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Cibram
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SERMOENS
D O
P. ANTÓNIO VIEIRA,
DA COMPANHIA DE
J E S U,
VISITADOR DA PROVÍNCIA DO BRASIL,
Pregador de Sua Mageftade.
QVINTA PARTE.
LISBOA,
NaOíficinadcMIGUEL DESLANDES,
ImpreíTor de Sua Mageftade.
A cufládc António Leytc Pcrcyra, Mercador .deLivros^
"^ M.DC.LXXXIX.
Com todas as lianfas necejfarias^^ Trjytlegh Reah
.^■■.
5/
Si
V-
-M If tt MÂÈàààààêààà--àMàÈà
CENSVKA DO M.RP.M. Fr. ANTÓNIO "DE SANTO
Thmás, Kellgiefo da Seráfica Ordem deS.Francife»,
^dificador do S.Officio,
Eminentíssimo Senhor..
VI cfte Livro, quinta Parte dós Sermoens do P. M. Ante-
nio Vieira, da Religiofiflima Companhia dejESU , &
Fresador de S. Mageftade: he Livro Quinto em numero , &
noexcellente,entreosdoAuthorpòdefer primeiro: fendo
que tudo feu.competindo fó entre fy,náo parece ter fegundo ,
&affimefte,comosmaisem equilibno, bem parece eíFeito
do finsular engenho do tal Authori pois nelle, como nos ou- >
tros, o efpirito.Sc eftilo he o próprio, corrente, & o mais fobi-
do,douto, dócil, grave, elegante. & tão claro , ^in^a no que
difcorrecomoTheologo,queagentede toda a forte que o
ler, fe faràinteliigivel ( fegundo a capacidade de c^da hu» J
o fcudifcurfo: graça fem igual de táo efclarecido Pregador,
&náohedefigualàquenáofónefte, mas em q^afi^^doso*
feus efcrkos moftra a experiencia,que ate no vulgar da Efcri-
tura fanta, fobre que conceitúa,& prova como Elcr.turario.
fe avantaiatanto,queemvulgaridadesma.sufuaesdella, &
mui repetidas a cada panro.innova rariffimos conceitos, &
adm iráveis provas o feu juizo -, & por iflo parece ao de alguns,
depois de lido em qualquer Livro feu C como ja pareceo ao de
muitos , quando ouvido efte grande Pregador em « Pu P to J
que diráó o mefmo que elíê diz,mas letn que o venhao a d zcr
nunca,todosopublicáofempre ( publicidade que também
merecerá a licáo defte quinto Livro ) por unico nefta vei.ta-
3 f ij ' gem.
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gem. Efta ventagem,&: as mais que refpekão todos neíle Au-
thorà competência, o dáo a refpeitar por maior que toda a
emulação j&aífim parece de \^eras,f>oisna6 fó para comef-'
tranhos, mas para com Portuguezes,onde aqueila he mais vi-
va, vive geralmente applaudido pelo fogeito na predica mais
extremado j & não paíTa o extremo. a exceílb neíle geral ap-
plaufoCfendoode naturaes como impoiTivel 3 porque pri-
meiro elles com a voz de ellranbos o reconhecem Prècrador
em tudo peregrino, todo difcreto, todo politico, todo erudi-
to,^: eloquente todo: incomparável emfim no bem que in-
ílrue^ perruade,rende,& edifica quanto ao efpiritoj como fe
ye particularmente em os Sermoens vários, que contem eftc
Livro, que todo nefta fua variedade, com o aííeio do idioma
Portuguez mais dei eitavel, eílà refpirando doutrina íanta,
conforme em tudaaaoíTa Santa Fè Isc bons coftumes. Pela
que fera beneficio cómura,& mui do ferviço de Dcos conce-
dera licença queíe pede , para que fe publique mediante a
imprenta. Lisboa^ Convento de S. Franciíco da Cidade, enu
, 50.de Abril dei d8 a,
Fr. António de Santo Thomâs,
Cenfura do M. R. P. M. Fr, Thomè da Conceyç^oJa Sagrada^
Ordem do CarmOyQHaltficador do Santo Offiao^
Eminentíssimo Senhoil.
Vleíla quinta Parte dos Sermoens do P. António Vieír^i
da fagrada Religião da Companhia dejEsu, & Prèea-
dor de Sua Mageftade-, & acabando de os ler com attençaó>
leni achar nelles coufa algua digna de reparo,admirando, naõ
lei fe o genio,ou arte defte 'mÇ\'^nç: talento, fó íç:i dizer,que os
léus Sermoens faó dignos de maispreciofa eílampa, que a da
comum imprenfai&: o mefino juízo que jà formei fobre ou-
tros reus,fórmo agora dcíles. Lisbo;i,em o Convento do Car^
n^o, ^o.deMayodcióSS.
lr.Tij07Mè daConcey^aa, "
"^htfffiiTin
i
Cenfura doP.M. Manoel de Souja^ Prepopâ da Cengrtgafa»
do Ovíttono de S. Felippe Neru
SENHOR.
POr mandado de VoíTaMageftade vi eítes Sermoens ã^
P. António Vieira,da (agrada Companhia dejEsu. O no-
me dofeu Author,que trazem na primeira pagina , baíía para.
o maior elogio defta obra. Qae muito faça o nome do P. An-
tónio Vieira impreíFojO que Valério Máximo diíTe do nome
de Demoftbenes ouvido: CuJ!4s cÕwemorato nomine máxima
eloquentͣ confiimmatia audkntis animo oboritur > & com tanta
mais raza5,quanto he mais aplaudido em todo o mundo o F^
António Vieira por Frincipe da eloquência lagrada,. do que
o foi Demoíthenes porPrincipe da eloquência Girega. E ju«
ftamente he nk.i& aplaudido, pois be entre todos os Pregado*
res, o queo Sol entre todas as luzes. Santo Agoílinho dizjquc
o Sol he próprio fymbolo do Pregador Evangélico : & deite a
heproprijílimos^porquenellere vem todas as propriedades
daSol,naó fóao vivo, mas comi exceílb. Ao Sol chamou o Ec-
cleííafticoinftru mento, ou vafoadmiravel do todo Poderofoy
êcobr3,díga3.doA\ú{rimo:Fafadmirabiky0j>usExcelJí.^
mais admirável, que o P. António Vieira rios feus Sermoeas ,.
admiráveis em tudo, como procedidos do feu entendimento,
vafo de luzes verdadeiramente admirável : Fas admirabiile ^
& obra íingul ar de Deos ; Opiis Excelfi que parece o fez co jai
erpecial providencia, para que viíTemos atè donde pôde che*
gar o entendimento humano ajudado do poder Divino. Ab-
iorve o Sol a luz de todos os aftros : com a do P. António Vi-
eira parece que fica abforta a dos mais engenhos. A luz do
Sol faz manifeílos os lugares mais tenebrofos : a intelligencia.
doP. António Vieira faz claros os lugares da fagrada Efcri-
tura mais efcuros. Penetra o Sol aprofundidade dos abifmosj,
para iielles formar o ouro^ & os diamantes^: penetra o P. An*
tonio Vieira os cora^oens humanos^abifinos mais profundos,
&comi
i
/
gc cem a cíficadadafuaperfuaraô introduz nellesoouro pu-
ro da caridade, & os diamantes das folidas virtudes. Único
heoSol:&oP. António Vieira também he único: he o Fé-
nix do noíío feculo ; fabuloíb he o Fénix, mas verdadeiro no
que repreíenta; o verdadeiro Fenix(^ como em vários luga-
res prova o doutiílimo P.Cornelio AlapideJ) he o Sol : porque
para reprefentar as qual idades defte Planeta invétáraó os E-
crypcios efta fabula ; ao que (no fentir do mefmo Author^alu-
dio o Profeta Malachiasántroduzindo ao Sol com pennas, ou
com azas •, he pois o Sol Fénix da esfera quarta: & o P. Antó-
nio Vieira Fénix da noíTa Esfera -, Fénix efcrevendo, melhor
que o Sol voando 5 Fénix fó com a pcnna de feus efcritos^me-
Ihor que o Sol com as pennas de feus rayos. Defta forte fe vem
retratadas nefte Sol racional as propriedades do Sol viíivel.
Forem não fó as retrata ao vivo, mas com exceíTo -, porque a
luz do Sol não fe dilata mais,que por hum hemisfério , & a do-
P. António Vieira por dousj eftando no da A merica,tambeni
allumea ao da Europa^ quando refide aíèm da Linha,refplan-
dece em Lisboa, & delia por meyo da imprenfa em todo o
mundo. O Sol tanto que declina para o occafo,modéra os ref-.
plandoresto P. António Vieira,taó declinado jà pelos annoS'
ao feu occafo, reforça agora mais as luzes Emíim,o Sol jà pa-
rou, & jàretrocedeo :6c o P. António Vieira nunca rctroce-
deo,nem parou j nunca parou no zelo , nunca retrocedeo no
eftilo. Não ha coufa neítes Sermoens,que dcfdiga do real fer-
viço de Voífa Mageftade } & fe alguém fentiíTc o contrario,fe
lhe poderia dizer o que Pithagoras diíTe do Sol : Contra Solem
ne loquaris; Do Sol naó ha que dizer: do P. António Viena naó
ha que notar. Oqueeuquizera,Senhor,he,que todos os que
leíremefLCsScrmoens,fcnaófatisfizeíremfóda fua luz , mas
que também fcdcixaíTem penetrar do feu calor i a luz lhe iii-
fundiofeu Author pelo entendimento j o calor pelo clpuitoj
aluzheplaufivei, mas ocalorutil imuitos(comoordinai ia-
nientc fixede no mundo } naó fazem cafo do útil , fazem uo-
do o cafu do piaufivcl i cmbcbcmfc de todo noplaulivcl áo
COll'
conceito, que os lifongea j deíxaó o útil do efpintOjque os de-
fengana j & depois de húa liçaó taó efficaz, como a dtíícs Ser^
moensjficaó com os entendimentos admirados, mas com os
coraçoens taò frios , como antes, no amor de Deos. A fanti-
dade,6c virtude naóconfifte nas efpeculaçoens do entendi-
mento, mas nas determinaçoens da vontade 5 fe a vontade naô
tiver calor para bem obrar, pouco importa a luz do entendi-
mento, que para no entender-, deve pois, quem ler eftes Ser-
moens,attenderniaisaocalordoerpirito, que fe encerra na
fua doutrina, do que à luz do entendimento , que fe difunde
na fua elegância. Seja a conciufaó a do mefmo Ecciefiaítico,
q\ji3,ndolouv3.^o Sol: MagnusT>ommus,qmfecit illum^ & in
Sermonibus ejusfeftinavit iter 5 naó ha melhor modo para iou-
varao Sol,que louvar a Deos,que o criou taó luminofo vaííim
tambê,à villa do Sol defte felicilli mo engenho, o melhor lou-
vor he louvar a Deos,que o fez taó fabio. O Sol faz o feu cami-
nho com a palavra de Deos: &oP.Antonio Vieira com a pa-
lavra de Deos faz o feu caminho : In Sermonibus ejusfeftinavit
iter, O Sol com a palavra de Deos faz o feu caminho pelo Zo-
diaco, que fe divide por doze íignos:& o P. António Vieira
com a palavra de Deos faz o caminho dos feus Sermoens,que
divide por doze Tomos, que faó os doze íignos deíle Sol. De-
fte nu mero, que nos prometeona primeira Parte, he eíta a
Quinta 5 importa,queapreíre as mais,&que VoíTa Mageílade
iho mande allim, para que, como Sol, lhe naó falte eíla pre-
rogativa da diligencia,& fe diga entaó cabalmente deIle,G que
do Sol : Et in Sermonibus ejus feftinavit iter. Eíle he o meu paf
recer, fe© pôde dar nefta matéria, quem como eu , tem taó
pouco de Águia , pois fó as Águias podem examinar os rayós
do Sol. VoíTaMageftade mandará o que mais for de feu fer-
viço. Lisboa, & Congregação do Oratório, 26. de Junho de
a688.
Mmeelde Souja,
L t
i
;;;43 -»To rf;í^ r>j<^ .->> .^yc.>rc ^
LICENÇAS
Da Religião.
ç ,^ ^
Eu Alexandre de Gufmaó, da Companhia de Je5u, Pi-o^
vincial da Província do Braíll , por efpecial comiíTaó,
que tenho de noííb M. R, P. Vigário Geral Domingos Maria
de Marinis , dou licença para que fe poíTa imprimir efte quin*
toTomodosSermoensdoPadre António Vieira, da mefma
Companhia, Pregador de Sua Mageftade, o qual foi revifto ,
& approvado por Religiofos doutos delia, por nòs deputa-
dos para iíTo. E em teftemunho da verdade, dei eílaaílinada
com meu final, & feliada com o Sello de meu Oificio. Dada
na Bahia em 1 2 . de Agoíto de 1 687.
Alexandre de Gufmao.
Do Santo Oificio.
V Tilas as informaçoens, pòdemfc imprimir os Sermocnf
de que eíla petição faz menção, Author o P. António Vi*
«ira da Companhia dejefu , & depois de impreíTos, tornaráò
para fe conferir , & dar licença que corraó,& fem ella naó cor?
xeráó. Lisboa o primeiro dejunho de 1688.
Jeronyma Soares. Joaõ da Cofta "P intenta.
Bento de Beja de Noronha. Tedro de At t ai de de Caftrs,
fr Kicente de Santo Thomás. Eftevao de Brita Fo^ês,
loao de Azevede,
Do Ordinário^
POdcmfe imprimir os Sermoens^de que a petição faz men-
ção, & depois de impreíTos tornaráó, para fe conferirem,
& fe dar licença para correr,& fem ella naó correráó. Lisboa
20. de Junho dei 688.
òerrao.
Do Paço.
POdemfe imprimir , viftas as licenças do Santo Officio, Sc
do Ordinário, Sc depois de impi eílbs tornaráó à Mefa pa-
ra fe conferirem, & taixarem,& fem iífo naõ correráó. Lisboa
28. de Junho de 1 688.
MelloT. Lamprea. Ribeyro.
lOncorda com feu original. Carmo de Lisboa 1 8. de Fe-
vereiro de 168^.
Fr.Thomè daConceiçãê.
V
líloeftar conforme com feu original, pôde correr. Lis-
boa 1 8. de Fevereiro de i (58p.
Jeronymo Soares. JoaÕ daCofta^imenta,
Bento de Beja de Noronha, ^edro de Attaide de Cajlre.
Fr, Ficente de Santo Thomâs. Eftevae de Brito Fops,
Ode correr. Lisboa ip. de Fevereiro de 1 6 8p»
Serrão.
'Aixaòefte Livro em doze Toíloens. Lisboa 21. de Fe-
vereiro dei 6 85).
Roxas. Lamprea, Marchao. Riheiroi.
tt
5EPv-í
<í? ^ <£» "í 'i* '3> 'í* "P íí^
O *J? *^ €í? ^tí^ *i*
r;> (Jk rp f^ t^y -^
mwiw
SERMOENS.
Que contém eíta Quinta Parte.
1.
11
111.
IK.
V.
VI.
SErmão da primeira T>ominga do Advento. ^^g i .
Sermão dafegunda T^ominga do Advento. ^^g- f ^.
Sermão da terceira T>ominga do Advento. ^^g- S S»
Sermão da quarta T>ominga do Advento. ^^g- 1 * i •
Sermão de no(fa Senhora da Conceição. ^^g- 1^8.
Sermão da T>ominga decima fext a fof Tente-
coften. Tag. 191»
Vil. Sermão do Sacramento em dia do Corpo de T>eos
na Encarnação. Tag.i^u
Flll.Sermão de S.Gonçalo. Tag.1^1,
IX. Sermão da T>ominga vigefitnafigundapoji Ten-
tecojfen. Tag.^^iç.
X. Sermão de no ff a Senhora da Graça. Tag . 3 <^3 .
XI. Sermão de S. hão Evangelijia. Tag . 4,04.
X II. Sermão dafegunda "Dominga da §}uarefma. Tag. 43 1 .
XllL Sermão de Santa Barbara. Tag.^j i .
XIF. Sermão do fabbado antes da T^ominga de Ra^
mos. Tag.^o^í
XV. Sermão de S. hão Bautijia, "P^^ll-
Erratas ãejla ãluinta Parte.
?agin.
Ifl.
Sevoshadepczar.
If(^.
^£rms.
156.
Náo,porque os ou-
tros fagrados.
3^P'
E certamétCjquan-
do fc não coníide-
raíTe.
37P-
Quereis,
461.
Redaet,
52P.
Derrubados dos al-
tares hião caindo
as imagens.
Í9^
Ebem,
Se vos naó ha de pezar. ^
SlUiSretis.
Não,porque os outros li-
vros fagrados.
E certamente parecia
imaginário o remédio,
quando fe não coníide-
raííe.
Querieis.
Reddet.
Derrubadas dos altares
hiáo caindo as ima-
gens.
Nem;
SERMAM
DA PRIMEIRA DOMINGA
DD
AD V ENT O
C(elum^& terrAtranJibunt*. njerbaautemmea non
tranfibunt, Luc.21.
§. I.
AíTarào GeOjSc
a terra , mas o
que dizê as mi*
nhãs palavras
naópaíFarà. C6
efta notável , & naó ufada
fentença conclue Chrifto
RedemptornoíTo a narra-
ção do Evãgelho, que aca-
bamos de ouvir. Diz que
h^ de vir julgar , & pedir
• Tom./.
conta ao mundo no ultimo
dia delle : & porque antes
de o mundo fer julgadojha
deferabrazado primeiro,.
6c convertido em cinzas 5
fobre o incêndio, que o ha
deconfumir, cae a primei-
ra parte da concluíaó : C£- lu
lumy & terra tranfibunt 3 & ^ ^
fobre a conta que depois
promete ha de tomar ^
todo o género humano,
çae a fegunda: FL{rbaautem
Ar^ mea
I
n
2 Sermão da prime ir a^ommgâ
7nsa nmi tranjibunt. Eíles verá também ,& com ma-
faó os dous maiores por- ior aíTombro, que nenhúa
tentos, que no theatro uni- delias paíTou ^ jion tranfi'
verfal do juizo veráó na- bunt. Eftas duas verdades
quelle dia Homens, &: An- pois, cuja fé o mefmo íu-
j-os. Allifeverà o princi- premojuiz com tanta ex-
pio do mundo junto com o preíTaõ nos ratifica : eftes
fim, & o fim junto com o dous defenganosja que táo
principio; o principio com mal nos perfuadimos os
o fiai, em tudo o que paf- mortaes em quanto vive-
fou, &ofimcom oprinci- mos :& eftas duas coníl-
pio , em tudo o que nao ha deraçoens do que paílbu >
de paíTar. Parece difficul- & do que náo ha de paíTar ,
tofa efta união em tanta tranjibunt , & non tranfi-
diftancia de feculos j mas himt^ feráó hoje os dous
effe he , & fera hum dos pólos, ou pontos do meu
maiores milagres daquel- Difcurfo. No primeiro ve-
ie dia; porque tudo o que remos, que tudo paíTa: no
paílbu, & deixou defer, & fegundo , que nada paíla.
defapareceocomotempo, No primeiro , que tudo
como fenão tivera paílà-
ào 5 ou tornara a fer de no-
vo, ha de aparecer com a
conta. Se olharmos para
todas as coufas quantas ou-
ve, ha, & ha de haver no
mundo, então fe verá, que
todas paílaraó , tranjibimt.
Was fe olharmos para eílas
mefmas coufas , as quacs
como refufcitadas com o
género humano háo defer
citadas com elle para apa-
recer cmyuizo s então fc
paíTa para a vida : no fe-
gundo,que nada paífa para
a conta. Emdiataó gran-
de naó pôde o Sermaó fcr
breve. Aos ouvintes naó
peço attençaõ, mas paci-
ência. Deos^a quem tomo
por teftemunha de que
procurei naó lhe dar conta
do que hoie difler, fc lirva
denosafliílira toáos com
fua graça em ma teria que
tanto toca a todos.
■ê- II.
doAdnjentõ. ^
cional tão importante fc
^, II. edendeíTetambemàscou-
fasnaturaeS3&: indiíferen-
3 ^T^UdopaflasSc nada tes, inventou o Apoílolo
X P^^^a. Tudo paíla S. Paulo hum notável ad-
paraavida , &: nadapaíTa verbio. Equal foi ? íHc??-
paraaconta. A verdade, quam noriy como feníoiUí'
^defengano deque tudo qtáhabentuxoreSitanquaffP
paíTa^ quehe o noíTo pri- non habentes fint : & qui ^ ç^,^
meiro ponto) poílo que fe- flent^ tanquam non f entes : t^j»
ia por húa parte taô evi- & qui gaudent , tanquam
dente, que parece nam ha non gaudent es : d^ ^/// €mút\
miíler prova , he por outra tanquam ncnpofffaentes : &
quiutimttirhoc mundo ^tan-
quam non utantur. Sois ca-
fado? (diz o Apoílolo}
pois empregai todo o vof-
fo cuidado em Deos , co-
mo fe o naó fôreis. Ten-
des occaíioens de trifteza ?
taó difficultofo > que ne
fthua evidencia bafta para
o perfuadir. Lede os Fi-
lofofos^ledc os Profetas,
lede os Apoílolos , lede os
Santos Padres 5 & vereis
como todos empregarão a
penna, & naó húa, fenaó pois chorai , como fenaó
muitas vezes,&: com todas chorareis. Naófaò de tri-
f.s forças da eloquência, na íleza, fenaó de goílo ^ pois
declaração deíle defenga- alegraivos , como fenaó
nojpoíío que por fy meA vos alegrareis. Compraíles
mo taõ claro. o que havieis mifter , ou
5 Sabiamente fallou defejaveis ? pois poíTui-o ,
quem diíTe que a perfei- como fe o naó poíTuireis.
çaó naó coníiíle nos ver- Finalmente vfais deaigúa
bos, fenaó nos advérbios: outra coufa deíle mundo?
naóemque asnofiasobras pois ufai delia , comofe
fejaó honeílas, 8c boas5fe- naóufareis. De forte que
naó em que fejaó bem fei- quanto ha , ou pode haver
tas^ E para que eíta condi^ nefte mundo,por mais que
Ai] nós
í
Ibidem
3'r
4 Sermão da primeira dominga
nos toque no a mor, na uti-
lidade, no goílo 3 a tudo
'quer S. Paulo qacrecen te-
mos hum, como Ccnaòjfan-
■qí-iam non. Como íenaó ou-
vcra tal couíli , como fe
naó fora nofla> como íenaó
nos pertencera. E porque ?
Vede a razavõ : ^pratertt
€nhyi fia^nra bujiis mundi.
Porque nenhua couíli de-
ite mundo pára, ou perma-
nece, todas paíTaó. E co-
mo todas paÍlao,&: fao co-
mo íe naó forao , aílim he
bem que.nòs ufemos del-
ias, como ife naó ufáramos:
Tanqnamnonutantur, Por
iíTb a eíTas mefmas coufas
naó lhe chan^uo Oráculo
do terceiro Ceo coufas,
ienaó aparências j & ao
mundo naó lhe chamou
mundo , íenaó íigura do
m u p do : Traterit enlm fi-
gmajjujíis nnmdi.
, 4 Canfideraime o mu-
do defdc ícus principies ,
& velolicisíbmpre , coma
nova figura no thcatro ,
aparecendo ,.& dcíapare-
çendo junta mente^porque
íempi*c paifando. A pri-
meira ílcaa dcilç clicaa-o.
foioParaifo Terreal , no
qual apareceo o mundo
vefrido de iijimortalidade,
& cercado de deliciasj ma^
quanto durou eíl:a aparên-
cia? Eílendeo Eva o bra*
çoá fruta vedada , ôc no
breviílimoefpaço,em que
o bocado fatal paíTou pela
garganta do homem , paf-
Ibu também com elle o
mundo do eílado da inno-
cenciaaoda culpa, da im-
mortalidade á morte , da
pátria ao defterro , das flo-
res às efpinhas, do defcan-
foaostrabalhos,&:da feli-
cidade fumma ao fummo
da infelicidade, &: miferia.
Oh miferavel mundo> que
feparárasafiím, 6c te con-
tentaras com comer o teu
paó com o íuor do teu ro-
ílo , foras menos mifera-
vel! Mas naó ferias mun-
do, fe de húa miferia gran-
de naó paíraíTcs femprc, &
por tua natural inclinaçaó>
a outra maior. Os homens
naquella primeira mfancia
do mundo todos vcíHao
depellcs , todos crão de
húa cor, todos falhivão a
mcfinaUngua, todos guar-
' da vão
'^
íím^ ley- Mas losçx'
davão a rneíS^ ley. Mas losçx^ natureza, hoje die-
iião foi muito o tempo em gar^não a hum feculo,rnas
que fe conferrárão na ar- perto delle , he milagre,
monia deíla natural irmá- Tardarão em pafíar ate
dade. Logo variarão , & Noe, 6c também paíTárão.
niudáráoaspelles comtã- Com. aquellas vidas náo
tadifl-erença de trajos.que fó crecião os annos, fenam
cada âh de pès x cabeça também os corpos : &c dos
aparecem com nova íigii- filhos de Deos, que erão os
ra. Logo variarão, & mu- , defcendentes de bethj êc
darão aslínguas com tanta das filhas dos homens, que
.diíronanciaj&confuram, erão as defcendentes do
xomoadaTorredeiBabeL Cain ,nafGérãoos Gigan-
Logo variarão, Sc mu darão tes, de quem diz a Efcritu-
ascorescomadiverfidade ra,: Erant Gigantes fuper 'f^f
das terras & clipas , Sc torram. Alguns oíTos que
com a miftura do fangue, ^linda durão à^^ç.s que o
poílo que todo vermelho. , pi. efmp ^ Texto fagrado
Logo variárão5& mudarão chama V"aroens famofos,
:is leys, não com as de Pia- demoílirãQ pcla^ fymetria
tão, Sólon 5 ou Lycurgo , humana , que não podião
mas coma do mais impe fer menos qiíe de vinte, &
mais covados : & ainda na
hiftoria das batalhas de
David temos memoria de
outros quatro , pofto que
de -muita menor eftatúra.
Mas eiiifim acabou a era
dos Gigantes > porque tu-
do neíla vida , éc mais de-
^preíTa^o que he grande,
acaba,&paíía.
. , " 6 Diminuídos os ho-
rioíb, & violento Legifla-
dor, que hc o próprio alve-
driq.TudomudárãOjOU tu-
do íe mudou j porque tu-
do paíTa, í -r
f As vidas naquellc
principio coílumavão fer
. ,cie fete, d e oito , de no ve-
- centos, 3c quaíi de niil an-
...nos j& que brevemente fe
.acabou eíle bom coíiume ?
Então oviver muitos íecu-
Tom
•/
mens nos corpos ,
A iij
Sc nas
ida^
I
1^
h. í
y
1
^ Sermão daprimeira^omtn^a
íàiáts y quando tinhão a rios a hum Key 5 & a Á6m
morte mais perto da vifta, Profetas:. A primeira vi-
Cquem tal crera! ') então
creçérão mais na ambição,
&foberba. E íèndo todos
iguaes, & livres por natu-
reza, ouve alguns que en-
trarão em penfamento de
fe fazer fenhores dos ou-
tros por violêciaj&j ocon-
feguírão. O primeiro que
featreveoa pôr coroa nà
cabeça 5 foi Membroth,
que também com o nome
deNinojOii Belo deu prin-
cipio aos quatro Impé-
rios 3 0'ci Monarchias do
inundo. O priíTkeirò foi o
dos Aflyrio^, & Chaldeos :
& onde eftà d Império
Chaldaico ? Ofegundo foi
Ò dos Perfas : & onde eílà a
Império Perllano? O ter-
ceiro foi o dos Gregos : &
onde cftà o Império Gre-
go ? O quarto, ôc maior de
todos foi o dos Romanos :
^ onde cílà o Império
Romano ? Sc algiía couíli
jpermanecedeílc, he fó o
home: todos paífárãOípor-
íaó foi a Nabucodonofor
na tftatua de quatro me-
tacs: a fegunda a Zacha-
riaS em quatro carroças de
cavallosdediífererítes co-
res : a terceira a Daniel em
hum conílid-o dos quatro
tentos principaeè, que no
meyodomarfe dayaó ba-
talha. Pois fe todas éítas
vifoenseraó de Deos ^ &
todaá feprefentavaó oi^
ínefmos Impérios^ porque
variou tantd a Sabedoria
divina asfígitfas, &: fobre
a primeira da Eftatua taõ
clara , Sc nianifcíta acre-
Centoií outra S duas taõ di-
verfas em tudo ? Porque a
Eftatuana dureza dos me-
faes de que era compoíla j
ícnòmefmo nòmc dcEf-
tatua^paréce que reprefen-
tava eílabilidadc,6c firme-
za : ^ porque nenhum da-
quelles Impérios havia de
perfeverariirmè > ^ eíía-
vci, mas todos íè havia 6 de
mudar fuccel]ívamente,&
<[ue tudo pafia. Em trcs fá- ir paíTando de hãas naçosá
xnofas viroeiísrcprefcritou á outraáj; por illb os tor«
Çeos çítes meímos Jmpe- jiotí a reprcftjit^u: na varie-
..d^dc
iif
'^m
wam
iifAdvent». ^ \f
dadexlasVaírbças, nain- quem havcm q«e P^J*
conftancia dasrodas, & na comprehender quato paf-
ca"rcira,& velocidade d,o5 fou no mefmo mundo?
cãvallos. Mas naó parou Qi.ando começou o pri-
aquiacnergíadarepíefen- meiroimpeno, entaocp-
S,cQmo'naõ .encareci- meçou também a idc^la-
daaindabaftancemente.A tría, digno caftigo do Ceo.
Eftatua eftava em pé, Çc as que pois QS homens fe faze-
carroças podiaóeftar para- raóadorar , chegaíTem oç
Ôas. E porqueaquelleslm- m,efmos homens a adorar
perioscgrrendò maispre- paos,& pedra?, OsV^tjf
?ipitadameníequeàrpdea ^orèmqueerap,putinhao
Íblta,na6bayiaô depara^ fi^oos idolatras .canoni^
aomefmopaflp, nem pqr zados depois vf^^^f^
immÍQ mompnto, & fem- ça6,& hfonja.pu pa vida,
prcfe haViaÒ de ir mu- ftu depQi? 4^ T"? It
.dando, Sç paíTandg 5 pprif-
íb finalmente os reprefea:
tqu Deqs na couía mais in-
quieta 5 mudável) &infta-
Vel, quaesfaóos yentos,ac
nhaó também elles » fer
Ídolos. Aflim Saturno, af-
fim Júpiter, sfliraMercur
rio , aflim Appllo , affim
Marte, aflim VenH?? ?flí'7?-.
muito mais quando em. Çiana : & poftp que f qdo?
bravecidos,&í^iripros:£í jsftss deixarão os feusno.
ecce quatuor venti calim^ mes gravadps naç liitreir
7nabLinmarmagm. ías,ellaspermane^ni,ma?
'■ - ■-- '=' elles palTárao. Paffarap PS
íf in idplos,& também paflarao
*■ ■'' os oráculos com que pelles
•f "CM quanto paíli- refpondia o pay da Rienti-
r, raó eftes quatro ra ; porque ao forn da yer-
' impen^s, que foi atercei- dade do Eyaiigelhp tpdpí
xa,quarra,qmnta,&fext^ ^miide^erao.
idade do mundo, e«trand9 .§ Ppíaó começarão a|
lambem 'pela'' ^úm.i pmm^m^ *^"%xS*
4
S
exércitos
das batalhas ca m pães
&
Sermão ãa primeira dominga
innumeraveis , apareceo fendo desbaraM-
do,Scvencido,queró fícoii
delle efte dito. O mefmo
Temifrocles.que cô muito
deíigual poder o desfez, &
pozem fugida , também
paflbu^comona Grecia^iSc
maritimas , das vitorias &:
triunfos de húas naçoens,
& da ruina, abatimento, &
fervidaó de outras,taó va-
ria, & alternada fempre?
Sò digo, que aíHm a gloria, fora delia paíTáraÓ todos
& alegria dos vencedores, os famofos Capitaen» , &
como a dor, & afronta dos fuás vitorias. PaíTou Pyr-
Vencidos,tudopaíIbujpor- rho , paíTou Mitridates,
que tudo paíTa. O exercito paíTou Felippe de Mace-
de Xerxes, que foi o maior donia : paíTáraò Heitor 6c
que vio o mundo, confiava Achilles, paíTáraó Anibal
de cinco mil nãos,. & cinco
milhoens de combatentes:
& porque de húa, & outra
Í)arte fez continente o He-
efponto, & Cavou , & fez
nayegavel o mont€ Atho,
diílè delle Marco Tullio,
que caminhava os mares a
pè,& navegava os montes:
Tantis clãffibus Xerxes in
Grã ciam tranjijt^ nt Helef-
fontojunEío^ Athoqnemxm-
Occro tej)erfo{foy7naria ambularit^
lia.buó'. terramqne na^uigarit^ mar ia
pedibusperagrans , clajjibtis
montes. Mas todo aquelle
ímmenfo , & formidável
apparato,que viíto fez tre-
mer o. miu*, & a terra , tam
&: Cipiaó , paíTiraó Pom-
peo &: Júlio Ceíar, paíTou
o grande Alexandre, no me
fingular,&:fem parelha, &
atè Hercules,ou foíle hum,
ou muitos, todos paíTáraÓ >
porque tudo paíTi.
5> Coílumaò as Letras
feguir as Armas , porque
tudo leva após fy o maior
poder :& aílim ílorecéraò
variamentc,& cm diverfas
partes no tempo dcíles
impérios todas as Ciécias>
5c Artes. Florcceo a Filo •
foíia, íioreceo a Mathcma-
tica,fiorcceoa Thcología,;
íioreceo a A Urologia, Íio-
receo a Medicina,íioreceo
brevemente paílbuj. ^ dcf- u^Iuíka^ florcceo a Ora-
ão Advento, ^
tom , florecco a Poética , ca & Moral como taÕ ne
floreceo aHiftoria, flore
ceoa Archítedura , flore-
ceo a Pintura , floreceo a
Eílatuaria: mas aílim co-
mo as flores fe niurchaô, &
fecaó, aíHm pafiliraó todos
os Authores mais celebra-
dos das mcfmas Ciências,
& Artes. Na Eftattiaria
paílbiT Phidias & Lyfippo :
na Pintura paflbu Timan-
tes Sç Apelíes : na Archite
ceíTaria à vida3& à virtude,
parece que naó havia de
paíTar ; mas os Platónicos ,
os Peripateticos , os Epi-
cureos, os Cinicos, os Pi-
tagoricos, os Eftoicos , os
Académicos, elles, Sc fuás
Efeolas 5 ôc Seitas , todos
paílarao.
IO Nenhua coiifa he
mais própria defira coníi-
deraçaó em que himos.
aura paífouMeliagenes 5c que os jogos, Sc efpedlacu-
Democrates : na Mufica lospublicos,queoshomês
paíToii Orpheo Sc Anfion :
na Hiftoria, Tucidides Sc
Lívio : na Eloquencia^De-
moftenes Sc Tullio : na
Poetica,Ro mero & Virgí-
lio : na Aflrología , Anaxa-
inventarão a titulo de paf-
fatempo , como fe o meí^
mo tépo naó paílara mais
velozmente que tudo quá-
to paíía. Huns jogos foraõ
os Circenfes , outros os
goras êcPtolomeo : na Me- Dionyfios, outros os Juve
dicina, Efculapio & H7- naes, outros os Nemeos,
pocrates : na Mathemati-
ca, Euclides & Archime-
á&s : na FilofoíiajPlataé Sc
'Ariftoteles: naTheología,
Mercúrio Tremigifto Sc
Apollonio Tyanéo : Sc por
junto em todasas ciências
pafTáraa no mefmo tem po
os fete Sábios de Grecia3
porque, ou junto, ou divi-
dido j tudapaifa . Sò a E thi-
outros os Mara toneos 5 to-
dos cheos de diíFerentes
divertimentos, em que, ou
fe perdia a lioneílidade>
como nos de Vénus y ót? o
juizo, como nos de Bac-
cho > mas nenhuns mais in-
dignos dos olhos hunia-
nos, &piedade na tural, que
os Gtadíatorios. Sãhia to-
da; Rom=a ao AnfiteatFOiiiii
que ?
m
n
IO Sermão da primeira^ omin^a
que ? a ver^Sc feftejar coitíO quem levava hiía coroa de
Icmatavaó homens a ho-
mens :cahia6hunSv& ío-
brevinhaó outros , &: ou-
tros, fem eftar o poílo va-
go hum lo momento , ac-
clamando a cabeça do mil-
louro. Por cílcs jogos ma:5
que pelo curíò do Sol fe
contavaó>iSc dilHnguiaó os
annos. Mas como coda a
competência era a correrj
& o que mai$ corriajO que
do com applaufos mais triunfava, naó pq.diaó á^i-
carniceiros,' que cruéis, ab xarde paíllir as Qlimpia-
íim no dar, como no rece-
per da$ Feridas, tanto a in-
frepidez^^dos mortos, co-
mo a fúria dos matadores.
Os jpgoç Seculares fe cha-
marão aílim, pprque fe ce^
iebravaó hua íq vez ác fe^
ícuioa feçuio i (Sc dizia o
pregão publico qije f oi]t
vidava para elles: í^erjtead
fudosj úiios nernç vidit un-
quãK', neç yifuru^ efl:VindQ
veros jogos, que ninguém
yÍQ,nem ha de tornar a
ver. E cani efte defengano
da-ivida paHàda , &: defefr
peraçaódafpíurajj 03 hiao
cias, como paflaraò todo§
ps outroi? jpgqs ^aquelle^
tempos, ou todos pspaíTa-.
tempos daquellps jogos,
II Sò húa coufa ha
que naó pôde paílàr , por-
que o que nunca foi, nara
pôde deixar de fcr ^ &c taeç
parece que foraó as f:ibu-
Jasjque neíle mcfmo tépq
íe inventarão , & fingirão.
Mas fe filas naó paíTáraó
^m fy mefmaçjpaílaraó na.-
quelles caíbs,&: coufis que
jderaó occafiaó a fe fingi-
rem. Na fec ca univçrlLU
qucabrazQu todo o munr
^odos ver , & fe chama vap do, paíTou a fabula de Fae-
jogos. Os Oiimpicos for tonte: no djlnvip particu^
faó os mais celebres, & fur lar , que inundou grande
jnofos de todos, cm que de
cinco em cinco annos có-
corria todo o mundo a hur
jna Cidade do mcfmo np-
i7)e4 ou a levar? ou a yer
parte dcllc,paííbu a fabula
ide Deucalióa : ao cftudí)
com" que EÍRcy Atjantc
^zontemplava p curfo, 6c
nioyimcntps das Ellrcllas»
gaílby^
\
m Advento] '^^^'^^ íi
Ça&u a fabula de trazer o bios daqtíelle tempo o que
Ceo aos hombros: na efpe- Ha com o que naÓ ha , & ú
culaçao continua de todas certo com ofabulofo: para
às noites com que Ende- que nem o' louvor nos deP
inidri dbíervava ò^ effeitds vanèça , nem a caMninia
èo Planeta mais viíinhò à
terra, paíToú á fabula dòá
feus amores' com a Liia.E
porqiíe também dsnoíTds
vicios;ancr{íaífaca virtu-
de, èc a rioíTa mefma vida
|)aíla como fabiiíaj qambr,
& cdmpía c eii c ia de noS
inefmos jSaíTòu ih fabula
de Narcife: a rlquez^ íeni'
juizò", ria fabiila de NÍ ida^ :
à cubica infaciaveU ria fa-
bula de Tan táld : à invej a
do benl alheo, ria fabula, Sé
abutre de Ticio : ainxrorí-
flancia da fortuna ninais al-
ta, ria fabiiH; Sc roda de
Euxiori: o perigo de acer»
farconí òirieyo da virtii-
tie,8ciíaò declinar aos vi-
cios dosextremos , na fa-
bula de Sciíla Sc Caribde$ :
éc finalmente a certeza da
niorte,& incerteza da vida
pendtrite femprç de llum^
ío,paírdu, & eftà cõtinua-
jhénte paíiàndo na fabula
fiosdefanime, pdis o ver-
dadeiro, & o falfo, a verda-
de, & a nteittira, tudd piar-
12 Mas liàô lie jufto'
qu^enefíía paíTagem de tu^
do ó qiiè paííou no tempo
dos qu^atro" IrripeViols: pro-
larios do mundo, paíTenioi
iíòs erri lllencio; àqiíellá
Republica íagrada,qu?e al-
cançou a to-dd^s^^atrd, 6c
por fer fundada pdr Deos 5
parece (|iíe tinlía direito a
iíaó paílar., Nafced' a Re-
publica Hebréa líú c^ti-
y eira do Egypto j Sc quent
èntaõ llíe leVa^taíTe figu-
ra , facilm^ente llíe poQia:
pronofticar os três cativei-
ros, 8c trarifniigraçoerS cú
que fdi, arrancada da Pa-^
fria; riuá vez cativa pór
Salníariaíaf , em: que paP
fou deflerrada aos Aílj-
fips ; diitra vez eativá pdr
■ ííabutoddnofor , cní: que
das P^arcaâ. Affim ènvol- paíToii defEerrada ao^^Ba-
f éraóy 6c- mifturáraó os Sa- byl(^ios ; 6c a t^rceira^ &'
• • " MB-
12 ■ Sermão dapriynelra^^ommga
ultima vez cativa por Ti- Nos Capitaens paíTou o
to& Vefpafiano , em que braço invcncivcl àç.]\\à-\s
%
paííbu deílerrada a todas
as terras , & naçoens do
mundo. Começou no fa-
jiiofo Tri j virato de Abra-
ham, iraac5&:Jacob5tantas
yezes nomeado, & honra-
do por boca do mefmo
Deos ; mas nem por iíTo
deixarão de paíTar todos
três. Succedeolhejorcph o
quefonhou as Tuas fcUci-
dadesj & as adoraçoensde
feupayjôc irmãos •, & po-
%:0 que todas fe cumpri-
rão, todas paíTaraó como íe
foraó fonho. Teve o mef-
nio Povo três eílados de
governo , o dos Juizes > o
dos Rcys, o dos Capitrtés ,
&: fc bem fubindo , Sc de-
cendo as varas íc trocarão
com os cetros , & os cetros
comos baftoens, nenhum
daqucUes eílados foieíla-
. vcl, todos paílaraó. Nos
efpada de
Macabco vencedor de ta-
tás batalhas ; paliou a fcça-
nhaimmortal de Eleáza-
ro, que metendofe debai-
xo do Elefante , matou a
fua própria íepultura ; ôc
paílbu mais gloriofo que
todoso honrado, &: zeloíb
tcílamento do velho Ma-
thatias, digno de fer eícri-
toem bronzes. E porque
naó fiquem totalmente em
fílcncio as Heroinas da
melmanaçaò -, quatro ou-
ve nella iníignes na Fcrmo-
fura, Sara, Rachel, Fílh cr,
&:Judith, todas pOTcm fa-
taes a qu c m as a \\\ o u . Sara
a hum Peregrino com pe-
rigos: Rachel a hum Pa-
ílor com trabalhos: Efrher
a hum Rcy com deígoílos:
6cjudith a hum General
com a morte, Efte acabou
mifcravelmente a vida-;
mas as fcrmofuras antes de
fe acabarem as vidas , jà ú"
Juizes paílou a eipaaa
Gedeaó, o arado de San
^ar,&: a queixada de Sam- nhaòpaflado. Florecêraó
ílim. Nos Rcys paílbu a no meimo Povo alem de
valentiade David, a labc- outros igualmente vcrda-
doria de Salamaó, &: a pie- deiros , dezaiejs Profetas
dade,vk rcUgiaò de Joliaí. Canónicos , quatro maio-
res>
do 'Advêntffiò *4^wí -'. '' 1 3
res, &: doze menores •, mas dcs,_ a quinta^o Maujoleo
em efpaço de três feculos
os maiores5& menores deí-
de Ofeas a Maíachias to-
dos paíTáraó. Paflaraó os
milagres da Vara, pafTáraó
os da Serpente de metal,
paíTáraó os de Elias & Eli-
feo: & porque fó faltava
de Caria, a fexta o Tem-
plo de Diana Epheíina , a
íeptima o Simulacro de
Júpiter Olympico. E dei-
xando o Aníitheatro de q
fófevem asruinas, as Py-
ramides cahíra5,os Muros
arrazáraófejO Coloílb átí-
paíTar a Ley de Moyfes , & fezíe , o Maufoleo fepul
o Sacerdócio de Aram , a toufe , a Torre fumiofe, o
Ley,6co Sacerdócio tam-
bém paíTáraó j porque tu-
do paíla
13 Agora quizera eu
perguntar ao mundo , fe
como me enche a memo-
ria de tantas couías, que to-
das pafilraó , me moilrarà
algúa aos olhos que nam ,
paíTaíTe ? As íctQ fabricas a mais poderofos Impérios :
que a fama deo nome de *.^..^^a^a^.^^^^
maravilhas , acrecentáraò
Farol apagoufe, o Templo
ardeo,&: o Simulacro, co-
mo íimulacro , defváne-
ceo fe e m ij mefm o . Tem
mais que dizer, ou queop-'
por o mundo ? Sò pode ap-
pellarparaasmais fortes,
& bem fundadas Cidades ,
Cortes,6c Metrópoles dos
argumento verdadeiramê-
alguns como oitava o An-
íitheatro Romano. Mas a
maravilha oitava, ou nona
he, que todas eíías maravi-
lhas, que par eciaó eternas,
paílanio. A primeira ma-
raviílii forao as Pyrami-
desdo £gypto, a fegunda
os muros de Babyloiiia , a
terceira a Torre de Faro, a
quarta o ColoíTo de F^o-^
te de grande boato
antes
de fe lhe tomar o pefo. Ni-
nive Corte de Nino foi a
maior Cidade do mundo :
andavafe de porta apor-
ta, naó menos que em três
dias de caminho : edifica-
da de propoíito com arro-
gância de que nenhua ou-
tra a igualaiTe , como naó
igualou. Mas onde eilà ef-^
fa Nipive?£cbatanis Coc-
te
1 4, Sermão da primeira ^o^fiinga
te de ArFaxad , & Cidade dar volta a toda a
que o Texto fagrado cha-
ma potentiíllma , era cer-
cada de fete ordens de mu-
rosjtodos de pedras qua-
dradas, cada húa de vinte
& fete palmos por todas as
faceSjSc as portas com pro-
-digiofa altura de cem co-
vados. Mas onde eftà eíía
Ecbatanis? Sufa Corte de
AíTuero , &: Metropoli de
cento & vinte & fete Pro-
vincias , cujo Palácio re-
prefentava hum Ceo ef-
trellado>fundado fobreco-
lunasdeouro , &: pedras
preciofas , & cujos muros
eraó de mármores brácos ,
redon-
deza da terra. De Troya
diíle Ovidio : Jam f^ges eft
ubi Trota fui t. E o mefmo
podemos dizer das plani-
cies, vali es, &: montes, dó-
de fe levanta vaó às nuvens
aqnelles vaíliílimos cor-
pos de cafas, muralhas , &
torres. De hiãas fe naó fa-
bem os lugares onde efti-
veraó ; de outras fe lavraó,
femeaó, 6c plantão os mef-
mos lugares, fem mais ve-
fbigios de haverem fido,
que os que encontrão os
arados, quando rompem a
terra. Para que os homens
compoílos de carne , «Sc
&jafpesdediíFerentes CO- fanguefe naó queixem da
res j bem fe deixa ver quaó
forte, &: inexpugnável fe-
ria, pois defendia taó gra-
de Monarca , dominava
tantos Reynos, & guarda-
va tantos thefouros. Mas
onde eftà eíía Sufa? Seou-
vcílemos de fazer a mefma
pergúta às ruinasdcThe-
bas, de Memphis , de Ba- 14
brevidade da vida , pois
também as pedras mor-
rem: & para que ninguém
fe atreva a negar, que tudo
quanto ouve, paílbu,&: tu-
do quanto hc,paíla.
í. IV.
ítra, de Carthago , de Co-
rintho,de Scbalte , &: da
mais conhecida de todas
Jerufalcmi neccílarío feria
Ar;
G;d.
F.aza6 deílc
urfo, ou pre-
cipício geral com que tu-
do paílà, naó he hua fó, íe-
naó duas: húa contraria a
toda
^V,
'^-^S^o Advento.
toda aeílabilidade, & ou-
tra repugnante ao mefmo
fer. É quaes faó ? O tem-
po 5 &: antes do tempo , o
nada. Que coufa mais ve-
loz, mais fugitiva 5 & mais
inftavel que o tempo? Taó
inftavel, que nenhum po-
der, nem ainda o divino o
pôde parar. Por iíTo os
if
quatro animaes, que tira-
vaó pela carroça da gloria
deDeos nefte mundo , na5
tinhaó rédeas. Defcreveo
o tempo no Palácio do Sol
o mais engenhofo de todos
os Poetas , & dividindo-o
em fuás partes , diíTe aflim
elegantemente:
jl dextra lava que dies^ & menjis^ ò^rmus^
S(£cula que-^Ò* fofitsfpatijs aqiialibus^hara^
Ver que novum Habat cmEium for ente corona^
Stabatnudaaftas^ Ò^fpcafertagerebaty
Stabat & Atitumnus calcãtisfordibusvuis^
Etglacialis Hyems cams hirfâta capiUis,
Elegantemente, torno a
dizer, mas falfa, & impro-
priamente. Aquelle7?<í?^/?í
tantas vezes repetido,he o
que tirou toda a femelhan-
çadeverdadeà engenhofa
pintura. Porque nem a
Primavera com as fuás flo-
res, nem o Eílio com as
fuás efpigas , nem o Outo-
no com os feus frutos, nem
o Inverno có os feus frios
ScneveSj por mais tolhi-
d0,&: entorpecido que pa-
reça, podem eftar parados
hum momento. Paífao as
íliuí.-
horas, paílàó os dias , paí^
faó os annos 5 paílaó os fe-
CUI0S5& fe ou veíFe gerogli-
ficocomque fe podeíTem
pintar, havia de fer todos
eom azas,naó fó correndo,
ôc fugindo, mas voando, &
defáparecendo. JSTem ef-;
cufa efta impropriedade
eftar o Sol aífentado : Sede-
batin folio Th^bus i por-s
queo Sol pôde parar, co-
mo no tempo dejofwe,oii
tornar atraz^como no tem-
po de Ezechias 5 mas o tê-
po em nenhum tempo > nê
parar.
•^:i
Mi
Mi!
Meta-
mor.
I (í Sermão da primeira dominga
parar , nem deixar de ir emendou eíla fiia ímpro-
por diante fempre, & com priedadeo mefmo Poeta,
a mefma velocidade. -Bem quando depois diíFe :
r o
Ipfa qtioque affiduo labuntwf têmpora motu
Nonfectís ãcfiumcn^ neque enim confifterefumen
Aut levis horafotefl.
E como o tempo nam
tem, nem pôde ter confi-
ftencia algua , & todas as
couíasdeídefeu principio
nafcérao juntamente com
o tempo, por iíTo nem elle,
nem ellas podem parar
hum momento , mas com
perpetuo moto , & revolu-
ção infuperavelpaílar 5 &
irpaííando íempre. > ■ \
\^ A fegunda razão
ainda he mais natural , &
mais forte, o nada. Todas
as coufas fe revolvem na-
turalmente, & vaó bufcar
com todo o pcfo, Sc Ímpe-
to da natureza o principio
donde nafcérao O homem
porque foi formado da
terra , aindaquefeja com
difpendioda própria vida,
& fumma repugnância da
vontade, fempre vai buf-
caratcrra, & fó dcfcanfa
nafcpultura. Os Kios ef-
quecidos da doçura de
fuás aguas, poílo que as do
marfejaó amargofas , co-
mo todos nafcérao do mar,
todos vaô bufcar o mefmo
mar, & fó nelle fe defifo-'
gaó, 6c paraó como era fea
centro. Aílim todas as cou-
fas defte mundo, por gran-
des, 6c cílaveis que pare-
çaó, tirou-as T>cos com o
mefmo mundo do naó fer
ao fer , ^ como Dcos as
criou de nada, todas cor-;
rem precipitadamente , 6c
fe m qu e n i n gii e m a s p o fl a
terma6,ao mefmo nada
de que foraó criadas. Vi-
ftes o torrente formado da
tempeíladc fubita , como
fedefpenha impctaofo,6c
com ruído : <Sc tanto que
cGÍlbu a chuva , também
ellefc fcccou, 6c fumio fu-
bitamentc, 6ctornoua fer
o nada que dantes cra.-pois
a 111 111
Is Advento'.
áíiim he tudo, &: fomos to- à- generatio âdventt
úos-.à^iz David : Ad^nihi"
íum devmient fanqua aqua
decurrens, SonJiaílcs no ul-
timo quarto da noite, qua-
í7
terra
ajaemin ^ternumflat.
ló Mas fe bem fe re-
para nefta mefma fcnten-
ça , fendo taõ poucas as
do as reprefentaçoens da fuás palavras , aííimcoma
fantaíiaíaó menos confu- kúasconíirmaó, aíilmou-
fas, que poíTuhieis grandes trás parece que impugnao,
riquezas > que gozáveis &: cieftruem quanto imo&
grandes delicias , & que dizendo. Porque fe a terra
cftaveis levantado a gran- câá fempre firme , & eíla-
áts dignidades \ Sc quando v el, terra autem in aternum^
depois acordaftes , vi^^^ fiat i fegucfe que ao menos
com os olhos abertos, que a mefma terra naõ paíTa, &
tudo era nada? Pois aílim que ha no mundo alguma
paíTaóa fer nada em hum coufajque naó paífe. Con-
abrir de olhos todas as cederemos pois eíla excei-
aparencias defte mundo, çaóao noífo aíTumptOí^c
diz O mefmo Profeta : Ve- diremos que paíTaó as fígu-
lutfomniumfurgentiu 2>?- ras, como diz S.Paulo>mas
fnine imaginem ipfonim ad que a terra, que he o thea-
nihilum rediges. De forte tro, naó paíla > Naó digo ,
que eílas faó as duas ra- nem concedo tal. A terra
zoes porque todas as cou- toda naó paíTa, mas paífaó,
faspaífao. Paflaõ, porque 6c fempre eílaó paíTando
voaócomotempOj&paf-. todas as par:tes delia. A
fa65porquevaócaminhan- terra compoemfe de Rey-
dopara o nada donde fa- nosjos ReynQS compoem-
híraó. Por iílb , como à:iz fe de Cidades , as Cidades
oEfpirito Santo, quando compoemíe de cafas &
haaspaíTáraóíOu tempaf. campos, 6c principalmente
fado, he neceíTario que ve- de homens , 6c tudo ifto ,
nhaò outras para também que tudo he terra (^ & toda
^■sSiM \QeneratÍQ tr^terit-i aterra } perpetuamente
Txim.7.- § eftà
/
:. ií
I » Sermão da prime ir a ^ornsTÍgà
cfti paíTando. Daniel revê- tado nas entranhas da ttt^
lando a Nabucodonofora
intelligencia da fua Eíla-
tuaj diífe que Dcos muda
os tempos, ocas idades, &
conforme elias paííii os
rajfaó muito raros, mas os
que fe fazem na fuperíicie
delia, fcmpre a trazem em
perpetuo movimento.
17 E fe os grandes
3.31.
Reynos de hiaa parte para Reynos, & Impérios nam
outra ; Ipfe miitat têmpora^ faó eíl:aveis,&: paífaó j que
& £tates : transferi Regna^ feráó as Cidades particu-
atque canftituit. Afum paf- lares , para que naô he nç-
fou o Reyno do meímo ceíTario, que a roda da for-
Nabucoparaa Períia , o tuna dè toda a volta ? Naò
dos Perías para a Grécia, o fallo daquellas que acaba-
dos Gregos para Roma, & raó como de morte fubica,
abrazadas atè a ultima
cinza no incêndio de húa
noite , como Troya , &
Lugduno. Dertadiírejudi-
ciofamente Séneca: ^mn-
o dos Romanos para tan-
tos outros, quantos hoje
coroaò outras cabeças, as
quaes fe devem lembrar
daquclla infallivel fentea-
Ecci. 10. Ça : Regmim agente ingen- do tmanox/itit Í7iter urbem Se'^^<^*
^- temtransfertwr propter in- maximam-,& nullam ^ nlhil ^^"^*
juftitias. O noífo Reyno privatm-^nihil fublice fta^
naó fendo no íitio original bile efiv tam hmninum^quàm
dos maiores , quantas ve- urbinmfata^vohútur. Dei-
7:es paílbu a outras gentes ^ xadas pois eftas , que fiibi-
Paífou aos Suevos, paííbu tamentepaifáraódo ferao
aos Alanos , paífou aos
Carthaginefes, paílbu aos
Romanos paílbu aos Ára-
bes & Sarracenos , & den-
tro da mel ma Hcfpanha
também paífou, &: tornou
a paniir. Os terremotos,
c|ue íc gcraò do ar violcn-
naòíerj íó fallo das que
por feus paílbs contados
vieraòdchum domínio a
outro dominio. E quantas
vezes as Pombas deBaby-
lonia, quantas osLcoens
deJeruÍLiIem , quantns as
^' d€
iJon-
Aguias de Roma
■I
j
doAda)entoV 19
Gonftantínopia , viraó fo- que à maneira de pexes no
bre fuás muralhas outras níarjfeandaó fernpre mo
bandeiras? O maior thea
tro de Marte no noílb fe-
culo, & por ventura , que
cm nenhum outro > forao
vendo, 6c paííando de huin
dono para outro dono.
Ouçamos a familiar evi^
dencia com que o grande
as guerras Belgicas v ^ na- j«izo <íeS. Ágoílinho de
grande Provincia de Olá- moftrou a hum delles eíla
da, excepta Dorth,por ifíb
chamada a Virgem , ne-
nhúa Cidade ouve> que
fiaô foíTc conquiílada > &
perpetua infírabiiidade. In-
troduz hum Rico 5 que ja-
d-anciofo de fer fcnhor da
fuacafa > dizia : ^omum
alternaíTeodominio. Que meamhako : 6c pergunta*
direi dos confins fempre IheoSantoaífim : ^am
incertos 5 & taò frequente- í/í?;;^^ w tuam ? ^^á^;;^ ^/ííít
mente mudados de Hcf- meus mihi dimtjit . Efunde
panha com França , de iUe habuit ? Ams nofier il-
França com Germânia, de Iam reliquit. Eecurre ad
Germânia com a Turquia, ^roavurn-^inde adAbavmn^
êt da Turquia com Itália ? d?7^^ nomina nonpotes dl*
Annos ha , que a antiga cere.Tatertuushkeam dt-
Creta, hoje Cândia , fem mijihtranfivitper iUam^fic
fer das Ilhas errantes do cí^í/^ír/^^^/tò. Eftacafa de
A rcipelago, tem pofto em que vos jadais fer fenhorj
duvida o mundo para on** porque he voíTa ? Porque a
de ha de ir , & fe ha de rc- herdei de meu Pay : & vof-
conhecer as Cruzes» ou a$ fo Pay de quem a ouve?
ineyasLuas. De meu Avo : 6c de quem
18 E quanto às cafas aouve voíToavo? Demeu
membros menores,de que Bifavo : &: voíTo Bifavo de
ie compõem innumera- quem? De meu Trefavo.
velmente as Cidades; que Jà naó tendes palavras
poderá comprchender o com que profeguir de que
inextricável laberinto, có mak foi , ^ a quem mais
B ij ,paí^
Angt-íl:.
Come.
in Pi&l.
122.
t;:^
li '<
'■í!|
■li!
20 Sermão da prime ir d^ (minga
paflbu eíTa cafa , que cha- a parte principal, mas ver-
maisvoíTa. Pois aílimco- dadeira mente o tudo do
mo ella paíTou , & voíTos
anteparfiidos paíTáravõ por
ella, amm ella, Sevos tam-
bém haveis de paíTcir. Por
efte modo fem firmeza,
nem eílabilidade alguma
eílaófemprepaflando ne-
íle mundo as caías , as
quintas, as herdades , os
morgados : huns,porque
os fazpaHaramorte, ou-
tros,porqueos manda paf-
mefmotudo. E vendo o
homem có os olhos aber-
tos,&: amda os cegos , co-
mo tudo paíla i fó nòs vi-
vemos como lenaõ paíla-
ramos. Somos como os
que navegando com ven-
to , & maré , 6c correndo
velociíHmaméte pelo Te-
jo acima, fe olhaó fixam é-
te para a terra , parecelhe
que os montes, as torres, &
far a juftiça, outros,porque a Cidade he a que pafi^i^ &
os convida a paííàr a ri- osquepaílaó,raóelIes.Hc
queza dos que os coprao j
outros,porque os obriga a
neceílidade dos que os ve-
dem, outros,porque a for-
çaj& poder os rouba, &
íenhorea por violência :
cm fiimma, que naó ha pe-
o que ii^c o Poeta : Mon-
tes^ urbesque recednnt. Mas
demos volta a eíla meíma
comparação , & veremos
na terra outro género de
engano ainda maior. A
maior oftcntacaõ deeran-
dra, nem telha , nem plan- deza, & mageílade que fe
ta, liem raiz, nem palmo vio neíle mundo, &:huána
de terra na terra, que nam das três qu-e S. /Igoílinho
eílcja fem pre paíTando , defejára ver, foi a pompa ,
& magnificência dos tri-
unfos Romanos. Entravaó
porque tudo paííà.
§■ V.
DEíle tudo que
cílàrcrDprc paf-
faadojhc o homem naófó
por hua das portas da Ci-
dade naquelle tempo va-
fliilima, encaminhados lo-
gamente ao Capitólio :
prcccdiaò .os Toldados ve-
cccore*
cedorescomacciamaçoés: taíTc , qúaes éráo os que
íêguiáofe repreféntadas ao paíTavão : fe os cfo triuafo ,
natural as Cidades venci- fe os que o eílaváo vendo:
das 5 as montanhas inacef-
íiveis efcaladas , os rios
caudalofos vadeados com
pontes : as fortalezas , Sc
armas dos inimigos , & as
machinas com que fora 6
çxpugnadas : em grande
numero de carros os def-
pojoSjSc riquezas 5& tudo
o raro, 8c admirável das ré-
gio ens novamente fogei-
não ha duvida , que pare-
ceria a pergunta digna de
rifo. Mas o certo he, que
tanto os da prociílàó, & do
triunfo , como os que das
janellasj. & palanquesjquc
os eílavão vendo, huns, 6c
outros igualmente paííà-
váo, porque a vida, &: o
tempo nunca pára : & oií
indo, ou eílanaoj ou camJ-'
tas: depois de tudo iíFo a nhando^ ou paradosjtodoí
multidão dos cativos, & fcmpre, & com igual velo-
tal vez os mefmos Reys cidade paíFamos.
maniatados 5 & por fim em 20 Declarou efta ver-
earroça deouro^ 5c pedra- dadetao mal advertida cò
ria, tirada por Elefantes, húafemelhãça muito pro-
Tigres, ou- Leoens doma- pria S Ambrofio elegante-
dos,o famofo Triunfador : : mente : Etfinon Vídemur'
ouvindo a efpaços aquelle ire corpo-rditer ^ progredi^
gloriofo , & temerofo prc- mur, Namficut in na-vibus ^^^^ ^
gão : Memento te ejfe mor-' dormientes Gentis ãgu7itnr in píài.
í^/é-w. Em quanto eíla grã- in portas -, fie vit£ noftr£ ^-^^'i-^-
de prociíTaó (" que allim fpatiodefluente ^ ad propriu
lhe chama Séneca ^cami- anus qtii f que finem ^ curfiulã'
nhava, eílavão as ruas, as bente deducimur. Tu enim
praças, as janenas,& os pa- dormis ^ér temptis tuum am^
ianques, que para efbe fim bulat. Todos imos embar-
fefazião, cubertos de iníi- cadosnamefma nao , que
nita gente, todos a ver. E he a vida, ôc todos navega-
fe Diógenes então pergun- mos com o mefmo vento >
Tom./». B iii que
í '1'
2 2 Sermão ddprhnéira l^omifiga
queheotêpo :& aflim co- que nenhum flofticm po*
mona nao huns governaó dia entrar duas vezes em
oleme , outros mareaó as hum rio: &porquc? Por-
velas-.huns vigiaó, outros que quando entraíTe a íç>
dormem: huns paíreão,ou- gúda vez, jà o rio,qu« femí*
tros eítáo aíTentados : huns pre corre, & paíía , hc ou^
cantáo, outros jogáo, ou- tro. E daqui infiro eu, que
troscomem , outros ne- omefmofuccederia fenao
nhúa cou-fa fazem,& todos foíTc riojfenaó lago,ou tan-
igualmente caminhão ao queaquelleem que o ho-.
mefmo porto •, aílim wòs , mem entrafie > porque ain-.
ainda queonãopareça,in
fenfivcl mente imos paf-
fando femprej&avifmhan-
dofe cada hum ao feu fim ;
porque tu , conclue Am-
broíio, dormes , & o teu
tempo anda : Tu dormis^ ò*
tempus Uium amhulat J^'\.&
poucoemdizer que o tê-
po anda, porque corre , &
voa : mas advertio bem em
notar qu€ nòs dormimos i
porque tendo os olhos
abertosp iraver qije tudq
paíHi 5 ió para confiderar
que nòs também paílamos,
parece que os temos fe-
chados.
21 Dito foi do grande
Filofofo Eraclito,alcg:ido,
& celebrado por Sócrates ,
Socrat. ]\lunpolJt' qiieriUjtiam bis m
da que a agua do lago^Sc da
tanque naó corre, nem fe
muda , corre porém , &;
femprefe eílà mudando a
homem,que nunca perma •
neceno mefmo eílado : Et
minoiu^m in eodemftatuper- Jo^- 1*
«í/í!/^'/'. AíIimodiíreJob,&:
quem o não diíler aílim de
todo o homem , & de fy
mefmo , não fe conhece.
Admirafe Philo Hebreo,
de que perguntando Deos
a Adam onde eftava ; j^- c.fiícC
dam^ ííbí es , elle não refpó- > 9-
deíTe. Mas logo efcufa ao
mefmo Adam , & a qual-
Sueroutro homem a quem
)cosfizcírea mefma per-
gunta j porque comopòd^
rcfpondcr onde cílà, quem
waóeílà? Sc diílcra, cíiou
eumd^mjiuvmm defeedder&s aqui (^ como futilme.itc ar-
do Adoenta.
gucS. Agoftinho^ entre a
primeira fyllaba , & afe-
giinda ;á o eftou nam feria
eíloUí nem o aqui íeria o
mefmo lugar : porque co-
mo tudo cílà paílândo , tu-
do fe teria mudado. Por ií-
fo conclue o mefmo Phi-
lo> que fe Adam ouveíle de
refponder própria, & ver-
dadeira menfe onde cita-
va > havia de dizer > mfr
Thilus.
riciaà Adolecéncia^morrc
a Puericia : paíTando da
Adolecencia á Juventud,
morre a Adolecencia : paf-
fando da Juventud à idade
de Varão, morfe a Juven-
tud : paíTando da idade de
Varaõ á Velhice , morre a
idade de Varaó : &: final-
mente acabando de viver
portaata continuação, 6c
fucceíTaô de mortes j com
€[Mam , cm nenhua parte i a ultima,quefó chamamos
porque cm nenhua parte morte , morre a Velhice,
cftàaquilbqucnúca eftà, Aífim o coníideravaó a-
mas fempre paífa : Adquod queiles Sábios, mais larga,
-fropTte refpondère foteraPy & menos fabiamente do
nufquam : eo quod humana que devéraójaps quaes por
resnunquam in eodemjiatu
maneat,
Confiderandò eíle
21
iíTo emendou S. Paulo, di-
zendo que morria todos os _
ám^'.§luoUdiemorwr. K ja .^.^x.
continuo paífar do homem pòdefer, que da cómuni-
( naó Fora de fy, fenaó on- caçaó que Séneca teve c5
de verdadeiramente pare* S. Paulo, enfmou elle eíla
ce que eílà , & permanece, mcfma lição ao feu Difci
quehc dentro em íy meí^
mo ^ diziaó os Sábios da
Grécia, como refere Eufe-
bio Cefarienfe, que todo o
homem , que chega a fer
vclh o, morre féis vezes. E
como? PaíTando da Infân-
cia à Puericia , morre a Tn-
pulo,quando lhe diz : Sin-
gulos diesyfivgíilas njitasf ti-
tã, ^c o Sol, que fempre he
o mefmo, to dos os dias tem
hum novo nacimento, &
hum novo occafo, quanto
mais o homem por fua na-
tural inconílancia taó mu-
fanci^ : paíTando da Pue- davcl, que nenhum heho*
a iiij jc
\
^4* . Sermão da prmeiraVyommga
jeoqueFoihontem , nem fando tudo para a vida, na
f •;
nem
ha de fer à manhãa o que
hehoje ! Defenganemonos
pois todos, & diga , ou di-
gafe cada hum com ElRey
ifj^i.,8, Ezechias : T>e mane nfqtie
12, advefperam fintes me, E fej a
a ultima conclufaó defte
largo difcurfo -, que entaó
diriiiiiremoS'bem , & co-
nheceremos.o quehe efta
vida,&: efte mundo , quan-
do entendermos que nam
fó eílamos nelle em per-
petua paíTagem , mas em
perpetuo paíiamento.
23
§,Nl,
dapaíTc para a conta. O
que faz, & ha de fazer dif-
ficuftofa a conta faó 03
pecca dos da vida, & de to-
da a vida. Eque confufao
fera naquelle dia taó cheo
de horror , &: aíTombro,
olhar para a vida , &: para
os peccados de toda ella,Ôc
ver que a vida paííbu, & 05
peccados naõ paíTáraó.
24. Deixe paíTar&naó
pai lar, na 6 fó temos os do-
cumentos da Efcritura,
mas grandes, & manifeílos
exemplos da mefma natu-
reza. Chrifto Redeniptor,
&: Juiz uni verfal noííocó-
parou o dia do Juízo ahúa
ASíim paíTamosf
todos, & aílim Rede lançada no mar, Sa- ^^'"^
paíTa tudo para a vida : de- gen£ mijfa in maré . O mar ^^'^^'
lengano verdadeiramente he eíte mundo : a rede he a
nam fó trifte , mas triftilll- comprehenfaó da ciência,
mo, íe efte fuperlativo , &:
outros de maior horror
naõ foraó mais devidos ao
que, 8c depois de tudo pa f-
far, fefeguc. Depois da vi-
da feguefe a conta. E fendo
aconta,que fchadedar,dc
tudo o que paílbu na vida 3
triílillima, ik tcrribiliílima
f Oiiii Jcra^aó hc í qucpaf-
& juítiça divina : os que
nella andáo nadando jk
prefos,ou com maior 5 ou
com menor largueza , faó
todos os homens. E aílim
como na rede , quando jí
malha he muito eílrcitaífo
a agua pòdc paliar, & ne-
nhúa outra coufa j aílim
paíFa íòmcntc pur cl-la a
Vida,
ão Advento. if
vida, & tudo o mais C que mo documêto : Cribram a- ^^^^f^
faóospeccados }íicaden- quasdenuMusc^loru.Dcí-
trOj&nadapaíIa.Ohquam ceanuvé como efponj-a a
apertad;i5& eíireita he efta beber no marjêc fendo a a-
malhadarededeDeos: &: guado niarfalgada , &:a-
qiiam fácil de paílar, ainda margofa,paífada porê pela
por ell a 5 a vida, que como nuvê;,o q là fícajhe o amar-
agiia fempre eftà paífando! gofo^, & o que cà defce , o
Omnesmorimiir , & quaíi doce. Por iífo com grande
aqua dilabmur. O meíluo propriedade efte paífar , Sc
Chriílo cóparou eílc paf- naô paífar fe compara na
far,&naó paífar ao crivo, nuvem ao crivo , &: navi-
quando diífe a feusDifci- da, & na conta ànuvem.O
Luc.22. pulos \ S'atanas expetivit que paífa por ella, & calo-
sa- .'vosíit CYíbraret ficut triti- crânios , he o doce da vi-
cum. AlTimcomo no crivo
(^diz SJoaô Chryfotlomo,
comentando eftas pala-
vras. ' Aílimcomo no cri-
vo dando hua & muitas
voltas, paífa o graó , & fò
da: o queíicalà em cima,'
& naó vemos, he o amar-
gofo da conta.
2 5" Naó podia Job fal-
tar a enobrecer efle mef-
mo aíTumpto , como ta6
fica a palha •, aífim neíle próprio das fuás experien-
niundo (' que todo he fu- cias, com algua femelhan-
rado ) com a volta, que daó ça que mais ainda nolo de-
os diaSjSc os annos, paífaa clare. Diz que obfervoíi
vida,^: os goílos delia, Et
innovíjjimo nihtl remanpt^
nififolum feccatum , & no
.jíim,3cparao íim fo íica o
- peccado. De outro crivo
Deos todos feus caminhos,
& coníiderou as pegadas
dos feus pès: Obfervafii om- lob.
nesfimitas meas^ ér 'vefttgia, ^ ''-
fedum mearum cõnJtderaftL
falia David, qhe o das nu- E porque confidera Deos
vês,por onde fe coa a agua naó os paífos, fenão as pe-
da chuva,o qual mais alta- gadas ^ Porque os paífos
mete nos inculca elle mef- paífaó> as pegadas íicão: os
m
y as pegadas a
■■■<
2 <> Sermão da primeira dominga
paíTos pertencem à vida, das cílaó manifefras , 5c
vemfc , as raízes eílão es-
condidas, & náo fe vem : &
aíllm tem Deos guardados
inviíivelmenre todos os
noíTospeccados, os quaes
no dia da conta rebentarão
comoraizes , ôc brotarão
nos caftigos , que pertence
à natureza de cada hum.
que paílbu
cóta,q náopaíTa. Masque
differentementenaó paíTa
Deos pelo que nòs taò fa-
cilmente paíTamos ! Nòs
deixamos as pegadas de-
traz das coftas , 6c Deos
tem-nas fempre diante dos
olhos, com que as nota, &
obfer va : as pegadas para lilo he o que canto cuida*
nòsapagaófe , como for- do dava a Job.
madas em pó, para Deos 26 Finalmente o Apo*
naó fe apagaó , como gra- ílolo S. Paulo > pregando
vadas em diamante. Tal contra os que abuíaò da
he a conílderação dos pec- paciência, Ôc benignidade
cados, que na noíTa memo- de Deos , & em vez de fe
ria logo fe perde, & na ci- aproveitarem do efpaço q
encia divina fempre eftá Ihedàparaapenitécia, ga-
prefente. O^ Setenta em fí"áoa vida em accumular
lugar de pegadas trefladá- peccados fobre peccados,
rão Raizes : Et radicespe- Naó vès (" diz J ò hom em ,
dum meorum conjiderafti. que defprezas as riquezas
Aíllm como os pés fecha-
máo plantas,aílim às pega-
das lhe quadra bem o no-
me de Raizes. E porque
deo eíle nomejob às pega-
das dos feus pafibs? Não fó
porque os paíTos pafiaó, &
as pegadas íicão j mas por-
que ficaó como raízes fun-
das,6c firmes , 6c que fem-
pre permanecem. As pega-
do fofrimento, 5c longani-
midade divinaj6c que pelo
contrario, fegundo a dure-
za do teu coração , enthe-
fouras para ti a ira, 6c vin-
gança, que te cfpera no dia
do Juízo? An divitias honi-
tatisejusy &patíenti£i &
longantmitatis contemnis > ^^^
Secundam autcm duritiamy ^*^*
(^ impaniíms cory thefauri-
ão Advento. >7
%as tihi iram-, m die ira , & todos enthcfoura mos : to-
revelattonis juHt judicij dos gaftamos o que paíTa,
"Dei ? De maneira qu® ao & todos enthefouramos a
peccar fobre peccar chama que nao paíTa : o que gafta-
S. Paulo enthefourar , the- mos^he o da vida,o que erir
faurizastibi : porque ainda
que a vida , & os dias em
que peccamos paíTaô -, os
peccados,que nelle come-
thefouramoSjO da conta.
27 Infinita matéria fe-
ria^ fe agora ou vera mos de
reduzir àpraticahuma 5 6c
temos^naó paífao , mas fí- outra parte defta demo-
cão depofitados nos the- ílração^ &poIas ambas em
fouros da ira divina. Falia theatro Mas por iíTo nos
o Apoílolo por boca do
mefmo DeosjO qual diz no
Deuteronomio:M>;?;2é'^^^
conditafiint apudme^ ò^fi^-
mata m theÇauris meis^Mea
ejfultio^i&ego retribuam in
tempore^ Eíles theíburos
detivemos tanto íio pri-
meiro ponto do noílb diC-
curfo. Naó vimos nelle
defde o principio domun-
dojcomo tudo paíTouPNaò
vimosj comotodos os que
em tantos feculos vivèraó>
pois,que agora eftáo cerra- paíTáraõPPois eíTe tudo q
dos/e abriráó a feu tempo, entáo paíTou para a vida ,
& fe defcubriráó para a có- he o nada que naó paífoii
ta, no dia doJuizOíque iíTo para a conta: & qí^qs todos>
quer dizer, /;í&/>^,d^•^í'- q^e então morrerão , &
velãtianis juftijíidictj T>ei.
Confideraime hum home
rico , 8c que tem mais ren-
das cada anno do que ha
miíler para fe fuftentar:
agora eftáo fepultados, faò
Qs que refufcitados nefte
mefmo dia haó de apare-
cer vivos diante doTribu*
nal diviíio , para dar eífe
que faz efte homem ? Hãa conta eftreitiíTi ma de quã
parte do que tem gafta , &: to fizerao. Nefte Tribunal
outra parte enthefoura.
Pois ifto he o que fazemos
todos. Todos gaftamos, 6c
vio S. Joaõ aílèntado fobre
humthrono de admirável
mageftade o fupremo Juiz,
6c com
Apoc.
Ibid. i;
Uul.
Sermão dã primeira dominga
afpe^bo taó tcrrí- fcriptaeraiit mlibrls.k^vvcí
entendem literalmente ef»
tes textos como foaó , Be^
da,^: outros Padres. Mas
porque razão o livro da vi^
da, era livro , £c os livroy
daconta,livros? Porqueo
livro da vida contém os
dias da mefma vida , que
faópoucos.Sc os livros da
conta contem ospcccados
cometidos nos mefmo»
dias, que faó muitos. Aí-
fim que poílos à viíla no
tremendo tribunal de húa
parte o livro, &: da outra oá
1 ivrosr então fe veráó jun-
tas, & concordes as duas
combinaçoens do nollb aí^
fumpto: no livro , como
Et líb] i ãperti junt , & dius tudo paííli para a vida j nos
líber apertus ejt y qui ejl vi- livros, como nada paíla
t^y & judlcati fnnt mc"Uú
ex hís qtí£ [cripta erant in
libris Jecundhm opera Ip fó-
rum. DeíladiílLnçaòqueo
Evangeliílafazde livro a
livros, fc vè claramente,
que o livro era da vida , //-
ber^qui eft -vit^-, $c que os 1 i-
vros eraó da conta^ porque
pelos livros foraò jul ira-
dos os mortos: Etjudicã'
ti fiint mortm cx his qiiíe
2%
&com
vel, que afíirma fugio delle
o Ceo,& a terra : Et vi dl
thronummagnnm candidú.y
érfedentemfiiper eiim^ à ca-
jus covfpeãufiigit terrã^ ò*
calum. Diz mais,que vio a
todos os mortos grandes,
& pequenos em pè, como
rcos , diante do mefmo
throno ; Et vldl mortuos
magnos^ Ò^pufiUosft antes In
conjpeãu thronl. E final-
mente conclue, que entaó
aparecerão, 6c fe abríraô
hum livro, & muitos li-
vros, Seque pelo que eíla-
va efcrito neíles livros fo-
raó julgados todos , cada
hum conforme fuás obras:
para a conta.
28 c^t'
VII.
te nada do qual
azemos, que na-
da paíla para a conta , he o
que agora havemos de ex-
aminar. Pergunto: Sc na-
da pafia para a conta, pare-
ce que também o nada pô-
de ler chamado a juízo? E
fc
' do Advento^. 29
fcacafo for chamado , ef- tinha por nada jVCrdadei-
caparà da conta o nada ramente era nada; t//^/^^-
porfernada ? Creio que ras miquitatem meam , d^Jpb. 10.
todos eflâo dizendo, que
lim. Mas he certo , & de
fé, que tambcín o nada,
por mais caliíicado que
fejajhadefer chamado a
juizo, 8c porque nada paf-
faparaa conta , nem o
í.'Cor,
44-
peccatum meum fcruterisy
érfcias^ quia nihilimpíum
fecerim. E S. Paulo dizia ,
que elle fe naó dava por
juftiíicado do que na fua
confciencia reputava por
nada, porque deíle nada
niefmo nada ha de paíTar naó avia elle defer ojuiz ,
femella, & muirigurofa. fenaó Deos : Níhil mthi ,.Cor..
Ninguém foi mais caliíi- confciusjum^fednoninhoc'^'''
cado na Ley da Natureza, jufttjicatiisfumiqui atitem
que íob:&: ninguém mais judie at me^^ominus eft,
califícado na Ley da Gra- £is-aqui quam manifefta,
ça,que S.Paulo ; & que & provada verdade he>
dizia de íy hum, & outro? que nada paíTa para a con-
ta, pois atè do mefmo na-
da a ha de tomar Deos > Sc
tão eílreita.
29 Mas qual he , ou
pôde fera razaó , porque
onde dous homens taò
f ob dizia, que nada tinha
lob. 10 fçito contra Deos : §luia
^* ni^il impmm fecerm, S.
Paulo dizia, que nada avia
na íua confciencia, de que
dia o acufiíTe : NihilmiM
confciusfiim. E eíle nada grandeSjtáo caliíicados3&
de Job , & efte nada de S. táo fantos como Job, & S.
Faulo efcapáraó por ven- Paulo náo reconhecem
tura da conta, 6c do juizo > nada de culpa , lha haja de
Eli es mefmos confeíTaó, arguir Deos, £c pedirlhe
que de nenhum modo. conta? A primeira razão,
Job dizia, que Deos o ti- & da parte de Deos {^a qual
nha poílro a queftaó de fó pôde ignorar quem o
tormento, como reo , pa- não conhece ) he, porqoe^
ra averiguar, fe o que dle ainda nas couías mais m-
teriores
M.at.h.
25.21.
50 Sermão da pr
reriores noíías , conhece
Deos muito mais de nós ,
do que nós de nós. Quan-
do Chriílo na mefa da ul-
tima cea re v^elou aos Apo-
í Lolos 5 que hum deíles o
avia de entregar : Amen
dico vobisy quiaunus veftru
tnetrãdituniseft : diz oE-
vangeliíla, que muito tri-
íles todos com tal noticia,
começou cada hum a per-
guntar : Nunquid ego fum
iUd.2z. ^]Jo7nine>VoT ventura, Se-
nhor, fou eu eíTe ? Pedro ,
Andrè,JoaÓ5&:os demais,
excepto ludaSjbemfabía
cada hum de fy, que nam
era o traidor, nem tal cou-
fa lhe paíTára pelo peníà-
mento : pois porque fenao
deixaó eílar muito íegu-
ros na boa fé da fua lealda-
de, mas pondo em duvida
o de que nao duvidavam ,
pergúta cada hum a Chri-
ílo fe he elle o traidor:
Nunquid ego fiim ? Porque,
ainda que a própria coní^
cienck os naó accuíava,
fabíaó todos que fabía
Chriílo mais de cada hum
dellcs, do que elles de fy.
EUcs conJiçcia6fc> como
imeira ^õmmg^
homens, Chriílo conhe-
cia-os, como Deos. EíTe foi
o erro, &: engano de S. Pe-
dro, que eílava à mefma
meíli ! Pedro diíTc , que fc
foíTe neceíTario daria a vi-
da por Chriílo; CIhííIo
pelo contrario diíTe, que
três vezes o avia denegar
naquella noite. E porque
foi eíla a verdade ? Porque
Pedro fallou pelo que \%^
noravadefy, 6c Chriílo
pelo que conhecia delle.
