ao da Cruz no Myfterio da Conceição de Maria, p.i 72.ufq.adi ] 74. Húa admirável propriedade do Myfterio da Conceição defcu- berta da hirtoria de Samfam, pag. 175'. Anticipouíè o fangue do Horto ao da Cruz, porque foi có- vcniente,para gloria daConceição da Virgem,que o preço de ília re- dempção foíTe também anticipa» do, p.178.179.

Co«^/f5f . Qiiando parece,qiie mudou Deos de condição,p. 141 .

Cênciencias. Ho dia do luizo fe haõ de allumiar as conciencias de todos os homens, para íè manifeftar tu- do o qiie nellas cfteve efcondido, p.54.

Confelho, Quam cruel executor he Confelho náo executado,p. 5*10.

ContíL. Tudo paíTa para a vida,6c nada pafla para a conta,p.5.8c deinceps. Ao crivo do trigo, 6c ao crivo das nuvens íè compara efte paíTar, 6c não paíTar da vida, 6c da conta, p.' 2.5. Tudo o que paífou para a vida, heonada^ quenãopaíipu para a conta, p.17. O livro da vida he hô. ío : 6c os livros da conta faõ mui- tos,p. 28. Ate o nada não efcaparà da conta nòdia do luizo, p.28.ufq. ad ^1. De que haó de dar conta no dia do luizo os que tiveraó oífi- ciosjôc cargos neíle mundo , p.56. E como ha de fer rigorofa efta co- ta, Ibid. Como ha de fer exã6t:a a conta dos Talentos,que Deos deo a cada hum, p.4x. 6c ulterius. Co- mo badeíèr dií^iícultofa a conta

das

M

"5&oo; Index

áz% dividas , cm q efcamos a Deos,

no dia do Iuizo,p47.Gc deinceps.

CiT/íípíJ. O coração he o verdadeiro ; final da profecia,p.iig.Arettat|ue

ferio o coração , defende de todas . ^sfettaSí p.139. A penitencia para

revogar o JUÍZO de L)cos, voltanos

o coração, p. 144. Se Deos agora eílà dando golpes ao coração do pcccador,ôc elle lhe não abre^ mal

- pôde efperar depois , que Deos o ouça,quando o queira chamar, p.

. i5'4.Quem agora não ouve a Deos de todo coração, quando elle cha-

. ma 5 não ha de chamar a Deos de-- pois de todo o coração, p. 155. A- inar,hc entregar o coração : men-

, íir,heçncubnlo,p,4ig. Quemcó- quiíla a graça pela graça , conten- tàfe com o coração, p^if. Ckryjíp. O corpode Chriilo no Sacra- mento nãoeftàcom as condiçoésJ naturaesde corpo, fenão as mila- grofasde elpirito,p.x4i.AíTnn co-

: mo na Encarnação fe contrahio o

, vácuo da divindade peio incorpo-

. rado: aííim no Sacramento rcílau- rou,6c encheo o corpo de Chriilo

. omefmovacuo pelo incorpóreo, p.242. AíTim como Chriilo no Sa- cramento encheo o primeiro vafio da divindade, efpirituahzando o feu corpo,6c fazendoíc corpo,{èn- doefpirito: aíTnn eíla admirável transformação não a obrou

. Chriilo em feu corpo facramenta- clo, fcnãoquc também por meyo do melmo corpo facramentado no la comunica anos, p. 245. ufq. ad Ç145. 0 ratcíaio íc da dos mais At-

das

tributos, Ibiá.& deinceps.

Cofi^;4. Mais hedarderoílo ao muti^ do, quando o mundo nos moílra bom roílo, do que darmos nos af coftasrao mundo,quando o mundo nos vira as coílas,p.5'4g,

ConverfaS. Naó ha razão nenhúa, que noshvredenos convertermos lo- go, fenos havemos de converter depois, p. 150. Quem fenaó con- verte agora , ordinariamente fal- lando, naó fe ha de converter de- poisjp.iyi.

Crecimemo. Crecer fóra da própria cf-

pecie,não he aumento , he mon-

llruoíidade,p.ioo.Como fepòdcm

- coníiderar crecimentos em Deos,

. p.5'45-.ufq.ad 5-47.

Chrtjlo. Deixotmos Chriilo cõmuni- cadoem fia doutrina, nâofó hum rayo de fua divina luz,mas tres,pa- . raque.vcjumosagorao que no dia do luizo havemos de ver, p, 54. E quaes faó eiles trcs rayos, p, 55-, ôc ulterius. Como nos ha de pedir contaChriftonodiado luizo, de quanto lhe devemos, p. 48. ufque ad 5'z. QLial foi a maior defefi que Chriilo tevedefuainnocencia, p. 6^. Muito melhor me<:onheço cu diante da imagem de hum j^ecca- do,que diante daimagem de hum . Chnílo crucificado, p, i^g. Que . grande remédio faó os pcs 'de hum Chrirto,para fe lhe não dardo juí- zo dos homcnsjp. 140.0 langue de Chrifto não foi derramado por fua^ fantiífima Mãy cm rcmillaõ de peccados,p.ió:^, 164. He virtude fangue de Chrifto poderfc dar

toufasmais

antes de fe receber, p. 1 7 7 ^ P^*'^^ do fangue, que Chriíto efpecial- mente a pplicou para prefervaçáo do pcccado na Conceição de fua íantiirinva Máy, foi a mcfma, que de Tuas puriílimas entranhas tniha recebido,ôc guardado, p.i85'. ufq. ad 188. O Cordeiro vivo,6c como morto,que vio SJoaó, he Chrifto facramentado, p. 2:^5'. ufq. ad a^S. Chrrfto facramentado comunica aos homens a immeníidade, que tem no Sacramento, p.248.urq. ad 25'i. Ainda que o facerdocio de Chrifto fejâ eterno , ôc eterno o meímo Chrifto, parece que fenao pôde fuprir no Sacramento o va- íio da eternidade do Verbo na En- carnaçâo,p.25'i. Provafe o contra* rio, Ihid U ufq. ad ^.25*4. Chrifto náofoi íóhúa vez íacníicado, íe- não duas, p.26 1 . Nem hiia vez entregue nas mãos de feus inimi- gos, íenáo duas, p. z62. zó^. Para tquc S. Gonçalo náo choraflc, & filimentafíe , quando era tninino j J)unha6-no diante da imagem de Chrifto crucificado^p. 289. triatura. As menores Criaturas dâs feníírivas nos eníinão a delprezar os lugares altos5p.22i^ €rHt. Não foi o primeiro fangue da Cru2L, fcnáo o do Horto, o que Chrifto derramou por fua Mãyjp. i66M ulterius. No fuor do litn- gue do Horto ouve húa nova Cruz fem cravos, p. 168. Porque razaõ o fangue da Cruz fahio jun^- tamente com agua ; ôc o do Horto não, p.171. c£ie ventàgemleva Tom. 7^.

notáveis. ^^2.

em Chrifto O amor, que nos mo- ftrou no S:icramento,ao amor,quc nos moftrou na Cruz, p. j6o. Os Martyrcs pagaó a Chrifto nt Cruz, os Religiofus no Sacramen- to, p. 567 . Porque razaó nos Re- Ugioíos fe deve antes tomar o no- nicdaGruz, que o do Sacramen- to,p.5r65.564.

Cuidiida.Covíio ficão baldados os cui- dados dos que toda a vida empre- gáo,para acquirir» & aumentar os bens defi:e mundo, p45'5'.

D

I^X Avid foi o homem,qúe

U " '"

t)avid. . w- ' .

1/ mais fe podia prezar de fy meiino , ôc o que menos fe pre- stava de fy mefmo : Sc porque, p. Í28. Porque razão perdoou Deos : a David , Ôc não perdoou a Saul^ Gonfeflando ambos o feu peccado^

D^momo. Menos arrifcado he fer acu- fado dos Demónios jdo que fer jul- gado pelos homens,p.70.Aftim co- mo Deòs feito homem quiz mor- rer na Cíuz,para fe vingar do De* monio j afíim traçou^que nos o co^ meflemos no Sacramento , para continuar , 6c confumar a melma vingança,p.264. HerodeSjôc o De- moniò^untamente condenarão a Chrii^à morte, quando o P^dre Eterno lha comutou em defterro, pag.5'26.

De<ys. Porque coníidera Deos nao os

noflbspaíibs,fenâoasnoflas péga-

Rr das.

€q^

Indèxdas

\i

da3,p.2f.Enrheíburaõ os homens a ira de Deosparao dia dojuizo, .p.ió.ij.Conhece Deos muito mais de nòs^do qut' nòsdenòs,. pag.ag. Aflim como Decs fabe tanto de iiòsjaíTiín nòs fabemos muito pou- co de DeoSjp.^o.^i. Qual he aju- íliça,com que Deos nos haja de caítigar pelo que não conhece- mos, p.:^2.5c ukcrius.Comoxoma- Deos conta no dia dojuizo rj3S ReySjôc aos Prelados,p.;7. ufq. ad 4 1. Como nos havemos de conté- mr com os talentos, que Deos foi lèrvido damos, pag. 44. ufq.ad 47.. O juizo dos homens he mais rigo-. rofo,que o de Deos ', porque os homens jiílgaocom-avontadCj.Sc Deojjulgacom o entendimento, p.óo.u fq , ad 64. He mais terr'i\''el o juizodos home,ns,queo' de Deosi, porque no de Deos baila, fóo te- lèemunho da, própria concienda: no dos homens apropria ; concien- -cia não vai teftemun ha, p.64. ufq. ad 6-;. Outro motivo deíla^ verda- de hejporcjue no juizo de Deos as noflasboas obras defendem-nos : & no dos homens,.o nollb maior .inimigo/aó as noílas boasobraSj.p. 67.uiq.ad j-o: Também he mais te- jneroíò o juízo dos homens, quso de Deos^ porque Deosjulgii o que Gon!'iece,ôc os homens julgão' o que nio conhecem, p. 70. ufq. ad 74.Supoíio que o juizo de Píx>s fc- Jji juizo fii a', ainda ojuizo dos ho- mens he niais tcmeroíb, ,p.75'aiíq. nd 77.0 juizo dos- homens h<j mais íÊiriCtolb,, que o de Deos,£or doz*:

razoensmais fobre as outras, qiic convencem eíla verdade,p.8 1 .ufq. ad 86. Qiiando parece,que mudou Deos de condição, p.141. No tri- bunal da Penitencia o juizo de Deos revogafe, P.143.6C deinccp?.. Grandes excellencias do juizoda penitencia fobre o juizo de Deos, p.147. 14H. Deos, em quanto ho- mem, fendo fua a eleição do lu- gar, tomou o ultimo entre elies,.p. 225. No Sacramento ficou o cor- po de Chnfto propriamente cor- po de Deos,.pag.2^x. 5c dcinceps. Qiiantopode vença- S Gonçalo peias forças que Deos lhe deo, pa- ra a fabricada fua Ponte, pag. g 14. 515". Nunca deixamos de receber, quando pedimos a Deos,ainda que nos naó o que lhe pedimos, pag. 512. Deos não hefó Deos de per- tOjfenaõ de longe,p.-gg8. Todoo apparato da Mageílade de Deos , hefogOíp.476. Dejprer^o. No tribunal da Penitencia o juizo dos homens deíJDrezafe, p. Ig3.uíq.adj42. Quam grande mal fazemos homens todas as vezes, quedcfprezáoa graça de Deos,p.-, ^99.ôC4oo. Dejpofirio, Dcfpoíarfe Deos no Paço he maravilha grande, pag.5'54.0. myíVcnocm.que Deos mais pro- priamente fc deípola com as AI- maSjhe o Sacramento da Eucha- nília,p.5-3j, ^ Z)^y?/w. C^jcm le refolveo a naôde- icjaj-jpòdc. competir de felicidade com Jupitcr,p.2i^. Defeito, Quam bem reputada he a vi- da-.

coufaswats

lj>ias. Todos OS dias para os que vive

- entre os homens, faó dias do juízo, $)ng.8i . Todos os u-ílbmbros de ira^ de juítiça,de vingança do dia do íuizo,com fc vokar o coraçam a

, C)eos,reacabão,p. 144. Se depois dodiadotózo podem haver pe- nitencia, poderafc revogar a fen- tençadojuizode £>eos,p. 145'. ufq. ad 147 . O que Chriíto chama ig- norância do dia do luizo , nam he ignorancia,he fegrcdo4-).4ii.

.Viferença. Três diíFerenças entre os

bens do mundo,&: os da gloria, p.

.A34.& deinceps, Húa das razoens

2a differ^nça deftes bens , he,por-

<]uc no mundo ha meu,6c teu,pag.

Í)i^niÁid$. As cansno Sacerdócio íaó . : os címaltcs da Coroa; &: na Prela* ^?oíía,o oi-namento da dignidade,pag,

Bifcítrfi. Ha muitos, que profetizão depois pelo arrcpendimento,o que

. fora melhor ter profetizado antes pelo difcurro,p. 1 14.

J>i/í>i:. Que pouco cafo fe ha de faaer do quediràôos homens, quando fe trata da penitencia, que he o xc- mcdio dospc<:cados,p.i^8; ulq.&d

- 14^

Dividas. Como no dia do luizo nos hade Deos.pedir conta das dividas a que nos obrigou em vida com os feusbeneficio?,p47. urq.adfi. E cjuacs fejáo eílas dividas,lbid.

S>m-a. Quando as dores faé iguaes, íentcmle todas , quando hua he spior-grufpende as^oncras^. J3p.

nota-veis. ^^.í

Dot^. Nao lo faô talentos os dotesdii natureza, os bens da fortuna, ôc os doens particulares d a graça, fená* também os contrários , ou priya- çoens de tudo rí:to,p42.ôculteriHS.

Edifi€Í9.

HA duas maneiras de edificar: edificar por edificio,5c edificar por edificação ,

Elação. Ò ultimo lugar merecido por

- cliílribuiçã:o alhea, pode fer afrcti-

tofo : tomado por eleição própria,

he o mais honrado, p. 124. & ulce-

rius, O nde ha m uito em que ele-.

ger,não|>òde haver pouco fobre

que duvidar,p.28 1 .

Emenda. No j uizo dos homens, nem

para o futuro vai a incerteza, nem

. paraopaffado a emenda, pag. 77.

No tribunal da Penitencia fc eme»

da o juízo de fy mefino, p/ii^.ufq*

ad i:^':^^ Emprepi. Como S.Gonçalo fendo lo, acdefafliftidodetodaa outra cô-. panhia,6c poder, fe atreveo,&: con- íêguioa emprefa da fua Ponte,q«e muitos,êc mui poderofos juntos mais emprendenão, p. 5 i2.ufq. ad

Emamafio. iVffim como pela Encar» nação a Divindade de Cbnllo íe delpiodos attributosde Dtos, Sc fe veílio das propriedades de cor - po: afíim o mefmo corpo de Çhn- fto pelo Sacramento íe; defpio das - uro.pricaadesdecorpo,Ôc. fcveíliQ ^ "^ Rrij ^^

i

^^4 Index das

dosattributosdc Deos, p. 135. & vo Hebreo,p.i2.EcomopafráríIo

deinccps

Entendimento. Quem julga com enté- dimento, pòdejulgar bem,6c pòdc julgar mal : quem julga com a võ- tade,nunca pode julgar bem, p.6o. Quanto vai de fer julgado com o entendimento, ou com a vontade, p.62. Todo o homcm,que tem en- tendimento, o que faz muito de propcíito nefte valle de lagrimas, hedifpora ruaarcenção,p.4:5g.

Effera. Cada hum fe deve medir den-

tro da fua esfera p. 1 00»

^JmoU. Cíifo íin guiar contra a ley ge- ral da ermoIa,&: privilegio dos po- bres, p.^ 14. Efpelho.Como he o Verbo Divino eíl pelho da magcftade de Deos , 6c imagem de íua bondade, pag. gg^-.

. A mais perfeita figura, que mven- tou a natureza, & não pode imitar a arte, he a que fe no eípelho, p.

<Ei^mí'. Como todos íe cegão nojui- 10 de íy mefmos , todos querem . benção fora da fua efpecic,p. 99.

EJperanfa. He bemaventurada a efpe- rança,com que neíla vida cfpera- mos a gloria, pag.3 70. Quem dàos bens na efperança, da-os aonde faò maiores,p. 5-47. Mais quem del- preza o que eípera, quò^ífucm o que pofl'ue,p.5'49.

Efpirito. Apnmeira propriedade da Divindade, que he fei Deos Efpi- nto,heo primeiro attributo ,que Chriílo reílaurou no Sacramai- to,p.239.ufq.ad 244.

f-flados. Quantos Eítados teve o Po-

todos, Ibid. O Rcyno dos Ceoj em todos os tempos tem três Eda- dos;&quaesfaó,p.i49. Os luga- res altos,ou fejaó do Eltado Eccle- fiaftico, ou do Ellado íccular, íaó os mais aparelhados para a caida, p.iit. OEílado Religiofo tem mais de Sacramento,que de Cruz, p.5r56..5r^9 EfiatHa. Nmguem melhor facrifica a Deos o mundo, que quem lho of- ferece em Eíi:atua,p.f47. EftitTfa^o. Cada hum em feu juizo não fe deve eílimar mais , q aquil- lo, em que cUe mefmo fe avalia, p. ig2. Ainda que Deos,por fer infi- nito, não pôde crecer em fy mef- mo j por fer limitado o conheci- mento humano, pôde crecer na nofla eílimação,p.5'45'. Segundo a eítimaçaõjque fazemos de Deos, ôç do mundojou crece Deos , Sc diminue o mundo, ou crece o mú"- do,6c diminue Dcos,p.5'4Ó. Efpofa. Sendo a Virgem MariaEfpo- fa de Deos, não podia ficar cativa do pcccado de Adaõ, p. 161. EH- pofacomas calidades, de q Deos agrada,não fe acha nos Palácios, achafe no deferto,p,5'55r. EfireiUs. Porque razaõ no dia do Juí- zo haó de cahii- as Eftrellas, ôc naò o Sol,nem a Lua,p.2io. Eternidade. O terceiro vafio da Di- vindade na Encarnação , que he a Eternidade, he o terceiro arrribu- to,que Chrillo encheo pelo Sacras mento, pag.25'1. ufq. ad 15-8. EíU mefmaprcrogativadc Eterno nos cõiuu-

Iroufag mais comunica Chrifto no Sacramen-

^v^ngelho. O livro dos Evangelhos depois do fim do mu ndo ha de du- rar eternamécejp.xfá. uíq.ad 2^8. Os validos haò de ler Evangeli- ftas,p.4i I . Porque razaõ os Evan- geUltas devem ícr amados, p4i i. Como compraó os Santos os the- fouros efcondidos do Evangelho, pag.481.

Bxempío. Exemplos da Magdakna,co que íc convence a fy, paradefprc- ; zar o juizo dos homens, p. 140. O maior exemplo dos poderes da pe- nitencia, que no mundo ouve,pag. i45'.ufq.ad 147. Pôde mais facil- mente darfe o bom exemplo , que o conrelho,p,5'4i.

Excomunhão. Qn^m poderofa he a for- ça da ExcómUnhíió Te deixa ver em hum milagre de S. Gonçalo, p.

194-

fahilas. f^^Omo tem páííado as ^^_^Fabulas,quGos Anti-- gos fingíraó,p.io. E como nas Fa- bulas paliarão também os noflos vicios,p.ii.

Fama.Os mvejoíôs mais Tentem a Fa- ma, 6c gloria alhca , que as fuás afrontas proprias,p,f ia.

iviz/or. Para fe vencerem as difficul- dades dos primeiros lugares, nam baftuó juftiça,&: favor,pag.207. A Natureza,a Graça , & a Fortuna fazem três coufas no mundo , que fempre crecem,p.4i6.

notdveU. éoj

H A Providencia divina faz, quç os nollos próprios vi cios fejaõ as te- ftemunhas de nofla Fè, pag.^/. A quem tem Fè, Sc Efperança refta ^ fazer penitencia : & como fe ha de refolvcr a ella,p. 149.urq.ad i ^6.

Fecmáidade. A efterilidade da gloria , 6c Fecundidade da graça he huma grande razaõ,porque ff^iia de efco- Iher antes a graça, que a gloria, p, :^84.ufq ad 586.

Feltcidade. Ninguém he,nem pode fer felice com a alma noutra pane, p. 459.440! Ainda fingindo, que ou- veíie homem no mundo taõ afor- tunado, que lograílê todos os feus bens pacificamente,nâo teria com

- tudo líTo perfeita felicidade, p.45'6.

Ferm'>fura.Q\xztsÍQY2iQ as mais fer- mofas Heroínas da naçaõ Hebrèa, p.í2. E como todas paílarap,8c foi. rao fatais a quem as amou,lbid.

Fidalguia. A Fidalguia he de todos os dez predicamentos, 6c de todos os quatro humores, p. 1 1 7-

Fij^Hra.CoTCi quantas figuras tem apa- recido o mundo,p.4.6c ulterius. A figura, que os Governadores haò de trazer fempre diante dos olhos, he o mefipo Rey , de quem elles laó imagens, p.^fo. Em que con- fifte a Figura,5r femelhança do Sa- cramento com a gloria, p45'9.