Hoc illi Chriftus pranuTU ^^^^a,,
ttabat^ quodínfe fpfe igno^ °
r/?^^í,dizS.Agoílinho. E
como o Juiz daquelíe dia
conhece mais de nôS) do
que nós de nós ; nam he
muito que elle nos conde-
ne pelo que nós ignora-
mos, 6c que no feu juizo fe-
ja culpajO que no noílb pa«»
receinnocencia.
30 A fegunda razaò,
& da parte noíTa he •, por-
que alllm como Deos fabc
tanto de nós, aíHm nós fa-
bcmos muito pouco de
Deos : & por iíTo as noíílis
razocns naó pódcm alcan-
çar as luas. Hum dia de-'
pois de Chriílo entrar tri-'
iinfante (
do A advento] ji'
linfante em Jeruíalem , to no £c\i tQ,mi^o -: E t fru cí u pcm
fimm dabit in temporefu
vindo de Bethania para a
mefma Cidade, efiirijty te-
ve fome • & como vííle ao
longeíiua figueira verde >
&- copada, encaminhou os
paílbs atè ella, por fe aca*
íb ti veíle algum fruto :.4SV-
quid forte inveniret in ea^
Mas porque naó achou
mais que folhas,Iançojalhe
o Senhor maldição , de
que eternamente naò déí^
fe fruto : Nunquam ex te
fníCiusnafcatur in fempi-
ternum : &c no mefmo mo-
mento fe íeccou a arvore
defdeas folhas atè as rai^
zes. He porem muito de
notar nefte cafo, como no«
taS. Marcos , que naó era
tempo de íig05: Nonenim
erattempiisficontm. Pois fe
naó era tempo de aquella
arvore ter fruto^ porque a
amaldiçoa Chriílo , & a
fécca,naófó para aquelle
HW. ''l*
Poisfehe louvor nas me-
lhores arvores darem a feu
tempo o feu fruto, como
foi culpa nefta , não fe a-
char nella fruto , quando
naó era tempo? O mefmo
Evangelifta S. Marcos diz,
que eita fen tença de Ch ri-
flo foi repofta, que o Se-
nhor deu à Arvore: Et ref-
pondens dixit ei : Iam non
ampUus
m aternum ex te
frutftim qttífquam madvicet.
Se a fen tença de Clirifco
foirepoíla que deu à ar-
vore, final he que a ouvio
primeiro , & ella allegou
de fua juíliça. Reparem
aqui os Juizes , ou conde-
nadores, que nem a hum
tronco irracional,&:infeH-
fi vel condena Deos fem o
ouvir. Mas que he o que
allegou a Arvore? Allegou
o mefmo texto do Evan-
14,
anno, fenaó para femp re ? gelifta : & efia va como ÒX"
Podia a ver califa ,ou def- zendo mudamente ao Se-
culpa mais natural de naó
ter fruto , que naó fer tem-
o delle ? Da srvore a que
e comparado o jufto , diz
David, quedara o feufru-
nhor: Eu bem tomara eftar
carregada de frutos ma-
duros, 6c fazoa dos , para os.
oíferecera meu Creador j
porém a cauía ^ & impedi-
menta
Rom.
2 2 Sermão dap
meto natural de me achar
íèmelles, he pornaó fer
ainda chegado o tempo:
Nonerat tempusficorum. E
que fetn embargo defta
replica ao parecer taóju-
lUíicada , a condenaíTe
Chrifto, &: com condena-
^ao attn-siyinfempternuml
Aílimfoi. Mas com que
fundamento, oujuíliça?
Entre todos os Expofito-
res da Efcritura, mais Le-
trados, ôc de maior enge-
nho, nenhum ouveatègo-
ra, que déíTe íatisfaçaó ca-
bal a efta duvida. E a ra-
zão de fe lhe naó achar ra-
zão, hejporque as razoeiís
dos homens naò alcançaó
as de Deos, & onde naó fa-
bedefcubrir culpaojuizo
humano, a pôde achar o
divino. Porque naó com-
prehende o home a Deos ?
Forque Deos he lacom-
prehenfivel. Pois também
por iíTo os juizos humanos
naó comprehcndem os di-
vinos, porque os divinos
fió incomprehenfiveis :
^am tncomprehenfibdta
iudícia ejus !
íi Sobre eítes dous
r inteira ^omingu
princípios taó manifeííos,
mim da ciência de Deos
para comnofco, outro da
noíTa ignorância para com
Deos > fica fatisfeira , &
emudecida toda a admira-
ção de que Deos haja de
julgar atè o que reputa-
mos por nada,& neíTe mef-
mo nada haja de arguir, &
achar culpas , de que pe-
dir, Sc tomar conta no dia
dojuizo. Sòrefta humef-
crupulo , que ainda nam
acaba de fe aquietar,&na5
menos, que acerca daju-
íliça, com que Deos nos
hajadecaíligar pelo que
naó conhecemos. He ver-
dade que Deos íabe de
nòso que nòs ignoramos
de nòs, mas eíla mefma ig-
norância noíTIi naó íb pa-
rece que nos derculpa,mas
nos livra de ler peccado o
que naó conhecemos co-
mo tal. Sem vontade nam
ha culpa , fem conhecimê-
to naó ha vontade-, como
logo pôde fer peccado, &
caltigadocomo peccado o
que eu naó conheço ? Bem
tinha decifrado cíhiThco-
WAx o Autor do noífa
PrOT
:rí
ão Aò'úent6. 3^
Provérbio : Qiicm igno- ignorância lhe aGrecentoia
laor.
rancemente pecca, igno-
rantemence vai ao Infer-
no. Huafó ignorância ef-
ciifa cíopeccado, queliea,
ifívencivel. Mas eíia pou-
cas vezes fe acha. Os de-
mais não fó peccáo no
peccadoj mas na i^oran-
cia, com q o naó conhece..
Nãopeccárão graviílima-
mítç, os Judeos na morte
deChriílo?&:cótudo diz
S.Pedro,q elIes^Scosfeus
Principes o íizeraó igno-
rantemente : Seio qmaper
ignorantiam feciUis^ ficut
ér Trincifes <vefirL £ o
mefmo Chriílo quando
á^iKc y Tãter^ignofce ilUs^
nouenimfciunt quidfaciut^
juntamente alíegou par
elles a ignorância, & pedio
para elles o perdão. Se a
ignorância os livrara do
pecçado , não tinháo ne-
ceflidade de perdão : mas
pediolheo Senhor o per-
dão, quando lhe confeílbu
a ignorância 5 porque tam
fora eíliveráo de ficar izé
tos do peccado pela igno-
rância coQi que o comete-
rão , que antes a meíma
: Tom./.
hum peccado íbbre outro
peccado. Hum peccado,
porque tirarão a vida ao
Meílias não conhecido, &
outro peccado 5 porque o
não conhecerão , tendo tá-
ta obrigação , como evi--
dencia para o conhecer.
3 2 lílo meímo he o que
fe vè hoje entre os que co-
nhecem, «Scadorão a Chri-
fto 5 & não por aconteci-
mento raro,íenão comum .
mentejiiem fò nas vidas $
fenão também nas mortes.
Quantos peccados vemos.,
& quam grandesjnê emen^
dados na vida, nem confef^.
íãdos na morte, os quaes
não ío Deos , mas todo o
mundo eílà conhecendo ^
& fó os mefmos,que os co-
mctem,osnão conhecem!
Não os conhecem , por-
que a largueza ,& relaxa-
ção da vida efcurece a co-
fciencia, 6c cega a alma: .
não os conhecem , porque
o amor próprio fempre ef-
cufa, & aligeira o que nos
códena: não os conhecem,
porque os intereíres,& có-
veniencias deíle mundo
C tra-
5 ^ Sermão da primeira T)omÍTiga
trazem configo o efqucci- ^bitabfcondiui tencbrarum.
u
Píalm.
mento do onero : nam os
conhecem 5 poí que os naó
querem examinar , nem
confulrar com quem de-
viáo ; não os conhecem fi-
nalmente, porque com ig-
norância aífedada os nam
querem conhecer para os
naó emendar : Noluit in-
telliaere , ut bene ageret.
Vede agora , fe caftigarà
Deos julhimente no dia do
Juízo os peccados naó co-
nhecidos, fc por cometi-
dos merecem hum caíli-
gOj&pornaó conhecidos
outro maior ? Forem fe atè
aquellcdia eílaràó defco- nareprefentação do mef-
nhecidosj&fepultados nas mo dia dojuizo , o mefmo
trevasdeíla maliciofa , &: foberano Juiz nos cõmu-
ignorante ignorâncias en- nicárahum rayo daquelhi
táo refufcitaráó, & ílihiràó luz,para que viramos ago-
a kiz , porque o mefmo raoque então avemos de
juiz univerÍLil, como diz S. ver , & com os peccados
Faulo, com os refplando- conhecidos nos preíenta-
,.Co,-.
4Í-
Pormeyodeílaluz desen-
ganadas entaó , &: aílbm-
bradasasmcfmas confci-
encias do muito que ve-
ráó ÍI\ir de baixo do nada
quenaóviáo, ou não qui-
zeráo ver^nenhCia terá que
eílrajihar, nem replicar á
fentença5ainda que leja de
eterna condenação , & to-
das diráó convencidas : pfaim.
hi}us es'Bomine,&r^um •'^'^r
jiidiciiim tiium.
§• VIII.
33 /^^^^ <^^^^ grande
V_y mercê de Deos
fora, fe hoje, que eílamos
res de fua prefcnça alki-
miarà as confciencias de
todos os homens, & defco-
brirà manifeíta mente a ca-
da hum tudo o que nellas
clbiva cfcondido, & ásef-
cu ras : (^oadulquc ^Y niat
^DrminiiSj qui & tUumu.a-
ramos antes ao tribunal de
fua mifericordia, que de-
pois ao de fua juíliça ! Mas
bcmdita feja a bondade
do mefmo Senhor , que
nãofó nos deixou comu-
nicado na fua doutrina hií
rayodaquclla luz , iVr.am
trcs,
do Advento. . Jf
e não cerrar- ne^n vãlicattonh tu£ , jãm í-
enim non poteris njilltcare.
Dai conta da voíTa admi-
niftração , porque defdc
eíla hora eílais excluído
delia. Eíla circunftancia
de fera conta a ultima j &
três, fenos Ih
mos os olhos. Sendo a,ma-
teriadetudoo quepaífou
para a vida , & náo ha de
paífar para a conta , tam
immcnfa à capacidade hu-
mana, fó a Sabedoria divi-
na a poderá comprehêdcr: naó fe poder emendar , he
ôcaílim o fez Chrifto Se- hííadas mais rigurofas do
ac.i5.
nhor noíro5reduzindo-a,&
repartindo-a em três Pará-
bolas, nas quaes nos eníl-
nouemfummatoda a có-
dia dojuizo. Vindo pois
aofentidoda Parábola 5 o
homem rico he Deos ; as
fuás herdades faó as Igre-
ta,quenoshade pedir, & jas, &asFrovinciasi oad-
deque. A primeira Para- miniftrador noefpirituaí.
bola, he dos Officios, a fe-
gunda dos Talentos, a ter-
ceira das Dividas. E eíle
mefmo numero 5 & ordem
feguiremos para maior di-
ftinção,& clareza.
34 Quanto aos Offi-
cios, diz a primeira Para-
he o Papa, no temporal he
o Rey , 6c abaixo deíles
dous fupremos todos os
outros Miniílros Eccleíia-
ílicos,8c Seculares, que re-
partidamête tem inferior
jurdição fobre os mefmos
fubditos. A todos elles
bola("queheado Villico^ pois ha de pedir Deos ef-
que ouve hum homem ri- treita conta, não fó quan-
CO5 o qual deo afuperin-
tendenciadas fuás herda-
des a hu m criado com no-
me de adminiílrador del-
ias E porque naó teve boa
informação de feus proce-
dimentos, o chamou a fua
prefença,& lhe pedio co-
ta, dizendo : Redde ratiu^
toàspeflbas, fenão tam-
bém,& muito mais quanto
aos officios. Qiianto àpef-
íba, ha de dar cada hú con-
ta de fy, & quanto aos offi-
cios , ha de dar a mefma
conta de todos aquelies,
que governou, & lhe foraò
fogeitos. De forte que o
Ç ij I^a-
:; 6 Sermão da primeira TDom-inga
Papa hà de dar conta de to, que não temos fé, nem
roda a Chriftandade , o
Rey de toda a Monarchia,
o Bi fpo de toda a Diocefí ,
o Governador de toda a
Província , o Parocho de
rodaaFregiiefia,o Magi-
ilrado de toda a Cidade,
& o cabeça da cafa, de to-
da a família. Oh íe os ho-
mens foubéráo o pefo que
tomão fobre fy quando
com tanta ancía , Sc nego-
ciação pertendem , & pro-
curáoosoíiieíos, oufecu-
laresjou EceleíiaíiícoSjCO*
mo he certo que havíáo
de fugir 3 & benzeríè del-
Its ! Mas não os procurão
pelo pefo, fcnão pela dig-
nidade, pelo poder, pela
honra, pela eílímação, &
fabemosaquenos obriga.
Vedes quantas Almas ha
neíta Cidade, quantas Al-^
mas ha neíla Província^
quantas Almas ha em to-
do o Reyno ? Pois fabei,fe
oignoraís,au não adver-
tis, que de todas eíl as Al-
mas hão de dar conta a
I>eos os que governam a,
Cidade, a Província , & o
Reyno. Porque aílim co-
mo fobre todos , ^ cada
hum tem poder <Sc man-
do, aílim em todos, & cada
hum faò obrigados a lhe
fazer guardar as Leys,nam
fó as humanas, fenáo tam-
bém as divinas. Não he
iílo encarecimento meu,
fenão doutrina folida , &
maisque tudo hoje, pelo de fé pronunciada por bo-
intereíle. Porém quando ca de S. Paulo : Obcdne
no dia dojuizo fc lhe to-
mar a conta pelo pefo, en-
tão veráó onde os leva a
balança.
^f Sc he tão diílicul-
tofodarboa conta da Al-
ma própria , que he huma,
quam diíhcil, 6z quaniim-
poíQvel fcrà dalla boa de
tantas mil P Çoaio hc ccr«
Tr^pofitis vejiris^&fubjn-
cete eis : iffi enim fer^vigi- ^^^^^.
lant qiiafirationernpro ani- xiij^
mabus vejiris reddituri.
Obedecci,díz a Apoílolo,
a voíTos Superiores, &: fe-
dclhe muito fogeitos^por-
que a fua obrigação hc ze-
lar, & vigiar fobre asvof-
fis vidas í como aqucUcs
que
do Advento'. ^7
que hão de dar conta a revelação do mermoCh ri-
Deos de yoílàs A Imas. Ve-
de quanto maior he a fo-
geiçáo dosSuperioreSjque
a dos ílib ditos. Quantos
íàó os fubditosjqiie eíláo
fbgeitos ao Superior» tan-
tas faó as Almas de queeí-
tàfogeito oSuperior a dar
conta a Dcos. E pofto que
çílc oráculo baftava para
fto, todos os homícidios,
todos os adultérios, todos
os furtos 5 todos os facri-
legios5& mais peccados
que os vaíTailos cometem
na vida, &rcynadode hu
Rey, & as ovelhas, & fub-
ditos na vida, & governo
de hum Prelado , todos eA
tes peccados íè lançáo lo-
nenhum homem que tem gOí&cícrcvem nos livros
fé querer tomar fobre fy de Deos debaixo do titulo
dotalReyj& debaixo do
titulo do tal Prelado, para
fe lhe pedir conta delles
no dia do Juizo.
jd Ponhamos agora
húa tal fogeição^ouvi ago-
ra o que nunca ouviftes.
Nem todas as íentenças
deChriílo eftão efcritas
fio Evangelho : algúas fí-
cáráo fomente impreííãs efteRey, & depois pore-
lla tradição defeus Difci- mos também eíle Prelado
^ulo», entre as quaes he diante do tribunal divino,
Kéfer- ^^^ Jf^o^^vel como terrivcl & vejamos que refpon-
eíla: Omnêpsccatum^ quod dem a eftes cargos. O Rey
^ remiJJiíSi & indifciplinatus he a cabeça dos vaíTallos :
Haber
to Pha'
fi» in- admíferitfrater , ad negll
dos os peccados , que co^
metem os íubditos,fe ef-
crevem , 6c carregáo logo
no livro das culpas doSu-
& quem ha de dar conta
dos membros? fenão a ca-
beça ? ORey he a Alma
do Rcyno : &: quem ha de
dar conta do corpo,fenam
a Alma \ Pedira pois conta
Deos a qualquer Rey,naó
perior, porque ha de dar digo dos peccados rcusj&r
conta delles. De modo,que da pefíba , fenam dos
(çgundo eíla fentença ^ Sc aIheos,& do oíiicio, E que;
.-.To Cl. 7» ^ C ii] refr-
1.
^cAiz-^ i^t^^pT^otinus revertltiiT
^aíab feniorem. Quer dizer: to.
nicnfi
Abbare
in Mo-
nafiicis
ftrioni-
58 , >
reípondera
BiMS Reo ? Parece que po-
derá dizer : Eu, Senhor, bé
conhecia que era obrigado
a evitar os peccados dos
meus vaílal los, quanto me
Sermão daprmeira T>õmin^a
não Rey, tcrceíTaò , & outros por
adulação , & outros por
ruim, & apaixonada infor*
mação? fc os que ficarão de
fora com mais conhecido
merecimento, porc]ue os
foíTe polliveh mas a minha excluiftes ? Mas dado que
Corte era grande , o meu
Reyno dilatado, a minha
IvJonarchiaeftendida pela
Africa, pela A íia, & pela
America •,& como cu não
podia eílar cm tantas par-
tes, & tão diílantes , na
-Corte tinha provido os
Tn bunaes de Prefidentes,
^cConfelheiros , no Rey-
no de Miniílros de Jufti-
ça,&: Letras , nas Conqui-
HasdeVifo-Reys, & Go-
remadores , inítruidos de
Regimentos muito juíios,
Zic approvados. E illo he
tudo O que fiz, & pude fa-
zer Também poderá me-
ter ncita conta o feu pró-
prio Palácio, & aqucllcs
de que íe fervia mais fami-
]iar,& interiormente. Mas
fobre todos cae a replica.
E cíles que cicgcílesjfdirà
Dcos 3 porque os elege-
rdes ? Não foráo algús por
aiiciv^ao , & outros por m-
todos foífem eleitos com
os olhos em mim ,& jura-
mente-, depois que na ad-
miniílração de feus offi-
cios conheceftes, que nam
procedião como eraó o-
brigados , porque os nani
removeílcs Jogo, porque
os dillimulaítes, &; confer-
vaftes 3 & o quepeorhe,
porque os deípachalles de
novo,&com mais autho-
rizadospoílos? Se o que
aílblou húa Província , o
deixaíles cócinuar na mcf-
maaííblação, & depois o
promoveftes a outro go^
verno maior , como nam
foftes complice das fuás
iiijuftiças, & das culpas,
qucelleemvez de reme-
diar acrecentou com as
fuas,&:com o excplo del-
ias? Se as fuás tiranias vos
foraó manifeftas , como as
dcixaíles fem calligo , &z
os d;^x\o$ dos oílcndiuos
. . fcna
do Advento.
fem rcftituíçáo ? Quantas
lagrimas de orfa os ) quan-
tos gemidos de viuvas,
quantos clamores de po-
bres chega vão ao Ceo no
roííb Reynado , quando
^9
lado a dar conta, &• a ouvir
em eílatua o proceífo, que
depois da refurreiçáo lhe
fera notificado em carne.
Oh que efpedacuío íerà
aparecer defcoroado da
paraííiprir íuperfluidades MitrajScdefpido dos pa-
vans> & doações inofíicio- ramentos Pontificaes dia-
fas, voílbs Miniílros Ç por te da Mageftade de Chri-
iílb premiados > & louva- fro Jefu aquelíe, a quem
dosj com impiedade mais o mefmo Senhor authori-
que deshu mana náo os zou com o nome, & podev
defpoj a vão, mas defpião P res de feu Vigário, & cuj a
Ifto hco quepoderàrepli- hainiana , & divina Peííba
car Deos, emudecendo, & reprefentou nefta vida !
náo tendo que refponder O Taftor^& Idólum f lhe
o trifte Rey . E qual íerà a diràChrifto.Tu q foftePa
Z3ck.
11.17.
ília fentcnça ? No dia da
Juizo fe ouvira. O certo
he, que David R.ey imanto
antes de peccador, & de-
ítor no nomc,& como Ído-
lo te cótentaílc có a adora-
ção exterior q náo mere-
cias, dà conta. Náo ta pe-
pois de peccador exemplo codas miferias occultas,
de penitenciado de que pe- íenâo das publicas, Sc ef-
dia perdão a Dcos, era dos candalofas de tuas mal
peccadosoccultos5& dos guardadas, & defprezadas
aiheos : Ab occultis méis ovelhas. Erão miferaveis
mudame^Ó' ab alienisparce no temporal, & não trata-
fervo tua. Mas os peccados íle de remediar íuas po-
brezasj & eraô muito mais
miferavcis no efpiritual ,
& naó cuidaftc de curar,
jnem de prcfervar íèus pec-
cados. Se as rendas , que
com táta cobiça recolhias,
C ini &
occultos naquelle dia fe-
ráó manifeflos , & dos
aiheos 5 por teríidoRey,
fe lhe pedira taó cítreita
conta,como dos próprios.
j7 £nt-re agora o Pre-
4-0 Sermão da primeira ^07n ingá
&com táta avareza guar- caía, 8c pcíToa, foi para fa-
davas, eraó o meu patri-
monio,qiie eu acquiri naó
menos, que c5 o meu Tan-
gue j porque o não diftri-
buLÍle aos meus verdadei-
ros acredores > que faó os
pobres ? Porque o defpen-
delleem carroças5criados>
&cavalIos regalados, ci-
tando elles morrendo de
fome: Sc em vellir as tuas
paredes de ouro , & feda ,
andando ejlcs dcfpidcs, &
tremendo de frio ? Se o ze-
lo de teus Miniílros viíi-
tava as vidas dos pequeni-
nos 3 tratando mais de fe
aproveitar das condena-
çoens, que de lhe emendar
as confciencias : os pecca-
dos monftruoíbs dos gran-
des, que taó foberba^Ôc ef-
candaj-ofa mente vi viaó na
facç do mundo, como os
deixalíe triunfar com per-
petua immunidade, como
íe foraõ íuperiores às Leys
da minha Igreja?
38 Coiífe fio. Senhor,
rcfpondcrà o Prelado, que
cm húa,&: outra couíii fal-
tei, iiias naó ícm caula. O
que dcípçndi cpai nuuh^
tisfazeraos olhos do vul-
go, que fó fe leva à^^^%
exteriores, 6c para confer-
varaauthoridade do oíE-
cio, & veneração da digni-
dade. E fe contra os pec-
cados dos grandes me naó
atrevi, foi,porque os feus
poderes faó inexpugná-
veis ; & julguei por menos
inconveniente naó entrar
com ellcsem batalha, que
com afronta ,6c dcfprezo
das mcfmas Leys da igre-
ja ficar no íim da peleja
vencido : 6c final mente >
Senhor, cm húa , 6c outra
omiílaó fegui o exemplo
univerfal, ^ o que ufió
nefte officio os que com
mais poderofas armas, ^
com maiores jurdiçoens
que a minha,cofi:umaó cm
toda a parte fazer o mef-
mo. O Ignorante, ò covar-
de, replicará Chrifto.Taó
ignorante,6c covarde, co-
mo fe não tiveras lido as
Efcrituras , nem os Cano-
nes,6c exemplos da mefma
Igreja. For vxntura Fedro
6c FauIo,vSc os outros A pp-
ftolçs, que me juni rá \ aò a
aniu.
do Advento. 41
mím,& os feusverdadei- valor deíles , fenaó o que
rosfucceflbre^.queosimi- chamas coftu me dos ou-
táraó adies, conciliavaóa tros, agora veras em ti, &
authoridade das peíToas.Sc nelles, que fe elles o coita-
do oíHcio , ainda entre maó fazer aílim, eu tam-
Gentios, com os appara- bem coftumo mandar ao
tos exteriores ?NaôfabeSj Inferno os que aílim o fa-
queeíTemefmoPovo.com zem. Ifto baile quanto à
cujos olhos te cfcufas, fe conta dos oííicios , & to-
pordarestudo aos pobres mem exemplo os Mmi-
teviíTem defacompanha- Urosfecul ares na conta do
do, fó,& a pè pelas ruaSí&
ainda com os pès deícal-
ços, entaó fe ajoelhariam
todos diante de ti , 6c te
adorariaó ? E quanto à co-
vardia de te naó atreveres
com os grandes , tendo a
teu lado a efpada de Pe- ..
droi contra quem featre- criados a quem oReyen
via David, que foi o exem- comendou diíFerentes ca
Rey , &OS Ecclefiaíticos
na QO Prelado.
5. IX.
39 /"^Uanto à conta
V^dosTalétos, ef-
ta temos na Parábola dos
piar dos meus Paílores .^
Entre as feras tomavafe
com osLeoens , Sc entre
os homens com os Gigan-
tes.Que fera mais ferajquc
a imperatriz Eudoxia-, §c
vè como a naó temeo
Chryfol]-omo> Sc que Leaó
maiscoro.do, que o Em-
peradorTbeodoíÍo-,&: vè
como o hu m i 1 ho u, & poz
a feuspès Ambroíio. Fi-
nalmentej fenáo fegiiiíle o
bedaesjpara que negociaf-
femcom elles em quanto
fazia certa jornada : iVi^í7-^
ttaminidíimvenio. O Key 43.
he Chrifto, a jornada foi a
defuafubidaaoCeo, 6c a
tornada ha de íer no dia da
Juízo, em que ha de pedir
conta a cada hum do que
ne^^ociou com os t3 lentos,
que lhe deo, <Sc do que lu-
crou, Sc eanhou com elles :
TojimuUum ví^ro tempons 2^.1^
'venit
4 i Sermão da primeira T>om'nga
venit T>õminus fervortim tinha negociado com el-
zUorum^ & pofuit rationem
cum eis. Os talentos fam
os meyos aílim univeríaes
como particulares có que
a Providencia divina aíli-
fte a todos os homens, 5c a
cada hum para fua falva-
ça5,&: perfeição; &os avá-
ços, ou ganâncias , faó o
augmento das virtudes,
merecimentos , & graça,
que no exercicio, agencia,
6c induftria , com que fe
applicaò os mefmos me-
yos, alcançaó os que nam
fao negligentes. Quam
exa£ta pois haja de íer efta
conta , & quam riguroía
paraosqueuíarem mal do
talento, na mefma hiíloria
o temos. Os criados, a que
o Rey fiou os talêtos , eraó
três: ao primeiro entregou
cinco50 qual grangeou ou-
tros cinco: ao legimdo en-
tregou dous , o qual gran-
gcou outros dous, & am-
bos foraò louvados. Ao
terceiro deo hum fó talen-
to, o qual ellc enterrou. E
poíloqucna conta ooífe-
receo outra vez , & rcíli-
tiúo inteiro, porque nam
Icjnem acquirido coufa al-
gúa, o Senhor não fó o lan-
çou fora de fua cafa, 5c o
mandou privar do talen-
to, mas o pronunciou porLuc.rp:
mao crvxàoyftrve nequam^ ^^■
que foi a fentença de fua
condenação. E fe quem na
conta torna a entregar o
talento que Dcos lhe deo
inteiro, &fem defraudo fe
condena j que fera dos que
o desbarataó,ôc perdem,&
tal vez o convertem con-
tra fy, & contra o mefma
Deos.^
40 Para intelligencia
defta graviílima,& perigo-
fa matéria havemos de
fuppor o que fe naó cuida 5
& he,que naó fó faó talen-
tos os dotes da natureza ,
os bens da fortuna , & os^
doensparticularcs da gra-
ça, fcnaó também os con-
trários, ou privaçocns de
tudoiílo. Nãofó hedotc
da natureza a fermofura,
fenaótarnbema fealdade:
nió fó as grandes forças,
fenaó a fraqueza: naò fó o
agudo entendimento, fe-
naó o rude : naó fó a per-
feita
4Í
Afajzaõdcíla ver-
dõ Advento.
feitavifta, fenaô a ceguei- 41
ra : naó fó a íaude , fenaó a dade interior, & providé-
cnfennidade : naó fó a lar- cia verdadeiramente divi-
ga vida, fenaó a breve. Do na, he, porque todas eftas
niefmo modo nos bens coufas, pofto que entre fy
que ciiamaô da fortuna,
naó fó hc bem o illuftre
nacimentOjfenaó o Iiu mil-
de ! naó fó as dignidades
altas, fenaó o lugar, & offi-
cio abatido : naó fó as ri-
quezas, fenaó a pobreza :
naó fó o defcaníò , fenam
os trabalhos: naó fò os fuc-
ct^os profperos , fenaó os
adveríbs: naó fó os man-
dos, fenaó o fer mandado i
nem fó as vitorias , & tri-
unfos, íènaó o fer vencido.
Finalmente nas graças , ou
doens da graça , naó fo he
graça o dom das linguas,
masonaófaberfallar , ou
fer mudo ; naó fó o das le-
tras5& ciências, fenaó o da
ignorância : naó fó o do
confelho, &difcríçaó, fe-
nam o de naó ter nem po-
der dar voto : naó fó o da
oílentaçaó , & boato dos
liiilagres^ fenaó o de nam
ferem coufa algua mara-
vil h ofo, fenaó cota I m en te
defconhecido , Sc defpre-
zado.
contrarias, podem fer me-
yos,que igualmente nos le-
vem à falvaçaó, 6c promo-
vaó à virtude , principal-
mente fendo diíiribuidos,
&difpenfados por Deos^
&applicados conforme o
génio de cada hum , que
por iílb diz o Texto , que
foraó dados os talentos,
Unicuique jecundum pro^
friamvirttítem. Aírim,que ^fff
tanto fe podia aproveitar
Rachel da fua fermofura ,
como Lia da fua deformi-
dade-.tanto Achitofel do
feu entendimento , como
Nabal da fua rudeza: tan*
to Mathufalem dos feus
novecentos annos, como o
moço de Naim dos feus
vinte : tãto Creíiu do<? feus
thefo-jros , como iro da
fua pobreza : tanto Júlio
Cefar da fua fortuna , co-
mo Pompco da fua def*^
graça : tznto Alexandre
Magno das fuás vitorias^
como Dário 6c Foro de cl-
[I
^^ Sermão da primeiraT)om}ngà
leos ter vencido : tanto asqiielifongcaóo appetí-
Aramdafoltura , & cio- te ;ôc mais íbguras para a
quencia da fua língua , co- falvaçaó as que pezaó , &
mo Moyfes do impedimé- carregao para a humilda-
to da fua : tanto o futiliíTi- de, que as que elevam , íc
mo Efcoto da fua ciência, defvanecem para a fober-
como Frey Junipero da ba. Só foubéraó, manejar
fua fímplicidade : tanto S, huns,& outros meyos , ôc
Pedro dos fcus milagres , aprovcitarfe com igualda-
comooBautifta de nunca de de ambos os talentos
fazer milagre. Daqui fefe- hum S. Paulo, qie dizia:
gue, que tanta conta ha de Seio abtinâare^&fcio efurt-^w.y,^
pedir Deos ao rico da fua re. E humjob^quena mef- f '^^
riqucza,comoaopobreda ma volta da fua primeira
fua pobreza : tanta ao fam para a fcgúda fortuna , diA
dafuafaude, como ao do- fe : Si bonafufcepimus ^^^^
ente da fua enfermidade : tnanu l^eiy mala quare non ,^ -
tanta ao honrado da fua fufcipiamus ? Mas eíles
eftimaçaó, como ao afron- homens quadrados nafcé
tadoda fua injuria; &tá- poucas vezes no mundo.
Os dados taõ firmes fc af'
fentaó com poucos pótos,
como com muitos > & ta6
direitos eítaó com as for-
tes, como com os azares.
42 Deíla maneira ( &
fejaeftaaunica,&: impor-
^A\
ta a todos do que deo a
hunsjcomodoquc negou
a outros; porque fe o rico
pódegrangearcom o feu
talento por meyo da ef-
mola,o pobre também pô-
de com o feu por meyo da ._, ,
paciência. Eaílim dosde- tantiflima advertência. J
mais. Antes hc certo, que Deíla maneira devemos
^ * aceitar como da maò de
Deos, fie cótcntarnos çom
o talento, ou talentos, que
ellc foi fervido darnos,oii
fcjaó como os cinco , ou
como
entre as coufas,quc fc cha-
maò profpcras, ou advcr-
fas, mais eficazes faòpara
o merecimento as que
mortiticaõ a natureza, que
ão Advento'. 4^'
como os''dous, ou como IJfachar Afimisfortts. Os
Imm fomente : & fe pode-
rá fer nenhum, ainda fora
mais feguro. Quando o
Rey diílribuío os talen-
tos aos criados , naó lemos
que algum delles fe dcfcò-
tentJ.dh da repartição. Se
os que Deos deo a outros ,
faò maiores que os voílbs ,
elles teráó mais,3c vòs me-
nos de que dar conta ao
mefmoDeos. Mas fomos
como os que lanção nas
rendas dos Rey s 5 que fó
olhaó para o que recebem
de prefcnte, & naó para a
conta, que Iiaô de dar de
futuro. A ã mira vel foi ne-
íle género a variedade, &
repartição de fortunas, cÓ
animaes todos tem fuás
inclinaçoens, inftintos ,&
propriedades,& todos fuás
como virtudes, ou vícios
naturaes : o Leaó género-
fo,a Serpente afl:uta,o Lo-
bo voraz, o Gervo ligeiro,-
ojumêtofofredor do tra-,
balho. E debaixo defiras
metáforas íignificaya Ja-
cob aos filhos os talentos
de cada hum , & o ufo dei-
lesj&quaes haviaõ de fer
asacçoens, &fucceíibs de
fuás vidas, & defcenden-
cias. E fendo aílim, que
eíles meímos irmãos fo-
fréraó taò mal aa mefmo
Pav fazer liuma Túnica a
hum delies de melhor ef-
quejacob ( digamolo aí^ tofa,queporiíIb a quize-
íimj) fadou a feus íilhos, raõ tingir em feu próprio
quando na hora da morte
lhe lançou a benção. Ufou
dos nomes de diírerentes
Gencf. animaes , &c ajudas cha-
mou Leaó , catulus Leonis
ibid.17. yíida\2L Dan Serpente,jí/2í
^anCoIuber hivia: a Ben-
^'^■^7- jamim Lobo , Benjamm
^^^^^ Lúpus rapax : a NeptaM
' 'Cervo 5 Neptali Cervus
fangue > como agora ne-
nhum delles fe queixa de
o Pay os veílir dé taó áit-r
ferenres pelles, &:pelos,&;
de lhe dar, ou chamar taó
diíferentes nomes , & de
taó diíferente nobreza ,
quãtovai deLobo a Cer-
vo, de Serpentea Leaó, &c
de Leaó a Jumento ^ Por-
ibid. x4. emijjiis : a Izaçhar Juniéto., que na diíferença da tun i-
ca.
Sermão daprimeira^ominga
Jacob como minimos pela defefpera-
çaó,& pufilanimidade.Da
cafta deftes últimos foi o
que enterrou o talento,
podendo fer melhor , &
mais celebrado que todos,
fe o naò enterrara. Puze-
raó alguns Thcologos em
4<)
ca obrava
Pay em íeu nome : na dif-
fercnça,&: repartição dos
talentos , fallava como
Profeta em nome de Deos:
& como a diftribuiçaó era
feita por Deos, & os talê-
tos dados por elle -, pofto
que foíTem taó diverfos na queftaó qual dos criados
elHmaçaóA credito, quá- fe moftrára mais indu-
to vai do império à fervi- ílriofo,feoque com dous
da5,& do Leaó aojumen- talentos grangeára dous,
to, todos abaixando a ca- ou o que com cinco gran-
bcça fe contentarão, & có- geara cinco : & como en-
formarão com a fua forte , tre elles fe naó decediíTe a
& nenhum ouve que abrif- queílaó, devolveofe a húa
fe a boca para fe queixar, academia de mercadores,
ou meteíTe os olhos debai- os quaes todos rcfolyéraó,
xo das fobrancelhas para que mais induílriofo fora
jnoR-rar defcontentaméto. o que com dous negociara
E que diráo a iílo os que dous, que o que com cinco
tantas vezes deixarão a grangeára cinco : porque
Relig;ia6, & a n-iCfmaFè, mais diíiicultofo he ga-
por naó terem humildade, nhar pouco com pouco,
nem paciência para fofrer que muito com muito. E
que fe lhe antepuzeíTem fobreefta, que heprimei-
os que naó podiaó Igualar ra máxima nos negocian-
no talento ?
43 Todo o talento he
arriicado ao perder , ou
naó dar boa conta dcUc a
prcfumpçaò humana. Os
maiores pela fobcrba , os
menores pela cnvcja, &: os
tes, provada com a expe-
riência, acrecentáraó, que
feoque teve hum fò ta-
lentOjgrangeára outro,ex-
cedcria fcm comparação
nainduílria ao dos dous,
&: ao dos cinco. Grande
con-
do Advento] ' ^f
conrolaça6,&: verdadeira, viadeierde Agortiníio,
fe a quizeOem aceitar os
talentos medianos. Mas
quem poderá curar a ce-
gueira, Sc contentar a en-
veja dos que fe vem exce-
didos ?SauI porque ouvio
(^vedeaquem ? ) porque
ouvio que as chacotas lhe
prereriaó a David ,. tantas
de quem fe rezava nas Ef-
colas Catholicas \ A lógica
Atiguftini libera nos ^omi^
ne-y fe amolecido com as la-
grimas de fua mãy , ella
(como hum li rio, q fe ge-
ra das lagrimas de outro 3
o naò tornara a gerar ?
Succederlhehia o que ao
vezes,&:por tantos modos proFundiííimo engenho de
oquizmatar , & por i(^o Tertulliano , & ao im-
perdeoacoroa. E Dédalo,
aquelle famofo artiíice,
que prefo em hua torre,
inventou , & formou as
azas com que fugio delia
voandojveiido que Perdiz
Teu difcipulo inventara o
Êompaílbj&da imitaçam
menfo de Origenes , os
quaes venerados como
oráculos da fua idade, &
primeiros Meftres da I-
greja,aperdéraó,&fe per-
derão. Mas que muito he
que o barro caya,& fe que^
bre , fe o entendimento de
de húa efpinha a ferra, te- Lúcifer , fendo o maior , q
mendo que o havia de ex- Deos criou , excedendo-o
ceder no talento, odefpe-
nhou primeiro da mefma
torre.
44 Mas ainda faó mais
arrifcados os talentos ,
que na eminência fe eílr^-
mão fobre todos. Que ha-
via de fer de Saulo , fe o
mefmo Chrifto naò decé-
ra do Ceo, & o derrubara
do cavallo para lhe en«
frear o orgulho ? Queha-
fó o do mefmo Dcos,antes
quiz cair do Ceo, que ver-
fe nelle excedido ! Tanta
conta tem como iílo os
talentos menores , & fó
por iífo poderáó dar boa
conta.
5. X.
45* A Das Dividas hc
x3l ^ que fó nos re-
.fta,
^,ê
4,8 Sermão da f rime ir aT)omm^d
lia, ultima, maior, Sc mais zes outros tantos, aincía
^ 8.2;.
difficultofa dc todas. Efta
íe contém na Parábola do
outro Rey , o qual fez o
que muitos naó Fazemjque
he tomar conta aos cria-
dos de fua cafa : ^i voluit
diria muito menos do que
queria ílgniíicar. Porque
eíle Iley he Deos , 6c eíta"
divida he a dos benefícios,.
que Deos tem feito ao ho-
mem ; & como o menor
rationem ponerecum fervi s beneficio divino por fy
Juis. Do que logo fe fegue mefmo, ou por feu Autor,
no principio das contas fe
moftra bem, que efte cha-
mado Rey feria o mais
poderofo,'&:rico Monar-
chade quantos ouve > ou
naó ouve no mundo j por-
que o primeiro criado foi
ibid.24
he de valor infínitOjnaó ha-
numero em toda aArith--
mctica, nem preço em to-,
das as criaturas, com que-
fe poíTa comparar, quanto
mais igualar.
46 S. Agodinho para
convencido de que era de- reprefcntar mais clara , &
vedora fazenda, ou erário mais patentemente efta-
Rcaldc cento & vinte mi-
Ihoensdeouro. Tátovem
a montar os que o Texto
çhim^i-^decem miilia t alen-
ta •, porque filiando Chri
conta, introduz ao mefmo
Chriílo fazendonos por
fua própria Peílba os car^
gosdo que lhe devemos,
como fará no dia dojuizo:
ílo com os Hebréos , & na ^iid eft quod debui ultra
lino-ua Hebraica, também facerevine^medi.o-mnfc'
^ - . ,. ' ^^- ^^ ? Que coufa ha> que
cu dcveíle fazerte,ò ho-
mem, ou de veíTc Bi zcr por
ri , que naó tenha fcito.^De
nada te era devedor > &
como fe o fora dc quanto
tenho , dc quanto poíro,&:
ocomputo,&:valor da di
vidafe ha dc entender de
talentos, naó Gregos , fe-
naó Hebraicos. Mas como
crapoíIivcl>quehum cria-
do dcvcíTc a fcu Kcy cen-
to 8c vinte nulhoc! IS ? Rcf-
pondo, que quando a Pa-
rábola diílcra dez mil ve-
de quanto íòu , tudo em-
preguei, (^ dcipendi com-
tigo.
dú Advento] 4.9
tígo. Crieite quando nao o mefmo poder, & provi-
eras, tirandote dos abif-
mos do naó fer ao fer : dei-
te hum corpo formado có
minhas mãos , o mais per-
feito : deite hila Alma ti-
rada de minhas entranhas,
& feita à minha imagem,
dcfemelhança : ornei , &
habilitei hum > 6c outro
com as mais excellentes
potencias, & os mais no-
bres fentidos , para que
foílem os inftrumentos có
dencia te naó confervára ?
De repete perderias o fer ,
& tornarias ao nada don-
de fahifte. Para tua con-
fervação te àó. nam fó o
neceíferio, íenaó o fuper-
abundante , & tanta im-
m eníidade de criaturas no
Ceo,^ na terra, todas fo-
^^itTíiS^LÚ » & occupadas
em teu ferviço. Deite hum
Anjojque de dia,& de noi-
te velando, & dormindo te
quemefervifles, &amaf- aíHftiíIe, & guardaíTejCO-
fes : & tu ingrato que íize- mo fempre afliílio,& guar-
He? Dà contados cuida-
dos, penfamentos, & ma-
chinas do teu entendimê-
to: das lembranças,& ef.
quecimentos da tua me-
dou. Agora te revelo os
perigos fecrctos, & occul-
tos de que foíle livre por
feumeyo: & tu lembra te
dos públicos , & manife-
moriaidosdefejosj&affei- ílos, que experimentaííe,
çoens da tua vontade. Dà & vifte. Quantos perecé-
contadetodosospaííbsde raó em outros muito me-
teus pès >de todas as obras nores .^ Quantos mais mo-
de tuas mãos, de todas as ços que tu acabarão de
vidas dos teus olhos , de
todas as attençoens dos
teus ouvidos, de todas as
palavras de tua lingua , 6ç
de tudo o mais que tu fa-
bes, ôcnaó cabeem pala-
vras. Depois de criado ,
que feria de ti, feeucom
Tom./.
mortes defefbradas , &: re-
Í>entinas3fem tempo, nem
ugar de arrependimento ,
6c emenda, que eu fempre
te concedi.^ Dà pois con-
ta da vida, dà conta da fau-
de , dà conta dos annos, dà
coata dos dias, dà conta
D à^%
>o
das horas, fendo mui poii
cas,&: contadas asquenaó
emptregafte em meoíFen-
der.
47 Atègora te referi
as dividas exteriores do
Sermão daprimeirdT^ommga
cios, odios por amor, per-
feguiçoens por boas obras:
por ti fuei fangue , por ti
fui prefo 5 por ti afronta-
do, por ti esbofeteado,por
ticufpido, por ti açouta-
poder •, agora me refpon- dojportiefcarnecidojpor
deras às interiores, &pef- ti coroado de efpinhos,
foaesdo amor, & do mui- por ti emíim crucificado
to que fiz 5 & padeci por ú, entre ladroens, aberto em
Por ti depois de te fazer à quatro fontes de fangue ,
minha imagem , & feme- atormentado, & affligido
Ihança, mefizàtua^fazen- de anguílias , & agonias
dome homem :por tinaci mortaes, & ainda depois
nos defemparos de hum de morto atraveíTado o
Prefepio : por ti fui deíler- coração com húa lança.De
radoaoEgyptoipor ti vi- tudoifto pedi por ti per-
vi trinta annos fogeito à daò a Deos, & o pago que
obediência de hum offi- tumedèíte, foi nam me
ciai, ajudando o trabalho perdoar , tornandome a
de fuás mãos com as mi- cruciiicar tantas vezes,
nhãs , fie acompanhando o quanta» gravemente pec-
fuor dofeu roílo com o caíle, como te mandei de-
mcu. Por ti, Separa ti fahi clararpelomeu Apoílclo^
ao mundo a pregar o Rcy- Rurfum crucifigentes Filiíi ^^^^,
no doCeotporti naspe- T>et. Se as gotas de ílm- ó.d. '
regrinaçoens de todaju- gue, que derramei por ti,
déa , &: Galilca,fempre a tiveraó conto , nem de
pè, Ôc muitas vezes defcal- hua fó me poderás dar boa
ço,padeci fomes, fedes,po- conta , ainda que padccé-
brezas ,fem ter lugar de raspormim mil mortes;
defcanfo, nem onde recli- mas os milhares , & os mi-
nar a cabeça: por ti recebi Jhocns foraò das vezes,
in^raádoen^ por bçncfi- que pizalle o mcfmo lan-
gue,
do Advento] fi
guç j facriíícando o infini- Perdida a graça da primei-
to valor , &: merecimento
delle aos ídolos do teu
nppetite.
48 Ainda cm certo
modo he maior áivià^. , a
de que agora te pedirei
conta 5 que lie a da voca-
ção. Refervei o fahires à
luz deíle mundo para o
tempo da Ley da Graça;
chameite à Fè antes de me
poderes ouvir : anticipou-
ie o meu amor ao teu ufo
da razaó, & fízte meu ami-
go pelo Bautifmo. Como
I ei te, & doutrina da Igreja
te áti o verdadeiro conhe-
cimento de mim, benefi-
cio que por meus juftos
juizosem quatro & cinco
mil annos naó concedi a
tantos 5 6c de que ainda nos
teus dias carecerão mui-»
tos.Naó tivefte juizo,nem
coníidcraçaó para ponde-
rar, ScpaOnar de queten
ra vocação caiíle , & t?or-
neite a chamar , ôc dar a
maó , para que te levan-
taílès : levantado tornaftc
a reincidir húa , 6c tantas
vezes, & eu poílo quetao
repetidamente ofFendido ,
6c com taó continuadas
experiências da pouca fir-
meza de teus propoíltos,
6c falíidade de tuas pro-
meílas , naó ceílêi de te of-
ferecer de novo meus bra-
ços 56c te receber íempre
com elles abertos : atè que
infiel , rebelde, Sc obíiina-
do , cerrando totalmente
os ouvidos a minhas vo-
zes, te deixaíle jazer no
profundo letargo da im-
penitencia final. Dà agora
conta de tantas infpira-
çoens interiores minhas,
de tantos confelhos dos
ConfeíTores, 6c amigos^ de
tantas vozes , 6c ameaças
do a minha juftiça razocns dos Pregadores , que ou
para condenar hum gen- naó querias ouvir, ou ou-
tio, que me naó conheceo ,
as tiveííè minha mifericor-
dia para perdoar a hum
Chriftáo, que conhecen-
dome, tanto me offendia.
vias por curiofídade,6c ce-
remonia: 6c também ta
poderá pedir de eu mef-
mo te naó chamar eíiicaz-
mentenahora da morte,
Dij por-
^:
m
V ir
ji Sermão da primeiraT>ominza
porque o defmereccfte na naó minha a fentença, què
wiáx,
49 Sete fontes de gra-
ça deixei na minha Igreja
f que he o beneficio daju-
íHíicaçaò ^ para quenellas
felavaíTem as Almas de
feuspeccadoS5& com ci-
las feregaíTcm , & creccf-
fem as virtudes. Em húa
te facilitei em tal forma o
logo ouviras com os ou-
tros malaventurados : Ite
malediãi- in ignem ater*
num.
fo
S^ XI.
AQui parou a.
conta das Di-
vidas, que era a ultima, ôc
remédio para todas as cul- maior partida, que fó re-
pas, que fó com as confef- ftava para as contas. E
íar te prom eti o perda6> aqui viráó a parar todos os
quetunaõ quizefte acei-
tar, fugindo da benignida^
de daquelle Sacramento
como riguroíb, & amando
mais as mefmas culpas,
queeílimando o perdão.
Em outra te dei a comer
minha carne, & a beber
meu fangue, & juntamen-
te os thefouros infinitos de
toda a minha Divindade
em penhor da gloria , &c
bcmaventurança eterna.
que ta6 defcuidados vi-
vem de as dar bo.is naquel-
ledia. Oh dia de ira I ô
dia de furor ! ô dia de vin-
gança ! ô dia de amargura !
ô dia de calamidade 1 o dia
de miferia ! ô dia eftupen-
do ! ô dia tremendo ! ô dia
fobre toda a comprehen-
faó, terrível ! Aíllm lhe
chamaò com horror os
clamores dos Profetas pe-
la eftreitiílima conta, que
quefoio altiíTimo fim para nelle fe nos ha de pedir a
que te criei. Defprezafte o todos. Ê fe tudo paíTi para
fim, naó quizeíle ufar dos
meyos •, & porque efcolhe-
íle antes citar parafempre
fem mim no Inferno , que
a vida, & nada paííli para a
contai que cegueira, & que
iaf mia lie a dos que todos
fcus cuidados cmprcgao
comigo uo CcQjf tua hc> 6c no que paíTa , fem memo-
na>
ão Advento^. '^^
ria , nem cuidado do que lias de levaf comtigo, he o
naò ha de paílar ? Pode ca-
ber em entendimento có
juizo maior locura ^ qlie
trabalhar de diajSc de noi-
te hum homem, &: cançar-
ícj&defvelaríej&r matarfe
pelo que pa fia com a vi-
da, 8c ha de deixar com a
morte, &:naó fer o feu úni-
co cuidado3&: defvelo tra-
tar fó do que fó ha de levar
comíigo,& do que fó fe lhe
ha de pedir conta ? Ouçaò
cftes loucos a S. y\goíH-
peccado. Toda a matéria,
dos peccados cà ha de fi-
car, porque paííbu com a
vida, 5c fo o peccado ha de
ir comnofco, porque nam
pafi?òu para a conta.
f I Pa recém e, que pa-
ra defenganara quem tem
fé, baila a evidencia deíles
dous pontos. O que fó qui^
zera alcançar deDeos^ &
pedir aos que me ouvirão ,
he^que tomem eíle defen-
gano em quanto vivem
nho : Teccas propter pecn- nefte mudo, & naó o guar-
niam? híc dimittenda eft. demparao Inferno. D^^^
"Peccas propter vrllam ? hic creve o Efpirito Santo no
dmittendaeft.Teccasprop" livro da Sabedoria huma
ter mulierem? hlc dimítm- pratica, que tiveraõ entre
da eft. Et quidqutdeftprop^ fy no Inferno o^ que Là fo -
ter quodpeccas , hk dimit- raó,depois de ter gaftado a
tts^ò' ipfiimpeccãtumyqtwd
cÕmtttis^ t ecum portas, Vcc"
cas, homem, por amor do
dinheiro .? êc cà ha de ficar
o dinheiro. Peccas por
a mor da herdade ?&cà ha
de ficar a herdade. Peccas
por amor da mulher , ou
tua,ou não tua ^ êc cà ha de
íicar a mulher. Mashavê-
do de ficar cà tudo aquillo
porque peçcaíle j o que fó
Toin./v
vida em tudo o que paíla
com a mefma vida : & o
que fallaváo,era defia ma-
neira ; Ergo errãvimtis h
via veritatis^ & Solintelli-
gentia non eft orttts nobis. O
certo he(^diziáo3que errá-
mos o caminho, & que an-
dámos às efcuras , & que
em tantos dias,quantos vi-
vemos 5 nunca nos ama-
nheceo a luz do Sol. ^'td
D iij
só.
t^u
Sermão da primeira T>ominga
ibiaem 7if)bisprofuitfuperbia : que como a Teta defpedidado
^- nosaoroveicárão a fobcr-
ba, Sc gloria váa das honras
arco ao lugar dellinado,
qiic dividindo o ar, o qual
logo fe ccrra,&: unc^naó fe
pôde conhecer por onde
paíTou ; Aut tanquamfu-^^-^^^^
gitta emiffa tn locum defti-
Xbid.o.
do mundo ? T>ivitiarinn
jaãantia qutd corUulit no^
fc: de que nos fervioaja-
dbancia das riquezas j Ocos ^ ^.-jj .
goílos, delicias , & paíTa- natitm, divtjus aer in fe re-
re m pos em que ellas fe có- clufus efty ut ignoretur tran^
ÍLimem, deque nos apro- fittisilíhts. Agora, agora
veiráráo? Todas eíTascou- conhecem bem no Infer-
ias paílaráo como a fom- no,&: não achaõ compara-
bra : Tranfienmt omniailla çáo,com que baílanrcméte
tancjuam timbra. Todas declarara fum ma veloci-
pafniráo como o correio, dadc,cò que todas as cou-
que fempre caminha , & ílispaínió, &coma meíma
niõ^xx2i\Tanq74am níítim preíTa (dizem) paííaraos.
/í'rr«rrí'??j-. Todas paíTarão nós, porque apenas naci-
como a nao, que vai cor- dos logo deixamos de Ter ,
tando as ondas , & depois ócfem deixar íinal algum
que paífou.re lhe iiaó acha de virtude, em noiTos pro-.
raílo : Et tanquam navis prios vícios nos confumi-
qu.e pertranfit fluãiiantem mos : Stc & nas n ti conti-
^'^'^ '''• aquam, cnjus^cumprceterie- mio defivimus cp : é/ vir t ti- ^^-^ ,^,
rit^noneíiveftighm inverti' tis quidem nulkm figrium
re. Todas paíBrão como a valumus oftendere : tn ma-
ave, que voando, & baten - lignitate aut em nojlra con^
doolevcvento,quecorta, fumpti fumiis .
nem final deixa do feu ca- f 2 lílo conferiaó en-
minho : Aut tanquam avis tre fy naquella trií"l:e,&c tar-
^^'' ' '' qiu tranfuolat in aere ver- de deíengnnada converfa-
berans levem ventnm , & çaó os mílcravcis conde-
niiliim ííg?in inVi-nitur iti- nados:osquaespara maior
?;£r/.y/7/^//j-. Todas paíTáiaò doe levantando os olhos
ao
do Advento, f^
ao Ceo,&: vendo là glorio- da gloria entre os Santos,
como nós padecendo as
penas entre os condena-
dos. Nos infenfati vitam il^ ibid. 4;
lonvm /eftimãbamus inf<í>-
fos, & triunfantes os que
tratarão mais da eflreiteza
da conta, que da largueza
da vida \panitcntiam agen-
Sz^.<;.i.tesy& pr<e angi^^ia/piritus niamyéf finem iilorumfine
gementes 'y com vozes que honore-.ecce quomodo coni-
Thefahiaó do interior an- putatijimt inter filws T>eh
guftiado, & CO m arrepen- ér inter SanÕíosfors illorum
dimento,& gemidos, que ^/^.Taesfaóascoufas que
jà naó aproveita vaó,^/V£^«- diíTeraó, conclue o Eípiri-
tes intrafe^ diziaò entre fy, xb Santo, Sc taes os difcur-
^comíigo: queheo que
diziaó? Hifu7it quos hahui-
fnus aliqtiâão in derifum^ &
fos que íizeraó no Inferno
os máos quando là fe vi-
rão. Talia dixernnt in In^
íbii.
H-
injirnilitudinúm improperij: ferno hi qui peccaverunt,
Aquellesíàóos dequenòs Vejamos agora, & confí
zombávamos , rindonos
dos feus efcrupulos de có^
fciécia, & das penitencias^
& rigores com que morti-
jficavaó íeus corpos , quan-
do nòs fó tratávamos de
regalar os noíTosjSc fatisfa-
2er noílbs appetites 5 &
agora vemos que elles fo-
Taó os prudentes , & llzu»-
dos,& nòs os loucos, & vcv-
fenfatos , pois elles pondo
^s olhos no fim, & no pre-
deremos bem os que por
mifericordiade Deos ain^
da temos tempo, & vida,
fe he melhor aproveitar
defte defengano neíle mu-
do,ou guardalo para o In-
ferno: & fe folgaremos no.
dia da conta de ter imita-
do os prudentesjque eter-
namente haó de gozar a
viíla de Deos no Ceo , ou
acompanhar os loucos , &
infenfatosjque haó de par
mio de que nòs naó hze*- deceras penas do Inferno
tnos caio 5 eíláo gozando por toda a Eternidade ?
Diiij
SER-
fifl
fí>^«^*J>
'^'S»9«9^9a>
SERMAM
DA SEGUNDA DOMINGA
DO
A D V E N T O
Joannes in vImuUs. Mattli.
II.
§1.
Uehade haver
outro juízo 5 &
outro mundo
nos eníinou a
igreja Catho-
liça o Domingo paíllido
com a fé : o meímo artigo
(^fe nienaò engano } nos
prova hoje com a razaõ.
Dizo Evangdiíla S. Ma-
theus,q o Bautiíla, aquel-
le grande Santo y aqucllc
grande í^rccuríbrdç Ç.liri-
fto, por mandado de He-
rodes, aquelle máo home ,
&aquelle mio Rey, eílà
hoje em prifocns ; [joannes
iwvmcuUs. loannesin lin'
ctilisl O Bautiíla empri-
foens ! Logo ha de haver
outro juizo, & outro mun-
do. Provo a confequencia,'
Forqueie ha Deos, he ju-
ílo : íc he juílo, ha de dar
premio a bons, 6c caíligoa
máos : no juizo dclle mun-
do vemos os mios , cornei
Hcrodcs, levantados j os
bons.
Sermão da fegunãa dominga do Advento^.
bonSj, como o JBautiílajOp- lo^nnes in vinculis ?
n.
primidos : íeguefe logo
que ha de haver outro juí-
zo,^ outro mundo ; outro
juizoj, em que fe emendem
eílas deíigualdadeSj & in-
juíliças : outro mundo^em
que os bons tenhaõ o pre-
mio de feus merecimen-
tos, & os máos o caíligo de
fuás culpas. Oh que altos
faó os fegredos da provi-
dencia divina ! os noíibs
próprios vicios faz que fe-
jão teílemualias de noíla
fé. Ham dos principaes
fundamentos de noíla fé ,
•he a immortaíidade das al-
mas^&anoíla injuíliça he
a mais evidente prova da
noííii immortaíidade. Se
os homens naó foráoinju-
5-4 Masaílim comoas
prifoens do Bautiíla con^
iirmãoefba parte da dou-
trina que preguei no Ser-
mão paílado j aíHm tam-
bém me obrigaó as mef-
mas prifoens , a retratar
outra parte da mefma dou-
trina. Preguei que havia
de haver hum juizo final,
em que Deos nos ha de jul-
gar atodos : ainda o digo
aííim. DilTe mais, que eíte
juízo de Deos havia de fer
o mais rigurofo , o mais
eílreito, & o mais terrível*
Ainda o torno a dizerrpor-
que verdadeiramente af-
íim he. Porém hoje por
muitas razoens vos pare-
cera, que ainda ha outro
ílos, puderafe duvidar fe juizo mais terrivel, ainda
eraoimmortaesj masper-
mite Deos que haja inju-
íliças no mundo, para que
a innocencia tenha coroa ,
& a immortaíidade prova.
■Quem pôde duvidar da
immortaíidade da outra
vida,fe \^è neíla a maldade
deHerodes levantada ao
trono, Sc a innocencia do
JBâutiílapoítaexn prifoés..
ha outro juizo mais rigu-
rofo, ainda ha outro j ui zo
maiseftreitOj que o juizo
de Deos. E que juizo he
efte.^ Heojuizo,quepoz o
Bautifta em prifoens , o
j uizo dos homens, loannes
in 'V incutis \ O Bautiíla em
prifoens! Logo o juizo dos
homens he muito mais te-
meroíò > que o juizo de
Deo'3.
s.
m
li
PiVim.
14Í.2.
5f
Sermão dafegmida^omingd
Ainda eíia confe- difcernecatifrmmeam : Sc^
nhorjjulgaimevòs , & de-
cidi a minha caufa. Nota^
vel encontro de aíFedos:
fe David no primeiro Piai-
mo diz a Deos , Senhor,
naó me julgueis j como o
mefmo David nofegundo
Pfalmo diz a Deos 5 Se-
nhor, julgaime? Húa vez
julgaime, outra veznam
me julgueis; que varieda-
de he cila P Do que acre-
centa David fe vera a ra-
zão da diíFerença : lúdica
me T>etis , c^ difcerne cau»
fam meam^ decente nonfan^
Sfa^ ab homine iniqiw eripe
»^^. Julgaime vos Senhor^
livraime de me julgarem
os homens. Aqui eílà a dif.
ferença. No primeiro ca*
fo confiderava David o
juizo de Deos abíbluta-
mente5&:por iflb pedia a
Deos, que o naójulgafie;
porque o juízo de Deos
verdadeiramente he mui-
to para temer. No íegun-
do cafo conílderava Da-
vid o juizo de Deos por
comparação ao juizo dos
hom cns, &: por iílò queria
que Deos o julgaílc} por-
que.
Deos.
quencia he mais clara,que
a primeira. No juizo de
Deos atè hum ladraò fe
falva •, no juizo dos homés,
atè S.Joaó Bautiíla fe con-
dena : loannes In v incidis^
E juizo em que atè a inno-
cencia do Bautifta fahe có-
denada, eftehe o juizo te-
merofo, elle heo juizo for-
midável, eíle he o tremen-
do juizo. Eeíla fera a ma-
téria do Sermão. Que o
juizo dos homens he mais
temerofo, que o juizo de
Deos.
í. II.
QUem melhor
que todos en-
tendeo eíla grande verda-
de,ou novidade , que te-
nho propoíto , foi o Real
Profeta David. No Pfal-
mo cento & quarenta &
dous, diz David a Deos :
Non intres injudichim cum
feri:o ttio ; Senhor , naó en-
treis em juízo com vollb
fervo : no Pfalmo vinte &z
quatro diz o mefmo Da-
vid liz/^/í-^ ^^í' 'Deus y à'
que comparado o rigor do rofo , Sc muito mais horri-
juizo de Deos comos ri-
gores do juizo dos homês ,
muito mais rigurofo , &
muito mais tremendo he o
juizodos homens, que o
juizo de Deos. No primei-
ro cafo tinha David diante
defy o temor do juizo de
Deos. No fegundo cafo ti-
nha de hua parte o temor
do juizo de Deos, & da ou-
tra parte o temor do juizo
dos homens, & poíto en-
tre temor, & temor, achou
que tinha mais que temer
no juizodos homens, que
no juizo de Deos. Agora
entendereis o mifterioda-
queflas palavras , que dei-
xamos de ponderar noE-
vangelho paíTãdo.Tunc vi-
debtmt Ftliúhomiràs veni-
entem innubibus C^li : En-
tão veráõ o Filho do ho-
mê,qvirà nas nuvens do
Ceo. Chriílo he homem,
& he Deos : pois porque
naó diz virá o Filho de
Deosjfenaó virá o Filho do
homem ? Porque o intento
deChrifto era fazemos o
feu juizo tem erofo, Schor-
rivel : & muito mais teme*
vel ficava reprefentado
como juizo de homem,
que como juizo de Deos.
He tanto mais temerofoo
juizodos homens 5 que o
Juizo de Deos, que quando
eíle fe quer fazer refpei-
tar, & temer, quando fe
quer veftir de horror, & af-
íbmbro , quando fe quei?
moftrar medonho , ôc hor-
rendo ', chamafe juizo de
homem : naã achou outro
nome mais fero,na6 achou
oiitro nome mais atroz,
naó achou outro nome
mais tremendo : Tunc ^vU
debunt FHium hominis.
56 Temos provado o
aífumptoem comum: de-
çamos agora às razoens
particulares delle, quefaò
muito varias , muito foli-
das5& de muita doutrina ^
8c pode fer , que vos pare-
çaõ tio grandes, & taó no-
vas como o mefmo af*^
fumpto,
5 . IIL
jL juizo dos homês
lie
\%
6o
hemaís tem
juizo de Deos 5 porque
Deos julga com o enten-
dimento, os homens jul-
gaó com a vontade. Quan-
do entre o entendimento
de DeoSjSc a vontade dos
homés, naòouvera aquel-
la infinita diftancia, baila-
va fó a difrerença , que ha
entre vontade, & entendi-
mento 5 para fer grande a
defigualdade deííes juí-
zos.Quem julga com oen-
SermaÕ àafegunda T>cmmgã
rofo 5 que o entendimento
Declaran^
do o mefmo Chrifto Se-
nhor noíTo os feus poderes
fupremos de Juiz univer-
fal do mundo , diz que o
Pay deo todo o juizo ao loan.
Filho : Tateromne judicia ^*'---
dedii Filio. Pergunto : &
porque o naó deo o Padre
ao Efpirito Santo ? Para
hum juízo perfeito reque-
remfe três coufas : Scien-
cia para examinar ,Juíli ca
para julgar , Poder para
tendimento, pode julgar executar. Pois feapeíToa
bem, & pode julgar mal; do Filho, & a do Elpiriro
quem julga com a vótade, Santo temamefma fabe-
nunca pôde julgar bem A
razaó he muito clara. Por-
que quem julga com o en-
tendimento , fe entende
mal, julga mal, fe entende
bem , julga bem. Porém
quem julga com a vonta-
de, ou queira mal,ou quei-
ra bem, fempre julga mal:
fe quer mal , julga como
apaixonado, fe quer bem,
julga como cego. Ou ce-
gucira,ou paixaó,vede co-
mo julgará a vontade com
ta es adjuntos. No juizo
divmonaóhcaílim: julga
fó O entendimento, &: tal
dória, a mefma juíliça, & a
mefma omnipotécia -, por-
que razão dà o Padre Eter-
no o ofHcio de julgar ao
Filho, & naó ao Eípirito
Santo .? A razLió moral , &
altifllmaheeíla. Porque o
Efpirito Santo procede
por adiro de vontade, 5c o
Filho he gerado por aíto
de entendimento : & o jul-
gar (^ ainda que fcja Deos,
o que julga} pertence ao
entendimento , & nam à
vontade. Ao KrpiritoSá-
tOjque procede por vonta-
de , dcolhe o Padre o dcf-
pacho
io Advento: ^i
pacho das mercês : T>ator nar fó por entendimento ,
munertim : ao Filho, que fe fem vontade 5 o dar mui
produz por entendimen- por vontade, mas com en-
to, deolheo juizo das cul- tendimento. E feria bem
pas: Omnejudichm dedit queodarfoíTe fò por en-
Filio 5 porque o dar, para tendimento ; & que no
que fe agradeça, ha de pro
ceder da vontade, Sc oco-
denar , para què fe naó er-
re 5 ha-o de regular o en-
tendimento. Ainda nam
eftàdito: ouvi húa coufa
grande. Quando o Padre
ab-eterno gera o Filho,
^era-o por puro aábo de
entendimento, íem inter-
venção ainda da vontade :
quando o Padre > & o Fi-
lho produzem o Efpirito
Santo , prqduzem-no por
a£to da vontade , mas jà
com fuppoíiçaó do enten-
dimento. Pois por iííb o
dar íe attribue à terceira
peífoa , Sc o j ul gar à fegun-
da 5 porque o dar ha de fer
da vontade,mascó fuppo-
íiçaó do entendimento: o
julgar ha de fer fó do en-
tendimento íem interven-
ção nenhúa da vontade.
Eis aqui hum perfeito di-
£tamedajuíliça punitiva,
&diílributiva. O conde-
condenar entraíTe tam-
bém a vontade ^ Naó: por-
que dahi naceria o que
acontece algúas vezes ,
que nem as mercês obri-
gaó,nem os caftigps emen-
dáo. Condenar com von-
tade, he paíTar além de ju-
fto, dar fem vontade, he íi»
caràquem de liberal : no
primeiro vai efcrupulofa a
3uftiça,no fegundo íica de-
fairofa a liberalidade.
f8 De maneira que em
Deos a vontade , Sc o en-
tendimento tem reparti»
dos osofficios, o entendi-
mento j ulga^ a vontade da . '
Nos homens naó paíTa af-
íim. O entendimento eítà
depoílo de feu oíficio, a
vontade ferve ambos : a
vontade he a que dà, 6c a
vontade h e a que jul ga . A
queixa de fer a vontade a
que dà, deixemola aos co--
biçofos, Sc aos pertenden-
tesy afem-razaò dcíer a
voa-
<?2 SermaÕ ãafegunda dominga
vontade a que julga, he a mefmo Chríílo l Ha coufa
que faz o juizo humano
mais formidável , que o
divino. Veyo hua vez a luz
a fer julgada no juizo dos
homensj& vinha ella mui-
to confiada 5 porque jà an-
tigamente tinha apareci-
do diante do Juizo de
Deos, 8c fahio delle com
grandes approvaçoés: Fiat
íux-,&faifa efl iiix-^ér vidit
IDeus Incem > quodejfet bo-^
na, Comeftasabonaçoens
do juizo de Deos entrou a
luz no juizo dos homens,
&como vos parece que
fahiria delle^DiíTe-o Chri-
íto no Capitulo terceiro
mais fermofa , ha coufa
mais útil , ha coufa mais
ncceíTaria no mundo , que
a luz? Pelo contrario ha
coufa mais fea , ha couía
mais horrenda , ha coufa
mais inútil, ha coufa mais
chea de inconvenientes,
que as trevas? Naó íaó as
trevas a capa dos latrocí-
nios, as terceiras dos adul-
térios , as complices , 8c
as confentidoras dos ma-
iores infultos, das maiores
enormidades , que fe co-
metem no mundo ? Pois^
comohepoílivel, que ho-
mens com olhos , 8c çom
de S. JoaòjSc foi neceíHirio entendimento antepuzef-
que o mefmo Chriílo o
diíTcíle , para que nòs a
creíTemos : Venit lux in
miindiim , & dilexerunt ho-
mines magis tenebras^ quàm
hicem. Veyo a luz ao mun-
do, 8c os homens antepu-
zeraó as trevas à luz. Ha
talfem-razaó ! ha tal ce-
gueira ! ha tal maldade !
Quem ouvera de crer de
juizosracionacs hiia Çç,\\-
tença taõ barbara como
Q^x^ fe Q nag aíiirmiira o
fem as trevas à luz? As mef-
mas palavras de Chriflo
deraóa razão '.'Dilexerunt
homines magis tenebras^
quàm luccm. dilexerunt:
julgarão com a vontade,^
naõ com o entendimento :
8c onde a vontade he juiz,
ta es como eílas faò as Çcn-
tenças. Qiie havia de fazer
hua cega , fcnaô condenar
a luz ? 'Dilexerunt magis:
air.áraó mais: Eis aqui to-
do o juizo dos homens:
a má-
àmarao mais 5 ou amarão
menos. Se amáraÕj aitida
que feja as trevas,as trevas
haó de ier melIioreS:,que a
luz : Te náo amáraó , ainda
que fejaaluz jaluzha de
caufa em Chríílo, Ego nuU
Iam catifam inverno: como
lhe puzeraó a caufa cÇcm^
na Cruz : Impofuerunt cau-
fàmejmfcrlptam ? Aqui
vereis quanto vai defer
fer peor^que as trevas. Oh julgado com o entendi-*
quantas vezes renova o mento, ou com a vonta-
mundo eíla fentençalQuã- de. Depois que Pilatos de-
tas vezes vem a juizo a clarou a innocencia de
luz,& as trevas, &fahe c5- Chriílo, devolveo as acu-
denada a luz ! Vede que façoens ao juizo davonta-
fegurança pôde ter o me- de dos Principes dos Sa-
reci mento, ou que immu-
nidade a innocencia em tal
juizo .^ O fummo mereci-
mento, & a fummaHino-
cenciaodiga.
fp Prefentado Chii-
ílo ante Pilatos , tirou elle
as teftemunhas, examinou
as acufaçoens , & decla«
rouaChjifto por innocé-
Lac.23. ttiEgo nuUam cãtifam in-
vmio in homine ifto : £ u ne -
nhúa caufa acho neíle ho-
mem. Da hi a pouco leva-
rão a C "hriíio ao Calvário,
pregáraónoem hua Cruz^
«4-
c^tàotQs-.Jefum vero tra^L'ac.:ty,
dídUvolmitati eomm -, &^^'
como Chriílo foi julgado
no juizo da vontade , logo
lhe acháraó caufa para o
crucificar. No juizo do
entendimento, ainda que
era entendimento de Pila-
tos, naò fe achou caufa a
Chriílo : no juizo da von-
tade , ainda que era o jul-
gado Chriílo, achou fel h«
caufa. E porque acha mais
a vontade fendo cega,qiie
o entêdimento fendo lyn-
ce.^ Porque o entendimen-
Matth. Et ^^^pofaenmt fuper caput toachaoqueha ,a vonta-
27.3 7> ejus cãufam ipfitis fcriptar/iy de acha o que quer. Con?
&: puzeraó nella , diz o foniieavontade quer, af-
TextOjafiacaufa efcríta. fim acha. Se a vontade
Pois fe Pilatos naò acliou quer fav orecerjaeharà me-
reci-
644 Sermão
rccimento em Judas , fe
a vontade quer condenar,
achará culpas em Chrifl-o.
Que culpas tinha o Bauti-
íla contra Herodes>para o
meter em prifoens ? mas
tinha contra fy a fua von-
tade, que era a maior cul-
pa de todas. Bem enten-
dia Hcrodesjque era inno-
cente o Bautifta : mas naó
quero ir por aqui : ou He-*
rodes entendiajque era in.-
nocenteo Bautifta, ou naõ
o entendia: fe o naó enten-
dia, vede a cegueira da vó-
tade, que o fazia entender
contra a razão : fc o enten-
diajvedeatyrannia da vó-
tade,queo fazia obrar có-
tra o que entendia. De húa
maneira, ou de outra fem-
pre o Bautifta tinha cer-
tas as prifoens: Joannesin
n;incuiis.
5. IV.
60
A;
ra-
Segunda
^zaó de o jujl-
zo'dos homens fcr mais
terrivcl, que o juizo de
Dcos, hc porque no juizo
dcDcos geralmente baila
íhãa^omtnga
fó o teílemunho da pro*.
priaconíciencia : no juizo
dos homens a própria con-
fciencia naó vai teílemu-
n ha. Vede que grande he a
fidalguia do juízo deDeos.
Apareceis diante do Tri-
bunal divino, acufaóvos
os homens , acufaóvos
os AnjoSj acufaóvos os De-
mónios, acufaóvos voífas
próprias obras , acufaóvos
o CeOja terra,o mundo to-
do j fe a voíía confciencia
vos naõ acufa , eftais-vo»
rindo de todos. No juizo
dos homens naó he aílim.
Tereis a confciencia mais
innocente,quea de Abel,
mais pura , q a de Jofeph ,
mais juftiíicada , que a de
S. J02Ó Bautiíla : mas fe ti-
verdes contra vòs hum
Caim envejofo , hum Pu-
tifar mal informado , ou
hum Herodcs injullo , ha
de prevalecer a enveja có-
traainnocencia,a calum-
nia contra a vcrdadc,a ty-
rannia contra a juftiça , &
por mais que vos cíleja
fakando,8c bradando den-
tro no peito a confciencia,
não vos hao de valer fcus
cia-
doAd^ventd. éj
damores. Vede que com- homens verem òs còm-
pn.rnç-^ó tem eííe rigor c6
o do juízo de Deos. Acho
eu muita graça aos Pre-
gadores, que para nos re-
prefentarem aterribilida-
dc do juízo divino 5 tra-
zem aquella authoridade^
ou oráculo de Deos a Sa-
vncg. i^x^d-.Homovídet ea^qu^ grandccoftume>ô qgran-
»^-7- parent^^Gmintts autemin- Af^f'^^'^y*A.^A^Çr^^^]\/\^^^^
çoens ? para os rraydores ,
para os hypocritas,para os
lífongeiros, para os micnti-
rofos,&: para outra gente '
deílarelèjmaspara os ze-
lofos, para os verdadeiros^
para os honrados, para os
homens de bem i ô que
tuetur cor : os homens vem
fó os exteriores , porem
Deos penetra os corações :
antes por iíTo mefmo he
muito mais para temer o
juizo dos homens j fe os
hòmensconhecéraó os co-
raçoens, fe aos homens fe
lhe pudera dar como co-
ração na cara j então nam
havia que temerfeus juí-
zos. Que maior defcanfo,
&: que maior fegurança,
que trazer hum homem
de felicidade fora! Mas co-
mo aconfcienciano juizo
humano nao vai tefiemu-
nha,quem leva a calum-
nia nas obras,que importa
que tenha as defefas no co-
ração f*
6i A maior defefa, Sc
juílincaçaó , que Chriílo
tevedeluainnocencia, foi
o depoimento de Pilatos,
quando pedindo agua la-
vou as mãos,& pronúcioui
queelle era innocente no
fangue daquelle juílo; Ac- ^^^^^^^
lempre coníigo no feu co- cejpta aqua^ lavzt manus co- --i^^,
raçaó a fua defefa? Acuíàif- rampopulo-^dícens: Innocens
me 5 condenaifme, infa- egojtim àfãnguine juftihw
maif lie ? quereis mil tefte- pis. Reparou neíta agua,&:
munhas, pois eilas aqui, & neíle fangue S. Cyrilloje-
rofolymitano,&: diíTecom
opinião íingular, q aquel-
la agua,& aquelle langue,
que fahio do lado de CÍiri»-
moílrari he o coração ; Bo-
na confcícntia milie tefles.
Sabeis vòs para quem naò
era boa invenção a de q%
Tom./..
66 Sermão da figimdaDomm^a-
lio na Cruz, faziaó alufaô fefas do coração eraõ ver*
a efta agua, & a eíle fan- dadeiras •, mas como o co-
%\xç.\ Erant hac duo de late- ração no mundo naó vai
reyjudicanti aquã^claman- teílemunha, morreo cru-
tíbusverofangtiis. A agua cificadaainnocécia Quã-
fignificavaa agua,có que rostresladosdeíle procef-
Pilatos lavou as mãos: ^r- fofe formão cada dia no
cepta aquãy lavit manus : o juizo humano ! por iíTo os
fangue fignificava o fan- innocentes padecemy&os
gue, que o mefmo Pilatos culpados triunfaó. Quem
declarou por jufto , & os mais innocente , quejo-
acuíadores tomáraó fobre feph, quem mais culpado,
n)id.25.1y, Sanguis ejusfuper nos: queaEgypcia?mas acul-
de maneira , que airim co- pada moltrava os indícios
mo cà o reo, ou o homifia-
do, traz no feyo os papeis
de fua defefa, aílim Chri-
ílo meteo no coração a-
quella agua,& aquelle fan-
gue, em que confiíliaó os
teftemunhos authenticos
de fua innocencia. Ora
vede agora fair a Chriílo
do Pretório de Pilatos ,
acompanhado de grande
tropel de juftiças, Sc vereis
nareprefentaçaó daquella
tragedia , o que cada dia
acontece no mundo. O in-
nocente caminhava para o
fuppUcio, o pregaó dizia
as culpas, o coração leva-
va as dcfcfas. As culpas do
pregaõ erag falfas, as dc-
naçapa,6c o innocente ti-
nha as defefas no coração-,
por iffo ella triunfa ,&:el-
le padece. Morre em fim
ChriftonaCruz, abrelhe
húa lança o peito , fica o
coração patente, &: entaò
fahiráoem publico asfuas
defefas: Exi-vitfangiíis,& ^^o.nn:
^^«^. Pois agora depois de' ■' ■
Chriílo morto? Sim ago-
ra: queefiahe adilleren-
ça,queha de hum juízo a
outro juizo. No juizo de-
que
hc o
pois da morte ,
juizo de Deos , cntao va-
lem as defefas do coração i
no juízo dcíla vida, que
heojuizo dos homens, iie-
nhúa valia tem. Oii dcf-
gra-
do Advento.
graçada forte a áo coração logrados
^7
humano .'poder fer julga-
do dos homens para a cul-
pa, «Scnaó poder fer vifto
dos homens para adefeíaí
Náo ha maior
delid-o no mundo , que o
fer melhor. i\o menos eu
a quem amara das telhas
abaixo, antes lhe defejára
Se aílim he, que muito que hum grande deliílo , que
fenaô defenda a maioria- hum grande merecimen
nocencia , loannes in "vin-
€1iU$>
6i
O Terceiro mo-
tivo de maior
temor,que ha no juizo dos
homens, comparado com
o de Deos, he, que no jui-
zo de Deos as noíTas boas
obras defendem -nos , no
juízo dos homens,o maior
inimigo, que temos, fao
as noílas boas obras. De-
mos reviílaa algus exem-
plares do juizo humano,&
conflarnosha delia verda-
de. O primeiro condena-
do, que ouve no juizo dos
homens, foi Abel 5 & por-
que culpas.^ Porque o feu
facriíicio agradou mais a
Deos, do q o de Caim. Ha
tal crime como eíle.^ Se A-
bel fora como Caim , elle
tivera os feus dias mais bé
to. Hum grande deUdo
muitas vezes achou pieda-
de: hum grande mereci-
mento nunca lhe faltou a
enveja. Bem fe vè hoje no
mundo : os delidros com)
carta de feguro , osmere-;
cimentos homiíiados. Va-
mos a outro exemplar.
Saul condenou tantas ve-
zes à morte a David , ôc
chegou a lhe tirar elle
mefmo às lançadas : Sc
porque crimes. ^Porque fe
cantava pelas ruas dcjc- .
rufalem , que David era
mais valente , que Saul : , j^^g
^ercuJJJt Saidmiíle^lDãvid 18.7.
autem de cem milita. Efte
premio tirou David de
matar hum Gigante com
híía funda. Maisventuro-
foshaviaóde fer os tiros,
fe náo deraó tamanho eíla-
lo. AoGigãtederrubou-o
a pedra, & a David o foni- .
do. Eis-aqui porque Da* ;
£ ij vid
I-1
Matth.
6 8 Ser ma o da feguntía ^o?mnga
vid queria que o julgaííe vem, os mancos andaõ, os
Deos, & naó os homens : mortos reíufckaõ : Et bea-
íiojuizodeDeosperdoaó- tus qui fcandalizatus non
fe os peccados como fra- fueritinme •, &: bemaven-
quezasi no juizo dos ho- turadooquefenáo efcan-
mens, caíligaófe as valen- dalizarem mim. y\quire-
tias como peccados. Gra- paro > ò' beatus quijcanda^
çasaDeos, que jà nos hi- lizatusnonfuerít,^ bem-
mos emendado defte. Va-
mos ao terceiro exemplar.
Mas para que he ir mais
longe 5 fe temos o maior
exemplo de todos no Evã-
gelho ^
63 Mandou o Bauti-
íla do cárcere dous difci-
pulosíeus, que fofiem per-
guntar a Chriílo fe era el-
le o Meíllas, Tu es^ quivcyi-
turusesy an alium expeça-
?;í«j.^Suípcndeo o Senhor
aventurado o que nam fc
efcandalizarPE que tinha
feito Chrifto, para fe efcã-
dalizaremos homens.^ Se
Chrifto arrancara olhos,
& fizera cegos •, fe cortara
pès, & fizera mancos -, fe
tirara vidas, Sc matara ho-
mens :encaó tinhaó razaó
de fe efcádalizar de Chri-
fto j mas por farar, por re-
mediar, por refufcitar ?
Sim.Porquenaó hacoufa
a repofta, porque havia ao de que mais fe efcandali-
redor grande multidão de zem os homensjquc de ha-
cnfermos, que efperavaõ, ver quem faça milagres.