Filho. Porque razaõ ha de vir Chriílo a julgar o mundo na reprefenta- ção de Filho de homem, 6c não de Filho de Deos, pag. 59. Como he Chriílo Filho Prip.iogeniro de fua fantiffima Máy , 6c a Mây Filha Primogénita do ¥ú\\Q ? p'^g- 1 66. E na6

6 6

Index das

Enão he a Máy Primogénita do Filha,mas também Unigénita, .* p.169. Gomo a Virgem Maria he í- Máy ,& Pay juntamente de feu bemdito Fiiho, p. 1 74. Dcíde a E- ternidade.prometeoDeo.saíeu Fi- lho a prerogativa de poder encher no Sacramento o vaílo da meíma Eternidade , de que fe defpio ^na Encarnação, p. 251. ^^^^^{ç. antes efcolher agraça,que a gloriír, por- ^que a graça faz ao homem filho de . DeoSjéc a gloria herdeiro^ F- ^74*

uíqueadgyô.

Wim. Deos não julga íenão 110 £m : os

homens não efperão pelo fim,, para

julgar^p.yj.uíq.ad 77. Quem quer

começar btm,& acabar b.em,hade

- começar pelo fim, ^ acabar pelo . principio,p 327. .. > y^ FmeT^íi, Não pôde :harv^er 'mats fííio

amor,que aquelk, que entrega o CGraça5,6c fecha os olhos , .P42.7. .A maior fineza da vn:tude nos fer- =^'osde DeoSjhclògeitaremfe ato- iT^ar por aumento da gra-ça os rigo-

,; -res, qiieíaõ remédio da culpa ,

oifag.5^5'0.

W^jO' O elemento do fogo iie o iriais

- cfcondido,Sco mais nobre doVni- verroyp.4 74. Porque não deo Deos a Adáo o dominio do elemento -do fogo,p.476.0 fogo não consen- te fcrero as couías o que laõ^p^S:^^ Entre os clenicnios lo o fogo não h€ Pay , p. 484. Mas depois qu£ o fogo artificial íc ajuntou com a jpoivora, cm todo o género de vi- íventes tem filhos de fogo, p. 495-. <Jom© íc iij u o , Sc dão a móo o

fógo,ac a nguanas Walhas navais, P499. Com que myílerio fingirão os Antigos a Vulc'ano,Dcos do fo- go,manco, & encoílado ahú boi- dáo,p.5'oo.

Fome. Communicanos OhriftoTio Sa- cramento a infinidade de feu cor- po, fazendo que fcja infinita a fo- mcjou nòs -infinitos na fome com que o. comermos, pag.270.6c uke- rius.

■For ima. quem foúbc fazer eleiçãa do ultimo iugar, defarmoua For- tuna,p.xi4.i 15-. Tambcm^na fan- tidade ha Fortuna, p.404.

Furtai. Os bens áç^Çcc mundo , ainda que não haja ladroens, que os fiu*. tem,eUes.mefmos fenos roubáo, P454-

G

Gado. O pciorgado ^e guardai* hc d homem, p. i<^y

Georfjetrta. Qumi) gmndehc aciencia Geometricaj-para o emprego cerro das balas da Artelharia, P.497.498L

Gemhí. Aié os Gentios condcnavíun o amor,ou cubica dos Idcus doma- do, p. 468.469. .

íjtgamef. A dekcndcncia -dosGigan. tcs, p.^. E como ti palfadojájlbui De quantas coufas aqucnia o Sol, nenhuma he mais agradccida,qiic a erva Gigante, p. 99. Os peccados pela continuação iazcmle gu;an- ttís, p.15'4. Qiicfijndamcntorc\-e

; a Filofofia das fabulas, para fingir, qucos Gigantes fizeiaó 4i,ucrra ao

^^Osf^T^j"-

ÇUri^

iToiífcn ínaís notáveis, ihriai CòmparacTa a Gloria a gra- ulteriuç.

ç;í, antes havemos de cfcolher a

Graça,que a Gloria,p.:^69. &: uite-

rius.Amar a Graça por anior da

Gloria , he querer gozar o premio:

amar aGloria por amor da. Graça,

hq querer fegurar o amor , p. 416.

A grande, difterença que- ha entre

osbensda Gloria do Ceo; ,. 6cos

chamados bens das glorias do mu- do ,.p- 4.34- Quam grande fera a. . gloria dos bemaventurados, fendo

dlesinfinitosyôc a gloria de cada: . hum,as glorias de todos,p 4664%. . Ha cafos,. em que por. pedir licen- ça, fe perdem as mais gloriofas ac-

foês,p.479. pvnno. Todos os que govemaó faõ . imagens .defeusPrincipes,-p.5^i. - Quam grandes faó as difficuldades . dos que governam .em >fua. própria , terra:,fendo imagens dos feuáReys,

Ç. ç^44. ufque ad 248. Porque os

governos antes coítumão mudar :as _ conçliçoens dos homens, que con-

fervalas jo mais feguro mcyo de to^ ' dos feria.coFtarasraizes, p.:;49.0s

Governadores ,, que não íaã da

terra,que governaõ, ôi vede fora

a goí^ernalas, carecem das proprie-

ílades mais importantes para i bem

governarem,p.35'5'. Qofto. Quaes faó os goílos, & o fabor,

. que acham livres de amarguras

no ultimo k]gar,p. lag. Maôs,Sc o-

lhos,5c gofto experimétaraõ como

o corpo deChriftono Sacramen-

. toefl:àinfinito,p.i68.ufquead 270.

. Quam penfionados da o mundo os

gi)ílos,§c.bens deita vida,p.449.Sc

4úf

Gra^a.. O; verdadeiro penitente ^ ellimao que pôde dar a graçadff"

Deós ; temeo que a pode ri-- rar , p. i ^ 7. Para hum homem fc- eonverterinaó baila vida, faudcy» 6c juizo j mas he' principalmente neceíiariaagraga dÈDeoí?,p. i^^^. O chamar a Deos de todo ^ o- cora- ção, naô depende de noífo alve-- drio , fenão também da graça de; Dtos, p.rjjT.Saó tam efquecidõs os- homens de fazer efcolhado- lugar" que mais lhe con vem, qu2 fe algãi

' ouve , que a fizefie , foi por eípfe- cial auxihoda graça Divina,p.23,i»

- Annda que enchemos aaUna comi a graça, devemos encher a-graça^ com as obras , fem as quaes a graças não permanece , p. .278. Nem por' fer a Ley de Ghriáo Lsy da graça^. ha de fer nella tudo graça, .p.29f:.. eomparadà a Graça com a Glon%, antes devemos efcolher a Graças,* que aGloria, p.3 69. ufque ad 386.. Quem foube fo achar paralelo aí. graça da Mây de Deos, p. 593- Â^

í inundação dedehcias, com que. ai Senhora fubia para o Ceo ^ eraõ as; de fua gra^a, p .394. Queminam a- ceita a graça de Deos,fecha as por-- tus àSantiíIima Trindade, p. ^96.- Q^am pouco cafo fazem os ho- mens da eleição da graça, p* ^96.'. Scdeinceps.

Grand-ézjt. Os bens, que o mundo châ-- . ma grandes, ío íãé bens, quando is.; deixaôjSc íaõ grandesjqiiandoie- efperaó,p. 5-49.

Gnerrof, Qu^e guerras da^ntiguid^deí

I

»

6o ^ Indexe das

tem pafrado,p. S. No tempo da paz Sc os homens conhecerão os cora-

podeíe rofrer,que fe dem os lugares às geraçoens j mas no tempo da guerra , naõ fe haó de darfe naô às acçoens,p. ii8. Notável coufahe, que tenha a graça defpojos , como íe fora guerra, p.4i5'.Quanto mais trabalhofa he a guerra do mar,que ada terra,p.497.

Hírí^tjça. Devefe antes efcolher a Graça^que a Gloria;porque a Gra^ ça faz aos homens filhos de Deos* Êc a Gloria herden-os, p.c^74.ufque ad^jó. S. loaõ Evangelilta foi a herança principal de leu teftamcn* to, 409» Mais deixava Chrifto cm deixar por herança S. loaõ E- vangeliftaaSuaMáy , do que em dar o Reyno do Ceo a Dimas , p. 411. Onde oPay heDeos, tanto direito tem à herança dos bens os anependidosjcomo os innocentes,

P 458. .^ ^ ^

Homens. Quanto variarão os homens, deíde a lua primeira infância, p.45'' Qual foi o primeiro homem y que fe atrevèo a por a Coroa na cabeça, p.6. Paílaó os homens como íenaõ paílàraõ, p. 20. Nenhum homem pode entrar duas vezes no mcímo rio: 6c porque, p. 21. Os homens , que chegaó a ier velhos, morrem féis vezes : ôccomo,p. 25. Enthe- íburaó os homens para o dia do lui* 2.0 a ira,6c vingança de Deos, p.26. -Lj O juizo dos homens he muito mais temcrofo , que o juizo de Deos; ôc porque, p.j/. Sc ultcnus.

çoens, nao navia que temer léus Íuizos,pi6vPorque queria David, queojulgaíleDeos, ôcnãoosho- mens,p.67.68. Quanto mais feguro he ir ao luizo de Deos com pccca- dos , que ao dos homens com mila- pres,p. 69. Quantas vezesjulgaó og Homens pelo que nunca vos paflbu pelopeníamento , p. 72. Ecomo jujgaó também, pelo que nem a el- les lhes paílbu pelo penfamento, p. 73. Comojulgaó os homens antes do fim , p. 75". ufque ad 77 . Os ho- mens , quando teftemunhaó de fy mefmoSjíãó humacouíã,6c dizem outra, p.89. Sc ulterius. Os homens olhados pelas primeiras paredes, naó faõ mais que hum Idílio do ze- lo, p.icó. ufque ad 108. Para pro- nofticarcmbéos Portuguezes an- tigosjconfultaváo as entranhas dos homens, p. iig. Nenhuma coufá trazemos os homens mais dctraz de nòs , que a nòs melmos, p. 1 25'. Mais fe devem temer ospeccadcs, que o juizo dos homens,p.iq7,No juízo dos homens appcllafedt pois, no luizo de Decs appcllafe antes, p. i44.Todoohomcmneílemun, do dcíeja melhorar de lugar,p. 194, 195-. TcdÀS as maravilhas do Cor* po de Chriílo no Sacramento > co- munica aos homens omefmoSn^ cramcnto,p.i^9. & ultenus. Chri-^ ílo Sacramentado comunica aos homcsaimmeníidaac, que tem no Sacramento, p.248.uíquc ad 2f'. S. Gonçalo naícco Minino Ho* mcm>p»28ó.&. ultcriuç^Os homens,

que

coiífas mais notawis. ^^^^

que governaó homens, haõ deter tiírniiaMá)r,p.iSi. ufquc ad ^icÍ4.

avcço.ôc direito, p.z9 7. Aílim co- mo no feu nalcimento foi S- Gon- çalo minino , como homem; aífim

; depois de morto foi homem, como Deos, p. 517. ÔC ulterius. Nósjfen- do na idade homens , na vida , 8c cofbumes fomos mininos, p. 326. Como deve o mundo abrir os o^ lhos, & não fe contentar de ver os homens por fora, mas confídera- los também por dentro,p.440.