& depois de os firar a to- Antigamente efcandaliza-
dosmilagrofamente, vol- vao os peccados , &: edifí-
cavaòas virtudes: hoje as
virtudes efcandalizaó, &
queira Deos , que os pec-
cados naò edifique. Deos
vos livre de voíTiis boas
obras , & muito mais àxs
grandes : os pcccaiios fo-
ircmolos facilmente j os
mi-
toufc para os Embaixado-
res do Bautifta5&:diftl^lhes
aílim : Ite rennntlate loa^^
ni qua audiHis^ ér vidijlis.
Ide, dizei ajoaó o que ou-
vi ftes 5 &: vi ftes : Caci vi-
denty c landi ambiilant^^mor-
tui refurgiiíiP, Os cegos
^doAdiíêntol 6§
BiHagf es não os podemos milagres naô efcapa ? Ain-
íbfrer. E porque P Forque
os peccados faó oífenfas
de Dcos y ^ os milagres
íaóolfenfanoílà. Bem fe-
guro eu 5 que havia mais
de quatro enfermos em
Jcrufalemj que não quize-
ráoferfarados , fó porque
Çhrifto não foUe o mila-
grofo, Naó atirara Saul a
lança contra David, que
lhe tirava a enfermidade,
fe lhe naó doera mais o
da dizia mais o proceflb de
Chrifto : Ecce totus mim- ísan.ís ■
dusfoft eum vadrt : que era '^'
tal, que ília todo o mundo
anos elle. Se diílèraó , que
ellehia após o mundo, có-
denaíTemno muito embo-
ra j mas porque o mundo
hia após elle l Eis ahi
quaesfaó os crimes do juí-
zo dos homens. Se fores
após o mundo , ninguém
vos ha de condenar 5 fe o
milagre, do que lhe agra-r mundo for após vos, naó
dava a faude. vos ha de valer fagrado.
6^ Oh quanto mais Que diíTe hoje Chrifto do
íeguro heir com peccados Bautiíla.?que fe deípovoa-
âo juízo de Deos,que com vão as Cidades para o buf-
milagres ao juízo dos ho-
mens! Em Deos hamife-
ricordia, na enveja não ha
perdão. Que levou a Mag-
dâlena ao juizo de Chrí-
íío ? peccados ; 6c como fa-
hio ? perdoada , Remittun^
tur eipeccata multa. Que
levou Chrifto ao juizo dos
homens ? milagres : & co«
mo íahio > condenado,
^da hic homo multa fgna
facit, Comqueefcaparáó
os homens do juizo dos
homens, fe Deos, & com
• Tom. 7,
car, para o ver : ^id exi-
ftis indefertum viderelQuz x .^"s.
não era cana verde , que íè
moveífe com o vento :
Arundimm veto agitatam >
Que não era homem da
Corte , que veílilfe fedas ,
fenão cilícios , Hominem
mollibusvejfitum: Que era
mais que Profeta, Tlufqm,
^rophetãm : finalmente ,
que era hnpyEcceegomit- ibid.io,
to Angelum menm : Ah íim,
meu Santo Precurfor , &
vós tendes cinco culpas
E íij " láp
70 Sermão dafegunda "'Dominga
tio grandes como eílas, ác fó Deos. Eis aqui atè don-«
tão provadas ? Máo pleito de chega o Demónio, quã-
levaisaojuizodoshomês} do acufa j & o homem
a vòs vos tiraráó dos
olhos, & dos ouvidos do
mundo, a vós vos fecha-
rão em hum carcere> loan-
nesinvinculis.
§. VI.
6j A Quarta cófide-
/\ raçaó de fer
maistemerofo ojuizodos
homens , que o juízo de
Deos, he porque Deos jul-
ga o que conhece 5 os ho-
mens julgáo o que não co-
nhecem. Hum dos maio-
res rigores do dia do Juí-
zo, he que os mefmos De-
mónios hão de fer alli
noííbs acufadores ; mas
eu antes me quizera ver
quando julga ? Julga vos as
obras 5 julgavos as pala-
vras,&atè o mais intimo
penfamento vos julga, 6c
vos condena. Ha tal teme-
ridade de juizo ? Quejul-
gue o homem as obras,quc
vè, que julgue as pala-
vras, que ouve, feja embo-
ra> masque queira julgar
os penfamentos , onde naò
chega com algum fentido
do corpo, nem com algua
potencia da alma l Ella he
hua das mais graves ra-
zoens, porque ojuizodos
homens he mais para te-
mer,queojuizo de Deos:
Deos julga os penílimen-
tos, mas conhece-05', o ho-
acufadodeDemonios^que mem não pôde conhece^
verme julgado de homens.
O Demónio no dia dojui-
zo hanos de acufar de to-
das noílas obras, hanos de
acufar de todas noíTis pa-
lavra9: mas em chegando
aos penfamentos ha de ta-
par a boca o Demónio,
porque os pcccados de pé-
íramejQCQjTuO jccfcrvados a
penfamentos,^ julga-os.
66 Dirmeheis, queos
homens julgão os penfa-
mentos pelas obras , 6c
que pelas obras , que fe
vem, bem fe podem julgar
os penía mentosjque fe na5
vem. Seaílim fora , nani
eráo tanto para te:riCr os
juízos dos homens i mas
€. Res.
doAãventú, ji
vede quanto ao contrario quodoccdjtones quarat ad-
das obras julgaó ainda os verfumme. Lãçoufe Aman
melhores homens os pen- aos pès da Rainha Eílher,
fa mentos. Efí-ava Anna pedindo que lhe valeíTc
iTiáy de Samuel orando no contra a indignação del-
Templo com os afFedos> Rey, de cuja graça fe via
& eíFeitos, que coílumão tão inopinadamente cahi-
os afligidos : & que juizo do : & que juizo faria ÁP
vos parece , que faria o
Summo Sacerdote Helí
deftaoraçaó ? Julgou que
era intemperança : & que
os movimentos, que fazia
ilnna com a boca^tinhaò a
caufa na mefma boca , &
;.«.
fuero deíla acção de A-
man ?Julgou-a tanto con-'
tra toda a razão , <5c contra
o decoro, que a fy mefmo
fe devia 3 que em nenhum
penfamenco pôde caber o
penfamento,que lhe veyo,
não no coração laftimado nem ha palavras, com que
donde íàhião: Exíjiimavit fe poífa explicar fem dif-
tilam tenmlentam , & ait: fonancia : Et iam Reginam s<Ji^cr
Vfquequoebriaeris ? Veyo ^ult ofprimere, meprasête^
Naamão Syro à terra de indõmo mea. Eis aqui co-
Judea para que. o Profeta mo interpretaó os homés
Elifeo o curaíTe da lepra : as acçoens,6c como julgao
6c que juizo faria EÍRey por ellas os penfamentos.
Ezechias defta jornada de Anna orava a Deos , & a
Naamão ? Julgou, que era fua oraçaó foi julgada por
mandado cautelofamente intemperança : Naamão
por íeu Reyj para que tor^ bufçava a faude , 6c a fua
nandofefema faude, que confiança foi julgada por
vicrabufcar, tomaííe da- hoftilidade : Aman pedia
perdão, êc o feu arrependi-
mento foi julgado por fa-
crilegio. Nem chorar o ar-
rependido, nem curarfeo
enfermo ) nem orar one-
Eiiij ceíll?
quioccaíiáodequeixa, &
da queixa paífaíle a rom-
pimento de guerra, 6c lhe
vieíTe conquiítar o Reyno:
^■.^^^' Anitmdvertíte , é" Videte
"/ 2 Sermão dafegunda T>aminga
ceílitado , efl:à izento de do a fó Deos o juizo dos
fer mal julgado dosho- penfamcntoSíquc nem de
mens.Anna pedia o reme- toda a Igreja Catholica
dio de fua eílcril idade a fiou Deos o julgar hum
Deosj Naa máo pedia o re- penfamento : Ecclefta non
médio de ília enfermidade judicatâe interno. E o que
aEIifeo , Aman pedia o Deosnáo fía dos Pontifí-
remédio de fua infelicida
de a Efther j 6c nem em
Efther o fer Rainha , nem
em ElifeooferSantOjnem
no mefmo Deos o íer
Deos, lhe valeo aos mife-
raveis para que efcapat
ces, o que não fia dos Con-
cilies, o que não fia de to-
da a Igreja, que he julgar
meus penfamentos , iflb
faz o juizo de qualquer
homem. Parecevos muito
iílo? Parecevos muito, que
fcm. Nemcomos Reys, os homens julguem penfa
nem com os oantos ,nem
com Deos fe pode tratar
fem fer mal julgado dos
homens. Táoinjuílo he o
juizo humano em inter-
pretar intençoens ♦, tão
atrevido, &: táo temerário
he em julgar pelas obras
os penfamentos.
6/ Julgar mal huma
obra boa, grande maldade
he : mas julgar, ou bem, ou
mal huiii penfamento, que
nao pode fer conhecido,
ainda he maior tyrannia.
Sc não conheces , nrm po-
des conhecer o penfa men-
to^ como te atreves home
ajulgalo.^Hctáo refcrva-
mentos , & condenem fó
por penfi mentos ^ Ora
aguardai , que ainda nani
diílenada. E quantas ve-
zes vos julgarão, êf conde-
narão os homens pelo que
nunca vos paflbu pelo pé-
fimento ? ^\s aqui outra
maior diíferença dos dous
juizos: Deos julga^Sc con-
dena por penfamentos, os
homensjulgaó, êc conde-
nao pelo que nunca pnílbu
pelo penfamento. Paílbu-
Ihe aigãa hora pelo penfa-
mento a Jofcph atreverfc
á honra de fcu Senhor ^
Paílòulhealgua hora pelo
penfainenroa Daniel que-
rer
:ão Advento. _ 7Í
íer machinar contra o Im- vos ccíadenlo os homens
períodos AíTyrios ? Paf- pelo que não vos paíTou
foulhe algua hora pelo pelo penfamento a vós,
penfamêtoaChrifto^que mas condenãovos pelo q
tatnbemniíloquiz darnos nem lhes paíToupelo pen-
exeniplo ) quererfe fazer famentoaelles. Mais cia-
Rey temporal, de que ta- ro. Naó fó vos condenão
tas vezes fugira ? E com os homens pelo que vòs
tudo Jofeph por fe atrever nunca imaginaftes , mas
à honra de feu Senhor eftà condenãovos pelo que né
em hum cárcere : Daniel elles imaginão de vòs.
por machinar contra o 68 Chegarão os irmãos
Império eílà no lago dos de Jofeph ao Egypto,apa-
Leoens : Chrifto por fe recéraõ diante delle , &:
querer fazer Rey eítà po- depois que diíTeráo, quem
ftoemhúaCruz. Comef- eráo,&a que vinhaó ,fe-
te rigor nenhúa compara- coufe Jofeph mui ao de
çaótemojuizo de Deos. miniftro, & comafpe£to
Para Deos condenar por fevero diíTe : Vaó prefos
penfamento heneceíTario, eíTes homens. Prefos nos,
que hajapenfamento,que Senhor Viforey,C replica-
fejamáo,& quefeconfm- raó elles tremendo ) &:
ta : para o homem conde- porque ? Explor atares ef- ^^^^^
nardomefmo modo,nam tis: Sois efpias : vindes a ^ij?.
heneceíTario, que fecon- explorar os Reynos de
fmta, nem que feja máo, Faraó meu Senhor. As pa-
nem que haja penfamen- lavras não eraó ditas, &jà
to.Pòdefe imaginar maior os dez irmãos eftavaó com
rigor, maior injuíliça, ma- ospès , Sc mãos em outros
ior crueldade, que eíla.^ tantos grilhoens, & alge-
.Eu cuidava, que não •, mas mas. Pergunto agora : Ef-
ainda paíTa adiante a futi- tts homens iraagiiáraô ai-
leza,&acrue.dadedojui- gõaiioradevir fer efpias
20 dos ho)iiens. Naó fó ao Egypto^ ôc explorar q%
ReY«f
7Í Sermão dajegimáa dominga
Reynos de Faraó? Claro deiras. Diga-o a de Na-
eíUqne nunca tal imagi- both em Samaria , &a de
náráo. Eraó huns pobres SufanaemBabylonia. Por
lavradores, que vuihaó fu- ventura imaginava Jeza-
gindo à fome , comprar
quatro grãos de trigo para
manter a vida> & deitar ,à
terra. Pergunto mais : <Sc
Jofeph imaginava dclies 5
que foíTem efpias , &: ex-
ploradores } Ainda iílo he
mais claro ) (Sc mais certo.
bel^que Naboth blasfema-
ra o nome de Deos , & ád-
ReyPNáo imaginava tal
coufa. E com tudojeza-
belfezcódenar a Naboth
pelo que nem €í[ç^ imagi-
nou nunca5nem ella imagi-
nava àú\^. Por ventura os
Nunca tal imaginou Jo- Juizes de Babylonia ima-
feph 5 porque conhecia gináraó de Sufana , que
mui bem , que cráo osfí- violara a fé, que devia a
lhos de Jacob feu pay.Pois Joachim, no crime de que
fe eftes homens nuca ima- a acufavão ? Não lhes paf-
gináraó em fer eípias,& íè fou tal pela imaginação. E
a Jofeph nunca lhe paíTou com tudo foi condenada.
pela imaginação , que o
foíTem 5 como os manda
prender? He poílivelque
hão de eílarhuns innocé-
tes arraílando cadcas em
húa mafmorra pelo que
nem clles imaginára6,nem
imaginou dclíes quemalli
os metco ? Aííim palFa. Na
hiíloria de Joíeph era
aquelle rigor fingido -, mas
ainda mal, porque tantas
tragedias fe rcprcfcntaó
no mundo, em que as mcf-
mas injulli^as íàò verda-
de levada ao fupplicio Su-
ílina pelo que né cila ima-
ginou , nem imaginarão
delia os mefmos:, que a có-
denáraó. Quantas vezes
julgais, condenais , infa-
mais, & dcílruis hum iw-
noccnte pelo que nem c:\Lq,
imaginou 5 nem vós ima-
ginais dellc? Sabeis de cer-
to, que não fez o crime, &
iní a mailo, c^ acufulo , &
condenailo como fe o fize-
ra. Sc condenar por culpas
duvidofas hc mjuílica, cò-
ocnar-i
âoAãventcT.
denar por innocencia co- muito ré
nhecicia , que tyrannia fe-
ra? a que ufa o juizo dos
homens eom o Bautifta:
loannes in vinctãis.
omite
§. VIL
^9
A Quinta razão,
Sc diíFerença,
que acho entre o juizo de
Deos> & o juizo dos ho-
mens, heaquellajque pare-
ce faz o juizo de Deos
mais temerofo , que he o
fer juizo final. Juizo íinal l
Oh que temerofa palavra !
Mas dahi mefmo tiro eu
quanto mais temerofo he
o juizo dos homens^que o fins pelos principies , mas
juizo de Deos. Deos naó comoosíucceííbs do mu-
julga fenão no fim, os ho- do5& da vida , Sc muito
mensnáo efperâo pelofim mais os que dependem do
para julgar. Gram rigor! alvedriojnãoguardãopro-
tttraque crefiere ufque ad i^[^^^^^
mejjem. Deixai nacerjdei-
xai crecer, deixai amadu-
recer 5 là virá o tempo da
mefíe, então fe conhecera,
qualheo trigo, & qual a
zizania. Eis aqui qual he
Deosno julgar, éÇc quaes
faó os homens. Deos não
condena fenão no fim: os
homens não efperâo pelo
fim para condenar. Deos
para colher efpera peio A-
gofio : os homens fegaò
em Janeiro.Os que mais ti-
moratamente procedem
em julgar antes do fim, faó
aqueiles , que reguião os
Semeou zizania o inimigo
na feara do Pay de Fami-
lias j & que a conteceo? Ve-
de a diferença do Senhor
aos criados. Os criados
muito fervorofos : Fis
porção algíia , todo eíle
juizo he incerto , & todo
injuílo.
70 No dia da Payxão
de Chrifto morrerão qua-
tro peííbas notáveis , de
imus^ér çolligimus ea ^ Se- que faz menção o Evan-
nhor,quereis que vamos, gelho. Morreo Chriílo,
& arranquemos logo a zi- morrerão os dous ladroes,
zania ? O Pay de f amiiias & morreo Judas. Ora no-
tai
i
n
É
«;:
II
1
M
II
í 1
ii
7<:> Sermão da fegíinda^ommgd
tai a diílTerètlça dos princi- diria, que havia de fer tra-^
PÍ0S5& fins de todos. Chri- balhofo, & foi feaciírimo.
ílo começou bem , acabou Antes de ver o fim náo fe
bem:o máoladraó come- pode fazer juízo. Pedro
çoumal, & acabou mal: o feguio a Clirifto para ver
bom ladrão começou mal, o fim : Vt vider et finem : fe J-^^^J-
& acabou bem : Judas co- efperaraatèrero fim, éii^ ' "^ *
meçou bem , 6c acabou não negara. Efperai pelo
mal. Taes íaó as contin-
gências das coufas do mu-
do, (5c apouca proporção,
que guardâo os fins com os
princípios. Muitas vezes a
bons princípios feguemfe
bons fins , como em C h ri-
flo ,& a mãos princípios
máos fins , como nomáo
ladráo ; 8c outras vezes pe-
lo contrario a máos princí-
pios feguemfe bons jfins>
como no bom ladrão, & a
11
fim, enrão negareis •, mas
eu vos fio 5 que fc chegar-
des a ver os fins,que haveis
de querer feguir , 6c não
negar. Se alguém pudera
julgar antes do fim , era
Deos j porque conhece os
futuros j & com tudo nun-
ca Deos jà mais julgou, né
condenou a ninguém , fe-
não depois das obras. O
juízo dos homens náo he
aílim , conhece pouco do
bons princípios feguemfe prefente, menos do pafla-
máos fins, como em Judas^ do,8cnadado futuro, ^
Poríífo quem quizcr juí
gar bem , ha de
aguardar
pelos fins. Nos Reynos
paífi o mefmo , que nos
homens. Q^iem julgaífe o
fímdoRcyno de Saul pe-
los princípios, diria , que
havia de fcr fcliciífLmo, 6c
foi defcftrado : quem jul-
ga fie o fim do Rcyno de
David pelos princípios,
antes de as coufas terem
fcr, jàeíbão julga das. No
mefmo dia em que fe Faz a
eleição, jà eftà adevinhado
ofucceífo , jà eftà conde-
nada a obra , jà eílà deía-*
creditada a pcífoa. Valha-
me Deos, ainda não fiz bé,
ncni mal, 6c jà me condc-
não ! Náo teremos huma
pouca de paciência para
cfperar
cfperaf pelo fim?; Nolite ^ Naófeiferepiráis m dii-
* '• - - - vida. Se eftehafBem ain-
da tivera lepra , que lhe
chamaíTemleproíb, miiitia
juílo > mas íe elle eílava
faó 5 porque lhe haò de
chamar leprofo? Porque
eíTe he o j uizo dos homês.
Foíles vos leprofo algum
dia ? pois ainda que Deos
1 Co- antetempusjuditare ^ iiani
'^''^y íjueirais julgar ante tem-
po, diz o Apoftolo.Jàque
quereis ter predeftinados,
& precitos como Deos,
julgai também comoDeos
ao íim das obras. Mas que
aopredeftinadofe lhe ha-
ja de adevinhar o mereci-
nientopara felhe dar logo faça milagres em vòs , Ic-,
o premio -, & ao precito fe profo ha veis de fer todos ,
lhe haja de profetizar a os dias de voíTa vida. Deos
culpa para o condenar dá- podervos-ha dar a faude>
temaóPterriveljuizo. masonomedaenfermida-
71 Ainda paílaadian- de naó volo hao deper-
te a razaò porque Deos doar os homens Nojuizo
jui gano íim, &.OS homens, de Deos com a mudança
naó. He porque no juízo ; dos procedimentos, mu-;
de Deos naó bafta a certe- daóíe os nomes , antiga-
za do futuro para o cafti- mente éreis Sauio , hoje
go,Ã: bafta a emenda do fois Paulo : no juizo dos
paíTadoparaoperdaé.No homens por mais que os
juizo dos homens 5 nem procedi rnentos fe mude,
para o futuro vai a incerte- os nomes naó fe mudaó jà
za, nem para o paíTado a
emenda. Diz o Evangeli-
fta S. Marcos , que veyo
Chriílo Senhor noíTo co-
mer a cafa de Simaó Le-
profo : chamavafe aífim
efte homem, porque fora
1 eprofo antigamente, & o
mefíno Senhor o farára.
mais. Se foftes leprofo hu-
mavez, leprofo vos haó
de chamar em quanto vir j^/j^,.^
verdes : Simonis Leprofi. i^\.i^
Poderá haver milagre pa-
ra farar o Simáo j mas mi-
lagre para tirar o leprofo ,
naó he poíIiveLOh grande
fem-xazaõ do juizo huma-.
7 8 Sermão da fegunddT) o minga
no •, que da enfermidade occidere \ feã potim timeie
vos hajaó de fazer appel- enmtquipoteji & anima yé*
lido ! E vem a fer peor o corpus per der e in gehenna.
appelíido , que a meíma Quer dizer : Naó temais,
enfermidadcj porque a en- aquelies,que mataóocor--
fcrmidade, quando muito po, & naó podem matar a
chega ate a morte jo ap- alma: mas temei antes a
pelUdo paíTa à defcenden- quem lançando o corpo,^
cia. OjuizodeDeosterri- alma no Inferno, tanto pó-
Marrh.
vel he, mas poíTome livrar
dclie emendandome. Po-
rém ojuizodos homens,
em que naó vai emenda,
quem poderá negar , que
hemais terrivei? Efe con-
tra o juízo dos homens naó
vai a emenda onde a ha :
que remédio teria aquelle
innocente, em que-a nam
podia haver, porque nam
havia que emendar, loan-
nes in vinculis'-^ - o 1 1 j i. u a i v
.. j .... ■ . :'.iii 'íoq pr'3ffi(:
73 ''A Ntesque paíTe
x\adiante ( que
naó feife mo permitira o
tempo 3 me occorre, que
pode occorre r a alguém
aquella famofa fcntcnça
deChriílo : Nolite timere
eos^ qui occtdunt corpus^
animam autsm nonpojjunt
de matara alma, como o
corpo. E quem faóaquel-
les5&: quem he eíle?Aqueí-
lesfaò os homens, eíle he
Deos. Logo parece que
daqui fe infere contra a
doutrina que atègora pro-»
vamos por tantos meyos,
que mais temeroro,&: mais
para temer he o juízo de
Dcosjqueo dos homens ,
como maisfe deve temer
o Inferno , Sc morte da al-
ma,que a do corpo. Mas
taó erradas como iflo co-
flumao fer as confequcu-
cias de quem fcgue as fuás
apprehéfoenSjOu affedos,
& naó olha para o cafo de
que fallaõ os Textos, ív pa-
ra o intento, com que fo-
raó ditados, ou elcritos. O
intento do divino Meílre
nella occafiaò foi animar a
fc dos primitivos Chri-
llãos,
do Advento] 79
ftãos^paraqucpadeceíTem &:perig05&: entre pena, &:
confiantemente os tormê- pena: porque comparada
tos, & martyrios dos tjr- a pena do Inferno com a
rannos : & para que poítos pena da morte , ciaro eílà,
entre dous temores, hum, que muito mais para te-
ou ©utro inevitável, com o
niaior venceíTem o menor,
> ifto he,com o temor do In-
ferno o temor da morte.
Aílimo entenderão fem-
pre Padres,Pontiíices , 6ç
interpretes, dos quaes co-
mo tão diligente, foiido,6c
merheado Inferno. Pelo
contrario fe a comparação
fe fizera entre juizo , &
juizQ, ifto h,e, entre o juí-
zo de Deos , & o dos ho-
mens, poílo que os homês
fó poílaó condenar à mor-
te, &: Deos ao Inferno^çoiíi
a mefma evidencia fe fe-
literal abbreviador de to-
dos, fó porei aqui as paia- gue ainda neíle cafo, que
vras do doutiílimo Aiapi- Biais para temer he o juizo
Aiapif c <Íg- ' í^?^'!/^ diceret : Kottte dos homés, que Q de Deos %
jbi. metu mortisyquam vabis /»- porque o juizo 'dos homés
tentãhnnt per fecut ares yue^ condenandome ir morte,
garemeamfidemyaut ceifar e pódefer injufto j&o de
abejmprddicatianevohisà Y>tos condenando me ao
meimperatayvel aliquidea Inferno, naó pode deixar
indignum committere : qma de fer redto : Jujhm es 'Do- praing^
fiidfeceritis incurretis mor"
tem tum corporis , tum ani-
m£ hnge atrociarem , &
diHturniaremyfciUcet ater^
nam ingehennãy ubidamna-
timortuntur morte immor
taliy&vita moribunda vi-
vunty&perdurant. De for-
te que a comparação nam
fe faz aqut entre j uizo , &
juizoj fenaô entre perigo j
mim y & reãum judiçium^^T-
tuum.E fe ao juizo de Deos
fó eftá fogeita a culpa , Sc
do juizo dos homens nam
eftà fegura a innocenciaj
vede qual mais fe deve te-
mer. DeDeosfaó mais pa-
ra temer os caítigos , dos
homens mais para temer
os juízos E deites he que
nós falíamos, ^-^
" . Tam-'
8 o Sermão âàfegúnda 5?<? minga
7:5 Também faííoudos
mefmos juízos o mefmo
Chriílo, Sc naõcmoutroj
fenaó no mefmo Texto^
immediatamête antesjém
admirável' comprovaçam
fó 5 & dl gn a de feu Aii f hdr .
Si Tatr em famílias Beeí^^^^nu:
zebuh vocaverunt : quanto '"• =f-
magis domefticos ejus ? Ne ' '
ergo timtieritis cos , nihil
enimeftopertum^ qiiod nan
do que digo. A frontavam reveletur-^é' occultíim^quod
osEícribasj^cFarifeósaos nonfcietur. Naó vos de-
Difcipulvos do Senhor com
nomes tao injurioíbs , ôc
blasfemos como a feu Me-
ílre : &: chegavaô a dizer,
6cprégar, & apregoar ao
inundo, que as maravilhas,
que ellej&elles obravaój
eraó feitas em virtude, &
veis admirar , que fendo
vòs os Difcipulos , & eu o
IVl efi:re3& fendo vós os fer-
vos,8c eu o Senhor , vos
tratem , &: vos julguem a
vós os homens, como me
tratão,& me julgaô a mim.
Masparaquenaó temais,
com poderes de Belzebut nem façais cafo dos feus
Príncipe dos Demónios, juizos,& das afrontas, que
vos dizem j fibei que Deos
manifeftarà a voífa verda-
dcj&casfuascalumnias, ou
no dia do Juizo, ou ainda
antes. Noíite ta^ncneoriirn
frobra^ irrijiones , érfamias
timere-, qtiia tandem ^eus
autorizadoSjScdosquccn- veftram jidem , cr i-eram
tre os demais profeílavaó Religionem patefaciet non
Religião , & letras} nam tantumin dtejudicij , fed ^ ^^
defmayaílc-, com que ia- etianiJnhacvita-.còmcnfJLThco'
o mefmo Author com S. P'''^-^'
Chryfoílomo, Thcophila- 'çí.ná.
to,(Sc Euthymio.Ohargu-
mcr.ro verdadeiramente
div'nio,& outra vez di-nio
'da
E para que a innocencia,&
conftancia, ainda noviça,
dos Apoílolosjvêdofe taó
indignamente caíumnia-
da, & condenada pelo jui-
' zo dos homens (^ & naó de
quaefquer, fenaódos mais
zoens os animaria, Sc con-
solaria o divino Medre
para que naó fizeílcm cafo
da temeridade daouclles
J
uizciJ. A razaòfoi huma
do Advento. 8i
da fabedoria de ̀u Au- car a melllia verdade: mas
thorí De maneira
5 que a porque nem o tempo
dà
conrolaçaÓ3&: appellaçaó , lugar , nem eu volas qui-
que tem o juizo dos ho- zera totalmente deven*
mens, he para o juízo de partamos o trabalho. Eu
Deos : Sc debaixo defta as aponto, difcorreyas vós,
efperança certa enfína Hemaistemerofoojui-
Chrifto a Çcus Difcipulos , zo dos homens, que o jui-
que os naó temaó , Ne ti-^ zo de Deos, porque o juí-
mtieritis eos ? Sim . Logo fe zo de Deos he juizo de hu
o juizo de \^ç.ç>s he o íegu- fó dia ; o juizo dos homês
ro , que nos dà o mefmo he juizo de toda ávida,
Deos para naó temer os Todos os dias para os que
juizos dos homens, bem fe
concluc, que o juizo dos
homens he o formidável ,
&oquefedeve temer, &
náo o de Deos neílas cir-
cunftancias. O dos homés
temerfej porque quando
menos pode fer falfo,& in-
jufto j 6c o de Deos efpc-
rarfefem temor 5 porque
fempre he juíi:o,&: redo.
\ 5 IX.
,_ -:.^ . •■ •■
74 ^ I ^Udoifto ficou
j[ jà convencido
com as razoens, que pon-
deramos antes de refpon-
der a eíla replica: reílando
muitas outras, com que fe
podia provar 5 & amplitl-
Tom. 7.
vivem entre os homens ,
fao dias do juizo.
O juizo de Deos ha de
fer em hum fó lugar j o jui-
zo dos homens he em to-
dos os lugares \ julgaóvos
na cafa , . ^ julgaóvos na
rua i julgaóvos na praça, «Sc-
julgaóvos na Igreja 5 jul-
gaóvos na Cortej&julgaó*^
vos no monte 5 julgaóvos
no mundojSc julgaóvos na
Religião s julgaóvos em
todos os lugares, onde ef-
tais, &: nos lugares , onde
fiaó cftais , também vos
julgaó : Emfim para o jui-
zo de Deos ha de irão vai-
le dejofaphat todo o mu-
do i para o juizo dos ho^
mens todo o mundo he
F valk
m.
1.!
Í-M
m
■A
,• '"ir'
8 2 Sermão dafegunda Dominga
valle de Jofaphat. vir a julgar os vivos , & os
Ojuizode Deos come-
ça a julgar defdos annos do
ufo da razaó por diante : o
juizo dos homens muito
antes do ufo da razaó jul-
ga, & condena. Digaó-no
as lagrimas de Rachel, &
o fangiie dos Innocentes
dejBethlem. Faltavaólhe
cinco annos para o alve-
drio, & baíláraólbe dous
para o cutello : Ab imatUy
Ma^th. ^ infra.
75" Ainda depois do
ufo da razaò wàò nos j ulga
Deos mais , que as duas
partes da vida j porque a
terceira parte, que nos le-
va aquella morte quoti-
diana, a que chamamos fo-
i\o>comonaóhe capaz de
peccar , nem de merecer ,
naó a julga Deos. No juizo
dos homens naó he affim j
nem dormindo nos izen-
mortos : os homens no feu
juizo julgaó os vivos, jul-
gaóos mortos, & julgaó
os por nacer.Naó vos lem-
bra a hiíloria do cego de
feu nacimento , a quem
Chrifto deo vifta ^ ainda
naóera nacido,&jà o fa-
ziaó peccador : Í)tfw/W, loann. ■
quispeccavít , hic , aut pa- ^'^'
rentes ejm<i ut c£cus nafce-
r^r«r.?^ Deos julga fomente
do fadbo, os homens atè do
impoílivel.
Antes do dia do juizo
verfehaó muitos íí^^ísilu^^,
Eruntjigna m Sole^ & Lw^^. '
na : mas notai a diíFerença.
No juizo de Deosjos fmais
dizem com o juizo : no
juizo dos homens, o juizo
naó diz com os íinais. No
juizo de Deos dizem osíi-
naiscomojuizo , porque
os finais faó de rigor, & o
tamos de fua jurdiçaó: juizo herigurofo: no juizo
Dormindo eftava JolèpU doshomens, ojuizo nam
quando fonhou, & porque diz com os íinais , porque
Crnef
97 '9-
íbnhou o condenarão a
morte feus irmãos : Ecce
fomniator 'venit , venite oc-
cidamus eum.
Deos no feu juizo ha de
os íinais íàó de amizade,&
ojuizo he deodio: Vede-o
em Judas, os íinais eram
abraços , & o juizo trcico-
cns: Tradííor aut cm dedit^ ^'l\.
eis
Mtmh.
do Advento. 8^
essfignum : qnemcunque oj- mes, fendo os homês a meí--
culatusfuiro , ipfe efi^ tene^ ma mudança,por mais que
te eiim. hòs nos mudemos, nam íc
Deos no feu juizo , he muda. Mudoufe a Mag-
verdude, que ha de lançar dalenaj&no j uizo deChri-
os homens ao Infernojmas fto ficou fanta j mas no juí-
zo do Farifeo taó pecca-
dora como dantes era :
^oniampeccatrix eft.
No juizo de Deos ave-^
ha de fer dizendolhe mui-
to clara, & defcubertamê-
te; Ite malediãi in tgnem
^ermm: os homens nam
fazem aílim no feu Juizo : mos de fer julgados pelos
eftaõvos dizendo : Venite Mandamentos j quéguar
i?"
Ibi4.34-
benedtãh Bemdito,6c bem
vindofejaisj^ no mefmo
tempo eftaóvos metendo ,
& defejando debaixo do
Inferno.
Deos julga como Juiz >
oshomêsjulgaó como ju-
diciários : entre o JUÍZ5& o
judiciário ha efta differen-
ça, que o Juiz fuppoem o
cafo , o judiciário adevi
nha-o. Quantos vemos ho*
je julgados, & condenados
por adevintiaçaó : naó pe-
lo que íizeraó , fenaó pelo
quefe adevinha, que ha-
verão de fazer!
dou os Mandamentos pô-
de cftar feguro : no juizo
dos homens naó aproveita
fuardar os Mandamentos,
'izeftes O que vos manda-
rão, & muito melhor do
que volo mandarão , & fo-
breiílbfois julgado, &có-
denado. Comoaíèm-ra-'
zaó hetaó moderna, nam
ha exemplo delia nas Ef-
crituras; telohaó os vin*
douroSjfe o crerem.
Deos julga a cada hum
pelo que he , os homens
julgaó a cada hum pelo
quefaó. Mais claro. Deos
-j^ O juizo de Deosjfen- j ulganos a nos pôr nòs : os
do Deos por natureza im* homens julgaónos a nòs
mutável, fe nòs nos có ver- por fy. Donde fe fegue
temos, & nos mudamos ,
mudafe : o juizo dos ho-
que para feres bem julga-
do no j uizo xi e \^^^^ , ba lia
F ij que
84- Sermão da fegunda dominga
quevòslejais bom -, mas tecido nelle, oquefucce-
para feres bem julgado no
juízo dos homens , he ne-
ceílarioque ninguém feja
máo. Terrível juízo, em
queparaeunaófahir con-
denado, he neceílario que
todo o mundo feja inno-
cente !
NojuizodeDeos bafta
fer bom no ultimo infiian-
te da vida, para fer eterna-
mente bom: no juízo dos
homens , baila fer máo em
qualquer tempo da vida,
para fer eternamente máo.
Sefoílesbom,&foís máo,
julgaóvos mal pelo que
fois : fe foftes máo, & fois
bom, julgaôvos mal pelo
que foftes j & fe fois, &: fo-
lies fempre bom, julgaô-
vos mal pelo que podeis
vir a fer. Ha juízo taó cruel
comoefte ! As culpas em
profecia^ Sc o Profeta em
prifoens : Joannes in viu-
culísl
77
5. X.
Enho acabado
T
parece que me tem acou-
deaosmáos Médicos , &
aos máos confelheiros. O
máo Medico encarece a
enferm idade, Sc naó Ihedà
remédio: o máo confelhei-
ro exagera os inconveni-
entes, & naó dam eyo com-
que os melhorar. O oíficio
de Pregador também he
decurar,&:de aconfelhar.
Tenho encarecido a en-
fermidade , tenho ponde-
rado os inconvenientes»
tenho moftrado a ceguei-
ra, a fem-razaò, a injufti-
ça, Sc a tyrannia do juízo
aos homens , mas que he
do remédio para nos li-
vrarmos defté juízo ? Se-
não ha remédio, ainda he
mais temerofa efta ultima
circunftancia , qiie todas
as que atè agora temos có-
íiderado. Verdadeirame-
te, difficul to fa, Sc impoíli-
vel coufa parece, achar re-
médio para efcapar do juí-
zo dos homens, fendo tan-
tos, taó livres, Sc taó teme-
rários.
78 Mas ouçamos o
querefolve nclla matéria
o todo Podcrofo com fa-
bcdoria
bedoria infinita : Nolne julgiíe tambeíft à nòs : Lf-
jumcare^ ut nmjudiceminh : gemfrius ipfe pojmjih /2"w* ^
*/>/ f «i? ^»iw judicio judie d" rins de his 5 qu£froximus
^eritis , judicabimini. Se* peccavetit^judicando'. por-
naó quereis que vos Jul- que fe nòs julgarmos còM
guemi; naõ julgueis, pòr- benignidade -aos noífòs
íjiíe com o meíino jui'ZD> próximos, também Deòs^
Cbm qu€ julgardesjfereis nos' julgara benígnamen*
julgadoSvÈfíaff ntença die ^ tè /^>^âs fe nos o^ julgar-
Cferifto Senhor noflb:, ou túq^ fèvefamentey també -
(c pode entendeu dojm^^ - eHenos julgara c6í€\^eM^^^
dos homens para coni as * d-áde. De forte, q no juizo
hõníens, oã do jiiizo; dê^l díí^Ekos para corai os Í10- ^
Deos para - com^^Iles^^.- Se'i nífen^ êíla regra lie geralf í
feelitender do juizo de femexceiçâo : porém no
Deos para com o» homê^ , ■ juizo; dos fioniens para gó >
he'ablôluta, &^nivtírfàt^? dsílíoftiefí^têm tãé^polK^
ráèfi^e verdadeira : mas fc' ctrtezIyneníPáindáí^prtíb^- '
féentender do juizo dos ^
hóitíéns p^ra* com OS ho-
mens, naô. Donde fe tor-
na a confirmar onifa , &
n^iii vezes, que mais rigu-
rbfojôc mais para teníer he
o juizo dos homens, que o
de Deos. No juizo deDeos
para com os homens he
fempre verdadeira j por-
^je,:c<í>nio altamente diííe
èjoaó Chryfoftomo 5 o
juizo com que nòsnosjul-
gamosJiiins aos outros,he
ley, que puzemos 1 Deos,
paraaucelk por:Cila nos
"' ■;!.; ^ Tom. 7.
biiidad€,qu^atèxí) mefmo *
Ghriflo, íèndo^ taó benig- -
no em julgar, oz perdoar a
todos, naô efcapou de fcr;,
taó injuílànYente julgado >'
& condenado por cUes.
SeChrifto, fuma Innocé-
cia, teve hum Anàz, hum
Gayfaz,hum Pilatos ,. &•
humHerodes, que-ojul-
gáraó,6ccondenára63 quf
homem aVerà taó innbcê^
tc,&jun:o, que por cftes
quatro. Juizes naó tenha
quatrocentos, que í o jul-
guem;^ condenem? •
Fiij Com
m
.í|v|
S6 Sermão da fegwndalHmin^
75> . iÇ^!^ (Eudo.çft;^-. LuciícE. Selmftt Scrafioit
mefrti^; f^,ntfòn^a7 ». vcainda.-; fcQaòatrevea jirfgar hurw ^
qu^. uniíriErftlriieíite ;n4Q Etenxonio, camo fe ha deí
}ie<íertai),^ juizo dQs ho^- atrever htmi homem a juk.:
raens para com ^s ho- gaí outro homem 1 i
niensxppr dídlanje a^tu- 8a Se queremos jdUr
rald^raz^^ poí^^fppovi- garweniosos olhos par*j
déc,í^parCÍcMlar€teDeo3,-i a parte díí. dcntra.^ que-
muitas y^zes Je vçrigca: aioda-xisal , -porque tanso
nelles, Rolitej^caréy & acharemos que julgar, quc-
nofijudkahimmincliteeo-i-^^cmímtm i, & que conde- ^
demnarei &im^ condemno^- nar. Senos julgarmos fes».
^/w/wi. Naé>j.ulgui?is.,* ^., paixaóanps,. eiLvospror
naQ.fereis jul^tdos : =nam t meto, que tenha bios tantoé.
condeneis j ôc naó fereis . que merySí tanto qucpa^-
conden^dqs., .Sabeis porr mar ^qii*. naó no&£que > >
quem;ui,t^3 veze^r fomo^ , nem t^tiapo. vnern: animo
julgados^ & taô injuftamé- para jdgar a òtiáreffv. O 2^-
te julgados ?^ Porque tan- Ghriftã<^j por reverenciai
tas vezes famos Juizes 5 & de I>eos,pclo que deve- '
injyftinimos Juizes : .por- mos^ a Chrifto , pela obri-
qjuJgaifi asobr^s ^Iheas, gacajoq^e temos a n<Díras
pof4irp:iíGp iu-lgaõ as vof- - almas „ que íej^ o fruto
ft$|fti)|-á:^^;- porque julgais defteSermaó ÉQiner muiro
as palavras alheaA, pofií^ hiamjiiizotemera:no ,naò
fo .vos julgaó as voíTaspa^ Çíymco^ 6m qucfomos juL-
iavxas: porque juigaiçâtê' gados» queifíb naô he euU
os penCiiuentos a^lheo^!,/ panoíIÀjo^aío jtiizo, em
poriírovoSÍulgiVÕ3.&, vo^ quenòs^jtiJgamos, que hc
condenag, ate o que-BL^na, a. laoíTa condenação. Inquo
vo$ paíTbu pelo penfamé- ; alterum jndicas , te ipfum ^^ ^<>-
to. D;iz S. Tiago na fua cendemnas, diz S. Paulo : í',
Canónica,, que S. Miguel Quando julgamos os ou-
fenaó atrevco a julgar a tros,condcnamonos a nòs.- .
Kquan-
nun.>.
E qiiantos condenados ef- ^es tro|)eça . a charidade ,
.feô hb]^ ãb inferno fó p©r cm quctáó gravemente 'fe
tu juizo Demerario ! Deos cmbaraçâo' tiS confcica-
pút. liíâ. tóiTcficox^diâ àos culs , em que taó perigofa-
JOrviít'&eítim.efcandaloco- áncntcfe^pcrde a graça^^c
do efte raó fac^ljôc t^or- ^^com^filifJi Gloria,
Aa^á^em^ctantaire- '\^;^ _, ^>i,
> ^.
'^^JÍ
iá:„
!..,t^x
■■■■•' U^J-
^o^ ■ '"*
Mi:
i:
... *|j^'
;^is
'¥
SERMAM
DA TERCEIRA DOMINGA
DO
ADVENTO-
Tmquises? quid dimdeteipfo> Joaacap.i
Ambem hojç te-
mos juizo^, 3c he.!
íjà eííe o tercét-'^
ro. No primetr^J
Sermaó vimos o ]\irLo^dé
Deospara có os homens:
no fegundo o juizo dos ho-
Jnens huns para cora os
outros ; nefte hoje, que he
o tcrceirojveremosojuizo
de cada hum para comíl-
go : 77/ quis es? quid dicls de
{^/^?.. Contém eítas. pa-
lavras hila propoíla , ou
emhaixada, que fizeraó ao
Baútiftaos Sacerdotes^ &
ITévitas 5 mandados pelo.
fupremo Concelho Ecclc-
fiâíiico de Hieru falem :
quéfèm dizer: Tu quis es y
Vòs quem fois ? Qutddicis
deteipfoyQaç: dizeis de vòs
mefmo? Eíla queftáo de-
termino tratar > porque
fendo matéria gravillima ,
& ác grande importância
cm qualquer parte do mú*
do, em Portugal he ainda
ao
Sermão daurceirà dominga do Advento, h9
aoprefente mais grave 5 & o gue faó,& outca coufa hé
G que dizem * Ninguém ha
neíle mundo , qire fe def-
creva com à fua definição :
todos fe enganaó no ge-
mais importante
S2''T^Uquises Prfmddí-
X dsdeteípfo^Apri'
meira coufa, em querepá-
rOjhejqueefte^ Embaixa-
dores de híia pergunta íi- que fois ! E opeor he, que
nero5& também násdiíFe^'
renças. Que diíFérentes
cóufas faó drdinariamen^
te o que dizeis de vòsj& o
zerao duas. 'queftocns :
Hiaó perguntarão Bauti-
lta,quemera5 &: para iíto
parece que liaftava ^ízer,
Vòs quem fois? E eííes dif-
feraó, Vós quem fois ,&
Vòs quem dizeis que fois?
muitas vezes naó £ió cóu-
fas differentes : porque o
qucíbijSjhe nenhua coufa 5.
êf o que dizeisj faó infini-
ta^ coufa s. Neíla matéria
deves quem fois , todo 0
Homem mente duas vè-
Tu quis es? qmd dicis de te zes , húa vez iti enteie a fy,
'^ ^ , . , &ou^a "v^^: mentenos a
Víòs : mentefe a fyjporque
fempre cuida mais do que
he : & mentenos a nos ,
porque fempre diz mais
do que ciíí da . Bem diílih-
guiraõ íogo os Embaixa-
dores o Tu ^uis es-iácy^id
grandes noticias do mun- dkisdeteiffq j & quando
do. Quandç>hiaô faber do Hiaó perguntar ao Bàuti-
Bautifl:a,;quem era,, per- fta o que era , perguntarão
guntaóihe. Vos quem fois, o que era, & o que dizia ^
gc Vos quem dizeis que porque ninguém' ha ta6
tpj o r Ora os E m baixadp-
res naó eraó homens de ca-
pa, & efpada , fenaó cà do
foro da igreja: Sacerdotes^
•ir Levitas^ mas el 1 es fáí-
láraó muito difcretamen-
te, & entenderão o nego-
cio , coráo quem tinha
fois j porque qs . homens ,
quando teftemunhaó de
iymefnaos^ h& CQuía he
re£to jmz de fy mefmo ,
qiieyoiidiga o que he, eia
fej^arO que di2:. . ,
m
T-lÍM
Tob.y.
1$.
Ibid.
. 83 . Encrpu cx Anjo Ra- jos naó ha geração jlcíios
fàel xfaliar com p velho
Tobias cm trajo de ca^-
nhancci ou ainda de çarai-
aheiro;& antes de/Tobias
entregar o ■ fijlio ao Anjo
para aqneila peregrinação
taó fabida, fezihe cfta per-
gunta: Rogo te^ndica mihiy
de qua domo^& de qua tribu
es /í^ ? Por V ida vofla , que
me digais, de que famiJia ,
& de que triòu íqís, A
Anjos náóhi^;, nçnjpódc
haver pay , & fiiho •, co-
mo dizo 4njpRafael,que
he filho do grande Ana-
niás ? Apoôpeu^ que elta-
yaagpni^çuidílndo algué,
que para c|içarccimento
do meu ariíimpto havia cu
de dizer, que em .matéria
devòyqiieih fcis, ate os
Anjos mentem. Naó digo
eu eíres.arrpjamentpSyCÍte
pçr^nta verdadeiramen- lugar he de verdades foií-
teeraparaembaraçarhujm das. Os Anjos náò podem
Anjo > mas a reppfta foi
notável : Ego [um Azarias
. Anani^ magni filius. Eu
íou Azarias fiiho de Ana-
nias oMagno.Como í^^dif-
leflèmos de Carlos Mag-
^o, dePompcpMagnOjdc
Alexandre Magno. Ha tal
repoUadehum Anjoi Èçi
Peosha pay^.ôc filho ; nos
jhomens,& nos animais ha
pays,& filhos ; nas meíinas
mentir, ne 01 errar (^Fallo
dos bons. } Masagora ^ca
a diificúldade mais aper-
tada. Pois íe os Anjos naó
podem entender 5 nem di-
zer contra a verdade, co-
mo diz p, Anjo Rafael, quç
he filho do grande Ana-
nia5? Variamente rcfpon-
dem os Doutores à duvi-
da j eu o farei .com huipa
comparação. Entra hum
plantas ha feu modo tde comediaqte no teatro rç-
gcraçaó :fó nos Anjos , de prefentando a Lúcifer j &
todos os viventes do mun-
do Q entrando o cr ca do, âc
pincrcado^fó nos Anjos
naó ha geração » nem pay ,
nem filho. Poi&iènosAn-
'4
batendo com o Tridente,
começa a fulminar blasfé-
mias contra Deos; Entra
outro reprefcnrád© a Ne-
ro > ,(5f UnMido íi ^,ípada%|
mah-
çãs,&"quc cóSraõ' rios^ de ^^mofeôfork^ ^
fangue Cliríftãô pòr Ro- i " 8^ Séjã^^ráímilnícr
ma : Sae oittro "réprefèíi- fiador dcíla minha repo-:
randohum Gentia^y & eri-í fta7 Aparecerão a^ Abrá-
cônf rahdo IMà eftktita cíé hàrri no viiíe de Mambré^
J qpiteri próftrafc pOr tèr^ ' três AnjóSr Mmí de íítòior
ra, t>àte hòs péiMs, Ôc oífe- authofidade5a quem elW
réce ificfenfo. Pergàrt to adorou, & outros dotis me-
âgora : ^qfuélíè primeiro noreS,<jueo acompanha*
homeiii hè 'tílasfèníò.^a- váÕ.È conto Sara mulher;.
queíleTeguiidòhòniemhè de Abraharii foífe eííeril,
tfrannò ? àqueíie terceiífo pròm^teolhe o A njo priít- '
homem he idolatra? Cíaro^ cipal, que datli a hum aít^
ertá qiiè não : o primeiro^ noíj pbf aquellc mefmo té-
líáóhe Wasfefiio,aindaq-ue pòtorriafia 3 fe Deos lhe
ífiibíasTcmias jporq^àe el- déiíe vida, & que jàeTitaó
IchaõhéLuciftírifazíígu?* ^ teria Sara hurn fflho :Í?<?-^
ra de Lúcifer : ò icguncfo' vértens vemam adie Sem- Os^cC,
rtíphetyrannó', ainda que- pohijioy vitOrComitè^ ò^hd-^^^]^'
míinda matar Chriftáos 5 bebitftlhim Sara uxor tuà.
porque èífe háío hé Mero , Que m averà, que naó rê- '
fa^ figura d^'N^rB:Ò ter- pareMquelle,^///«r^?;z»/f(f3
céírò líao héldolatra, ain- íe eu ft>r vivo^j dito por hu^^
da <5[uc fè á^oeffia dilte:d4 Ah}o ? E nao lo fallou;^ ^
e^atuii dejupiterjpvorqiie , Anjo por eftes termos hya
elfènao be tíéhtiç, íitê
gura dè Gentio, Ó mermo
3i|odionoffocar0; 05lh-
jo naom èritio , nem pôde
men tiriainda que diíTehu -
veíz, fenaó duas : porque '^ ■
pondo Safa duvida àprò*-
meíTa 5 tornou élle á fatifi* \
car a fua palavra, dizendo: J
Juptta rondiãum revertar
ma coúfa , ^ P^^^Ç^ ^^ ^^^^ ^^ tehoc eódem tentggreyvi
da verdade; porque elle _ /^rí?;»//^.PQÍsíe os Anjos
naÒ era íiomemjfozià^fígu- por natureza Ía6 immor-
taesí
í M
":\
[A
'••i!
„í
)*^M'
$ii: . , . Sermão daièfceira H^omingâ
taes, 5f a Tua vida por ne- o Anjo Rafael iia repofta,
nhum acontecimento po* que deo a Tobias. Fazia íi-
de faltar ^porque promete - gura deíiomem,&' para fa-
efte AnjO) naó abfohita, zer bem afigura j hua vez
íenaõ condicionalmente,
qiíè tornará dalli a hum
annojfeforviyo, vita co-
mité^ A x^z^ò^ riaó fó hu-
mana, mas Angélica, foi ^
que lhe perguntarão , A^ò^
qúemfois ? naó havia de
dizer,o que eí"a , havia de
dizer,o que nam era j Scaf-;
Hm o fez ; porque nam Iva;
porque eíle Anjo,&: os ou- propriedade mais própria
tros dous, como declara o dos homens, que pergun-
Texto , aparecerão a A-
braham em figura de ho-
mens , apfaruerunt et três
njiri : & elle os tratou, 8c el-
les fe deixarão tratar em
tudo como homens, acei-
tando a fua raefa,& os ou-
\ tros agafalhos da hofpeda-
gem. E porque os homens
prudentes na cófideraçaó
da incerteza , 6c contin-
genciada morte , quando
prometem algua coufa de
futuro, acrecétaó, fe Deos
me der vida j por iíTo o A n-
jo acrecentou a mefma
còáiQ^o ^ vít a com te-^ipov-
que naó fallava como An-
jo, que era, fena 6 como ho-
mem,cuia figura reprcfcn-
tava. Do mefmo modo, &
com "a mcfma , &: amda
maior propriedade faliou
tadosoque íàó , dizerem;
hiia coufa, 6c ferem outra.
E notai, que vindo o Anjo
veílidoemhum pelote, 6C;
reprefentando hum cami- ^
nheiro , parece que era
mais natural dizer,que era
filho de hum lavrador, ou ,
de hum paftor daquelles
campos íôc com tudo naó
diíTefenaó , que era filho
de Ananias o grande 5 por- ,
que naó ha homem de pè .
taó de pè, nem caminhei-
ro taó caminheiro, que fe
lhe perguntarem donde,
vem, naõ'diga que vem là .
do grande Ananias : Ego
fum AnaniíC r^ãgnifdius.* < ; r
8+ Allim como To- '
biasao Anjo, aílim pcrgú-
táraò hoje os Sacerdotes,
6c Lcv itãs ao ilaun íTa : 'lu
quis
uis es ? E que refpon deria naó o podia dizer em conf-
aquelle grande Varaó ? ^í
confeffus eft^& non nega-vit\
■ ^ confeffus eft: quta non
fum ego Chnfttis : E confef-
fou, 8c náo negou, 8c con-
féílbu, que naó eraelle o
JMeíIias. Em coda a fagra-
da Efcritura naó ha tal
modo de falíar como efte,
Repetio o E vágelifta três
vezesamefma affirmaçáo
ciência^ porque feria pec-
car na mais grave matéria^
que ouve nunca no mun-
do. Pois porque repetem
tanto os Evangeliílas ,&
porque exageraó tanto to-
dos os Santos, & Doutores
da Igreja efta acção do
Bautiftra > Porque he ta6
naturai aos homens cuida-
rem mais de fy-jdo que faó^^
("dizem os Doutares^por- & dizerem mais de íy , do
que lhe pareceo , que fora jque cuidaó, que não negar
taó grande coufa confef-
fàr o Bautifta , que nam
era o Meíllas, quefeodif-
fera menos vezes,nem elle
fe acabara de explicar, nê
nòs acabáramos de o crer.
Ora a mim nunca me pa-
receo efta acçaó do Bauti-
fta taó grande como a fa-
zem . Que havia de fazer
o Bautifta, havia de dizer,
que era Meíllas? o Bauti-
fta nem o podia cuidar có
razaó, nem o podia dizer
emconfciencia:naóo po-
dia cuidar com razaó^por-
que elle íabía mui bem,
que era do Tribu de \ut\'\ ,
&queo Meíllas havia de
fer do Tribu Real de Jiidà:
o Bautifta a razaó, 8cnan^
atropeiiar a confciencia,
nefte cafo, íè tem pela ma-
ior de todas as façanhas
humanas. Que lhe pergu-
taftem a hum homem .Tu
quis es ? E que eftiveíTe: em
ília mio dizer, que era o
Meíllas, & que o naó fizeA
fe ! diga-o três vezes o E-
vangeiifta, para que acabe
de o crer a fé: Et confeffus
eftyò' nonmgãvit : & con*
feffus eft: quia non fum ego
Chriftus,
8f
E
§. IIL
Míimos Embai-
xadores fe torm-
ra6
m
I
'■■■'l
m
('•'
;*•''
Ifaice
3Í-4-
ífaise
9.6.
Mala-
3.
94* , Sermão datercciraT>ommga
raó do deferto fem acha- pennisejus. Outro
quem lhe diíTeíTe,
rem
que era o Meílias. Mas po-
voado fci eu donde elles
iiãohaviáo delev^r a em-
baixada de balde. Se os Sa-
cerdotes , 6c Levitas de-
fembarcáraó em outras
prayas, ôcvierão pelas ca-
ias mais altas perguntan-
do, Tu quis es ? como he
certo^que a poucos paílbs
havião de achar o Meílias.
E aonde ? húa legoa de Be^
lem, íem fer em Paleílina.
Hum havia de dizer, que
elle he o Meíliasj porque a
ellefedevea noíTa redêp-
cão : Ipfeveniet^&falvabit
nos. Outro havia de dizer,
que clle he o Meílias 5 por-
que fobre feus hombros
carrega todo o pcfo da
Monarchia : Cujus impe^
rium Juper hnmerum ejus.
Outro havia de dizer, que
elleheoMeíHas i porque
ofeu confelho he o noííb
Anjo da guarda: Et voca-
biturmagni confilij Ange-
íus. Outro havia de dizer,
que clle he o Mcíliasipor-
quen-ifua pcnna cóíiítca
noíTafaude : Etfanitasin
havia
de dizer , q çiút hc o Mef-
fias 5 porque a paz, que ef-
tes annos fe gozou , foi
fruto da vara defuajufti-
ça : Erit in diebus ejus ju* Pfai.
Jtitiiiy & abundmtta paris. ^'
Outro havia de dizer, que
he o Meílias 5 porque ellc
heoDeosdas armas, que
comfeu valor nosfuílen-
ta : Vocabitur nomen ejus
^eusfortis. Só naó havia
de haver quem diíTeíTe,
que era o Meílias, por fe
apreflar aceleradamente a
vencer, Ôc tirar defpojos^
Voe a nomen ejits^accelera , 8^.3.'*'
feftina ^fpolia detrahere }
porque ainda que às guer-
ras nos inclinamos com
grande valor , àsvidorias
caminhamos com grande
madureza.
8^ Por todas eílas ra-
zoensme parece, que ha-
via de haver maior demã-
da na noíTa Corte fobre o
MeíHado , do que a ouve
entre os A poíloíos fobre a
maioria. E vcrdadeiramé-
te, que fc vem hoje muitas
couías daquellas , que os
Profetas antigamente de-^
ra6
7í
ão Advento^ pf
raopor linais dos tempos queíeílzerão para ferir^fe
Ifaiaí
doMeíTias. O Meílias, di
zem osProfetas^que hayia
de dar olhos a cegos, pès
a mancos 5 limpeza a Ic-
profos, & vida a mortos :
Túc faliet pcut cervus clau-
dus 5 ò* aperta erit lingua
mutorumy&c. E todos eP
tts milagres vemos em
iioílbs dias. Quantos ce-
gos vemos íioje có olhos ;
quantos mancos 5 & para-
líticos poftos em pés j quã-í
tos aleijados com mãos, &
com muita mão j quantos
leprofoslimposj & quan-
tos mortos, ou que deve-
rão eílar mortos , & íepul-
tados, rerufcitados,&: com
vida ? Pois o poder,em cu-
ja virtude fe fazem eíles
milagres , como fe ha de
ocupão em fegar : em tè-
po, que as caixas tocáo a
marchar, & as tropas mar-
chão a recolher -, & em que
os defpajos, que havião de
ornar os templos, & armar
os aimazens comuns > en-
chem os celleiros particu-
lares i como não ha de ha-
ver quem fe jadbede Mef-
íias > Dizem mais os Pro-
fetas , que no tempo do
MeíHas, os montes fe hu-
miiharião, &fe enciíeriaó
os valles : Omrús valUsini' rraiaj
plebitur^é* omnismonr^Ò''^^''^
callis humiliabitur. Oh
quantos montes, que em
tempos paííados tocavam?
com o cume as Eílrellasjfe
vem hoje, ou já fenão vem
de humilhados , & abati-
negar de Meílias ? Dizem dos ! E quantos valles pelo
mais os Profetas , que no contrario pouco ha taò hu-
tempo do Meílias as lan
ças,8c as efpadas fe fcó ver-
ifais 2. teráó em fouces : Confia-
* bunt gládios fuos in vame^
res^éy lanceasfuas inf alces.
E em tempo , que ou por
beneficio da paz prefente,
ou por efquecimento da
guerra futura a as armas.
mildes, hoje tao levanta-
dos3& táo cheos í E a for-
tuna,que fez eftes altibai^
xos,oufeja deíigualdade^
ou fe chame juíliça, como
fenão ha de ter por fortu-
na de Meílias ? Dizé mais
osProfetas, qtie no tempo
doMeíilasvivirião os lo»
bes
W
<? (> Sermão ãa terceira T>ominga
bos juntos com oscordei- muita femelhanca mal en-^
"'11
'ii-
^ !l! !í
• t ; u.-I
ros,&queoleáo, & o boy
feruílentaríaó do mefmo
mantimento : H^bitabit
u^lz II. Inpus cum agno^ & Is o qnàfi,
bos comedet paleas. Se os
lobos náo foílem tão fa-
6.7
tendida acertara de fe nos
converterem tentação. E
porque naÓ íio tanto de
noíTa modeftia , como da
de S Joaò Bautifta y faiba
cada hum5& defenganefe,
gazes em defpintai; a pel- por mais que fe pinte ma-
k, com os olhos fe podéra raviihofonofeu conceito,
provar hoje o comprimé-
todefla profecia. Ainda
mais que dos lobos, me te-
mera eu dos leoens com
palhas na boca. Mas quan -
doharquem domeílique
leoens a que fejaó animais
de prefepio , os authores
deílas induftriasjou deíles
milagres, porque náo pre-
fumirião de Melllas P
87
§. IV.
Am ha duvi-
da , que tem
N ._
grande analogia a noífa
era com a do Mellias , &
que parece podem com-
petir os milagres Q náo di-
go os vicios 3 dos noflbs
tempos com as felicidades
dos feus. Mas pelo mefmo
cafo, que fc parecem tan-
to, não quizera cu, que a
que lhe falta para MeiTias
a condição principal. E
qual he a principal condi-
ção de MeíTias ^ He aquel-
la, com que o deíinio,& íi-
nalou Deos,quando o pro-
meteoa Abraham : In fe- Gcnef.
mine Uio benedicentnr om- ^^•'^*
n^s. No Meíllas, que naf-
cerdevós , feráóabendi-
çoados todos. Se tendes
benção para todos , dou-
vos licença,que entreis em
prefumpção de Mellias:
mas fe tendes benção para
huns,&: para outros não,
defpedivos delle penía-
mento.
88 Qiiandoo Anjo
anunciou à Senhora, que
haviadefcr mãy do Mef-
fias, acrefceutou cilas pa-
lavras : T>a,yit illi T)o7ni' f^"c 1.
nus ''Deus fedem 'Danjídpa- '''
íris ejns , à' regr. avit m do-
ão Advento'.
mo lacoh m aternum. Dar-
llieha o Senhor Deos o
trono de David feu Pay, &
reinara na caía de Jacob
para fempre. Neíta ultima
claufula reparaó com ra-
zão todos os Interpretes,
porque diz o Anjo , que
reinará o Meífias na cafa
de Jacob,6c naó na cafa de
Abraham , ou na cafa de
Ifac ? Se Abraham, & Ifac
naó foraó Reys 5 também
Jacob naó teve Cetro, nê
Coroaj antes Abraham foi
vencedor famofo de cinco
Reys , que em certo mo-
do he mais que fer Rey.
Ifac,& Abrahaó eraó mais
antigos que Jacob : & a
promeíla do MeíHas foi
feita a Abraham , quando
acabava de embainhar a
cfpada daquella grande fa-
çanha do facrifício de
Ifac : pois porque naó diz
o Anjo,que reinará o Mef-
llasnacafade Abraham ,
ou na cafa de Ifac,fenaó na
cafa de Jacob ? Vede a ra-
zaójque he altillima. Na
cafa de Abraham ouve
dous íilhos,Ifac,& Ifmael-,
mas para Ifac ouve ben-
. ,. Tom./.
9y
çaó, para Ifmael naô ouve
benção. Na cafa de Ifac
ouve outros dous filhos,
Efau,& Jacob > mas ouve
bençaõ para Jacob, & naó
ouve bençaó para Efau.
Na cafa de Jacob pelo cõ-
trario ouve doze íiihos;&
foitaó abédiçoada aquel-
la cafa, que para todos os
doze filhos ouve bençam.
Por iílb pois diz o Anjo ,
que reinará o Meílias na
cafa de Jacob, & naó na ca-
fa de Ifac , nem na cafa de
Abraham 5 porque o Mef-
íias naó he como Abra-
ham, nem como Ifac, que
tem bençaó para huns,
6c para outros naó : he co-
mo Jacob, filho de hum,
& neto do outro, no qual
fecomprio a profecia, &
teve bençaó para todos :
Infemine ttio benedicentur
ííwwí-í. Soquem teve ben-
çaó para todos os domuu-
ao,foi verdadeiro Meílias
do mundo : & fó quem ti-
ver bençaó para todos os.
de hum Reyno, fera ver-
dadeiro Meílias àú\ç..
8p Se. lançarmos os
olhos pelo noíTo na muda-
.1-
,, > ',v í :
-'$
Geneí.
49 9.
17-21.
■ fi-
i427-
í S Sermão da terceira T>ominga
ça,ou fortuna prcfente, hum bençaò de Leão, a
iiaó me atreverei eu a pro- outro de Lobo,a outro de
var, que todos tem ben
çaó, mas que tem bençaó
muitos mais daquelles ,
queocuidaó j as mefmas
bençoeiís de Jacob nolo
faraó evidente. Chamou
Jacob a feus filhos para lhe
deitara béçaóa todos an-
tes demo rrer 5 &: he nota
Jumento ? Sim : & era pay
quem as dava, &: eraó fi-
lhos os que as recebiaó:
para que fe entenda, que a
diverfidade das bcnçoens
naó argue deíigualdade de
amor em quem as dá, fe-
naó diíFerença de mereci-
mentos em quem as rece-
vel a difFerença de pala- be. 7\ Judas,que tinha va
vras,&: comparaçoens, có lor, &: generofidade, dafe
que ícz efta ultima cere-
monia. Chegou Judas , &
deolhe bençaó de Leaó :
Sedens aecubutfti ut Leo\
chegou l<lQ^t2M y Sc deo-
lhe bençaó de Cervo ; Ne-
phthaliCervtis emiJJus:c\\Q-
lhe béçaó de Leaó : a NepH
tali, que tinha preíleza,
mas naó tinha valor , da-
felhe bençaó de Cervo : zt
Dan, que tinha prudência,
mas tinha peçonha, dafe-
Ihe benção de Serpente : a
gou I>an,& deolhe bençaò Ifachar , q tinha forcas,&
de Serpente: iv^/^^D^^jiCí?- naó tinha juizo, dafelhe
kiber in ma-, chegou Jfa- bençaó de Jumento: a Bé-
ehar,& deolhe bençaó de jamin, que tinha oufadia,
JnaiQnto: IJJ achar Afinas mas junta com voracida-
fortts: chegou Benjamin, de, dafelhe bençaó deLo-
& deolhe bençaó de Lo- bo. Náoeílãomuibemre-
boi^í^?^'^;?^/» Lupiis rapax. partidas as bençoens? Que
Valhanie Deos , que deíi- haverá que o negue ? Mas
gualdade de bençoens ,
húas a huns taõ altas, &
outras a outros taõ baixasf'
A hum benção de Serpen-
tCjôca outro dcCcryo?A
fabeis porque ninguém ef-
tà contente com a fua ben-
çaó ? Porque a todos Falta
oconhecimcto do Tu quis-
fj.Conheçafc cada hum, &
c;íta-
ão Advento. 99
eftaràó -contentes todos, ior bença5,qiie poder mo-
Conheça o Leão, que he
Leaó: conheça o Cervo,
que he Cervo : conheça a
Serpente, que he Serpen-
te: conheça o Lobo, que
he Lobo : conheça o Ju-
mento, que heJumento,&:
logo eftaràó contentes.
rar nos Palácios dos Reys?
No mar contenteíe a Ré^
mora, com fer Rémora; &
que maior fortuna , que
fendo tamanina, poder ter
mão em húa nao da índia?
Na terra contêtefea For-
miga, com fer Formiga: &
Mas como todos fe cegaó que maior fehcidade , que
no juizo de fy mefmos, to- ter o ceileiro provido para
dos querem bençaó fora o Veraó , & para o Inver-
Cenef
X.22
da fua efpecie.
po No principio do
mundo deitou o Creador
a fua bençaó aos animais,
& às plantas: Benedixit eis.
'■^ Diífelhesatodos, quecre-
ceíTem : Crefcite^ & multi-
pite amirâi mis ViQX.2. a Ef-
critura, que tudo iíto foi
Sectindumfpecies fuás : ca-
da creatura conforme a
fua efpecie. Contentefe
cada hum de crecer den-
tro de fua efpecie ; conten-
tefe cada hum de crecer
dentro da esfera do talcn-
to,que Deos lhe deo; & lo-
go conhecerão todos , que
tem bençaó, cada hum no
feu elemento. No ar con-
tentefe a Andorinha, com
fer Andorinha : &; que ma-
no ^. Mas por todos os ele-
mentos fe adoece de ma»
lencolia 5 porque nenhum
fe contenta com crecer
dentro da fua efpecie : a
Andorinha quer fobir a
Águia : a Rémora quer
crecer a Balea: a Formiga
quer inchar a Elefante.
Porque as Formigas fe fa-
zem Elefantes , naó baila
toda a terra para hum for-
migueiro. Nas plantas te-
mos iguaes exemplos de-
flre engano, & deita verda-
de; A arvore mais anãa he
maior que a erva gigante.-
& com tudo de quantas
coufasaquentao Sol, ne-
nhiia lhe he mais agrade-
cida, que eíla erva. £it£àQ
que o Sol naíce, atè que fe
G ij põem.
(
"00 Sermão dateneiraT>bminga
põem, vai fempre a erva em tanta aJcura !Se o Ci-
dlir/^'°'"Pr"'''"^°° Preftelàdecima olhara
r^m . í"."'/eg"'"do-o para o vulgo das plantas,
com tanta inclinação , & & ainda p^ara a nobreza
adorando-o com tanta re-
verencia , como vemos.
Poiservaílnhado campo,
4 agradecimentos ao Sol
faó eaes ? NaÓ vedes tan-
tas arvores,& tantas plan-
tas, que recebem do Sol
tanto mais, quevòs > pois
das arvores, que lhe íicaó
abaixo 5 elle vivera naó fó
contente, fenaó ainda fo-
berbo. Mas o Ciprefte lá
do alto deícobre os Ce-
dros do monte Libano, &
comove, que a natureza
os fez torres, vive elle def-
-porque lhe haveis vós de contente de fer pyrami-
ler a- mais agradecida de de. Como cada hum fenaó
todas? Forque me meço mete,& fenaó mede den-
dentro da minha esfera, tro da fua esfera,ainda que
Conheço,quefouerva,& fejaCipreí^e, que tantas
acho que ninguém deve vezes vè feus troncos fo-
maisaoboi, que eu, por- bre os altares, nam pôde
que me fez gigante das er- viver contente. Naó digo,
vas. Se cada hum fe medi- quenaó trate cada hum de
racom os compaíTos da crecer, mas conheça cada
fua esfera, ô quantos fe ha- hum o que he : Tu quis es >
viaade achar gigantes! & depois creça conforme
Porqtie vos haveis de d^Ç, a fua efpecie : Secundum
contentar da voíTa ben- fpeciem fuam
çaó, porque haveis de fer pi Defenganemonos,
ingrato ao Sol, fe vos fez que o crecer fora da pro-
gigante das ervas > Nam pria efpecie, naó he Íur-
digo bem : fe das ervas vos mento, he monílruoílda-
tez gigante .í> Oh quantos dej ao menos bença-Q nam
gigantes ha defagradeci- he. Húadascoufi" áx^nrxs
dos ! Muito he de notar a de reparo, que tiveram as
triíteza de hum Ciprefte bençocns dejacob a feus
filhos,
iô Advento'',
filhos, foi a bençaô de Ru- podeis
ben,&: dejofeph. A Jofeph
deoihe Jacob por bençaó,
que creceíTe : mlhts accref-
cens Jofeph ^filhis accref cê s\
a Ruben deoihe Jacob
por bençaó, que naó cre-
ceíTe ; Ruben primogenitus
^^'^^'meusnoncrefcas. He poíli
Gènef
101
crecer por creci-
nlento, crecei cora a ben-
ção de Deos : Filius accref*
cens : mas fenaó podeis
crecer, fenaó por crecen^
ça, tende por benção o naó
crecer : Kon crefcas. Co-
nheça cada hum a fua esfe-
ra ; Tu quis es 5 & acharáé
vel, que também hum non todos, ou quafi todos, que
crefcas^ç^ál porbençaó! ttmhç:viçpib:lnfeminetu0
HepolIivel,que também
pòdefer bençaó o naó cre-
cer ! Diga-o a Lua j ne-
nhúa bençaó fe podia dar
à Lua mais vcnturofa, que
o naó crecer. Porque fe-
naó crecéra, naó mingua-
ra. A quantos tem fervido
o demaíiado crecer , nam
de bençaó, fenaó de mal-
dição ! Mas porque razaó
em Jofeph he bençaó o
crecer , & em Ruben hc
bençaó o naó crecer ? Os
procedimentos, & as ac*
çoens do mefmo Ruben 3
&do mefmo Jofeph o di-
gaó. O crecer nos que o
merecem, he crecimento 5
o crecer nos que o naó me-
Tecem, he crecença : 6c o
crecimento he grandeza, a
benedicentur omnes. Com
efte conhecimento acaba-
rão de entender , que tem
entre fy o verdadeiro Mef-
íias , como diíTe o Bautiíla:
Medtusveftrumfietit quem ^^^^""'^
vos nefcitis : Sc deixaráó de
o ir bufcar aos defertos,
onde o não ha : Et confef"
fuseft^&non íiegavit^ quiã
nonfuntegoÇhriffus,
'Pt
"I "\ Efejiganados
os Embaixa-
dores , de que o Bautifta
naó era o MeíHas 3 foram
por diante com a queílaó
do Tu quis es : Sc pergunta- íoannii
raó fe era ao menos í^lias ; ^*'
Elias es tu ? Sois vós por
crecença he fealdade. Se ventura Elias íAíj vezes as
i
' •■'■li II
ti;
•■f.
II'
tf
J^:
a>id.28
^^2 Serma$daterceira^ominga
menores tentaçoens,prin- ninguém he Elias como
cipalmentc em gente ef- cu.Ao menos na prefump-
crupulofa , faó maisdiífi- çaõeu volo concedo Sò
cultofas de vencer, que as iíTo me parece, que tendes
maiores ; mas a conftancia de Elias : cuidar que nam
do Bautifta de todos os
modos era invencivel. Af-
íim como à primeira per-
gunta refpondeo, que naó
crsíMciTias: Non/um ego
ha outro Elias, fenaó vos.
Dizia Elias antigamente:
Ze/o zelatus fum pro 'Do-
mino T>eo exercituum , é*
reliõíusfum egofolus. Eu fó
'9 »4-
Chnjius-, alTim refpondeo fou o que zelo a honra de
àfegunda, que naó era fi-
lias : Nonfum. Que tem
iremfe bufcar as coufas
onde as naó ha! Diz o Tex-
to que : Hac faãa funt
trans lor danem : que iílo
aconteceo da banda da-
lém do Jordaó. Se vieram
os Embaixadores da ban-
da daquem do Tejo , eu
vos prometo , que elles
acháraó a Elias. Tu quis es>
Vòs quem fois > Elias es
tu: Sois por ventura Elias ?
Por ventura?& diíTo íe du-
vida ? pois quem he o E-
lias fenaó eu? O meu zelo
do bem comum; o meu ze-
lo da Fé,& da Chriílanda-
de ; o meu zelo do ferviço
do Rey ; o meu zelo da có-
fervaçáo ,&augmento da
pacria. Se fer Elias he iílo.
Deos, todos os outros faó
idolatras, & naó tem Deos
no mundo mais q a mim.
No mefmo dia, em que fi-
lias diíTc ifto, lhe moílrou
Deos, que tinha na mefma
terra fetemil, que nam
dobravãoo joelho diante
de Baal: Tierelmquam mihi
tnlfraelfeptemmillia viro- j^^^fg^
runty quorum genuanonfunt *'* * *
tncurvataanteBaal. Quã-
do Elias cuida, que naó ha
outro filias no mundo, co-
mo clle, ha quando menos
fetemil. Cuidais que fois
hum homem unico; &na6
lo fois homem de dúzias,
fenaó de milhares, ou de
milheiros : ha fete mil co-
mo vòs, & pôde fer que
melhores.
í?3 Naó fe queixará
Elias
j
do Advento, i«5
E'íasdelhe medifffios o ]^roho2im ^, Ecce ega fcin-
feuefpiritopelafua capa, damRegnum de mcmu Sa^^^^^^
poiselle aíHm o fez. Ora lomoníSy& dabo tibi decem
Tribus, Affim ò diíTc
cotejemos a capa de Elias
com outra doutro Profe-
ta, quaíi do mefmo nome,
CAhias}5c verá Elias, o
quefe reputa por único,
quanto vai de capa a capa,
dcefpirito a cfpirito , &
de zelo a zelo. Encontrou-
fehúavez Ahias comje-
o
Profeta, &:aílim foi \ por-
que o Reyno áos doze
Tribus fe dividio em Rey-
no de Ifrael, & Reyno de
Judà. Mas vamos àcapa.
De maneira que Ahias an-
tes da divifaò dos Rey nos
tinha a fua capa muito no-
roboamCentaóera criado va, & muito fáa , depois
de Salamaô , & não Rey) que os Reynos fc dividi'
& trazia o Profeta naquel- raó anda com a capa feita
lesdias húa capa nova ;
Tallium fuum novum , diz
o Texto Para que naõ cui-
deis, que he malicia repa-
rar íia novidade das capas^
o mefmo Elpirito Santo
Author das Efcrituras, re-
para nertas novidades.
Emíim Ahias tirou a fua
cm retalhos. Oh quantos
vemos veftidos hoje coin
o aveço da capa de Ahias í
antes da divifaô dos Rey-
nos traziaó a capa em re-
talhos, depois que os Rey-
nos fe dividirão , trazem
húa capa muito nova , &
muito íaa. Pois por certo
capa nova dos hombros , que efta era a occaíiaó, em
puxou logo de hãas tifou- que as capas fe haviaó de
ras, cortou húa vez , cor- fazerem retalhos: hum rc-
tou outra, atè onze vezes , talho para cobrir o folda-
com que ficou a capa divi- do, que anda defpido 5 ou-
dida cm doze partes : & tro retalho para veftir o
diíTe, que do mefmo modo
fe dividiria o Reyno de
Salamáoem doze 7 ribus,
dos quaes os dez feriaó de
orfaó,cu jo pay morreo pe-
lejando na campanha j ou-
tro retalho para fazer híía
mantilha à viuva, que por
G iiij zelo
i
lí
1»fal.68
^^4* ^ Sermão da ter cetra dominga
zelo da pátria chegou a ti- dtme ! Vos cftareis comi-
raro manto, por naó faltar dos do zelo , ma» eftais
à decima. Que diz agora muito bem comidos. Ha
^\i^s> ^áddicis deteipfo> huns a quem o zelo come,
Cortaftes algú dia algum &: ha outros, que comem
retalho da voíla capa .? Ti-
raftes algum fio deIla?Cal-
iar. Eis ahi os voíTos zelos.
Mas vamos aos noílbs.
5>4 Jà eu me conten-
tara com que os noílbs ze-
lofos 5 ou zeladores foíTem
como Elias. Todos dizem,
ciaremos as capas, mas o
menos avarento he o que
guarda fó a fua. Quando
Elias fe partio para o ou-
tro mundo, naó teve de
que teílar mais, que da fua
do zelo. E por onde fe hao
de conhecer huns, & ou-
tros ^ Tomandolhe as me-
didas pela cintura. Se o ze-
lo vos come a vòs, a voílà
fuftancia convertefe era
zelo 5 & fe vòs comeis do
zelo, o voílb zelo conver*
tefevos em fuftancia. Oh
quantos zelofos ha , que
todo o feu zelo fe lhe con-
verte em fuftancia .' To«»
memfe as medidas, como
dizia Roboamj & acharfc-
capa, que deixou a Elifeo. ha, que fois mais groíTo
SeDeos hoje quizeííe le- hoje pelo dedo meminho,
varpara o Paraifo -terreal do que éreis antigamente
alguns dos valentes Elias pela cintura. Bomí provei-
do noíTo Carmelo , para to vos faça o zelo , quetaó
depois pelejarem com o bemfevoslof^ra : final he
Ante-Chrifto > eu vos pro-
meto, que fe quizeíTem fa-
zer bem , & verdadeira-
mente feu teftameato,que
haviaó de teftar de ameta-
de das capas do lugar. E
entaó muito comidos , &
muito carcomidos do ze-
lo : Z^his domuj^ tm come-
que o comeis vòs a elle, 6c
náoelleavòs. Mas, ou o
voífo zelo coma , oujejue
(^ que me naó quero meter
niílbj 3^o menos vcnha-»^
mos a hum partido. Se o
zelo naó ha de comer, je-
jue cm todos, U fe ha de
comer , coma de todos :
feia
,.-^<
porque
Deos lhe entregara na mao
as chaves das nuvensj mas
hiaorigor por diante.Tu-
doedavafeco, mas as en-
tranhas de Elias mais que
fejao voíTo zelo com vof- diar facilmente
co,& com os voíTos , como
com os demais, & naó ha-
verá quem fe queixe del-
le.
Pf Zelofo Elias con- .
tra ospeccadosdo povo, tudo. Que fe portaíTe com
chegou a tal extremo, que efte rigor hum Profeta^
dLÍTe eftas palavras : Ftvit naó me efpanto 5 que a que
^omims,incujusconfpe5fu conhece bem a graveza
3-^^§- (loSieritTos , aut pluvia. dospeccados, todo o ca-
-^•'" Vive Deos, em cuja pre- ftigo, que nao he o eterno,
fençaeílou , que nam ha lhe parece muito pouco,
de chover do Ceo, nem Oqueme efpanta he>que
cair húa ^ota de orvalho
/
íbbreeftamà terra. Aííim
o jurou Elias , &: aíTim o
Gomprio, porque tresan-
jios inteiros eííiveram os
Ceos como Te foíTcm de
bronze, fem os abranda-
rem, nem os clamores dos
homens, nem os balidos ,
£c mugidos dos animais in-
fiocentes,que paftavaó pe-
los campos, & pereciaó de
íede. Secáraofe as fontes ,
fecáraofe os rios , & atè as
lagrimas fe fecáraò : fendo
circunftancia cruel de ca-
lamidade , naò poderem
chorar o mal os mefmos
fofrefíemoshomens a E-
lias. He pòíTivel, que fe ha
deeílarabrazando o mun-
do,^: que tenha Elias em
fuamaó o remédio, & que
o naó queira dar! He poíli-»
veUquefe eílejà abrazan*
doo mundo, & que naní
querendo Elias dar o re-
médio , que tem em fua
mao, que fofraó os homês
a Elias .^ Sim : Sabeis por-
que o fofriaò ? Porque ain-'"
daque Elias tinha as cha-
ves, tanto fechava as fon-
tes para íj > como para os
demais. Os outros eílavao'
neceílItados,&: Elias anda-
que o padeciaó. Tudo iílo va mendigando j os outros
ria EUaspodendo-o reme- eílavaóa pótodemorrer»,
9
ioc> ^'erma^ daterceiraT)õmingA
& Eliasvivía de milagre j decantodo Ceo ha decó-
os outros íccavaófeà fede, pararfeao Inferno? Si m^
& bhas abrazavafc&mir- náo conheceis as virtudes
rayafe. Mo fi in,que hefer do Inferno. Sabeis porque
zelofo. Mas que na voíTa fe compara o zeloao In-
cafa corraó as fontes , Sc
qu e ,nas ou trás fe fequ em í
Que fobre as voíTas feáras
chovão as nuvens a rios,
& que fobre as outras fira o
Solarayos ! lílo não he
ferno > Porque o Inferno
he hum fogo, que a nenhu
bpmofFende,6ca nenhum
mio perdoa Mas o fogo
do voíTo zelo naó he a íli ni :
entreosmáos té feus pre-
zelo. Se o tempo pede que dellinados,a quem nao to
haja Sol, fequ em fe todos: ça , & entre os bons tem
^ifolemfmim oririfacit
í^4j.^" J^perbonos,& maios. E fe
herazaó que haja chuva,
moihemfe todos: Sluipluit
fitp^rjuflosy & Jnjuflos. E
feo mefmozelo diclar , q
entre os máos,& bons , en-
tre os juílos, &osinjufl-os
haja differença i haja diífe-
rença,masfeja qual con-
vém : o mal carregue para
osmáos, masfeja p;>.ra to-
dos os máos: & o bem in-
cline para os bonsjmas feja
para todos os bons. Eíía
he a cudiçaó do verdadei-
Cant 8. ^^ ^^'í^- '■^^''rf jlCUl infcT-
6. VMS £mul(itio : d i z b E fpiri-
to Santo : que o zelo he co-
mo o Inferno. Notável có-
feus precitos,a quem abra-
za. Ohri^ormais que in-
fernai ! Não vos digojà ,
que fejais como os Santos
doParaifo: ao menos nim
íerciscomoofogo áo \n-
ferno.^Eenrao muito pre-
fados de Elias \ quando
muito tereisafua capa. fi-
lias foyfe para o Ceo , 5c
deixou a Elifco a fua capa.