H.nra. O ultimo lugar merecido por diftribuiçaó alhca , pôde fer afron^

- tòfo: tomado por eleyção própria, he o mais honrado, p. X24. & ulte- rius. As acçoens,6c feitos honroíbs

. com mayor razão fe podem elperar daquelles,que querem acquirir ho- ra, que dos que cuidaó,ôc dizem, "quejàatcm,p. 55*8. & ulterius. A diftcrença da honra,com que Deos communica no Ceo aos Bemaven- turados a íua vifta, & aos q o amaõ na terra a fua graça , moftra quan- to a graça deve fer preferida à glo- ria, p.281.

^orto. No Horto colherão Chriílo,&: fua Santiílima Máy os primeiros frutos da Redempçaó,p. 167.6c de- inceps. No Horto ouve hum novo Calvário , fem monte;& no fuor do fangue,huma nova Cruz,, fem cra- vos, p.i68. O effcito geral do lan- gue da Cruz,foi remir j & o parti- cular do langue do Horto , remir prefervando, p.i 70. uíque ad 1 72. O Sangue , que Chriílo fuou no Horto , foi o mefmo, que na En- carnação tinl:^^ recebido de fua Sã-

Hoftia. Depois do fim do mundò,íe confervarà eternamente no Ceo huma Hoftia confagrada,p.2f ^uf- queadi^S.

ídolo. Como faõ os homens ídolos do zelo,p.io6. ufque ad 108. 0 que faz a penitencia para defprezar o Ido- iodo juízo dos homens,p. 134. uf- que ad 142. Como fe fazem as al- mas Idolatras,p. y^o.

Ignorância. O perfeito lègredo , he o q chega a fer ignorância, p. 420. ;

Imagem. Todos os que goyernaô íâõ imagens dos feus Príncipes, p.331.

: AAdaódcoDeus particularmen» te o titulo de Imagem fua : & por- que,p.332.0 que ouver de ler Ima- gem verdadeira de Deos, naó baila que feja homem com alma; fenam também alma com homem, p. 335- Porque razão diziaõ os Antigos, queaiipagem de Mercúrio fenam fazia de qualquer madeiro, p. 324. Como fie o Verbo Divino Imagé da bondade de Deos, p. 33^. Anti- guamente conheciaõíèas imagens dos homens pelas fuás íbmbras , p.

341. Quanto excedem às vezes as fòmbras deftas imagens aos Reyrcíe que íàó imagens , p. 34.1.

342. Os que faõ imagens dos Icus Kcys em terra, onde íaõ naturaes, ainda tem outras difficuldades no íèu governo, p. 344. ufqu€ ad 348, Mais eftimaó os íupremos Monar-

Ss cas

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cas os obfcquios que fe f a:zem a Tu as Imagens, que a fuás próprias pef- foas , p. g6o.

Immmjidade. A Imméfídade he o fcgú- do vaíio da divindade , que pelo Myílerio da Encarnação fe Umi- tou a hum lugar, p. 14^. E deíla immenfidade do que Deos fedei- pio pela Encarnação , fe reveftio outra vez pelo Sacramento , Ibid. ufquead p.2jri.

Immonalidade. A nofla injuíliça he a mais evidente prova da noíla im- mortalidade, p. y;, Q corpo de Chrillo no Sacramento, fendo na-

. tural mente corpo mortal , ficou immortal: & íendo naturalmente paífivel , ficou impaííível p.261 . uf- quc ad 264. E como eftes dous ef- feitos de mimortalidade , & impaf- fíbilidade fe nos communicaõ no Sacramento,p.i64. ufquc ad267,

ImpAJjibthdade. O corpo de Chriílo no Sacramento, fendo naturalmente paílivt.1, ficou impaílivel, pag.26i. urquead264. E como nos comu- nica no Sacramento eílv? mefmo eífeito de impaílivel, p.264. E ain- da que a mefma experiência pare- ce,que faz difiicultofo elle efieito de impaffibilidade , não deixa o corpo de Chriílo de nolo comuni- car no Sacramento, p.iój-.zéó.

/w/?m(?.QLiaes foraó os primeiros Im- périos do mundo, p.6. A fua infta- bilidade, Ibid. Profecia das duas partes do mundo, a pólvora, 8c o Império Otomano, p 492.49 g. Infinidade. O vaíio da nifinidadc do Verbo na Encarnação fuprio o

das

corpo de Chriílo no Sacramento, p.267.ufq. ad27o. E como íe nos comunica pelo Sacramento cílc mefmo eífeito de infinito,pag.270. ufq.ad27z. A infinidade da graça da MãydeDeos,p.g9^.

Inferno. O que dizem,Sc falíâo no In- ferno os condenados, p.5':^. ufq. ad 55'. Nem porque mais íc deve te- mer o Inferno, 6c morte da alma , que a do corpo , he mais temerolò ojuizo de Deos,que o dos homens:

- 6c porque,p. 78.6c ulterius. Porque fe compara o zelo ao Inferno, pag. 106. Por confervar a graça, atè hc licito querer antes padecer as penas do Inferno,p.ç^8o. No invejoío atè as penas do Inferno íaó mais tolr- raveis,que a gloria alhea, pag. 522. ufq.ad 5-24.

Injuria.!. As injurias faó a mufica dos penitentes,p. i :>8. i ^9.

Innocencia. QLianto mais calla, cntaõ allega por fy melhor diante de Deos,p.5'i7. Não pòdc chegar a mais o mais fervoroío defcjo da fintidadc,que fogeitarfe aos remé- dios do peccado,quem goza os pri- vilégios da innocencia,p.5'5x. Não ha lãcrificio mais fcmofo aos olhos de Deos , que húa innocen- ciaifiuítreem habito de peniten- cia,p 5,-4.

Intentos. Os que não chcguo a ter ex- ecução, caufaõ a maior pena do mundo,p. 5- 1 7.ufq.ad 5-2.0. Provafe o mcímo,p.5'i7.5'2H.

Inveja. Nos tribunais onde a inveja prefidc, as virtudes íaó peccados,p. jio.Sáotaó linces os olhos da in- veja.

coufas mais vcja,qne nosimpoíliveis do pec- catio defcobrem culpa, p.yij.fiô. Os invejofos niíiis féntem os bens alheos,queos males próprios, pag. 5'ii.uiq.ad525'.

Invifibdtàade. Se o Verbo veílindoíê de corpo humano , de inviíivel íè fez viíiveli o mefmo corpo para re- cuperar a inViíibilidade perdida na Encarnação , fe tornou a fazer invifivelna Encarnação, P.275.E efla raefma invifibilidade noís co- munica Chriílo íàcramentado, Ibid.ufq. ad2 75'.

Jogos. Qiie' jogos ouve .nomúdo'mais celebrados, p.9.10. E coittOpàíIá-

■' rão todos, Ibid. >?ííí;>..'^ - u.

íiiiz^. Dèos julga como luiz: 6c os bo-

.mens julg^o como judiciários, p.

8g. No juizo dos homens não ba-

íl:a,que hum julgue com juftiça,

'paraefcapar-de fer julgado inju-

t''ftamente,p. 85*. Ninguém ha taô

- ' reâio juiz de fy mefmo, que,oudi-

ta o que he,ou feja o que diz,pag. p.&ulterius. Ihízjo. Os dous maiores portentos^que ^ fe háo de ver no theatro univerfal -' do dia do luizo, pag.a. Gomo he o diadoluizo húa rede lançada no mar,p.24. Atè o nada não efcapa- da conta no dia do luizo, p. 28. ufq.ad g2. Em três Parábolas nos e -rcíumio Chriílo em íumma toda a *-'• 'Conta,que nos ha de pedir no dia -•^o luizo : 6c quaes faó, p.gf.ôc de- inceps. O juízo dos homens he muito mais temerofo , que o juizo de Deos : &; porque,p,5'7. &: ulter. Qual he o juízo de cada hum .de

notdveis. 6m

nos para C0íifigp,p.88.5c deiíTceps. Como todos fe cegão no juizõ de fy meímos, todos querem benção fora da fua efpecie,p.99. Como íàõ diveríbs os íucceílbs , 6c osjuizos humanos, p. 112. No tribunal da Penitencia fejulgaõ o juizo de ly mefino, o juizo dos homens , ôc o j u i zo de Deos : 6c como, pag. 121. &ulterius. , Ififliça. Para íe vçn cerení às difficul- dadesdosprimeiros lugares, nant baílãojuíliça,6c favor,p,207.

L

Ladroens. Porque na terra ha La- droes, &noCeo naójpor iífo ha- vemos de fazer os nofíos theíòu- ros dos bens do Ceo,5c no Ceoj 5c naó dos bens da terra, 6c: na terra.

Lagrimas. Porque razão nem as la- grimas , qUe íàô de goílo , tem lu- gar no Ceò,p. 448. 449.

Ley. O juizó', com que nos julgamos huns aos outros, he Ley, que pu- zemosaDeos , para que ellé por ella nos julgue também a nòs, p. 85-. Nem por fer a Ley de Chriílo Ley da Graça, ha de íer nella tu- dograça,p.297.

Z-fír^/. Qiieiètras,6c ciências tem flío- recido mupdo,pag.8.9. E como tem paífado todas, Ibid.

Líceffça.Ha cafos,em que por pedir li, cença fe perdem as mais gloriofas acçóens,p.479.

Livros. O Livro da vida he hum fó:& Ss ij os

n

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íflii

Cl2

os Livros díi conta iàõ muitos , p. a8. Todos os peccados dos fubdi- tos íe carregâo no Livro das con- tas dos Superiorcs,p, 2 7.

Loures. Náo baila muitas vezes , que fp^ os bens defte mundo fejáo noílòs,

para que o mefmo mundo no los deixe lograr,p.4yo.

Z/y^. Nenhúa benção fe podia dar à Lua mais venturofa , que o náo crecer,p.ioi.

Luffar. O j uizo de Deos ha de fer em humfólugar:ôc ojuizo dos ho- mens he em todos os lugares,p.8i. No tempo da paz deíe o primeiro lugar a quem melhor for : mas no tempo da guerra ha de darfe a que melhor obrar, p. 119, Todo o lu- gar he nada,p.i96.i97.No mundo naó ha lugar melhor,p. 198. no Cco ha melhores lugares,pag. 199. ufq.ad 201. O melhor lugar he o ultmiOjp.io^.ôc deinceps.No Ceo naó tem lugar a diviíàó,que ha nos bens da terra,de meu , ôc teu, pag. 460.

Z-»2,. Deixounos Chrifto comunica- do em fua doutrina três rayos de ília divina luz, para que vejamos agora o que no dia do luizo have- mos de ver, p-g4. E quaes faó eftes três rayos de luz,p.^ j.6c ulterius.

In^ex das

M

Mal. He propriedade dos males últi- mos , izentarcm de fy mefmo a quem oprimem, p.i 14. Para haver mal, ôc bem baila hum momen-

to,p.4^6. O poilco caía,que fe de- ve fazer dos bens deíle mundo, poríerem fempre taò miílurados com os malesjcomo fe verdadeira- mente foraô puros males , p. 44^. 444. Com que razão clamaó as Efcrituras, quedas partes Scnten- trionaes, & do Norte fahiria todo o mal, p. 491.492.

Mandantentoí . No juízo de Deos , que guardar os Mandamentos, pode e- Itar feguro:& no juizo dos homens não aproveita guardar os Manda- mentos,p.8:^. Ha mandamentos da ley da Inveja, aílim como ha Man- damentos da Ley de Deosjp.^ig.

M^o. Como havemos de aceitai* da" mão de Deos os talentos, que cllc for fervido darnos, pag.44 ufquc ad47.

Maravilhas. Quantas, Sc quaes foram as Maravilhas no mundo celebra- das,p.ig. E como todas paíláraó, Ibid. Por mais que cada fe pin- te Daravilhofo no ícu conceito, faltalhe para Mefliasa condiçam principal : &: qual he,p.9».

Marta.T\es fuppoíiçoens neccflarias, para íe tratar daConceiçaó da Vir- gem Maria, p. i6o. Por valor do J langue de fcu Filho foi a Virgem 1 Maria prefcrvada do cativeiro do pcccado de Adão, p.iói.uíquc ad 164. S.Bernardino de Sena diz, queremio Chriílo a Virgem Ma- na fua Máy com o primeiro fan-j j gue,que derramou na Cruz,p.i65'« 'f Allimno HortOjComono Calvo- . rio obrou o Filho de Maria como Jcfu , 2c comoRedcmptora fua

rc-

mífas mais

yedempção, p. 169. E eom que dif- fcrença,Ibid. Que prerogativa te- ve o fangue do Horto para fer pre- ferido ao da Cruz no myfterio da Conceição de Maria,p.i7i.urque âd 174. 0 fangue animofo,que no . ;Horto faltou,& fahio fora das veas 1 ide Chrifto, foi o que o Verbo en- carnado confcrvava,6c tinha rece- bido do fangue de fua Mãy,p. 184. A graça daVirgem Maria tçm trcs eftados de perfeição, p.^Só.Quan- to eftimou mais a Virgem Maria a graça,que a glaria, p. 38 /.Quan- to Dcos quíz que crecefle a graça de Maria, pag. 588. Quacs foraó os .^j.au mentos da graça da Virgem . s Maria,p. :i89.ul^.ad ^95". Medidn, _C2^ú2i hum fe deve medir de- tro da fua esfera, p. 100. Para fc co- nhecerem os que o zelo come, ou .; os q come do zelo, deve fer medi- ar dos pela cintura, p.104 NoApofto- a^ílado de Chrifto S.Joaó Evágelifta ;^ yfempre era do fcu tamanho,p4i8. Como pela medida do paõ,ou pe- lo paó fem medida fe avalia a gra- ça,p.424. Nunca as maquinas vi- vas igualaó as niédidas das Ibnha- das,p.5'47. .

j\^eyos. Aflim os meyos univeríaes, como os particulares, com q Deos aflifte a todos os homens, faó os ta- lentosjde que devemos dar cota a Deos, p.4i. Como os meyos entre fy contrários nos podem igualmé- - te levar àfalvação,p.4:^ 44. Quâ,- tos meyos ,& remédios inventa- rão os homens, para cada pof. fuir quietamente o feu: mas fem

notáveis. . ^'3

proveito, pagin. 45'!. Memoria. Os homens comummente não fabem guardar fegredo , por- que o encomendão à memoria, 6c não ao efquecimento,p.42o. ^ Mentira. Na matéria de vos quê fois, todo o homem mente duas vezes: húa vez mentefe a fy ; outra vez mentenosan0S,p.89. Merecimento. Hum grade delito mui- tas vezes achou piedade : hum grande merecimento nunca lhe Faltou inveja, p.67. Adiverfidade das bcnçoens náo argue defigual- dade de amor em quem as , fe- nâo differcnça de merecimentos, cm quem as recebe,p.98. Qiianto mais cufta o alcançar , que o me- recer, p.aoS. Milagres, Não ha coufa, de que mais fc efcandalizem oshomens,que haver quem faça milagres,pag.6^. _ Se foftesleprofo algum dia, ainda que Deos faça milagres em vos, leprofo haveis de fer toda a vida, P7 7- Qtiantos milagres vemos ne- fte muHdo,8c quantos homens, êC alvitres, mi lagrofosà cufta do pàõ alheo,p.295'. Não eftà a perfeição do milagrofo em poder fazer os milagres, fenaô em os fáber fazer, p. 29(^iS'ão milagrofo fe moftra S. Gonçfk) quando faz por nòs os milagresjcomo quando ceíl^a de os f^zeçíp.gi:^. Qiiaes fió as infignias dos milagres daquellas imagens dos Reysjquandotornaõ das Con- quiftas para donde viera5jp;34^. ^/>3í«o.S. Gonçalo nafceo mmma homem >p.2.86.6c ukenus,

ii

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um'

6i4*

Mijericordia. Porque Dcos ama a Mi- lericordia,& a verdade,por iílb da- rá a graça,6c mais a gloria, p.369. He tal a bondade de Deos, que quando quercaftigaros homens, f porque nunca fe efquece defua mifericordiaj o que mais fente he, naó haver algum, que fe lhe oppo- nha,&: lhe rcfiíla,p486.

/J/í?ríf. Quantas vezes morrem os ho- mens,que chegão a fcr velhos,pag. 23. De todos os géneros de morte pôde haver eíperança de efcapar j &fó a morte, que traz configo a velhice, he morte fem eíperança, p. 308. Intentos naó executados cauíaóíiúa morte , que por mais penar, não mata: fabefe fentir, mas naólefabe explicar, pag.5'19. Porque lhe parecia a Job melhor a morte, que a vida, p. 5-37. Porque razaó íe compara o amor grande à morte,Sco amor maior ao Infer- nojp.^óo.

'Mndança. O juizo de Deos pôde mu- darfeiÔc o dos homens naó fe mu- da,p.8;.

Mundo. Com quantas figuras tem

' aparecido o mundo, pag4.& ulte- rius. Qual foi a maior oílentaçiío de grandeza, que fe vio jYpíle Mú- do,p.20.ii . De eftar o Bautifta em priíòens fe prova,que ,ha de haver outro juizojêc outro Mundo, pag. 56. Quantas tragedias fe repreíòn- tão no Mundo,em que as mefmas injuftiças faó verdadeiras, pag. 74. Como pôde ler , que haja outro tribunal no Mundo,em que o jui- 7.0 de Deos íe rcvoguç, pag. 145.

Index das

Nefte Mundo nâo ha lugares,pn<y. 196.197. Nem ha lugar melhc?, amda fuppondo, que haja lugares, p.198. E admitindofe haver me- lhores lugares , íó no Ceo os ha, pag.i99.ufque adioi. No Mun- do o ultimo lugar he o melhor : mas no Ceo o melhor he o prunei- ro,p. 226.22 7. Três coufas ha no Mundo,que íempre crecem, pag. 416.

N

Nada. \ oNadanãocfcaparà --tjL de dar conta no dia do Iuizo,p.28.ufq.ad gi.Quantos pcc- cados veràõ fair no dia do luizo debaixo do Nada,que agora os ho- mens nâo vem , nem querem ver em fuás conciencias, p. 54. Como nos conhecemos, que fomos Na- da , vendo as imagens de noílbs peccadosjp.ig^. Todo o lugar he Nada, p.196. 197. Deixara Deos por amor dos Nadas do mundo,he fazer a Deos menor que Nada, p.

5-47-

Nafcimento. Deos ha de julgar os vi- vos,Sc os mortos: 6«c os homens atè os que eítáo por nafcer, julgaó, p. 82. Comopreícrvou Chrillo cio peccado a lua íántiííima Máv, an- tes de fer nafcido,&: fendo primei- ro o Nafcimento de fua Máy, que oleu,p.i76.i77.

Nao. Todos imos embarcados na meíma Nao,que he a vida:& todos navegamos com o mefmo vento, que beotcmpo,p,2i.22.

coiifas mais notáveis,

éíi^

Naturez^a. Os bens Ibbrenaturaes ex- cedem na nobreza, preço, & dig- nidade a todos os bens da Nature- 2a,p.^68.

Nome. Qiiando começou o nome do governo no mundo,p.ggi .Não he JLiftojQue conferve a memoria dos Pays no Nome , quem profeíla o clquecimento dos Pays na vida,p. ^-fó.ufq.ad 558. Porque razam fe deve antes tomar na Religião o nome da Cruz , que o do Sacra- raentOíp.^óg 5*64.

i\r/;<»?e/í7. Os Profetas naõ fe ha5 de conhccer,né avaliar pelo N ume- ro, fenaô pela pefojp. 109. Sc ulte- rius.

Nuvem. Como he a Virgem Maria Nuvem leve,p.5'29.

o

Obedi.nciít. "TT M quãto Adão obe- [_/deceo, & guardou o Regimento, que Deos lhe tinha dado no Paraifo, confervou emíy a imagem politica, que tinha de Deos,p.35'3. Como devem osfub- ditos ter íogeiçâo prompta,ôc ale- gre obediência a feus Governado- res , por íeiem imagens de íeus Reys,p.^5'7.