0 zelo foyfe, 5c ficou a ca-
pa do zelo. E quantas mal-
dades fe cometem debai-
xo deita honrada capai
9í> Levou Dco.s huoi
diaemeípiritoao Profeta
1 zechiela Hicrufa.em ; 5c
o que vio o Profeta foi húa
parede, ou fach:ida, em
|>ara<jao! O zeio hua virtu- que cílaya hum ídolo do
zelo;^
^Pi^
2clo: Eteeceiâolum zeliin fa Ezcchiel a terceira pa
Ezeck ipfo tntroitu. Cuidas tu E-
' ^" zcchiel, diz Deos, que naó
ha aqui mais,que o q appa-
rcce j ora rompe eíTa pare-
de , & verás. Rompeo a
rede : Et ecce quafi viginti ibid>t#
quinqueviri dorfa habentes
contra templum 'Domirú : &
vio vinte & cinco hom ens»
que eftavaó com as coftas
parede Ezechiel, entrou , viradas para o Templo do
6c vio háa cafa, em que ef- Senhor : Et fácies ad Ori
ta vaó pintadas pelas pare-
des cobrasj lagartos , baíi-
lilcos, lerpentes, & outros
monilroshorriveis, & no
nieyo fetenta homens de
omturibulosna
entem , & adorabant ad or^
tumfolis : E todos eftavam
com os olhos poftos no O-
riente, & com os joelhos
em terra adorando ao Sol,
quenafcia. Eis aqui o que
Deos moílrou a Ezechiel ,
cans, que
maó os incenfavaó : Et
feptuaginta viri defeniori- &oque paíTa no mundo,
^^it.\. bus domns Ifrael , ftantmm ainda que fe naó veja. Se
antepiãarns^ Ò* unufmif-
te habebati thurthuívím tn
mariufim. ,idiáre,diz Deos
a Rzechiel. PaíTa Ezechiel
outra parede : Et ecce fede-
bant rttidier^s plangentes
Adonidem & vio muitas
mui heres aílentadas , que
cílavaó chorado por Adó-
nis. Sabida he a fabula, ou
ahiíloriade Adónis^ & as
gentilidades,que nafcéraó
de Aia gentileza : & por ef-
teefta vão chorando verti-
das de luto , & defgrenha-
das. Por diante, Ezechiel,
diz Deos terceira vez.Paf-
olhares aos homens para
as primeiras paredes, nam
vereis mais, que hum Ído-
lo do zelo : taô zelofos, &
taó zeladores , que pare-
cem huns idolatras do ze-
lo : mas detrás deíla pare-
de do zelo, que he o que fe
faz. ^ Huns eílaó chorando
por Adónis : outros eftao
adorando o Soi,que nafce :
outros eílaó incenfando
Altares prohibidos 5 êc
muitos ainda mal com as
coftas viradas para o Tem-
plo de Deos. Por fora nam
ha mais que zelo; mas àtw-'
tXQ
i
tro ha cobras , & lagartos ; voífos diícurfos fao vatí-
W^
loànn.
I.2I.
ha baíiliícos, & ferpentes ;
ha monftros, & monftruo-
Hdades ; ha coufas , que cf
taó fechadas a três pare-
des. Elias por fora, idola-
trias por dentro. Se ouvef-
íe quem rompcíTe pare-
des,© quantas coufas havia
de ver o mundo í Efte hc o
zelo, eíles fao os zelofos ,
eílesfaó os Elias : Elias es
tu.
§• VI.
f P7 /"^U vida a repo-
V-Zíla do Bauti-
íla,quenaó era Elias, in-
flarão terceira vez os Em-
baixadores , 6c pergunta-
rão : Tropheta es tu .^ Jà que
náo fois Elias, ao menos
fois Profeta > A efta per-
gunta refpondeo o Bauti-
lla ainda mais feca,& mais
abreviadamente : Kon :
Naó. Jàfabeis, que have-
mos de fazer a mcfma per-
gunta nano íla terra, ^tro^
pheta es tu ? quiddicis de te
ipfo ? Vos, que tantas cou-
fas dizeis de nòs^ fois tam-
bém Profeta ? -Frophetajé*
flusquam '^ropheta. 0$
cimos: as voíTaspropoíI-
çoens faó revelaçoens : os
voíTosdiííramesjfaó profe-
cias : os voflbs futuros na6
tem contingência : o que
fucede depois he tudo o
que diíTeftes antes : tendes
intelligencias na fecreta-
ria do Efpirito Santo : naò
fe decreta la coufa jque fe
naó regifte primeiro com
vofco. Baila iílo ? Ainda
tendes mais. Se fe tratam
matérias de efl-ado, fois hú
Profeta Daniel : fe fe tra-
ta5 matérias de guerra,
fois hum Profeta líaias : fe
fe tratáo matérias dé mar ,
fois hum Profeta Jonas : íe
fetrataó matérias Eccle-^
fiaílicas, fois hum Profeta
Ezechiel: fe fazeis adver-
tências aos Reysjfois hum
Profeta Nathan : fc cho-»
rais as calamidades do po<
vo, fois hum Profeta Jere-»
mias : fe pedis focorros ap
Cco, fois hum Profeta Ba-
ruc : &-fe tendes algum ia*
tereíIe,como tendes mui-
tos , fois hum Profeta Ba-»
Iam. Muitas graças fcjam
dadas a Dcos; que nos dea
táiitos Profetas
idade. Nao debalde efbão
pronofticadas tantas feli-
cidades ao noílo Reyno.
Não poderá elle deixar de
fer muito gloriofo , tendo
dentro em fy tantos , &
taes Profetas. Chriílo Se-
nhor noíTo nafceo entre
dous animais, morreo en-
tre dous ladroens5&: trans-
figuroufe entre dous Pro-
fetas : entre dous animais
efteve pobre ; entre dous
ladroens efteve cruciíica-
do } entre dous Profetas
efteve gloriofo.Tenhaó os
Rey s, Profetas ao lado , &
elles teráó feguras as fuás
glorias. Mas que Profetas?
Moyfes5& Elias : hu mor-
to, outro vivo, mas ambos
do outro mundo. Ora jà
que importa tá to ao Rey-
no o ter Profetas ; exami-
nemos o TrophetaestUy &
vejamos por onde fe haó
de conhecer os veriáadei-
ros Profetas.
p8 Primeiramente ad-
virto, quje os Profetas naó
fe haó de conhecer , nem
avaliar pelo numero. Ain-
da que íejão mais os que
ão Advento] lop
na noíTa dizernhúacoufa, nempor
iíTo fe haó de ter por Pro-
fetas. Ouvi húa grande hi-
ftoria do terceiro livro dos
Reys. Havêdo três annosj
que ElRey Acab eftava
em paz com todas as na-
çoens viíinhas , entrou em
penfamento fe iria fazer
guerra a ElRey de Siria,o
qual lhe tinha tomado a
Gidade, & terras de Ra-
moth Galaad. Para ifto
chamou Confelho dePro-
fetas,&: diz o Texto fagra-
do,que fe ajuntarão qua»
trocentos Profetas : Con-
gregavit Rex IfraelTro- ?• Re^
pbetas ^quãdrmgêtos circi-^^ '
ter vir os. A propoftafoi ef-
ta: Ire debeo in Ramoth Ga-
laadadbellandum , an qui^
efeere ? Devo ir fazer guer-
ra a Ramoth Galaad , ou
aquietarme.^ E a razão da
propofta era .* ^n ignora- ^^^ ^
tisquòdnojira fit Ramoth
Galaad:,^ negligimus tolle^
reeam de manu Regis Sy-*
r/>.?Queas terras de Ra-
moth erão daquella Co-
roa,&que parecia negli-
gencia naó as recuperaré
da mão dos Sírios. Ouvi-
da
Mi
TIO Sermão Ja terceira dominga
da^propofta, & a razão Ihcaconfelhavaõaguerrat
d^lía , refpondéráo todos
os Profetas a hCia yqz^ que
fe fizeíTe :i guerra , q Deos
daria a Sua Mageftade vi-
toria : Afceme , &: dahit
ibid.ó. eam^ominusin mamitua.
Com eíle boai anuncio
dos Profetas refolveo A-
cab de fazer a guerra j.mas
para entrar neila com ven
quefoíTe eile também cia
mefma opinião, &: que fal
laífe ao goílo : Sn f ermo- 'bid.i^;
tuusflmUís eorum-i ò* loque- ''^*
rebona. Que refponderia
Micheas ? (.) que deve fa-
zer em femelhantes cafos
todo homem de bem : A^/-
iJit T>om'muSy qum quodcu^
que mtht dlxerit T>ominus ,
Ibid. 8.
tagem, pedioa KlReyJo- h^cloquar. Vive DeoSjque
faphat leu confederado, não hey de dizer outra
que o quizeíTe ajudar na
emprefa. DiíTeJ o faphat,
queíim: mas que fe ou-
veíTe algum Profeta do Se-
nhor, folgaria queocon-
fultaíTem também. Ref-
pondeo Acab, que alli ha-
via hum Micheasjhomem,
a quê elle aborrecia mui-
to, porque fempre lhe fah
lava contra o gofto, 6c nu-
ca lhe profetizara bem :
Remanjit vir uniis ^fed ego
adi eum-, qtiia nonprophetat
mihi bonum , fed maltim.
Levoufe logo recado aMi-
cheas, qucvieííe, &:diz o
Texto, que oqncdeoo re-
cado didca Micheas, que
coufa, fenamoque omef-
mo Deos me inlpirar, & o
que entender em minha
confciencia.
^9 Finalmente che-
gou Micheas à prefença
dos Reys : propozfelhe o
cafo : relpondco, q fe nam
fizeíFe a guerra, porque fe
havia de perder o Rey, &
o exercito. Notável eiicó-
tro de Profetas ! Qiie \os
parece , que devia fizer
Acabnefle cafo, por húa
parte qiiatrocentos Profe-
tas,qae aconfeJiavaó, que
íizeífe a guerra, &: por ou-
tra hum Profeta, dizcnda
queanaóíizeíre ? Keíbi-
fuppolto que ElRey tinha vco ElRey Acabo que cu
q^u a trocécoi) Profetas, que Ihcaconfclhára nas circu-
^ , Ihincias
do Advento] iii
ftancias prefentes, ainda formem os Reys, quanta
que fora da opinião de Mi
cheas. Mandou, que fe ii-
zeíTe a guerra j &: iílo por
três razoens. Primeira,
porque havia muitos an-
nos, que eílava em paz
com todos os Principes
viíinhos: &: quando as ar-
mas eftaó defembaraça-
das, Sc ociofasjhe bem que
íè empreguem nas glorio-
fàs emprefas. Segunda,
porque as terras de Ra-
moth Galaadpertenciaóà
fua Coroa : & as terras da
Coroa haõ de fazer os
puder fer, com o fcncimê-
to comum. Sòpor eíla ul-
tima razáo (^ quando nafn
ou vera outras 3 aconfelhâ-
ra eu a Acab , que nas cir-
cunítancias prefentes fí-
zeíTe a guerra: & iftoain^
da depois de ouvir a Mi-
cheasjem cujo parecer nao
aviarifcoj porque os di-
dames práticos devemfé
mudar todas as yQztS:> que
fe miidaó as circunftan-
cias. O Medico, conforme
ôs preceitos da arte , man-
da que íe corte o braço en:^l
Reys o poíílvei^&o impoP cànceràdo , porque fe fál^^
fivel, porque naó eftejaó veocorpo j mas fe o en-
em mãos de inimigos. Ca-
da torraó das terras con-
quiftadas, ÇqÇ^ eípremer,
ha de deitar muito fangue
de vaíTallos, ôco que cu-
ítou eíle preço , naôfeha
de dar por nenhum preço
fermo repugna, & nam fe
acomoda, tem a medicina
outro didtainé pratico,, eo
que manda aplicar remé-
dios menos violentos, ain-
da que fejaó menos íegu-
ros . Conforme a eííe ái^
Terceira, & principal ra- <^arriefcguioElRey Acâb
zaó, porque ainda que as o parecer dos quatrocen-
razoens de Micheas fof-
íem boas, eílavaó pela ou-
tra parte quatrocétos Pro-
fetas, a quem parecia o có-
trario : & nas matérias pu-
tos Profetas, refolveo que
fe fizeífe a guerra ; tocaoíc'
as trombetas , marcha o
exercito , dáfe a batalha
fobre Ramoth : mas a pou-
blieas he bem, que fe eon- cas horas de peleja ficou o
exer
ml
Sermão da terceira l^omlngà
desbaratado , &
V li
t
1,1
í. VIL
100 ÇUppoftopois q
^os Profetas fe
naóhaóde conhecer pelo
numero, por ondefehao
de conhecer? Por três cou-
112
exercito
Acab perdido. Notável
cafo! Vede como faó áx-
verfos os fuceíTos , & os
juizos humanos j Ôc adif-
ferença que vai de Profe-
tas a Profetas. De húa par-
te eílavao quatrocentos
Profetasjda outra parte ef- fas : pelos olhos -, pelo co-
tava hum fó Profeta: o
Rey inclinou para a parte,
onde eftavão quatrocen-
tos, & o fuceíTo cahio pa-
ra a parte, onde eftava hú.
Por iíTo digo , que as pro-
fecias não fe haó de julgar
pelo numero. As profecias
chamãofe na Efcritura pe-
fo : Ónus Ninive^ Ónus Af-
lyrtte^Onus <iyEgyptL Pefo
de Ninive,quer dizer,pro-
fecia de Ninivc j pefo de
Aíliria,quer dizer, profe-
cia de A íllria -, pefo deE-
gypto, quer dizer, profe-
cia de Egypto. Os Profe-
tas haofe de pefar , náo fc
hão de contar. Os quatro-
centos Profetas contados
eraó mais que Micheas ,
Micheas pefado era mais
que os quatrocentos.
ração i & pelos fuceíTos.
Conhecemfeos verdadei-
ros Profetas pelos olhos >
porque o ver heo funda-
mento do profetizar. Os
Profetas na Efcritura cha-
mãofe Videntes : os que
vem. Sò os que vem faó
Profetas. Aílim como a
mais nobre profecia fo-
brenatural coníiíle na vi-
íaó: aílim a mais certa pro-
fecia natural confifte na
vifta. Sò quem vio pôde
profetizar naturalmente,
com certeza. E a razaó he
muito clara. A profecia
humana conliíte no verda-
deiro difcurfo 5 o difcuríb
verdadeiro naó fe pôde fa-
zer fem todas as noticias j
& todas as noticias fó as
pôde ter quem vio comos
olhos. Nenhfia coufa ouve
mais aílcntada na antigui-
dade.
T • ão Advento^.
dade,que fer inhabitavel a
Zona corrida : ficas razoêS)
com que os Filofofos o
provavaó, erão ao parecer
tão evidentes, que ninguê
havia, qiiôo negaííè. Def-
cobriraó finalmente os Pi-
lotos, & marinheiros Por-
tuguezes as coftas da Afri-
cajSc da America, & fou-
bérão mais , & fílofofáraó
melhor fobre hum fó dia
dê viíla, que todos os Sa-
biossôc Filofofos do mun-
do em cinco mil annos de
efpeculação. Os difcurfos
de quem não vio, faõ dif-
çuríbs : os di^bames de que
TÍo,faó profecias,
loi O outro final da
profecia he o coração 5
porque conforme cada
hum tem o coração, aífim
profetiza. Os antigos quã-
naó pronoftica melhor
quemmelhor entende, fe-
não quem mais ama. E eftc
coftume era geral em toda
Europa antes da vinda ds
Chrifto , & os Portugue-
zestinhãohíia grande fin-?
gul aridade nelle entre os
outros gentios. Os outros
confultaváo as entranhas
do s animais, os Fortugue-
zes confultavão as entra-
nhas dos homens. Afiim o
diz S tra b o no livro tercei-
ro: Lufit anis 'vetus mos erat
exintejiinis hominum ^^^^iib.y
f rofpicerey atque inde omu
na^iirdivinationes captare.
Era coílume dos antigos
Portuguezes (diz Strabo }
confultar as entranhas dos
homens, quefacrificavãoi
&■ delias conjeiturar , &
adevinhar os futuros. A
do querião pronofticar o fuperfliçaó era falfa , mas
futuro, facri fica vão os ani- aallegoría era muito ver-
mais , confultavãolhe as dadeira. Não ha lume de
entranhas, & conforme o profecia mais certo no
que viáo nellas , allim pro- mundo , que confultar as
npfticavaó.Nãoconfulta- entranhas dos homens. E
vão a cabeça, que he o af- de quehomens .^ De todos?
fento do entendimento,
íenão as entranhas, que he
o lugar do amor ; porque
Tom./.
Não : Dos facrificados. As
entranhas dos facrificados
eraó as que coníiiltavaó os
H aa^
i;;>?íi
Dear;
lb.2I.
I í 4 Sermão da t efe eira T>omtnga
nnn>o5f • primeiro faziam deiro Profeta • mas fe ò
quçelle di j3er
ofacriíicio, então conful-
tavaó as entranhas. Se queb-
reis profetizar os futuros,
confultai as entranhas dos
homens facriíicados: con*
fultemfe as entranhas dos
que fefacrificárão , 6c dos
que fe facriíicáo •, & o que
ellas diíTerem, iíTo fe tenha
por profecia. Porem con-
nao fuce-f
der, tende-o por Profeta
falfo. Náopóde haver íi-
nal, nem mais fácil , nem
mais certo. Sabeis a quaes
haveis de ter por Profetas?
Sabeis de quaes haveis de
cuidar, que acertarão com
os futuros ? aquelles de
quem tiveres experiência.
fultar entranhas de quem quetudo,ouquafi tudo, o
que diíTeraó antes 5 veyo a
íucceder depois. Eíle di-
dtame feguio Faraó com
Jofeph j Nabucodonofor
com Daniel , & todos os
Principes prudentes com
feusconfelheiros. Mas af-
íim como ha Profetas de
antes , aíTim ha Profetas de
depois. Ha muitos mui
prezados de Profet.Jí-^, que
depois de acontecerem os
máosfuceílbs, então pro-
fetiza© pelo arrependi-
mento, o que fora melhor
ter profetizado antes pelo
difcurfo. Efte foi hum dos
tormentos da Payxão de
Chriílo. i\tãraóaChriílo
hum pano pelos olhos, da-
vaólhe,comas mãosfi-
crílcgas na lagrada cabc-
iiaó fe facriíicou,nem fe fa
criíica, nem fe ha de facri-
ficar i he naó querer profe-
: cias verdadeiras : he que-
rer cegar o prefenre, <Sc não
acertar o futuro.
; 102 Oultimo-fmalde
conhecer os Profetas, faó
osfuceíTos. No Deutero-
nomio prometeo Deos a
feu Povo , que lhe daria
Profetas > &: o final que lhe
dcopara os conhecer, foi
fó cíle : Hoc vobisjignum :
quodTrv-pheta pradixerit ,
Ò non evenerit^ hoc Dorní-
nusnoneftlocutus'. Quando
duvidares de algum fe he
Profeta, ou não , obferva-
reisefta regra : Se o que
cUediíTcr antes, fuccdcr
depois,tcnde-o por vcrda-
ca
ss f)H^ !ííVí.í ^do Advento .. iSiWTiêi i r f
çaj&diziaôpor efcarneo, cUmmtis In deferto \ Eu
que profetizaíTe quem lhe íbu liúa voz, que cia ma no
dera : Trophetiza ^ nobis deferto. Verdadeiramen-
Matth. Çhrift esquis eft qiã te per- tenaó entendo eíla repo-
*'^*^^' cuffit. Profetizar depois de fta. Se os Embaixadores
levar na cabeça ^he profe-
cia de quem tem os olhos
tapados : heefcarneo da
Payxáo de Chriílo. Naõ
haveis de profetizar quem
vosdco, fenaó quem vos
pode dar j porque he me-
lhor reparar os golpes,
que curalos : & fe o fuceílb
nioftrarjquea profecia foi
certa, a quem a diíTer ten-
de-o por Vto^ztx.Tropheta
es tu,
'a®3 /^Ançados íínaíi
perguntarão , ao Bau tiíta
o que fazia, entaó eílava
bem refpondido , com a
voz , que clamava no de-»
fertoiporque o que o Bau*
ti fta fazia no deíèrto, era
dar vozes , Sc clamar ; mas
íe os Embaixadores perr
guntavãoao Bautiila quê
era,,como ihe refponde el-
le o que fazia ?R.efpondeo
difcretiílimamente.Quan-
do lhe pergunta vaó quem
era, refpondeQ o que fa^»
zia j porque cada hum he
o que faz , & não he outra
, ^ - ^ coufa. Ascoufasdeíinemf
V«> mente os Em- fe pela eíTencia : o Bauti-
baixadores de lhes refpó- íta definiofe pelas acções :
der o Bautifl:a,que naó era porque as acçoens de cada
Meílias,nem Elias, nem
Profeta > pediraólhe final-
mente, que pois elíes nam
acerta vaó a perguntar,
lhes diífeííc cUg quem çíra.
A eíla inftancia naó pode
xieixarde deferir o Bau*
hum faó a ília eíTencia. De-
finiofe pelo que fazia , pa-
ra declarar o que era.
104, Daqui fe enten-
dera hu a grande duvida.,
que deixámos atras de pó^
derar. O Bautiíla pergun-
tado fe era Elias , refpon-
tiíla.E que vos parecejque
joan. i. refponderia ^ B^ojum vox deo,que não era Elias: AV»
''^ H ij ftm
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rít:
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•7
Matt'-i.
1 1 I f
íi^ ^ Sermão da ter ceiraT^ominga
y//^. EChriftonoCapitu- outracouíli. Ohquegrari-
loonzede S. Marheos dif- de doutrina cflra para olu-
íè^queoBautiftaeraElias: garemqueeflranios í Qiiá-
Joannes Baptifta ipfe eft do vos perguntarem quem
Elias. Pois fe Chrifto diz , fois , náo vades revolver o
que o Bautiíla era Elias, nobiliário de voíTos avôs»
como diz o mefmo Bauti- ide ver a matricola de vof-
fta, que Hão era Elias ?Né fasacçoens. O que fazeis,
o Bautiíla podia enganar, iíTofolsj&nada mais.Quã-
nem^ Chníio podia enga- do ao Bautiíla lhe pergun-
naríe : como fe hão de có- táraó quem era , náo ái^^z
cordarlogoeftes Textos?
Muito facilmente. O Bau-
tiíla era Elias 5 & não era
Elias .'náo era Elias, por-
que as peíibasdeEiias,6c
do Bautiíla erão diverfas :
era Elias , porque as ac-
^oens de Elias , & do Bau-
ti fia erão as mefmas. A
modeília do Bautiíla dif-
fe, que não era Elias, pela
divcrfidade das peílbas : a
verdade de Chrifto aíHr-
inou,que era Elias , pela
-uniformidade das acções^
•Era Eiias , porque fazia
acçoens de Elias. Quem
faz acçocns de Elias , he
Elias: quem íizer acçoens
de Bautifta, fera Bautifta;
& quem as fizer dejudas,
fcràjudas. Cada hum he
que fe chamava João, nem
que era filho de Zacharias:
nãofe definio pelos pays,
nem pelo apelido. Só de
fuás acçoens formou a fua
definição : Ego vox cia-
mantts,
I o f Muito tempo ha,
que tenho dous efcandalos
contra a noíla Gramática
Portugueza nos vocábu-
los do nobiliário. A Fidal-
guia chamãolhe caíidade,
& chamãolhe fangue. A
caíidade he hum dos dez
predicamentos, a que re-
duzirão todtis as coufas os
Filofofos. O fangue he hú
dos quatro humores , de
quefccompoem o tempe-
ramento áo corpo huma-
no. Digo pois, quca cha-
as íuas acçoens, ôc.nam. he mada fidalguia aam he fó-
nien-
ãoAd'vento. iiy
mente calldade, nem fó- certos refpeitos: ha fidal-
menteíanguej mas he de guia, que he paixão 5 faó
todos os dez predicamen- apaixonados de fidalguia:
tos, & de todos os quatro ha fidalguia , que he ubí.^
humores. Ha fidalguia,
qucheíangue, & por iíTo
ha tantos fanguinolentos :
ha fidalguia , que he ma-
lencolia , & por iílb ha tá-
tos deÍGontentes : ha fi-
dalguia, que he cólera , &
poriíTo ha tantos mal fo*
fridos, & infofriveis : & ha
faó fidalgos, porque occu*
paó grandes lugares : ha fi-
dalguia, que he íitio5& de-
ílacaílahea dosTituIos,
queeílão aílentadossòcos
outros em pè: ha fidalguia,
que he habito 5 faó fidal-
gos , porque andaó mai^
bem vertidos: ha íidalguiâj
•fidalguia, que he fleima,& que he duração > fidalgos
por iífo ha tantos que pre-
ílaòpara taó pouco. De
maneira, que os que adoe-
cem de fidalguia, naó fó
•lhe pecca a enfermidade
no fangue, fenáó em todos
GS quatro humores. O mef-
por antiguidade. E qual
deitas he a verdadeira fi-
dalguia ?Nenhúa. A ver-
dadeira fidalguia he Ac-
ção. Ao predicamento da
acçãp he que pertence a
verdadeira fidalguia. Nam
5 — ^^ j^.
Fundador de Lisboa.
As
mo paífa nos dez predica- gems^ ^froavos , & qu£
mentos. Ha fidalguia, que mnfecimusipfi^ vix ea no-
hefuítancia 3 porque algús Jiravoco •, diífe o grande
naó tem mais fuílancia >
que a fua fidalguia : ha fi-
dalguia, que he quantida-
de ; faó fidalgos , porque
tem muito de feu : ha fidal-
guia, que he qualidade i
porque muitos naó fe pô-
de negar, faó muito quali-
ficados : ha fidalguia , que
herelaçaó^faó fidalgos por
Tom. 7.
apuáO-
vit iuin
Meçam.
acçoens generofas, &: nam
os pays ilíuftres, faó os que
fazem fidalgos. Cada hum
he fuás acçoens, & naóhe
mais, nem menos , como o
Bautifia : Ego vox claman^
th in defino.
Hiij f.IX.
■118
w
ri'
-irMi
'i
106
§• IX.
DEíla doutri-
na táo verda-
•deirâj&defta ultima con-
clufaó dó Bautifta , tiro
dous documentos , co'-ú\
queacabo: hum politico,
outro efpiritual. Digo po-
liticamente, que nas ac-
çoensfchãode fundaras
eleiçoens : Digo eípiritu-
almente, quèíiasacçoens
fe devem fegurar as prede-
ílinaçoens. As eleiçoens
ordinariamente fundaófe
nas ger-açoens5& por iílb fe
acertaótaó poucas vezes.
Não nego, que a nobreza ,
quando eílà junta com ta-
lento, deve íempre prece-
der a tudo 5 mas como os
talentos Deos he o que os
Sermão da terceiroTíommga
Profeta Ezechiel nò pri-
meiro Capitulo das fuás
reveíaçoens aquelle carro
mifl:criofo,porque tiravao
quatro animais, Homem,
Leão, Boy , & Águia .• no
Capitulo decimo tornou a
ver o mefmo carro com os
mefmos animais, mas com
a ordem trocada j porque
na primeira vifaó tinha o
primeiro lugar o Homem j
nafcgunda vifaó tinha o
primeiro lugar o Boy. No-
tável mudança! Que o Ho-
mem na primeira viíaó fe
anteponha ao Leão, ã A-
guia, & ao Boy, muito ju-
íto 5 porque o fez Deos fe-
nhor de todos os animais :
mas que o Boy , que foi
criado para o trabalho , &
dà,&naóos paysj naó fe para o arado, fe anteponha
devem fundar as eleiçoens a três cabeças coroadas: ao
nas geraçoens, fenão nas Homem, Rey do mundo,
acçocns. £fte didame he ao Leão, Rey dos animais,
o verdadeiro em todo o à Águia, Rainha das aves!
tempo, 6c muito mais no Sim: a razão literal , & a
prefente. No tempo da melhor,quedão os Expo-
pazpódefcfofrer, que fe fitoresjhceíla. Naprímei-
dcm os lugares às gera-
çoens > mas no tempo da
guerra, naó íc haó de dar
fcnão às accocns. Vio o
ra vifaó ellava o carro dé
tro do Templo 3 nafcgun-
da vifió fihio o carro à
campanha : Egreffaeft glo-
ria
dô Advento. ii^
r'ía'T>omini de limlneTem' voíllis acçoens. Se per-
pli : & quando o carro eftà guntarem a hum homem :
quieto , defe embora o 71?^ ^/j ^5? Quanto ao tem-
primeiro lugar a quem
melhor he, mas quando o
carro caminhajiafede dar
O primeiro lugar a quê me-
poral, em qualquer maté-
ria pôde refponder có cer-
teza : fc perguntarem a hú
homem \Tu quis í-j? Quan^
Ihor puxa:& porque o Boj to aaefpiritual , ninguém
puxava melhor» que o Ho- ha no mundo , que pofíà
Pctii
mem, por iííò fe deo 0'pri-
mciro lugar ao'Boy. Quá-
do o carro eftiver no tem^
pio da paz, demfe emÍDrora^
Gs ugares a quem melhor
for j mas em quanto o car-
ita eíliver na campanha 5.
Iiamfededar os lugares a
quem melhor puxar.
107 E aílim como po-
liticamente he bem, que,
nasacçoensfe fundem as;
eleiçoens, aílim efpiritual-
mente digo , que nas ac-
çoens fe haó de fegurar as-
predeílinaçoens. S.Pedro
na Epiftola fegunda .• Fra-
três fat agite , ut per bona
opera certam veftram voca^
tionem^&^ eleãionemfacia"
tis. Irmãos meus Ç diz S.
Pedro) trabalhai có gran-
de diligencia de fazer cer-
ta a voíía vocação , & pre-
deftinaçaó por meyo das
Ireíponder a eíla pergunta^
Cada hum de nós efpiri?
tualmemteheo queha de
íer : o que ha de fer cada
hum, ninguém o fabe : &e
aíTim ninguém ha,que po^
fa refponder com certeza
ã pergunta iTfá^ííii-^í ? A*
maior mifema , a maLOí
perplexidade, a maior a£«
íÍi:ção de efpirito , que ha
na vi da humana, he faber^
hu m ho mem , quse ha. dlc5
fer, ou eternamente ám^^^
fa, ou eternam ente iiafdá:-'
ce3-& naó faber qualdeftas?
duas ha de fer ; naó íàber
hum homem fe he preci-
to, ou fe he predeftinado.
A efte maior de todos os
cuidados, a efta maior de
todas as perplexidades
acode S.Pedro com o úni-
co remédio, que ella pôde
ter : Satagite^ utper 'vefira
H iiij y&m
i
m
12 0 Sermão da terceira "Dominga
bma opera certam veftram çoens , jà que nas noíTas
eleãwnemfaaatís. Se que- obras eftà depofitado hum
reis ter fegurança de voíTa thefouro tão grande, não o
predeftinação,a maior q sê percamos. Sata^ite.u^bz^
revelação fe pode terne- Ihemos por fegurar noíTa
lia vida^appellaipara vof- predeílinação. Aplique-
fasacçoens, & voíTas boas monos muito de veras à
obras : fazei obras boas, & obfervancia dos preceitos
ellai moralmente feguros, divinos : rompamos por
que fois predeftinados. tudo o que nos pode fer ef-
Eftehe o verdadeiro en- torvo, & impedimento:
rendimento das palavras conheçamonos, & conhe-
deS.Pedro : & aílim as ex- çamos o mundo , & feus
plica S. Thomás, & todos enganos : quebremos com
osTheologos. Oh quefe- húa grande refolução os
hcidade tão grande, que ]aços,&as cadeas,que nos
tenhamos nas noíTas obras detém , quaefquer que fe-
hum feguro de noíTa pre- jão ; convertamonos de
deftmaçáo í Na outra vida todo coração a Deos : dif-
hanos de pagar Deos as ponhamonos com todas as
boas obras com a poíTe da forças para receber fua
gloria: neftavidajànolas graça, & feguremos para
começa a pagar com a fe- fempre o premio da Glo-
gurança delia. Ora Chri- ria.
íláos, jà que nas noíTas ac-
ín4
SER.
121
sfa !2Í^ sfe ©fí) sta sta áfè st5 sta
ffffff^fi
S E R M A M
DA QUARTA DOMINGA
DO
A D V E N T O.
Faãum eft ver bum ^omini/uperjoannem, & venit in
: omnemregionemjordanisypradicansbaptifmumpa-
nitentia mremifflonem peccatorum, Luc.3.
§■ I.
Em que eu o di-
ga eftà dito por
íy mefmo , que
avemos de ter
hoje o quarto juizo. No
primeiro Sermão vimos o
j^uizo de Deos para com os
homens ; no íegundo vi-
mos o juizo dos homens
hunspara com os outros:
Bo terceiro vimos o juizo
de cada hum para comíigd
mefmo. Mas qual fera o
quarto, & ultimo juizo,
que nos refta hoje para
ver ? Nem he juizo de fy
mefmo , nem he juizo dos
homens, nem he juizo de
Deos : he o juizo deíles
três juízos. Todos os três
Íuizos,que vimos, vem ho-
je chamados a juizo. Le-
vanta nefte Evangelho o
Bautifta 0 tribunal fupre-
ma
=1
à
1^2 2 Serrríãõ ãa quarta T>ommgã
mo da Penitencia : ?*r^^/- dcfprczado : o juizo á<z
cans baptifmtmpanitentids Deos revogado : he o que
in remijjionem peccatoriim\ avemos de ver hoje.
& afTenca-o com grande 109 Tenho propoftó
propriedade , & miílerio Ccatholico, & nobililUmo
nas ribeiras do Jordaó : In Auditório) a matéria de-
omnem regionem lordanis-, íle ultimo Sermão. E fe
porquejordaó quer dizer; nos palfados mereci alaúa
Fluvius ludicij \ o Rio do coufaavoíTos entendinié-
Juizo. A verfe nas aguas tosÇ qmdfentia quàm fit
deíle rio, a prefentarfc á:^-^ exiguum } quizera que mo
ante deíle tribunal vem pagaíTem hoje voíTos co-
hoje os três juízos 5 cada raçoens. Aos coraçoens
hum por fuás caufas.O jui- determino prègaf hoje, &
«odefymxOno vçm por caó aos entendimento^.
Ibfpeiçoensj porque o da
inosporfofpeito : o juizo
dos homens vem por ag-
gravo ; porque aggrava-
mosdelle: o juizode Deos
Chriílo foberano exem-
plar dos que prègaó fua
palavra, comparou os Prè*
gadores aos que lavraó,.&
lemeão : Exijt quifeminat luc.s.
Ibid.ir.
vempor appellaçáo>por- feminare :femen eftverbum
que appeilamos de Deos T>ei. O ultimo Sermão he
para a noíTa. penitencia, o Agoílodos Prècradores-
Todos eftes juizps haó de fefe colhe aigmn fruto *
ftr julgados hoje,&erpero neíle Sermão fe colhe'
que haó de fair bem julga- Masquandoeu vejo, que
(Íqs. v porque debaixo do hoje nos torna a repetir o
jtiizo da Penitencia, o jui- Bautifta, que clamava em r
20 de fy mefmo emenda- deferto : l^ox clamantis in 4"" ^'
fei o jiiizo dos homé^ def- deferto. > que conliança pó-
prezafe •, o juízo de D^o.s defícar a qualquer outro
revogafe. Aílimqueojui- Pregador , que naõ def-
zp de fy melmo emenda- mave: ou que palavras pò-
do:o juuQ dos^bomcíis. ciem fertaó fortes, & eífi-
cazes
doAd^vento. 123
câzes às fuás, que antes de meremos de vos oífender.
as pronunciar a voz , nam
cmmudeçaó ? Lembrame
porém, que para Chriílo
converter hum homem,
que o tinha negado três
vezes 3 porque fe dignou
de lhe por os olhos, bailou
a voz irracional, & no£tur-
nadehúa Ave, cujas azas
Afpexit^Ò' diffolvit gentes : Hab- $:
oíhai vós, Senhorjque ain- ^'
da que foíTemos gentios
íèmfé,& não Chriftãos,
osnoíTos coraçoens fe fa-
raó de cera , Sc fe derrete-
rão. Neíle dia pois, em
que nos naó refta outro,
acendei a frieza de minhas
apenas a levantaó da terra, palavras,& allumiai as tre-
para o reftituir outra vez vas de noíTos entendi men-
ao caminho do Ceo. Tan-
to pode hum refpexit dos
olhos divinos. Aílim he ,
Senhor, aífim he. E pofto
queefte indigno miniílro
de voífa palavra feja taó
defproporcionado inftru-
mento para obra taó gran-
de: fe os olhos de vofía pie-
dade, ^ clemência fe pu-
zerem nos que me ouvem,
& hum rayo de voífa vifta
-lhes ferir as almas 5 naó de-
fefpero, antes confio de
•voífa graça, que as fobera-
nas influencias defua luz
faraó o que podem, & o
iô^. 3 2. que coílumão. Quirefpicit
terram-i érfacit eam treme-
rí» rolhai vós, Senhor, que
ainda que fej amos de terra
infeníiveljôc dura, nqs tre-
tos, de íortç:^ que r efoluta-
meiíte defenganados , fa-
çamos hoje hum inteiro,&
perfeito juizo, de vós, de
iiòs,& do mundo : de vòs ^
para que vos conheçamos,
& vos amemos : de nós,pa'-
ra que nos conheçamos,,S^
.nos humilhemos: do mun-
do , para que o conheça^
mos, 6c o defprezemo^.
í. 11.
IIO
Pfal
O Ra venha^
entrando OjS
três juizos,para ferem exa-
minados , & julgados no
tribunal da Penitencia : o
juizo de fy mefmo, para
que fe emende, o juizo dos
homens , para que Xe deí^
preze»
i
114. Sermão da quarta 'Dominga
preze, o juizo de Deos,pa- nha aigúa vífta , mas efta
i^
m
li
%
Marc 8.
^4.
ra que fe revogue : & co-
mecemos pelo que nos fica
mais peito.
No tribunal dos Areo-
pagitasem Athenascoílu-
mavaó entrar os reos com
osroftos cubertos. Aíllm
entra,& fe preíènta diante
do tribunal da Penitencia,
o juizo de fy mefmo. En-
tra com os olhos tapados,
porque naó ha juizo mais
cego. A cegueira do juizo,
& amor próprio hc muito
maior, que a cegueira dos
olhos: a cegueira dos olhos
faz que naó vejamos as
coufas, a cegueira do amor
próprio faz que as veja-
mos difrerêtes do que faó :
que he muito maior ce-
gueira. Trouxeraó hum
cego a Chriíio, pira que o
curaíTe : pozlhe o Senhor
as mãos nos olhos , &: per-
guntoulhe fe via ? Refpon-
deo : Vídeo homines velut
ar b ores mnbtdantes^qixQ, via
andar os homens como ar-
vores. Pergunto, & quan-
do cftava eltc home mais
cegOjngorLi,ou antes?Ago-
ra naó ha^ duvida , que ti-
vifta era maior cegueira,
que a que dantes tinha j
porque dantes naó viana-
dajagora via húa coufa por
outra, homens por arvo-
res : U maior cegueira he
ver hiía coufa por outra ,
que naó ver nada. Naó ver
nada he privação, ver húa
coufa por outra he erro.
Eis aqui porque fempre
erra o juizo próprio .• çis
aqui porque nunca acaba-
mos de nos conhecer.Por-
que olhamos pára nós com
os olhos de hum mais cego
que os cegos , com huns
olhos que fempre vem húa
coufa por outra, &as pe-
quenas lhe parecem gran-
des. Somos pouco maio-
res que as ervas , & fíngi-
monos taó grandes como
as arvores: íòmos a coufa
mais inconílante do mun-
do, & cuidamos, que te-
mos raizes : fe o inverno
nos tirou as folhas , imagi-
namos que nolas ha de tor-
nar a dar o veraó, que fem-
pre avemos de ílorecer,
queavemos dcdurarpara
fempre. lílo fomos, Scifto
cuidamos. Eque
doAd'Vento\
I2f
Piai Tl.
49.21.
III E que faz a peni-
tencia para emendar eíle
iuizotaoíèmjuizo ? Que
faz a penitencia paraallu-
miar eíle cego tao cego?
Duas cõufas.Tiralhe o veo
dos olhos : & metei he hum
efpelhona mao. Tiralhe o
veo dos olhos, como pedia
opeccadoraDeos : Í?í"i;í'-
la oculosmeos : mçtclhthú.
118.18. efpelhona mao, eomodi-
-zia DeosaopeccadorriS'/'^-
tuam te cantrafaciem t%am\
Porvoshei a vos diante de
vòs. Nenhúa coufa traze-
mos os homens mais ef-
quecida, & defconhecida ,
nenhiia trazemos mais de-
trás denòs, que a nòs mef-
mos. E que faz o juizo da
peni tecia? Poem-nos a nòs
diante de nòs: St atuam te
€ontrafactem tuam . Põem -
nos a nòs diante de nòs, co-
mo a reos diante do tribu-
nal, para que nos julgue-
mos: poem-nos a nòs dian-
te de nòs , como obje6to
diante do efpeiho >para
que nos vejamos. Coufa
difficultofa he> quehomés
taó derramados nas coufis
exteriores^ cheguem a fe
ver interiormente , como
convém. Mas iílb faz a pe-
nitencia por hum de dous
modos, ambos maravilho-
fos : ou voltandonos os
olhos de fora para dentro,
para que nos vejaõ^ ou vi-
randonos a nòs mefmos de
dentro para fora, para que
nos vejamos.
112 Quando Deos
quiz converter aquelie taó
defvanecido Rey Nabu-
codonofor^para que fe def-
ceíie de feus foberbiíHm os
penfamentos^êc conhecef-
feo que era ; o primeiro
paffo por onde o encami-
nhou à penitencia , foi
transformalo em bruto.
Sobre o modo defta trans-
formação ha variedade; de
pareceres entre os Douto-
res ; huns dizem, que foi
imaginaria, outroSjque foi
verdadeira : &: pofto que
eílefegúdo modo he mais
conforme ao Texto i de
ambos podia fer. Se foi
trásformaçaó imaginariaia
voltou Nabucodonofor os
olhos para dencra de fy
mefrao5& vio taô vivam é-
te o que era , que áeQi^
aquei-
^26 Sermão dãq\
âquellc ponto fenaó teve
mais por homem , fenaò
por bruto, & como tal fe
tratava. Se foi transforma^
çaóverdadeira, converter
Deos em bruto a Nabuco-
donofor , naó foi outra
coufa, que viralio de den-
tro para fóra,para que mo-
ftraíTe por fora na figura o
que era por dentro na vi-
da. Oh quam outro fe ima-
ginava eíle grande Rey
antes do que agora feviaí
Dantes naó fe contentava
com Ter homem , &: imagi-
navafe Deos:agora conhe-
cia que era muito menos
que homem, porque fe via
bruto entre os brutos. Se
voltarmos os olhos para
dentro de i\ò^ , ou fe Deos
nos virara a nòs mefmos
de dentro para fora , que
diíFerente conceito avia
de fazer cada hum defy ,
do que agora fazemos!
Mas figuamos os paíTos
deíle novo monílro, Ã: ve-
lo-emos,6c vernos-emos.
Andou pafcendo aqueiie
bruto racional o primeiro
dia de fua transformação
cncre os animais : là peia
UãrtaT>ordinga
tarde teve fede : foyíeche-
gando fobre quatro pès à
margem de hum rio , &
quando reconheceo no cfr
pelho das aguas a deformi»-
dade horrenda de fua fíir
gura, valhame Deos , que
aíTombrado ficaria de ij
mefmo! Provaria primei*
ro a fogir defy ; mas como
fe vifi"e atado taó forte-
mente àqueile tronco bru*
to, remeteria a precipitar-
fe na corrente : & feDeos
onaótiveíle maó, que o
queria trazer por aquelles
campos de Babilónia para
exemplo eterno de fober-
bos,alli ficaria fepukado,
primeiro em fua confufaó)
6c depois na profundida-
de do rio. Que rioheefie,
fenaó o rio J ordaó, Fluvins
ludicij : Rio do juiz o .^ E
quéhe efic Nabucodono-
foraflim transformado, fe-
naó o peccador , bruto có
razaó, & fcm ufo della,que
anda pafcendo nos cam-
pos deíle mundo entre os
outros animais, maisani-
malquccllcs .^ Sò húadif-
fcrcnça ha entre nos , &
Nabucodonofor,que ellc
quiz
t'V
ão Advento,
quiz fogir de fy^j^c naó po* o que imagináveis
de, nós ainda podemos, fé
Chega
quizermos. L^nega emfim
o peccador a verfe nas
aguas déíle rio , efpelhos
naturaes5& íem aduiaçaó :
vè de repente o que nunca
tinha viílo : vèfe a fy mef-
mo. Oh que aílbmbro! He
poíli vel, que eíle fou eu ?
Tal fealdade , tal horror,
tal brutefa j ta es deformi-
dades ha em mim ? Sim : &
muito maiores. EíTe fois,
& naò o que vos cuidáveis.
Vede fe diz eíTe retrato
coín o que vos tinheis for-
mado de vós mefmo no
voííb penfamento j vede
bem,&: coníiderai muito
devagar neíTe eípelho o
rofto,^ âis feiçoens inte-
riores da voííà alma : vede
127
vede
fe vos conheceis : vede fc
fois eíTe, ou outro ; Tu quis^
113 Ç Abeis porque
43 andarmos ta6
vangloriofos, & taó defva«
necidos de nos mefmosf*
Porque trazemos os oihos
por fora , & a nós por den**
tro : porque não nos ve^
mos. Se nos viramos inte-,
ri orm ente como fomos, fe
coníideraramos bem a de-
formidade de noífos pec-r.
cados 5 oh que diíferentè,
conceito aviamos formar
denòs l Taó defvaneci-
dos de il luftres, taó defva-
necidos de Senhores , taó
bem eífes olhos, quefaó as defvaneçidos de podero-
voíTas intençoens : eífes fos, taó defvaneçidos de
cabellos , que faó voífos
penfamentos : eíTa boca ,
que faó as voílas palavras:
eílas mãos^ que faó as vof-
fas acçoens , & as voífas
obras : vede bem fe diz ef-
difcretosí, taó def\^aneci-
dos de gentis homens, taó
defvaneçidos de fabios ,
taó defvaneçidos de vale-
tes, taó defvaneçidos de
tudo : porque? Porque vos
fa imagem com a que ten- naó vedes por dentro. Di-
desnavoífaidèa : vede fe zeime vos, que húa vez
fe parece o que vedes coin puzeíTei-s bem os oihos em
-^^n voífos
TiS Sermão da qíi ar taTyomhga
voíTos péccadòs : oh como hiílorias de luas façanhas
Pralm.
50.5-
avieis de emendar todos
eftes epitetos í Nenhum
homem ouve no mundo,
que mais íe podeíTe prezar
de f^, que David ; porque
nelle ajuntou a natureza,
a fortuna, &: a graça , tudo
o que repartio pelos gran-
des homens :& com tudo
tienhum homem achareis
mais humilde, nem menos
prezado de fy mefmo , an-
tes mais defprezador de
fy, que David. E donde
cuidais, que lhe vinha if-
to? Teccatim meum contra
meeftfemper. eítava David
fempre olhando parafeus
Chryf.
ib.
Naódeo tanta, matéria as
artes Hercules em feus
trabalhosjcomo David em
fuás vi6Vorias. Mas naó
eraó eftas as viftas, em que
fe entretinha aquelle grá*
de Rey , nem eftas as ga-
lariasjcm que hia paífear.
Em contrapofiçaó daquel-
las pinturas(^figamos aíHrn
a confideraçaó de Chry-
foftomo 3 mandou fabri-
car David outra galaria,
chamada de fuás fraque-
zasj&nella pintar em di-
veríos quadros, naó as fa-
mofas, mas as laftimofas
hiftorias de feus peccados.-
peccadosjôcvendo-os, & Aqui vinha paffear Da-
vcndofc nelles. §uafipec' vid: aqui tinha o bom Rey
catoriim itriagines contem- as fuás meditaçoens : 6c
plando : comenta S.Joaó aqui alcançava a maior de
Chryfoftomo. EftavaDa- todas fuás viclorias , que
vid contemplando os feus "foio conhecimento de fy
peccados, como fe eftive- mefmo.
ravendo5&: confiderando
as imagens, & retratos de
fuasacçoens. Naó ha du-
vida, que muitas peças do
Palácio de David peio ve-
rão nus pinturas , pelo in-
verno nos tapizcs cflariaó
ornadas com as famoías
1 1 4 G)uaíipeccatornm
imagines contemplando-NTi'
mos com David conílde-
rando peccados , Sc muda-
do epítetos. Punha os
oihos David cm hum qua-
dro, via a hiftoria de Ber-
íabcjôc dizia comíigo: He
poíli-
h:.'!:;
wm^^
fc-^^Vuv do Advento, '^««wt-íí?^
j^6ílívêl,qúè me tenha o
mundo por Profeta5& que
naó anteviíTeeu , quede
huaviílafeaviade feguir
humpeiifaínento, de hum
penfamento hum defejo,
6c de iium defejo liúa exe-
cução taó indigna de mi-
nha peíToa, & de meu eíla-
do! Naó me chamem mais
Profeta , cham em- me ce-
go. He poíIiveUque fou eu
tido no mundo pelo valen-
te da fama, & que bailou
1i tia mulher para me ven-
c^ei*^ & para que eu deixaf-
ífe a guerra, 6c náo fahiíTe à
campanha naquelle tem-
po í em que coíiumavaó
andar os Heys armados
diante de feus exércitos:
Eo tempore^ quofolent Re^
ges aã òelia procederei Naó
me chame ninguém valé-
tej chamem- me fraco. Da-
va dous paíTos adiante Da-
vid, punha os olhos nou-
tro quadro, via a hiíloria
de Uriasicomo dava a car-
ta a Joab,&: como aparecia
logo morto nos primeiros
efquadroens , ôc vidorio-
fos os inimigos. He poíH-
yel , que me prezo eu de
Tom./.
I25>
Principé ^C^fdàdeirò , &
que mandei cometer hfu
aleivoíia tao grande de-
baixo de minha firma y^
que a hum vaíTaiio taó fíelj
depois de lhe tirar a hon-
ra, lhe tirei também a vida
enganofamente l iS ao me
terei mais por verdadeiro,
fenaó por fémentido/. He
poííivèl, que me fez Deos
Rey do feu Povo,para lho
confervar,8c defender, &
queconfoio eu a nova da
rota do meu exercito, corri
a nova da morte de Urias >
6c que péfa mais na minha
eftimaçaó a liberdade de
humappetite,quea perda
de taó fieis , èi. valerofóS
foldadosINaó me chamem
Rey, cham em- me tyran-^
no. Hia por diante David,
contemplava outro qua-
dro, via o cafo de Nabal
Carmello : como mandara
tirara vida a tudo o que
em fua cafa a úvcí^^Ç:^ 6c co-
mo depois lhe concedia
perdão pelos rogos de fiia
mulher Abigail. Hepofli-^
vel,que eu fou o celebrado
debenigno,6c piadofo, 6c
mando tirara vida a hum-
I ho-
130 Sermão da quarta Dominga
homem 5 porque naõ quiz pelo dito de hum criado^
^1»
^H
dar fua fazenda aos fogiti-
vos, que me feguem ! Eu
fou o que domei os Leões,
6c os UíTos no deferto ,&
naó pude domar hum Ím-
peto de ira dêtroem mim
mefmo .' Naó me chama-
rei mais humano, chamar-
me-heifero. HepoíIIveí,
que me preze eu de intei-
rOj& que fendo taó juftiíi-
cada a caufa de Nabal, ao
jnenos naó digna de caíli-
go, naó baftaííe para me
aplacar a fua jufliça^patro-
cmadafódcíy mefma: ôc
que depois reprefentada
por Abigail, pudeíTe mais
hum memorial acompa-
fem mais informaçao,neni
figura de juízo, declaro a
Miíibofet, filho do Rey
meuanteceílbrjporreo de
lefa Magefíade,& Ihecon-
fífco afazenda,&:adouao
mefmo acufador ! Naó me
terei mais por prudente,
fenaó por temerário. He
poílivel, que tenho eu opi-
nião de redo , & que de-
pois de averiguada a ca-
himniajêc provada ainno-
cencia , deixo ao traydor
com ametadedos bens,&
naó mando , que fe reílif
tuaó todos ao innocente !
Naó me terei mais porre-
â:o, fenaó por injuílo. líis
nhado do íèu roílo, que da aqui como David pelos re
fua razaóí Não me chama- tratos de feus peccados hia
rei inteiro, chamarme-hei
refpedivo.Dava mais paf-
fos adiante David , via
noutro quadro a hiftoria
deSiba : como acufava a
Mifibofetfeu Senhor, co-
mo tomava poíTe da fazé-
da,& como depois de pro-
vada a cakimnia, lhe man-
dirarcílituir fó ametade.
He poílivel, que me prezo
eu de coaíiderado, & que
mudando os feus epítetos,
& emendando o juízo de
fy meímo ; & tendo em fy
tanta matéria para a vai-
dade, achava tanta para os
defenganos.
1 1 f Chriíláos [& naó
digo Senhores , porq qui-
zera que vos prezaíleis
mais de Chriíláosjponha-
fe cada hum diante á2s
imagens dç feus peccados ,
Tec
doAd^enfo\ i^t
¥^eccatorum imagines con- fouoque me prezo de en-
templando : cuide,& coníi-
derenellas hum pouco, &
verá como as idèas anti-
gas, que tinha na fantaíia,
íelhevaó deípintando, &
como muda, & emenda o
juizo errado , que de íy
mefmo fazia. Todos vos
prezais de honradosjtodos
vos prezais de valeroíos.
tendido j& cometi tantas
vezes húa ignorância taõ
fea,como anteporá crea-
tura ao Creador, afumma
miferiaao fummo, & infi-
nito bem ! Naó fou enten-
dido, fou nefçio. Eu fou o
que me prezo de feíudo ;
& cometi tantas vezes húa
locura taó rematada , co^
todos vos prezais de ente* mo arriícar por hurn appeí-
didos, todos vos prezais tite leve, por hum inftan-
de fefudos : quereis emen- te de gofto húa eternidade
dar cffQS epitctos? Virar os de gloria , ou de Inferno í
olhos para dentro aos pec- Naó fou fefudo, fou louco.
c2idos. Eu fou o que me Deita maneira emenda q
tenho por honradoj & co- juizo da penitencia os er-
meti tantas vezes húa vi- roSjSc as cegueiras donof*
leza taó grande , como fer íb. Em lugar de fefudo,
ingrato,& infiel a meu Se- põem louco i em lugar de
nhor,&ameu Deos, que difcreto, nefcio j em lugar
mecreou, 8c meremio có devalerofo, covardej em
feufangueíNaófou hon- lugar de honrado , vil: 82^^
rado, fou vil . Eu fou o que aquillo era o que cuida va-
me tenho por valeroío v 8ç
cometi tantas vezes huma
fraqueza taé baixa , como
deixarme vencer de qual-
quer tentação, 6c virar as
coitas aChriáojfem refi-
flirporfeu amor, nem a
hum penfamentoíNaó fou
ralerofoa fou covarde. Eu
mos , iíto o que fomos.
Ninguém nos diz melhor
o que fomos, que os noíFos
peccados.
§. IV.
116 A Inda os nof-
jfj^fos peccados
li) po-
1^ ;
li?'!
V1J.J
;;;J
.:í.Reg.
132 Sermão da
poílos diante dos olhos té
outro modo de côvencer,
& emendar mais aperta-
do, 6c mais forçofo : que he
convencemos a nòs com-
nofcoj & emendar o noíTo
juizocomo noíTo próprio
juizo. Cada hum em feu
juizo naó fe deve eílimar
mais, queaquilio em que
eile mefmo fe avalia. E co-
mo fe avalia, cada hum de
nòs? lílo naó fe vè nos nof-
fos penía mentos, vefe nos
noíFospeccados. Todas as
vezes , que hum homefií
pecca , vencLeíe pelo feu
peccado : Venimdatus efí'^
mfaceret makmyáiz2. Éf-'
cntiirafagrada. Ora veja
cada hum de nos o preço
porque fe vcnácy &c á^hv
julgará o queiíe. Prezais- >
vos muito, & eftimais-vos
rnuico 5 defvaneceis-vos
muito ; quereis faber o
que fois por voíTa niefiria
avaliação:?. Vede o preço*
porque vos dais 5 vede os
voífos peccados. Daif-vos
por hum rcfpcito,daif vos
por hu m intcreíIc,daif-vos
por hum appctite, porhCi
penfiinenco,por hum aílc-
quarta Dominga
no : muito pouco he o que
por taó pouco fe dà. Se noS
rendemos por taó pouco,
como nos prezamos tan-
to ? Filhos de Adam em-
fím..Quem yííTq a Adam
no Paraifo cx>m.tanta5 pre-
fumpçoens de divino , mal
cuidaria , que em todo o
mundo podeífe aver pre-
ço, porque fe ouveíFe de
dar. E que fucedeo? Deo-
ÍGÚlQy &: deoatodosíeu^
filhos por hua maçãa. Se
nos vendemos taó baratos,
porque nos avaliamos taó
caros? Jà que vos ^ílxmais-
tanto, naó vos deis por taò
pouco j & pois vos dais
por taó pouco, naó vos te-
nhais por mais. Naó he.
razaó, quefe avalie taó aln
to no feu peníamento ,
quem fe vende taó baixo:
no feu peccado.
y liX^^.. i Agor3<;catende*
reis abfpirito,ôc a pruden->
cia de David, em pór di^.
ante dos olhos as imagens
de feus peccados : Tecca^
torum ímtigines cõntempia^
<^í?,: quando para íc excitar
a contrição, ^ conheci-
mento de fua miferia ^ pa-
rece
do Advento', ^ 133
rece que como Profeta vendo pelos iíadas do mu-
pudera reprefentar diante
de fy outra imagem, que
mais o movera. Naò mo-
vera mais a David huma
imagem de Chriílo cruci-
ficado 5 pois elle fabia mui
bem, que Deos havia de
morrerem hua Cruz por
aquelles mefmos pecça-
dos? Digo que naó: leve-
de a razaó porque o digo.
Muito melhor me conhe-
ço eu diante da imagem
de hum peccadojque dian»
te da imagem de hú Chri-
ílo crucificado. Quando
eftou diante da imagem
de Chriílo crucificado ,
parece que tenho razoens
de me enfoberbecer , por-
que vejo o preço , porque
Deos me comprou ; mas
quando me ponho diante
da imagem de hum pec- dadosjcomoojuizo de fy
cado, naó tenho fenaó ra- mefmo j mas com todos os
do, naó poílb deixar de
crer que fou nada. Eis
aqui a que fe reduz , & co-
mo fe defengana o juízo
de fy mefmojquando fe vè
como em efpeiho na ima-
gem de feus peccados : &
aíllm o muda,aíllm o eme-
da o juizo da penitencia :
Tradicans ba^tifmum fce-
nitentia.
$. V.
118 /^ Juízo de ff
V^ mefmo [co-
mo acabámos de ver J
emendafe:& o juizo dos
homens? defprezafe. En-
tra pois o juizo doshomés:
a prefentarfe diante do
tribunal da Penitencia : ôc
naó vem com os olhos vê-
zoens de me humilhar ,
porque vejo o preço, por-
que eu me vendi. Quando
vejo, que Deos me com-
pra com todo o íeu íàngue,
naó poílb deixar de cui-
dar, que fou muito i mas
quando vejo , que eu me
Tom. 7.
fentidos, Sc com todas as
potencias livres, 6c muito
livres j porque com todas
julga a todos. Traz livres
os olhos, porque julga tu-
do o que vé : traz livres es
ouvidos, porque julga tu-
do o que ouve : traz livre a
I iij lia-
'vi
Manh.
134 Sermão da quarta dominga
lingua , porque publica , peccados noílbs, que fize-
tudo o que julga; Sc traz li- ra feus ; Sc quem era ta de
vre mais que tudo a ima- fatisfazera Deos porpec-
ginaçaój porque Julga, 5c cacos, náo tem ouvidos
condena tudo o que ima- para aque contra elle di-
gina. . , zemos homens : E^o attr^
iip Mas. que faz a pe- tám tanquam Jurdns nonviúm.
nitencia para defprezar- aiidkbarn. Digaó os ho- 37 «4-
mens, julguem os homens,
condenem os homens a
mos eíle idolo taõ adora-
doj taó temido > & taó ref-
peitado no mundo ? Que
faz 5 ou q pode fazer a pe-
nitencia 3 para que naó fa-
çamos cafojfendo homens,
dojuizo dos homens ?C6
abrir, ou fechar hum {tn-
tido faz a penitencia tudo
iílo. Para o juizo de fy
mefmo abrenos os olhos r
para o juizo dos homens ,
fechanos os ouvidos. No
dia da Payxaó choviao te-
ftemunhos , 6c blasfémias
eontraChrifto ; & o Se-
nhor^como fe nada ouvira.
Aífim lho diíTe admirado
Pilatos; A^í?;^ aiidts quanta
adverjum tedicuntteftimo-
»/4?Naó ouves quantos te-
ílemunhos dizem contra
ti ? Naò ouvia Chriílo,
porque ouviajcomo fe naó
ouvira. O Senliornaqucl-
ledia hia fatisfazcr pelos
os
que quizerem , & quan-
to quizerem i que quem
trata de veras da íluisfiçaó
de feus peccados , quê tra-
ta de veras de fer bcmji'1-
gadodeDeos, naó fe lhe
dà do juizo dos homens.
Sabeis porque dizemos
tanto cafo dos juizos hu-
manos, porque naó fomos
verdadeiros penirentes.Sc
a noílli penitencia , fe o
noííb arrependimento fo-
ra verdadeiro , que pouco
cafo havíamos deflizcrdc
todas as opinioens do mu-
do!
120 Peccou David o
peccado àc Berfabè, & U-
fias : ao cabo de algum té-
poveyo o Profeta Nata m
a adv^crtillo do grande mal
que tinha feito : reconhe-
ccoPavid fua cu.pa-.diife:
'Pccca-
m
do Advento. i^f
2 Reg ^etcavt 5 Pequei ; & no i;/báfta a David , a Saui,
''^"'^" mefmo ponto por parte dé porquelhe naô bailou hu
Dcos o abfolveo o Profeta Teccavi ? A razaá literal ,
úoipQcc3.áo:^omimisquo- que daó todos os Douto-
^^- que transtuUt ^ peccatum reSjhej que o Teccavi de
ruum.Feccou Saul opec-
<:íido de deíobedienciajre-
fervando do derpojo de
Amalec para o facriíicio :
veyo também o Profeta
Samuel advertillo déqua-
to Deos fentira aqueila
culpa : conheceo-a Saui:
diíTe : Teccavi > Pequei i
mas nem o Profeta ref-
David foi dito de todo o
coraçaójO "Pf <rr^.i;/ de Saui
foi dito fomente de boca.:
a penitencia de David, foi
penitencia verdadeira > a
penitencia de Saul foi pe-
nitencia falfa. Muito bem
dito : mas donde fe prova >
Donde fe prova , que foi
falfa a penitencia de Saul *
pondeo , queeftavaper- donde fe prova, que o feu
doado, nem Deos ihe con-
cedeo perdaô. He efte hú
dos notáveis cafos , que té
aEfcritura, coníiderada a
femeihança de todas as
'cifcunílancias delie. Da-
vid era Rey, Saul também
eráRey"} David peccou.
Teccavi foi dito de boca ,
Sc naò de coracaó ? Naó o
dizemos Doutores ,. mas
eu o direi, ou ò dirá o Tejt-
to. Quando David diífe .'
^eccavi-, naó failou mais
nada. Quando Saul diííe :
Teccavi j acrecentou eflas
Saul peccouj a David veyo palavras vTeccarui '.Jedho-
amoedar hum Profeta, a nora me c&ramfenwribus
!. Reg.
1^.30.
Saul veyo amoeftar outro
Profeta •, David diíTe; 'Pec^
^•i^v/ , Pequei •, Saul diíTe:
SP^rf^w, Pequei. Pois íe os
cafos em tudo foraó taõ fe^
pof uli meu & coram Ifrael.
Pequei : mas vòs Samuel
tratai de minha reputa-
ção, & honraim^ com os
grandes, & povo de meu
melhantes , como perdoa Reyno, Ah fim Saul, & vòs
Deos íw David , 8c naó per- depois de dizer Tecca-vi ,
doaa Saul ? Se IwxmTccc^- depois de vos pores em
liiij cila-
156
Sermão da qitarta T>omin^a
eftado de penitente, ainda executo o caíligo ? Quem
vm
ii
vos lembra reputação ,
ainda fazeis cafo do que
diráõ, ou naó diráó de vos
os homens ? Sinal he logo ,
que naó he verdadeira a
voíTa penitencia , & que
aquelle Teccavi nafceo na
boca, &: naó no coraçam.
Quem chega a eftar verda-
deiramente penitente ,
quem chega a eílar verda-
deiramente arrependido,
como eftava David , nam
lhe lembraó mais, que os
feus peccados : Teceavi:
naófc lhe dado quejul-
gaó, nem do que dizem os
homens.
§. VI.
121 AS razoes de-
JTx.^^ verdade
£ió muitas, & grandes, ou-
vi as da minha tibieza,que
a quem tiver mel hor efpi-
ritolhe occorreráó outras
mais,& maiores. O verda-
deiro penitente, elle mef-
mo fe açufa,& fe condena :
que fe lhe dà logo, que di-
gaó outros o que elle con-
; fefla de fy ? Que importa ,
que outros levem o prc
fe confeíía por Reo, nam
lhe fazem aggravo as te-
ílemunhas. Se hum ho-
mem eílà verdadeiramen-
te arrependido , fe conhe-
ce vercLideira, & profun-
da mxente fuás culpas , nun-
ca ninguém dirá delle tan-
to mal, que elle fenaó jul-
gue por muito peor.E que
fe vè julgado mais benig-
namente do que fuás cul-
pas merecem , antes tem
razaó de agradecer, que de
queixarfe. Por iílb os grá~
des penitentes naó fe quei-
xavaó das injurias Julgue-,
& diga o mudo o quequi-
zer, que nunca poderá di-
zer tanto mal , quanto eu
fei decerto , que ha ei"a
mim.
12 2 Nenhúa coufi de-
fejamais hum verdadeiro
penitente, que tomar vin-
gança em fy das injurias de
Deos : 6c como o juizo dos
homens fe põem da parte
deíla vinííanca , a ntes nos
ajuda , que nos ofícnde.
Quem fenaó aborrece a
fy, diz Chriílo , naó me
gaó , quando eu mcfmo pòdcfcrviraiuim.Ohco-
mo
ão Advento. \^j
mo fc aborrece a fy , & co- máos, nem bons , que cafo
mofe aborrece de fy, hu in
verdadeiro penitente ! E
que fe meda a mim , que
fejabemjou mal julgado,
quem eu aborreço ? Se eu
conheço verdadeiramen-
te a deformidade de mi-
nhas culpas 5 naó hey de
aborrecer mais a quem as
fez, que a quem as diz?
123 O verdadeiro pe-
nitente fó hua coufa eíli-
ma,& fô hua coufa teme
nefta vida : fó eftima o que
pode dar graça de DeoSjSc
ha de fazer deíle juizo o
verdadeiro penitente , o
qual fó hua coufa defeja j
queheferbom -, ^íó ào,
húa coufa lhe pefa , que he
ter lido máo.
124 Feche todas eílas
razoens hua maior que to*
das. O juizo dos homens
por mais que vos co-ndc
nem, pódevos impedir o
Ceoj ou ievarvos ao Infer-
no ? Naó. Ponde agora de
hua parte todos os juízos
dos homensj & da outra os
fó teme o que a pôde tirar, voífospeccados , ^ per-
E como o juizo dos ho- guntai-vos a vós mefmo ,
mensnaô pôde dar , nem quaes deíles deveis mais
tirar graça de Deos, que fe temer. Os juizos^ àas ho-
Ihe dà ao penitente do jui- mens, ainda que façaó to-
zo dos homens ? O j uizo do o mal, que pò demjnemi
dos homens, quando mui- podem dar Inferno, neni
to lhe demos,poderà fazer tirar Paraifo: os peccados^
mal, mas naó pode fazer
máos. Seeufou bom, por
mais que me julguem mal
os homens,naó me podem
fazer máo. Seeufou máo,
por mais que me julguem
bem os homens , naó me
podem fazer bom •, & co-
mo o juizo dos homens
naó tein poder para fazer
ainda que acheis nelíes
todos os falfos bens , que
vos prometem, fó ú\qs ti-
rão Paraifo, & daó Infer-
no. E como o verdadeiro
penitente eftà vendo, que
ioosfeus peccados o po-
dem tirar do Paiaifo, êc ie-
vallo ao Inferno j que cafo
ha de fazer dos juizes dos>
.A\
'íí
'1
1
1
n
158
homens ?
íirn, & fó dospeccados,
porque fó por clics o pôde
condenar Ocos. E quem
teme, que o pôde cõdenar
Deos,naófclIiedàj que o
condenem os homens.
i2f
Sermão da quar ta dominga
Dos peccados tes: tal hia David naquelle
paííb dcfcalço , & choran-
do feus peccados. QLiem
conhece,que temoíYendi-
do a Deos, nenhúa coufa o
ofFende. Aílim dei prezava
Davido juízo dos homés.
126 DaMagdalena
§. VII. quem o poderá explicar c5
a ponderaçaójque merecei*
SUppofta a ver- HQa fenhora taó principal
dadedeíladou- enijerufaiem^taò fervida,
trina, que poucos, & que taóeílimada ,ta6 dada à
poucas penitentes verda- vaidade,& gaias > quem a
deiras deve haver hoje no viíTe com o toucado def-
mundo, onde tanto fe tra- prendido , com o veílido
ta fó de agradar,& conten- fem concertOjpela rua fem
tar aos homens! Vejam-no companhia, em caía do
OS homens em David, Ôc Fariíeofem reparo , toda
as mulheres na Magdale- fora de fy (^ ou toda dentro
na. David, que pouco cafo em fy, porque toda era co-
fez das injurias de Semey! raçaó naquella hora } os
DiífeSemey a ElRcyDa- cabellos dcfcompoílos, (3
vid em feu próprio roílo as alabaftró quebrado , os
injurias, que fenaó pode
raó dizer ao mais vil ho-
mem : quizeraô remeter
logoaelleos queacompa-
nhavaóao Rcy, para lhe
tirarem a lingua,&: a vida :
&qvic fez David ? Teve
m a ó n cl 1 es, pa ra que o d ei-
xaílem dizer. As injurias
olhos feitos dous rios, lan-
çada aos pês dcChriílo,
abraçando-os, & abraçan-
dofecomcllcsj que diria?
Valhame Deos, Senhora,
que mudança hc eíla.^Naó
vedes quem íbis ? Naó ve-
des o que fazeis ^ Naó vc-
dcs o que dinió os ho'"!!! és ?
faô a muíic?. dos pcnitcn- Não ; nada vejo^quc quem
vio
do Adwnto. i^^
vio feiís peccados, naó lhe rar, os irmãos. Nos Fari-
íicaó olhos para ver outra
coiiHi. Naó vejo o que fou>
porque vi o que fui ^ naó
vejo o que faço , porque vi
o que fazia. Jâ vi tudo o
q havia de ver nefta vida,
& prouvera a Deos -, que
naó tivera vifl:o t^nto. Jà
naó faço cafo dos homens,
nem dos feus juízos ; digaó
oquequizerem.
127 Três vezes foi a
Magdaíena julgada, & eó-
denada dos homens. Jul-
gou-a,Sc condenou-a o Fa-
feos condeneme a malícia,
nos Apoílolos condeneme
a virtude, na irmãa conde-
neme a meí ma natureza ;
que a quem tem maiores
caufas para fentir,naó lhe
daó cuidadoeíras.QuandO'
as dores íàó iguais,fentem-
fe todas , quando liúa he
maior, fufpende as outras.
A dor dos peccados, fe hb
verdadeira, hc a maior dor
de todas, porque tem ma-
iores caufas, & a quem ver-
dadeiramente lhe doem
Luc.7.
Matcb.
2(5.8.
Lucu),
rifeojcham andolhe pecca- feus peccados, nenhua ou-
dora: ^uUpeccatrix efti tracoufalhe doe. Afetta
Juigaraó-iia , & condena-
raó-na as Apoílolos , cha-
mandolhe eTperdiçada: Vt
qíãdperdítiab£r.]\i\^Q\x-2y
&condenòu-a fua irmãa,
chamandolhe ocí®fa : Re-
Uqtíít me folam mmiftrare.
Tudoifto ou vio fempre a
Magdaíena, mas nunca fe
lhe ouvio húa palavra:
como fe refpondèra com
o feu íliencio: Condenem
me embora os Farifeos,
condenem- me os Apoíto-
íos , condenem -me os de
que meãos fe podia efpe-
que ferio o coraçaó,defen-
de de todas as fettas > por-
queainda que achem cor-
po>jà naó achaó fentimeii-^
to_: faça os tiros que qui^en
o juizo dos hòm.ensí <iUe fej
o coração eílà ferido áè
Ekos, ou naó oíl endem,!
óu naó magoaó. O amoá
he hum fentimento , que
faz íttíenfíveis : poriílb íe^
compara à morte. A mor-
te faz infèníi vela que ma-
ta, o amor iníèniivel a quê
ama. Q«em trata fó de
amar a Deos ,fó fente ha-
vei!^
vcllooífendido : a tudo
maisheinfenfivel.
127 Exemplos tinha
cmfymefma a Magdale-
naj&: poderafe argiimen-
rarafy coníigo. Que im-
porta parecer mal aos ho-
mens, fe eu parecer bem a
Deos? Que importa pare-
cer mal aos demaisj íe eu
parecer bem a quem amo ?
Quantas vezes nas minhas
locuras fegui os defprezos
deite di£lame? E fera bem,
quefeja agora menos ani-
niofo meu amor, & menos
refoluto? Se eu naó repa-
rei no que diriaó os homés
Sermão ãa quarta dominga
cres vezes eftava a Mig-
dalenaaospés de Chrjíío,
Oh que grande remédio
íaó ospèsdehumChriílo
para hum homem fe lhe
naódardosjuizos dos ho-
mens í E fe ifto faziaó os
pès de Chrifto vivo , quã-
tomaisospèsdehú Chri-
fto morto, & crucificado !
He poíUvel, Senhor , que
eftejaisneíla Cruz julga-
do, &: condenado, fendo a
mefma innocencia,6c eu
naó fofrerei fer juIgado,8c
condenado, fendo pecca-
dor! Se a vós vos julgaój
& condenaó pelos meus
paraoffender a Deos> re- peccados, porque hei de
pararei agora no que di- íentir eu, que me julguem,
zem, ou no que diráó para
obuícar? Naó reparei em
que diffeílem, que era pec-
cadora , & repararei em q
digaó, que fou arrependi-
da ? Jà que fofri, que mur-
muraíTem o peccado , naó
he menos, que calumniem
a emenda?
128 Ifto dizia o filen-
cioda Magdalena as três
vezes, que a condenarão
os homens. Ehe muito de
notar, que de todas cftas
& me condenem pelos
meus? Emvòs eftou ado-
rando as injurias , & as
afrontas 5 & em mim naó
as hei de fofrer ? Para vos
oíi"cndcr,6c me perder5naõ
reparei no que diriaó os
homensi &: para vos amar,
ôcmefalvar, repararei no
quediraó?Naó he ifto o
que vós me cnílnais nefia
Cruz.
129 Ouvi húa coufi
grande, cm que parece,
que
Exod.
dô Advento. i^j
que mudou de condição Quereis ir ao mudo ? Que-
Deos. Quando Deosquiz reis aparecer entre os lio-
caftigar o poyonodefer- mens? E não reparais no
to, allegoulhe Moyfes o que diráó, & he certo, que
quediriaó os Egypcios: haó de dizer de vos ? Haõ
Nequ£fo dicãt <:j)Egyptij i dè dizeri, que fois hum Sa*-'
^deixou ó Senhor de os màritano, & endemoni-
Jofu
9-
Pftlm.
78.10.
caíligar. Quando Jofue te
ve a primeira rota na terra
de PromiíTaô , allegou a
Deosoquc diriaó os Ca-
naneos: ^id fades mag-
no nomimtuo;Sc continuou
o Senhor a favoreceJo.
Quando o Rey no de Ifrael
nhado : Samaritanus es tUy^^^^ g,
& T)/emomum babes ; ha54S. " ''
de dizer, quefoís hú blas-
femo ; Blasphemavit 3 haó fô!^^;
de dizer, que fois humeri-
ganador : Sedutor tile 5 haó ^^"^^
de dizerjquefoishum per- *^"^^*
^_ j ._ ... ^.^. turbador da Republica :
eílava mais .afli£to , repre- Subvertentem gentem no- ^^^''^^'^
íentouDayidaDeosoqiíe firam • haó de dizer, que
ttnàç,s padlo cóo Demó-
nio : InBeelzebub Trincipe lucúj
^amoniorum ejicit ^^- 'f-
nionia 3 haó de ^áizer, que
TOS naó podeis íalvar : Se^^^:
ipfum non poteftfalvumfa -
x„ ' o — ^^^^ ; haó de dizer iiíial-
NedicdnfyO que diráó os mêteiníinitos opprobrio^
homens. Determina Deos contra vos : SuturabãiM^^'^^
oppTobrijs, MáiiHaíe díe^^^"^
levantar hum Arrio, que>
ha de dizer, que naó fois-
confuftancial ao Padr^^i
haíède^íev^anta]:- hum MÁ
líMieoyqueha de dizérs
que naó fois horaemj hafe
de levantar hum Nefto„^*
rio-»
diriaó as Gentes ; Ne forte
dicant inGentibus-i^ ceííbu
a aflição. De maneira,que
o remédio , que tinhaó os
Patriarcas antigos para
alcançar dé Deos o que
queriaó , era alíegarlhe hu
de vira terra a remir , &
falvar o mundo 3 6c fe alli
feachaíle Moyfes, Jofue,
ou David com o efpirito
profético, que tinhaó, pa-
rece quíe poderão íazet*^
Deos a mefma replica.
Como aíFím , Sçnhor ?
,VÍi'i
l^t Sermão
rio, que ha de dizer , que
naófoisDeos; hafe de le-
vantar hum Cal vino, que
ha de dizer, que nãò eftais
no Santiííimo Sacramen-
to j haofe de levantar infi-
nitos Hereílarcas outros,
que haó de dizer contra
VoíTa Divindade, 6c Hu-
manidade infinitas blasfé-
mias. Pois fe Deos eftava
prevendo tudo iílo j & le
antigamente podia tanto
com Deos o que diriaó os
homensi porque agora faz
taò pouco cafo do que di-
rão? Porque antigamente
cncontravafe oquediràò
dos homens com o noílo
caftigo , agora encontra-
vafecomo noíTo remédio:
& quando o que diráó dos
homens fe encontra com
o noíTo caftigo , deixa
Deos de caftigar pelo que
diráó : mas quando o que
diráó dos homens fe en-
contra com o noílb remé-
dio, pelo que diráó os ho-
mens, naõ deixa Deos de
faivar. Và por diante o ne-
gocio da faivaçaój&digaó
os homens o que quizeré.
Çljriftãos , ha alguns de
'arta^omínxà
nós tao pufillanimes, que
por medo do que diráó os
homens deixamos de fa-
zer muitas coufasjque im-
por taó à noífa falvaçaó.
Deos nos livre de hua co-
vardia como efta. Faça-
mos por noíTa falvaçaó, o
que Deos fez pela noíla.
Deos por me faivar a mim,
naófez cafo dojuizo dos
homens, &ferá bem que o
faça eu ? Façafe tudo o que
forneceífario à falvaçaó,
êcdigaó os homens o que
quizerem. Que importa
fer bem julgado dos ho-
mens , fe vós naó vos faU
vais ? £ fe vos vos falvais ,
que importa fer mal jul-
gado dos homés? Eis aqui
comoojuizo dos homens
fe defpreza no juizo da Pe-
nitencia: Tradicans bap^
tí/mum 'Panitenti^e.
C Mendado no
^5^ -
juizo da Peni-
tencia o juizo de fy mef-
mo,&dcfprezado o juizo
dos homens •, refta fó por
julgar o juizo de Dcos,quc
CO-
w
BééMI
ào Advento^. v, 145
como temos dito ha de fair grandeza,&temerofa Ma-
revogado nelle juízo. Os
outros dous juízos entra-
rão a fer julgados, & apa-
recerão diante do tribunal
da Penitencia. Do juízo de
Deos naõ fei como me
atreva a dizer outro tanto.
Naó he o juízo de Deos
aquelle juízo fupremo , q
naó fó naó reconhece fu-
geftade, que no ultimo ài%
do mundo o fará horrível j
& tremendo. Naó traz di-
ante as varas , & fecures
Romanas , iníignias da fu«
premajuftiça, & authori-
dadejmastraz aquellaeí^
pada de dous gumes : Gla- k^oci2
díus exutrat^ue parte àcu-'^^'^'^'^^-
tus : que ligniíicaó as duas
perior, mas nem pôde ter penas de dano, & de fenti
igual no Ceo, nem na ter- do, a que fó o juízo de
ra .? Náo he o juízo de Deos>& nenhum humano,
Deos 3 de que falíamos, pôde condenar naó fô os
aquelle ultimo, & univer- corpos, mas também os ef-
fal juízo, onde fem appel- pintos. Oh que authori-
laçaó,iiem aggravo , fe dadetaó fevera í oh que
iaó de abjíbIver,ou conde-
nar para toda a eternidade
aquelies, que nelle forem
jurdiçáo taó horrenda \ oh
que inílru m entos taó for-
midáveis ! Se aílim faz tre-
julgados, que haó de fer mer o juizo de Deos quá-
todos os homens ? Pois co- do aparece a fer julgado ,
mo pode fer, que haja ou- que fera quando vier a
trotribunaljQomundo,em julgar]
queafentença defte juizo
fe revogue 5 ou como pôde
fer revogarfe >
131 O como veremos
logo : agora vejamos en-
trar o juizo de Deos , &
prefentarfe diante do tri-
bunal da Penitencia, acõ-
132 Mas qu e faz a PèV
nitencia, ou que pôde fa-r
zerpara revogar efte tao
abíblu to,& taó indepêdenr
te juizo > Faz quafi o mef.
mo que para os demais.
Para emendar o juizo de
^y mefmo , abrenos os
panhado de toda aquefía olhos ; para deiprezar q
loel.2.
IO.
Í44 Sermão da quarfa^ominga
juizo dos homens5tapanos ftinebit enml conclue com
òs ouvidos: para revogar o eílas palavras : 'Ktmc ergo ,
juízo de DeoSj vokanos o dicit T>ommus y converti-
coração. Em dando húa mini ad me in totó cor deve-
volta o coração, eílà o jui- ftro. Vedes todos eftes ap-
zo de Deos revogado. Fal- paratos , todos eftes rigo-
Ibid. 1 ;
la o Profeta Joel à letra do
juizoíinalde Deos : à^í-
creve o Sol,a LuajSc as Ef-
trellas efcurecidas , & o
Ceo,&:aterra tremendo à
íua vifta ; Afacieejus con-
tr emiti t terra^motifimt Ca-
li : SoUér Luna obtenebrati
funty& StelU retraxerunt
fplendoremfuíim : defcreve
os exércitos innum craveis
de Anjos armados de ri-
gorjSc obediência, de que
o Senhor fahirà acompa-
nhado como executores
reSj todos eftes afibmbros
de ira, de juftiça , de vin-
gança .^ com dar húa volta
ao coração eftà tudo aca-
bado. Voltai o coração a
mim,ou voltaivos a mim
com o coração , diz Deos ,
& toda a íentença que efti-
verfuhninada contra vos
nefte meu juizo, ficará' re-
vogada : Nunc ergo , dicit
T^ominus^ convertimini ad
me intoto corde vejiro. No^
t^io nunc ergo : pelo que
agora : de maneira que a
de fua juftiça,6c vingança : penitencia ha de fer ago
Seminus dedit "vocemjuam ra,&o juizo ha de fer de
antefaciem exercitus fui^
qitia multafunt nimiscafira
ejusy quiafortía , érfacien-
ttaverbumejus : defcreve
finalmente a grandeza, &
terribilidade daquelle te-
merofo dia : Magnus enim
dies Thmini , ò' terribilis
íbiJ i^. «jalde: & perguntando que
haverá no mundo, que o
pois. Efta dift<:rença ha
entre o juizo de Dcos,&: o
juizo dcs homens: no jui-
zo dos homens appellafe
depois, no juizo de Deos
appellafe :^ntcs. Nunc ergo:
Agora, agora, Chriftáos;
que agora he o tempo -, &
porque agora fim , & de-
pois naó ? Porque depois
poffa foportar : Et qtusfu^ luò pôde haver pcniten»
cia.
1- '■ doAd^ventd. 145-
Ati ficin. Se depois do dia do defmedidamente grande^
.'juizo pudera haver peni- que naó pode chegar à
tencia, poderafe revogar a
íentença do juizo de Deos:
mas a razaó porque aqueí-
lafentença fenaó poderá
revogar entaó > he porque
náó ha tribunal da Peni-
tencia fenaó agora : Kunc
ergo. Mas vejamos jà os
poderes defte tribunal.
praça, onde eflava o Paço,
menos que ao cabo de crés
dias. Soou a fentença nos
ouvidos do Rey, & que
vos parece, que faria ? De-
cefe do tronoReal em que
fe aílentavaó fcmpre os
ReySy conforme o coftu-
me daquelles tempos ; raf-
por hum exempio> & fej a o ga a Purpura, veftefe de hu
iiiãior, que ouve nomun- afpero cilicio ^ tira a Co-
do-idaimç áttençaó, > roaj lança da mão o CetrOi
cobre a cabeça de cinza: &:
malida que vaó feguindo a
Jonas com outro pregão,
em q íedigãi que faça to-
da a Cidade o que ElRey
fazia. Ò pregaó de Deos
hia diante , o pregaó do
Rey hia atraz : o pregaó de
Deos para fe executar dal-
li a quarenta dias , p pre-
gaó do Rey para que fe
£xecucaíre Ipgo, & alllm fe
fez. Veftiofe de cilicio a
Rainha , veíliraófe de ci-
licio as Damas, veíliraófe
de cilicio os Cortefaós, ve-
íliofe de cilicio todo o Po-
vo 5 &o que fenão poderá
crer, fe o naó differa a Ri-
çritura, veíliraófe, & cu-
K brifaòfe
^. IX.
Oi' j . •. - . - . ... . ■:.■ _ i .:\
^. ^f 331 CNcraô Profe-
•il^íii-. - JCLca Jonas: :prê-
gandò,ou apregoando pe^
Ja Cidade de Ninive:^'<3^-
huc quadragmta dies , á*
Mtnive fubvertetur: Daqui
a quarenta dias fe ha de fo?
verter Ninive. Era eíla; á
fentença, que eílava dada
no tribunal da divina juíli-
ça pelos peccados daquel-
Ja Cidade,&: o Profeta naò
fazia mais , que officio de
hum notário de Deos, que
a publicava. Com eíle pre-
gaó andou Jonas por toda
a Cidade , a qual era taa
Tom. 7.^
1 46 Sermão da (quarta T^ominga
briraõfe também de cili- mento algu m. PaíTouaíllm
cio, para horror, & aíTom-
bro dos homens , atè os
mefmos animais. Defta
maneira foi paífando a Ci-
dade todos aquelles qua-
renta dias em continuo je-
jum, em continua oraçaó,
em continuas lagrimas, &
clamores ao Ceo. Chega-
do o ultimo dia, retirouíe
Jonas a hum monte, para
ver como Ninive fe fover-
tia: Aportara elle às prayas
de Ninive, fupponhamos,
que às nove horas da ma-
nháa , & quando ou vio dar
as oito daquelle dia : Ab
mifera Cidade, quejánaó
tereftamaisquehúa hora
de duração ! Jà fe vè a fuf-
penfaóem que paíTaria o
Profeta toda aquella hora.
Tocãoásnovc : eis lá vai
Ninive. Aílimfe lhe figu-
rou a Jonas quafi deflum-
bnido entre o lume dos
olhos,&o da profecia;mas
Ninive ainda Ic tinha
mão. As fuás torres eíla-
vaó mui direitas : os mu-
ros eítavão muito firmes:
&: nem a cafa que dantes
citava para cair fez movi-
a primeira hora ,paííbu a
fegunda,paírou o dia todo,
&:Jonas a benzerfe , & a
pafmar. Queheiílo , Se-
nhor ^ Que he da fé de vof-
fas palavras ? Que he dá
verdade de voíTos Profe-
tas > Náo eftava determi-
nado no tribunal de voílà
divina juítiça, que Ninive
foíTe fovertida por feus
enormes peccados ? Não
eftava alUnado o termo
precifode quarenta dias,
para a execuçaó.^Não efta-
va notificada por voílb
mandido efta fentenca ?
Nãoíbueuo que apubli-
quei.<^Pois como agora fal-
ta tudo ifto ^ Como paíTaó
os quarenta dias > Como
fica a minha profecia fem
comprimento ^ Como fica
Ninive em pè , & a vofla
palavra por terra? Se o dif-
feílesjfoi porque otinheis
decretado-, 6c fe o tinheis
decretado, porque naó fe
executou ? Porque o Rey,
& Povo de Ninive foraó
táodifcretos, que fcndo-
Ihc notificada a fentenca
do juízo de Deos, apocllá-
raó
34
ãúAãtíentê. 147
f áo para o tri bunal da Pe- dere excldkm > quiafejpon^
nitencía. E he táo fupo . ^ ^ •
rior a jnrdiçáo do tribunal
da Penitencia , que o que
nojuizode Deos fe fen-
tencea, nojuizo da Peni-
tencia fe revoga. DiíTefu-
perior , porque fe eíles
dous juízos foraóiguaes,
aílim como no juizo da
Penitencia fe abfolve , o
que no juizo de Dcos fe
condena j aílím nojuizo
de Deos íe podéra conde-
tanets luBibus cruciando
dívinamfententia-m prave-
neruntfua. Os Ninivitas ,
diz S. Paulino , impedirão
a execução do caíligOjque
jàlhe eílava denunciado ,
porque condenandofe a
voluntária penitêcia , pre-
1'^eniraó a fentéça de Deos
com a fua.De maneirajque
por beneficio da Peniten-
cia pode mais a fentença,
que os Ninivitas deraó
narjO que no juizo da Pe- contra fy, que a fentença ,
nitencía fe abfoiveíTe: mas
he taó fuperior o juízo da
Penitencia febre o mefmo
juizo de Deos [ por excef-
íb de mifericordia fiia ]
q o que no juizo de Deos
fc condenajno juizo da Pe
que Deos tinha dado con-
tra elles; ^ ivinamjent en-
fiam pravenerunt Jua. Oh
grande dignidade ! oh gra-
de foberania da Penitéciaí
No juizo íínal de Deos
C ide notando comigo grã-
nitencia pòdefe abfolver 5 des diferenças, & grandes
mas o que no juizo da Pe- excellencias do juizo da
riitenciafeabíolvòínojui- Penitencia fobre o juizo
zo de Deos naó fe pôde de Deos. ) No juizo final
condenar. Bemdito feja de Deos, não he licito ap-
elle: §lui dedit fotejtatem pellar de huni attributo
divino para outro atf ribu-
to. Não he licito appellar
da jufl-iça de Deos para fua
mifericordia : no juizo da
Penitencia , he Ikito ap-
pellar da juíliça de Deos,
K ij para
talem kommibu^y^^i ^í
- 1 3 f Tu do o qbè tenh o
dito he literal •, mas ouça-
mospara maior confirma-
ção a S.Paulino : Niniijit£
meruerunt denunttatú eva-
i
II*
^ 4^ ■ Sermão da -quarta T>07ntnga
para alminha juííiça. No Deos huns fahcm abfol-
juizofinaJ de Deos naó fe
pôde appellar do Fiiho
para o Padre, nem do Pa-
dre para oFilho,neaido
Padre, & áo Filho para o
EfpiritoSãtOj emfumnia^
no juizo de Deos naó fe
pode appellar de Deospa-
ra Deos: no juizo da Pe-
nitencia pojfTo appellar de
Deos para mim. No juizo
final de Deos íaô condena-
dos os peccadores a nani
vera Deos j no juizo da
Penitencia faó condena
tos, outros fahem conde-
nados j no juizo da Z^eni-
tencia ninguém fe conde-
na, todos fahem abfoltos.
No juizo final de Deo^j
manifeílãofe os peccados;
a todos os homens \ no jui-
zo da Penitencia maiúfe-
ftaófc a hum fó4i£)mem.
Finalmente no juizo final
de Deos, Chriílo ha de fer
ojuiz*, no juizo da Peni-
tencia , Chrifto he oavo-
gado: Si quis peccaverit^ad-
iJocatU habemtts apnd Ta- loana.;
dos os peccadores a naô trem Jeftm Chrifium ju
o ofFenderrque fuaveco- 7?«;^. Vede com tal avoga4
denaçáo! No juizo final de do no tribunal da Penité-
Deos naó aproveitão ia- cia,quedifferença haVerà.
grimas, nem prantos ; no doavogarao revogarlCo-
juizo da Penitencia baila mo naó fera revogado o
húa fó lagrima para todos juizo, aonde he avogado o
os peccados do mundo. Juiz ! aífimfe revoga o jui-
2.1.
No juizo finai de Deos
não yalem interceíToens >
no juizo da Penitêcianaó
faó neceíla rias. No juizo
.final de Deos condenaófe
os peccadores pelos pec-
cados j no juizo da Peni-
tencia condenaófe os pec-
cados, &■ falvaôfe os pec-
cadores. No juizo final de
zo de Deos no juizo da
Penitécia : Tradicansbap-
tifmuín panitenti/e. E te-
mos o juizo de Deos revo-
gado,o juizo dos homens
deíj>rezado , &: o juizo de
fy mefmo emendado.
5.x;
^
eílãoin Ditos tem chega-
do i para os que eíláo mor-
rendo ckega^ para os que
élláo YÍ¥0s' V èm chegado )
A huíis checará mais íedoi
a outros n\ :: is tarde, mas a
todoj»inuito brevemente:
Efta he a cófideraçãamais
nitenciai& fuppoílo que poderjofa de todas , para-
elles faô taó grandes , que rios mover' à penitencia
í. X.
iOliíi o:íí> ,. ?Àcjq
fuppofto que
todos os m2 ! ^^ , 6c perigos
que temos viíi^ neílesjui
zos tem o remédio lui
^.^re-f
abração todos os bens da
vida, & todos os da eter-
nidade i que refta a quem
tem fé, ^ a quem tem ef-
perança , fenaó tratar de
fezer penitencii ? y^gite
píenitétiam approp^nqu i'va\
mim Regnmn dekrvin : fa-i
Zêi peniten c i i, p.orqr e h'iá
chegado o ReyrK^-uí) Ceíi^v
Ha mil 5c fciíi. "'>.ros
nos, que o Brj„.r: ■ ^.i8b
eftas palavras , 5r nó^ cita-^
mos dizêdo todos os dias :
Adveniat Regmim tuum.
Pois fe o Rcyno jà entaó
era chegado, como pedi-
mos nós ainda agora, que
Façaníos penitêcía , C hri-
ftáos, não nos ache a mor-
te impenitentes. Nenhum
Chriftão ha, que não digi»
que ha àc fazer peniten-
cia , m?.3 nenhum a queií
co.acç?i ' jgo, todos a dei-»
ySxo pai. o fím da vida:
"Ei'£dií.:KS baptífmum p^r
.... iici:ntíi€m rjmJJIonem pAC".
agi: ,íç'S^ír]?/35%:íiÊb£atóíla prèás
givabautifmo de penité-
€Í:- para remiíTaó dos pee-
cados. Se queremos remií-
feòdepeccados, tomemos
a penitencia como bautiA
mo. Todos queremos a
penitencia como Extre-
venha?0 Reyno dos Ceos ma-unção, là para o fím da
emtodos os tempos, teni vida : naq fe .ha de tomar
tit:s eftados : hum em que
tem chegado, outro em q
chega , outro em que vem,
chegando. Para os que
Tom./.
íènaócómo bautirmojque
náo he licito dilatallo a
quem tem fé. Se tendes fé
como naõ fazeis peniten-
K iij cia?
i
V7^'1
Tf O Sermão da quarta T>omhiga
cia?E fe tendes propofico Que motivos de vos con-
de a fazer, 6c de vos con-
verter a Deos, para quan-
do a dilatais ? St aliquando
curnon modò^ dizia S. Ago-
llinho. Se me hey de con-
verter em alg4jm tempo,
verter haveis de ter de-
pois , que agora naó te-
nhais ?Se depois haveis de
fazer verdadeira peniten-
cia, a qual naó pode fer
verdadeira, fem verdadei-
eíTe tempo porque náo fe- ra contriçãojha-vos de pê-
ra hojer Efta pergunta naó far de ter oiFendido a Deos
temrepoíia. Nem o mef-
mo Santo Agoftinho lha
achou j nem os Ariíloteles,
nem os Platoens, nem os
Anjos do CeOíneniomef-
mo Demónio do Inferno
lha pode achar jamais pa-
ra nos enganar.
; 137 Chriíláos da mi-
fíhà alma, fobre t3ntos jui-
zos>bem he que venhamos
a contaSv Se me ouve algu,
que efteja refoluto de nam
fe converter jà mais 5 naó
fal:ocomeilej mas fe ten-
des propoíitos de vos con-
por fer elle quem he ; pois
Deos hoje não he o meí^
mo, que ha de fer depois?
Náo he a mefma Magefta-
de, náo he a mefma gran-
deza^ náo he a mefraa om-
nipotência / Náo he táo
bom, não he táo amável,
como ha de fer entáo ?
Pois fe entáo o haveis de
amar, porque o náo amais
agora? De maneirajpecca-
dorjque Deos então ha de
fer digno de ícr amado fo-
bre todas as coufas,& ago-
ra he digno de fer otFendi-
verter.\S> ãltquarJo cur non do em todas / Si ah quando
modo ? Se tendes propofi- cur non modo ? Mais : fc de-
tos,& dizeis , que vos ha- pois vos haveis de arrepê-
veis de converter depois, der bem, & verdadeira-
porqueonaó fazeis agora.^ mente , he força que vos
Que motivos haveis de ter pczedetodoo coração de
depois, que agora náo te- vos não haveres arrcpen-
nhais.^ Apertemos bem ef- dido agora : pois que locu-
te ponto : cílai ' ' ' '
comigo.
ra hc eílares agora fazédo
ror
por voíTo gofto , & por eííaidadeimasfcao Infer-
voíTa vótade aquillo mef- no fe vai de, fete annos,
mo, que , nefta hora eílais porque feha de guardar a
propondo de vos pefar de- emenda para os íecenta?
pois
de todo coração ? Ou Pois fe as meímas razoes,
entaó vos ha de pefar > ou & os mefmos motivos,que
naó : fe vos ha depefar, havemo» de ter depois, te-
condenais-vosj& fe vos ha mos agora, fe entaò nam
de pefar, 6c propondes de havemos de ter neníium^
vos pefar, porque o fazeis? coufa mais> que agora, fal-
Se vos ha de pefar depois vò mais peccados q cho-
do prefente , porque vos rar^Sc mais culpas de que
naó pefa agora do paífado? nos arrepender :Sí aliqu^
Si ali quando ciir non modo ? do cur non modo 7
Mais : fe os motivos dç
voíTo arrependimento naò
haó de fer contrição per-
feita, nem amor de Deos
fobre codas as coufas,fenaó
temor das penas do Infer
do cur non modo ?
138 Mas atègora hi-
mos argumentando en^
húa fuppoíiçaó,que eu naò
quero conceder daqui por
diante , porque vos quero
defenganar de todo.Quem
no fomente: Si aliquando á\z\ Si aliqttando cur non
cur non modo ? Se por tei- modo : fe vos haveis decó-
mor do Inferno voshaveis verter depois, porque vos
de arrepender entaò', por- naò converteis agoraj fup-
quevos naó arrependeis põem que fe vos naó con-
agora por temor do Infer- verteres agora , que vos
no ? Por ventura foftes jà haveis de cóverter depois,
ao Infernojôc perguntares Eu naó quero admitir tal
pela idade dos que là eílaó fuppofiçaó 5 porque quero
ardendo ? Se no Inferno rnoftrar o contrario. G hri-
naó ardem fenaó os ho-
mens defetenta, & de oi^
tenta annos , guardai em-
t)oraa volla emenda para
ftáosj fe vos não converte-
res agora , ordinariamente
faIlando,naó vos haveis de
converter depois. Deme
K iiii li-
i':
Nfii
'^1f.
ml
MS
r,u
^*^ . Serniâõ da quarta T)ommgà
licenças. Agoftinho para defefperara ningiiem,né
trocara fua pergunta , & quero dizer, que a falvacaó
apertar mais a difficulda- naó he poílivel em todo
de. S. Agoílmho diz : Si tempo : o que fô vos quero
atiquandocnrnonmodÒ-.Ãt perruadir,he oque dizem
nos havemos de conver- todas as Efcrituras, &: to-
ter depois,porque naÓ nos dos os S^intos. Que os que
convertemos agora ? Eu deixão a penitencia para a
digo : Si non modo cur ali" hora da morte , ou para o
quando / Senão nos cóver- fím da vida, tem muito ar-
temos agora , porque cui- rifcada fua falvacaÓ, por-
damos, que nos havemos que raramente fe falváo:
de converter depois ? As Si non modo cur aliquando?
razoens, que haveis de ter Senaó vos converteis ago-
depois para vos converter, ra, que tendes vida , como
todas eífas, & muito maio^ vos haveis de converter
'retendes agora : pois fe depois, quando pode fer,
■eítasi-;?âzoens naÓ baftaó que a não tenhais? Dizeis,
♦pafa-v<)S converter agora: que vos não convertei^
comohaõ de bailar huma- agora, mas que vos haveis
namentepara vos conver- de converter depois- acíe
terdepois? Aforra defta o depois fora o;ora?Sem-or-
razaó fez enforcar ajudas, reres no eftado prcfcntc,
-Fez/udas confígo eíte dif- fe naô chegares a eíTe de-
-<:urro : maiores miotivos do pois, que ha de fer de vós ^
que eu tive para me con- Quantos amanhecerão,.^
•vercerínão faó poíTiveis, naó anoitecerão IQiiantos
a^orq tive o meímo Chn- fedeitáraóà noite, & nam
i-l^/f^"^ P^^ : pois fe JelevãtáraÕpekmenhãa!
Chriítoameuspèsnaófoi Qiiantospoítos i meíli OjS
-baftante motivo para me - afogou hum bocado! Quá-
converter, naó me íica que tos indo por húa rua os fe-
efpcrar , venha hiim laço. pulrou húa ruína ! A quã-
•• Chriíláosj cu> nani quero .. tos levou húa baila naó ef-
t ^* *' perada!
do Advento. if^
perada! Quintos endou- deixar com o juizOjSc com
ciecéraó de repente ! A
quantos veio a febre junta
como dilírio ! A quantos
hum efpafmo, a quantos
liua apoplexia ; a quantos
infinitos accidêtes outros,
a liberdade , que pede a
matéria de maior impor-
tância: quando jà aspotê-
ciasefbaráófórade feu lu-
garj&vós mefmo não ef-
tareis em vós , como cui-
que ou tiraó o ufoda ra- dais, que vos podereis có
záo,oua vida! Todosef- verter entaó?
tescuidavaò, que haviam
de morrer húa morte ordi-
nária 5 como vos cuidais :
& quem vos deo a vòs fe-
guro, de que vos naó ha de
í u ceder o mefmo ? Si . nan
modo ciir aliquído ? Se ago-
ra que eftais faòs c5 o ufo
livre de voíTos fentidos^Sc
potencias,vosnaó conver-
teis, como cuidais que vos
haveis de converter na
hora da morte, cercado de
tantas anguftias, & de tan-
tos ellior vos, a mulher .V os
filhos, os criados, o íeíla-
mento, as dividas, os acre-
dores, o Confeíror50s Me-
dicQS>afebre, as dores, os
remédios, a vidapaílada,
a conta quaíi prefente.
Quando todas eílas couías
juntas , & cada huà delias
baftaráo pa ra perturbar, &
,pafmar húa alma j & naó a
verter então;
139 Mas eu vos dou
de barato ávida, & aíau-
de, &o vigor das poten-
cias,&:dosfentidos 5 mais
ha que ifto. Para hum ho-
mem fe converter, naó ba-
ila fó vida, &raude, &jui-
zo, mas he principalmen-
te neceíTaria a graça de
Deos. Voisfinonmodò cur
aliqufindo ? Se agora que
tendes oítendido menos a
Deos , Deos vos naó dà
graça eíiicaz para vos con-
verteres, que fera quando
;o tiverdes oífendido mais?
Parecevos que he boa di-
ligencia multiplicar as of-
fenfas de Deos para gran-
gearagraça de Deos ? Se
ides contmuando aíHm,
não ha duvida, que depois
haveis de fer m u i to peor ,
ainda do que fois agora:
pois fe agora que fois me-
Ihor^
If
Jfíil
i
'si. ^;
1 5'4'» SerMao da quarta dominga
lhor,ou menos máo , vos para vencer eíles inimi--
naó converteisjcomo o ha- gos fomos taó loucos, que
veis de fazer depois, quá- efperamos,queelles fe fa-
do fordes peor ? Os pecca- ção Gigantes ? Se agora ,
dos quanto mais cótinua- queospeccados eftáome
dos, tanto mais endurece , nos robnílos , & crecidos ,
&obítináo ao peccador: & a alma tem ainda algum
^cÀsfinonmodò cur aliquâ* vigor , os não podemos
do ? Se agora quando o derribar, éc vencer 5 que
voííb coração naòeflàain- fera quando os peccados
da taó endurecido , & tao eíliverem Gigantes, & a
obftinado, na6 ha prega- triílealma taó envelheci-
çoens, nem infpiraçoens , da nelles , & táo enfraque •
nem exemplos , nem mor- cida, que fenáo poíTa mo-
tes repentinas, & defaftra-
das , que vos abrendem,
que fera quando eítiver
feito de mármore j & de
diamante ? Os peccados
com a continuaçaó,& com
os hábitos tomão cada vez
mais forças, &: fazem fe ca-
da dia mais robuílos , &a
alma pelo contrario com o
coílumemais fraca: pois/i
non ínodo ciir ali quando ?
ver? Finalmente, Chri-
ílãos, naó vamos mais lon-*
ge: fe Deos neíla mefma
hora vos eílà chamando,&
vos eílà dando golpes ao
coraçáo , & vòs não lhe
quereis abrir) nem o que-
reis ouvir-, como efperais
que Deos vos chame de-
pois, ou que vos ouça quá^
do o chamares 5 ou que o
poflais chamar como con-
vém ? Si non modo cur ali-
^r 1 diz a Efcritura : Beatus qui
136.9. occidtt párvulos j lios ad pe^ quando ! O mefmo Deos
tram : bemaventurado o por fuás palavras quero
que quebra a cabeça a feus que vos dcfcngane deíla
peccados, quando peque- váa efperança, cm que vos
nos.Eí/z/jdizS.Bachiario, confiais,6c vos precipitais
cxpeãas doncc inimicus ao inferno : ouvi a Deos
tms gigas ejjlciatur ? h nòs no Capitulo primeiro dos
Pro-
Tro;.
do Advento. i ff
Provérbios : Vocavi^ ér re- que o peccador o cbaniar
nuiftis j chamei vos, fie não de todofeu coração , o ha
^xcoáiíkcs'. Extendi manum de ouvir: mas não tepro-
Mí'/?;»,^'"?^^?^////^^/// afpi- metido, que todas as ve-
ceret^cí\.cnái a minha mão, zes, que o peccador qui-
^não ouve quem fizeíTe
Ib:d 2 c, ^ ^~T^ r' -n ■ *->
c2iiorDeJpexijtis omneco-
Jilhimmeum , deíprezaíies
todos os meus confelhos:
& que fe feguirà daqui?
Jbici.25. Bgoquoque in inter itu ve-
Br o riâeboy ú/uhfannabo:
eu tambem^diz Deosjquá-
do vier a Jiora de voíía
morte zombarei 5 & nam
farei çaío de vòs, & allim
como agora euvos cha-
mo, & vòs não me ouvis,
aíllm então eu não ouvirei
ainda^q vòs me chameis:
Tanc invocabunt me ^ ò"
7ion exaudiam. C h riftãos,
nos fiamonos em q Deos
tem prqmetido,que todas
as vezes , que o peccador
o chamar de todo o cora-
ção, o ha de ouvir : & efta
promêíTa anda muito mal
entendida entre os homes.
He neceííario advertir o
que Deos tem prometido
nelJa5&oque não té pro-
metido. Deos tem prome-
zer, o ha de chamar de to-
do o feu coração.Yai mui-
todehuacoufaa outra. Se
chamardes a Deos de to-
do o coração , ha-vos de
ouvir Deos: mas fe vòs a^^
gora não ouvirdes a Deos j
depois não o haveis de
chamar de todo o coração.
O chamar de todo o cora-
ção não depende fó de noí^
íò alvedrio, depende de
noíTo alvedrio, & mais da
graça de Deos: & tê Deos
decretado conforme os
juízos altiílimos defua ju-
lliça, que o não poíTa cha-
mar de coração na morte,
quem lhe não quiz dar o
coração na vida. Que faz
Deos em toda a vida , fe-
não eílarnos pedindo o co- Prov:
ração: Filipr£be miht cor^^-^^'
tuum\ 6c como vòs agora
negais a Deos o coraçam ^
que vos pede, aílim Deos
então vos negará juíliíli-
mamente , que lhe peçais
tidoj que todas as vexes ^ de todo o coração. B&qs
I <;6 Sermão dn quarta 'Dominga
agora bufcanos, & não nos pois. Sevos haveis de có-
acha 5 então bufca remos
nósaDeos, & nãoo acha-
remos. O mefmo Deos o
prometeo, & ameaçou af-
íim : Sluícritis^ò' no?i Í7ive-
nietisme^ érinpeccato ve-
firomoriemini : bufcarme-
heis,& não me achareis, &:
morrereis em voílb pecca-
do. Não diz menos que
ifto.
140 Ora,Chrifl:ãos,pe-
las Chagas de Chrifto, &
pelo que deveis a voíTas
•ahiias, que não queirais,
que vos aconteça táo gra-
de infeliciciade. Defenda-
naivos , 6c feja eíle o ulti-
mo defengano 5 que fevos
não converteis defde lo-
go, & continuais pelo ca-
minho que ides , vos ha-
veis de perder,&:condenar
fem remédio. O remédio
he : Baptifmnmpr^ntentia''
húa contrição de coraçam
muito verdadeira , huma
couíifFaó mui inteira , 6c
mui apoílada com iirme
reíòluçáodc não oífendcr
mais a Deos. Emíim fazei
agora aqui 11 o, que dizeis,
que haveis de fazer dc-
verter no fim da vida, ima-
ginai , que chegou ]^ eíTç
fim , que naó he imagina-
rão. MasqueimportaySer
nhor, que eu o diga, fe a
volTa graça não ajuda a ti-
bieza de minhas palavras ?
Soccorreinos,Sen'nor,com
o auxilio efficaZ deíles
olhos de mifericordia, &
piedade^allumiai eíics en-
tendimentos, acendei cA
tas vontades , abrazai , &
abrandai eíles endureci^
dos coraçoens , para que
vosnãoíejão ingratos, &
reaproveitem nelles o«
merecimentos infinitos de
yoíTa encarjiaçáo : Ter ad-
*uentnmtnumy Senhor,pelo
amor com que vieíles ao
mundo a falvar as almas,
que íalveis hoje no íTas al-
mas: ao menoijhúa alma.
Senhor, à honra de vpílb
fantiílimo nafcimento: Per
nativitatcm tiiam : pelo
amor,& pela mifericordia
c6 q nacelics em hú Preíc-
pio,por aquelles defempa-
ros, poraquclle frio, por
aquellas palhinlias , por
aqucllas lagiimas , por
aquella
do Advento. \^y,
aquella ellremada pobre- fas almas. Convertei os
za, & por aquelle aíFeíto fufpirosem infpiraçoens ,1;
ardentilTiinocom que tu- pedi a voíTo querido EÇ.
do ifto padeceftes por pofo,o EfpiritoSantOjtrcfc
amor de nòs. Virgem San- paíTe noíTos coraçoens ca-
tiífima, hoje heo dia dos hum rayo efficaz de fua
encêdidiílimos defejos de luz, para que o amemos.^'
voíTa Expeítaçaó , parti para que ofirvamoSj&j^^-j
com nofco, Senhora, def- ra que mereçamos a fua
íesaffeíbos, para que naça graça^ & por meio delia a
também Chrifto em nof- gloria.
-lO 3
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í:iíB-í3
SEil4
TS9
MàMà •■ààMàààààMàêÈm'
•m^i^-^^-^^ -h^ ■'t^. ■i^-'(^-i^^^ .f^ .&í>? -i^ .&í>3 .í<^. •£<í^ •£<?>' •sííTj^ .^ ■
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f f f ^%"4í^f Wf =f f tf f f ^f i v#
Sa S.:M a M^
^.fiiieb 0A9fnic DA
CONCEIÇAM
IMMACULADA DA VIRGEM MARIA SN.
Maria,eíe qua natus eft Jefus. Matth.
§. V
Orno em todas
as matérias có-
troverfas dizer
o jà dito he fu-
perfluo 5 aíllm na de que
hoje fou obrigado a fallar,
dizer o que aindi naóef-
teja dito, he difficultofo.
Entre os myltcrios, todos
foberanos, de Maria Mãy
de Deos , o que hoie cele-
bra a Igreja, & todos dcfe-
jaò" ouvir cítabclccidocó
algua novidade , he o de
fua Conceição im macula-
da. Mas todas aquellasef-
tradas, por onde fe pôde
caminhar fegurr.mence,ou
ao templo defta adoração,
ou ao callello deíla dcícn-
fli, elláo taó batidas, & de-
batidas,que como bem ái^
zia ha muitos annos hú dos
maiores Oradores de HeA
panha , ninguém podepòr
opc, fenaó íbbre pegada
alhea. Boa fatisfiiçaò para
a defculpa, mas muito def-
confo-
ãa Virgem Marta S. N. i f 9
confolada para o defcjo. neca. Muito fízeraõ os
Defta mefma fe valeo Te- que vieraó antes de nós»
rencio, aquelle taò ceie- masnaóperíizeraõ. Entre
bradoComicOjO quaipe- ofazer , & o perfazer ha
dia perdaó ao theatro Ro- grandes inter vallos : Mui-
manodelhereprefentar o tum autem reftat operis^
que jà tinha ouvido, &al- multumquereftabit. AíBm
legava em feu abono , que como elles acrecentáraó
o mefmo tinhaó feito os
velhos, & aíTim o faziaô os
modernos;
Mullum efijãtn diBu^quod
non díãumfitprms.
^areaquum eft vos cog"
nofcere-i ò" ignofcere :
fobre o que tinhaó dito os
mais antigos-, aííim nós po-
demos acreccntar^ & deC-
cobrir de novo o que elies
naóaçháraó , como tam-
bém fobre nós os que de-
pois vierem. lílo efcreveo
animofamente o maior gí-
Sluod weteres faãitarunt , piri to dos E ftoicos . E nem
Séneca
ficfaciuntnovi
-^^E fe Hfo #tifâváría c^L
í)eça do mundo ha mais
de mil annoSí cjue fera ho-
je entrenós, onde não he
^áo fácil inventar iiovos
argumentos, tíomo novos
trajos?
142 Eu porém naó me
acabo de fogeitar a efte di-
-^amej porque ainda que
'^os antigos bebéraó pri-
meiro nas fontes, nem por
iílb as efgotáraô : Multum
egerunt qiii ante nosfueruty
fednonj^^eregenmt y diz Se-
a mim me metejmedo di-
zer Salamaó, que naó ha
coufa nova debaixo do
Sol : Nihilfub Sole novurn-, ecI. n
porque a matéria de que i°i
hoje hei de tratar, naó he
de debaixo do Sol , íènaó
do mefmo Sol , & acima
delle.
143 Duvidofo pois
entre o que tem de verda-
deiro húa deftas {GniGn-
ças , &oqueoppoem de
diííicultofo a outra 5 o me-
yo que determino, 8c devo
tomar, he o que eníinou o
Meftre divino ,, em que
am-
'4
A
I
i<^o Sermão daConmçao mníaculada
ambas fe concilião, & fe ria da Conceição imma-
Matth. concordaó : Ideo omnis culada feja mais facii de
«i f z. y^;.^^^ doãusfimilíseH Ta- prometer , q de defempc-
trifamilíãs , qui proferi de nharj comecemos brevif-
thefaurofuonova^&vctera'. íimamente pelas fuppofi-
PoriíTotodoo eftudiofo çoeiís. Supponho como
douto nas Efcrituras hc
femelhante Çáiz Chrifto}
aoPaydeFamilias rico, o
qual tira do feu thefouro o
iiovoi&maiso velho. Af-
lim ofareieuhoje,pofto
que reconheço a minha
Thien. pobreza ; Ego vir videns
fmpertatem meam. Dos
thefouros da Theologia,
& da Efcritura fupporei
na matéria prefente o ve-
llio,& verei fe poíTo dizer
o novo. A Virgem imma-
culada, cuja graça fempre
i »
certas três coufas geral-
mente recebidas , cada
qual porém dentro do feu
grão de certeza ; a primei-
ra cientifica , a fegunda
mais que provável , a ter-
ceira expreíTamente de fç.
A primeira, 6c cientifica
he, que ha dous modos de
remir, ou de redempçaô >
húaque tarda, 6c remedea
o cativeiro > outra que Te
anticipa , ^ preferva del-
le. A fegunda , 6c taó pro--
vaveljquejà fe naõ pode
foi antiga,6cíempre nova, afiirmarem publico o co-
me afllíla com a fua. trario , he,que pela redép-
Ave Maria, çaó que remedea, rcmio
Chrífto a todo o género
§' II- humano,5c pela que fe an-
ticipa, 6c preferva , remio
a fua fantiífima Mãy. A
terceira, ^ expreíFamente
de fé, he,que o preço de
^++ P Rometi fup- húa, ^ outra redenipção
1 por o velho foi o merecimento, & va-
para dizer o novo. Epofto lor infinito do Tangue do
que efta propoíta na mate- Filho de^ Deos oHcrccido,
6cderra-
Maria^de efua natas eft
lefusM2Xx}sx.\,\6.
da Virgem Maria S.N. i6i
& derramado por todos, lho da Virgem Maria em
Lfte fangLie pois, & o mo- quanto Jefu, & em quanta
do com que Chriftoo der- Redemptor,em obrequio,
ramou íingularmentepor & beneficio íingular da
fua Máy, com muitoíi pri- mefma Senhora deo o fan^
mores de redempçaò atè- guCjque de Tuas puriíHmas
gora naó ponderados, fera entranhas tinha recebido :
a novidade, que para ma- de qua natits íy^jfejaoprir
iorgIoriadaMáy , & do meiro,&: maísgeraI,como
Filho defejo provar. A tu-
do me daó fundamento
as palavras do Evangelho^
que tomei por Thema:
Maria^ de qua iiatus eft le-
fus. Em Maria temos a
Remida>& prefervadaino
fundamento de todos, fer
a mefma Senhora prefer-
vada do cativeiro do pec
cado de Adam por valor,'
& virtude do mefmo fan-í.
gue.
\â^6
Mandando Deos
nome dejefu,que quer di- aMoyfes, que dos defer-*
^erRcdemptor, temos a tosdeMadian onde vivia
redempçaò: & nas duas foíTe ao Egyptorefgatar, o
palavras, de qua natus eft , feu Povo, que là eílava ca-
temos o preço, que foi o tivo, levou Moy fes em fua
íànguci porque encarnan» companhia a Sephora fua
do, & nafcendo Jefu de Efpofa. E foi eíla acçaó
Mariajdella o recebeo pa- do feu Enviado táo eílra-
ra o dar univerfalmente nhada ,& abominada do
por nos , & muito particu-
larmétepela mefma Máy.
í. ni.
14.5-
ENtrando pois
nas confidera-
çoens,& modos particula-
res com que o bemdito Fi-
Tom.7.
mefmo Dcos, que antes de
chegarão Egypto,lhe tor-
nou a aparecer taó indig-
nado contra elle, que que-
ria naó mcnosjquetirarjhe
a vida : Cumque effet in iti-
vere^in di-verforio , occtirrit
ei'Dominus^ & njokbãt oc~
ciàere eum, Pa r e mos, & r e-
L paremos
<od 4."
-4
i
■■■■■4'
;
■íi.
i^i SermaÕ da Conceição immaculada
paremosaquicomS.Ago- conformarcom o queho-
ítinho, Theodoreco, Eu-
febioCefarienfe, ErniíTe-
nO;,& outrosj os quaes co-
lhem do mefmo Texto ,
queeíla,& naó outra foi a
caufadehúa taó notável,
& impenfada demoftra
je pregamos , fepor ven-
tura ha ainda algum. Se
Deos quiz matar a Moy-
fes^porque naó fofreo^que
ellemeteíTe no cativeiro
do Egypto com os outros
cativos a Efpofa que era
çaó. Pois, Senhor, a Moy^ de Moyfes ;" fe a Efpofa
ícs, a quem acabais de ele- foíTe do mefmo Deos , co-
ger por Redemptor do ca- mo o fofreria ? Sendo pois
tiveirodovoíToPovOjtaò verdadeiramente Efpofa
de repente quereis privar, fua a Virgem Maria , co-
naófódoofficio,fenaôda mo fofreri aos quelha
vida ?Taô grande culpa , querem cativar , & meter
& taó malfofrida de vòs , com os demais no mefma
foi querer levarfua Efpo- cativeiro > Mas advertido
faconfigo? Sim. Porque ifto depaíTagem , vamos
quandoeumandoa Moy- por diante com a hiíloria
fes,que và libertar aos que ao noíTo ponto,
cftaó cativos no Egypto > 14,7 Poftos Moyfes,&
que queira ellc meter no Sephora em termos tam
mefmo cativeiro a fua Ef- apertados,& perigofos co-
pofa , que taó livre eflava mo vimos: eile debaixo da
delle, quanto vai do Egyp- efpada de Deos condena-
toaMadianjnio fofroeu do à morte, & ella cami-
tal deslumbramento,&: tal
erro em hum homem, que
fiz Redemptor univerfal
do meu Povo , & por iíTo
nhando para o Egypto,
onde todos eraó cativos j
que fucedeo > Levavaó
ambos hum filhinho cort-
reprefentador de meu Fi- íigo, ao qual naquelle efta-
Iho. Reparem neílejuizo do circuncidou a Máy,di-
de Deos os que interior- zcndoaoPay, qelieeraa
mente fe náo acabáo de caufa de lhe derramar o sá-
,gue:
da Vtrgm
Eíoa.4 gue : Sponfus fanguinum tu
mihi es:&cno mefmo pon-
to, aplacado Deos,a Moy-
les lhe foi perdoada a cul-
pa,& Sephora ficou livre
deiraoEgypto ) aparcan-
ideii^*^* dofedelle: Etdimtfit mm.
Sephora Quem íe naó admira iiefte
iraTy- caíò do modo taõ fácil , 6c
^^- táo breve com que dous
nòs taó fortemente aper*
cados fe defatáraó, & doua
perigos taó grandes fe re^
Ibl véraó ? De fortejque em
fe derramado o fangue do
filho, o Pay ficou abfolto
da culpa,& a Máy livre do
cativeiro ? Com razão dif-
fe S. Paulo,que tudo o que
naquelle tempo fucedia,
craó figuras, & húa como
comedia do que depois
havia defer: Omnia in figu-
ra contingebantillis. O fi-
lho innocête era figura de
Chrifto : o Pay era figura
de Adaój de quem tomou
a natureza: a Máy era figu^
rada Virgem Maria, de
quemnafceo, E tanto que
o fangue do filho fe derra-
mou, o Pay ficou livre da
culpa,pela qual eftava có-
denadoà morte :& a Máy
f.Cor,
10.11.
Maria S.N. • i<>j
ficou livre do cativeiro pa-
ra onde a levava o mefmo
Pay. Pôde haver repre-
fentaçâo por todas fuás
circunftancias mais pró-
pria ? Mas ainda faltaõ por
advertir duas para maior
gala do myfterio. A pri-
meira, que a Máy foi livre
do cativeiro não depois de
ir ao Egypto, & eftar cati-
va, fenaò antes, & preíer*
vada, para que o naó fofi^e*
A fegunda , que o mefmo
cativeiro do Egypto na*
quella occafiaó jà eftava
acabando,& havia de du-
rar muito pouco: mas co-
mo o filho de Sephora re*
prefentava o Filho de Ma-
ria,naó permitio o feu fan*
gue, que fua Máy eftivef-
fe cativa, nem por hum fó
inftante.
14.8 Parece que de-
pois de tal figura naó pôde
haver prova real , que a
iguale : mas íerà tanto ma-
ior, 8c melhor, quanto vai
daluzàfombra. Quando
o mefmo Chrifto na ulti-
ma Cea confagrou o feu
preciofillimo fangue no
Caliz, foi com eftas pala-
Lij yra^:
f
fá!
■fi;:
11
2. Cor.
'i(>4, Sermão daConceiç ao immacíilada
vr^svUicefl Calixfangui' qui eílà a diíferença. O
w/J" met, quipro vobis , eè^
fro multis ejfimdetíir ; Efte
he o Caliz de meu fanguc,
o qual fe derramará por
vósj&por muitos. Terrí-
vel palavra foi efl:a ultima!
O fangue de Chrifto he de
fanguede Chriílo abfolu-
tamcntederramoufe nim
fó por muitos, fenam por
todos : mas em remiíTao de
peccados ^ naó fe derra-
mou por todos, fenam por
muitos ; porque do nume-
fé, que fe derramou por ro dos todos foi exceptua-
todos, porque por todos daa Máy,que lhe dea o
morreo, de que temos có- mefmofangue. Portodos
tra o Herege moderno o
texto exprelfo de S.Paulo:
Tro omnibiis morttius eft
Chriftus. Pois feomefmo
Chriílo havia de derra-
mar, &: derramou o fangue
por todos,porque naó diz,
Eíte he o Caliz do meu
fangue, o qual fe derrama-
ra por vos, & por todos, fe-
rjaóporvòs, & por mui-
toSipro vobis^&pro multis>
Lede as palavras feguin-
t^St <Sc vereis quam admi-
ravelméte refolvem a du-
vida. Quipro vobisy& pro
multis effiindetur in remij-
fanem peccatoru : Será der-
ramado , diz o Senhor , o
meu fingue por vòs,& por
muitos: mas como ^ inre-
mi/Ji 0)107)2 pí-ccatonun , em
rcmiílaó de peccados. A-
os mais foi derramado o
fangue de Chriílo, & em
remiíTaó de peccados : fò
por fua Máy foi também
derramado , íim , mas em
remiíTaó de peccados, naó;
porque naó tevepeccado.
Oh bemdito Filho de Ma-
ria,que bem moílraíles fer
juntamête Filho deDeos,
pois taó altamente acodi-
fles pela honra de voíla
Mãy / Havia de dizer S.
Paulo, que todos peccáraó
em Adam : & que o fangue
de Chriílo fe derramou
por todos. Mas para que o
mundo fe naó enganaíTe,
& foubeíTcque no contra-
híropcccadoouvc cxcci-
çaó,&: no derramar o fan-
gue, differcnca - por lílo
declarou o Senhor có duas
li-
da Virgem Mana S. N. ^ i6y
limitaçocnstãoexpreíTas, gne, que Chrin-o derra-
que o feiT ílingue fe derra- mou, para remir fingular-
mariapor muitos , & em mentea fua Máyj&aprc-
remiílaódepeccados. Por fervardopeccado } íaiba-
muitos, & não por todos, mosquandojonde, & co-
para excluir a fua Mãy: &
em remiífaó de pecca-
dosj&naó por outro mo-
do, para a eximir de toda
a culpa, da qual nam foi
perdoada por remiííaó, fe-
naò prevenida, &: prefer-
vada por graça. Aílim o
diíTe, & proteftou em tal
hora, em tal a£l:o,& com o
Caliz do fangue que havia
de derramar nas mãos, co-
mo Filho emíim , & Re-
dempror , que era da Mãy
de quem recebera o mef-
m o fangue: ^Deqtia natus
eji lefus.
T49
í. IV.
ri Stabelicido ef.
geral, em que fícão taóbê
proVadas('&náo fei fecó
algúa novidade} as fuppó-
fiçoensdoque chamei ve-
lho : para entrarmos no
que mais propriamente he
novo,&tudo fobre.ofan-
Tom./.
mo obrou o bemdito Fi-
lho eíle grandcSç occulto
myílerio,& nunca atègora
diílintamente examina-
do,
ifo S. Bernardino Se^p^,.^^^^
nenfe diz,queremio Chri- dm ser.
lio a fua Mãy com o pri- ^^^^
meiro fangue, que derra-
mou na Cruz,& com gran-
de preferencia a todos os
que nella foraó remidos.
Fundafe naquellas pafla:-
vras dos Cânticos : Vulne- cant 4*
raífi cor meum , foror mea 9-
fpo nja , ijulnerafti cor meu :
nas quaes reconhece ó Sá-
to primeiras, &: fegundas
feridas , ^ diz que as pri-
meiras oífereceo Chriílo
na Cruz pela redempçam
de fua Mãy, paraq a mef-
ma Senhora, fendo remida
primeiro que todos, foíTè a
Primogénita do Redemp-
tor. As palavras dodevo-
tiíUmo, (Sc dou tiíli mo Pa-
dre faó efías: Vulnerafticor
meumyforor meafiJonfa>,vul'
L iii mr.ajil
/
m
^m
■it
rà
■M
■^
-'1'
1
f
Luc 2.
7-
1 66 Sermão da Conceição tmmactdada
neralii cor meum : pro tuo fentença quâro ella o per-
amore carnemfumpfi , é^' mite. É verdadeiramente,
vulnenms primis in cruce que quando o Santo diíTe ,
vukerajií cor meum ; nam vtilnenbus primis , íe nam
Trimogenita Redemptoris
Filijfuilefiípfi: virgo Bea-
ta. Altofentir, & digno
defeuAuthor. De forte,
que aílim como o Filho
foi o Primogénito da Máy
acrefcentàra in Cruce , na
Cruz , não tinha eu mais
quedefejar, & dera o pa-
rabém ao meu penfamen-
to de fe encontrar com o
de taó ai lu miado, & fubli-
em quanto Homem, Tepe- me efpirito. Mas porque
rithzlium [uumTrimogeni- tenho outras Efcrituras
tum 5 aííl m a IMáy foi a Pri-
mogenita do Filho em
quanto Redempcor, Tri^
mogenita Redemptoris Fi-
lijfiii. E efta foi a primei-
ra fineza , ou primorofa
correfpoiídencia com que
oFilhoJeíu , em quanto
mais ciaras, que citarei,
conformandome em que
ofiiague,queo Red em p-
tor derramou por fua
Máy, foi o primeiro, di-
go que naò foi na Cruz,fe-
naó no Horto. Abranos o
caminhoàprova deíla no-
Jefu , & Redempror da vidade o grande Doutor
Máy,dequem nafceo,lhe dalgrejaS. Ambroíio , o
pagou o benefício do fer, quaíílorecendo mil annos
naó que delia ti veíTejà re- antes, jà entaó deixou ef-
cebido,fenaó que havia de crito, que dando o Filho
receber. O Filho Primo- deDeos principio à obra
genitodaMãy, & a Máy
Primogénita do Filho : o
Filho Primogénita^ da
Máy no nafciméro, a Máy
Primogénita do Filho na
Conceição.
ifi Atè aqui S. Ber-
nardino, declarada a Ília
dauniverfú Redempçaó,
começou por fua Máy.
Nec mirumji T>ominus re^
tíempturus mundum , opera-
tionem fuam hrhoavit à ^'f^"
Matrty ut per qtiaynfalus Uxcc.v
ornnibusparabatur , eautm
primajruttíimfalktis hau-
riret
da Virgem
riretex pignore. Elegante,
& eloquentemente, como
fempre, Ambrofio. Qiier
dizer, que ningiiem fe de-
ve maravilhar de que ha-
vendo de dar principio o
Redemptoràobra da re-
dempçaódo mundo, co-
meçaíle por fua Máy, para
queella , que o havia de
ajudar na redempçam de
todos,foíre a primeira,que
namermaredempçaó co-
IheíTe os frutos do fruto
do feu ventre.
15-2 lílopofto,fe aU
guemperguntaííèao mef-
moFilho,&;à meAna Máy,
onde colherão eftes pri-
meiros frutos da redemp-
çaó,naó ha duvida, que
ambos ha vião de refpon-
der,que no Horto: & aílim
o dizem expreílamente a
Mãy,&: mais o Filho. He
paíTo, que fe naó podia de-
fejar, nem inventar me-
lhor :& foi hum dialogo,
que tiveraó entre íy o Ef-
poíò, que he Chriíto, & a
Erpoía,que he a Virgem,
no mefmo livro dos Cân-
ticos. Veniãt díleãusmetis
in hortumfuunhÇdiz alli a
Maria SM. i^7
Senhora 3 c^ Cúmedat fru-
ãum pomorunifuorum : Ve-
nha o meu amado ao íeu
Horto, &: colha o fruto dos
feus frutos j iílo he, os pri-
meiros , & as primicias
delles. Ifto diíle a Efpofa :
&logo tendo fatisfeito o
Filho ao defejo da Mãy,
diz aílim : Feni in hortum
meiím^foror meafponfa , &
mejjui myrrham me a : Vim
ao meu Horto, irmâã, 8c
Efpofa minha, & o que alli
colhi, foi a minha myrrha.
A mirrha propriamente
naó he fruto, íènaó hú li-
cor, que fe fua,& eftila das
arvores do mefmo nome.
Pois fe a Efpofa tinha con-
vidado o Efpofo, para que
fofleaofeu Horto colher
os primeiros ÇrntoSyVeniat
in hortum faum^ér com^dat
fruEtum pomorum fuorum :
como indo o Efpofo ao
mefmo Horto, em vez de
colher frutosjcolheo myr-
rha : Veni in hortum meum^
^meJJui myrrham meam?
Aífimo diífe , porque af-
fim foi , nem fe podia de-
clarar melhor. Como a
myrrha he aquelle licor
L iiij aro-
bidem.
I
i
til
,ió8 SermaS daConceição immaculada
aromatico,que fuaóasar- porque a rcdempcaÓ , que
vorcs, o fruto que Chrifto obrou no Calvário, era re-
colheo no Horto , fatisfa- dempcaódepeccado , &
zendo ao defejo de fua depeccadores; para quea
May,foioíangue,quepor defuaMãyde nenhú mo-
anior delia fuou na oraçaó do fe envo! veíTe, & miftu-
ao mefmoHorto.Expref-
ía,&: concordemente S.
Cyrillo Jerofolymitano ,
Sf PhiloCarpacio,6cRuper.
Carp. to . Chrisíus enim in Horto
I^^P^" orans, myrrham mefuit, cu
fan^uinerd fné.vit . Pode
haver coufa mais clara ,
mais breve,&- mais exada:
em que fe exprima como
deícjavamos, o onde, o
CO mo, & o quando? O on-
de 5 no Horto , in Horto : o
eomo5orando,í?r^?2j-:o quã-
do, quando fuou o Tangue,
cumfangninem fudavh ^
raíTe com ella, a dividio,&
feparou no tempo, no lu-
gar, no fangue,& no modo
de o derramar, fazendo no
Horto hum novo Calvá-
rio fem monte, & no fuor
húa nova Cruz fem cra-
vos? AíHmo cantou ele-
gontemente Hildeberto
Turonenfe; ^^?;;^.'/;,vn/j77/-
dorCitixfmt c.nte criicem.
Mas ouçamos a S. Paulo.
S. Paulo parece que faz
diíl:inçáoentrehum,&: ou-
tro fangue, attnbuindo a
redempçaó univerfal fó ao
if3 Aviílapoisdeíla fangue da Cru2:-P^r//r.?7?j
primeira conclufíò raó pcrfangumtm Cnxis ej^^íf'
iiova,&taÓ provada, que fivequainterris,fivequ£ in
diremos? Diremos por ve- Cdis; & eílcs faó os ter-
mos geraes com que com-
mummenre fallaó os San-
tos Padres. Donde fe fe-
giie , que fco fangue da
Cruz foi íò o preço da re-
dempçaó univcría! , r.o tal
caio todo o sãguc do Hor-
to foi unicamente aplica-
do
tura, que andou taõ fina-
mente primorofo o fobe-
rano Redcmptor na re-
dempçaó de fiaa Máy, que
naólò quiz que foífe im-
maculada a Remida , fe-
na 6 ta m bem i m ni a c u 1 a da
a mcfina redempçaó ? E
da Virgem Maria S.N. 169
do pelo Filho à redemp- macula. Em tudo quanto
çaò da Máy , & por ilTb digo, fallo pela boca da
propriamente naõ fó Pri- mefma Máy, &: do mefmo
mogenita, como queria S. Filho : & neíle ponto com
Bernardino,mas Vnigeni-
ta ; porque a Primogénita
tem fegundos, 6ca Vnige-
nitaheíiagular, & única.
Mas eíla fineza de nenhú
modo fe deve, nem pôde
entender com exciufaodo
fangueda Cruz , porque
he certo, que o Filho da
Virgem também morreo
pelaAdáyjde quem naf-
ceo •, que foi nova corref-
pondencia de reconheci-
mento, c*^ gratidão, pagan-
dolhe o naí cimento coma
morte. Qiie diremos logo
àvilla deites dons thea-
tros, ou amateatros-, am-
bos fanguinolentos y hum
do Horto , outro do Cal-
vário ? Digo,que em hum,
6c outro obrou o Filho de
Maria comojefu, & como
Rederaptor a fua redemp-
ção i mas no Calvário co«
mo univerfalmente Re-
mida i no Horto , como
fmgularmente preíerva-
da, & em hum , & outro ,
como puriílinu , 6c íem
texto miiagrofamentefei-
tofóparaelle.
154, Hum dos mais
notáveis Textos da Efcri-
turanoquediz, 6c na or-
dem,6c confequencia com
que o diz , faó aquellas pa-
lavras do Efpofo Divino ,
fallando primeiro comíi-
go,6c depois com a Efpo-
ía : Vadam ad montem myr^ cant.4
r/j^, éy ^d CO liem thurts:^-^'
totapulchraes arnica mea^
érmâculanoneftinte. Ea
[ diz o Efpofo } irei ao;
monte da myrrha, 6c ao oi-
teirodo incenfo: 6c ^os-s^
Efpofa, ^ amiga minha,
todaíbis fermoía, ^ toda
pura fem macula. Supér-
fluo he repetir , que a Ef-^
pofahe a Virgem Maria,:
6c o Efpofo Chriilo fen
Filho. Masque correfpô-
dencia tem dizer o Filha ^
que ha de ir ao monte da.
myrrha , 6c ao oiteiro éx>
inceníb : 6c logo inferir, 6c
concluir, que a Mãy toda.
he fermoía, 6c toda pura
íem
í
'.'■wSííi
■ m
'■%
-■'$
■ é
•I 70 Sertnao da Conceição immactdada
fem macula ? ^^^^;;/ ad ra Chrifro remiro género
montem myrrha , é* adcol-
lem thtiris : & logo de re-
pente fem outro motivo:
Totapulchra es arnica me a ,
& macula non eft in te ? Pa-
ra entendimento deíía no-
humano depois do pecca-
do, bailava o fangue, que
derramou na Cruz 5 mas
para remir , òc prefervar a
fua Máy fem macula de
peccadojquizelle por fi-
tavci coníequencia em q neza particular acrecen-
fe infere com tanta clare- tarao fangue da Cruz o
za, &: expreíTaó a pureza fangue, que derramou na
immaculada da Virgem, oraçaódo Horto. lílo he
he neceíTario faber , que irão monte da myrrha :
montCj&queoiteiro, que
myrrhaj& que incenfohe
eíle ? A myrrha íignifíca a
morte,oincenfo íigniíica
a oraçaó : & neíle fentido.
Vadam ad montem myrrh^^
& juntamente ao oitciro
doincenfo , à* íid colUm
t buris. E tanto que fe uni-
rão os eífeitos deílas duas
j -j Av*^ ^^ ~.. wxvwK^ vj.wii«k, viuaa
que he de todos os Santos jornadas, &:fe ajuntou hu
Padres, omonte da myr- íanguecom outro fangue,
rha he o Calvário , onde
Chriílo morreo,6cooitei-
ro do incenfo, he o Horto
de Getfemani, onde orou :
(^porque Getfemani eíla-
vaíituado em hum tezo
entaò exclamou, 6c decla-
rou a vozes o Filho 5 que
fua ÍViãy era toda pura, &
fem macula : Tutãptdchra
es^ arnica mea , & macula
noncft intci porque o cf-
fobreoValledeCedron.} feito gerai do fangue da
E de Chriílo morrer na Cruz,foiremir,&: oparti-
Cruz, &:orar no Horto,
tira por confequcncia , &
conclue o mcfmo Senhor,
que fua Máy toda he pura,
& fem macula : có razaó,&
confequcncia , torno a di-
culardofinguedo Horto,
remir prefcrvando.
j 5-5- Comparemos hu
fangue com outro , o da
Cruz com o do Horto, &
, ^ , ^,- veremos com os olhos eíla
zer,miíagrofai porque pa- mefma differciiça. Quan-
do
da Virgem Maria S.N. 171
do na Cruz deraó a lança- jangiús:,ut redimeret. A ílim
da a Ghriftojfahio Tangue,
ioan.19. _, _, ' , ^ P j
3 }. & agua : Extvttjangms^&
aquaim.is quando o Se-
nhor íiiou no Horto, fo-
mente fahioíangue : Fa^
Luc.21. ^^^j. eftfudorejusfictitgut-
t^fanguinis. Parece, que
naó havia de fer aííim.
44
os demais. Ecomo ofan-
gue da Cruz era para re-
mir, & a agua para lavar as
manchas do peccado de
ikdam i poriíTo íahio na
Cruzo fangue juntamen-
te com agua : Exivit faur
guiS) &aqua. Porem no
Mais próprio era do fan- Horto,como o fangue era
gue do Horto, que do fan- para remir naó lavando ,
guedaCruz , fair junta- íenaôprefervandodamef-
mente com agua. Porque
depois de exhauílo o fuor
natural , que he humor
aqueo , entaõ fe feguia o
preternatural , & prodi-
ma mancha .-porque fó ha-
via de remir, & naó tinha
que lavar^ por iííb o fuor
naó foi de fangue j unto c6
agua, fenaó de fangue fó-
giofo, que he o de fangue. mente : Siçiit guttafangui-
Qual foi logo o myílerio, ms, Efca he a razáo , Sc
porque o fangue da Cruz propriedade porque oSe-
fahio juntamente c6 agua, nhor quando diífejque ha-
& o à.o Horto naó .^ Todos via de ir ao Calvário, Va-
os Padres uniformemente dam ad moyitem myrrh^y
diluem 5 que o fangue da naó faliou palavra na pu-
Cruz íigíiiíicava a redép- reza da May ; mas tanto
çâo, & a agua o bautifmo que ajuntou, que havia de
primariamente inílituido
para lavar o peccado ori-
Athan. ginal. S. kXX^d.Vi-3iÇíO\ExÍVÍt
^trm à^ jãnguisy& aquay ut íta re-
Amb ?' demptio & immudatío pria-
iib.de ris Ada: dimanaret, E S.
cap. . K\nhTo£vo'.Exivit aq.uayò' virtude, produzir por íj
Jangms : a^ua^ut mundaret^ ío eíle eff eito 3 mas como a
re-»
ir também ao Horto,c^ ad
colkmthuris^ iogoapubli-
cou,& canonizou porim«
maculada^id?" macula mn^efi
in te. Bem podéra o íangue
da Cruz, como de infinita
i
Um
^
m
"172 Sermão da Conceição hnmactílítJa
redempçaõda Máy eratá- No fanguedeCíirifl-otan-
tomais nobre, tanto mais
alta 5 & tanto maisprecio-
fajque a de todos , tam-
bém era credito da merma
redempçaó, que foílema-
ior^Scmaisfubido o preço
to valor tem húa gota co-
mo todo: & feno todo fe
quizefreefpecular alguma
coníideraçaó de exceíTo,
ou ventagem, o todo. foi o
da Cruz, & as gotas ò do
que fe át^^ por elía. Por Horto ; Stcutguttafanmi-
líTo os empenhos fempre 7Íts. Que razaó de prero-
mais, & mais primorofos gativa teve logo o Tangue
do Filho não íe contentaó do Horto , para fer eAç^ o
com menos, que com do- preferido neíle myílerio
brarapaga ,acrecentando ao da Cruz ? Refpondo,
hum preço fobre outro que a
preço, 6c hum fangue fobre
outro fangue , como Re-
que a razão , conveniên-
cia, & primor deíi;a pre-
ferencia, foi 5 para quefnaó
demptoremíim,ôcJefuda fó oRedemptor, & a re-
Mãy,de quemotomou,&: dempção, fenaó também
nafceo : 'JJe qua natus efi o preço delia, que foi o fan-
lefu
us.
1^6
§. V.
TE mos prova-
do a preroga-
tlva do fangue , que Chri-
fto fuou no Horto em ref-
peito do que derramou na
Cruz, Sc como foi parti-
cularmente aplicado pelo
mefmo Filho à redempçaó
im maculada de fua Máy:
mas ainda naó temos da-
do^nem inquirido a razaó.
gue, feuniífem no mefmo
modo fingular, & extraor-
dinário de remir, com que
o Filhoremioa Máy, &
el Ia foi rem ida. Como Foi
remida a Virgem Mana ?
Não depois, lònaó antici-
padamenre, quciífohefer
remida por prefervaçam.
Pois eífa foi a razaó, o pri-
mor, & afneza , porque
naó fó o Redem ptor , &■ a
redempçaó , fenaó tambe
o p rcço d c 11 a í c anti c i pou .
O Rcdcmptor apreílbufe ,
^adi-
da Virgem Maria S. N. 1 73
& adiantoufe à redêpçaó : as mefmas. St tanto podia
a redempçaó apreírou(e5&:
adiantoufe ao peccado : Sc
para que o preço,que era o
fangLiejfe apreíraire5&: adi-
anta íTe também , antici-
poufeo fangue do Horto
ao da Cruz.
1 5-7 Caminhando o
Pay , Sc May de Samfam
por hua eítrada deferta
cerrada de bofques, adian-
toufe o filho, que os acom-
panhava 5 & faindolhe ao:
encontro hum Leaó tao
feroz na catadura, como
foberbonos bramidos, ar-
remeteo a elle o valente
moçOjfem mais armas,que
as próprias mãos, Sc afFo-
gando-o entre ellas, o lan-
çou morto no bofque.
Grã façanha, Sc mais quê
humanai Allimonotaafa-
grada Efcritura, dizendo,
queiílo fez Samfam mo-
vido do Efpirito divino.
Mas o primeiro movimê-
to com que fe adiantou ,
deixando atraz fea Pay, Sc
fua Máy , parece que nem
foi neceíTariOjnem conve-
niente. Neceífario naó •,
porque as fuás forças eraó
matar o Leaó adiantan-
dofe, como indo ao lado
dos Pays : conveniente tã*
bem naó, & niuito menos j>
porque acompanhando os
mefmosPays , os aíTegu-
rava melhordo perigo da-
quella, ou de outra fera do
bofque. Qual foi logo o
fim ^que naó podia deixar ;
de fer grande, ôcmyfterio-
fo ] porq o moveo o mef-
moeípirito a que íe adiar í
taíie.^O fim grande, & my^;
íleriofo foi, como jà no-
tarão alguns Efcritores
modernos^ porque nefta
hiftoria de Samfam fe re-
prefentava maraviihoíà-
mente,&com todas fuás
circunftancias o myílerio
da Conceição immacula-
da. Aeftradapor onde ca-
minha vão o Pay, & a Máy,
heaqueila por onde def-
cendemos de Adam todos
os que recebemos o fer por
geração natural : o Leão
feroz,&íòberbohe o pec-
cado original, que naquel-
la paíTagem efpera a to-
dos os homens,&: antes de
nafcidos lhe naó perdoa,&
os
i
i
I /4« Sermão da ConcelçaS Immaculada
os mata; oSamfam, que o o figurado, antes desfaz, <Sc
matoua elle , he Chrifto defcompoem toda a glo-
por natureza izento de ria,& privilegio da Con-
peccadoj&quefô tem po- ceiçaójqueconíllieemfer
der, &f(3r^'as para vencer, a Senhora unicaméte pre-
& deílrmr naô fô o origi- fervada > Mas que feria fe
nal, mas todos. AíTim pois eudiíFeíTe, que nefta que
como Samfam fe adiátou , parece impropriedade da
&anticipou para livrar do hiíloria, confiftioamaior
Leão a feu Pay,& fua Mãy, energia , & gala do myfte-
antes que elie os encon- rio? AíHm o digo. Porque
traífeiaílImCliriílofeadi- Samfim livrou daqueila
antoujScanticipou a prc- fera, que reprefentava o
fervar do peccado origi- peccado original , naó fô a
nalafuaMáy,antesqueel- fuaMáy,fenaó também a
laoencorreífe. feuPayj poriífomefmo
158 Atè aqui os Dou. foi perfeitilTima figura de
tores allegados,naó repa- Chrifto no myfterio da
rando nenhum delles,nem Conceição. Mas de que
acodindoahúa circunftã- modo.^ Por iílb mefmo.
cia,6c impropriedade, que Porque Chrifto foi Filho
fendo efta figura taó natu- da Virgem Maria : & a
ral do myfterio , naó fô a Mãy que he Virgem, nam
fô he Máy, fenaó Máy . &
Pay de feu Filho , porque
naó tem outro Pay. Logo
para Samfam fer perfeitif-
desluftra,&: afea,mas a ne«
ga, ou põem em duvida.
Samfam livrou das garras
do Leaó a feu Pay, &:afua ^ ,^, ^/v.iiv.itii-
Máy : Chrifto naó prefer- fima figura de Chrifto no
vou do peccado original a myfterio da Conceiçam,
homemalgum,fenaóahúa naó fô havia de livrar do
mulher fomente, que foi a Leaóafua Mãy, fcnaó a
Virgem immaculada : Io- fua Máy,& a feu Pay jun-
goa hiftoria naó diz com tamente. Efteheofunda-
o myfterio,nem a figura có mento porq graves Theo-
logos
da Virgem Marta S.N. 17^
logos ti veraó para fy , que que depois de muitos dias
a Virgem Maria em ref- fe manifellou^que o inten-
peito de feu Filho fe ha- to de Samfam fora formar,
via, ou podia chamar nam como formou,da íiia meA
íò Mater como as outras
Aiiys, fenaó Matripater^
que quer dizer Máy , &
Pay. E pela mefma razaó
lemos em muitos Santos
Padres , que o amor da
Virgem em rcfpeito do
mefmoChriftofoi dobra-
do ; porque o amor dos
outros filhos naturalmen-
ma hiíloria aqueile famor
fo enigma, que propoz, &
cxpozaojuizodos homés
com nome de problema :
Troponam vobis problema, jjdid
Jàeftouvendo,qttenenhÚ '^'^
entendimento haverá tam
rude 5 que heíla íingular
circunílancia naõ reco-
nheça mais, & melhor a
te gerados, dividefe entre hiíloria da Conceiçam de
opay,&amãyj porém na Maria , que a do mefmo
Máy Virgem , como em
Máy,^ Pay, eftava todo
unido.
\ 1 5p Ainda tem a meí^
ma hiftoria de Samfam
outra admirável proprie-
Samfam. Adiátoufe Chri-
ílo a vécer, & matar o pec-
cado original antes da Gó-
ceiçaó defua Máy : & eftá-
do por muito tempo oc-
culta aquella íingular fa-
dade em confirmação do canha do Filho -, que fez o
mefmo myílrerio. Jà vimos mefmo Filho ? Da mefma
como Samfam, quãdo ma- façanha occulta , & do
touoLeaó,oláçou,&:efcó. mefmo fegredo fó a elle
deo no bofque. E declara a manifefto, fez o mais celc-
Efcritura,q nem a feu Pay, bre, & mais altercado prò-
nem a fua Máy,nê a outrê blema,que nunca ouve no
defcobrio aquella façanha, mundo, difputádo as mais
fendo de tanta honra fua ,
&taó bizarra. Aílimefte-
veocculto o myfferiodé-
fte filencio, & fegredo, atè
doutas Efcolas da Theo-
logia, fe Maria fora conce-
bida em peccado original,
ou naõ. QaeEfcrituras fe
naó
mk
1
Ih tjl tZ
176 Sermão da, Conceição immàculada
nãotem defenterrado, & da, Scfcíf-ejadadctodos.
defentranhadoPQiie livros 160 Tornando ao fio
fe naó tem mandado à ef- do noífo dircurfojafiim co-
tampa > Que difcurfos, & mo o Filho fe adiantou, <Sc
argumentos fenaô tem iii- ancicipouà redempçaòda
ventado ? E em quantas
difputas publicas , & fe-
cretas fe não tê cótrover-
tidoefte mefmo ponto, íe-
guindo huns Doutores a
parte aííirmativa , & ou-
tros com maior applaufoa
negativa ? Mas todos atè-
gora problematicamente j
porque aíllm oquiz para
maior celebridade, & glo-
ria do mefmo myíierio o
foberano Author do mef-
mo problema : Troponam
^ohis problema, E fera fem-
pre problema? Naó. Por-
que da mefmahiftoria có-
Mãy 5 aíHm a mefma rc-
dempçaó fe adiantou, ^'
anticipouao peccado , &:
com nova , ôc admirável
correfpondencia. Foi tam
admirável a preíla coque
o peccado original fe adi-
antou ,&:anticipou a ma-
tar os homens -, que fendo
todos filhos de Adam, pri-
meiro os matou feu Pav
com o peccado, do que el-
les naceífem. E para que /e
veja, que a redempçamda
Virgem Maria nam foi
menos apreíTada, nem feu
Filho fe adiantou , &■ anti-
lta,que Samíam revelou o cipou menos em preíervar
enigma a fua Efpoíli. E af- a Mãy, do que Adam fe ú-
ílmcomo Samfimo reve-
lou a fua Eípofa,& por me-
yo delia o entenderão to-
dos •, aílim Chrifto final-
mente acabara de o reve-
la r a fu a F fpo fa a Igr ej a ,
como játcm começadoj &:
como for deli n ida porei la
r^ive-rdadc, ccílarà a coii-
trovcrfia, 6clerà conheci-
nha adiantado,& anticipa-
doem matar os íilhos-,per-
gunto,QLraifoiprimciro,o
nafci mento do Filho, ou a
Conceição da Mãy? Naó
ha duvida ,quca Concei-
ção da Mãy Ibi muito pri-
meiro, queo nalbimento
do Filho^ Pois fe o Filho
ainda nao era naícido , co-
mo
ãa Virgem Maria S.N. i yy
mo prefervoírdopeccado meiro. Todos os Santos
Padres reconhecem neíle
cafo grande myílerio , &
concordaó em. que aquel-
le fio de purpura foi íinaí
dofanguede Chriílo. S.
dopode-os Adam matar Cyriliocomentãdo aspa-
com o peccado antes de lavras do Texto, /^^j/?rí7-
a Mãy antes de nafcer ?
Refpondo tornando a per-
guntar. EquandoAdam
peccou, eraó jà nafcidos
léus filhos ? Não : &: có tu-
nafcerem. Pois feria bem,
que os filhos de Adam os
mataíFe íeu Pay c6 o pec-
cado antes de nafcerenijSc
o Filho de Maria naópre^
fervaíTedo mefmo pecca-
do a fua Mãy antes de naf-
cer? He verdade, que eíla
redempçaó taó anticipa-
da foieíFeito do fangue
da Mãy j, que elle ainda
naó tinha recebido. Mas
eíTahe a virtude do fan-
gue de Chriftojcomo ago-
ra veremos.
1(3 1 Quando ouveraô
de nafcer Zaraò , & Pha-
resdous filhos gémeos de
Thamar j Zaraó lançou
primeiro fora hum braço,
no qual a que aíTifl-ia ao
parto lhe atou hum fio de
purpura , entendédo q elle
leria o primogénito-, mas
enganoufe, porque Phares
fe adiantou>&: nafceo pri-
Tom./.
ttiUt maniim^ m qua obfte-
trix Ugavit coccinum^ àiz ,
ÇocciniimfanUiJJimu Chri-
fii fanguinem pgnat, E o
mefmo dizem S. Ambro-
fíO, S. Bernardo , & outros
Padres, Foi pois o cafo,
que os dous gémeos Za-
raó 5 ti Phares cada hum
procurava nafcer primei-
ro, 6c fer o primogénito,
para que do feu fangue
nafceíTe o Meílias, que era
toda a ambição, & emula^
çaódaquelletempo.E que
fez o mefmo Meflias .'* A
Phares concedeo , que re-
ceberia delle o fangucj&a
Zaraó, que com o mefmo
fangue o aílinalaria : & af-
fim foi. Mas a Zaraó deo-
Ihe logo a purpura ^ & o
final do fangue, Sc de Pha-
res naó o recebeo fenam
muito tempo depois. E
porque .^ Porque he virtu-
M de
GeneO
38.27.
;^pi:riLi-
pnmiriú
Am':r.
ilernar.
W'-
178 Sermão da Conceição immaculaia
de própria do Tangue de Redemptor foi Redcmp^
Chriftopoderfe dar antes toranticipado, porque fe
de fe receber. O Tangue de adiantou , & anticipou à
Phares naó o recebeo redempçaór&aíTimcomo
Chrifto fenaó quando naf- a redempçaó foi anticipa-
ceo o mefrao Chrifto, & o da,porque fe adiantou , &
ílnal,& eíFeito áo feufan-
gue recebeo-o Zaraó an-
tes de nafcer o mefmoZa-
raó : & ifto foi, nem mais,
nem menos o que fe veri-
ficou na Conceiçam de
Maria , & no nafcimento
de feu Filho. O Filho re-
cebeo o Tangue da Mãy,
quando delia nafceo , que
foi no dia do Teu naTcimé-
to : Sc a May recebeo o cf-
f eito do langue , que deo
aoFiJja^antesde naTcer a
anticipou ao peccado •, aT-
íimfoi conveniente para
maior luftre, & gloria do
myflerio, que o preço da
mefma redempçaó , que
era o Tanguc,foíre também
anticipado , & poriífo o
Tangue do Horto fe adian-
tou , & anticipou ao Tan-
gue da Cruz. Aílim o no-
tou, & celebrou com ad-
miráveis propriedades a
me Tm a Virgem taó pri-
moroTamente remida. De-
anéfma Máy , que foi no pois de dizer Teu bemdito
dia da fiia Conceição. De Filhojqueofruto, queco«
Torte,que o Filho foi Re-
demptor da Mãy por me-
yodoTangue,qiie delia re-
cebeo,antes de o receber :
&a Mãy foi remida , &
prefervada por meyo do
Tangue , que deo ao Filho,
antes de iho dar. E temos
fiindada,8c declarada a ra-
zão, porque eRe Tangue
foi o do Horto.
162 Aílim como o
Iheo no Horto, foi a Tua
myrrha : Veni in Hortum
meiím , meffíá myrrham ^^"^ <s
meam-.Ti qual myrrha , co-
mo vimos , he o Tangue
q no meTmo Horto Tuou i
diz logo a Senhora, fal-
landocom o meTmo Fi-
lho, que eíTa myrrha a que
chamaprimeirajfoiocltii-
ladode Tua Tigrada boca:^^.^
Lahiaejus dtjtillantia myr-
rham
^3^
-^
JJLJLMJU^
da Virgem Maria S.N. 179
rhamprimâ. Mas fe aquel- Senhora , que da mefma
lefangue, que o Senhor
fuou,rahio,&: brotou por
todos os poros do fagrado
corpo, como diz a Senho-
ra, quefoieftillado de fua
boca ? Agora fe verá com
quanta propriedade inter-
hocafeeítillava a myrrha
primeira : Labta ejus di"
fiillantia myrrhampnmam.
163 K^^-útl^itl diftiUâ-
f/^hea mefma com que o
texto Arábico explica o
fuor do Horto: Et faãus
pretamos do Horto , & da ejifudor ejus velutfanguis
oraçaó do meímo Horto o diftillans. Mas porque ra-
nome de collem thiiris, zaó chama a Senhora nas
Chamafe o ságue do Hor- mefrnas palavras ao fan-
to eftillado da boca de gue do fuor do Horto nam.
Çhrifto •, porque a força,& fó myrrha , fenaó myrrha
efíicacia da oraçaó do mef- primeira , myrrhamprimã^
mo Senhor no Horto, co- nome taó íingular , que fó
nefte Texto fe acha em to-
da a Efcritura fagrada?
Toda a myrrha nam he
aquelle licor , ou humor
preciofo,& aromaticojquc
feeftilla da arvore onde
nafce? Sim. Pois porque
mo taó fervorofa5& arden-
te, foi a que acendeo , &
futilizouofanguenas ve-
as , & o fez manar em
fuor. Aílimodizcóamef-
ma confequencia o Evan-
gelifta S. Lucas : TroUxius
Ltíc.22. f^j.al;at yérfaãus eíffudor fe chama particular,& fm-
'^^^^ ejiisficut guttafanguinis: gularinente o fangue , &
filias E Elias Cretenfe comen- fuor do HortOjnaó myrrha
^'^^ '^' tando o mefmo Texto:yf r-
dentt r orat^ acfudor gutta^
rum fanguinearum ah ipfo
f.uit. E comoaopaííbjque
da boca fahia a oração, das
veas rebentava, & corria
o fangue , efta foi a pro-
priedade com que diíle a
dequalquermodojfenam
myrrha primeira : 2>////7-
lantia myrrham priifiãm?
Náofe poderá mais pró-
pria, & eruditamente de-
clarar o myfterio de fer
sãgue anticipado. A myr-
rha, como defere 7e fii-
M ij niOí
i
' id
I «►f'
180 SermaodaConcelçaoímmaculada
Myniv "^^' colhefe da arvore on-
de fe cria por dous modos.
O primeiro he/uádo a ar
vore por fy mefma aquelle
licor mais futii eílillado
naturalmente, 8c fem vio-
lência : & efta fe chama
myrrha primeira. O fegu-
do he , picando primeiro
aarvore5& dandolhe gol-
pes, pelos quaes fae , òc fe
defcarrega o licor mais
groíFo : & eíla fe chama
myrrha fegunda. E quem
naó vè que tal foi com ad-
mirável propriedade a
myrrna primeira: Myrrha
primam. E fiz tanto ciifo a
Virgem puriíllma dcfta
circunílancia 5& celebra,
& louva tanto a feu Filho
por ella ; porque confiílin-
do naó lo a prerogativa
maior, fenaõ a mefma ef-
fencia da fua prefervaçao
em fer redempçaó antici-
pada-, que mais primorofa,
& elegante fineza fe podia
efperar , ou imaginar do
mefmo Redemptor , do
que querer feu amor , &
inventar fua fabedoria ,
myrrha, &fangue do Hor- queaílim comoa redemp-
tojcomparadocoma myr- çaódefuaMãy foi antici-
rha,&: fangue da Cruz ? O
fanguG da Cruz naó fahio
fenaó depois de ferido, &
aberto o corpo do Redêp-
tor com os cravos, & com
a lança : o do Horto porem
anricipandofe a todos os
infhu mentos da violên-
cia, elle fahio, & fe eílillou
por fy mefmo das veas
pada, allim foífe anticipa-
do o preço da mefma re-
dempçaó, & o fangue com
que a remio, também an-
ticipado ^ Aílim provou
finalmente fer fangue áà-
quellejefus , 5c daquelle
Redemptor: daquelle Re-
demptor, que o foi de lua
May antes de fer homem.
emfuor,&:efpontaneamé- & daquelle Jefus , que o
te. O fangue da Cruz tira- foi de Mana antes de fer
doa força do ferro, como Filho
myrrha fegunda : o fmgue Jefus.
do r-í jrco íu:ido fcm força
mais que a do amor, como
'JL)e qua 7iatus eji
í.vi.
dãVirgem Maria S.U. ^ ^^^
foi o mefmo i que na En-
carnação tinha recebido
de fua fantiíTi ma Mãy .
1 6 f A ptimeira, & na-
obrigaçoens de tural razão em que me
§. VI.
i6j^ ta parece que as
Redemptor juntas comas fundo, he tirada do peito
de Filho fe devéraó dar do mefmo Verbo encar-
por fatisfeitas nos primo- nado,ac dos archivos de
res^Ôc finezas taó repeti- feu entendimento, & von-
dascomque fmgularizá- tade,&naóem correfpon-
raò a redempçaó da purif- dencia de outro myílerio,
íima Máy j mas ainda refta feiíaó do mefmo da Encar-
a mais primorofa,& a mais naçaõ. Duas coufas rece-
fina detodas. Foifenten- beodenòso mefmo Ver-
ça de alguns Padres anti- bo naquelle myfterio, que
gos, como hoiehe comum foraóacarne, &ofangue.
entre osTheologos, que E que he o que fez delias,
o fangue, que o Verbo en- 6c porque razaó ? De am-
carnado tomou daVirgê basinítituío o Santiílimo
fantiífima, fempre o con- Sacramento da Euchari-
fervou unido à Divindade, ília ^ & a razaó foi, diz S.
fem permitir ao calor na- Thomás^para que tudo o
tural, que o aiteraífe , mu- que tinha recebido dos
daíTe , ou diminuiíTe. O homens,o empregafle em
mefmo conferva hoje glo- faudedosmefmos homês:
Auguíi. ^'^qÇq no Ceo, como diz S, ^otum quodde nojiro acce- n th.
AfíSnp. Agoftinho i & o mefmo pit.totumnobiscontuhtadovmmi
^''^- còmunsramos no Sacra-
mento, como diz b.rearo
Ser
4f-
Damiaó.lílo fuppofto,naó
me julgará por temerário
a piedade Chriftãa , fe eu
diírer,que o fangue, que
Chriílo fuou no Horto,
Tom./.
falutem. Lembremonos ^^"
agora , que do Cenáculo
onde o Senhor tinha iníli-
tuido o Sacramento,fe pac-
tioim mediata mente para
o Horto , onde a mefma
carnejque tinha facramé-
M iij tado
Jr
ll^
1 J
182 Sermão da Conceição immaculaãa
tado/uoupartenáodeou- tão devida, & primofofa
tro, fenão do meímo fan- occafiaó.
gue E haverá quem fe 16G Ifto he o que di-
perfuadajqueem tão pou- go,&:náofó , & fem Au-
coefpaçodetempo^&de thor. Eufebio EmiíTeno
lugar mudaíTe de penfa- (que alguns querem foíTc
jnento.&aífedoo mefmo Eucherio, ambos antigos
entendimentoj&amefma Padres da Igreja , 6c de
vontade de Chrifto, & fe grande authoridade } ou
tiveíTc efquecido daquel- ambos , ou qualquer del-
le mefmo diétame da fua les dizem eílas notáveis
bondade, & daquella mef. palavras. "D^ carne Maria
ma correfpódencia de feu coagulatus , de ejiisforma^
amor ? Claro eílà, q quem tus njtfceri us, de tjus Jub- ^:^^\
talimaginaíle , feria com ftant ia confim matus , fan- hõmii'.
manifefta inj uria tanto do gumem quem etiampro Ma- ^"^ . ^'^
•Filho,como da Mãy. Lo- tre obtulit, dejangiáne Ma^ Domifi.