Ohras. A perfciçáonaõ coníifte, em que as nollas obras fejão boas, íe- não em que fejão bem feitas, p- g. Quem leva a calumnia nas obras, não importa, que tenha as defefas no coração, p.65. Para com os ho- mensjO maior immigo,que temosj

faó as noflas boas obras: & porque, P.67.&: dtinceps. Qiianto ao con- trario das obras julgão os homens os penfamentos, p. 7 1 . 6c ulterius. Cada hum he o que faz ; ôc não he outra coufa, p.iif. 116. As boas obras faó a maior fegurança de noílã predeílinação, p.120. Como fe entende c modo de faílar da Ef- critura, que Deos ao dia fetimo defcançou de todas as obras , que tinha fcito,p.5 19.6c 310, 0<aí/í». Muitas vezes parecem finezas de amifade, o que faó ódios reíina- diílimosjp.fi i.ôc ulterius. Oferta. Como fe pôde ofFerccer a Deos mais, do que delle fe tem re- cebido,p.548. Officios. Como no dia do luizo ha de pedir Deos conta dos Officios , ÔC cargo§,q fe exercitarão nefta vida, p. ç^y.ufq. ad4i. Em Deos a von- tade, & o entendimento tem re- partidos os Officios,p. 61. Olhos. Quem quizcr julgar os outros, vire os olhos para détro de fy meí- m:0,p.86. Os verdadeiros Profetas conheccmfe pelos olhos, pag. i.i?. Maior cçgiieu'a he ver hua coufa por outj^ajque não ver nada , pag. 114. A^pçnitencia, ou nos volta os olhos de (ora para dentrojpara que nos vejão : ou nos vira anos mef. mos de dentro para fora, para que nos vejamosjp. 125.Sc ulterius. Os noflbspeccados poílos diante dos olhos,convenccm-nos a nòs com noícojôc emendão o noíTojuizo com o nollo próprio juizo, p. 152. A penitencia para o juizo de fy

meí-

íB

m

6i6

Index das

u

mcfmo abrcnos os olhos \ & para o juizo dos homens fechanos os ou- vidos, p. 1 54. Mãos, olhos, & gofto experimentarão como o corpo de Chrifto eftà no Sacramento infi- nítamente,p.i68. uíq. ad27o. Aí^ fim como he grande dignidade das imagens dos Príncipes o ha- ver de repreíêntaios nos olhos do mundo; aílim he muito difficulto- Ib o acerto deíTa reprefentação, p. 334- Ql^aiTti errada he a eílimaçáo daquelles, que íb eftimaõ o q vem com os olhbs,p.g78.

Oppojií^ão. Ha de preferiríe a graça à gloria.- porque o oppofto da graça . he naô amar a Deos ; 6c o oppofto da gloria he náo ver a Deos, p.^7 7. ufq.ad gSo. Como íèrvem as lem- bras, & os oppoftos,para mais illu- ftrar os contrarioSjp.^oz. ufque ad 5-04.

Oração. A efficacia da Oração de Chrifto no Horto,foi a que futili- 2.0U o fangue nas veas,6c o fez ma- nar em ftior,p. 1 79. E iftb para fer anticipado o preço da rcdempçaó da Senhora, Ibid.

Ovelhas. Como o bom Paftor nam ha d€ defemparar as fuás Ovelhas, p. a98.urq.ad300.Eem t|uecafo lo poderá ter elcu fa para Ò fazer, pag. goi. Argumentaíé contra eftacl- cufíjp.goi ôcdeinccps.

pAçtençh.

o

Diviniífimo Sacra- aientQa huns Mar-

tyrcs fazia impaíTiveis pela impaf- ribihdade.& a outros pela Pacicn- cia^.261

P^fo.DefpofarfeDcos no Paço , hc inaravilha grande, p. 5-54. No Paço ainda quando o conhecem os mui- tos annos,nam fe atreve ao deixar os poucos,p.^42.

Paj. Como S. Gonçalo ainda hoje hc Pay de familias,p.3 1 7.Qué he filho do Pay do Ceo,contentarfe com o íeu,he peccado grande, que co- mete contra o Ceo,p.457.Nam le- ra verdadeiro Pay, nem verdadei- ra Máy o que nam cftimar menos os íeus bens,que os de feus filhos, p,465'. Entre todos os elementos o fogo nam hc Pay,p.484.

Paraholas. Em três Parábolas nos re- fumio Chrifto em fummatoda a conta, que nos ha de pedir no dia do Iuizo:Ôc quaes fam, p.35. & de- inccpf.

Paraifi. O Paraiíb Terreal foi a pri* meira ícerta, cm que aparece o o mundo, p. 4, Atè no Paraifo Ter- real havia bens com miftura de males.

Pão. Quando os doze Apoftolos re- partiram entre fy o mundo,fe leva- ra cada configo a fua alcofi,dos fragmentos do Paó,com q Chrifto 1 deo de comer a cinco mil homens, baftariáo aquellas fobras afuftcn- taromundo todo,p.269. i7o.Em hum milagre que S. Gonçalo fez noPfiOjíèvcmos cfFcitos da Ex- communhão,& abfolviçáo, p.294. Muito melhor fc governaria o mundo, fe viílcaios pobres de Pát> ~ ~ 0$

coiifas mais notáveis. , r^, ^P

P^fior. O melhor P;iíi:or de todos, he o que fendo mancebo Tabe fer Pa- ftor,p.i9i.A maior falta dos Faftò- res he a do valor,p.292. O bom Pa- Itor não ha de fer tudo bondade, p. 197.0 bom Paftor naó deve defem- pararas fuás ovelhas, p.a98.ufq. ad 300. E quando poderá terefcuía, paraofazer,pag.5oi. Argumentafe contra erta efcuía,p. 301.6c ulterius. Pdz.. No tempo da Paz pòdcfe fofrer, que fe dem os lugares àsgeraçoens: mas no tépo da guerra não fe háõ de dar,fenão às acçocns^p. 118. Peuados. A vida paíla, 6c os peccados não paílaò,p.i4.&: ulterius. Excep- tos os que peccâo com ignorância invécivel,os demais peccaó no pec- cado,6c na ignorância, com qo naó conhecem,p.53. Todos os peccados dos fubditos fe efcrevem no hvro das culpas dos fuperiores, p. 37. fica tudo aquillo,porque peccamos, 6c o que levamos com nofco, he o peccadojp.j^. Quanto mais íegu- ro he ir ao juizo de Deos pecca- dos,que a dos homens milagres, p.69. A quem conhece a graveza dos peçcadosjtodo o caftigo,que naõ he o etcrno,lhe parece muito pouco,p. 105. Como havemos com David eonfidcrar peccados, & mudar epi- tetos,p. 12S.6C ulter. Os noílos pec- cados poílos diante dos olhos con- vencem-nos a nos nofco, p.» g^,. Mais fe devem temer os peccados,q o juizo dos homens, p.157. Se que- remos remiílaó dos peccados, have- mos tomar a penitenciajcomo bau- Tom.7.

ainda q foi derramado por fua Mây fantiírima,não fe derramou em re- milfaó de pòccados,p.i63.i64. Af- fim et) mo Chrífto fe adiantou a re- dempçaó de fua Mãy ; aífim a mef- ma redempçáo fe anticipou aopec- cado, p.176. Oímpeccavel não fe pode fazer peccador de culpa, mas pòdcfe fazer peccador de penas,pag. 55-2. A penitencia honra aos pecca- dores: os innocentes honraó a peni- tencia,p. 55-5-. Ptf^^K^^. Porque confidere Deos nana os noíTos paífcs, fenaõ as nofias pê- gadasjp.iy.iô. Penfamentos.Qnmto ao contrario das obras jutgaó os homens os Penfa- mcntos,p 71 .& ulterius.Náo ha pe- na tão exceffiva,como hum Penfa- mcnto fruftradojp.fiS.ufq. ad 520. Provafe o mefmo, p. 5-1 7.5'28. Penitencia. No tribunal da Penitencia fe julgâoojuizo de fy mefmo,o jui- zo dos homens,& o juizo de Deos:ôc como,p.i2i. écdeinceps. Por dous modos faz a Penitencia, que os ho- mens cheguem a fe ver interiormé- te,como convém, p. ii^.Gom abrir, ou fechar hum fentido faz a Penite- cia de;íprezar o j uizo dos homens, p. i:^4.Quefaz,6cdcvefazcro verda- deiro penitente, p. 136.&; ulterius. As injurias íàó a muíica dos penité- tes,p. 1 38. 1 59. Grades exceliencias do juizo da Penitencia fobre o juizo deDeos,p.i47. 148. Não hafacrifí- cio mais fermofo aos olhos de Deos, que húa innocencia illuílre em ha- bito de Penitencia,p. 5-5-4.

Tc Per-

ri-

í>i8 ^ Index das

FerfeiçâõA perfeição naóconriile nos & o fim junto com o principio, p.-;

verbos,íenâo nos advérbios, p.g.

Perda Çl}i-2im pouco fefintaó as per- das da graça,p.g97.Como Te devem pefar em balança as perdas da eJci- çáo da graça, p.^98.

JPez.o,hs profecias não fe haó de julgar pclonumerojfenâo pclopezo, pag. ui.Qijam pouco pezaoos homens o morgado da graça,p.ç^99.

Vohora, Qiiem foioprmieiro inven- tor da Polvora,p,492.Mas íèbem íè lerem,8c entenderem as Efcrituras, acharemos,q quatro mil annos antes a tinhajà inventado Deos, pag 504.

Predejimaí^ao. Nas acçoens fe haõ de fçgurar as Predeílinaçoens,p.i 19.

Prelados. De cjue tomará Deos conta no dia do luizo a hum Prelado, pag.

. ^9.uíq.ad4i.

Premio. hm-siY íí graça por amor da gloria, he querer gozar o premio : amar a gloria por amor da graça,he querer icgurar o amor, p. 416.

Prefir/-/pçao. Todo o talento he arrif- cado ao perder, ou a naó dar boa conta delle a prefumpçâo^humana, p,4f.ufq.ad47.

Príncipe. Pela primeira faludadc,em q G Vaílallo for achado,hade logo cair para fempre da graça do Príncipe, p.4i:5,Náoha couía que mais cre- Ça,que os lados dos Príncipes, pag. 4if.ulq.ad4i7. Omaiorahuíò ,& rifco, que tem a graça dos Princi- pes,hc andarem o páo,&: a graça jú- tos,p4i:^.

Prmaprj. No dia do luizo fc verá o pnncjpio do mundo junto o fim.

Qual foi a primeira fcena no prin- cipio do mundo, p.4. Quãdo comc- çou,& teve principio a idolatria, p. y.Quando principiarão as guerras, íbid.Iulgaros fins pelos principio?, he juizoincerto,p.75'.Quem come- çar bem,& acabar bem,ha de come- çar pelo fim,& acabar pelo princi- pio,p.g27.

PrivilegtQ. He Privilegio concedido noCeoaos Virgens,que elles íó fi- gáo ao Cordeiro,que he Chrifto , a todas as partes por ondc,& para on- de forjp.^of. Efte mcfmo Privile- gio teve S.Gonçalo natena,6c por modo mais fupcnorjlbid.