?^Í£,^^9"^^^?' ^ ^"^or trisaccepit. Querem di-
zer : Chriílo gerado da
carne de Maria , formado
das entranhas de Maria, &
dafuílancia de Maria fei-
to homem confumado,o
de Chriílo tinha julgado,
que devia empregar em
faudedos homens tudo o
que tintia recebido dos
homens : havendo de ap* .,^,,,
plicar algiia parte de feu fingue que nmben7offe"
langue para a anticipada recco porredempçam de
redempçaô de fua Mãy ; fua Mãy, foi o que do fan-
porque naÓ feria aquella gue da mefma Mãy ti-
mefmaparte,quc de fuás
entranhas tinha recebido?
Quemtaô inteiramente o
tinha confervado, aguar-
dado trinta ôc três annos,
fcm duvida, que não feria
fenão para o empregarem
nha recebido : Sangmnem
(juem etiampro Matre obtu^
///, defanguine Matris ac-
cepit. Notemfe muito ne-
ílas admiráveis palavras
aquelle fanguinem defan-
guine Matris ^ de aqucfe
et iam.
daVirgem Maria SM. 1S3
etiam. De forte que o fan- x^S.çtiam ; foi efpcciaimé-
oiie de que fe falia naó he te applicada, como dizja-
rodo o fangue de Chrifto, mos, à redempçaó da mef-
fenaó parte delle , & eífa ma Máy: Sluem ettam pro
parte não outra > fenaó Matre obttilit .
aquella mefma parte , que i (>/ E para queo mef-
recebeo do fangue de fua mo fangue nos coníirmç
Máy: Sanguinem quem de altamente efte penfamen-
fanguine Matrts acceftt. E to, yamos ao mefmo Hor-
aquelle etiam , etiam pro to,& ao mefmo paífo , &
Matre ehtulit ^^Ç.Ví0X.2.Q^Ç. modo com que fe derra^
foi paga , & preço particu- mou. Quando Chrifto Se-
Jar , offerecido particular- nhor noífo entrou , & per-
iTiente fó pela redempçáo fe verou na oraçaó do Hor-
da Máy,alèm do preço ge- to tantas vezes repetida ,
ral offerecido por todos, o as anciãs da mefma oraçaó
qual naó foi fó parte do eraó fundadas no temor
fansuede Chrifto , fenaó natural da morte , & dos
todoofanguej&naófóa tormentos, tendo dado
parte que tinha recebido licença o Senhor aparte
do íangue da Máy na En- fenfitiva da fagrada huma-
carnaçaó,fenaótodooque nidade^aífim para prova
acquirioemtodootempo da verdade delia , como
da vida. Efte fangue todo para mais padecer por
foi o preço da redempçaó nos 3 a que fe fogeitafíe a
univerfal do género hu- todos os effeitos da natu-
mano: mas aquella parte
recebida do fangue da
Máy,pofto que foi parte
defte todo , também em
quanto parte feparada ,
reza, ainda com íinaes de
temerofa,8c fraca. Nefte
fentido difte S. Marcos:
Capitpavere^ &t adere-, o ^.^^^
que entendem todos os -í- '^3-
^//^;^5tambem,&-pormo- Padres de próprio ,verda
doparticularjí^íi^w^*, tam- deiro, 6c natural temor.
bem,& fobre opreçoge- Mas efte mefmo temor
M iiij pa-
mmmmm
1 8 4. SermaÕ da Conceição imm acidada
parece que faz diffiçultofo que o Verbo encarnado
ofuor defangue y porque
naófóaFilofofía, fenaóa
experiência nos enílna,
que com o temor fe reco-
lhe o Tangue, & acode ao
coração , & por iíTo íicaó
pallidos os que temem.
Fois fe Chriíío verdadei-
ramente temia ,&■ aílim o
temor como o íuor defan-
conrervava,&: tinha rece-
bido do Tangue de Tua
Máy. Provo. Quando o
Anjo deo a embaixada à
Senhora, turbouTe hú pou-
co o animo humiiinimo,&:
modeílilíimoda Virgem,
como taó alheo^o que ou- ^c
via : Tiirbataeft infcrmone -9.
ejus. Entaóo meTmo An-
gue, pofto que extraordi- jo lhe Tocegou o cuidado ,
nano, Toi natural •, como
em vez de Te recolher o
íãngue para dentro, Tihio ,
& brotou para Tora? A ra-
zão também natural he^
porque no meTmo Tangue
havia os impulTos, & cau-
Tas deíles dilFerentes eíFei-
tos, aílim como eraó dif-
f crentes os aíFedos , que
entaó combatiaó o cora-
ção do meTmo Senhor.
Húa parte do Tangue, Te-
guindo o aífeílo do temor,
era tímido , outra parte do
& lhe tirou o temor 5 dizê-
do : Netimeas, Maria\M7í' ^'''^^^
ria,naó temas. Socegado
pois o temor, então acei-
tou a Senhora animoTa-
mente a embaixada, & ài-
zcnd.o:Fiat mihi fecundum ^^
verbumtuum,cnVàòcnc2Lr* '
nou o Verbo em Tuas en-
tranhas. E como o Tangue,
que o Verbo tomou do
Tingue de Tua Máy , era
Tangue actualmente ani-
moíb,iVí^ tímeas Mar/a,ci\€
foi o Tangue, quenoHor-
langue,Teguindo o aíTcaro to naó acodio ao coração ,
contrario, era animoTo : o como tímido , mas como
ti mído acodio ao coração, animoío íhhio,&: Taltou fó-
oanimoTolaltou , & Tihio ra das vcas: baãus^Jtfu^
fora ; & efl:a parte do Tan- dorcjusjicut guttafnvgui^
giieanimoTo,queTdcou,&: nis. Aílim Te portou era.
íahio tora , foi o Tangue , Ihardo , &: gcncroTo o íau-
gue
da Virgem Maria S.N. ^ i8>
gue do Horto, Gomolem- fode amor, gratidão, &
brandofe naó fó de quem primorofiíTima correfpon-
era, mas de quem tinha fi- dcncia, que a parte aiiti-
do, para acodir na caufa cipada do Tangue, que ef-
originai pela honra de fua peciahnente appUcou, &
própria origem : Sangtii- dedicou à fua preíervaçaô,
nem quem eúam pro Matre foíTeaquella mefma, que
obtuíit-i defdvguine Matris
accepit. â^-
i68 Émfimj&cmfum-
ina,que Jefujque nafceo de
Maria,para íe moílrar per-
de fuás puriffimas entra-
nhas tinha recebido , 8ç
guardado. Eu naôfei pon-
derar, nem admirar efte
extremo de fineza 5 ma&
feito,&: perfeitiírimojefu, darei por mim outros ad
& perfeito, & perfeitiíTi- miradores de mais alta es.-
mo Redemptor de fua
Máy, naó fó a préfervou
fem macula em fua purilli-
maConceiçãOj que he o
mais perfeito modo de re-
mir-, mas para que ella fof-
fe a primeira entre todos
osremidos,& a Primoge-
fera, que todos os huma-
nos.
169 Quando Chriílo
como Redemptor univer-
fal noífo , & como Redêp-
tor particular de fua Máy
ílibio triunfante ao Ceo,
admirados perguntavam
nita, ou Unigénita da re- todos os Efpiritos Angeli-
dempçaó do mefmo Fi- cos^Sluiseft ifte^quUjenit^
lho •, antes de eile derramar
todo o fangue por todos
na Cruz, o começou a der-
ramar no Horto,ou única,
-OU particularmente por
ella, anticipando o preço
-da fua redempçaó , alllm
como a mefma redem p.;aó
foi anticipada } mas quiz
também por ultimo excef-
de Edom^ tinBis veHibus ?
Quem he efte, que vem da
terra de Edomcom as ve-
íliduras tintas em fangue ?
IJle formofus in Jiola jiia^
gr díensinmultitudinefor-^
titiidinisfu^. Vem acom-
panhado da multidão dos
que libertou com a forta-
leza de feu braço: 6c quana
ferr
\{^uex\
mm^
1 8 6 Sermão da Conceição immacuUdji
fermofo elle,&: quam ^^n- achareis que o ílinc^uc de
til-homem nofeu veílido!
Ninguém haverá, quenaó
repare muito neílas ulti-
maspaiavras: & fer ove-
ftido do triunfador o prin-
cipal motivo da admira-
ção dos Anjos , & fundarê
no mefmo veftido todos
os encarecimentos de fua
fermofura : Ifteformofus in
ftolafua ? Se era pela tintu-
ra do Tangue , tinãis vejii-
bus-i naó levava o Senhor
no mefmo triunfo as fuás
Chagas abertas? Pois por-
que paflaó em fdcncio as
feridas do corpo , & fó ad-
miraòo fangue do vefti-
do? O que manou das Cha-
gas, &: na cor viva, & bri-
que fe im^^io o veíiido
próprio de Chriílo, foifó
o do Horto. Nos açoutes
eftava o Senhor total men-
te defpidoj&o fangue que
dellescorreo ficou no pa-
vimento do Pretório. Na
coroação de efpinhos, o
fangue que ellestiráraó da
fagrada cabeça, também
cahio,& ferecebeo na pur-
pura, de que Ihefingioa
Opa real a jocofa impie-
dade dos foldados. Na
Cruz tambemeílavadef-
pido, & o fangue das qua*
troC hagas,&da quinta to-
do regou a terra do Calva»
rio. h\^\\\\ que o fangue de
que fe tingio a túnica, &
Ihante, com que neílas fe veíliduras próprias doSe-
via , naó era o mefmo? nhor, foi o fangue que por
Pois porque fe celebra tá- todos os poros do corpo
too do veílido , & naó o fuou no Horto. E comoeí-
das Chagas ? Porque as
Chagas eraó recebidas na
Cruz pela redempçáo uni-
vcrfal de todos,6c o fiingue
doveflidoera o fuado no
Horto pela redempçam
particular, & prefervaçaó
de fua Máy. Notai bem to-
da a hiítona da Pay xão,&
te langue fe fingularizou
nos extremos tantos , &
taò admiráveis , que vi-
mos,na prefervaçaó de fua
Máyi por iífo oYoberano
Redemptor o veflio pela
melhor, & maisricagala
de feu triunfo : & por lííb
como tal a admirarão os
An-
ãa Virgem Marta S. N. 187
Anjos,&: a celebrarão pela vando-a, & defcndendo-a
maior gentileza do mefmo do peccado^falvou-a, fa-
Redemptor: IHeformofits tisfazendo também deju-
inftola fua. íliçaàs obrigaçoens^ que
170 Tudo o mais que como Filho devia a fua
fucedeo no mefmo triun-
fo, cóíirma fer efte fangue
taóadmirado,o que parti-
cularmente fe applicou à
Cóceiçaó immaculada da
Virgem fantiílima. Per-
guntarão os Anjos 5 quem
era o foberano triunfador :
ifai 6^ ^^^ ^fi ^fi^ ' ^ ^^^^ mefmo
.1. ^'TCÍpondcoiEgo^quíloquor
jufiitiam , é^ propugnator
fumadfalvandum\ Eu fou
o que faço juíliça , &: fou
defenfor para falvar. A to -
d:js falvou Chrifto 5 mas
fó a fua Máy propriamen-
te como defenfor 5 propug'
w<2í(?rj porque aos outros
falvou, livrádo-os do pec-
cado i porém a fua Mãy
defendendo-a,queo nam
encorreíle. EeÔahea ái-
ftinçaó dajuíHça, de que
falia : Ego^qíú loquor jufti-
tiam-j porque aos outros
depois do peccado falvou-
os/atisfazendo de juíliça
à lefa Mageftade do Payj
porém a Senliora prefer-
Mãy . Inftáraó mais os An-
jos : ^are ergo rubrum eft
indumentum tmim-i & 'veCtt- „ . , ,
r 1 • Ibid.j; ]
menta tuajmit calcanUum
in torculari^ E que cor ver-
melha he a deíle veftido
femelhante à dos que pi-
zão no lagar ? Co a mefma
comparação tinhaójà di-
to acima , tinõíis veftibus
deBofra •, porque Bofra,
quer dizer vindemia , vin-
dima. Refpondeo o Se-
nhor : Tor calar calcavi fo- ^^ -^^^
/»/, & de gfntíbus non eft
*vr mecum Tporque o lagar
cmquefe me tingirão os
veftidos, eu fó o pizeijfem
eftar ninguém comigo.
Donde fevè a differença
do fangue derramado na
Cruz, em que a mefma
Mãy o acompanhou como
Corredemptora, &: efteve
cercado de tantos, aílim
feuscomo eftranhosjà do
fangue fuado no Horto,
em que eíieve fó, & foHta-
rio,5c atè os que tinha dei-
xado
< i!
Thren.
xado mais perto, dormin-
do. E porque efte Tangue
do Horto na metáfora de
lagar foi o applicado par-
ticularmente à redem.pçaó
da Virgem : aqui vem
caindo quando menos o
fom das palavras de Jere-
mias : Torciílar calcavit
U)omirms Vir gini filia ht-
^a:quG o mefmo Senhor
foi o que pizou o lagar pa
ra a Virgem, filha deju "
Finalmente conclue oDi-
Sermaoda Conceição mmaculada
da.
Sanguis eorum. Mas fc
Chriíloremio os homens
comofangue, que tinha
recebido dos mefmos ho-
mens, aqui fe cófirma mais
o que dizia mos, que o Tan-
gue com que remio aMãy,
foi o que tinha recebido
da meTma Mãy. E para q
acabemos com as primei-
ras palavras: ^lis eft ifte^ ^,°["^^'
qiii veyiit de Edom^ Edom ,
6c AdamheomeTmOjpor-
quehum, & outro nome
temomeTmo íignificado.
vmo triunfador com húas
palavras, que parece àts- E diz a admiração dos An-
fazem quanto temos ditoi jos em figura de Edom,
porque diz que aquelle que o Toberano triunfador
ílinguede queeílavaó tin- vinha de Adam, porque a
tasasTuasveíliduras , era gloria deíle triunfo, ou a
dos que na Tua batalha ú- parte mais gloriofa delle
nha vencido : ^^r///j eft toda pertencei à Virgem
Y^-^ifangms eorum ftiper vefti- immaculada. O reílo do
meíita mea : logo Te o Tan-
gue era dos vencidos, nam
era leu , como Tuppomos ? de Adam , que heo ori
Antes por ifib Teu , porque
dos vencidos. Deos nam
humano remio
Chriílo naó To do peccado
tinha Tangue , Sc para ter
ílingue com que remir os
homens , tomou o Tangue
dosmeTmos homens , &c
por iíTo diz, que o Tinguc ,
que derramoujcra dcllcs:
iial, Tenáo dos peccados
aduaes de todos, & de ca-
da hum : porem a V^irgcni
M a ri a , qu e n aò te v e p ec -
cado ad-u:il , Tó a remio , Sc
prcTcrvou do original de
Ad.:m ; &: porque de là co-
meçou o tnúfo, dcià vcyo
otri-
da virgem Maria S.N. \^9
o triunfante: §lutsejtijte^ damos,&às tentaçoens^^c
qiú venit de Edom ?
§. VII.
171 T7 Ste Foi o Famo-
Ljfiílimo triunFo
de Jefu em quanto Redêp-
tor,primeiro de fua Máy,
& depois do mundoimais
admirado dos Anjos pela
gaia do veílido , que pela
própria PeíToa j & mais
galhardo pelas gotas de
fangue do Horto 5 de que
vinha matizado,que pelos
rios que derramou na
Cruz 5 & regáraó o Cal-
vário. Para os devotos da
Conceição im maculada
naónosíica mais que de-
fejar, nem que fazer, fe-
naó acompanhar com as
vozes-, affeâros , & júbilos
do coração as admirações,
ôcapplaufos dos Aajos,^
dar aiil parabéns , Ôc' mil
vivas a tal Filho, ôc a tal
Máy. E poílo que todos
peia graça do Bautifmo ef-
tamos livres do peccado
original, como ficamos ío-
geitos à corrupção, & fra-
queza,que com elle her-
perigo dos peccados a-
£buaes 5 o que muito nos
convém , & de que muito
neceílitamos, he , que por
meyo da interceílaó pode-
rofillima da mefma Máy
nos valhamos da eíficacia
do mefmo Tangue do Fi-
lho. Alleguemosaambos,
que a virtude daquelle
preciofiífimo Tangue, nam
To he remir , 8c livrar dos
peccados jà cometidos,Te-
naó preTervar anticipada-
mête delles j & digamos ao
míTericordioíiílimo Re-
demptor o que tantas ve-
zes repete a Igreja : Cito
antícipent nos mijericordÍ£.
tu£:qu.e não To nos livre
Tua infinita miTericordia
dos peccados com que o
temos oíFendido , mas Te
anticipe a nos preTervar
dos futuros, para que nun-
ca mais o oíFenda mos, Na-
quella noite fatal, em que
Deos tinha decretado ma-
tar os Primogénitos do E-
í^ypto, mandou aos íilhos
deíTracl, que anticipada-
mente T^crifícaíTem hum
Cordeiro , & que com o
Tau-.
i
T 90 Sermão da Concetçao mmaculaãa
fanguc delletingiíTem, & do de nos tentar. E flhal-
rubricaíTcm todas as por- mente, para que ninguém
tas defuascafas^paraque duWde5queo meímo fan-
oAnjoaqueni eílava en- gLieanticipado foi fi^^ura
comendada aquella exe-
cução 5 onde vi^Q, o Hm-
gue, paíTaíTe, Sc deixaíTc li-
vres os que eílaváo den-
tro, & onde o naó viíle, en^
traíTe, 8c mataíTe a todos
os Primogénitos. Eíle An-
jo he mais provável, que
naó era Anjo bom , fenam
Demónio, & aflim diz a
Igreja, que por medo do
meílnoíingue naó fe atre-
via nem a olhar para as
cafas, que elle defendia;
Sfarfum cruorem poftibus
vaftator horret Avgeíus.St
as portas exteriores de
noíla alma, que faó os fen-
tidos,8cas interiores, que
faó a noííli memoria, ente-
dimento, & vontade , efti-
verem (inaladas com o ca*
radter, &: armadas com a
protecção daquejle Tangue
taóanticipado deftruidor
do peccadojnãofó defcon-
fiarà o Demónio de nos
vencer, mas ainda terá me-
do Tangue do Horto , &
naó do da Cruz: o da Cruz
derramou Te doze horas
depoisjao meyo dia: & o
do Horto jà Te tinha der-
ramado doze horas antes,
à meya noite :& eftaToi a
hora em que o Tingue tri-
unfador obrou aquelles
prodigioTos eíFeitos : Fa^
ãmn eft autem^in no6fis me ^ ^,
dio perciijjit ^ominus om- 10.29^
ne primagenitum in terra
(iyEgyptí. Aílim livrou
Deos aos filhos de ITrael do
cativeiro do Egypto por
meyo do Tangue do Cor-
deiro,&aílim nos livrará
do cativeiro do pcccado
por virtude do Teu Tangue
o Cordeiro , que tira os
pcccados do mundo, pre-
Tervandonos anticipada-
mente dos aduaes , como
a n ti ci pada mente preTer-
vou do originai a Mãy de
qucmnakco: 'De^uana-
tuseft Icjus.
SER
10t
SERMAM
DA
D O M I N G A
DECIMASEXTA POST PENTECOSTEN.
ReciimbeinnoviJJimoUco. Luc.14.
Odas as vezes,
que o Filho de
Deos fe aíTen-
tou à m€ fados
Jiomeas, íempre foi o me-
lhor prato a fua doutrina.
Comia o que regulava a
temperança, &enfinava o
que didtava a prudência.
A matéria era a que lhe
davaaoccaíiaó, & elle fo-
breaoccaíiaõ eftendia, il-
iiiílrava^fic definia a ma-
téria. Os documentos to-
dos eraó divinos, & naô fó
moraes , fenaó ainda poli-
ticos. E digo moraes, &
politicos i porque tal foi a
doutrina do prefente E-
vangelho. Os que entaó
com nome authorizado,&
hoje com íignifícaçam
odiofa fe chamaó Fari-
feos , eraó os Religiofos
daquelle tempo. Diz pois
o Evangeliíla S.Luças>que
convidando hum Princi-
pe dos Farifeos j ifto he,
lium
I
i
■■s
191
hum Prelado daquelles
Religiofos, a Chriílo Re-
demptor noíTojpara que
quizeíTe honrar a fua mefa
e m hu m dia de feita , qu e
era o fabbado , aceitou o
benigíiiílimo Senhor o cõ-
vite. Aceitou > poílo que
naó faltava quem murmu-
raíTe o aceitar. Pareciaihe
aos murmuradoresjquefe-
melhantes convites eram
jnends conformes à auíle-
ridade da vida, 6c à autho-
ridade, & proíiílaó de hu
Meílre decido do Ceo.
Sermão da decima fext a T>ommga
ícrvaçao:naoa obfervan-
ciadodia, mas a obferva-
çaó do cóvidado. E q fez
o Senhor, que lhe conhe-
cia os coraçoens ? Aceitou
a meia como homem , dif-
íimailou a malicia como
Deos :6c no que obrou co-
mo Deos, ^ reprehendeo,
Ôcenfinou com.o Meftre,
moílrou que era Deos, 6c
homem. Curou ao Vi^-
dropico, 6c depois tratou
deoscuraraelles: aoHy-
dropico, tocando-o com a
máo,6c aeiles pondolheas
Mas a razaó,que o Senhor máos,6cmuito bem poílas*.
tinha para fenaó efcufar , Náo ha vicio mais defcor-
moílravaó depois os eftei-
tos muito âi\N^i'íos y Sc de
outra mais levantada es-
fera, como também fevio
no cafo prefente.
173 Atenção dos Fa*
rifeosera farifaica ; porq
Ihearmáraó a Chrifto có
hum Hydropico, a ver fe
o curava naquelle dia, pa-
ra o poderem calumniar
de qucbrantador do fab-
bado : Sabbato manda c are
fanem , O' tpfi obfervabant
€um. Náo os Icvcu a IH a
obfervancia jlciuió a ob-
tez, que a foberba ^ nem
mais defcom edido, que a
ambição. Como carece da
modeftia por dentro, tam-
bém lhe f-Jtaa urbanida-
de por fora. Naô diz o E-
va ngciifra o lugar,que déí*-
fem na mefa a Chriíioj
mas diz, que os convida-
dos fem corteíia , nem ur-
banidade, todos procura-
vaó 5 & ainda contendiam
íbbre os primeiros luga-
res. Eíla foiaoccafiaó,Sc
effcoponto da doutrina,
por iílo moral , 6c junta-
mente
mente politico.
174 Fez Deos efte
mundo em forma circular,
como a mefajou tabola re-
donda dos Pares de Fran-
ça, para evitar a contenda
dos lugares, naó fendo ju-
llo,quedeíigualaíre o lu-
gar os q tinha feito iguaes
a natureza. Mas como a
foberba , Sc ambição pre-
verteíle a igualdade defta
ordem , com outra ordem
defordenada de primei-
ros, fegundos atè últimos
lugares, Sc os Farifeos na
mefa affedbaífem os pri-
meiros 5 efte foi o vicio, q
o Senhor obfervou nos
feus obfervadores. Inten-
dens quomodo primos accu
pfíftTentecofien. ^ ipg
CO rteíia. Na eleição dos lu-
gares notava-os o Senhor
de pouco juizo , & no mo-
do de cada hum fe prefe-
rir,& antepor aos outros,
de pouca urbanidade : &:
eftes dous defprimores
nafcidos ambos do mefmo
vicio da ambição, Sc fober-
ba, reprehendeo, & emen-
dou o foberano Meftre
também com hum fò do-
cumento : Cum njocatus
fuerisad nuptias , recumbe
in novijjimo loco : Quando
fores convidado à cafa , Sc
àmefaalhea , naó deveis
tomar os primeiros luga-
res, fenaó o ultimo. E por-
que? Porque naó fucedwi
vir o fenhor da cafa, a que
Ibid.i
tóus eligerent: 01hava[diz pertence a repartição dos
oEvangelifta}comparti- lugares ,&: vos mande le-
cularattençaó para o que
faziaô os convidados , &
para o modo com que o fa-
ziaô : o que faziaó, era to-
marem por própria elei-
ção os primeiros lugares:
vantar do que tomaftes, &
o dè a outro melhor , Sc
mais honrado que vos. En-
tão vos achareis có afron-
ta no ultimo lugarjporque
foftes taó defcomedido,
f rimos accubitus : & o mo- que vos atreveftes a tomar
do com que o faziaó, quo- o primeiro:^? incipiâs cum ibfd.9.
' ' ' " rubòre noviffimum locum
tenére.
17 s Eftafoiahiftoria
N da-
modo, era introduzindofe
nellesfem nenhum modo
de modeftia, refpeito,nem
Tom./.
i
ÍW
■m
194 Sermão daTíomingadecimarexta
daquellecafo, & daqudle defeja melhorar de luMr
du,aqueo mefmoEvan- ,E nenhum fe acha em tai
^Í1^ '^ T """""^ P?- P°^°' P°r levantado , &
rabola : Htcebat autem ò- acomodado que feia, qne
ad tnvttatos paraholam. naó procure fubir a outro
Mas feerahiftoria, como melhor. He própria efta
era parábola? Tudo era.
Era hiftoria quanto ao
fuceíTo , & era parábola
quanto á doutrina. Quan-
to ao luceflb , era hiftoria
inclinação da natureza ra-
cional, como fe fora ra-
zaó,& naõ appetite. Pri-
meiro nafceo no Ceo com
os primeiros racionaes, q
-.-^..^ , v,xc* xixiLuiid os primeiros racionaes, q
particuiarpara os prefen- faò os Anjos,& depois fe
!!! L^^^^^^^Jí^o a doutrina , propagou na terra com os
era parábola univerfal pa-
ra todos. A todoS:, & a ca-
da hum prega hoje Chri-
fto : Recumbe in novifjimo
loco. E haverá nefte mun
fegundos , que fomos os
homens. Lúcifer no Ceo
tendo a fuprema cadeira
entre as Gerarchias , nam
';■"" ""-»--"v..Lt uiuii- aquietou naquelie lu^ar,
do quem efcolha por pro- & quiz igualar o feu coní
pria eleiçao,& fe contente o do mefmo Deos • ExaU
cultofo ponto para fe en-
tender, & muito mais ^i^'
cultofo parafe perfuadir.
Por iífo tomei por Them a
eíla única , & admirável
ero AltiCimo. Adam na ter
ratendooabfoluto domi-
nio de todas as creaturas
dos três elementos j nam
«v^uiiiavci coube, nem fe contentou
íentença,ôc ella fo íerà to- com hum Império taó va-
^.^^fria do meu dif- ílo , & em hua Corte taó
curfo. Ave Maria, deliciofa como o Paraifo,
r> / • ^. também quiz melhorarde
Kecumbe m novifjmo loco. lugar : Emisficut dij. E q ^^^^
^--^^ , ^í^io íia deíle piJjnciro
^^^ T^Odo o home Pay, de que todos naíle-
X neíle mundo mos, que iiaó hcrdafle dei-
k
Ic a altiveza fempre m-
quieta defta mefma pai-
xão ? O Letrado , o Solda-
do, o Fidalgo, o Titulo , o
de grande nome, 6c o que
naó tem nome , com o cui-
dado, & defejo nunca jà
mais fatisfeito , nem foce-
gado, todos trabalhão, &
poJtTentecoften.
19S
ponto contenderão todos
fobre a maioria j porque
logoafpirou cada hum a
lhe fuceder no lugar. Do
Emperador Trajano difíè
Plinio, que ninguém o co-
nhecia taò pouco a elle,
nem fe conhecia taó pou-
^c^^Kjy twvtw .x«-« ,^ có a fy, que ti vefíeoufadia
fe defvelaò por ac}iantar,& de lhe fuceder : Nma eji
melhorar de lugar. Sò pa tam tui , quàm ignarusfui , pj,,,:,,
rece , que deviaò viver utlocumipfumpoft te r<?»- imane»
izentos de femelhante fo- cupfiat, E tiveraó atrevi- ^^''
geiçaó os que deixarão o mento doze pefcadores,
mundo,& profeíTaÕ o def- para quererem fuceder ao
prezo delle 5 mas là os fe- mefmo Filho de Deos , &
gue, &fogeitao mefmo lhe pleitear o lugar ainda
mundo a que lhe paguem em vida.
& voíi
efte duro , & voluntário
tributo.
177 Coufa foi digna
de admiração, que osDií^
cipulos de Chrifto , antes
de decer fobre elles o Ef-
pirito Santo , contendef-
fem fobre qual era o ma«
ior : ê^is eorum videretur
ttic.22. gíT^ fnaior ? A occaíiaò po-
rèm,&o motivo delta co-
tenda ainda he muito mais
§. III.
1. convencer ef-
te abufo univerfal , naó fò
dasguerras,& competên-
cias, m as ainda das pertê-
çoens pacificas do melhor
lugar j naô deixarei de re-
ferir primeiro três opi-
vwii^cv ccxxx^^ x.v, .. . nioens,ou fuppofiçoens ti-
admiravel.Equal foi? A- radas da fagrada Çfcritu^
cabava o Senhor de lhes ra, as quaes naó fô içonde-
revelar, que hiaa Jerufa- naóefta ambição taô pro-
iem a morrerjSc no mefmo fundamente arraigada nos
N ij cp-
i
196 Sermão daTiommgadedmafext a
coraçoenshumanos, mas ftermuuo tempo. Naó o
totalmente cortaó as rai- ^clxov^, à-nonerat,^oZl
zes a toda a noíTa queftaó. ou tinha cah.do àLk^ò,
A pnmewa nega abfoluta- ou tinha acabado a vida •
menteoquefuppomos,& masque naó achaíTe Dal
diz,quenao ha lugares: vido lugar onde o tinha
que no mundo fe chama ejus .? Sim , refponde Car-
lugar, por alto, & levanta- thufiano , & o prova com
do,quepareça, bem exa- ^rmote/es. Jr^ILS
pfai. 35. minado, he nada : Viditm-
Sf.jó. pumfufjerexaltatim , ér
eievatiimficut cedros Liba-
ni: tranfivt^&ecce non erat^
&noneft invenUis locus
^V/j: Viaoambicioro, diz
Da vid^ levantado fobre os
outros homens, como os
cedros do Libano fobre as
outras arvores : dei dous
locatumfmt fimul, fccun-
dum Tbilofophuyfubtraão
ergo locato,& locus non ma^
net. O Iugar,&: quem eftà
nelIe,regundoa verdadei-
ra Filofo fia, Çixo taó reci-
procamente dependentes
hum do outro, que faltan-
do oqueeílava no lugar,
nemelle , nem o mefmo
^^fT^r. A- « 7 "'-"ivn». 5 nem o meimo
paflosadiante, & quando lugarpodem fubíiílir • &
voltei os olhos para o tor- poriífodiífe bem David,
naraver,jào naó achei a
clle, nem ao feu lugar. A-
^uieílàoponto da admi-
ração : Et nonefl inventas
locus ejus, Que David a taó
poucos paíTos naó achaíTe
aoambiciofo , que tinha
viílo taó levantado , a nin-
guém deve admirar , por-
que para fazer femelhan-
tcs mudanças, nem a mor-
te, nem a fortuna h,ió mi-
que tanto que defipareceo
o ambicioíb, &:poderoíò,
nemaeIleopodever,nem
achar o lugar onde eíHve-
ra:£'^ non e/t mventus locus
ejus.
179 Efeeftaconfe-
quenciahe verdadeira no
lugar que chamaó filico,
no lugar moral, de que fil-
iamos, ainda hc mais cor-
ta, fcgundo a deliniçaó do
md-
poft^entecoftetf. ^97
mefmo Filofofo. Arifto- cair,naQhe o mefmo que
teles definindo o lugar, herdou, ou pertendeo an-
dizqueheafuperfícieam- resdeooccupar ? Simta-
bientedo queeílà nelle. E bem : pois íe pertendido,
quando o lugar naó he o occupado, &: deixado, era
ambiente do homem , fe- o mefmo lugar , porque o
naóo homem o ambiente naó achou David depois
do lugar, como no noíTo de deixado > Porque de-
caio 5 muito melhor fe fe- pois de deixado,era o nief-
gue, que faltando a fu- mo que dantes tinha fido,
perficie ao chamado lu- &per tendido, poífu ido, &
gar, nem he lugar, nem deixado, fempre foi nada.
coufa algúa. E fe nam he Elegan^ , & doutamente
Hu go C ardeal; Non eft in-
rventus locus ejus : quodfua
dignitas nullaerat , &fuum
effenoneffe erat. Nam fe
achou o lugar do que efta-
valevantado como os ce-
dros do Libâno ; porque o
-coufa algúa, como o havia
xie achar David ? Mas tor-
nemos a apertar mais eíla
propofiçaó, pois o mefmo
David no mefrpo Pfalmo
a repete duas vezes , huma
vez dizendo que bufcou, ^ . .
^ naó achou o lugar: ^^- fer dos que nefte mundo íe
fi,íá .6 rivu&mn ejt in-ventus lo- -c ha mão lugares , nam he
^'' mi^us^ & outra vez di^ fer,henaó fer : Smm effe
zendo, que fe nos o buf- non effe erat. E fe os mel-
carmos , também o nam mos chamados lugares, ou
acharemos : ^£res íocum pertendidos, ou poíTuidos,
o.^ms,& non inventes. Per- ^ou deixados, nao fao cou-
eunto-.Efte mefmo lugar, faalgÚa-,bem fe conclue,
que David bufcou, & naó que nefte mundo nam lia:
achou, naó he o mefmo, q -lugares. E iílo quenao he„
oambiciofo occupou an- nem ha, he o que com tan-
tesde morrer , ou cair? todefveloamao,&burcao
-Sim. E eHe lugar , que oc os pertendentes da vaida-
cupouantesdemorrcr^ou de 5 &^a mentira: Vtqntd^-
^ Tom.;. ^''^ ^''
Ibid
{
m
19^ S^maÕ daT>omlngadecimarexta
Pídm. dtltgituvmttatem.&qu^- faóosquedaóa bondade.
180 Afeguda fuppo-
íição, feguindo o fentimé-
to vulgar, & comum, ad-
mite, que no mundo ha
ou melhoria aos lugares ,
&naó os lugares aos ho-
mens. Se fores bom, ainda
que a cadeira feja dos Ef-
cribasj&Farireos, feràbó
lugares; mas nega queha- o voíTo lugar ; & fe fores
ja lugar n^elhoE porque? mao, aind! quea caSa
í(?irol ^ ""r^""''^ "'^ íejadeMoyfes, nem por
efta no lugar, fenao na pef- líTo o voíTo lugar fera bom.
foaqueooccupa.Poralto, Que melhor lugar, que o
ou baxxoquefejao lugar, CSo,&oParaifl >Tn^^
le fois bom,rerà o voíTo lu- ~
garbom 5& fe fois me-
lhor, fera melhor: mas fe
fores mao, & peôr , tam-
bém fera mao, & mais que
mao o voííb lugar. Diz
oCeofezboma Lúcifer,
nem o Paraifo ^^z bom a
Adam. Jeremias raó bom
era no cárcere , como no
púlpito: & Job taó bom no
muladar,comono feuPa-
r^í.,.;A^c u ^ ^ J^^ui^uar,comono leufa-
ChriftoSenhornoíro, que lacio. Meilior lugar era no
fobrea cadeira de Moy- maronavio,queo ventre
h'/lt'"^''^ ?^^^^^^- cIaBalea,&Jonasforme'
bas,acFarxreos:%.r ca^ Ihorno ventre da lídea
thedram MoyfifederÚtScri.
Manh. b^.é^Thanf^r. £ quem
foi Moyfes, & quem eram
os Efcribas , & Fariíeos.?
Moyfesfoio maior Santo
dofeu tempo, &os Efcri-
bas, & Farifeos eram os
mais mãos homens do feu.
que no navio. Aílim que
os lugares por fy mefmos
naófaó mãos, nem bons,
nem ha lugar melhor, ou
peor. O lugar que hoje tê
S.Mathias,naófoi o mef-
mo dejudas? O mefmo,&
naô outro. Se fores como
Pois fe pftn,.7' 7r j ri ''"^^^' ^^ ^^^^^ ^'omo
roís le eítavao aífentados Judas, naó vos ha de fizer
na melma cadeira deMoy. bomolugardeS Mathns
fe, porque não eraô como &fe fores como SM -
cllc ? Porque os homens thus, nag vos ha de fa7;r
mao
; }
poflTentecofien. ipp
mão o lugar Me Judas. Se res,netn peores : para que
quereis ter o melhor lu- ninguém fe defcontente
gar de todos, fazei por fer do feu, fenaó de fy.
omelhordetodos,&Iogo 181 A terceira fuppo-
ovoíTo lugar, qualquer q ííçaò admitemelhoreslu-
feja,rerà também o me- gares •, mas diz que eílesfó
181
Ihor. Mas todos querem
melhorar de lugar> & nin-
guém quer melhorar de
vida. Sucedelhe aos ambi-
eioros,o que aos peregri
oshanoCeo, &: nam na
terra. E porque ? Porque
todos os lugares da terra ,
por melhores que fejaójou
pareçaó, mais faó alhcos.
/pud
€i.necá
nos, diz Sócrates. O pere- que noíTos , mais par^ os
grinofempreanda muda- deixar,queparaospoíruir,
dode lugar cm lugar, &r maisparaos perder, que
nunca melhora , porque para os lograr. Os lugares
fempre fe leva a fy comfi-. da terra fao paíTagem, fo o
^.ueca 20 kuid mirarisnihilti' do Ceo he aíTeiito : os da.
e' à « bipeTeznnationesprodeí[e , terra faó de poucos dias,o
' ' €km tf circumferas> Como doCeo ha de durar para
duereis melhorar de lu- fempre. Ceando Chrifto
Sar, fe vos levais a vós cÓ Senhor noíTo partio deite
vofco > Deixai- vos a vós , mundo para o Ceo , a ra-
& como VÓS fordes outro, zaô com que confolou aos
logo o voíTo lugar fera Apoílolosfaudofosde fua
melhor. Se fois o mefmo , aufencia, foi, dizendo,que
ainda que fubais ao pina- hia diante a prepararlhe o
culo do Templo , nunca lugar: Vado par are vobts ]^
fahireis do lugar onde ef- locum : fendo porem o mo-
tais • & fe fordes outro , & tivo defta coníolaçao o lu-
muito outro , fem íair do gar, mais perto eitavaó os
lugar onde eílais , vos ve- lugares em que o Senhor
reis fubido ao mais alto do os deixava , que o lugar
Templo. Em conclufaó, que lhes havia de prepa-
Quenaóhalugaresmelho- rar: porque fendo eíte fu.
^ ^ N 111) t*ir9í
i
2 00 SermaÕ da T>ominga decimafexta
turo, &diílante , parece menorJerufalem.&ameA
que vinha a íer confolar majudea , de que era ca
hua auíencia com outra. beça. Poisfeeraó taóim-
ÍMaquelIaultimahoraem menfamente grandes os
que Jacob morrerrdo fe lugares em que Chrifto
apartou de feusfilhos(;que deixava aos feus Apoílo-
também eraó dozej a con- los , & com taó fuprema
foiaçao com que lhes en- dignidade, &;urdicaó fo-
xugou as lagrimas , foi a bre todos eiles ^ porque os
repartição das terras em naÓ confola o Senhor com
que os deixava acomoda- a confideraçaó á^^^s \\x-
dos a todos. Efe para os gares prefentes^fenaó com
doze 1 atriarcas eraó mo- oJugarfuturo.queiheshia
tivo de confolaçaó na au-
fencia de feu Pay taó pe-
quenos lugares da terra ,
quaespodiaócabera cada
hum dividida a Judea em
doze partes3quanto maior
podia fer para os Apoílo-
lostodoo mundo , quam
grande he repartido entre
elles ? Diga pois Chriílo a
Pedro, que lhe deixa Ro-
ina5<5c a Itália ; diga a Ja-
Gobo , que lhe deixa as
Hefpanhas , a Joaó a Afia,
preparar? Porque efteera
lugar no Ceo, os outros na
terra. E neíla fó palavra fc
encerraó ambas as razoes,
que no principio aponta-
mos. Os lugares da terra
faó paíTagem, o do Ceo he
aíTento. Por iíFo quando S.
Pedro perguntou a Chri-
fto : èluidergo ent noòis ? o ^^:
á o Senhor lhe refpódeo,
foi : Sedebitis fuper fides í.^,j.,g,
duodecim.judicantes auode-
cimtribus Ifrael. Naò lhe
a André a Grécia, a Feiíp- refpondeoàs barcas, &rc
pe a Sythia, a Bartolomeu des, que tinhaó deixado,
com as dignidades que ha-
viaò de ter neíí^e mundo,
fenaó com as cadeiras em
quefe haviaó de aílcntat
jio dia do JUJL20 : porque fó
ode
a Arménia , a Mattheus a
Etyopia , aThomèa Ín-
dia, a Simão o Egypro, a
Thadeoa Arabia,6caPer-
iia, ôc ao outro Jacobo o
poflTentecoften. 201
o de que fe ha de tomar o que tem no Inferno en-
poíTe naquelle dia, tem af- ut os Demonios^eíTe era o
fento,odecàtudo hepaf- feu , porque eíTe he o que
faaeai. E porque mais? ha de durar por toda a
^^3 Porque fó o kigar, queen
taó nos couberjie noííb,&
os deíla vida mais faó
aiheos, que próprios, por
25.
eternidade. E fe ifto fuce-
deo a hum homem chama-
do por Deos, & eleito por
Chriílo ', onde iráó parar
mais larga que feja a mef- asnegociaçoens, osfobor
ma vida. Nmguélo2;rou, nos,as adulaçoens, & as
nem ha de lograr o Ponti- fimonías com que fe pro-
íicado mais annos, que S. curaÓ,& alcançao os lusa-
res, que haó de durar pou-
cos dias, fem memoria da^
eternidade, nem temor da
conta?
í. IV.
EStes faó os três
Pedro,& com tudo jà tem
fucedidono mefmo lugar
duzentos Sc trinta & ÍQZt
Pontiíices,& naó fe fabe
quantos viráó depois ; pa-
ra que vejais fe era mais
alheo, quefeu. Sòhe nof-
íb, ou feja no Ceo, ou fó;
radelleo lugar, q ouver-
mos de ter para sépre. Ef-
le foi o doeu meto, <Sc ener-
gia tremenda com que o
mefmo Príncipe dos A-
poílolos diífe , que Judas
perdera o Apoílolado : pa«
ra que ? Vi abiret in locam
futtm : para ir ao lugar, que
era feu. O que teve nefte
mundo, & entre os Apo-
ftoIos,era alheo, porque
eradeS.Mathias, & dos ^
que lhe haviaó de fuceder: lugar,&: meiliQr lugar,mas
nao
Cl fundamentos ,
ou as três fuppofiçoens ge-
raes,com que naô fó fe im-
pugna aambição dos me-
lhores lugares j mas fe cor-
taô as raizes a quanto ella
defeja. Porque a primeira,
como vimos, diz abfolu-
ta mente, que naó há luga-
res: afegunda concede q
ha lugares, mas nega ha^
ver algú, que feja melhor :
a terceira defende que ha
i
i
iiV.
-li
itmin
%m^
2à2 Sermão da T>omhga dedmafexta
rTofidíd'?Í^ -'^^"^ '"' ^confelha, que tomemos o
riolidade, eílarao eiperan- ultimo lu^ar • Recnmbe in
do todos, qual deftas par^ novtjnmolco, EpZnZ
llt!.TV" P''''"^^ aí-entençadeChK Jor
perfuadir. Primeiramen- fer de Chriílo, naô fe pó^
te,refpondo que nenhuma
delias. Porque contra a
primeira,íigo que ha luga-
res : contra a legunda, qlie
íia lugar melhor i 5c contra
a terceira,queefte melhor
decontraríar,&a dos Fa^
rifeos , por fer dos Fari-
feos, parece que jà cílà c6-
vencida ; com tudo a de
Chrifto todos a regei taó,
& a dos Farifcos todos a
.'X z^ — '"'^^ oca uus rari:
lugarnaoeitanoCecCde feguem. Aílim o vemos
queagoranaó fulloXenaô hole,& jàemfeu tempo!
na terra. Admitindo pois
com o comum fentimen-
to, que ha lugares, 6c huns
melhores que outros j o
que pertendo hoje decía-
rar,he: Entre todos os Li
coiiifertaò viiluho ao de
Chriílo, o provava com a
experiência Tertulíiano:
Adprwmm locum ctrtnmê
omnmmcontendít : fccun^
dumfolamen hahet , vião"
gares do mundo, qual fe,a naJno,, habet. O d;fe oVa
omelhor. Naopôde ha- pertençáo,& a vontade de
ver matéria mais digna de
todaaattençaó , & tanto
inais,quanto jcà cada hum
a tem refoluto comilão, 8c
lhe parece fem controver-
íia, > o Evangelho temos
o parecer dos Varifeos, &
o confclhode Chriílo. Os
Fariíèostem para Ty, que
o melhor lugar do mundo
heo primeiro : ^lomodo
todos os homens he íbbre
quem ha de levar o pri-
meiro lugar :&taó porfia-
da , <Sc unicamente o pri-
meiro •, que o fegundo lu-
gar, ainda que icja aigua
confolação , de nenhum
modo he vidoria. E fe nin-
guém fe contenta com o
lègundo lugar,porqucnaó
he o primeiro i polto que
acima
poftTmtecoHení
acima de fy veja hum fó, de Chrifto
& abaixo de fy todos os
outros > quem haverá, que
fe contente com o ultimo ?
Nosfamoíòs jogos Olim-
picos 5 que fe celebravaó
na Grecia^Sc eraó provo-
cados à contenda todos os
homens do mundo, havia
primeiros, fegundos , &
terceiros prémios : & com
20^
para que o
creamos. Mas efte ponto 5
que naópcrfuadeaFè,co-
mo o pcrfuadirà a razaó?
1 8 f Ora efta fera hoje
a minha emprefa : De mo-
ftrara todos os homens,
que o m elhor lugar do mu-
do heo ultimo. E naó fò
para a outra vida , fenam
para efta 5 nem fó para a
tudo diz S.PauIOyque hum virtude, fenaõ para a co-
fó levava o premio: Ow»í'j' modidade3 nem fô para a
infiadio curnmt -ifed nuns mortificação, fenaó para o
accipitbravium: ^Qr(\\ico goílo j nem fó para a hu-
premio a que todos afpi- mildadcjfenaó para a hon-
ra váo, era o primeiro , & ra. E tudo ifto quer dizer
fó os que fe adiantavaó na
carreira aos demais , 6c có-
feguiaó o primeiro lugar ,
eraó os eftimados por vê-
cedoreSjSc laureados com
a coroa. E fe S. Paulo de-
pois de Chrifto, &: efcre^
vendo a Chriftáos,quaes
eraó os Corinthios , lhe
propõem efte exemplo,
pofto que nafcido entre os
Gentios; quemfe atreve-
rá a perfuadir a qualquer
homem, que o melhor lu-
gar heo ultimo ? Digo a
perfuadir, & não a crer;
fSoxque bafta fer confelho
Recumbein novijjimo loco.
i%6
A Primeira pre-
rogativa do
ultimo lugar he fer muito
fácil de confeguir. Aos ou-
tros lugares,ain da que naó
fejaó os mais altos , che-
gafe tarde, & com diíficul-
dadejao ultimo, logo, Sc
facilmente. Não he mais
diíficultoíb o fubir, que o
decer.^ Pois efla he a razaó
ainda natural da grande
facilidade com que o ulti-
mo
fl
4.Reg.
20. o.
2 04 Sermão da dominga ãecimafexta
mo lugar feconfegue. Aos pondeo em continente
outros caminhafe a paíTo
lento, fubindo j ao ultimo,
quafi fem dar paílb^decen-
do. Quando £lRey Eze-
chias defejou , que Deos
lhe confirmaíTe os annos
devida, que lhe promete
que naó queria que deccl-
fem , fenaó que íubiíTem ,
dandoporrazão,queode-
cer era fácil ; Facile eftum-
bramcrefcere dccem lineis\ íbid.ioi;
nechoc^olo titfiat ,fed ut
rever tatur retrorfum decein
ra,com algum milagrerpoz gradibus. AíTim refpondeo
o Profeta Ifaias na eleição Ezechias, náo como Mar
do mefmo Rey , que eíco
IheíTe hum de dous,ou que
o Sol deceíTe dez linhas,ou
que fubiíTe outras tantas.
E porque ellando Eze-
thematicojfegundoa ob-
fervação particular da-
quelle cafo , mas como
prudente Principe, Sctaó
amigo da fama, como da
chias na cama, nao podia vida^fegundo as regras ge-
veroSoi,&:fó podia ver a raes da experiência: Scdif-
fombra no relógio de Pa
lacio,que defde a mefma
cama íe defcobria , foi a
propoíla eíla ; Fis nt aj'cen~
dat timbra de cem line.s , an
ut revertãUir totidcm gra-
febem. O feu intento era
acreditar o milagre pela
diííiculdade do movimen-
to do Sol , & por ifib diíle
com tantareíblução , que
não queria que deceíTcfe-
dibus?Q\\^Y VoíTaMage- náo que fubiííb -, porque
ílade, que a fombra fubá ,
ou que dcça dez linhas ? A
mefma propoíla , confor-
me o fitio em que o Sol fe
achava naquciía hora, mo-
fl:ravabem,que naó feria
menos milagre o de decc-
rcmasfombras, que o de
fubirem. Cótudo oRcy,
fcm maisefpeculação, rcf-
naturai,&exprimcntaJmé-
tetaódifficultofo he fem-
pieofubir , como lacil o
decer. A fettapara fubir,
fegue violentamente as
forças do arco , &: do im-
pulfo ; mas para decer,não
tcmncccílidade de braço
aihco , a mefma natureza a
leva fcm violência ao bai-
xo,
poftTentecoflen.
xo,&: quanto mais baixo, fa mente fubiraó.
deoreíHi. A
tanto mais aepre
barquinha poda na vea
do R.ÍJ, CO n i vela toma-
da, ác os remos recoihidos,
le\^ada fó do impeto da
corrente como em hom-
bros allieos, taó defeança-
damente dece , como
apreíTada. Pelo contrario
ao fubir pelo meímo Rio
acima, feja o vento em bo-
20 f
Afetta
nos deo o exemplo no ar,
a barquinha na agua , &
nòs mefmos na terra-, mas
nas Cortes, que faó outro
quarto elemento mais
cheo de impedimentos, &
difficuldades , ainda he
mais trabalhofo o fubir.
Também o podem dizer
os que cançados da mef-
ma fubida tomáraó por
ra taó forte, que quafi re- melhor confelho o parar :
bente as velas, &: os re- & muito mais os que de-
meirostaõ robuílos, que
quebrem os remos , mais
he aaguaquefaaó, que a
que vence m. M jS mefmos
para fubir a huin monte,
he com tanta dificuldade,
& moleília , que a própria
refpiraçaò fe cança , 8c fe
aperta : mas para decer ao
fundo do valle, o mefmo
pefo do corpo o ajuda, ali-
geira,& move : & mais le-
vados, que andando, che-
gamos fem cançar ao lu-
gar mais baixo, &: ultimo.
Taó facii he o decer,& taó
diiiicuítofoo fubir.
187 Digaó agora os
que fubirao aos primeiros
lugares, quam aifílculto-
pois dos trabalhos, & mo-
leftias do fubir, em vez de
confeguir o lugar , fó alcã-
çáraó,6c tarde , o defenga-
no. Naó aílim o perten-
dente do que ninguê per-
tende, &: o eílimador do
que ninguém eílima , o
qual contente com o ulti-
mo lugar, para decer com
afetta, naó ha mifter ar-
co, para decer com a bar-
quinha, naó ha miíler re-
mo, & para decer com o
homem, &comohomem>
quaíi naó ha miíler pès,
nem paííbs. As azas do fa-
vor, os impulfos do po-
der5& os cuidados da diíi-
2encia,tudo para ellefaã
def-
i
L'.!:
\m§
tes
2 O í) Ser ma o da l^âmi
defprezos58c rifo : & quan-
do os outros chegaó can-
çadosaos primeiros luga-
res, onde haô de começar
acançardenovo, elle def-
cançado fe acha no ulti-
mo,onde fó repoufa o ver-
dadeiro defcanço.
i88 Nàoacho exem-
plo deíla inclinação , &
deíla facilidade entre os
homens-, porque a fua na-
tural ambição mais os leva
a fubir pelo difficultofo,
que a decer pelo fácil. Mas
fe elles fe lembrarem da
facilidade,&: felicidade có
que a Pedra de Daniel de-
ceo do monte58c derrubou
aEftatuade Nabuco , &
trocou com elia o feu lugar
de que a fez defaparecer
com todos feus metaes:
Daniel. NuUíisquc locíis iuventus
^^^* eji eis : naquelle efpelho
tofco, Sc infeníivel veráó
eíles mcfmos dous erros
do feu mal polido juizo.
Deceo a Pedra do monte ,
6c naó bateo a cabeça, nem
os peitos, fenaó os pès da
Eftatua, onde parouj por-
que efte era o lugar ulti-
mo, ôc o mais baixoj aonde
'nga dectmajexta
a levava o pefo da fua na-
tural inclinação. E nota, ôc
pondera muito o Texto,
que a mefma Pedra fe ar-
rancou, &deceo do cume
do monte fem máos : Abf^ j,^. j .
ctffus lápis fim manibus :
Porque .^Porque eíla he a
facilidade,& differença có
quefedece ao lugar mais
baixo, 8c fenaó pôde fubir
ao alto. Aquella Pedra
naó era pequena,como co-
mummente fe cuida,fenaó
muito grande. Taógran-
de,que fendo a eftatúra da
Eílatuade feíTenta cova-
dos,6c os pés, Ôc efpaço en*
trehumjác outro iguaes a
efta grandeza 5 ella com o
mefmo golpe os alcançou,
& bateo a ambos. i\gora
pergunto : E quãtas mãos,
& quantas machinas fe-
riaó neceíHi rias para fubir
eíla grande Pedra ao mef-
mo lugar do monte , don-
de tinha decido.^ Mas on-
de naó podia fubir fenam
com muitas mãoSí&: mui-
tas machinas, ella deceo
por fy mcí ma fcm ncceíli-
dadc de máos próprias, né
alheas,7^'k^ maníbus. Oh
ceguei-
poH^entecoften. ^ ^ 207
cegueira da ambição hu- ouosdiftribueajuftíçajou
mana! Dizeime, quantas faó jndulgencias da gra-
máos bejais, dizeime,quâ-
tas máosencheiSjdizeime,
quantas machinas fabri-
cais para vos alar aonde
quereis fubir ? Edizeime
também , quantas vezes
defarmaó em vão eíTas
mefmas machinas, 8c eíTas
máos bejadas , & cheas,
quantas vezes vos deixaó
com as voíías vazias ; por-
que elies alcançarão o que
pertendiaódevòs, Ôcnam
vò$o que efperaveis dei-
les. A Pedra naó derrubou
a Eftatua,para fubir [ co-
mo vos fazeis ] pelas mi-
nas alheas, mas o lugar que
ellacomo foberba pifava,
detinha debaixo dos pès,
eíTe mefmo,por fero mais
baixOj&oultimo,heoque
ça. Paraajuftiçahenecef-
fario o merecimento, para
a graça he neceíTario o fa-
vor. Ebaftaó eftas duas
coufastaõ diííicuitofas de
ajuntar? Náo baílaó. A-
bel tinha o merecimento ,
& o favor : & o mefmo me-
recimento 5 & favor forao
o motivo de Caim feu ir-
mão lhe tirar a vida. Pois
fecomo merecimento, &
com o favor 5 o lugar que
veyo a alcançar Abel foi
o primeiro entre os mor-
tos i naó he melhor ter o
ultimo entre os vivos, fem
o trabalho de o merecer ,
nem o perigo de o não lo-
grar .^ E fe illo aconteceo
nos tempos em que os ho-
mens fe matavão fem fer-
tomou para fy a Pedra , & ro,& a graça, & o favor fe
nelledefcançoucomo em alcançava fem ouro ; que
próprio centro.
189 Infinita coufa fo-
ra fe ouve/Temos de por
emparalélloas diííiculda-
des dos primeiros lugares,
& a facilidade do ultimo.
Os lugares que dependem
da v6tade,& poder alheo ,
fera no tempo prefente?^
Depois que as dignidadeá
feíizeraó venaesjos luga^
res mais fe allugaójdo que
fealcançáo : & não fe dap
a quem melhor os merece>
fenáoa quem mais caros
os compra. O que fe buíca
iios
2 O 8 Sermão da T^ominga decimafexta
noshomenSjfaóosquean- Eílaturas tão defméíiira-
tigamente fe chamavão
talentos : & os que hoje
tem o mefmo nome, fenão
eftão engaftados no mef-
mo metal , por íingiilares
quefejáojnão tem preço.
Sò o ultimo lugar 5 porque
não tem compradores, fe-
não vende j 8c por iíTo fó
elle fe confegue íem cabe-
daljScfe logra fem defpe-
za.
ipo Confiderai,& me-
di bem os degraos , liuns
tio altos, outros tão bai-
das debalde as conquiila-
reis commefuras, que jà
fe acabou o tempOjCm que
os negócios fe adiantaváo
com fazer pès atraz. ^s
habilitações de peíroa,a fé
dosofficiosjas certidoens
dosferviços,&a juftifícà-
ção das certidoens , tudo
não tem tantas letras,quã-
tas faó as diííiculdades có
que nellastopão, & fem-
pre afortehefuaj&c voílb
o azar. Aos menores ha*
veis de dar, que he menos>
xos , por onde tropeçan- aos n^aiores haveis de pe-
do, ajoelhandojôc caindo , dir,& rogar, que em quem
ou fe perde a pertenção,
ou fe chega finalmente a
tomar poííè do lugar per-
tendido : & vereis quanto
mais cufta o alcançar , que
o merecer. A David para
merecer, bailou lhe derru-
bar hum Fihíleo : mas pa-
ra alcançar o merecido ,
foilhe neceíTario vencer a
duzentos. E que Mini-
ftro ha, ou Official de Mi-
niílro, que mais pelo in-
teiriçado, que pelo intei-
ro, não fcja hum Filiílco
cíyrrancudo , & armado í
tem honra, he muito mais:
ficando pendente a voíTa
efperança do feu agrado ,
ócdahora, & humor com
que foííes ouvido. Nos
Confelheiros haveis de fo-
licitaraconíulta, nos Se-
cretários a penna, & no
Principe não fó a refolu-
cão, mas na refoluçáo o ef-.
feito j para que tudo, de-
poisdepa^ar os direitos,
não venha a fcrhúa folha
de papel fcllada com as
Armas Reacs,as quacs ha-
veis de cóquiílar de novo,
para
pofl^entecoflen. 209
para que chegue a fer ai- dam ! que fendo difficiil-
gua coufa, o que ainda de^ tofiirimo o fubir, & facili^
pois do defpacho he nada. mo o decer , elies perver-
Eniíim, que eíles faÓ os tendo as leys da razaÓ, &
difficulcolbs, Sccançados da natureza , antes que
degraospor onde fobem,
quando naó caem , os que
aicançãoos primeiros lu-
gares : &: fó aqueile que fe
contenta com o ultimo,
nem ferve, nemrequere.
remfubircom difficulda-
de,& trabalho, que decer
com facihdade, Sz defcan-
ço. E notai, que he tanta
a facilidade, «Sc o defcanço,
que fó fez Chrifto men-
nem pleitea , nem adula , çaò do defGançar,&: naó do
nem roga, nem paga,nem decer. Naó diífe como a
deve: & fem depender de Zacheo, dtfcende , fenam ,
Minifl:ros,nemdeTribu- recumbe-, porqueo deCer,
naes,nemdomefmoRey, ainda que fácil , demanda
eíle he o que fe confulta, paífos,6c o recumbe^ que he
êcelleoquefe faz a mer- eftarrecoftado ,como os
ce,porque fe defpacha a fy Hebreos eílaváo à mefa ,
mefmo. Eque podendo- fófigniíica defcanço com
meeudefpachar a mim, gofto,& fem trabalho i/eÉ--
haja de requerer diante cumbeinnovijfmo loco.
de outrem? Naó he mais
fácil o querer , que o re- §. VI.
querer.^ Ouvi a juíla excla-
mação de S. Bernardo ne- ipi A Segunda pre-
fte mefmo cafo. Operver- Xlrogativa do
fitas ! o abufiofilioru Adaml ultimo luga r he fer o maii§
&uia ctm afcendere ãiffictli- feguro. Os outros lugares
^="'-' mum fit , defcendere autem quanto mais altos , tanto
^i^í facilimum^, ipfi & leviter menos fegurança tem : & a
""^' ^fcendunt, & dijfalius àefr fua mefma altura he o pro -
cendunú Oh pcrverfidade, noílico certo da fua ruma,
óabufo dos filhos de A- Naó querp que vejamos
Tom.;. O eftà
k
i
Matth
24.29.
2 1 0 Sermão daT>omingà decimafexta
cila pouca fegurança em ra,^: propriamente haó de
outro lugar, fenaó naquel-
le mefmo ^que por fer o
mais firme do mundo, lhe
poz Deos o nome de fir-
mamento. Anunciando
Chrifto Senhor noíTo os
cair, & o Sol, & a Lua ef-
curecerfe fomente ; porq
fe naó efcurecem todosjOU
caem todos? Que cuIpa,ou
que caufa tem as Eílrellas,
para ferem eilas lo as que
íinaes do dia do Juizo , diz haó de cair ? Tem a culpa
^,,^^ c^i ru ^r V • - 1 /'i S
que O Sol fe efcurecerà
que a Lua naó dará a fua
luz , & que as Eftrellas ca-
hiráó do Ceo ; Solobfcura-
bttur , ^ Luna non ãabit
lumenfuu^Ò* StelU cadent
deC^/o.Sobre efte cair das
Eftrellas fe dividem os In-
terpretes em muito diífe-
rentesexpoííçoens -, por-
que íuppoem^ que eíian-
do as Eílrellas fixas no
Ceo, & fendo o Ceo incor-
ruptivel , naó he poílivel
cahirê propriamente. Mas
a mim ( diz Maldonado
di (creta mente ) quando
Ariílotelesnegaoq Chri-
íto affirma, pareceme, que
antes devo crer a Chriíio,
que a Ariftoteles : M^g/s
enimChrijio idaffirmanti ^
quam Ariíioteli neganti
Jieripojfe , credendum effe
arbjtror. Suppoílo pois
que as Eílrellas vcrdadei-
quetiveraó defdequefo-
raó coUocadas noCeo,que
he fer o feu lugar o mais
alto. A Lua eftà no pri-
meiro Ceo, o Sol no quar-
to, as Eftrellas no oitavo,
que he dos que alcança a
noíTa vifta o fupremo : &
náo he neceílaria outra
culpa, ou caufa para ferem
ellas as que haó de cair.
Em todos os três íinaes fe-
guio Chriilo a natureza
dos lugares. No eclypfe da
Lua feguio a natureza do
lugar i porque no primei-
ro Ceo naturalmente a
eclypfa a terra : no eclypfe
do Sol fesniio a natureza
do lugar 5 porque no quar-
to Ceo naturalmente o
eclypfa a Lua : & no cair
das Eftrellas também fe-
guio a natureza do lugar;
porque no oitavo Ceo,
iendo cfte o mais aito,tam-
bem
!bid. 8.
poft^cntecõJíen. 21/
bem hc natural o cain para a tentação. O primei-
192 Não ha altura ne- rofoia torre do Templo ^^^^ ^
fte mundo , que náo feja de Jcrufalem : Ajjtmp(it
precipício. Todo o lugar euminfanãam Civitatem ^
mais aí to que os outros.ef- & ftatuit eufuper fimacu-
tà fempre ameaçando a /í^«íTí'«?/>/í. Ofegundofoi
própria ruina , fem outra hum monte o mais levan-
çaufa,ou culpa, que o fec tado, que havia naqueJle
mais alto. Que culpa tem deftriífco -Jterum affumpfit
as torres, Sc os montes pa- etm in montem excelfim
ra ferem elles os ameaça- <valde. E porque razão a
dos dos trovoens, & os fe- húa torre,& a hum mon te.*^
Fidos dos rayos ? Nenhúa Porqueem hum , & outro
outra fenaò a fua própria lugar armava a derrubar a
altura, &: ferem os lugares Chriílo. Na torre, foliei-
mais levantados da terra, tando-oa que fe precipi-
Parece que fe dà por of- taífe : Mitte te deorfum : no iwd $.
fendido o Ceo de fe aviíl- monte, fa zendo lhe gran-
des promeífas , para q^e^^.^
cahiílè ; Si cadens adorave-
ris me. Os que tanto anelaò
àfubida de femeíhantes
lugares, 3 à que náo podem
filiarem mais aelle, como
fe todas as torres foraó a
de Babel, & todos os mo-
tes os dos Gigantes. Quâ-
do Chriílo para nos dar .^^ ,-,-l ^
exemplo fe defafiou com ver quem os leva, vejaó ao
o Demónio , a primeira menos aonde faó levados,
eleição do lugar foi fua, A torre era lugar Eccleíia-
provocando-o ao deferto : ílico,& fagrado j o monte,
*Duãuseftin deJertumyUt lugarfecular ,& profaiio;
Matth tentareturà^Diabolo.i^^iS na torre prometeolhe o
4». * a fegunda,6c terceira elei- Demónio Anjos j no mon-
ção foraó do mefmo Diç- te offereceolhe mundos:
ínonio, levado elle a ChriX mascomohum, ^ outro
fto aos lugares, que lhe pa- lugar eraó os mais altos,
recéraò mais a propolico ou as ofFertas foífem da
Oij Ceo,
2 1 2 Sermão da T>ommga decimafexta
Ceo 5 ou da terra , ou na de Dário: & Aman taõ va-
Igreja, ou fora delia , am- jído de Aí]iiero,ambos taó
bos eraó igualmente os de repete cabidos, &: mais
maisperigofos, & os mais fendo taó difFerentes na
aparelhados para a cabida, vida, como na profííTaó ?
ipj Jà muito antes ti- Sim. Daniel fervia a Deos,
nhaenfayado o Demónio Aman fervia ao mundo:
eíla mefma tragedia em Daniel era juílo, & finto,
duas grandes figuras de Aman era mao, & perver-
hum,&: outro eílado. Da- fo j mas levantados ao cu-
mel era peíToa V cclefiafti- me dos primeiros lugares ,
ca dedicada ao ferviço de nem a Aman Ibe valeo a
Deos : Aman era Miniftro
fecular occupado nos ne-
gócios do mundo. Aman
tinha o primeiro, & maior
lugar na Corte delfley
-Aífuero: Daniel também
o primeiro , & maior na
fua induftria , para fe fu-
ftentar, nem a Daniel a fua
virtude , para fe defender
da cabida. Mais admirá-
vel foi ainda a de Daniel,"
queadeAman. Amanca*
bio, porque perdeo a gra-
Corte delRey Dário: mas çadoRey : Daniel tendo
quem he aquelle , que na por fy toda a 2-raca do
praça da Metropoli de Su- Rey, toda ella lhe naô ba-
zan pregado em bua Cruz ílou, para que naó cabiife..
de cincoenta covados có
amais infame morte eílà
acabando a vida .? He A-
man. Equembe aquelle,
quenaf;^nofa Cidade de
Babylonia , levado por
Miniílrosdajuíliça be la-
çado no lago dos Leoens,
para morrer efpedaçado
de fuás unhas ? He Daniel.
PoisDaniei taó eítiuiado
E parou aqui .^ Não: livrou
Deos milagrofamente a
Daniel das garras dos Le-
oens: & canonizado fcu
merecimento com hútao
pubhco, & eílupendo pre-
gão do Ceo, o Rey o relli-
tuío outra vez ao lugar q
dantes tinha. Mas o que
agora fe fcguc ainda foi
maior prodígio. Foraó taò
pcdc'
foJtTenfecofiefP. 213
Í5oderoras, 5c tao aílutas as doente que nao ha de mor-
machinas de feiís inimi- rer , eftà tutus na febre
gos, que obrigarão ao mef- aguda > mas não ç^^^fecu-»
moRey a que elíe otor- r/zi-j porque não eílà fem
perigo, fem temer, & fem
cuidado : que iíCo quer di-
zer Securusy hoc efi^ fine cu-
ra, Efta he a energia, ôc.
elegancia daquella fenten-
ça de Séneca : Sceleratuta
naíTe a meter no lago, & o
entregaíTe outra vezà fo-
me, & voracidade das fe-
ras.
■M94 Oh bemaventu-
radofó, &fó bem enten- 3 .
dido aqueile, que entre to- ejfe^fecura non pojjunt. E
dos os lugares do mundo efte género de fegurança
fabeefcoiher hum tal lu- fegura não fó do perigo,
gar, do qual ninguém o fenão também do temor»
poíla derrubar , nem eile & do cuidado , a qual nun-»
cahir. Dos lugares altos he ca pode haver nos lugares
verdade, que nem todos altos, he aquefó fe acha
cahiraój mas também he no ultimo. Quem eftà no
certo , que os mefmosjque lugar alto, pôde não cahirj
naó cahiraò, podiaò cahir. masquem eílà no ultimo
E baila o poderem cahir, não pôde cahir, que hefó
para não eftarem feguros. a verdadeira fegurança. E
Como pôde fer fegurança porque > Porque fe do iu-
a do mar , fe fempre eftà gar ultimo fe podéra cahir>
íbgeitaà inconftancia dos não feria o ultimo. Do lu^
ventos? Os Latinos tem gar alto pódefe cahir ao
dous nomes, com que de- baixo,do baixo pôdefe ca-
clarão dous géneros de fe- hir ao infimo : mas do iníi-
gurança muito diverfa
Ttitus , & Securus. Tutus
figniíica a fegurança do q
que naó periga : SecuruSy a
mo, que he o ultimo , nam
fe pôde cahir, porque nam
ha para onde.
ipf Efte foi aqueile
fegurança do que naó pe- evidente argumento , com
riga,nem pode perigar. O que o Profeta Jeremias
Tom.7. O iij con-
■il
m
Thren,
4.22.
214 SermaÕ da 'T)omlnga decimafexta
confolou a Jerufalem no de todos os males , izen ta
cafo da tranfmigraçaÓ de da morte,&faz immortaes
Babylonia.Chorou o Pro- aos que mata 5 porque nem
reta eloquentiííimamente eliaos pòdejà matar, nem
aquella tranfmigraçaÓ có eiies morrer. Eeílepriyi-
quatro Abecedarios de la- legio he o que logra na vi-
ítimasjfinalando a cada da,quemconheceo obeni
letra hum novo motivo de
dor :& chegando ao ulti-
mo verfoj&à ultima letra,
acabou có eíla breve íç^n-
tença ; Filia Sion, non ad-
do ultimo lugar , & fe con-
tenta com eile. Antes de
fe recolher a efbe fortiíli-
nio aíilo, pôde decer por
vontade, pôde cahir por
aetultra.ut tranfmigrette. defgraça, & pode ferder-
A tua tranfmigraçaÓ, ôjc* rubado por força; masde-
rufalem, foi o non fins ul- poisdeeftar no ultimo lu-
traáos males,que te podia gar,nema força alhca,né
fazer Babylonia. Mas ago- a mefma vontade própria,
ra,que eftàs padecendo ef- nem todo o poder da for
fa tranfmigraçaÓ, tu a de-^
vesconfoiar naó com ou-
tra coufa, fenaó có a mef-
ma tranfmigraçaÓ : Por-
que? Porque fe ella foi o
nonplus ultra , & o ultimo
dos males,naó pôde paífar
dahi: Non addet ultra ^ut
tranfmigret te. Taó alta-
mente exagerou Jeremias
o mal,quamíutilmentelhe
excogitou o alivio. He
tuna o pode fazer cahir,
nem decer. Acrecente a
fortuna hum dcgrao alem
do ultimo, & outro abaixo
do iníimo, Ç o que Deos
naó pôde fazer )& fó en-
tão poderá decer,quem ef-
ta no Ínfimo lugar,&: cahir
quem eftà no ultimo.
ipó Soquem foube fa-
zer cí]-a eleição defarmou
a fortuna. Oh que gloriofo
propriedade dos males ul- trofeo ! A fortuna defpida
timos izentarem de fy defuasarmas^&aopè dcf-
mefmos a quem oprimem . fcs deipojos aquelle verfo :
Amorte, quehc oiiltimo Maior /um qiicm aãpofft
Joríwr.a
pdfl "Pentecofien, /^if
fortuna nocêre. AíTitn fe bemafortunado^quênam
dearma a fortuna, que fó pôdecahirj&fónaõpóde
he force com as armas,que caliir, quem naó tem para
nós lhe damos. Todos os onde. E porque náo pare*
poderes da fortuna em que ça,que diílimuío a futiieza
conriílem?EmIevantar,ac dehúamílancia, que tení
abater : & fe eu me conten- efta Fiiofoíia>dirá alguém,
tocomoultimo lugar, né queno mefmo lugar ulti-
ella me pôde levátar , por^ mo>fem haver outro mfe-
que não quero, nem aba. rior, & mais baixo , pode
ter,porque naó pôde. An^ cahir quem eíla nelle : ^u ;^^;^^;
tes digo, que nem abater^ feexiflsmatftare^ <videat ne
me, nem levantarme pôde eadat : Quem eftà em pè ,
a fortuna , ainda que quei- olhe naó caya i porq quem
ra 5 porque temos os con- eíláempé^pòde cahir dê-
€eitos trocados. Levantar- trono mefmo lugar, feni
me naó , fegundo o meu cahir para outro. He o 4
conceito j porque o que el- diífe judiciofaméte o Poe-
la tem por melhor lugar, ta : Infe magna ruunt. Mas
eíTeheo que eudefprezo. eíl:a inílancia naó tem ia-
E abater me também naó, gar no noíTo cafo : quem
fegundo o feu conceito •, eftà empe pôde cahir no
porqueoqueeilatem por mefmolugar,mas naóque ,
peor lugar,eíle he o que eu eftà deitado j &: iíTo quer
eftimo. Abra os olhos a áizzr ^recumhe. Os que ÍM"
fortuna cega , & emende a biaó,&: deciaó peia efcada
falfa aparência dos feuser- de Jacob podiaó cahir,
rados conceitos, & fó en- mas elle que jazia aopè da
taô poderá fazer bemafor- mefma efcada no ultimo
tunadosjtédo pelo melhor lugar,6c deitado, eftava fe-
lugar do mundo naó o pri- guro de poder cahir,^ por
meiro,& mais alto, fenam iífo dormia a fono folro :
o mais baixo , & ultimo. Recumkinnoviffimoloco.
Só he verdadeiramente ^
Oiiij §Ylh
m
2 1 6 Sermão da T^omin^a decimafexta
refufcitouem noíTos tem-
pos,aílim foi tarrj bem con-
denada como errónea, por
ferexpreíTamente encon-
trada com as Efcriturasdi-
ç i p ^- r ,'"r- v^í^^s- C>oSoldizo Texco
tam^bem o mais quieto , ou claras , como a luz do mef-
iP7
Terceira pre-
XjL rogativa ' do
ultimo lugar fobre mais
fó elle quieto. Neíta per
petua roda em que fe re-
volve o mundo , tudo fe
move, tudo fe altera , tudo
fe muda, tudo eílà em có-
tinua agitação, fem coníi-
llencia,nem firmeza : nem
mo Sol, que eile heo que
dà volta ao mudo, allumi-
ando^o: Oritur Sol,& oc^cá^
ciditygyrat per Mertdiem^^^^^
&fleã'itur ad Aqmlonem^
lu-i rans untverfa m circui^
Tiai,i^n\.^í ';' ^^- ^ peio cótrariojda ter-
«ínmí Tr ""' r^"'^ ? "^"^ ^^^" de mover jà
ÍaôT' °í í'°^°^°'; """^ "P^ '^«^ Pl^"«^s fe moves
J^aoeraoSoloque fe mo- & todos os Aftros, & cor*
do fín, '''*'" '° '"""■ P^s^^eleftesdedia, & de
do,fcnao que permanece- noite eftaó em perpetuo
dolemprefixo, & immo- movimento, &abS do
Ceo arrebatada com eíle
fe move a esfera do fogo, 6c
abaixo do fogo o ar, & os
ventos, & abaixo do ar a
agua, ou correndo perpe-
tuamente nos rios , & nas
fontes, ou indo, &: tornan-
do àsprayas no mar duas
vel, eíla terra em que eíla-
moshe a que, fem nòs o
fentirmos, fe move , & nos
leva comíigo,& quádo nos
aparta do Soí, faz a noite,
& quando colo torna a
mo/Irar, o dia. Mas eíla
opinião , ou imaginaçam
^\^i, ' - -^c^—^cv..* 'a»^ ua ura y asno mar duas
pathcfliatica, aflim como VC/e(ino.dia,aj;ida quando
as
poftTentecoften. 217
as tetnpeflrades o naó le- para o Ceo3& para tudo o
vantaò às EftreIias,oii abif-
maó às áreas ; qual he a
razaó porque a terra no
meyo de todas eílas agita-
çoens,& tumultos da natu-
reza, fôellaeftà firme , &
immovei, fó elia em per-
petua quietaçaò,& focego:
Terra autem in íeternuftat^
Náo vedes como neíle
immenfo globo do uni-
verfo íó à terra como cen-
tro delie coube o ultimo
lugar do mundo ? Pois eíTa
he a razaó porque fó ella
que fe move entre o Ceo,
& a mefma terra, que con-
tente eftaria do íeu ultimo
lugar, & que graças daria
por elle ao Autlior da na-
tureza : vendo o curfo , &
revolução fempre inquie-
ta do Sol, da Lua , & das
Eftrellas: 5c a continua ba-
talha dos elementos, co-
mendofehuns aos outros
fempaz,nem quietaçam,
mas em perpetua conqui-
fta de dilatar cada hum a
própria esfera , & fó ella
no mefmo mundo goza de pacifica,^: quieta por be-
quietaçaó,& focego : Cíí/í- nefício da ultima baixeza
faftabílitatist & immobili^
tatis terra eÇt ejus gravitas^
quaexigit infimum mundi
locum , comenta Cornelio.
E m fuma, que todos os ou-
tros lugares mais, ou me-
nos altos faó naturalmente
inquietos, & fó o Ínfimo ,
ultimo, 6c mais baixo de
todos he o aíTento firme, 6c
o centro immovel da fe-
gura, 6c perpetua quieta-
rão.
íp8 Oh fe a terra ti-
fera olhos , 6c entendimê-
to,6c oihaíTe cà debaixo
em que Deos a fez a baze
do mundo, 6c lhe deo por
baze o feu próprio centro :
Fíindajti t erram fufer fia- p^^jj^^
hílitatem fuam ? Mas o ho- í°3 í«
mem,que he terra com
entendimento,6c olhos, fe
o mefmo Deos lhos abrio
de maneira, que foube nao
querer outro lugar fehaóo
ultimo •, elle he o que ver-
dadeiramête logra aquie-
ta paz , Sc pacifica quie-
tação do feu taó feíice co-
mo defconhecido eíladoj
fem quem lho perturbe 5
^T!»„.,
/
i
i.Rcg.
Texc
Hebr.
Sidon.
Apo\'ii-
naiis
hb.iE
2 1 8 Sermão da T>omwga ãecimafextà
nem altere. Batalhem os public^pracipitibus yò^íw
outros, &: comãofe fobre brkisculminibus infiftunt^
quem ha de fubir,& alcan- hoc ipfo ,fatis miferiores ,
caros lugares mais altos; quodparum intelltgtint in-
que eu (ciiràj quanto mais quiettjjimo fe Jubj acere fa-
olho para elles, ôcvejo de mídatui. Notai a palavra
fora os feus perigos, Ôcnau- fuperlativa inquietiffimo ,
fragios, tanto mais me fa- c6 que hum VaraÓ de taõ
tisfaço da minha paz, que alto juizo como Sidónio,
das fuás batalhasjda minha
retirada, que das fuás vi-
torias >& da m inha fegu ra
baixeza , que das fuás in-
quietas alturas, Olhaijque
bem entenderão a inquie-
tação de todas ellas vivos,
6c mortos. Quando Saul
depois de morto Samuel,
o tirou do fundo da terra ,
&ofez vir a eíle mundo,
pofto que por taó breve
efpaçoja razão porque Sa-
não fó chama fervidaó â
dos lugares altos, mas in*
quieriííima fervidaó : in-
quittifjimo fumidatui.
199 Ascaufasnaturae^
deila inquietação dos lu-
gares altos, ou faó as co-n*
petenciasdos que os pro-
curaò, ou as envejas dos
queosdeíejao , ou o pró-
prio defi/íbcego dos mef-
mos lugares, que ainda de-
pois de adquiridos , nem
muel íe queixou delle naó elles aquieta5,nem deixaó
foi outra, fenão porque o aquietara quem eílà nel-
inquietára : ^are inquie-
ta ff i me , tit afcenderern ? E
Sidónio Apollinar refuta-
do o parabém de certo lu-
gar eminente a que fora
promovido hum feu ami
Ics.Qiianto às competên-
cias s porque pcJejavaóJa-
cob,& Efui nas entranhas
defiia Mãy:& Pilares &
Zaraó,quelhefucedéraó,
não pelejavcáo nas entra-
go, efcrevco eílas notáveis nhãs da fua ? Porque Jacob
palavras. Sedjententta ta- & Efau ambos pertendiaó
// nunquam ego afcntior , ut o primeiro luga r : & entre
fortunatos putem^ qui Rei- Phares & Zaraò taó fora
cílava
foH^entecoften. 219
citava de haver a merma tns^alterafinlflrhfedeat.
contenda, que tendo Za- Os outros Difcipulos , a
raò jànamáo coma pur- quem os dous irmãos fe
pura a enveftidura do pri- viaó preferidos , nani lhe
TíiQiroy hic exiet prior :,toj^- davaó cuidado : & fó de
nou a retirar o braço para
o dar a Phares. De forte,
que nas mefmas entranhas
maternas, onde ouve dous
que competirão fobre o
primeiro iugar,tudo foraó
inquietaçoens,& batalhass
Bcoiídeouve hum fó que
quiz antesoultimo,queo
Pedrofe temiaó. Mas fe
Joaó & Diogo eraó os
dous mais virtuofos do A-
poílolado, & os dous ma-
iores amigos de Pedro, co-
mo o queriaó excluir por
eíla via ? Porque onde en-
tra aenveja, &aambiçam
de lugares5náo ha virtude.
primeiro, tudo foi paz, & nem amizade fegura:o ma-
quietaçaò. líto quanto às ior amigo vos ha de deA
íoo competências. E quanto
às envejasPMaior cafo ain-
da. Pedirão os filhos do
Zebedeo as duas cadeiras
da máo direita, & efquer-
dadoReyno de Chrifto;
& com que tençaõ as pe-
dirão ? Com tençáOj diz S.
Joaó ChryfoílomojqueS.
Fedro, de quem fó fe te-
miaojlhc não levaíTe o pri-
meiro lugar , ouprimaíia
do Rey n o. Trimatiim hu-
chryf. J^-^ confejjus impetrare , &
Homii. pneponi auiãem fe c£teris
Matth. jciebant , T et rum verojibi
praferri formidantes dice"
reaujífunty ut tmus à dex-
viar5&o mais virtuofo fe
ha de introduzir. Os pri^
meiros lugares leve-os Jo-
aó & Diogo : & a S . Pedro?