Profetas. Qiiantos Profetas ouve no PovoHebréo,p. i2. E como todos pafiáraójlbid.Como íe prczáo algús de Profeta8,p.io8. Por onde Je hão de conhecer os verdadeiros Profe- tas jp.iop.ufq. ad 115,

Q

jQ^edts. /'"^I-^ugur mais alro he o y^ ^ que mais diípoem pa- ra fecaii-dtI!c,p.zio.Não ha altura neítemundojque naó íeja prccipi- cio,p,2ii. Todos os lugares akos, ou Icjaó ÓG Cco,ou da terra, ou na lgreja,ou fora dclln, íaoos mais pe- rigolòs, &: os mais aparelhados p*ia a caida, p. iii. Dos lugares altos, ainda que todos cahiráo, podiáo cahirjScil]bbaíi:a,para naô lerem íè* guros,p.2 15.214. Ainda que no ul- timo lugar também pode haver ca- hidas,ifibfe entende dos qnellcçf- tiveremcm pc,mas naó deitados, p. 215. ^.e.

jOucflão. Puzerão alguns Thcologos ^m Queftáo , qual dos criados da Parábola dos talentos íe moílrára mais induftrioío, p.46.47. Difputa- fc a Qiieftâo,de quem he , & o que diz de ly cada hum de nos, p. 88. & deinceps. HeQiieíHo dos Expofi- tores.feeílàaindao Cherubim rio Paraifo guardando o que elle guar- dava, p. 25-9. & %6o. <Jueílâo grave entre os Theologos : em que coníi- ftc no homem o Ter imagem de Deos, p. 332. Outra Qiíeítão dos Thcoiogos,re Adão pela defobedi- encia perdeo o fer , que tinha,dc imagem de Deos,p.35-2. Olíietação. O ultimo lugar he o me- ihor,por fer o mais quieto, p.2i6.6c ulterius. O homem, que íbube naô querer outro lugar, fenaó o ultmio, he o que logra a verdadeira Quicta- çaõ,p.zi7. 218. Ainda que não haja fnveja, nem competência dos luga- res altos,elles mefmós fe inquietaó, ôc a quem eftá nelles,p.2i9.& 210.

D

Rajõs. \ Ais he necellario para *".^ j V 1 figurar noarhúRayo

-i^iatural.que na terra hum artificial, p.494. Quanto maior eftrago fazem eítes.lbid.Muitos ouve, que quize- ráo imitar os Rayos, que a Gentili- dade chamava de lupiter, p.495'. A •^ íjue fe reduz todo o apparato . & fa- 'ÍJ'1)rica eíb-ondofa de Rayo no ar,

' '^Reder/ipç^o. Aílim no Horto,comò no Calvário obrou Chrifto aRedemp- çáo de ilia Mãy : mas no Calvário ,

côufàs mais notáveis.

619

como univerílilmentc rcmida:6c no Horto,como fingukrmente prefer- vada, p.169. Anticipoufeo fangue do Horto ao da Cruz , porque foi conveniente ao Myílerio da Con- ceição da Virgem, que o preço da Redempção da Senhora foíTe tam- bém anticipado,p. 1 78. 1 79. Regimento Mos Governadores naó ti- rarem os olhos dos Regimentos de jeus Reys,teràó femprc prefentes as fuás imagens,5c figuras,p.350.urque ad 55-4. Rtys. Os Reys,que tinhão fido os ido- latrasjou eri)^vida,ou depois da mor- te, vinhão também a fer ídolos, p.7. E como paíláraõtodosJbid.Dc qu,e tomara Deos conta a hum-Rey dia do luizo, pag.57.38. A diftancia entre os Reys , ík icus valTallos im- poflibilita a boa reprefentação de fuás imagens,p.:^37. Qi-iãdo os Reys vão do íèu Reyno às Conquiílas,5c das Conquiftat tornaõ ao Reyno , aquelles longcs tem depois os feus pertos,íp, 339. Quando,6ccomo as fombras deitas imagens dos Reys excedem a medida de que íaõ ima- gens ,^341. 342. Os Reys no que ef- crevem,5í: ordenão, fe retratâo a fy mefmos,pag. 35 i.Qiic conceito fez ElRey Salamaõ dos bens deíle mú- do,p.437.ufq.ad439. ^

Reynos. Pãflaó os Reynos de hua par- te para a outra,p. 18. E quantas ve- xes tem pafiado o de Portugal, Ibid. Não fe podem julgar com acerto os fins dos Reynos pelos principios, p. 76. QiialheoReynodo Ceo, que Chrilto chama femcihante ao thc- Tt ij fouro

D-

620

louro efconJido, pag.472.^

Religião. Os Martyres pagaô a Chrifto na Cruz , os Religiofos pagaõ a Chrifto naReligiaó,':).56i.Qiieca- lidades tem a cella de hum Rcligio- fo,para íc comparar com a lepultu- ra de Chrifto,p.^6i.

Remsdio. Que remédio nos poderá livrar da cirannia dojuizodos ho- inens,p.84.urq.ad 86. E como fe en- tende eíle remedioJbid.Pelo remé- dio dos homens, parece , que muda Deos de condição,p. 140.

Rendas. O coração do Príncipe ha-fe de eíli mar pelo rendimento, & naó pelas rendas : ha-fe de eílimar nellc o rendidojôc naoo rendoíò,p4i5'.

Republica. Ondenaíceo,8c como tem pafíaJoa Republica Hcbréa,pagin. II. 12.

Revogação. No tribunal da Penitencia o juízo de Deos revogafe, p. 142. 6c deinceps.

.Rezjão. DuasHióasrezoens , porque tudo neíle mundo paíra,p. 14.6c de- inceps. O juízo de. Deo? começa defde o ufo da rezão por dianterSc o dos homens muito antes do uíò da rezão julga,& condena, p. 8i. Nas matérias eípirituaes o que coftuma fazer o tempo,melhor he,que o faça a razáo,p.5':^9.

Rrfco S'ào \-n;\\s aniícados os talentos, que na eminência íè cílremão fobrc todos,',).47.0 maior abuíb,& ama- iornlco,qiie tem a graça dos Prín- cipLS,he andarem o pão, ík. a graça juntos,p.4i^.

Rftina. O ukimo lugar he o mais íc- curo ; nos outros a fua mefma aku-

Indexdas

ra he o pronoílico certo de fua rui- na,p.209.ufq.ad iijT.

Sabedorin. \ Mageílade do poder x\ qualquer a pôde re- prefentar facilmente .• porem as ac- çoens da Sabedoria,faó mui poucos os que fejáo capazes de as exercitar, p.3^5'. Quanto fe preza a Sabedoria de Deos dos thefouros efcondidos , quefez,6ctem neíle mundo,p47^.

Sacramento. Pela Encarnação, Dcoí;,q era unmenfo, ficou limitado a hum íó lugar : & pelo Sacramento,Chri- fto,que era limitado, ficou imméfo, & eílà em todos os lugares, p. i ^4. A mefma difteréça dos Attnbutos divinos fe em Chndo pela En- carnaçaôySc pelo Sacramento, Ibid. Chriílo, em quanto íàcramentado, beo Cordeiro de Deos, que tira os peccados do mundo, p-i^)*. ufq. ad 2:^8. Aperturbaçaô,quecauíbu nos Apoítolos a doutrina de Chriílo, quando lhe profetizou a comida de ícu corpo no Sacramento, p.140. E como Chrifto íatisfez às fuás diffi- culdades,p. 241. O corpo de Clwi- fto,aííim como eftà no Sacramento transformado cm fy,afltm eftà tam- bém transformado para nòs, p.244. A immeníidade divina,dc que Deos

-fe defpío pela Encarnação, fe reve- ílio outra vez pelo Sacramento, pag. 24f. ufq.ad 25'!. O terceiro vafio da divindade na Encarnaçaõ,que he a Eternidade,he o tcrceiroAttributo, q Chrifto encheo pelo Sacraméta,

P*<

coíifas mais notáveis

621

y>.i5'i .iifq.ad 168.E efla meíma pre- rogativa de eterno nos comunica Chnílo no Sacramento, p.iyç.xdo. Como fe nos cômunicáo no Sacra- mento os effeitos de immortaí , Sc impairivel,p.264.uíq.ad 164. O va- fio da infinidade do Verbo na En- carnação íuprio também o corpo de Ciinllo no Sacramento, p. ló/.ufq. ad 270.E como fe nos comunica pe- lo Sacramento efte eíFeito de infini- tojp.i/o.ufq ad iji.Seo Verbove- ftindofe de corpo humano, de invi- fivel fe fez vifivel j o mefmo corpo depois íe fez inviíivej no Sacramen- to,p,r73.E efla mefma invifibilida- de nos comunica Chnílo facramen- tado,IbidAiíq.ad 175. Porque nam quiz Chriílo,queno Sacramento fi- ca lie a lullancia de paõ,p, 423,50 no Sacramento ha exemplo de comu- nicação total, 6c toda em todos , ôc tota],& toda em cada hum , p 45:9. O Sacramento da Euchariíbahe o myftcrio,em que Deos fe defpofò noflasalmas,p.55f. Porque diz Za- charias,que o íacrificio do corpo* 6c fangue de Chrifto no Sacramento he melhor que todos,p.5"5-r. SAlv>'íção.Como os meyos entre fy c5- tranos nos podem levar igualméte á falvaçáo,p.4.g. 44. Os que deixâo a penitencia para a hora da morte, raramente fe faivaa, p. » 5'!. A todos falvou Cbriíío : mas a fua íantifiima Máy propnamente,como defenfor, pag.187.

Sangue. Pelo fíingue de Chrifto ficou a Virgem Marra fua Máy livre do cativeiro dopeccado, p.ióz.ufq.

ad 165'. Não foi o primeiro Jangue da Cruz,fenão o do Horto ,0 q Chri- fto derramou por fua Máy, p. 16Ó.& ulterius. O effeito geral do fangue da Cruz foi remir jS: o particular do langue do Horto,remir prefervan- do,p.i7o.ufq.ad 1 72. He virtude do fangue de Chrifl:o poderíe dar, an- tes de fe receber,p. 1 77. 0 fangue, q. Chriílo fuou no Horto , foi o mél- mo,que na Encarnação tinha rece- bido de fua fantiílima Máy, p. 181. ufq.ad 184. O fangue de Chriílo virtude para nos prefervar dos pec- cados futuros,.p.i89. Porq chamou Chriílo teílamento ao feu lângue,6c não aofeucorpo,p.409. Quando as obrigaçoens da fmgue íè deixão por amor de Deos, naó hc fazer of- fc-níí^he fazer lifonjaao Sacramen- to,p.56fmfq-ad 5*67, Santidíde.O que deve fei* o homem, que logo começa,6c ha de fer grarft. de Santo,p.287. Também na laati- dade ha fortuna,p.404. Segurança. O ultimo lugar he o mais leguro:o3oucros,quanta mais altos, tanta me nas fegurança tem, p. 2, 09. ôt deinceps. Dos lugares altos,ainda que nem todos cahíraó , podiaãca- biri6c ifto baila, para não ferem a verdadeira fegurança,p,2i3^2i4. Segredo'. Nenhum fegredo he íegreda perfcitOj fenão o que pafla alerig- nora.ncia,p42o.Não dizer hum ho- mem o fegredo, que i-abe, he guar- dar íegrâo.às coufas; mas naódi- zeivque labe o fegredo, he guardar fegreda ao íegredo: &iílohe mui- to mai or fegredo,p . 422^

l

<;2i

Index das

Scti^cKças.Q^mc^ fao as fcntenças,onde a vontade he juiz,p.62.65.