Nenhum lugar. Por cer-
to, quenão havia de haver
eíla inquietação no Apo*
íl:olado,fe o lugar fora o
ultimo.O ultimo lugar nao
tem envejofos, nem quem
o efcolheo por melhor, te
que envejar : & onde nam
ha envejofo, nem enveja-
do, tudo eílà quieto. E ba-
ila iílo? Não baila. Porque 20 í
ainda que não haja com-
petenciaj nem enveja, que
inquiete os lugares altos.
•II
2 2 (3^ Sermão da T^omlnga decmafexta '
he nelles ta6 natural a in- 202 Sò o ultimo lugnr
quietaçaójcomo dizia,quc
cMqs mefmos fe inquietaó,
& a quem eftà nelies. Lú-
cifer foi criado no Ceo,
donde cahio ; Cómodo ce-
^ cidiJUdeCalo Lúcifer : &
com tudo dizia a fua am-
bição, que hayia de fubir
ao Ceo : ^i^ dícebas in cor-
^id. ij. de tuo:ln Calum confcenda. res mais altos do mar, que
Pois, Demoniojfe tu eftàs em penhafcos , ou áreas
no Ceo , como anelas
Ifai.
4 2.-
eftà livre deftas inquieta-
çoens,& perigos, 6c nam
por outro privilegio , ou
immunidade , fenáo por
fero mais baixo. Errada-
mente fe chamáo baixos
aquelles em que naufra-
gão os navegantes. Não
laó baixos, fenão osluga-
fubir ao mefmo Ceo ^ Co-
mo defejas o que jà tens.?
Comopertendes o qae jà
alcançaíle > Como te in-
quieta o que jà gozas ^ Co-
mo queres fubir onde jà
fubiftej&eílar onde jà ef-
tàsi? Porque o mefmo lu-
gar em que eílava, o in-
fe levantáo no meyo delle.
Por iíTo nelies naufraga o
mefmo mar,&: fe quebrão,
& efpedação as ondas. T^i"
tofas as que fem querer
fair, nem fubir, fe deixaó
eílar no feu fundo , que ef-
fas fò íe confervão em paz,
& gozáo de inteira quie-
tação: êc fe là chegão os
quietava de forte, que ef- eccos das que perigáo, &
tando nelle , naó podia quebrão, ellas defcanção.
aquietar nelie. Por iífo fem
competência, nem enveja
de outrem , que o dcrru-
baíTe, elle fe derrubou a fy
mefmo. A Adam derrubou
o Demónio ,ao Demónio
elle mefmo fe derrubou,
porque tanto o inquietou
o lugar que tnihajcomo fe
Q naó tivera.
& dormem ao fom das ou-
tras. Deílamefma quieta-
ção feguraj& firme nos dà
outro documento a terra
naquelles grandes corpos
aqueconcedeoa vida, &
negou os fcntidos. Todas
as arvores tem húa parte
firme, & outra movediça.
A firme, que faó as raizes,
eítà
poftTentecoJlen. , 221
eftà no baixo j &a move- põem em dons animalr-
dica, que faó os ramos, no
alto. Sôalli temjurdiçaó,
& império , ou a lifonja
dasviraçoens,ouo açoute
dos ventos. Todas na ca-
beça leves,& inquietas , &
nhosdetaó pouco vulto .^
Para que fe envergonhem
os homens com todo o feu
ufoda razão, de naófabe-
remefcolher o lugar, que
^^^^. , ^ mais lhe convém. E íao
fó no pè feguras, 6c firmes, tão efquecidos , & defcui-;
Noaltoquebraófe os ra- dados todos em fazer eíla'
mos, voaó as folhas, caem efcolha , que fe algum ou-
as flores , & perde mfe an- ve, que a íizeíre,foi por ef-
tes de amadurecer os fru- pecial auxilio da graÇa^
tos : &: fò no baixo fuílen- divina. AíHm continua o
taóas raizes o tronco, & meímo David com eílas
nelleasefperanças de re- admiráveis palavras : ^^^-
cuperar em melhor anno tus vir.cujus eft auxilium ^^.^^
tudo o perdido. Oh mal- absteiafcenfionesmcorde
eníinado juizo hu mano , ' fuo dífpofmt , in vdlle lacff^
que nem as plantas iníen^? marum^inloco quem pofiãPj"
Bemaventurado, Seníiof i^
aquelle homem a quem-
vosaílifbiscom particular-
auxiiio de voíTa graçaipor*
que eíle confiderou todas
as afcençoens, ifto he, to-
dos os modos de fubir
com que os outros procu-
raó alcançar os lugares^
mais altos -, por è m elle eP
fiveis , nem os elementos
fem vida baílaó a te fazer
fezudo! aprende ao menos
das criaturas fenfitivas ,
& fejaó as menores as que
teeníinem.
203 OPardal,&:a Ro-
la[diz David 3 foubéraó
bufcar, & achar o lugar
mais conveniente a fua
confervaçaó : Etenim Taf- col heo para fy o mais bai-'
ftr invèntt (ibi domum , & xo de todos, & poz o feu
lugar no valle das lagri-
mas: in valle lacrymarumr
in loco ({uem fofúit, Ma$;^
quQ
Tuhur nidíimfibi) iibiponat
puUqsfuos. E a que fim traz
David eíte exemplo , & o
2 2 2 ' Sermão da dominga decimafextA
que valle de lagrimas he valle pois , que
eíte ? O mundo vulgarmé-
techamafe valle de lagri-
mas: porém nem todo elle
he valle, nem todo de la-
grimas. Não he todo val-
le, porque tem campos,
outeirosj& montesj & naó
he todo de lagrimas, por-
he dela-
grimasjôc trifteza para os
demais, neíle mefmo , &
no mais fundo ddie , que
he o ultimo,& mais baixo,
pozo feu lugar aquelle a
quem Deos alliftio ; por-
que naó bafta fó para eíla
valente refoluçaò o enten-
mas he neceflarioo auxi-
lio da graça divina : Cujus
eftaiixiuumabste: auxilio
de luz para o conhecer
por melhor j auxilio de va-
lor para o preferir a todosj
& atè auxilio do amor
próprio , para defcançar
íem engano unicamente
ntW^'. Recumbe in novtjji-
me loco.
quetambemhede goíios, dimento,& juízo próprio,
delicias, & paíTàtempos, * "^ "
Que valle he iogo efte on-
de fó o homem aíliltido da
graça de Deos pozo feu
lugar. In valle lacrymamm^
in loco qu^m fofutt ? He o
valle que fazem os montes
das afcençoens,iílo he , os
lugares altos onde todos
defejaó fubir,que elle con-
liderou muito attentamé-
te: Afcenfiones pofiãt in cor»
dejuo. Os que fubiraó a eA
tes lugares altos, eftaó nos
montes da alegria , porque
confeguiraóo que defeja-
vaó: & os que nam pode-
rão fubir , eftão no valle
das ÍP grimas > porque to-
dos chorão , & fe chorão
de lhe naó chegar o dia
da fua afcençaó, & de nam
ferem promovidos aos lu-
gares, que dçfcjaó. Ncíie
í. VIIT.
204
T
Emosviíloco-
lugar, entre todos os do
mundo, para alcançar he o
mais fácil , para confervar
omaisfeguro ,& para lo-
grar o mais quieto: prero-
gativas nelle fíngularcs,
pelas quaes deve fer prefe-
rido a todos os outros. Ne.
o no-
pofiTentecôften. 12^
o nome de ultimo lhe deve ]icidade com Jupiter:& el-
tirar nada de eftimaçaõj
porque fenaó fora o ulti-
mo, naó as tivera. He todo
olugarultimocomooque
coube a Benjamin nanie-
fadeJofeph.Como os Ir-
mãos feaftentáraó à mefa
conforme as fuás idades > a
Benjamin, que era o mais
ta felicidade fobre huma-
na fó a depoíitou nam o
falfo, fenaó o verdadeiro
Deos nos thefouros cfcon-
didos do ultimo lugar. Sò
alli íè vive fem defejo,fem
temor, fem eíperança, fent
dependência, & fem cui-^
dado algum, nem ainda le*
moço,coubelhe o ultimo vepenfamento,queaper
lugar. Foi porém coufa, turbe.SòallioíbnoJiedef-
que os mefmos Irmáos, & canço , o comer fuílento,á
todos os Egypcios muito refpiraçaó vital, & a vida^
admirarão -, que fazendo
Jofephos pratos, o deBé-
janiin fe avantejava fem-
precom notável cxceílb a
todos. Olhamos para o lu-
gar,& naó olhamos para o todoem fy,&fóradomu-
praco. Ohfe foubeífemos do ; porque naó quer nada
tomaro fabor aos goílos, delle. E que naó bafte tu-
& regalos puros, & íince- doifto,paraque oultimq»
ros, que fó no ultimo Jugar lugar íeja o mais eftimadoj^
feachaó, livres das amar- o mais querido, & o mai^
guraSjSc deíTabores , que
em todos os outros luga-
resjpor altos, & foberanos
que fejaó , ainda com os
olhos cerrados, mal fe po-
dem tragar ! Là diíle De-
mócrito, que aqueile que
fe refolveíle a naó defejar ,
poderia competir de fe«
vida-, porque fóallieítà a;
Alma naó dividida, mas
inteira , & toda comílgo,
& dentro em fy mefma>
como também õ homeríí
pertendido dos homens?
Tanto pode com elles a
faifa aprehenfaó daquelle
nome de ultimo, com que
reconhecédo-o no demais
por taó avantejado,& me-
lhor, o reputaó com tudo
naó fó por menos honra-
do>masporafrontofo , ôc
por
1
i
224 Sermão da dominga decimafexta
por iíTo o defprezão, & fo- o fenhor da carroça ; &: af-
gemdelle. íim como o que tem o ul-
. 20^ Efte he o iilfimo timo lugar na caía , he o
engano , que fó nos refta fenhor da caíIivaíH mo que
por refutar 3 cuja mtelli- voluntariamente tem o ui
gencia çoníifte em faber
diftinguir no mefmo lu-
gar húa grande diíferença
de ultimo a ultimo. O ul-
timo lugar merecido por
diílribuiçáo alhea , pôde
fer afrontofo j tomado por
eleição própria, he o mais
honrado. Quem volunta-
riamente, & por própria
eleição efcolhe o ultimo
lugar do mundo , eíTe fó
ufa do mefmo mundo co-
mo fenhor delle. Denos a
primeira prova o mefmo
mundo, nao como vão, &
errado, mas como cortez,
&entendido. Viftes paf-
fear na praça de Palácio
liua cochada de Fidalgos j
& qualdelleshe o fenhor
da carroça.^ O que vai no
ultimo lugar. Viíles os
mefmos, ou outros em có-
verfaçaó, ou viiitaj Sr qual
he o fenhor dacafa.^O que
eftà na ultima cadeira.
Pois aíllm como o que té o
timo lugar do mundo,heo
fenhor do mundo. Nam
ponhamos a decifaó na
vontade dos homens, que
pode fer errada^ mas na do
mefmo Deos, que hc a re-
gra de toda a razaó, & ver-
dade. ComeçoujSc acabou
Deos a grade obra da cria-
ção dcíce mundo em féis
dias : mas porque ordem ?
Depois de criar no primei*
ro dia a luz , no terceiro
criou as arvores , <Sc plan-
tas, no quarto o Sol, Lua,
& Eftreilas , no quinto os
peixes, Sc a ve^, no fextoos
animaes, que andaô, ou íe
arrafbáo fobre a terra : &
depois de povoados por
eftemodoo Ceo, o ar, a
agua, 6c a m.efma terra, del-
ia formou ,& criou o ho-
mem, p.n"a dominar como
fenhor tudo o que tinha
criado. A íli m o diíle o mef-
mo Deos no mefmo a^to
em que o formou : Fdcia- ^mef
ultimo lugar na can-oça,he mus hfjmhian adimaginemy ' '
à-fi'
poH^enfecopn.
& Jimilítudinem noftram^ vendo deter
utprafit pifei hus mar is , &
volatiíibus C^líi & beliijs^
univerfa que terra. Pois íe
o homem era a primeira j
& mais nobre de todas as
criaturas deite mundo, 8c
criado para fenhor delias,
porque o naò ctiou Deos
no primeiro lugar , fenam
no ultimo? Por iflfb mef-
mo. Porque a honra , &
dignidade do ultimo iu- rorum. E porque razaó o
gar do mundo fó compe- ultimo, fendo fua a eleição
21f
lugar entre
os homens , que lugar to-
maria ? O de Nazareth ? O
de Belém ? O do Egypto ?
O do Calvário ? Tal foi o
lugar que tomou fempre,
& em toda a parte 5 que
vendo-o o Profeta Ifaias,
naó teve outro nome com
que fe explicar, fenaó cha-
ma ndoihe o ultimo dos
homens : Roviffimum vi- ^^^'- ^5-
tia , & era devida ao Se-
nhor,& dominador dellc.
Vedeagorafe hc honra-
do,&quam honrado he o
ultimo lugar. Mérito ergo
pojiremus^ quafi finis natu-
ra for matus : reèfe ergo no-
'vijfímus^quajitotiusfumma
operis-i quafi caufa mundi ,
tropter quemfaãafunt om-
nta^ diz S.Ambroíio. Mas
ainda naó eftà dito o que
excede quanto fe pôde di-
zer.
' 2c6 Deos em quanto
Deos, por fer infinito , &:
do lugar ? Naó porque ti-
ve ffcp^ir 3. fj^quQ a igual-
dade, que tinha com o E-
terno Padre , foíTe alhea,
ou roubada, & naó natu-
ral, & própria, CO mo notou
S. Paulo i mas porque {en-:
do taó Deos , & taó fup re-
mo Senhor do univerfo,
como o mefmo Padre , né
outro lugar era capaz de
fua grandeza, nem outro
mais decente a fua fobera-
nía,né outro emfimmais
conforme a íua doutrina ,
fenaó aquelle mefmo a
immenfo , he incapaz de que hoje nos exhortou, o
lugar: porém depois que ultimo. Em humbanque-
deceo do Ceo a efie mun- te a que ElRey Dionyíio
do,& fe fez homem , ha- de Sicília convidou as ma-
Tom.7. P ioi-es
I
/
2 2 6 Sermão da dominga decimafexta
lores perfonagens do feu ciufaódaparabola^naquâl
Reyno, como puzeíTe no parece que desfez o divi-
uitimo lugar da meíci a A- noMeftre tudo o que te-
riftippo, oráculo daquella
idade , o que lhe diíTe o
grande Fiiofofo/oi : Hunc
plane locum decorare^ ò" ti-
luftrem reddere voluiJtkStm
duvida, ôDionyíio, que
hoje quizefte enobrecer,
Sc fazer illuíi-re efte lugar.
Efeaílim honrou, & iliu-
ílrou Ariftippo o ultimo
lugar fô com fe aíTentar
iiellejque diremos depois
que Deos o efcolheo , &
tomou para íy ? OnovtJJi^
wumièr altiUimiim \ excla-
ma S.Bernardo. Antes de
Deos efcolher eíle lugar
■entre os homens , podia
andar em opinioens fe era
honrado, ou naó o ultimo
lugar
mos dito. Dando o Senhor
a razaó porque fe naó de-
vem procurar os primei-
ros lugares jfenaó o ulti-
mo : porque virá (^ diz ^ o
dono da cafa,&: do convi-
te, 6c fe vos vir no ultimo
lugar, dirvos ha ; Amice-y Luc i^.
afcendeftiperius'. Amigo,fu- *°*
bi para cima ; &: pelo con-
trario, fe tiveres tomado o
primeiro, o que ou vireis, rbijp,
íerà:*D^ huic loctim-.htY^n^
taivos deíle lugar, & dai-o
a eíle : & com grande con-
fufaó,& vergo aha voíTIi fi-
careis no ultimo : Etinci^
pias cum ruhóre novijjimum
locum tenere. Eíle dono da
cara,& do convite no fim
mas depois que da parábola he Deos , que
Deos o efcoihco, & tomou fegundo as nollas acçoens,
para fy , intolerável blas-
fémia feria dizer , que naó
he o mais honrado de to-
dos.
ff. IX.
207
p
Orfimfó rcíía
fatisfazer à c6-
6c deliberaçoens as ha de
premiar,ou caíligar:5c naó
pondero, que fó ao que ef-
colheo o ultimo lugar cha-
mou amigo, Amice : nem
pondero, que o que tinha
tomado o primeiro kigar,
naó ficou nofegunuo,nem
no tcrceiío, mas deceo, ou
foi
\\
fojt^entecoften. ii)
foi lançado no ultimo: mas hçoens, enganos, faiíida-
o que pondero, & reparo , des> traiçoens, violências ,
he, que ao que elegco o ul-
timo lugar o premiou
Deos com o primeiro , 5c
ao que tomou o priíneiro
ocaíligoucoiii o ultimo:
iogo íè o ultimo lugar fe
dà por caíligo>& o primei-
to por premi o, melhor pa-
& tratar cada hum de íu-
bir , ainda que Teja pelas
ruinasalheas5& para ef-
capar de todos eftes males^
maldades, & m alicias , naó
ha outro lugar feguro , &
quieto,fena6 o ultimo.Pe-
lo contrario, no Ceo tudo
rece que he o primeiro lu- hecharidade,paz,concor-
gar,que o ukimo. dia, amor , contentamen
208 AHimparece,por-
que naô coníiueramos nos
ni efmos lugares o onde, &:
o quando. Onde, 6c quan-
do foi a eleiçaô,que os ho-
mens fízeraó dos lugares ?
Neíte mundo. E onde , &
quando ha de fer a mudá-
ça com que Deos os ha de
trocar ? No outro. Pois el-
ía hearazaò da difFeren-
ça,Sc da troca. No outro
mundo he melhor o pri-
meiro lugar ;neiie, o ulti-
mo. E porque .<* Porque o
Ceo he a pátria de todos
os bonsA de todos os bés:
a terra a de todos os máos ,
& de todos os males. Na
terra tudo íaó foberbas,
ambiçoens , envejas, dif-
cordias, contendas, cavii-
to, bemaventurança , &■
eílimar, & gozarle cada
hum do bem do outro, co-
mo do próprio : & por iííb
os primeiros lugares de
ninguém envejados,nem
pertendidos, mas de todos
aprovados, 6c venerados,
fem receo que os inquiete
de dentro,nem perigo q os
perturbe de fora , íaó taã
íirmes,& perpetuosjconio
os meímos bens, 6c felici-
dade, que lograó.
209 Epara que veja-
mos eílasduasdifferenças
eftabelecidas por Deos
defde o principio do mun-
do, húa na terra entre os
eiementos^Scoutra no Ceo,
entre os Anjos 5 ouçamos a
Efcriturafagrada^Na cria-
Pij çaó
ífé'
Pra'm.
M8. i.
228 Sermão da Dominga declmafexta
ção do mudo gaftou Deos Porque fendo a agua por
natureza fuperior à terra.
{çis dias , mas fó cinco del-
les foraó propriamente de
criação. No primeiro
criou , no terceiro criou ,
no quartOjno quinto, &■ no
fexto criou , & fomente no
fegundo não criou coufa
&■ fendo o lugar da terra o
ultimo, ella deixando o íi-
tio mais eminente em que
fora criada , correo efpon-
taneamente a encher as
concavidades da mefma
algua. Pois fe o fegundo terra, &fe abraçou de tal
dia foi totalmente efteril, force com ella no mefmo
& infecundo fem produ- lugar, queda agua, & da
çaò de nova criatura > em terra fe formou hum fó
quegaftou , & empregou globo. E foi taó grata aos
Deos todo aquelle dia? olhos de Deos eíla acçaó.
Empregou-otodo emhò
rar,& exaltar o ultimo lu-
gar, quanto elle merece.
Diz o Texto, que no fegu-
do dia dividio Deos o ele-
mento da agua , & levan-
tou húa parte delle , & a
poz fobre o firmamento, a
que chamou Ceo. Eftas
faó aquellas aguas de que
diz David : Et aqu^ omnes
qH£ftiper Calos funt , Idu-
dmt nommT^omtni : onde
declara, que o Ceo fobre
que foraó collocadas , he o
fupremojôc mais alto de
todos. £ donde lhe veyo
ao elemento da agua fer
alfim exalrado,o que Deos
naó fez a algum outro?
pofto que natural 3 do ele-
mento da agua,que haven-
do de lhe compeafar como
Author da natureza hum
lugar com outro lugar,pe-.
lo ultimo a que fe abateo
na terra , o levantou ao fu-
premodoCeo. Mas pois
eílamos no Ceo, vejamos
quam contrario foi ià a ef-
te exemplo da agua ele-
mentar o do fogo racio-
nai , que iíTb quer dizer Se-
rafim. Tinha o primeiro
lugar no Ceo entre o Co-
ro dos Serafins Lúcifer, &
naó fe contentando có me-
nos fuaaltivcza , que com
fubir ao fuprcmo lòbrc to-
das as criaturas, lllo hc o q
rc-
\ií
põftTentecoJíen. 119
revolvia no pcnfamento , poftosnos'primeiros? Fa-
quando diífe ; Super ajlra cíl he dar o confelhojfenaó
for diíficultofa a refoluçaõ.
Mas eíta naó corre por mi-
nha conta. Porque naò fa-
ráoos que tem menos que
deixar,© q íizcraõ tantos
ifai. r4. Ç2)^/ exaltabofolium tneum ::
'^' '"*■ jimilis ero AítiJJimo. E que
lhe fez o mefmo Altifllmo
a quem aífedbou fer feme-
Ihanteí* Verumtamen ad In^
&id i P^»^^ detraheris mprofu- Reys > &'Emperadores ?
' '^^' dum laci. Do Ceo o preci- Náo tinha fé do Ceo, nem
pitou no Inferno, 6c do fu-
premo lugar, que aíFeârou
no Empireo,ao iníimodos
abi fmos. Aíli m caftiga, ou
do Inferno Diocleciano &:
Maximiano, 6c fó pela ex-
periencia que tinhaó dos
primeiros lugares do munr
J>f emea Dcos,6c aíTim tro- do , cançados de o gover^
ca os lugares, fublimanda nar,6c mandar , ambos de
atè o fupremo a quem fe comum confentímento re-
íibateo ao ultimo j 8c der
rubando até o ultimo a quê
affe£tou o fupremo.Tanto
monta na parábola do noA
fo Evangelho, ou, Amice
ajcêde fuferhis^ ou Incipias
cum rubor e noviffimumlQ'*
cum tenére;, v hs bc a ol/o/n
210 A viíía defteèter-^
nodefengano, naóliene-^
ceíTario inferir qual deve
fer a reíoluçaó nefta vida
dos que ainda tem livre a
eleição dos lugares. Mas q
nunciáraó o Império em
hum mefmo dia(jque foi o
de dezafete de Fevereiro
do anno de trezentos 8c
quatro ) Diocleciano em
Nicomedia, & Maximia-
no em Milam. E quê na m
exclamará nefte paífo:ô ce*
gueira do juizo humano !
ô fraqueza grande da noíla
fé ! que dous Gentios,8c de
mà vidajtiveirem valor pa*
ra húa refoluçaõ como ef-
ta,8c que fendo a medida
faraó os que jà coníegui^ doslugares có que nos le-
rão afuajScpor nafcimen- vantamos fobre os noíTos
tojou negociaça6,ou qual- iguaes taó curta, baile a li-
quer outra fortuna eílaó fonja deíla preferencia taó
Tom.7. P iij
tra-
i
w
ky
226.
2 30 Sermão da l^ominga decimafexta
trabalhofa, & incerta para mefmos a quem inchaó, &
a antepormos neíla vida à enganaò^ como para a Re-
quietação, & defcanço da publica, que arruinaó.
temporal,&à fegurança da Eftes mefmos Efcribas &
eterna! ^ Farifeos amadores dos
2 1 1 Razoens pôde ha- primeiros lugares, foraó os
ver taô urgentes , & obri- foiicitadores da morte de
gaçoens taô fortes , q naó Chriíío,& os que puzeraó
permitaó rompereftesla- oFilhode Deos em hua
ços: mas nos tais cafos,que Cruz : Porque? Sò por naó
náo podem fer, fenaó mui- perderem os lugares, que
torarosjjàquefenaôpof- tanto amavaó : Vement
faó renunciar os lugares, Romani, &tollent noftrum ^T^
ao menos fe deve renun- locum. Emíim ,quefe os
Giaroamor. Mais eílra- primeiros lugares fe nam
nhava Chrifto nos Efcri- amarem, feráó menos os
bas,& Farifeos o amor que danos, que caufaráó, pro-
tmhaó aos primeiros luga. prios,& alheos j mas, ou
res , que os mefmos luga- amados, ou naó- amados,
res : Amant autem f rimos fc os que ellaó nelles, os
recubitusin canis , & pri- não renunciarem de todo ,
mas cathedrasinfynagogis. & trocarem generofamen-
Para ferem taó arrifcados te pelo ultimo, de nenhum
modo poderáó gozar a li-
berdade, a quietâçaó,& o
defcanço íèguro , que taò
largamente tenho moílra-
do-, porque efte privilegio
como vemos os primeiros
lugares , baila ferem pri-
meiros, ainda que fenaó
amem. Os Santos não os
amavaó,&com tudofe lè
de todos, que os repugna- fó he concedido por Deos
yaó,&fugiaódelles -mas ao ultimo lugar: Recumh
fe forem primeiros, & jun-
ta mente amados,entaó faó
muito mais perigofos, &
pcrniciofos, aíTimpara os
in ntívíjjhno loco.
SER.
:ê#:
■£^ •?<$.? -?«^ -í^ í#? -S^ -S^S-S-íK 'Ê-^**^ -í^ -í^í «*=^*^«®
SERMAM
ei DO santíssimos^
SACKã MENTO
EM DIA DO CORPO DE DEOS,
«vv . na Igreja,&Gonvenco da Encarnação.
íííc ejipams^qui de Calo- defiendit. Joann. 6,
?Elebra hoje cfta
Igreja, o 4 cele-
' braó todas I mas
k nenhua com táta
obrigação, nenhua cò tan-^
ta propriedade. Nas outras
hea foíemnidade própria
do dia,neíla he do dia , 6í
do lugar, Andão taó liga^
dos entre fj eftes dous fo-
beranos myfterios, Encar-
naçãOjSc Sacramento, que
amefmaSabedoria,& elo-
quência divina, para pre-
gar as grandezas do Sacra-
mencojfe valeo das excel-
lencias: da Encarnação : .^^^
Hk ejhpanis^ qui de Cak 0 fp.
defcendit:E^Q heopaó,diz
Chriíí:o,q deceodo Ceo.
Mas quádo deceo do Ceo
efte paó ? Não no dia em q
feinftituíoò myíterio do
Sacramento) fenaó no dia
em que fé obrou o da En-
carnação. Aílim o confef-
famos todos có- os joelhos
P iiij ©m
i
■W
232 Sermão
em terra : T>efcendit de Ca-
líSy é- incarnatus eft. De
maneira , que no mefmo
texto cio Thema temos
dousdias, & dous myfte-
rios. O dia, &o myíVçpo
do Sacramento: Hic elipa-
nis : ac o dia , 6c o myfterio
da Encarnação : (^lá de Ca-
lo defcendip : odia, & o my-
llerio do Sacramento con-
forme a celebridade, & o
dia,&:myfterío da Encar-
nação conforme o lugar.
Havendo pois de fer o Ser-
mão Q como he bem que
íeja^naô do corpo de Deos
vagamente, fenaó do cor-
po de Deos na Encarna-
ção : & havendo de tomar
as medidas ao difcurfo pe*
lo mefmo corpo de Chri-
ílo, naó fó em quanto cor-
po de Deosfacramentado,
fenaó também em quanto
corpo de Deos encarnado>
digOjqueo dia da Encar-
nação , & o dia do Sacra-
mento, ambos faó dias do
corpo de Deos ; mas com
grande differença. O dia
da Encarnação he dia do
corpo de Deos, porque no
dia da Encarnação decco
do SantíJJtmo
Deos a tomar condiçoens
de corpo: &o dia do Sa-
cramento também he dia
do corpo de Deos , porque
no dia do Sacramento fu-
bio o mefmo corpo a to-
mar attributos de Deos.
Iftoheo que determino
pregar hojejmas ainda nao
acertei ao dizer com os
termos grandes, que pede
a magefiade da matéria*
Para que eu a faiba , & me
faiba declarar melhor, re-
corramos à fonte da Gra-
ça,qu€eítàpref€nte. Av8^
Maria.
§■ II.
Hicejlpanis^ quíde Cah
... i:'. dffcendit.
213 /^Apoftolo S.
\_/Pauio fallan-
dodafegiinda parte deíle
Texto, iílo hc, de quando
o Verbo divino decco do
Ceo a veílirlè de noífa
carne , diz eílas notáveis
palavras : Cum in forma
^cieffet^non rapmayn ^r- p},iHp.
ifítratns ejl ejjefe aqualem -■^•7.
%)eoyfedfimetipfHm exhia-^
Tjrjit
Sacramento. 2^}*
nivít forma fervi accipiensy vindadeimmortal, & im-
mfmilítudinem hommuyn
faBiiSy & habitu inventus
ut homo. Quer dizer : Sen-
do o Eterno Verbo igual
ao Padre em tudo, & nam
podendo deixar de o íer,
fazendofe porém homem,
& femelhante em tudo aos
outros homenSj de tal ma^
neira encolheo , & fumio
ern fy mefmo os attributos
de fua divindade , & gran-
deza, que naó fe viaójnem
apareciaò nelle depois de
encarnado mais que os
vazios da mefma divinda-
de. Efta he a própria , 6c
rigorofa íigiiiíicaçaõ da-
quelie exinanivtt femetip-
jarm : & aílim foi. Era o
Verbo pela divindade Ef-
pirito, &pela Encarnação
teve corpo: era pela divin-
dade immenro5& pela En-
carnação ficou limitado:
era pela divindade infini-
to , & pela Encarnação fi-
cou finito : era pela divin-
dade eterno, Scpela Encar-
nação ficou temporal : era
paífivel, & pela Encarna-
ção jà padecia 5 ôc eflava
fogeitoà morte. Não faó
grandes vazios da divin-
dade eftes ? Taò grandes ,
& taó profundos, que fó a
comprehenfaô de Paulo
os pode de aigúa maneira
fondar : Exinanivitfemet"
ipfum. Mas aguarde trinta
& três annos a mefma à^^
vindade encarnada, &fai--
rà com igual, ou maior mi-
lagre ao mundo o Sacra^
mento do Altar : Para que?
Para que os vazios da di-
vindade na Encarnação fe
tornaífem a encher no Sa-
cramento. Agora acertei
a me declarar. Aífim co-
mo pela Encarnação a di-
vindade de Chriílo fedef-
pio dos attributos de
Deos , & fe veílio das pro-
priedades de corpo : aííiin-
o mefmo corpo de Cbri-j
ílo pelo Sacramento íè
defpio das propriedades
de corpo, ôcfe veílio dos
attributos de Deos. E efte
pela divindade invifivel, foi o modo mais que ad-
Ôcpela Encarnação viaó- miravel có que os vazios
no os olhos : era peladi- dadiviadadena Encarna-
§á05
i34* SermaÕdõ
çaó, fe eiichéra5,& reílau-
ráraõ pelo Sacramento.
Ora vede.
2 144 Pela Encarnação,
(^como dizíamos] Deos
que era efpiritual , ficou
corpóreo com partes di-
ftintas, ôc extenfasjpelo
Sacramento, Chriílo que
era,& he corpóreo , ficou
efpiritual, todo em todo,
& todo em qualquer par-
te,como efpirito.Pela En-
carnação 5 Deos que era
immenfo, ficou limitado a
hum fi5 lugar i pelo Sacra-
mento, Chrifto que era M-
mitado, ficou irameníbj&
eílà em todos os lugares do
mundo. Pela Encarnação,
Deos que era eterno, ficou
temporal, Scafiimnafceo,
viveoj&morreo em tem-
po; pelo Sacramêto, Chri-
ílo que era temporal , fe
tornou a eternizar íem
termo, nem limite na du-
ração. Pela Encarnação,
Deos que era infinito, fi-
cou finito, como o faó am-
bas as partes da humani-
dade i pelo Sacramento,
Chriílo que era finito,naò
tem fim , porque eílà infi-
Santijjimo
nitamente multiplicado.
Pela Encarnação , Deos
queerainvifivel, ficou vi-
fivelj&afiimoviaõ os ho-
mens j pelo Sacramentoy
Chriílo que era vifivel, fi-
cou invifivei, porque nem^
ovemos, nem o podemos
ver. Pela Encarnação fi-
nalmente,Deos qeraim-
mortaI,& impaflIvei,fÍGou
mortal, & paífivel , (Scpa-
à^cto^^ morreo pelos ho-
mens > pelo Sacramento,
Chriílo que era mortal, 6c
palllvel, ficou impaíllvel,
&immortaI , porque no
eílado,& vida de f-icramé.
tado,he incapaz de' pade-
Ger,nem morrer. Equehó
cada difierença deílas , &
muito mais todas juntas,
fenaó eílarem hoje cheos
no corpo de Chriílo pelo
Sacramento os vazios,com
que no mefmo corpo íè
ocultou a divindade pela
Encarnação : & fer o cor-
po de Chriílo facramenta-
do por todos os attributos
divinos corpo de Deos.^
215- No Capitulo quin-
to do Apocalypíe vio S.
Joaó bua couíà notável, &
ou-
Sacramento.
Apocal
fcid.j
oiivio outra mais notável.
Oqueviojfoi hum trono
de grande mageílade cer-
cado de toda a Gorte do
Ceoj&fobreelie hu Cor-
deiro em pè , mas como
morto : Agmirn Jiantem
tanquam occifum, O que
ouvio 5 foraó as vozes de
í^f
priedade5 porque naó di-
zem, que o Cordeiro efta-
va morto como vivo , fe-
naò vivo como morto:
Stantem tanqudm occifum,
Ifto he o que cremos pro-
pria5& diftintament^, & o
que nos eníina a Fè no my^
ííerio do Sacramento. A
todos aquelles Cortefaós, palavra tanquam íignifica
& de muitos Coros de reprefentaçaó^&naó rea-
Anjos, que cantando , &
acclamãdo, diziaô: Digno
he o Cordeiro , que foi
morto , de receber a virtu-
de, & a divindade: T>ignu5
eft agnusy qui occifus eft^ ac-
cifere virtutemy & divini-
tatem. Eíle Cordeiro nao
jazendo como morto , fe-
nãoempè como vivo, he
o Cordeiro de Deos , que
tira os peccados do mun-
do, Chrifto Redemptor
noílb : mas he ChrifÍ:o,&: a
mefmo Chrifto naó em
outro eftado , ou de qual-
quer outro modo, fenam
em quanto facramentado.
Aílim o entendem com-
mummente os interpretes
defte lugar : & as mefmas
palavras do Texto o de-
iidade:&o mefmo Chri-
fto facramentado , que na
realidade eílà no Sacra-
mento taó vivo como no
Ceo, no mefmo Sacramê-
to por reprefentaçaõ eftà
taó morto como na Cru^,
Por iílb as palavras da çó^
fagraçaó, na Hoftia põem
o corpo como dividido do
fangue , &no Caliz o fan-
gue como dividido do cor-
po, tudo em íignifícaçam
da morte, na qual f & de
nenhum modo fem ella j
fe aperfeiçoa,6c confuma o
facrifício. Epor iííb tam-
bém emfôrma,& com no-
me de Cordeiro 5 porque
defde o Cordeiro de Abel
na Ley da Natureza , fe
facriôcava tambê iia Lev
elaraó com grande pro- Efcrita em figura de Cor-
deiro
o'r'.
I
^m
m
V.
yp\
2^6 Sermão do
deiro o mefmo Chrifto.
Aílimoeníinou S. André
ao Proconful Egeas , dizé-
do : Ego omnipotenti Deo ,
qiã nnus^&vaiis ejt-^immo-
lo quotidíe immaculatn ag-
niimy cujus carnem fofiqua
omnis foptilus crekenttum
manducavertt , infeger per-
feveratyò vivus.
2 16 Suppoftopois,qiie
o Cordeiro vivo , & como
morto, queS Joaó vio, era
Chrifto, 6cChriíto facra-
mentado •, entrem agora as
fegundas,&mais admirá-
veis palavras do Texto,
comqueosapplaufos , 8c
acclamaçoens de toda a
Corte celeftial cantavaó,
& diziaó ao mefmo Cor-
deiro, que elle era digno
de receber a virtude , &
divindade : T>ignus eft ag-
nusy qtii occtfiis efiy accipere
*virtutem , & diiúnitatem.
O mefmo S. Joaó nota,
que efte cântico era novo :
Cantabant canticum novú :
& parece que naó era no-
vo, fenaó antigo, & que jà
tinha de antigu idade, quã-
domenos,triiita &: quatro
ajinos, que tantos fe pode
Santtjjimo
contardefdeodia da En-
carnação do Verbo ate o
dia da inítituiçaô do Sa-
cramento. Quando fe fez
o Filho deDeos homem,
& quando fe unio à huma-
nidade de Chriíto a di-
vindade ? Naó ha duvida ^
que no dia da Encarnaçaói
Pois feo receber Chrifto
em quanto homem a di-
vindade, pertence ao mef-
mo Chriíto em quanto en-
carnado : que novidade hc
agora adeíle cântico, em
que toda a Corte do Ceò
lhe dà o parabém de rece-
ber a divindade , naó na
Encarnação em quanto
Deos encarnado, fenaó no
Sacramento,&cm quanto
Cordeiro facramentado ;
T^igniis eft agnus accipere
divinitatem ? A palavra
dígniis ainda aperta , &
acrecenta mais a duvida j
porque dignus fignifica
merecimento, & a uniaó
hypoílatica, em que a na-
tureza divina fc unio com
a humana, nem a mereceo,
nem a podia merecer a
humanidade de Chriíto:
pois fe foi divindade , &
di-
Sacramento'.
divindade merecida , co-
mo fe diz que Chriílo he
digno de a receber , & que
a recebeo como facramen-
tado ? A razaó alciílima, &
nova, como lhe chama S.
Joaó, he a que eu tenho
dito , & vou provando.
Porque duas vezes, 6c por
doas modos diíFerentes re-
cebeo Chrifto a divinda-
de .a primeira na Encar-
nação, em que Deos , do
modo queerapoílivel jfe
defpio dos attributos de
n7
aíllm como a divindade na
Encarnação foi a que pro-
priamente recebeo o cor-
po, aílim o corpo propria-
mente foi o que recebeo a
divindade: Í>ignus efi ag-*
nus accipere divmitatem.
217 Pregando o mef-
mo Chrifto aos que tinha
fuHentadocom o milagre
dos cinco pães , alli come-
çou a revelar o myfterio
do Sacramento , exortan-
do-os a que comeíTem de
outro melhor paó, queelle
Deo«, veíbndofe do corpo lhes daria, o qual era pao
humano : a fegunda no Sa- de vida,naó temporal, mas
cramento, em que Chri- eterna : Operamini nm ci^
fto, do modo ta m be m que buniy qui perit , fed qui per-^
podia fer, enchendo em manet in vitam internam ^ y
iy os vazios da divindade, quemFiUus hominis dahit^'
reveílio o mefoio corpo vobis. E para que nãó du-
das propriedades de Deos.
Ondefe deve muito notar
a propriedade das palavras
accipere divimtatem -, por-
que no myfterio da Encar-
nação naò foi o corpo
mais propriamente o que
recebeo a divindade, fe-
naó a divindade a que re-
cebeo o corpo : Ver hum ca-
rofaãiim tft : porém no
myfterio do Sacramento :
vidaíTem da virtude defte
maravilhofo paójacrecen*
tou, que Deos tinha im-
preíTo nelle o feu íigillo,ou
íiaete .* Hunc enim "Tatev
JignavttT>eus. A palavra
Jígnavit vai o mefmo que
ftgíUavit: & aílim fe lè tio
Texto Original Saibamos
agora: & qual foi a figura,
ou imagem que eftava
aberta aefte íiaete.^ Todos
03
ibid.
w
llfc
23S Sermão
os Santos Padres concor-
daõ, em que era a fígura^Sc
imagem da divindade: &
eíla força cem o nome de
Deos acreccntado ao de
Padre: Hunc ^Pater/igna-
vitT>eus: modo de failar
em Ciiriílo íingular neíla
occaíiáo. Mas íe Chriíto
falia de fy em quanto ho-
mem, 8c em quanto íacra-
mentado: em quanto hxO-
incm^ quem tilius homints
dabitvobis ',^ em quanto
facramentado 5 cibum qui
permanei in tita aternam ;
porque prova os poderes
defta virtude com o linete
da divindade , que Deos
imprimio nelle ? Náo fe
podéra melhor confirmar
oaltiííimo penfaméto em
queeílamos. AquellaHo-
ííia, em que a noflli Fè crè,
& adora o corpo de Chri-
jfto, lie húa obrèa confa-
grada,em que Deos impri-
mio o feu fine te: & como
nefl-e finete eftava aberta a
imagem , 6c fisgura da di-
vindade com todos fcus at-
tributos, também na mef-
ma Hollia ficou impreífa
afemelhançade todos el-
do Santifflmo
les, & por iílb fe achão to-
dos no Sacramento. Ain-
da falta a maior proprie-
dade, 6c energia da metá-
fora do linete de que ufou
o Senhor,para que melhor
entendejíemos todoomy-
fterio. O que no finete ef-
tá cavado, èc vazio, he o
que na matéria em que fc
imprime fica relevado, ^
cheo:6c aílim ficarão cheos
no Sacramento os vazios
da Encarnação : Exmaní-
ittf.mctipltim : kujic ^Fater
JigiJiaiií^eus. Na Encar-
nação todos os attributos
divinos vazios, Sc no Sa-
cramento cheos : na En^
carnação todos fumidos,
6c no Sacramento todos
relevados.
§• III.
218 D Or efte modo
i ficou o corpo
de Chrifto 110 Sacramento
reveftido dos attributos
divinos, 6c com maior pro-
priedade corpo de Deos".
Corpo de Deos , porque
efpiritual : corpo de Deos,
porque immcnfo : corpo
de
i::i
^
Sacramento)
de Deos , porque eterno :
corpo de Deos,porque in-
finito : corpo de Deos^por-
que invilivel : corpo de
Deos ) porque im mortal:
corpo de Deosjporqueim-
pallivel. E iílo lie o que
agora parte por parte , 8c
attributo por attributo ha
de ir moftrando o noílb
219
buto com queChrifto o
reílauroujôc encheo no Sa-
cramento: no qual eílà feu
corpo facramentado fem
ocupar lugarjôc com todas
as condiçoens de efpirito,
Aílim o eníina a Fè, Sepa-
ra o prosar com a Efcritu-
ra, he neceílàrio que nos
engolfeinosem hum pego
difcurfo. Mas porque to- fem fundo, qual heo Ca
das eílas maravilhas de feu pitulo fexto de S Joáo, em
corpo àiVu)\z2.ào forao
ordenadas por Chriílo pa-
ra noífo remédio, & pro-
veito ; de tal maneira as
irei provando no Sacra-
mento , que juntamente
mollrarei como o mefmo
Sacramento nolas comu-
nica todas a nos. Elle fe
digne de me ajudar, & afll-
ftir com nova graça em
matéria taó alta, & tão dif-
ficultofa.
219 A primeira pro-
priedade táo natural da
divindade, como alheado
corpo, que he fer Deosef-
pirito i aííim como foi o
primeiro vazio com que o
mefmo Deos fe exiiianio
na Encarnação , aílim he
que ja começamos a en-
trar. Por occaíião do mi-
lagre referido dos cinco
páes, que he o principio
deíle Capitulo, falia Chri-
fto na maior parte de todo
elle, do paó que deceo do
Ceo o Santiílimo Sacra-
mento do Altar. Hua vez
diz : Nift manducavevítíS
carnem Filif hominis , ^ *^ 'f-t-
biberitts ejusfangiimem^non
habebitis vitam in vobisi
Senáo comerdes a minha
carne,& beberdes o meu
fangue , não tereis vida:
outra vez mais brevemen-
te : §ut manducat me , ipfe ibid.fg^
vivetpropter me:Qntm m e
[oariíiu:
comera mim , vivirà
por
mim. Ealêdeílesdouslu-
tambem o primeiro attri- gares do mefmo Capitulo^
jielié
240 ^Sermão do
nelle promete outras mui-
tas vezes, &- por muitos
modos a todos os que o
comerem a mcfma vida.
Mas não fe pode encare
cer o grande abalo,pertur-
bação 5 & efcandalo , que
eíta doutrina caufou , não
fó nos ouvintes de fóra,fe-
náonos mefmos Difcipu-
losda Efcola de Chnílo,
muitos das quaes fó por
eíle ponto fe fairáo delia.
Quãdoouviáo ao Senhor,
que lhe haviáo de comer a
carne, & beber o Tangue,
parecialhe coufa horren-
da , & barbara : quando
ouvião por outra fraíijque
o haviáo de comer a elle,
o que não fignifi cava par-
te do mefmo corpo de
Chrifto,fenãotodo intei-
ro, parecialhe impoílivel,
que hum homem ouveíTe
de meter dentro em fy a
outro : 8c quando em hum,
& outro cafo ouvião, que
aquella carne, & aquelle
corpo Vue havia de dar vi-
da, parecialhe que eíle ef-
feito era contra toda a ra-
zão natural , porque o que
dá vida ao homcm,náo he
SãntlJJlmo
a carne, nem o corpo , fe-
não o efpiríto; como Te vio
no efpirito, que Deos in-
fundio no barro de Adam,
& na vida, que a Almada
aos noíTos corpos, a qual
em faltando, não vivem.
Atéqui a murmuração, a
duvida, & o efcandalo dos
ouvintes; vamos agora à
repoíia do divino Meftre.
220 O que C?hriíio ref-
pondco,foráo eílas pala-
vras : Hoc z osfcandalizat ?
Sicrgovideritis filinm Lo-^^lff^^
mhiis ãfccndmtem ubi erat
prhis^ Spriiíis tft (jui 'vivi*
fcaty caro non procícfl qnid"
quam. ]f!ovos cícr.iK.di-
za .^ Que feria fe m e v; {{ç.\s
fubirao Ceo,donc'edecir*
E quanto às duvidas do
que nic ouviíles, o que vos
digo he, que o eipirito he
o queda a vida, que a car-
ne ncnhúa coufa aprovei-
ta. PoisfeChrifto fallava
de fua carne, & da mefma
carne dizia, que havia de
darvida aosquea comef-
fem jcomo agora diz, que
a ca rne ncnh ú a cou fa ap ro-
vcita , 6: que o efpirito he
o que dá a vida ,^ He tão
diífi-
Sacramento. 2_{.r
difficultofa eíla fentença , mo modo podia ter impe
Amo-
niiis ci-
tac. à
Maldo-
nato.
q deixados os delirios dos
HeregesjOsSátos Padres,
& Doutores Catholicosfe
divide na expoíiçáo delia
emfete opiniões. A ultima.
dimento para todo ,.& in-
teiro entrar em outro cor-
po, que era a fegunda:ncm
era contra a razão natural,
íenáo muito conforme a
& íingular de Amonio,Pa- ella , que fendo efpirito vi-
dre Grego , he a meu ver a viíicaííe , & dèílè vidajque
que melhor penetrou o
íenddodeChrifto,6c re-
íblve todas as duvidas dos
incrédulos com a verdade
do mefmo Sacramento. O
corpo de Chriílo no Sa-
cramento não eílà com as
condiçoens naturaes de
corpo, fenáo com as fo-
brenaturaes, & milagrofas
de efpirito : & por mo ne-
íle lugar chamou o Senhor
efpirito a fua própria car-
ne : Spiritumhic vocat^le^
nam vi-vificifpiritus virtu-
te carneMy manet enim caro\
íaó/ as palavras de Amó-
nio. E como a carne de
Chrifto no Sacramento
não deixando de fer carne,
he carne com todas as con-
diçoens de efpirito i nem a
carne comida defte mo-
do podia caufar horror,
que era a primeira duvi-
da : nem o corpo do mcf-
Toiíi./,
era a terceira. E deíla for-
te desfeitas todas as diííi-
culdades, fefica verifican-
do com fumma proprieda-
de, & com adequada repo-
llaatodasas objecçoens,a
fentença de Chriílo: Spri-
tus eft qui vivificai , caro
nonprodeft quidquam. Por-
que a carne não obra alli
como carne o que fò como
carne não podia, mas obra
como efpirito , & como
carne espiritualizada o q
he próprio do efpirito. E
daqui fica declarada agrã-
de,&: exada correfpondé-
cia, com que eíle primeiro
vazio da Encarnação fe re-
ftaurou com o primeiro
cheo do. Sacramento. Por-
que na Encarnação a di-
vindade do Verbo fe ve*
ftio da corporeidade da
carne5& no Sacramento a
carne de Chriílo fe veílio
CL ^-^^
i
^'í:ii
Jeann.
2 ^2 Sermão do
da incorporeidade do ef-
pirico. A fraíi particular
dequeufaó os Santos no
myfterio da Encarnação,
lie chamar a Deos incor-
porado 5 & da merma ufa a
igreja cantando na feíla
da Epiphania : T)uecmfa'
lutts calittis incorjjoratum
gignere. Pois aílitn como
na Encarnação fe contra-
hioovacuo da divindade
peloincorporàdo,aí!ím no
Sacramento reftaurou 5 &
encheoocorpo de Chri-
ílo o meímo vácuo peio
incorpóreo.
221 Sobre as palavras
Verbumcarofaãum eft^ &
hahitavit in nobis^ repara o
Cardeal Cayetano em di-
zer o Evangejiíla , que
unindoíe o Verbo anoífa
carne , habitou em nós.
Parece que mais propria-
mente havia de dizer, que
habitou com nofcojou en-
tre nós, como verdadeira-
mente habitou Chrifto
com os homens : pois por-
que não diz, que habitou
entrenós, ou com nofco,
fciião em nós ? Agudamê-
te perguntado 3 mas com
Santijjhno
muito maior agudeza ref-
pondido : T)ixithoc^ ne er-
rares , exijiimando quod
Ver bum ex hoc qtiodfaãum
eft caro-i impedimentum ejje
ad habitarídíím fpirituali-
terinanimis noftris, Deos
em quanto Deos habita, &
fempre habitou em nós:
hl 7pfo enim njtnjtmus , mo- ^^^J-
vemur^&fíimus.'E Tintes áQ '''' '
Deos fe veílir de noíTa car-
ne, nenhúa duvida tinha,
nem podia ter, que Deos,
fendo efpirito, eftiveífe,ôc
habitaíTe dentro em nòs:
porém depois que Deos fe
veftio do noíTo corpo, po-
dia cuidar alguém, que ef-
fe mefmo corpo podia fer
impedimétopara quedei-
xaííe de eftar em nós, por
quanto dous corpos nam
podem eftar juntos no
mefmo lugar : para tirar
pois eíle erro,diíie nomea-
damente o Evangeliíía,
que o Verbo depois de fe
fazer carne , não fô habi-
tou com nofco, fenão em
nós : Carofaãum eft^ & ha-
bitavit in no bis. Atcqui
Cayetano: o qual porém
declara , que iíío fc lia de
cn-
li^BMI
lintendcr na o
mente do feu corpo nos
noílbs corpos, fenaó efpí-
ricual mente da fua Almz
nas noíTas Almas : & aííim
foinomyílerio da Encar-
nação precifa mente. Mas
depois que fobre o myfte-
rio da Encarnação o mef-
moVerbo encarnado acre-
centouo do Sacramento,
naó fó habita Chriílo em
nòs efpiritualmen te quan-
to à Alma 5 fenaó corpo-
ralmente quanto ao cor-
po j porque eftando o nief-
mo corpo efpiritualizado
no Sacramento 5 como ef-
pirito pòdeeftarjuntamê-
teofeu corpo dentro do
noíTojfem o impedimento
de hum corpo excluir o
outro. E eíla lie húa nova,
&altiilima razaó porque
nasmefmas palavras nam
Sacramento. 24^
corporal- mentada havia Chriílo dé .
habitarnaófôcom nofcO)
fenaó propriamente em
nos: Et habitavit innobis.
222 Deíla maneira en-
cheo Chrifto no Sacramé-
to o primeiro vazio da di-
vindade na Encarnação 9
efpiritualizando o feu cor-
po, &:fazendo-o efpirito,
afíim comoDeos,q he efpi-
rito, fe tinha feito corpo.
Mas efta admirável trans-
formação, naó fó a obrou
Chrifto em feu corpo fa-
cramentado , fenaó que
também, como prometi,
pormeyo do mefmo cor-
po facramentado no la co-
munica a nòs. Abre bem a
boca, que eu ta encherei:
diífe Deos a David : Dila- pr.ií
ta os tuum^& implebo illud. '^^'^
Eftas palavras fe entêdem
do diviniílimo Sacramen-
diffe o EvangeUíla , que o to, do qual fe diz no mef.
Verbo fe fizera homem ,
fenaó que fe fizera carne:
Ver bum caro fa^um eji:
porque fendo a carne á
propria,&immediata ma-
téria do Sacramento : Caro
mea vere eft cibus i por me-
yo da meíma carne facra-
mo Pfalmo : Cibavit eos ex
adipefrumenti. E diz Deos^
queelle he o que lhe en-
chera a boca : Et ego imple- ibid
bo illud : porque fô Deos
pôde encher a capacidade
da noíla Alma, & naó com
outra coufà, fenaó comíi*
i
244 Sermão do
go mefmo , como faz no
% Sacramento. Etegoimple-
Hugo bo tllud^ me ipfo , comenta
^^'' Hugo Cardeal. Abrio pois
a boca David, como Deos
o tinha convidado : & que
Ihefucedeo ? Os meúape-
1 i?.T]] ruh&attraxi[piritú\ Abri
a boca5& o que recebi nel-
la5& por ella, &: o com que
Deos ma encheo, tudo foi
efpirito. Poisfea promef-
fa de Deos tinha íido , que
• lha encheria com feu cor-
po facramentado: Aperte-
mos maiseíla fuppollçaó
có a authoridade do Dou-
tor Máximo S.Jeronymo
no mefmo lugar: Vis come-
dére ipfum T>eum ttmm , ò*
^ym°in Salvãtorem^ Judiquid dl-
hua ; cat '. IDiUita os tnum^& im~
^'^""'' plebo ilhid.T>ilatate oraaje-
ftra^ ipfe eft & T>ommusj&
panis : ipfe horíatur nos ut
comedamus-iò' ipfe nofier eft
ciíms. Pois fe a promeíTa,
digo, de Deos feita a Da-
vid era , que lhe havia de
encher a boca cóíigo mef-
mo, & com feu corpo fa-
cramentado j como abrin-
do a boca o mefmo David,
p que rcccbeppÁaò foi cor-
Santiffimo
po, fenaó efpirito : Os meii
aperiii-i& attraxifpifitum ?
Porque o corpo de Chri-
íloaflim comoeílà no Sa-
cramento transformado
emfy , aílim eftà também
transformado para nòs :
em fy transformado em
efpirito j para caber fem
extençaó debaixo das ef-
pecies, queo cobrem : &
para nòs transformado em
efpirito, para caber fem a
mefma extençaó dêtro dos
corpos dos que o comun-
gaô : em fy transformado
de corpo em efpirito , &
em nòs transformandonos
de corporaes em efpiri-
tuaes. Expreífamente S.
Bernardo ; Transformattir
manducans in naturam cibi:
corpus enim Chrifti mandu-
care nihil eft al/iidy quam
corpus Chrifti eftici. E por-
que feria coufa muito dihi-
tada confirmar a verdade
deíles maravilhofos efTci-
tos com os exemplos del-
Ici baRc por prova o mef-
mo S. Bernardo , que naò
fó odiírc,masocxprimcn-
tou em Çj mcfmOjVivcndo
em corpo por virtude do
mef-
^-ir^
Sacramenta: Í4f
mermo corpo^eomo fe naó bido em Nazsreth , que
tivera corpo , andando ve-
ftido de carne, como fe fo-
ra efpi ri to, podendo dizer
GiUt..f. ^^^ S.Paulo : Spiritu vivi-
H mus^ffiritu & ambulemus,
ff. IV,
èíj /^Segundo va^
V-/zio da divin^
dadeheairnmeníidadedi^
vina, a qual pelo my ílerio
da Encarnação fe limitou
a hum fó lugar, qual era o
que occupava a fagrada
bumanidade. OuveHere-
gcs,que entendendo efte
myfterio ás aveííàs , úyq--
Taó para fy, que pela uniaó
hypoílatica a humanida-
de fe fizera immenfa,&ef-
tava como Deos cm toda a
parce,&: por iííb foraó cha
nafceo em Beíem,que pré-
f;òu em tal, & tal lugar de
udéa,&GaIiIéa, & mor-
reo em Jeruíàlcm. Deíla
immenfidade porém de
que Deos fe defpio pela
Encarnação , fe reveílio;
outra vez pelo Sacramen-
to , no qual o corpo de
Ghrifl:o,ou reproduzido,
ou multiplicando as pre-i
fenças, fendo hum fó ,& o
mefmo, eftà no mefmo té-^
po em todas as partes do
mundo.
224* No mefmo mun-
do , & na mefma hora em
que Chrifto inílituío o Sa-
eramento,fe eílava vendo
fará confirmação da noíFa,
'è hum milagre natural
defta mefma multiplica-
ção das fuás prefenças. A
mados Ubiquitarios, Mas hora em que Ghriílo iníii'
~ foi a humanidade a tuíooSacramento,erajàa
nao
que pela uniaó có o Verbo
jfe eílendeo à immeníidade
divina,fenaó a immenfida-
de divina a que pela com-
municaçaódos ediomasfe
eílreitou à limitação hu-
mana, fendo verdadeiro
dizer,que Deos foi conee-
Tom.7.
primeira, ou fegunda da
noite: In qua no6fe trade- i.Cov.
batur : & que he o que vem ^ ^-^^^
entaó os noííbs olhos neíle
Emisferio? Vem queau^
fentandofe o Sol de nos,
por húa prefença fua de
que nos priva, fe nos deixa
Qjij . mui-
m
:!^í
multiplicado em tantas
prefenças, quanto he o nu-
mero fem numero das Ef-
trellas j porque cada híia
delias naòhe outra coufa,
fenaó hú efpelho do mef-
mo Sol, em que elle fendo
hum ró,&: au fente , fe nos
torna a fazer prerente,mul-
tiplicado tantas vezes, &
em tantos lugares , quan-
tos faódefde o Oriente a
Poente, & defde o Seten-
trião ao Meyo dia os de
todo o mundo que vemos,
lílomefmoheoque fez o
noífo divino Sol Chrifto
facramentando feu facra-
tiílimo corpo. Aufentoufe
de nòsfegundo a prefença
natural -, mas por eíla pre-
fença fe deixou com nofco
em tantas outras, quantos
faõ os lugaresj&r altares de
todo o mCido, cm que ver-
dadeira, 8c realmente, fen-
do hum fò^Sc o niefmo,efl-à
multiplicado no Sacramé-
to. Vede a propriedade có
que affim o defcreveo o
Profeta Malachias.
2 2f Qucixavafe Deos
de os íilhos de lírael a imi-
tação de Caim facníica-
Sermaodo SanttJJimo
rem , & oíterecerem em
feus altares naò o mel hor ,
& mais preciofo,comô erã
decente, fenaó o peor, &
mais vil, &: os confunde c6
eftas notáveis palavras:
Isíon eft mtht uclnntas in
'vobis^ & nttàius non fujci- Mahch..
piam de manu vejtra -.abor-^^^'^^'
tuenimfoUsnfque ad occa-
fu?ii magmim ejt nomen meu
ingentibus :ò'tn cmniloco
facrifcatur^ & cfferttir no»
mhà mco oblatto munda.
Defenganaivos , que naó
quero voíTos facri feios,
nem aceitarei voífas ofier-
tas : & porque naõ cuideis,
que me faraó falta j fabei
para confuíaó voíTa , & da
voíTà J eru fale m e m qu e fó
tenho Templo, &fou co-
nhecido, que virá tcnipo
em que defde o Oriente
ate o Poente, em todos os
lugares do mundoj&- entre
todas as gentes , fe ofere-
cera , & íàcrifícarà a meu
nome naó muitos facriii-
^iosj&impuroò como os
vo/íbs, fenaó hum purifíi-
mo5& fintiilimo-F. quefa-
criíicio hc cílc r Poílo que
todos os Santos PndresjSc:
Du.u-
^
\^
Saàammta. . 24/
"Doutores dizem, que heo veilidur^s de Cíirifto , af-
Sanciílimo Sacramento da
-EuchariO:ia,naó temos ne-
ceíUdade de fua authori-
dade, porque aíHni o tem
■definido (& he de féjo fa-
^grado Concilio Tridenti-
;no. Só acrecento,que a pa-
lavra Hebréa, que refpon-
-de a oblatio mundafigniã-
-cahúa offerca particulaii,
-cha mada Mincha j aqu M
<íc fazia como as noífás ho»-
ilias, da ílor da farinha, &
no Levitico fe chama Sa^
criíicio. Efte facrifício
pois a que naó falta a pro^
priedade das efpecies de
íini as quatro partes do
mundo (diz S. Cyrillo^re-
partiraó entre fj a carne
do mefmo Chriíto íacra-
mentado,da qual fe tinha
veíjido o Verbo : ^^uor
orbis partes ad fahtem ta- ,^y^*ií-'
du5Í£ mdumentum l^erm-i m yoan.
hoceftycarnem ejus impar- '^P^^'
tihiliterparUtifunt^ E no-
ta elegantemente o Santp
Padre, que neíla reparti-
íçaõ^ou partição, naõ oiive
partir : Impartibiliter par'
titifunt ypotquc cõmuni- ^
eandoieo Senhor>&Jíar|ti-
^icandoatodos^,' & afeada
paô, hc o facrifício do cor- hum por meyo de fua car-
po de Chrifto facramenta- ne na alma,&: no corpo, &
do, o qual enchendo o va-
zio da immenfidade divi-
na encolhida, & efcondida
na Encarnação , fe èfíiend^
immenfamente defde ô
Oriente ao Occafo,por to-
das as partes, & lugares do
inundo í ^à ortuenmfoUs
eítando prefente em tod;is
as partes do m undo , naó
eftà nellas como parte^ íè-
naó todo, fendo hum íò-i^
o mefmo : Infiríguios enim
partibílitef tranjiens^& ani-
mam^ ér corpm eorum per
carne fuam fafíõiificansim-
itfque ad^accafitm inomni partibiUter atqueinmgt^íiii
Ucofàcrificatur^Ò' offèrtur omiibuseft^ctm 'Unu^úbime
namMmtõ oblatio munda^ ■
226 Aílim como os
foldadosdo Calvário par-
tirão enx quatro partes as
fit nuUo modo divifm. A tè
aqui o grande Cyrillomao
fe poderid<5 mais largamê^
t€ éílendoraiinmeníidadè
que
^4^ ^ SermaSdoSantifflmo
que Chrifto tem no Sacra- mêto,fenâó aquelles mef-
mento, que na brevidade
daquellas duas palavras ,
unm jíhiqueyh]xm em toda
aparte. :^;.'n
227 E para qàeíè ve-
ja como o mefmo Senhor
facramentado comunica
eílaimmeníidade aos ho-
mens,ponhamonos no Ce-
náculo de Jerufalem. O
8 ^
6.2#.
LUC.X2.
■:li 'K
■ r I
mos doze a quem havia de
encarregar a converfaó de
todo o mundo. Sendo cou-
fa mui diâicultofa de en-
tender, que taó poucos ho-
mens, & de vidas, quenao
foraó largaSjpodeíTem em
taó pouco cempo penetrar
todas as terras, & pregara
^ _ todas as. naçoens dom un-
primeiro ado em q Chri- do, fenaó foífem multipli-
ito começou a exercitar cando as preíènças como
eftafua immenfidade, foi Chrifto no Sacramento,
quando entregando o paó Os Evangeliftas fó dizem
confagrado nas máos dos dos ApoKoloSyTr^^/cave- ^^a^<
^poílolos, lhes diííe, que runt ubique : mas aílim co- ' '' '"
o dividiflem entre fy ; 2)/- mo Chriíio facramentado
■vidite inter vos. Dividirão umisubique.pnmtiTO eíle-
ò pao , & o fagrado corpo, ve em. hua fô parte, depois
que atè entaó nas mãos cm todas-, aflimeíleshúas
do Senhor eftava em hum vezes eftavaò firmes em
fó lugar, logo ficouem do- hum fó lugar,& outras ve-
ze lugares. Agora pergun- zes multiplicados em mui-
to; Eaífim como Chrifto tos.
- 228 Atègora naó hc
ifto mais que conjedura
minha j o que cume naó
atrevera a dizer, fe o naó
pudera provar. Paliando
David dos mefmos Apo-
ílolos , como affirma S.
Paulo,& he de fé, diz, que
comunicou aos Apoftolos
feu corpo por aquelle mo-
doimmenfo , cómunicou-
Ihes também a mefmaim-
menfidade? Creo, & digo
que íim. E eíTa foi a razaó
porque o Senhor naó ad-
mitioà primeira mefa em
^ueiecoi3Ía|irou O Sac/a- as vo^s de fua pregação
rf
Sacramento. 14^
íè ouvirão em todo o mu n- Jhançavquéa fuá immen-
18.Í.
doatè os últimos fins dei-.
le : In omnem t erram exlvit
fonuseorum:>& in fines or-
bis terra verba eoriim. E fe
pedirmos ao mefmo Da-
vid, que nos declare com
algua comparação , como
fendo os Apoílolos taó
poucos, fe pode cftender a
íua pregação a taó remo-
tas diílancias ? Refpondc,
que do mefmo modo com
que os Ceos prégaó 5 6c
íidadejôc multiplicação de
prefenças a tinhaó recebi-
do de Chrifto facramenta-
do, o qual, como fica dito,
na noite em queinftituio o
SantiíHmo Sacramento ,
aufentandofe de nós coma
Soljfe deixou multiplica-
do no mefmo Sacramenta
como nas Eftrellas.
. 1 2p E fe alguém :re*-
plicar, porque naó áiz^m.
ifto os Hiftoriadores , que
apregoaó a gloria de Deos efcrevéraó as vidas , & pe-
de dia , 6c de noite : C^- regrinaçoens dos Apofto-
li enarrant gloriam 'I>ei^& los ? R^efpondo , que fim
ffperamanuuejmannuntiat dkem,6cq<uefó na fuppp-
^^^'^firmamentum: dies dieierm fi^âo doi ^_iài\%o fe podem
€iat ver bum & nox noãi conciliar. Muitos Autho^
indicat fcientiam, E como res aífinalaó a cada hum
préggóos Ceos de dia, 6c dos Apoílolos varias re-í
de noite? De dia prégao dç> gioèns , Bcgentes '. a quem;
hum fQlugar,queheoda
Sol : de noite prégaó de
muitos lugares , que íàó os
dos outros Planetas, Sc das
Eftrellas. Pois aiHaiprégai
pregarão, o que outrostpc^
rèm negaó , fundados fó^
mente na chronologià dos
tempos por onde faô jul*
gadas por apócrifas aquela
vaó os Apoílolos , jà cada las hiííorias.Ma« fe fuppo*
hum como hum em hum zermos;, como devemos;
fó lugar,Sc jà cada hum co-
mo muitos em muitos lu-
gares confirmando admi'
ravelméte com efta feme-
fuppor, que no mefmo tê^
popor multiplicação das
prefenças aíliftiaò o» Apo-
ílolos ^ídxyeríos Jug^r^s,'
• tud^
ai
>!
25-0 Sermão do
tudo facilmente fe verifi-
ca com grande gloria do
Evangelho. Nemcaufarà
grande admiração eíle mi-
lagre aos que coníiderarê
a neceílidade -delle^ -por-
que fe eílando Q mundo
tão cheò de Miniftros do
mefmo Evangelho, fabe-
mos que conçedeo Deos
efta graça de aparecer em
partes muito diífontesí S.
Martinho, a S. Gemenia*-
no, aS:TrontanQ, a S.. An-
♦toniodePadua, aS. Fran-
eifco de Aílis, a S.Françif-
co Xavier 5 & oa' ostros'
muitdá para fins xíe mui tá
Nazian. • - i ' ■ •
pfat.2o ttienor impG7rtaneia^quan.4
to majs para a-conyerfaõ
univerfal do mundo, fendo
os inftrumentos delia tad
poticos ? -Fina;! rrí ente fe a-
S.Bafiliofoi licito dizer
de fy meímo nullo loco ctr^
Enod in ciinfcriftm fum : & a Eno-
píiamr dio chamar a Epiphanio
inúpere^àirmmenjm-iQ^é
negara áipartieipaLçaó de-
lia immenfi-dadeàimmen-í
fidade daquellas obras,
quefem ella eraó inconi-
pofllvcis?
' í j^í lAíIiTn^íriukiplicou
SantljTmo
C hrirto as fuás prcfenças>
aílim multiplicarão os A-
poílolosaç llias, &: afíini
devemos ví<òs multiplicar;
as noílas para afíitHr ao á^i"
viiiifíimo Sacramento en»
toda a parte. O noífo cor-
po naòhe capaz natural-
méte defta multiplicação ,
ou immeníidade , mas a
noílaalmaíim ,& a noíTa
memoria>a qual fó nos per
dio o mefmo Senhor na in-
flituiçaó defte immenfo
mY^erio-.Uhicunquefuerit me.i».
corfnís^ íiltc congregabúttir n- ' '
e^^^zí/7/í Janota ia palavra
íibicunqMe^^m roda a parte.
Emtodaaparte,dizChri- :j^'^
fio, onde eiHvxro corpo,
alli voaráó,&: concorrerão
as águias. Eque corpo, &
que águias íaó eítas ? O
corpo 5 refpóde S. Am bro-
fio, heo corpo do mel mo
Chriílo no Sacramento,&:
ás águias faó as almas de
fublime, & levantado ef-»
pirito, quecomas azas do
penlamento, ôcdoatfeíto
oaíliíl:em,adoraó, &• vené-
raó em todas as partes do
mundo : Eji corpus de quo Amhr.
dttííim-efi^ar^.mea vereefi càp^"/.'
CíhíiSy
%
r\\
i ■■"
Sacramento. * 25-1
cibm-iCircahoc corptis aqui- ordine Melchifedech. Cha*
l(efunt',qu£aliscircunjiant mafe o facerdoçio ác
fpiritualihís. E íle he o mo- C hriílo, facerdôcio fegú-^
do com que noífas almas do a ordem de Melchife-
pelopenfamento , &:me-
iMonàimmenías hão de af-
fiftir 5 adorar , & louvar
fenítpreao mefmo Senhor
em todo lugar, como Da-
vid exiiortava à fua, que o
íizefíe : In ofUni loca domi-
nàtionis èjmbèúedic anima
PieaT)omino.
§. V.
231
o
Terceiro va-
zio da divin^
dech,naó quanto à digni-
dade, como fe Melchifê.
dech [ que foi Sacerdote
da Ley da Natureza} o in-
fl:ituiíreimasqua;ntó à fe'
meihança da vidima , &c
matéria do facriíicio , por-^
que na6 facrifica va Cor-
deiros como Abel 5 nem
outras re^es, ou aves co-
mo Abraham , fenaô paó ,
& vinho, qiie he a matéria
do faerifício da Ley dá
Graça , & Sacrameiíto de
raça,
dade na Encarnação fói'o' ^Wi^óvMelchifedechpro- ^""^^^
dafua eternidade, fazen- fèrenspànem^érvintim-.erat
énim Sacerdús ^ei altiffi-
mi. E chamaíe facerdocix^
eternojporque naaacabõíí
como o facérdociò de A*
ram. No facerdôcio de
Aram acabou o fa cerdo*
ciOj&: acabava o Sacerdè-^
te : acabou o facerdôcio j
porque fe acabou aquella
Ley ; a qual neceíiàriamê-í'
teha de acabar quandoó
facerdôcio acaba , como
doutamente deiine o Apo- i^^ix^p
íloloS. Paulo •/ Translato -^^ " \
enim
dofe temporal, nacendo,
& vivendo em tempo o
que era eterno. Mas étíáé
aníefma eternidade jurou
Deo^ de dar a feu Filho
encarnado húa tal prero-
gativa com que podeíTe
inaravilhofamente encher
efte grande vazio , que foi
o facerdôcio eterno fegú-
doa ordem de Melchifé-
dech : lura-vit T>omi?ius.ò'
nonpanitebit eum^ tu es Sa-
cerdos in íSternumfecímdàm
n
J
:'l í
2 f 2 Semao
enimfacerdoiío^ necejjeefi ,
ísííe^ /f^ij" translatio fiat,
E acabava o Sacerdote,
porque mor ré cl o hum Sa-
cerdote, lhe fucedia outro,
comofucedeo a Aramfeu
filho Eleazaro, & a Elea-
zaro os demais : o que iiaó
foi, nem podia fer naPef-
ípaimmortal de Chriíloj
como notou o mefmo S.
Paulo : Et alij qtiiàem plu-
^ resfaãifimt Sacerdotes^id-
3rj. " circo quod morte probibe^
renturperm nérejoic autem
eo quod mane at in £ternumy
fempiternum hahet, SaceV'
dotium. >5 ,íi:>mí)
232 Maspoftoquc o
facerdociode Chriftofeja
eterno,& eterno o mefmo
Sacerdote Chriílo, parece
quefc naófegue , que o
vazio da eternidade do
Verbo na Encarnação, fe
fupriíre,ou encheífe no Sa-
cramento , porque o Sa-
cramento naó he , nem ha
de fer eterno, 6c fó dura, &
ha de durar atè o fim do
inundo , & acabar junta-
mente cóellc. Depois do
fim do mundo fó ha de ha-
ver CeOjÔc Inferno : os do
do ^nntljjlmo
Inferno nao faó capazes
de ílicriíicio , nem de Sa-
cramento: os do Ceo naó
haõ mifterhum ,nem ou-
tro. Náohaô mífter o fa-
crificio , porque faó juílos,
&jànaó podem crecer na
graça : nem haòmifter o
Sacra mento,porque a prc-
fença de Chriílo , q criaó ,
& venera vaó encuberta,6c
invifivel , là a tem defcu-
berta aos olhos, 6c a gozaó
manifefta: logofeo facri-»'
ficio,6c Sacramento do AI*
tarnao ha de durar mais
que efte mundo, 6c ha de
ter fim como elle , feguefo
que naó he eterno. Efta
mefma duvida excitou S.
Thomás na queílaô vinte n.y.
6c du as da terceira parte, '^' ou;
tx, refponde, que no facri- \l ^
ficiofe devem confiderar
duas coufas, a oblação , 6c
aconfumação : a oblação
em que fe offerece o facri-
íicio , 6c a confu mação em
que fe confegue o íi m,6c fe
lograó os efl eitos delle. S,
oblação pertence a efte
mundo, 6c a confumaçam
ao outro. Por jílb S. Paulo
chamou a Q\\ú^o^Totifex
fu.
3.q.
art.f
71- J>,
Sacramento
fiituTorum honor um\ Ponti- trabit infância.
íice,&: Sacerdote dos bens
futuros , porque os bens
futuros , que faó os que fe
gozaój Schaó de gozar no
Ceo, faó os que Chrifto
nos niéreceo pelo feu fa-
criíicio. Epofto q a obla-
ção neíle mundo íqÍ![q té-
poraI,6c em tempo , a con-
funiaçaó no Ceo ha de du-
rar por toda a eternidade ;
& por i^o he eterna,^ como
diííe o mefmo S. Paulo :
Vha oblatione confummavit
Í7t fempiternum fanõfifica-
tos.
233 No Levitico
mos liiia excellente
deíla differença , & deíla
ordeai no dia chamado
d.is Expiaçoens.Mandava
Deos^queofummo Sacer-
dote nao entraíTe no San-
£ta San£torum , fem pri-
meiro fora delle offerecer
o facriíicio5que no mefmo
lugar difpoem a Ley ; Ne
. ingredtatttr Sanõfuarhim ,
fíwd efi intra velum , nifi
íCc ante fecerit : 'vitulum
propeccatQofferet, & arie-
ttm inkolocauftíim : his rhe
selebratisy ultra velum in^
te-
figura
^51
E porque
razaójôu com que myfte-
riooíàcrificio fe havia de
oíFerecer primeiro, & fora
do San£ta San6borum , &
naó depois 5 & dentro nel-
lefPorque o fummo Sacer-
dote íigniíicava a Chrifto,
oSandta Sãd-orumoCeo,
o facriíicio o da morte de
Ghrifto na CruZjOu no Al'-
tar, onde fe reprefcnta a
mefma morte : & eíle fa-
criíicio naó fe havia de of-
ferecer depois , fenao an-
tesjuemno San£ba Saníto-
rum^fenaò fora delle. Naó
depois, iílo he , na eterni-
dade, fenaó antes ^ & em
tempo, em quanto dura o
mundo: nem no San£ta Sá-
£l'orum, iílo he,no Ceo, fe-
naó fora delle, Sena terra.
Aííim foi quanto à obla-
çaó,& aíTim ha de fer quá-
to à confumaçaó naò de
outro, fenaó do mefmo fa-
criíicio. Foi quãtoà obla-
ção 5 porque na terra oííe-
receoChriílo o facriíicio
da Cruz como hoje oífere-
ce o do Altar , &: oíFerece-
rà até o íim do mundo : &
ha de ferguanto á condi-
maçaoj
I^sfj'
/
m
2 54 Sermão do
mação 5 porque no Ceo ha
de coníumar Chriílo o
rnefmo íacriíicio, cómuni-
candonos os ePreitos delle,
que coníiílem na viíla cla-
ra de Deos por toda a eter-
nidade : & por iílb o Sacer-
dote, & o facriíicio, hum,
êc outro eterno.
2 34Tudoifl:ovioS.Joa6
no Ceo, como jà tinha vi-
ílo o Cordeiro vivo de-
pois de morto, & gloriofo
depois de facriíicado. Fal-
ia o Evangeliíla Profeta
da Cidade de Jerufalem
Triunfante, que heo Ceo,
& diz, que a claridade de
Deosaallumea , &:que o
lume fae do Cordeiro ; Na
claritas ^ei iUumina'vit
eaniyò' lucernaejus eft ag-
mis. P\ilIou S.Joaó como o
primeiro, &: maior Theo-
logo da Igreja. Para os Bê-
aventurados verem clara-
mente a Deos, he neceíTa-
rio que os feus entendi-
mentos fejão elevados por
húa claridade fobrcnatu-
ral, a queos Theologos
chamaó lume da gloria j &
ifto he o que vio , & diz o
Evangelilta. A claridade
SantiJJImo
d e Dcos> que ai í u m e.i a C i-
dade de Jerufalem celeíle,
he a viíla clara do mefmo
Deos : Ciar it as Dei iUumi-
naviteam : & o lume da
gloria , fem o qual fe náo
pôde ver a Deos,eíre fae do
Cordeiro: Et lucernaejus
eftagmts. Mas porque fae
o lume da gloria , nam do
objecto eííencial da mef-
ma gloria, que he Deos, &
claramente viílo, fenaó do
Cordeirojque he Chriílo ,
o qual S.Joaó vio como fa-
criíicado.^ Porque eíTefoi
o ílm,& effesfaó os effei-
tos do mefmo facriíicio
ofFerecido na terra, & con-
fumadonoCeo : ofl^ereci-
docmtempo,&: confuma-
do na eternidade i & por
iílb taó eterno como o
mefmo Sacerdote : Tu es
Sacerdos in ^ternum.
23 f Etla eternidade
he a que faz eterno o San-
tiílimo Sacramento, ainda
que a oblação do íacriíi-
cio em que fe confagra o
mefmo Sacramento haja
de ter íim,8c acabar com o
mundo. E poílo que eíla
ctcrnidadcem quç naó ha
du-
Sacramento. 2 ff
duvida, bafta para prova ílofoi crucificado no Cal-
do meu intento > & ifto he
o que enfina o Doutor An-
gélico , allegando os nief-
mos textos do Apocalyp-
fe, & Levitico proxima-
mente citados 5 eu com tu-
do acrecento , que o divi-
nillimo Sacramento nam
fó he,6c fera eterno no Ceo
pela eternidade de feus ef-
íeítos y fenáo também de
fua própria fuílancia : por-
que depois do íim do mu-
do, quando jà naó haverá
Altares^ncm Sacrários na
terra , fe confervarà eter-
namente no mefmo Ceo
húa Ho ília confagrada.
Afíim o conííderáo5& pre-
lumem muitos Authores
afceticos3& contemplati-
vos 5 cuja opinião para
mim naò he menos prová-
vel, que pia. No dia do juí-
zo ha de aparecer no Ceo
com o mefmo fupremo
Juiz a fua Cruz: Tuncpa-
rebit Jígnum Filij homtnis
inC^elo. E que Cruz ha de
fereíla? SJoaÓ Chryfo-
ftomo com muitos outros
Doutores, diz que ha de
vario, & afíim o profeti-
zou a Sibylla:
O Ugnumfelixjn quo T^eus sibyiia
ipfepependit ! ^^^;^^
Nec te terra capit ^fed Ca li
teEfa videbis.
Cum renovata T)ei fácies
ignitamicabit.
Suppofto pois, que a Cruz
deChriílo ^V7ÍÒ\à2i hoje
em infinitas partes, fe há
de recolher outra vez de
todo o mundo, 6c reunirfe
com maior milagre, que o
da refurreição dos mor-
tos, à fua inteireza , & con-
fervarfe eternamente no
Ceo j porque fe negará fe-
melhante privilegio ao
pão vivo, & vital, que de-
ceo do mefmo Ceo ? Se
hum lenho morto, {ç,co;y 8«
duro mereceo fer fublima-
do a tanta dignidade , &
eternizado nella , fó por-
que foi fantiíicado como
cotado do corpo de Chri-
ílo,& matizado com feu
fangue> o Sacra mento, que
cótèm todo o mefmo cor-
po,&:fangue, & foi iníti-
tuido para dar vida eterna
fer a mefma em que Chri- aos homens > porque care-
cerá
i
•'5
■■íl
2j6 Sermão do
cera da mefma eternida-
de? Foi tanto o refpeito,
que o Verbo encarnado
guardou àquella parteíi-
nha de carne , & fangue,
que recebeo das entranhas
puriílimas de fua Mãy^
que nunca confentio , que
o calor natural 5 como na-
turalmente coíiuma5aga-
ftaíle,&: confumiííe , & co-
mo diz S.ilgo ílinh o, ain-
da depois de reíuícitado a
conferva , & coníervarà
AngiiíT. eternamente em fy mef-
.^crm:t3e jYio : Caro Chriíti auãmvis
rione B. glorta rejurrí6ttcms juertt
^- mrignijicata^ eadcm tamcn
manfit , qtia ft. wpta eíí de
Maria. E que aggravo fa-
namos a efte mefmo ref-
peito ,&: amor, fe imagi-
naíTemos do mefmo Chri-
fto, que haja de permitir
ao tempo, queaífim como
ha deconfumir , & acabar
p mundo, aíTim confuma ,
& acabe com elle hum Sa-
cramento em que naó fó
eftà húa parte da fua carne,
& fangue, fcnaó toda em
* todo, 6ctoda em qualquer
parte? Digamos logo, &
creíijUQS piamente, quç aí-
Sayitijfjno
fim como a Hoftia confa-
grada fe prefervou muitas
vezes de outros incêndios,
aílim fe prefervarà do in-
cêndio univerfal do mun-
do, para que como paó dos
Anjosjque çoméraó os ho-
menS5a adorem eternamê-
te no Ceo homens, & An-
jos.
236 Os mefraos Au-
thores, & outros (^ & nam
com leve conjectura ^^t-
tribuem femeihante pre-
rogativa ao livro dos Evá-
gelhcs:naô porque os ou-
tros fagrados naó conte-
nhaó a palavra divina 5
mas porque efta foi pro-
nunciada pelo proprjo Fi-
lho de Deos : Novijf/ivu' lo- j'-^'"-
qmitns efi nobis in tilio: &c
aííim como no dia dojui-
zo aparecerá a Cruz, aílim
eítarà aberto,& patente o
Evangelho para ferem jul-
gados por elle, huns por-
que o naó creraó , outros
porque o naó guardarão.
NofeuApocalypfediz S.