Sepultura. Qiie calidades tem hiima ceiia de Religioíb , para fe cõparar com a Tepultura de Chrifto, p.fó i .

Sinal. Nojuizode Deos os finais dizé com o juizo:6c no juizo dos homens o juizo não diz com os finais , p. 82. Muitas coufasfe vem hoje daquel- las,queos Profetas antiguamente deraó por finais dos tempos do Meí^ fiasp.94-95'. O coração he o verda- deiro final da profccia,p. 1 1 1.

Sombra. Antes de haver no mundo a Arte da Pintura.retratavãofc os ho- mens pelafua rombra,p.g4o.

Sjóida. Porque he mais facil o íubir , que o decer, por ifio os últimos lu- gares faó mais fáceis de confeguir, p. 205.6c ulterius.

^/.Tí-fj^/ôi. Os fucceflos íàõ final de co- nliccer os Profetas,p. 1 14.

€uperiores.M^\oY Ibgeição he a dosSu»

. periores,que a dos fubditosjp. 37.

T

Talentos. ^""^Omo nodia do juizo

\_y ha de pedir Deos cota

dos Talentos,que deo nefta vida a

cada hum: & quacs faó-xftes Talen-

tos,p.4i.urq.ad47. Qiianto vaHam

' os Talentos Hebraicos,p.48.

•Tonpo.O tempo,& o nada laó as duas cauíàs , porque tudonefte mundo paflã,p. 14.6c deinceps. Como fc àcC- creveotempo, Ibid. Muitas coufas levem hoje das que antiguamente dcríioos Profetas por finais dostc- pos do Meífias, p.95'. Nas matérias

temporacs,o que coíluma fazer c tc- po,bem he que o faça o tempo : mas nas matérias eípirituacs , o que co- ftuma fazer o tempo, melhor he q o faça a razaôjp.^gp.

T^rra. Ainda que a terra toda não paí- ra,pairaõ, & fempre eíláo paliando todas as partes della,p.i7.uíq.ad 10. Todos os lugares da terra mais faó alheos,quenoílos,p.i99.ufq.ad 201. Se aterra tivera olhos, vendo tudo o que fe move entre ella, & o Ceo , fe havia de contentar muito de fer cila o ultimOjSc mais baixo lugar do mundo,p.ii 7. Outro grande docu- mento defta verdade nos da a terra nasarvorcs,p.22o.22i.Náo ha ter- ra mais difficultofa de governar , q a Patria,p.g29. Que pouco calo Ic deve fazer dos bens da terra, p.45'7.

Tefiamento. Porque íe não deixam os amigos cm tcíhmcnto, p.408,

Tcftemktjha. Os homens quando tc- Itemunhaó de ly mefmos,húa couíà he o que íaó,&; outra coufa hc o q dizem, p. 89. A arte he teftemunha para prova dos bens doCeo,puros,&: jèm miítura de mal,p.446.

Thefifíro. Húa das coufas admiráveis, que fez Deos neftc mundo , & de que muito fe preza lua fabedoria , íãóos thefouros eícondidos, P472. Qual he o mais nobre , Ôc o mr.is iii- códido theíòuro doVnivcrfo,p.474.

T)v^««.?/. Ojuizodefy mefmo entra no tribunal da Pcnitccia os olhos tapados,p.ii4. Ojuizo dos homens entra no mclino tribunal os ou- vidos fechados, p. 154. O juizo de Deos também fe julga nelle tribu- nal

covfasmais nal revogantíofc, com voltarem os homens ocoraçaô,p.i44.

Tri»dade. Porque razaó o dar le attri- buc à terceira Pcílba da Santiílima Trindade,^ o julgar á fegunda, p. 6i . Entre todas as creaturas irracio- naes, nenhúa traz em íy mais im- preílò o caraòtcr da fantiffimaTrin- dade,que o rayo,p.485'.

T/z/^íÇ-íi. Náo ha alegria neíle mudo taó privilegiada,quc naó pague pen- íaó à triíl;eza,p.443.

Trintifo. A maior oítentação da gran- deza dcfte mundo, foi a pompa dos Triunfos Romanos,p.io.2 1 .

Trovoens. Rayos , & trovoens faô as mais teracroíàs , & formidáveis ar- mas de Deos,p.488^

V

/\ eidos de nòsmeflnos, porque trazemos os olhos por fára, 6c a nos por dentro, p. 1^7. Qtianda para confeguir os intentos da vaida- de não baítaõ todos os homens; pa- ra os da caridade baila humío ho- memjp.^i^. Porque Deos he mife- te- ricordiof), ôc verdadeiro, poriílb nos ha de dar a graça, Sc mais a glo- ria,p.:^69.T7o.

FalU.Quc valle de lagrimas hc aquela le,onde o home afliílido da graça de Deos pocm q íeu lugar, p.122» Valido .Dcvzç^ò a Valido, amda que Santo,he efcrupuloíiuicvaçaõ, pag, 406.OS Validos haô de fer Èvange, hftas,p4ii. Os Validos, haó defi-

notdveis.. ^ ^z 3

car como dantes era5,p.4i 5*. ;^^í7.Tudo Deos criou vafio: mas lo- go enchco tudo,p.x76. Depois que Deos pelo beneficio da Encenação fe fez n*mão noflb , nos defpaaharà cheos de tudo o que a nofla necef- fidade lhe reprefentar vafio , P.277V Como eílaráa graça lempre chea > 8c nunca vafía,p.2 79. Felhice. N í\o conúilc a velhice na cor dos cabellos, fenaó na pureza da vi- da,p.z92. A velhice he idade , para ter trabalhado , 6c não para traba- lhar: para ter feito, Ôc não para ia- . 2er,p.:^G9.G muito que S. Gonçalo trabalhou, ainda depois de velho, Ibid, Híáa velhice enganada , he a maior fem-razão do tempo : humà mocidade deíenganada, he a maior vitoria da razaó,p. 5*4 1, Fenda.Toà^s-ãS vezes quehumho« mem peo€a,,vçndeíè pelo feu pecca- do,p.i52, Férdé{de,Deots]u\g!i com verdade cla-^ ra : 6c os homens fingidamente,pag, 8:^.Se a nofla penitencia tora verda- d£ira,haviamos fazer pouco caio das opinioensdo mundo, p. 154. Que -fazjôc deve fazer o verdadeiro peni- tente,p. igô.Sculterius. Quem naai falia vei'daáe,nâo ama, P4 1 :^, Vidos. A Providencia divina faz, que os noílbs próprios vicios íejaó tefte* munhas de noíla Fè, p. 57. Qiianta tem os maíes viciado, 6c corrompi-, do os bens defte mundo,p.442, Víd4. Tudo pafia para a vida,6c n^a pafla para a conta, p. :^. 6c deinceps. Todos imos embarcados na mío de- lia vida iSc como navegamos nella.

62^ In de.

pag 21 . A vida paíla, 6c os peccados nfio pafi{iõ,p.24.Sc uicerius. Tudo o que paflbu para a vida , he o nada, q não paliou paraa conta,p.i7. Se fo- lies leproíb algum día,ainda q Deos faça milagres em vòs,leprofo haveis de fer toda a vida,pag.77. Deos não nos julga mais,que as duas partes da vida : 6c os homens atè a terceira, q hc a do rono,julga5, p. Si. Os luga- res deita vida mais faó alheos, que próprios, p.ioi.Húa vida encerrada entre quatro paredes , nenhum no- me lhe vem mais próprio, que o de morta,6c fepultadajp.i/f.Dividife a vida dos homens em quatro partes, com nome de quatro vigias, p. 285. Como andaó travados neíla vida os goílos os deígoílos,p. 441.8c ulte- rius. Quam mal reputada he a vida dos Palacios,p.5'36. A melhor parte dos bens defta vida,hÊ o eíperar por clles,pag.5'48.

F/^/4.Dividilèa vida do homem em quatro partcs,com o nome de qua- tro vigias,p,i83. S. Gonçalo naófó foi Santo delias quatro vigias.fenao da quinta,p.285'.6c deinccps.

Vmganu. Aílim como Deos feito ho- mem quiz morrer na Cruz , para vingar do Demoniojaflim traçou, q nòs o comeflcmos no Sacramento , paracontinuar,& coníumar ameí^ : ma vingança,p.264.

Vt^íi. A differença da honra,com que Deos communica no Ceo aos Bcm- aventurados a fua viíla , 6c na terra

xdas

aos que o amao a ília graça , moÍRra quanto a graça deve ler preferida à glo.na, p. 5 8 í . E a razão defta vcn- tagem he i porque a gloria, que ha- vemos de gozar no Ceo pela. \i:hi, a poíliiimos na terra pela graça, pag.382.

Vocaí^ao. A maior divida,de que have- mos dar conta a Deos no dia do lui- zojhe a da vocação, p.51. Em mui- tos caíos não baila a mclinaçáo , & deliberação própria \ mas heneceíl faria efpecial vocação divina, p.goi.

Vontade. O juizo dos homens he mais rigorolo,que o de Deos : porq Deos julga com o entendimento , & os homens julgão com a vontade, pag, 60. ufq.ad 64. A nofla vontade he feita pela medida do Ceo ; 6c porq, p,447.Nòsmermos por noífa von- tade baftamos para nos dcfpojar- mos dos nollos bens,p.45o.

Zelo, /'^Omofeenganão os que fc V^^prezaó de muito zclolos, p,

102. Quanto vai de zelo a zelo, pag.

10^. Hahuns,aqucmo zelo come;

& ha outros,que comem do zelo, p. j 04. Qual ha de fcr a igualdade do

zelo,p.io5'. E qual he a condiçam do verdadeiro zelo, p.106. Qiiantas maldades fe cometem debaixo da capado zelo.p.ioó.ufq.ad 108.

FINIS.

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