Joaó , que pelo meyo do
Ceo vio voar hum Anjo,o
qual tinha na maó hum E-
vangelho ttQmo'Maòetem i^X^ '
Evan*
iill
Sacramento, 257
E'vangeliufn 'aternum:6>c Clirifto merece juftamen-
com grandes vozes avifa- te fer perpetuado na eter-
vaatodo ogenero huma- nidade do Ceo ; quanto
no , que temeíTem a Deos mais a maior obra das fuás
por fer chegado o dia do palavras, & o fagrado , 6c
juízo : ^ia venit horaju- confagrado volume do di-
dkij ejus. De forte que viniílimo Sacra meto , que
também no dia do juízo
aparecerão Evangelho. E
fe perguntarmos porque
fe chama Evangelho éter-
também Ezechiel recebeo
da maó de outro Anjo , &
comeo em forma de livro ?
S Joaó, que efcreveo o feu
de Deos obrou neíle mun-
do, foraó tantas , que fc
feouveífem de efcrever,
naó caberiaó no mefmo
jiOi reíponde SJeronymo, Evangelho depois dos ou
que a razaó , &: myfterio trosEvangeliftas, confef-
he-, porque o Evangelho Ía5& protefta no fim, que
neáe mundo foi temporal, as maravilhas,que o Filho
^pregado temporalmen-
te ; mas no Ceo durara por
toda a eternidade : Sempt-
ternumfuturum in Calis^ad
-,. coparationem videlicet hw mundo os livros. Logo fe
■E^iOczàjusnoftn Evangelijy quoa no Ceo na de durar eter-
^"^"' temporale efty & in tranfitu- namente o Evangelho, em
ro mundot ac feculo fradi- que fe contem parte fó-
catum. Com o mefmo fen- mente das mefmasmara-
pf^j^ tido &\S^t David : In ater- vilhas j com maior razaó ,
>Sí8.8p. num^omine-iVerbum tuum & em fuplemento do mef-
permanet in Calo : onde o mo Evangelho, fe deve là
n;eri;um tuumyT>omineipro- eternizar o Sacramento,
pria a & particularmente
íigniíica o Evangelho , ao
qual tantas vczgs chama
S. Paulo Evangelium Chri^
fti. Efe o livro dos Evan-
em que eftão reíumidas to-
á-3is: Memoriam fecit mira-
bilium fuorum, efcam aedit , j^ ™j^
timentibusje ^ Fin alm en te
o Sacramento he o penhor
gelhos por fer palavra de da gloria, que o Ceo no^
Tom./, R deò
2 f § ^ Sermão do SantiJJimo
deoneíl:avida:&: quando não durava mais que hum
depois do jSm do mundo dia. E com que myíierio
fe defempenhar , 6c nos
meter de poíTe da gloria ,
encaó fe reílituirà o mef-
moCeOj Sc tornará a rece-
ber o feu penhor. Emfu-
ma,que aíllm como aCruz
de Chrifto , & o livro dos
Evangelhos naó haó de
acabar com o mundo, mas
fer eternos, aílim , & com
mais jufti ficada providen-
cia o Sacramento emhúa
Hoftia confagrada.
237 E para que naõ
eftas três coufas fomente ,
& todas na Arca ? A Arca
encerrada no Sanda San-
(Eborum , na qual reíidia
Deos prefencialmente fo-
bre azas de Cherubins, rc"
prefentava o que David
chama Ceo do CeOjque hc
oEmpireo : Caíum Calí\f^%
domino : &: o myfterio
mais próprio, Sc mais pro-
porcionado de toda cila
reprefentaçaó,ou naó hc,
ou não parece que pôde
pareça, que eftas três ex- fer outro, fenaò que con-
ceiçoens ílió totalmente fervarà Deos eternamente
reíèrvadas ao conhecimê-
todivinoj&fecreto de ne-
nhum modo revelado, ao
menos naquella parte da
Efcritura fagrada, em que
as figuras do futuro fepin-
tavaó na hiftoria do paíTa-
do ; lembremonos da Arca
doTeílamento , na qual
confervou Deos três cou-
\i
no Cco, a Cruz íigniíica-
da na Vara, o Evangelho
íigniíicado na Ley , & o
SantiíUmoSacraméto íig-
niíicado no Mana. Por iíTo
omefmo Chriílo alludin-
doà Arcado Teílamento,
deoao mefmo Sacramen-
to o nome de Tefta mento,
Sc eterno : Novty & aterra
ias entre todas as daquelle Teftamenti. Ao mefmo fím
íempolingulares: a Vara podemos dizer , que cúh
deMoyfes, as Taboas da preparado no Ceo aquclle
Ley,& com maior milagre Altar,quc là vio S. Joaó :
a Vrna do Maná, o qual Vidifui^tus jiltare animas
fera táo corruptivd , que intcrfeãçrum pro^ter Ter- ^l'.
Apoíáf
Sacramento] 2 ff
humT^ei. E quepeçasjper- da arvore da vida defen-
guntoeu, mais próprias,
& mais dignas de ornar
hum Altar, quehiía Cruz,
o Santiíluno Sacramento ,
6c hum livro dqs Evange-
lhos?
238 Provado aífim por
hum modo com certeza j^
& por outro com probabi-
dido por hu m Cherubim
com hua efpada de fogo,r6
para impeair totalmente >
que comédodaquelLefru-
to,na6 yivt^ç, eternamen-
te: CoUocanjtt ante Tara-
difumQherubim^&flammm ^
gladium ad cuftodiendam i.^tf.i.ii^
viamligm vita. Ne forte
Íidade,como o corpo de Jumatetiam de lignovita^
Chrifto facramentado Io-» ^vivatin aternum. Per-
gra, & logrará para fem-
preoattributo deeternoj
ibreíla moílrar como o
mefmo corpo, q por amor
de nos fe facramentou, co-
munica aos que o cómun-
gaó a mefma eternidade.
Eftahea fegunda obriga-
ça6,6ca mais diíficultofaj
que acompanha todos os
nodbs aíTumptos i masne-
íie carece de toda a diíE-
culdade pela aííeveraçao
taó ciara, ôc taô expreíTa cq
que o mefmo Senhor nos
certificou deíla verdade ^
dizendo : ^i manducat
fòan, d huncfanem^ vivet in teter^
^' /z«r/3?. Mal cuidou Adam ,
que nunca elle , nem feus
filhos ouviíTem tal oracur
guntaó agora os Expoíito-
resfe eílà ainda efte Che-
rubim guardando o que
guardava : Sc fenaó eftà »
quando embainhou j ou
apagou a efpada ? Reípon-
dem comummente, que a
apagarão as aguaSjÔc inun-
dação do diluvio , o qual
também dizem , quede-
ílruíojéc desbaratou oPa-
raifo, 6c fuás arvores : mas
tudo ifto he incerto. Se o
diluvio naô derrocou,neni
fccou a oliveira , donde a
pomba trouxe o ramo ver-
dej porque havia de arran-
car, ou derrubar as arvores
doParaifo,6c mais a da vi-
da , que Deos quiz guar-
dar? Se o mefmo diluvio
lOa quando vio o caminho naq aíFogou no mçfmo Pa-
B.Í) raifp
*•:-?<
i
%
2<>^ Sermão do
raiíb a Enoch, como havia
de tirar da fua eílancia ao
Cherubinijquenaó reípi-
ra com ar, nem fe affoga
com agua ? E fe elle,como
dizem os mefmosAutho-
res, naófó guardava dos
homens aqueiles frutos,
fenáo também do Demo-
nio,para que com elles nos
nãotentaíTe; como fe ha-
via de apagar com agua o
fogodaefpada, q os mef-
mos Demónios temiaõ»
xnais que o do Inferno?Di-
gaó poisoslnterpretes^ou
prefumaó adevinhar co-
mo quizeremjque eu fô di-
go, & com toda a certeza
aííirmo,queo Cherubim
deixou a fua eftancia , &
embainhou, ou apagou a
fuaefpadanamerma hora
dirofiíTimaemque ofobe-
rano Reílaurador das rui-
nas de Adam inftituío o
Santiílimo Sacramento >
porque entaó ceílbu o fim
daquella prohi bição,&da-
quellaguiirda. Aguarda,
& a pruhibiçaó era, para
que o homem comendo
naó vivcíTc eternamente:
KefuukU d(í ligno vít^e ,• <^
SantiJJimo
vivai in aternum. E como
Chrifto inftituindo o Sa-
cramento deo faculdade a
todos os filhos de Adam,
para que comendo vivef-
fem eternamente j entaó
apagou o Cherubim a ef-
pada,& deixou a fua eftan-
cia , & náo fó ficou fran-
queado o caminho da ar*
vore da vida, fenão a mef-
ma arvore tranfplantada
por todo o mundo, paraq
todos os que, pelo que có-
rneo o mefmo Adam , ficá-
mos condenados à morte,
não de outro modo , íenaó
também comendo, viva-
mos eternamente : ^«/
'mmducat hunc fanem , ^'/-
vet in aternum.
§• VI.
IVJlIatei em en-
cher eftes primeiros três
vazios da divindade : 8c
porque ainda nos reílaó
quatro, fera força , quanto
forpoíTivel , reduzilos a
maior brevidade. O quar-
to he a immortahdade fei-
ta mortal , o quinto a im-
pailibilidadc feita paíli-
vel .- ^ de ambos pela mef*
ma
Sacramento, ^ 2í>i
ina razaój 8c por ferem taó qiíando já a viílima efta va
conexos, trataremos jun-
tamente. Digo pois,qiie fe
na Encarnação a immor-
talidadedivinajdo modo
que podia Ter, fe fez mor-
tal, &: a impaíUbilidade
paílivel \ o corpo de Chri-
ílo no Sacramento de tal
forte fuprio, &; encheo ef-
tesdous vazios da divin^
dade , que fendo natural^
mente corpo mortaljíicou
immortal, & fendo natu-
.ralmêtepafliveljíicou im^
paílivel.
240 Com ferem tan-
tas as figuras do SantiíH-
mo Sacramento > que fe
lem,6c o precederão na fa-
grada Efcritura j a primei-
ra que nos propõe a Igre-
ja, he a do facrificio de
ífaac : Infigwis pT^figna-
tur^ cum Ijaac immolatur.
Mas fe bem fe coníldera a
hiftoria táo fabída do mef-
jno ifaac , parece que fe
náo pôde reprefentar nel-
Ia o Sacramento , porque
Terdadeiramente náo foi
íkcrificio. Mandou Deos
a Abraham,que lhe facri-
íicaíTefeu íiiho Ifaac , &
Tom./,
fobre o Altar , a efpada
defembainhada, & entre o
golpe,6ca garganta do fi-
lho fô havia dous dedos de
diítancia,teve Deos maó
no braço do Pay. Logoaf-
íim o golpe, como o facri-
fíciojtudo ficou no ar. E o
mefmo Deos o provou,
porque alU> & no mefmo
inítante apareceo atado
Jium Cordeiro , no qual
Abraham acabou de exe-
cutar o golpe, & efte foi o
que morreo , & foi íacrifi-
cado. Pois fe o Cordeira
foi o morto, & Ifaac ficou
vivos como foi Ifaac figu-
rado facrificio de Chri-
fto.?PoriíIb mefmo: 5c ca
a maior propriedade , que
fe podia imaginar.Chrifto
não foi húa fó vez facrifi-
cado, fenão duas : húa vez
na Cruz, outra vez no Sa-
cramento 5 & primeiro no
Sacramento, 6c depois na
Cruz, aílim como primei-
ro foi facrificado Ifaac, &
depois o Cordeiro. O Cor-
deiro morreo, & padeceo,
porque foi figura do facri-
ficio da Cruz , no qual o
R iij corpo
fpf
2 <^2 Sermão
corpo natural de Chrifto,
como mortal, &:pafíivel,
padeceo,^ morreo : po-
rem Ifaac foi figura do fa-
crificio do Altar 5 & por ií"
foj fendo facriíicado , naò
morreo , nem padeceoj
porque o corpo de Chrifto
no Sacramento eftà im-
mortal,& impafíivel. Ex-
cellentemente Ruperto :
iSenef meti impãJJlhUts permanet
í»P' 32.' ^viq;usy qtiemadmodumtl-
lie Ifaac immolatus , & ta-^
men gladio non efl attaEíus,
Se em Ifaac fe executara o
golpe, & morrera , feria fi-
gura do facriíicio da Cruz
cm que o corpo natural de
Chriílopadeceo,&: mor-
reo : mas porque poílo fo-
breoAltar náo padeceo,
nem morreo \ por iíTo foi
figura do facriíicio do Al-
tarjem que o mefmo corpo
facramentado fe conferva
immortal , ^ impaffivel:
Impaffibilis permanet à*
Wt'VUS.
241 As palavras omni-
potentes com que Chriílo
inliituiOjíSc obrou hum taó
milagrolò myíterio,forag:
do SantiJJimo
Hoc eft corpus metim , c^uod
provobtstradetur ; Eftehe
o meu corpo, que por vòs
fera entregue, E porque
naó diíTe o Senhor,que por
vòs fera morto, ou cruci-
ficado, fenáo entregue ? A
palavra tradctur íigniíica
entrega por traição, & tal
foi a entrega que fez Judas
do mefmo corpo de Chri-
fto aosJudeos,húa vez em
quanto corpo natural , &
outra vez em quanto fa-
cramentado. Muitos, 6c
graves Authorcs, entre os
quaeshe Santo Thomás ,
entendem q quando Chri-
fto diíTe a todos os Apoílo-
los ; Accipite , é' manduca^
^í"; Judas tomou nas mãos
o paó facramentado , mas
naó o comeo. E para que
faibamoso que fez delJe,
acrecenta Theophilado ,
queoefcondeo , & levou
aosPrincipes dos Sacer-
dotes , quando com elles
foi ajuílar a venda : Tanem
accepity ^ non comedi t , feJ
occultavit , ut mavifcjtaret
Ilidais y ano d corpus juum
voe ar et. Depois deíla pri-
meira traicaój & entrega
fciU
Savr amento. 16^
feita por Ju das, entaóexe- panem ejus , & erMamus
cucouellea fegiinda , que eum de terra viventium. O
foi a da prifaò no Horco. I/gnum he a Cruz ^ o pamm
O que fuppoílojpergunto; ejus, íie o paó confagrado :
Porque razaójou com que & diz o Senhor, que reíbl^
myílerio quiz Chriíto q véraó em confelho, de pôr
duas vezes foífe entregue
aos/udeos feu corpo , húa
no eflado natural, ôc outra
no de facramentado ? Sem
duvida, para que pofto de
hum , & de outro modo
nas mãos de feus inimigos,
atèelles, o feu odio , a fua
raiva,& as fuás máos ex-
primentaíTem o que po-
diaó, ou naó podiaó fobre
o corpo do Redemptor,
que para o fer, fe poz nel-
las. O corpo natural pode-
raóno atormentar, & ma^
tar,&: por iífo o cruciíicá-
ra5,&: lhe tirarão a vida : o
corpo facramentado tam-
bém o quizerao cruciâcarí
& matar } mas naò pode-
rão. Ouvi agora o que por
ventura nunca ouviftes.
242 He cafo , que revelou o
mefmo Chriílo por boca
do Profeta Jeremias , fal-
ia ndo dosjudeos ; Cogita^
'veruntfuper me confíliay di-
í; entes : Mittamus lignum in
Jerem
H.19.
O feu paó na Cruz5&: o cru-
cificar para lhe tirarem a
vida. Aílim entendem ef»
te Texto pela figura H7-
pállage Tertulliano , La-
£tancio,S. Thomás, Joa-
chim, Maldonado, & ou-
tros. E quando efta execu-
ção, por fe applicarem o^
Principes dos Sacerdotes
à do Calvário, fe naó veri-
ficaíTena occafiáo referi-
da por Theophilaíbo ; he
certo que em outros tem-
pos depois,roubáraó,6c ef-
condéraó os Judeos, como
Judas 5 a Hoftia confagra-
da,êc lhe deraó muitas pu^
nhaladas : m.as com que
effeito.^ Álguas vezes ma-
nou delia copiofo fangue
em prova de que debaixo
daquellas efpecies exte-
riores fe encerra realmen-
te o verdadeiro corpo de
Chriílo : & outras vezes
ceílbu efte prodigio , nem
viraó final, ou effeito al-
R iiij gunx
■:1í
2 ^4* ^ Sermão do SantiJJifno
gum da fua impiedade fa- o prova quanto à immor-
crilega ; para que a ceguei- talidade-Áilim comoDeos
ra Judaica fe defenganaf- feito homem quiz moi-rer
fe •, que fe na Cruz lhe po- na arvore da Cruz para fe
dérao tirar a vida , porque vingar do Demónio , que
eílava nella mortal, & paf-
íivel: jio Sacramento lhe
não podem fazer dano pu-
nhaes, cravos, nem lançasj
porque eftà alli tam im-
mortal, ScimpaíTivel, co-
jno no Ceo. No Cco im-
anortal^Sc impaífivei -, por-
que depois de morto fe
ámmortalizou pela refur-
reiçaó: & no Sacramento
também immortal, U im-
paílíveh porque antes da
morte fe tinha já im morta
com outra arvore tinha
enganado aos primeiros
homens : affim traçou com
fua infinita fabedoria , 6c
omnipotência 5 que nòs o
comcíFemosnoSacramen-
tOjpara continuar, & con-
fumar a mefma vingança,
fazendo verdadeiras nelle
as duav<i mentiras, com que
omefmo Demónio f^ilfa-
mente tinha acreditado a
virtude daquella fruta. O
que o Demónio prometeo
lizado pela coufagraçaó. a Eva, foi , que fe comef-
Bem feencheo, ôcfuprio fem da fruta da arvore vc
logo neílaim mortalidade,
&impaíllbilidade do cor-
po de Chriilo f^cra menta-
doaimmortahdade,&ini-
paílibilidade divina , de
que o Verbo na Encarna-
ção fe tinha exinanido.
245 Eque eíles dous
eíFeitos de immortal , &
impaílivelfe nos comuni-
quem a nós no Sacramen-
to j hum dos principaes
«locivosdafua ^Aituijáp
■íí'
dada , nãofó não morre*
riáo, mas licarião como -;enc#
Deofes ; Nequaquam mor-
temoriemm-i & eritisjicut
dij. Ahíim Demónio, á'\z
Chriílo,pois iílomeAiio,
que tumentindoíingiíle,
flirei eu verdadeiro , & in-
ventarei hum ta] género
de manjar,que comendo-o
os homcns,nãofó íiqueni
endeofados,//a// á'//,fcna6
^aitttçnuiumpxtaes : AV-
Sacramento. 26 f
quaqtíam morte monenúni. me: primeiro fe armavão
Afíimofezafeu tempo o
mefmo Senhor , & afíini
declarou ) que eíle fora o
íeu intento,quando tão ex-
preíTamentediíTe : Hk eft
fanis de Calo defcendem^ ut
fiquis ex ípfa manducave^
rity notí moriatur. De forte,
que não ha du vidajem que
ocorpodeChriílo cómú-
gado em quanto no Sacra-
mento eílà im mortal , 5c
impafíivei, deites dous íb-
beranoíiattributosnos co-
munica o primeiro,que he
aimmortalidade.
244 Sobre o fegundo
porém, que he o da impaf-
iibilidade,íè recorrermos
à experiência, a meíliia ex*
periencia parece que o faz
difficultofo. De todas as
hiílorias Eccieíiafticas co-
ita, que no tempo dos Ne-
ros,ác Dioclecianos, quan-
do os Chriílãos erão tira-
dos dos cárceres , ou para
adorar os ídolos , ou pa^
ra padecer exquiíitifíimos
tormentos: lembrados da
fenteaça de David : ^Vara-
Jti in confpt^u meo menfam
me.
com o Santiílimo Sacra-
mento. Aílim armados en-
tra vão em tão perigoías
batalhas, aílim pelejavão,
aílim vencião; masco tão
diíferentes modos de ven-
cer, que a mefma vidloria
parece que punha em du-
vida a fortaleza, ôc virtude
das armas. Hunsmartyres
caminhavãofobreas efpi-
nhas como fobre íloresj
outros a cada paílb que da-
vãOjlhe brota vão dos pès
encravados tantas fontes
de fangue, quantos eraó os
efpinhos : huns lançados
com pedras ao peícoço no
mar, refpiravão debaixo
das ondas, & faiáo vivos às
prayas ; outros morrião
afogados; huns veftidos da
laminas ardentes, ou me-
tidos nas fornalhas , naó
lhe fazia mal o fogo, ou^
tros ardiãOjSc íicavão des-
feitos em cinza ; huns ex*
poítos no Anfiteatro aos
Leoens,6c Tygres erão re--
verenciados das feras, ou-
tros defpedaçados, 8c co-
midos da fua voracidade 3,
^dverjus eos^ qui trihuUnt &" i^mw^ : {luns eílejididos
i
til
*^
; ■: Ir
2 66 Sermão do SmttJJimo
nosequleos ^nas cataílas, llld extra patientlam eft^
nas grelhas, riãofe dosty- vosfuprapatientiam. Por-
raiios, outros invocaváo o que Deos he impaffivel
nome do Deos , por quem
padeciáo, com o qual na
boca, exhallaváo confian-
temente a vida. Pois fe to-
dos pelejaváo armados cô
o mefmo Santiííimo Sacra-
mento, como a huns com-
municava o impaflivel
corpo de Chrilio a fua im-
paílibilidade, não confen-
tindo que padeceírem,&: a
outros não , deixando-os
padecer?
z^f Refpondo y que
ahuns,&a outros fazia o
'm\ I
por natureza, & vos felo-
heis fuperiormente pela
paciência. No que toca ao
exceder a Deos,falIa c^ene-
ca como Gentio > mas na
impafiibilidade da paci-
ência ouçamos nos aos Sá-
tos Padres. S.Pedro Ve-
ronenfe poz em queílão fe
feha de chamar impafíi*
vel a fortaleza, que pade-
ce tão conftantemente,co«
mo fe não padecera. Incer*
tum eft utrum impajjiòilis
judie et ur , cítm aliquidpaf'
diviniílimo Sacramento fayquafinihilpalfajit^inve^
impaíTiveis, mas com dif- niatur. Porem S.João
ferente milagres huns ím- Chryfoftomo fobre as pa-
paíTiveis pela impaíTibili- lavras de S. Paulo , omnia
dade, a outros impaffiveis fuffert , nao com duvida, i^/v'
pela paciência. Ouçamos mas como propoílção cer-
ta,& evidente, aírlrma que
aque affim fofre , & pade-
ce, jà tem paífado de ho-
mem paffivel àimpafllbi-
lidadedos Anjos : Tradu^
ãus eft ddtpfam yln^elomm
mpatibílitatê. Afiim que,
ou porimpafíibihdade íx-
zendo que não padeção,ou
por paciência tão force, &
aoMeílrede húdos mef-
mos tyranos , &: o maior
deli es, que foi Ncro,Ferte
fortiter adverfa : hoc e(i quo
U^eum antece datis , diz Se-
neca:Padecci forte,&: con-
•ílantemente, advertnido,
quciílo he io aquillo cm
que podeis exceder ao
meiíno Deos. £ porque.^
m-
invencível como
padecéraójfazo corpo de
Chriílo facramentado im-
palliveis aos que o come.
Ejà pôde fer em confir-
3 acr amento. 26/
fe naó de da Hoftia, por mínimas,
& imperceptíveis que fe-
jaó jcílà inteiramente to-
do o corpo de Chriílo;
Perguntemos agora aos
maçáo da primeira, & de- Filofofos quantas faó as
ftafegunda prerogativa, partes da quantidade? As
que por iílb David diíle do
mefmo Sacramento : í*/2-
nemAngelorum manduca^
'vithomo. Se os Anjos naõ
confagraó , nem comem ,
nem podem confagrar.
duas opinioens mais cele-
bres concordaó , em que
faó infinitas : & fó diíFerem
em que género de infini-
dade j porque huns defen-
dem, que faó adbualmente
né comer eíle divino paó > infinitas, o qual infinito fe
como lhe pôde convir o chama Categorematico ,
nome de pão de Anjos-, fe- outros fó admitem,que fe^
não porque faz immor- jãoinfinitas potencialmé-
taes,& impaíli veis, como
Anjos, aos homens, que o
gomem ?
í. VIL
O Sexto, & grã-
^4^
^.diflimo vazio
da divindade do Verbo na
Encarnação, he a infínida-
te, o qual infinito fe cha-
ma Syncategorematico. E
porque efta fegunda opi-
nião he a mais comum, 6c
as partes que admite nelle
género de infinito naó po-
dem fer menos infinitas,
que as do outro, confor-
mandomecom ella, digo
aííim : Infinitum eft , cujus
de com que, fendo por na- femper aiiquid extra licet
tureza infinito, fe fez fini- ac cif ere \ O mÇímto^ co-
to. Mas também o corpo
de Chriílo no Sacramen-
to fuprio, &• enche admi-
ravelmente eíle vazio. Em
mo define AriíloteIes,he
aquillo , cujas partes por
mais,&:mais que fe divi-^
dáo,fempre rcílaó outras
todas as partes da quátida- mais em que í e poííà di vi
dir^
26^ Sermão ão
dir. Eílando pois o corpo
deChriílotodo em toda a
Ho ília 5 & todo em qual-
quer parte dei ia por míni-
ma que feja, defendo po-
tencialmente na mefma
Hoília tantas as partes da
quantidade , que por mais
quefe divida , fempre fe
pôde dividir mais, 6c mais
ítm. fím : bem refegue, co-
mo concluem todos os
Theologos,queefl:ào cor-
po de Chrifto no Sacra-
mento,naó finita, íènão in-
finitamente.
247 E pofto que efta
verdade a não alcácem os
fentidos 5 antes fe enga-
nem nella,em hum mefmo
exemplo fez Chrifto, que
a provaíTe o gofto , que a
apalpaílem as niãos,& que
a vitíem os olhos. Deo o
mefmo Senhor de comer
a cinco mil homens (^ a fo-
ra a outra multidão de
mulheres, & mininos,por-
que o feguiáo a-s: famílias
inteiras} com cinco pães
fomente, osquaes crccé-
rãodc fortc,que depois de
fatisfeitos todos, recolhe-
rão os j Apoíiolos das íò-
SantíJTmo
bras doze alcofas. Mas de
que modo creòeo tanto ef-
tepao, fendo tão pouco?
Frangentis fragmenta Juc-
ceduntyé'fal/untfemperper
fiaãafrangentes : Creceo
tanto aquella quantidade
de pão, fendo tão peque-
na, diz S. Hylario -, porque
quanto mais, ôc mais fe di-
vidia, tanto mais , & mais-
fe multiplicava. Tom.ou
Chrifto o pão cm fuás fa*
gradas mãos, partio-o, &j
quanto mais o partia , tan*
to mais crecia nas máo5
deChriftordeo-o Chrifto
aosApoftolos, & quanto
os Apoílolos mais o par-
tião, tanto mais crecia nas
mãos dos Apoílolos : da-»
vão-no os Apoílolos aos
paysjpartião-noos pays,
& tanto mais crecia nis
mãos dos homens : dav:3 o-
noos pays às máys, par-
dão-noasmãys , & tanto
mais crecia nas mãos das
mulheres : davaó-no as
m áys aos fílhos,partiaó-no
os íilhos,& tanto mais cre-
cia nas mãos dos mininos.
Dcíla maneira partiaóto-
dos,& coméraó todos: &
por-
Sacramento.
porque o pao quãto mais, ria para reparar na
& mais fe partia , tanto
mais, & mais íe multipli-
cava 'y por iííb fendo taó
pouco, fobejou tanto j &
fe o numero da gente foíle
maior , fobejaria muito
mais. Tanto alEm , que
quando os doze Apoftolos
repartirão entre fy o mun-
do, fe cada hum levara có-
íigo a fua alcofa, naó feria
neceflario, que os lavra-
dores araílem a terra, nem
femeaíTemjnem fegaíTem,
nem recolheíTem , porque
squellas mefmasíobrasde
paó tantas vtz^s partidas ,
partindofemais, armais,
baftariaô a fuílentar o mu-
do.
248 E porque mnguê
duvide, que do mais par-
tir nafcia o mais erecer ,
combinemos elle milagre
com outro femelhâte. Em
outra occaílaó, 6c em ou-
tro deferto deo o mefmo
2^9
diíFe-
rença deíles números em
hum, & outro cafo. No
primeiro,os que comerão 9
eraó mais , & os pães eraá
menos 5 porque os que co-
merão, eraó cinco mil, 8c
os pães cinco. No fegundoj
os que comi raó, erao me-
nos, 5c os pães erão maisg
porque os que coméraó,
eraó quatro mil,6c os pães
fete. Logo por boa conta
parece, que mais havia de
fobejãrneíle fegundo mi-
lagre , que no prímeiroJ
Qual foi pois a razaó por-
que quando os que come-
rão, eraó mais, & os pães
menos, fobejou mais:.6c
quando os que coméraó^
erão menos , & os pães
mais, fobejou menos ? A
razaó he manifefta, como
eu dizia, porque do mais
partir nafcia o mais erecer.
No primeiro milagre co-
mo os que comiaò , eraó
Chriíío de comer a quatro mais, 6c os pães menos , foi
mil ho mens com fete pães: neceílario partir mais , 6c
6c recolhendofe também poriíTocreceoopaómais:
asfobras ,foraó as alcofas
que fe encherão fete. Pou-
ca Aritmedca he neceíFa-
nofegimdojcomo os que
comiáo,eraó menos, 6c os
pães mais a foi neceíFario^
í
1í'
270 Sermão
partir menos , & por ií^o
eréceo menos. Equeper-
tendeo Cliriílo Senhor
noílb com efta evidencia
tãofeníivel aos olhos, às
ináos,&aogofl:o ? Egré-
gia mente S. Paulino : 'Po-
fulos quíJiquepanibusChri'
ftus implevity ^fur tentes fi-
dem carnaliterfatians ^fpi-
ritualiter irrigans. O mi-
lagre dos cinco pães foi o
prologo com que o divino
Meftre quiz difpor os âni-
mos dos homens para a
fé do Sacramento de feu
corpo, do qual tratou na-
quella occaíiaò taõ larga-
mente, que tudo o que en-
íina a Igreja, &o mefmo
Evangelho que hoje can-
ta, he hiia fó parte daquel-
la doutrina. Por iíTo fez o
Senhor , que o paó fendo
táo pouco, feníivel 6cpal-
pavelmente creceíTe fem-
pre mais, & mais entre as
mãos dos mefmos que o
partiaó,para que naó du-
vidaíTem crer , que em taò
pequena quantidade co-
mo adehúaHoíHa fe po-
dia comprchender toda a
grandeza fem fim de hum
do SantlJJlmo j
infinito, & que naó fó fi-
nita, fenaò infinitamente
eftava nella feu corpo. Eíla
he a iníinidade,de que diz
S. Thomis :EJfeChriJium
in Hojiia Jemelin aãu^ i».
finitiesinpotentia: porque
eílando todo Chriílo em
toda a Hoftia, 6c todo em
qualquer parte , fe eftas
aduaímente fe dividirem,
ellarà também adrualmen-
te era todas , & fempre
mais,& mais fem fim, por-*
queonaótem.
24,9 Sendo pois efta
manifeíla infinidade a cô
que o corpo de Chriílo nô
Sacramento fuprioa infi«#
nidade do Verbo efcondi-r
da na Encarnação 3 fó refta
íliber (^ o que naó parece,
fácil ) como nos cómuni*
ca também a nos a mefma
infinidade ? Digo que nos
comunica Chriílo no Sa-
cramento a infinidade de
feu corpo, flizendo que afr
fim como he infimco o
manjar , que nosdàa co-
mer, feja também infinita
a fome, ou wòs infinitos na
fome com que o comer-
mos. O manjar fyncatcgo-
rcmaticè
D.TK-â
4.Dift. .
lO.q. I.
Arr.í.
explica-
ras à
Suario
Sea.4*
Sacramento. lyi
rematicè infinito , & a fo- ra o faftio : IniUis àppeti'
me também infinita fyn-
categorematicè. Texto
cxprellb do Efpirito San-
to no capitulo vinte &
quatro do Eccleíiaílico ;
^uiéàíintme^ aãhuc efu-
rienti & qui bibtmt me, ad-
hucfiúmt, Chrifto na Ho-
ftia dà a comer feu corpo ,
& no Caliz dà a beber feu
fangue : mas o mefmo cor-
po caufa tal fome aos que
o comem, &: o mefmo fan-
gue tal fede aos queobe-
tus fatunt atem , fatuntas^^^^^B^^^-
r /i- 1' J V Homil.
fajtíammgenerat : porem^^in
nos do Ceo , poílo q tam- ^^^"S-
bem a fome fuccede o co*
nier5&ao comer a farturia,
à fartura naó fuccede o fa-
ftio, fenaó outra vez a fo-
me: Iniftis autem appeti'
tus fatunt atem , faturitas
appetitum parit i donde fe , .r^
íegue(^conclue o Santo) ;•;
queaquelle que mais, 5ç 1:
quanto mais come > eíle
mais,6c tanto mais fica fa-
bem, ambas fyncategore- mmto-.Tantoqueampiiusà
maticè infinitas, que Òs 'comedenteefurimtur^quan-'
que o comem , quanta taamplms ah efariénte co-
ínais,5c mais comem, tan^ meduntur. Notai a repeti-
tomais, & mais defejao çáo,&conexa6dehum,âc
comer-, ^ui edunt me , ad^ outro ampãus : amplius ab
huçefunent\ & os que o ba- efuriente^ amplius à cút^^
Í)em,quanto mais, & mais dente -. mais o que come,.^
bebem,tanto mais,& mais
deíè jaó beber: Er qui bi^
hmtme^aãhucjltient.
2fo Naó feria o divi-
no Sacramento manjar do
deo , fenaó caufára eftes
cífeitos taó contrários aos
da terra. Nos manjares da
terra [diz S. Gregório] à
fome fuccede o comer, ao
comer a fartura, & à fartu*
mais o que tem fome, por-
que a comida V& a fome
fucceífíva , & reciproca-
mente fe caufaó húa a ou^
tra. E defte mais, 8c mais
quecrecendo fempre naÒ
pôde ter fim , fe forma o
in^nitodos que aílim co-
mem .* porque como ao
mais,&: mais da fome íe fç-
guéomais, 6c ma;is da far-
i
272
Sermão do Sanfifjlmò
mtnquam dicit^fufficit '. Sc ^'o^j?
como a matéria do Altar
era inconfumptivel , Sc o
fogo que delia fe fuftenta-
va, inlàcia vel j nem o infa-
ciavel do que comia , nem
o inconfumptivel do que
6.11
Marc
tura,&ao mais, & mais da
fartura o mais, & mais da
fomcj ou eíles fartos,& fa-
mintos haó de deixar de
comer,oufe comem., haó
de continuar mais, Sc mai^
infinitamente. O milagre
do deferto teve fím; por- fe dava a comer podiao
quefobejouo paó, Ôcfal- deixar de fer perpétuos:/»
•touafome.-fobejouopaó: Altarifemper ardebit. Fi-
joann: Supevaverunt fragmenta : nalmente efte era o my íle-
faltou a fome : Saturati rio que depois fe verificou
funt. Mas no milagre do no Sacramento do Altar,
Sacramento, nem o paó aílim quanto ao corpo, co-
pôde fobejar, nem a fome mo ao fangue de Chrillo i
faltar. A fome naó pôde porque fendo os que o co-
faltar ; porque nafce do mem infaturavelméte fa-
paó: Bco paó naó pôde fo-
bejar; porque a mefma fo-
me que delle nafce, o co-
me. Eporiílb nem o mi-
lagre, nem a fome, nem o
paó,nem os que o comem
podem chegar jà mais a efiirient-ièrqui hwumme
ter fim ,nem a deixar de adhucfitient.
participar por efte modo
o modo de infinidade,que
«corpo de Chriílo tê no
Sacramento. No feu Altar
mandava Deos, que fem-
preardeíTefogo : Ignis in
Altari femper ardcbit. E
porque > Porque o fogo
nunca diz , balta ; Ignis
I^evit
mintos,&: os que o bebé,
infaciavei mente fcquio-
fosjnem aos que comem
pôde faltar jà maisa fome,
nem aos que bebem, a ih"
de : §lut edunt me , aahtic
§, Vill.
25-1
Final mete o ul-
timo a ttribu to
de que o Verbo fc defpio ,
veílindofedcnofili carne,
foi a inviíibilidadc divi-
na, fazendoíc de invifivel
Vifl.
Joann.
M4-
Sacramento. 273
He o que diíle o propriedades da divinda-
de exinanida, riaõ ío as re-
cupera em ÍY Ghriííro fa-
cramentadO) mas também
nolas comunica a nòsi co-
mo fe pode verificar » ou
provar no attributo da in*
vifibilidade? Sefora nou-
viíivel
Profeta ^2imc\v\Tõft hac
in terris vifus efi , & cum
hominibus converfatus eft :
6cporiflb' omefino Evan-
gelifta S. João tanto qxie
diíle; Ver bum carofaãum
eH j ajuntou logo 5 & "vidi-
mus gloriam epts , gloriam tro lugar 3 féria diíHculto -
quafi Vnigeniti à ^atre. fo;nefteem que eílamos>
Mas fe o V crbo veftindo-
Iç de corpo humano , &r
fnanifeftandofe a noííb^
olhos, de invifivel fe fez
viíivel j o mefmo corpo,
para recuperar a inviílbi-
lidade perdida na Encar-
nação, depois de viílvel^^
6cviílc>,encobrindofe ou-
tra vez aos noííbs olhos,
fe tornou a fazer imiíxvcl
he evidente.
2 f 5 Fallando a Efpo»
fafanta de Chrifto facra'-:
menta do, diz que eftà en-
cuberto, & in viíivel de-
trazdaquella parede dos
accidentes: En ipjejíatfoft cant. «:
parietem noHrum. Amm^-
entendem efte lugar com-
mummente os Interpre-
tes. Olhai agora para
no Sacramento, Efta pri- aquella parede^ ôc paraef-
meira parte do noífo af- tas paredes. Detraz da-
fumpto naó ha miíler pro- quella parede eftà o Eípo-
vaj porque a invifíbilída- fo: dentro deitas paredes
de fó fe pôde v er,naõ ven- eftaó as Efpofas : alli o Ef-
do,como nòs naó vemos pofoinvifivel,aqui as Ef-
ao mefmo Chrifco , que pofas também inviíivei^.
cremos, & adoramos pre- Que maior,8c mais eílreita
fente,mais fírmcméte, que invifíbilidade, que aquellà
tS^ fe o viramos. Mas a fegu-
da parte do mefmo af^
fumpto , em que atègora
moítramosjque as mefmas
Tom. 7.
que naó por hum dia, nem
por muitos ) íenaô para
fempre fe negou , & fe ef-
condeoaos olhos domun-
S ' àoi
jLevit,
A 6. 2.
Aaor.
»9.
ÍBI i i
^4 Sermão do Santiffmo
do? Talhe a invifibilida- moveí,& immudavel E
dedeChnítono Sacra- eíle he o modo, & encerra-
mento, & tal a das Efpofas mento perpetuo com que
domefmo Chrifto. EíTa naquella parede, &neftas
he a grande energia com paredes o Erporo,& as Ef-
que a Eípofa chamou pa- poías eftaó para fempreef-
redeàquellcs accidentes:
¥oft parietem noftrum. Po-
deralhe chamar véojpode-
ralhe chamarnuvem. No
Templo de Jerufalem o
que fazia inviíivel o Pro-
piciatório em queeftava
figurado Chrifto^era o véo
que cobria o Sanda San-
ítorum : SanBtiarhtm qitod
efi intra velum: no monte
Olivetea que também ti-
rou dos olhos dos Difcipu-
losaomefmo Chrillo fu-
bindo ao Ceo, foi húa nu-
condidas aos olhos huma-
nos.
2f4. O Profeta Ifaias
fallando com Chriílo no írai.45-.
Sacramento, diz : l^ere tu '^*
es 'Deus abfconditus^ D tus
IfraelSahator. Verdadei-
ramente, Senhor, vòs fois
Deos efcondido , Deosef-
condidojôc Salvador. E
fallando do myílerio da
Encarnação, diz que aef-
condida conceberá : Ecce |^^'-7*
abfcondttacoricifíet. i^ílim Tert;
fe lènoOngmalKebreOj^"''
vem : Et mbesfafcepit eum em cuja lingua,efcondida,
abocuhs eorum. Pois fe os & Virgem, tem omelmo
accidentes daquella Ho
ftia faó os que nos tiraõ
dosolhos,&nos fazem in-
vifivelo Efpofo facramê-
íignifícado. Chriílo Deos
efcondido no Sacraméro,
& as Virgens confagradas
aChriílo , efcondidas na
tado i porque lhe naó cha- Encarnação. Nem he ma-
ma a Efpofa véo,ou nuvé , ravilha, que debaixo deíle
íenáo parede , pojlparieté > fagrado nome jà entaó fof-
Porqueo véopòdefe cor- fe exemplara Virgem das
rer,&:anuvempodefemu- Virgens às que depois a
dar -, porém a parede hc haviaó defeguir .-^^^//c^-
impedimento íixiuc , im- tíir RegtVtrgiuespoJt eam.
£ poi§
Sacramenta. ijs
E pois eílamos no ultimo fto5&: efcondida em Deos :
attributo da divindade re-
ciif>erado por Chriílo no
SacramentOjSc comunica-
do a eftes generofos 1^ fpi-
ricos, que por feu amor em
corpo íè iizeraó i n viíi veis$
que lhe poílb eu dizer por
fimjfenaóo.quelhe dizS.
CoioíT Paulo : Mortui eftis 5 & ví-
^ ^ • ta vefira abfcondita eft cum
<2hriJÍ0yin'T>eõ:B,9c2ls mor-
tos,diz o Kpo\\:o\o^ Mortui
eftis-y^ não diz demaíia-
doj porque hua vida en-
cerrada entre quatro pare-
des, nem vifta , nem viíi-
vel 5 que outro nome Ih^
vem mais próprio , que o
de morta,^: fepultada? Af-
fim encareceo Job o eíla-
do da Tua fepultura j naó
tanto pelo enterradojquá-
íopeloinviíivel : Nec af-
loh.-^.í.píciet me vifiis hominis : nê
meveráójà mais os olhos
dos homens. Mas poíto
que eílavoíTa vida por ef-
condida, &: inviíivel pare-
ça aos outros morta5Sc fe-
pultada 5 coníiderai-vos
para voiTa confolaçaó, on-
de eftà efcondida, Sc com
quem ; efcondida có Chri-
Et njita veftra ahfco7idita
eft cum Chrifto m'T>eo. Eftà
efcondida com Chriílo,
porque também Chriílo
eílà efcondido no Sacra-
mento V & eílà efcondida
em Deos , porque quanto
mais retirada dos olhos
humanos, tanto mais fenaó
tiraò nunca delia os olhos
divinos. E fendo eíla taò
grande confolaçao , ainda
he maior a com que con-
clue S.Paulo; C^^^C^rz/^/z.f CoioC
apparuerit vita veftra^tunc ^•^'
^vosapparebitis cum ipfo
inglória'. Chriílo que ago-
ra he a voíTa vida , & alli
eílà como vos inviíivel,&
efcondido,virà aquelle dia
ultimo, em que ha de apa-
recer, 8c fer viílo de todo o
mundo: &entaó também
vòs haveis de aparecer, &
veráó os olhos , a que ago-
ra vòs negais, quã precio-
fo he , & quam agradável
aos divinos, que fó vos vê,
o inviíivel deíla voííà
claufura ; porque aílim co-
mo agora imitaíles aChri-
ílo na fua inviíibiíidade ,
aíHm elle vifivelmente
S i] nos
i
27<^ Sermai
nos olhos de todo o mun-
do vosha de coroar com a
fuamefma gloria : Et vos
apparebitiscum i^fo ingló-
ria,
§. IX.
BEm acabava
iJaqui o Ser-
ma6:masemdia, &foIê-
íiidade taó univerfal,obri-
gaçaóheprecifa, que di-
gamos húa palavra para
todos. Se o corpo de Chri-
ílo no Sacramento enche
os vazios da divindade,
quanto mais facilmente
encherá os da noíía nçccf-
iidade ? Tudo Deos criou
vazio , mas logo encheo
tudo. Vazia criou a terra:
Cenef Terra ãut em erat inani s^à"
'vacuã} mas logo a encheo
por dentro de thefouros,6c
porfóra de plantas,6c ani-
ma es: vazio criou o Ceo;
mas logo o encheo por dé-
trode Gerarchias, & por
fora deSol,Lua, & Elirel-
« las : vazio criou o mar, & o
ar-, mas logo encheo o ar
de táta variedade deaves>
&c o Kiar de taó ^rniiaiu
> do Santijflimo
multidão de peixes : va-
zios criou aos primeiros
homens como vafos ^e
barro j mas logo os encheo
dejuíliça original , & de
tantos outros doces, & gra-
ças. Taó natural he à ái'-
vina bondade, que foi, he,
6c fera femprc a mefma ,
encher os vazios de íuas
criaturas : & aflim enche-
rá os da noííli necellidade>
& pobreza , muito melhor
que o óleo de V' lifeo , por
muitos que fejáo, vaja va^ ^.R<?gf
cua non pa-iica. Antigua- '^^*
mente na JeV) que era de
rigor, mandava Deosque
ninguém apareceíTe em
íua prefença com as mãos
vazias : Non apparebis in ^^"^
confpeEiu mco vacuus : po- ^^'^^'
rèm hoje que eílamos na
Ley da Graça, a todos nos
exhortao mefmo Senhor,
quenaó fó lhe prefcnte-
mos vazias as mãos, fenao
tambem,&: muito mais,os
coraçoens ,& os dcfejos,
para nolos encher abun-
dantiífimamente do que
elle melhor fabe dar, que
nòs pedir. Quando os Ir-
mãos dejofeph furão btif-
çar
Sacramento. 277
car paó ao Egypto ^ todos 2 f^ Mas he tanta (de
levavaóos faccos vazios, quem me queixarei? ^ ^ô
& todos os trouxeraó tanta a fraqueza da noíTa
cheosj&ríellesjuntamen- fé, &ta5 poucaaeftima-
te o preçoj porque eíle à^v- ça5,que fazemos dos bens;
vino pao , que naqueJle fe do Ceo, que nem de graça
j'eprerentava 5 era paò de
graça. E depois que Deos
peio beneficio da Encar-
nação fe fez Irmaó noíío ,
naó íèria taó bom Irmão
como Jofeph, fe recorren-
do aos ceileiros de fua li-
beralidade, que no mefmo
paóeftaô encerrados, nos
naóderpachaífe cheos, &
ricos de tudo o que a noíla
íieceííidade lhe prefen-
tafle vazio. Chegai, che-
gai (^ diz S. Thomás A rce-
bifpo de Valença) chegai,
naó aefta fonte , íènaó a
efte oceano immenfo de
graças , que a todos eílà
os queremos. Oavi o que
diz a femelhantes Almas
ate hu 111 Poeta Gentio : O
cuTvas animas htnninum^
ér caleftmni inanes \ Oh
Almas dos homés taò bru-
tas,&: irracionaes como as
dos mefmos brutos : í*^^^-
i;^5"5porque fempre andais
encurvadas , & inclinadas
para a terra, & por iíTo va-
zias dos bens do Ceo , &
caleftium inanes \ Por mais
que húa Alma foíTe fenho-
ra de toda a terra , 6c defde
a terra ao Ceo fenhora de
todo o mundo > fempre fi-
caria vazia,porq fó Deos a
expofto, a todos defeja , a pôde encher. E tendo nos
todos chama,a todos efpe- a Deos tão perto, quantas
ra ♦, & por maiores , & de
maior fundo que fejaó os
vazios de voíla neceíllda-
de, cada hum encherá os
íeus atè naó poder levar
Almas ha indignas deíle
nome,quefe naó chegaó a
elle,fenáo por força , & a
mais naó poder deanno
em anno ,^ EUe chanoufe
mais. Oceanus eft gratiarú paó de cada dia, para que
immenfus , vasfuum (^uif" todos os dias o comeílc-
gmadfummumreflet^ mosj como faziaó ospri-
Tom./. S iij meiros
i
li
' ' " -''■
,■■ ■;
'■''■.
1 '4^
u
1^
1
BvB^H
\í'
V^iB^H
Pii
■ *'^fifiíí
1 vÊW
1 'Mi
■278 Sermão do
meiros Chrií]:áos:8c fomos
chegados a tempo em que
fe tem por grande chriítã-
àoAQ 5 & devação comun-
gar todos os mefes. Que
bem compete aos que nem
ifto fazem, as palavras de
Job ISic é^ego habni men-
]ob.y. ,.fes vácuos. Devendo fer os
diascheos,arèos mefes faó
vazios. PaíFafe hum mez,
& outro mcz, paíFafehum
JiibileOj&:oucroJubileo,ac
nem a importância da gra-
ça, nem a cóveniencia das
graças (^como fe naò ou ve-
ra fé, nem outra vida ; co-
mo fe naó ouvera inferno,
nem Purgatório} nos per-
mitem os vicios j de que
eílâo cheas as nofilis Al-
mas,que por meyo da con-
triçáo,& coníiífao as pre-
fentemos àquella fagrada
mefa vazias.
2 f7 Vazias aífim dos
peccadosasnoíílis Almas,
ffc fomos Chriftãos, ou
daqui por diante oquere-
'mos fer Jo que deve procu-
rar cada hum de nos com
verdadeira refolução, fiô
duascouíasraprimcirajen-
cher a Alma com a graça ,
Santiffimo
para que naó eíleja vazia:
afegunda, encher a graça
com obras chriftáas jpara
que perfeveremos na mef-
ma graça. Qual he a razaó,
ou defeito, porque os que
fe confeífaó,&: cómungaô,
& fe põem em graça de
Deos , naó perfeveraó na
graça muitos dias, & tal
vez no mefmo dia a per-
dem > A razão,& o defeito
hej porque ainda que en-
chemos a Alma com a
graçajnáo enchemos a gra-
ça com as obras , fem as
quaesclla naó pode per-
manecer. Confideremos,
&pefemos bem o que diz
S. Paulo de fy, & o que nos
aconfeiha a nos. O que nos
aconfelha o Apoftoio, que
foi ao Ceo, & tornou , he,
que não tenhamos a gra-
ça vazia : Ne in "vaciium ,
gratiam T>ei recipjatis : &
o que nos diz de Íy,he5que
a graça que recebeo de
Deos, nunca a teve vazia,
&■ por ifío permaneceo
femprenella ; Grar/a tjus
in nie ia ena non fuit , fcd
gr aí! a (jiisfempcr in me ma-
net. Sendo a graça tàò con-
traria
Ó I.
I Cor.
r-T 10.
c!cí:
mk
iBfei
Sacramento. 27P
traria à natureza , fó nifto vácua nonfult: ta mbem fá-
íe parece a natureza com a
graça , ou a graça coma
natureza. A natureza de
nenhum modo admite ,
nem permite vácuo , don-
de naíbeo ò Proíoquicí^
KondãiuT i)acmm m r-e-
rum natura. E eíTa he a Fi-
loíbfia, porque nos ele-
mentos, & mixtos, ou ef-
rà em nòs como nelle fem-
pre permanente 5 Etgra^
tia ejus femper in me ma^
net.
25-8 E fe me pergun-
-tais como eferà a. graça
fempre cliea, & inunca va-
zia ? Refpondo , que en-
chendo os vazios que na
Alma Gccupavao os vi-
pontaneamente 5 & porfy cios, primeiro có os aélos,
mefmasjou obrigadas da & depois com os hábitos
arte , vemos tantos eíFei
tos , que parecem mila-
grofos, & verdadeiramen-
te faó naturaes. Vemos fu-
bir a agua, & a terra 5 ve-
mos decer o ar, &■ o fogo,
vemos róperemfe os már-
mores, Sceílallaros bron-
zes , tudo por acudirem a
impedir o vácuo , ou va-
das virtudes contrarias.
Em lugar da foberba entre
emnofías Almas a humil-
dade, em lugar da intem-
perança; entre a pureza ,
em lugar da envejaa ca-
ridade, em lugar da ira a
maníidaó, em lugar da gu-
la a fobriedade, em lugar
da ambição o defprezo do
zio 5 o qual fe ouveíTe na mundo, em lugar da Vm^
natureza , pereceria o mu- gança o perdaó das inju-
do. O mefmo aconteceria
(^ & acontece } à graça , fe
nella ouveíTe vácuo: & por
iíTo o devemos reíiftir com
todas as forças : Me in va-
nas, em lugar do ódio o
amor do próximo , ainda
que feja o maior inimigo ;
finalmente em húa pala-
vra, por mais que a natu-
cuumgratiam "Dei recipia- reza corrupta , & mal ha-
tis. Se a graça em nòs nun- bicuada repugne, que o ai -
ca.eftivervaziajcomo em to,& leve deça,& o baixo,
§.Paulo ; Gratia ejus in me & pefado fubá: porque de-
S iiij Ha
2 8o Sermão do
íla maneira nos confor-
maremos com todo o ex-
emplar do noíTo aíTump-
tOi imitando a Deos na
Encarnação, que deceo a
tomar condiçoens de cor-
po,&aChrifto no Sacra-
mento, cujo corpo fubio a
Santiffimo
participar os attributos de
Deos, os quaes nòs tam-
bém gozaremos eterna-
mente na mefa da Gloria
por graça do mefmo paó,
que para nòs fubirmos de-
ceo do Ceo : Hic eftpanis^
quideCalodefcendit.
SER-
28l
cia fi^-!ri) «falia lia stlcíactllfeííal^
f f f ^f ff ¥f f f -^ t f #f f 'f * f t"
SERMAM
DE
S GONÇALO
*JV venerit infecunda 'vigiUa^&fim tertiavigilia^eneritf
&itamvenerit ykeatífunt fervi illi. L.uc.12.
§.i.
Nde ha muito
i||(gi|em que eleger,
L^^iR n-aó pôde haver
: Vrwi® pou CO íbbre qu e
duvidar. Celebra hoje a
noíTa devaçaó hum Santo,
fobre cujo ellado duvida-
rão os Hiftoriadores , fo-
bre cuja profiíTaó duvidou
^llemeímo, & fobre cujas
grandezas, para eleger as
maiores, eu fou o que mais
duvido, DuvidáraposHí-^
ftoriadores fobre p íeu ej^
tado^porquehunso fize-
raó da Jerarchia Clerical ,
como filho de S. Pedro |
outros da Monaílica , co-
mo Monge de S. Bento }
outros da iMendicantejCO-
mo Religiofo de S. Do-»
mingos : controverfía era
que he mais glonoía a du*
vida, que a decifaó. Aíllm
duvidarão , &■ contende-
rão as mais nobres Cida-
des da Grécia fobre qual
foife^ououveffeíidoa Pá-
tria
2S2 ^.
tria do famofo Homero.
Duvidou o mefmo Santo
fobre qual feria a profííílió
em que Deos mais fe agra-
daria que elle o ferviífe:
porque naó baila fervir a
Deos ; mas he neceílàrio
ft:rviIo como elle quer. E
como neíle requerimento
empenhaíTe muitas horas ,
& muitos dias de fervoro-
faoraçaó,&,porque jà era
Sacerdote> muitos facriíi-
cios ; finalmente lhe ref-
pondeo o divino oráculo,
que fe dedicaíTe a feu fer-
viço naquella Religião,
em que fe dà principio aos
Officios Divinos pela Ave
JVlaria. Com efte indicio ,
no qual era íignifícado cla-
ra mente o fagrado Inftitu-
todos Pregadores, refol-
veooSanto a fua duvida:
&comomefmoefpero eu
refolver a minha. Para dar
pois bom principio ao
noíTo difcurfo , antes de
faber , nem propor qual
ha de fer,comecemos tam-
bém faudando a Máy da
graça , & digamos A^ve
Maria,
nnao de
í. II.
s;
■venerit infccuda vigília^
&fun tertia vigilia vene- * , '• ' '»
rity beatijunt fervi tUi: ^ '
DUvidofo eu 5
26o . ^
& muito du-
vidoíb, como dizia, entre
as grandezas do no íib San-
:to,para eleger , Sc pregar
dcUeas mais admiráveis,
fobre efta minha duvida
encontro no Evangelho
có outra maior. Diz Chri-
fto Meftre divino , & Se-
nhor noíTo 5 que os fervos
que elle achar vigilantes,
ou venha na fegunda vigia
da noite,ou na terceira^ef-
fesfaóos Bemavéturados.
A fuppoílção , & fraíi he
niihtar; porque jà os fol-
dados naquelle tempo di-
vidiaó a noite em quatro
vigias , de cujo numero
perfeverahojeonome de
fe chamarem quartos. E
porque a nofla vida, como
dizJob,he milicia,& nefte
mundo vivemos às cfcu-
ras,ou com pouca luz co-
mo denoitCj divide o Se-
nhor
^.v
mmm
S.Gonçãto. iS^
nhor a mefma vida do lio- dos miniiios^ ainda os naó
meni em quatro partes
com nome de quatro vi-
gias. A primeira parte, ou
idade he a de minino, a fe-
gunda a de manceboja ter-
ceira a de varaója quarta a
de velho. Suppoílo pois
tenta o mundo ; na ultima,
quehea dos velhos jjà os
não tenta : & a virtude fem
batalha, que nos mininos
he innocencia , 6c nos ve-
lhos defengano , quanto
mais eftà em paz , & fora
queeílas partes, ou idades da guerra , tanto menos té
nocurfoda vida humana de vidoria,& de folida , &
faó quatro, porque deixa o
Senhor a primeira, & a ul-
tima, Seio fazmençaó da
fegunda,& da terceira ? Si
venertt i?i fecunda vigiliay
&Jii?i tertia ^vigília vene-
rit? A razaó natural quan-
to às vigias, he, porque na
fegunda, & na terceira he
mais carregado o íbno,
mais trabalhofa a refiílen-
cia,&mais difficuitofa a
vigilância. E quanto às
partes , ou idades da vida
neta mb em a mefma , ou
•femelhante -, porque na
idade de mancebo , & de
varaó , aílim como as ten-
taçoens faó mais fortes, af-
íim he mais trabalhofa a
•reíiílencia dos vicios , &
niaisdiflicultofa a obfer-
vancia das virtudes. Na
primeira idade , que he a
forte virtude.
2 dl S. Gregório Na-
zianzeno concordando ef-
te texto com a Leyem q
Deos nos manda que a
amemos , da outra razap
igualmente própria, & na-
tural, mas muito maisfu-
blime; T>iliges T>omlnum ux^^^^,
l^eum tuum ex totó cor de -"•
tuOi & ex tota anima tua^ ò*
ex omnibus viribus tuis^ C^*
ex omni mente tua. Amaras
a Deos teu Senhor com to-
do o teu coraçãOjCom toda
a tua alma, com todo o teu
entendimento, 5c com to-
das as tuas forças. De forte
quedeílas quatro partes,
ou deftes quatro todos ha
de conftar o amor deDeos,
para fer legitimo de todos
CS quatro cofiados. Amor
de todo o coraçáo^anior de
toda
ni
r'.t'
2S4. Si
tocia a alm.ij amor de todo
o entendimento, & amor
de todas as forças. Poisef-
ta he a razáo,porque Chri-
ílofó falia da fegunda, Sc
da terceira vigia, & naóda
primeira, nem da quarta:
£ porque fó chama Bem-
aventuradosaosda fegun-
íiaj& terceira idade , que
faó osmancebos5&: osva-
roens, & naô aos da pri-
meira,& da quarta,que faó
osmininos ,& os velhos?
Sim 5 Sc clariílimamente.
Porq Deos quer Ter amado
não lo com todo o cora-
ção 5 & com toda a alma,
fenaó também com todo o
entendimento, & com to-
das as forças : & pofto que
osmininos, & os velhos té
coração, & tem alma 5 os
mininos ainda não tem
cntendimêto, &os velhos
jà naó tem forças : logo fó
os da fegunda , & terceira
vigia, fó os mancebos, Sc
os varoens podem amar,&
fervir a Deos com todas
as quatro partes, ou todos
os quatro todos do intei-
ro,& perfeito amor : com
fodo 0 CQraçáQaí'^' íoto cor'
de : com toda a ai ma , ex to-
ta anima-, com todo o ç^n-
tcv^CwmzritQ^extota mente-.
com todas as forçasjí a" om-
nibus viribus.
261 Entendido afllm
(^ pois aíTimfe deve enten-
der^ o Evangelho , parece
queelleporfy mefmo nos
tem jà dividido o difcurfo
em duas partes, & que íè*
gundo ellas , devemos tra»
tar das duas principais
idades do noíTb Santo: a
fegunda, que nos mance-
bos heílorente,& a tercei-
ra,que nos varoens he ma*
dura i fendo húa , Sc outra
na fua perfeição , ambas
forãocheasde flores , Sc
ambas de frutos. Mas po-
ftoqueaílim pareça a ou-
tros, a mim, cuja he a elei-
ção, não me parece. Não
faó as excellencias de S.
Gonçalo tão pouco gran-
des, quecaibãoemtãoef-
treitos limites. Quando o
Rio fae daMadre,tambem
as margens faóRio.Não fó
havemos de alargar o E-
vangclhojfcnão também o
numero das vigias. Digo
pois, ou deteriniiio dizer ,
que
^.^r;: V.
S. Gonçalo. 285:
que S. Gonçalo naó fó foi tos dias ; S. Gonçalo na6
efperounem hum fôdia,
porque no mefmo dia em:
que naícendo fahio à luz
quarta :& não íó da pri* do mundo, jà era homem,
meira, da fegunda , da ter- &: grande homem no fer ,
ceira,&da quarta jfenaõ poíloque foíTe mininona
Santo da fegunda , 6c da
terceira vigia ^ fenaótam
bem da primeira , &
da
eftatúra. Fallandoo Pro-
feta Zach árias do futuro
Salvador do mundo, ç^iíci^ ,
ta primeiro as admirações
do que havia de dizer com
a palavra Ecce : & o que
diife , he, que o feu nome
íeria: O que nafce homem:
Ecce vir oriens nomen ejus,
Efehe prodígio digno de ^
pois de morto 5 em que tê admiraçáo,5c admirações, |*'2^^
jà cinco vezes tantos an- quehum homem, que era
juntamente Deos,nafcdIe
também da quinta. Santo,
& admirável Santo na pri-
meira idade de minino :
Santo, & admirável na fe-
gunda de mancebo : San-
to, Sc admirável na tercei-
ra de varaó : Santo, ^ad-
mirável na quarta de ve-
lho:& finalmente Santo,
6c admirável na quinta de-
nosjquantostevede vida.
Se o difcurfo for largo, fa-
cilmente fe acomodará a
devaçaõcoma paciência.
/. ÍII.
2^3 /" Omeçandope^
V^la primeira vi-
gia ', foi Santo, 6c admirá-
vel Santo S. Gonçalo na
primeira idade de minino,
porque naó foi minino
minino, fenaõ mijiino ho-
mem. Os outros mininos
para chegarem a fer ho-
minino,&: homem,^/> ori*
ms\ quam admirável San-
to devemos entender, que
foi o noííb , fendo àAã.^
feu nafcimento naó home
minino, fenaó minino ho-
mem? Hum íó homem ou-
ve no mundo, que nafceA
fe homem. Eftefoi Adam^
a quem Deos criou em
idade, 6c eftatiira perfeita,
Maseíle homemjque uni-
camente naí?:eo homem»
aBensiiíiQ de eípexar piui- neíp pojr ilío deixou de fer
286
Sermão de
iy^r:
I .1^
minino.Vòso julgai. Ode
que era renhor,& o que ti-
nha de Teu Adam, naó era
menos que todo efte mia-
do :6c hum homem , que
tendo tanto , deo quanto
tinha por húa maçãaj vede
fe foi minino. Adam naf-
cido homem , mas ho-
mem minino •, Gonçalo
nafcido minino, mas mi-
nino homem.
E quando come-
çou eíle grande minino a
moílrar publicaméte, que
era minino homem ^ Oito
dias depois de nafcido,
que foi o de feu bautifmo.
Sahiodapia onde os ou-
tros mininos eílranhaó tã-
to o rigor da agua, 8c quan-
do a ama o recolheo nos
braços para o acalentar do
choro,&:lhedaro peito; o
prodigiofoinfinteem vez
de chorarj&: mamar, fitou
os olhos em hum Chriílo
cruciíicado,& com o roílo
alegre , &: os bracinhos
abcrtos,&c cftendidos, pa-
recia que lhe dava as gra-
ças da graça que recebera.
ÃnimeRcvc por largo ef-
paço com admiração , &
pafmo dos circunfl-antes,
fem o poderem divertir da
viíla firme , &: contempla-
ção attenta do fagrado ob-
jedto. E quem negará, que
foi iílo receber o bautif-
mo náo como minino, íè-
não como homem.^ O bau-
tifmojou o recebe osadul-
tos,que íàò os homens , ou
osinnocentes, que faó os
mininos : mas com grande
femelhança no bautifmo,
&com grande dift'erença
nos bautizados. No bau-
tifmo com grande feme-
lhança j porque afiim a
huns como a outros comu-
nica a quelle Sacramento a
graça, & infunde os hábi-
tos de todas as virtudes:
mas nos bautizados com
grande differençaj porque
nos innocentes fícão os há-
bitos das virtudes como
amortecidos fem podcré
exercitar os a£bos delias:
& nos adultos ficão vivos,
Ôcpromptos 5 porque lo-
go, ou produ7:em, ou po-
dem produzir os a£los vir-
tuofos, a que os mcfmos
jiabitos osínclinão. Allim
fcvio no bautifmo de S.
Ago-
S. Gonçalo. 287^
Agoftinhoj que foibauti- devotajôc confiante atten-
zado em idade de trinta &:
três annos, & aílí ni elle co-
mo S.AmbroíIoq obauti-
ZOU5& também tinha fido
baiitizado em idade adul-
ta, compuzeraô extempo-
çaójO da perfeverança.
264 Là diz O Real Pro-
feta do homem que logo
começa, & ha de fer gran-
de Santo : Et erit tanquam
Ugmim^ quodplantatum eji^ç^i^
raneamente5& cantarão o fecus decurfus aquãrum ^^-^
Hy mno, Te T>etimiÇ.m que quodfruBum fuum dabit in
fe contém tantos , & taó
excellentes a£tos , & taó
ardentes aíFedtos de todas
as virtudes. Agora pergú-
to : E a qual deílas duas
differenças, ou claíTes de
bautizadospertéceo nof-
fo Sáto ? He certo, q naó à
dos mininos , & innocen-
tt^., íenaó à dos homens, &
adultos. Porque logo, co-
mo íe o bautifmo lhe in-
fundira naó fó os hábitos,
fenão os a£tos de todas as
virtudes; em não chorar,
exercitou o da fortaleza j
em naó tomar o peito,o da
temperança ; em fixar os
temporefuo\ Que fcrà como
a arvore nova , & tenra
plantada junto às corren-
tes das aguas, a qual dará o
fruto a feu têpo. As aguas
correntes faó as do bautif-
mo: as plantas novas re-
gadas có ellas, faó os bau-
tizados não adultos, fenaó
mininoS)&innocentes: &
deílesdiz o Profeta naô
que dão logo o fruto, fenaó
que o daráó a feu tempo.
Porque ? Porque naquelle
eílado imperfeito da natu-
reza, que he a infância,
aííimcomo tem emmude-
cida a lino;ua , & enfaixa-
olhos,& eftender alegre os dos os braços, aílira as po-
bracinhospara a imagem tecias da Alma comodor-
de Chrifto crucificado , o mentes não efláo promp-
da prudência, o da juíliça, tas,& expeditas para exer-
o da religião, o da fé, o da citar logo os ados das vir-
caridade:&em onaó po- tudes. Crecendo porém
derem divertir daquella depois^ac tomando força s^
.'li
:.'i^<
r^n.
l
li
É
li
1
Sermão de
ou amanhece, raò a Fé, aquelles olhos fí-
2S8^
entaófae ,
como Sol de entre nuvês,
o lume do entendimento,
&darazaó, & entaõ he o
tempo determinado pela
natureza, 6c efperado pela
graça, para poderem pro-
duzir, 6c produzirem os
frutos : Etfruãnm fimm
dabit in temp ore fito . À íli m
fucede a todos os mininos.
Porèmonoífo, como ex-
ceiçaó dos demais, antici-
pando os limites, & vaga-
res da natureza, fez feu o
tempo que naó era feu, &:
léus os frutos que naó eraó
zeráo feu o coração com
que a creraó , & aquelles
olhos íizeraó feus os pès,
ou para melhor dizer , as
azas,comque vencerão as
diílanciaSjque ha de mini-
no a homem , fem deixar
efpaçoemmeyo, Aflim fi-
cou o noílb SantOj&fe mo-
ftrou publicamente mini-
no,6c homem juntamente
no mefmo tempo -, porque
náofendoo tempo feu em
quanto minino , em quan*
to homem,&: com acçoens
de homem o fez feu : Et
do tempo. Reparou , & fruãumfimm dabit in tem*
confidera difere ta mente porefuo.
S.Agoftinho, queosmini- zóf Náoparouopro-
nosvaõ ao bautifmo com digio naquelle primeiro
pès naò feus, 8c crem com dia j mas depois fe conti-
coração não reu,6c confef- nuou com novas , & maio-
faó o que crem com lingua
naófua : ^ar^oulis mater
E,cclejta aliormn pedes ao-
cÕmodatutveniant -i aliorú
corutcredant^ alionim lin-
guam íLtfateantur. E tudo
ifto fízerão feu os olhos do
noflb n-iinino , fíxandofe
cm Chrifto cruciíicado.
Aquelles olhos íizeraó fua
a lingua com que confeííá-
res circunftancias -, porque
o mefmo minino, que en-
tão não chorou,agora cho-
rava irremediavelmente,
& o que entaó não tomou
o peito, agora eftava con-
fiante em de nenhum mo-
do o querer admitir. Não
fe entendia ao principio o
fciircdo deitas lasírimas,^:
abílincaciasi até que final-
mente
S.Gonçalo, 1%^
"mentefe conheceoc| eraó piritualfejamaisnobreno
faudades dos feus primei-
ros amores. Para qiienaó
chor-iíre5(Sc íe deixaíTe ali-
mentar, de que induílria
ufáraó ? Levavaó a Gon-
çalo , ou Gonçalinho à
mefma IgrejasÔc tanto que
punha os olhos na imagem
de Chriílo crucifícado,
cila vifta lhe enxugava lo-
go as lagrimas , & lhe tira-
va o faliiojcom quejàcon-
|:ente,&: goftoíò aceitava o
natural alimento. Hfte era
o único remédio, fem ha-
ver nenhum outro ; cafo
verdadeiramente raro , &
mais íè confultarmos nelle
a S. Paulo. Para intelligé-
cia do grande prodigio,
que encerra, fe ha de fup-
por^que o homem he com-
homem que a animal , a
animal com tudo he pri-
meiro que aeípirimal, Sc
que a efpiritual naó tem
lugar fenão depois da ani-
mal : Non prius quoàfpiri-
tualeeft^fedquod antmaley^^^^l'
deinde quod/pirituaJeMn^iy
fie outra coufa confirma o
Apoftolocom o exemplo
de Adam homem da terra,
de quem recebemos a vida
animal,& foi primeiro que
Chrifl:o:Sc como exem-
plo de Chriílo homem do
Ceo, de quem recebemos
a vida efpiritual, & foi de-
pois de Adam. Ifto he o
que enfina S, Paulo. Va-
mos agora ao que fe via no
noílb Santo. O chorar, ou
naó chorar, pertence à vi-
poftodeduas partes, húa da feníitiva; porque o cho-
animaljêc outra efpiritual: ro he effeito do fentimen-
a animal coníta de duas vi-
das, que faó a vegetativa ,
&fenfitiva i 5c a efpiritual
confiíle em húa fó , quehe
a racional. E que diz S.
Paulo ? Tudo o contrario
do que acabamos de con-
tar do noítb minino. Diz
que pofto que a parte ef-
Tom./.
to : o tomar50u nao tomar
o peito,pertence à vida ve-
getativa -, porque a nutri-
ção he effeito do alimento:
do mefmo modo o chorar
porver a Chriílo, &; naó
admitir gofto íem elle, he
eíFeito da vida racional, &
o mais racional da mefma
T vi^
25ÍO Sermão de
vida. Pois fe S. Paulo diz, meira, que Deos he o ulti-
õJilL^
I .1
que primeiro he no ho-
mem a parte animal, & de-
pois a parte efpiritualj co-
mo eraó primeiro no noííb
minino osa£í:os da parte
efpiritual, & depois os da
animal: primeiro o bufcar,
&veraChriílo,& depois
o ceíTar do choro, & tomar
o peito? Porque S. Paulo
fallava conforme a ley or-
dinária da natureza, & dos
mininos, que primeiro faó
mininos,& depois homés :
mo fim do homem : fegun-
da," que todas as acçoens
humanasjôc propriamente
de homem, devem fer en-
caminhadas a efte ultimo
fim: terceira , que as ac-
çoens, que não levão dian-
te dos olhos efte fim, ainda
que as faça hum homem
de cem annos, naó faó hu-
manas, nem de homem,
fenaó animaes, & de mini-
no,ou bruto. Edigo indi-
ftintamente de minino, ou
porém o noíTo Santo obra- bruto; porque taó animal
vacomoexceiçaó da mef- acçaóheo n>amar , & o
ma ley, 6c náo como mi-
nino fomente minino, fe-
naó como minino junta-
mente homem.
266 Daqui fefegue em
maior aíTombro do cafo,
que o mefmo não ceifar
do choro, oco mefmo naó
tomar o peiro, fenaó com
Chrifto diante dos olhos,
jà não eraó no noíTo Santo
ados animaes , & de mini-
no, fenaó racionaes , & de
homem. Para prova deíla
grande confequencia fup-
ponhocomaFè,&com a
Xheologia três coufas: pi i-
chorar em hum minino »
como o mamar, & o balar
em hum cordeiro. Nem o
exemplo, ou nome demi«p
nino de cem annos he no-
vidade neíle ponto > por-
que mininos de cem annos
chamou o Profeta faias
aos que delle modo obraó:
'Fuerictntum annorum. -Errai. tf c:
como o noífo minino cef- 20.
fava do choro,& tomava o
peito com Chriílo diante
dos olhos, que he o ultimo
fimdohomcm , o mefmo
ceflar do choro, & o mef-
mo tomar o peito, que nos
OUtiO,'
«fe
S.Gonçalo. 291
outros mininos faó acções não muito antes deila,aín-
animaes^demininojiiel- da mudo ,& ainda total-
le eraó racionaes,& de ho- mente infante , jà o noíTo
mem. Oh que grande mi- minino erajuntaméte ho-
nino,& que grande home mem. Tire pois S. Gonça-
fois> meu Santo ! O mefmo lo das mefmas palavras do
S.Paulo dizia de fy : Cum Apoftolo o qumdo autem^
efemparvulust lo que bar ut Sc applicando a fy as pri-
farvulus yfapiebam utpar- meiras,& as ultimas , diga
vulus, cogitnbam utparvu- confiadamente : Cum ejfem
lus : quando autcm faBus parvuluSyfaãusfum vir,
fum vir , evacuavi qua erat
parvuli: Eu,diz o Apoílo
lo, quando era minino/al-
lava como minino , enten-
dia como minino, 6c cui-
dava como mininOjporèm
depois que creci,& fui ho-
mem, ácr^ú tudo o que
era próprio de minino. S.
Gonçalo era muito mais
§^ IV.
167
QS
anto à fegu-
'da vigia , foi
Santo,& admirável Santo
S. Gonçalo na idade de
mancebojporque feito na-
quelles annos Paftor de
Almas C oíficio taó peri-
minino que S. Pauloj por- gofo para a própria, como
queS. Paulo na idade cm útil para as alheas } de tal
que fe chama minino , jà forte acodio a húa obriga-
fallava : Loquebar ut par- çaò fem faltar a outra, que
'z;í////j:& S.Gonçalo ainda a ambas fatisfez adequa-
naòfallava, nem começou damente. Faltavaóihe ao
afallar fenaó dahi adous novo Prelado as cans, que
annos :& quando o Apo- no facerdocio faó os ef-
ílolo do terceiro Ceo era maltes da coroa, 6c na pre-
minino, 6c obrava como lazia o ornamento da dig-
minino,6clhe falta vão ain- nidade •, mas não lhe falta-
da muitos para fer home ; va nada do que as mefmas
n^o neíFa mefma idade, fe- cans íigniiicaó,6c naó pou-
T ij cas
2 92 Sermão de
cas vezes dermentem. Saó Ihores cabeíIos,&:a peor
como as neves de que fem- cabeça, que nunca ouve,
preeftà cuberto o monte foi a de i^ bí aláo : oscabel-
Ethna , debaixo das quaes los vendiãofe a pefo de ou-
feocultaóvolcoens5& m- ro,& a cabeça nenhum pe-
cendiosifaó como as que
o divino Meílre chamou
j^^,,j^ fepulturas cayadas, Sepul-
33.27- chradealbata^ brancas por
fora, 6c corrupção por den-
tro. E também podem fer
como aquella arvore,a q jà
comparamos o noíTo San-
to em mais levantado fen-
tido. Delia diz o Profeta ,
que nunca lhe cahirá a fo
focinha. Mais lhe tomara
eu o chumbo na teíla, que
o ouro na gadelha. Tam-
bém ha cabelloSjque pare-
cem de ouro,& faó de pra-
ta fobredourada i & ido
he o peor, que tem as C2nsj
poderemfe tingir. Náoaf-
íim os cabellos negros,que
não admitem outra cor.
Por iÇÍ'o a Paftora das E-
.Pfalm.
r '.t ;
Sapicnt.
\h^: Folmmejus nondefuet: glogasde Salamão o que
&c as arvores que naó mu- louvou nos cabellos do íeu
dão a folha, tão verdes faó
de poucos annos,como de
muitos. Mas quanto com
maior indecencia fe de-
vem eftranhar nos velhos
as verduras, tanto he dig-
na de maior veneração nos
moços a madureza. As
verdadeiras cans,diz o Ef-
pirito Santo , faó o juizo
íezudo 5 & naó coníiítea
velhice na cor dos cabel-
los, fenaó na pureza da vi-
da : Cam autem funt Jmfus
homints^ ér atasjenc^hitis
vitaim?mctílata:.. Os me-
Paílor, foi ferem da cor do
corvo : Com£ ejusficut eíâ- Cant.-ç,
ta palmar um , rjgra quaji^^'
corvus,
268 Sendo pois o me-
lhor,& maior de todos os
Paftores Paílor, &: mance-
bo, grande louvor he do
noíío Santo fer eleito Pa-
ílor na mefma idade. Man-
cebo era A'^el , & que Pa-
Itormaisrcligiofo ^ Man-
cebo era Jacob, <Sc que Pa-
ílor mais vigilaure? Man-
cebo era David,3c que Pa-
ílor mais animoíb, &: ef-
forcado i*
í^
S. Gonçalo. 293
forçado? Se oLeaó ("diz mes o roílo dos podero-
o Texto 3 lhe tomava o
cordeiro pela cabeça, tira-
valho da garganta pelas
pontas dos pès : & fe lho
engolia pelos pès , arran-
cavaího das entranhas pe-
las orelhas. A idade da ve-
lhice he jà muito fria para
acçoenstaó alentadas, &
tão ardentes. O peor ga-
do de guardar, he o ho-
mem.Quarêta annos guar-
dou ovelhas Moyfes fem
nenhum perigo, & naó ha-
via dous annos,que era Pa-
ftor de homens, quando fó
Deos lhe pode guardar a
vida dos mefmos a quem
cUe guardava. Elle leva-
va-os a beber nas corren-
tes puriííímas do Jordaój
& elles fufpiravaó pelos
charcos do Nilo, & lodos
do Egypto. A maior falta
que hoje fe exprimenta
nos PaftoreSjhe a do valor.
Se S.Gonçalo o naó tivera
moftrado antes, tanta cul-
pa teria quem lhe meteo o
cajado na mão, como elle
em o aceitar. Se nào tens
valor para arcar com os
vicios authorizadosj & te-
Tom.7,
foSjnaò aceites o officio,
diz Deos : Nolifierijudex , ecí
ni/i vaieas irrumfere mi-^-
qtiitat es ^ne forte extimefcas
faciempotentis. No reba-
nho manfo à-AS ovelhas
também ha valentes de te-
íla taó dura,& armada,que
fe batem huns com os ou-
tros, mas todos temem5&
reverenceaóoPaílor. Aí-
íim foi antigamentejqiiá-
doosPaíloreseraó Chry-
foílomos, & Ambrofios,
poftoqueojmais podero-
fos da manada foíTem
Theodofios, 6c Arcadios.
Se os Paftores não guarda-
rão tantos refpeitos 5 elles
foraómais refpeitados. E
aííim o foiS. Gonçalo, po-
ílo que mancebo.
269 Do tempo em que
governou a íua Igreja, di-
zem muitas coufasos Hi-
ftoriadoresjtodas próprias
de hum bom Paílor. Di-
zem que naó fe veília da
láa das ovelhas, nem fe fu-
ftentava do feu leite , &
muito íiienos do feu fan-^
gue. Dizem que o patri-
mónio de Chriíto não o
T '^i] ga-
294 Sermão de
gaíiava com criados, cães, mais a pena que os multa -
oucavallos, nem cóacre- vanabolfa, que a que os
centaracafa, oulheveílir condenava na Alma. Pre-
ás paredes. Dizem que ex- gando pois hum dia o San-
cepta a limitada côngrua to, ^-aíFcando eíle abufo
do próprio fuftento , tudo
o demais diílribuia aos
pobres, & naó comopro-
priocomnomede carida-
de, fenaó como feu delles ,
&:por obrigação de juíli-
ça. Dizem que naó íb pre-
gava aos ouvidos , fenaó
tambem5& muito mais aos
olhosj porque os exem-
plos da fua vidaeraó a al-
ma de toda a fua doutrina.
Eftas 5 &: outras muitas
eoufas dizem os Hiftoria-
dores, mas todas em có-
como tão alheo da Fè, &
Religião Chriíláa j vio
paíTarhâa mulher, que le-
vava húa ceíla de pao,cha-
mou-a 5 mandou lhe que
pozeíTe a ceíla a feus pès,
&: repetindo com voz te-
merofa a forma da excó-
m.unhaò febre os pães,que
eraò muito alvos , fubita-
mente fe converterão em
carvoens. Ficarão aífom-
brados todos , &: muito
maisa pobre mulher, que
deoporpeididooíeupaó.
mum. E porque do tempo Mas depois que com a vi-
emqueonoílò Santo foi íladetaóeítranha , & rc-
Paftor, hum fó cafo refe-
rem em particular / por ef-
tecollegiremososdemaisi
6c vendo como obrava, co-
nheceremos qual era. Ha-
via entre os freguezes de
S. Gonçalo o abufo, que
ainda dura em outros, de
terem perdido o medo às
excómunhoens. Eraó da-
qucl la gente que naó crè o
que naó fe vè , & fentiaó
pentina mudança os vio
perfuadidos ao que naó
acabaváo de entender j
agora, diz o banto , para
que vejais também quam
contrario he o elfeito, que
obra a abfolvição nos ex-
comungados, Vepetio fo-
bre os carvoens as palavras
daabiolvicaò, 6c nomef-
mo momento , &: do mef-
mo modo íicáraó outra
vez
m
S. Gonçalo, 295-
vez convertidos em páes rer Fazer niilap;resà cuíia
taó alvos como dantes
eraó.
270 Feitaademoftra-
ça5dehiini,&:oiitro mila-
grejdiíle S. Gonçalo à mu-
lher, que ievaífe o feu paó
com a benção de Deos: &
aqui reparo muito. Sendo
opaónar-húa, fenão duas
vezesmilagroíbj dobrada
razão tinha o Santo para o
aplicará Igreja. Oh tem-
pos ! Parocho íç,i eu, que à
conta de liúa excomunhão
teve pão com quefuílen-
tar muitos dias a fua famí-
lia , 6c era muito mais nu-
merofa que a de S., Gonça-
lo. E porque náo fez elle
outro tanto ? Ao menos
parece que devera mandar
refervar alguns daquelies
pães convertidos em car-
vão para perpetua memo-
ria, & horror do cafo. Por-
que tornou pois a entregar
à mulher todo o feu paó
taó inteiro no numero, &
tão branco na cor como
do pão alheo.Qiiantos mi-
lagres vemos neííe mun-
do,^ quantos homens, 6c
alvitres milagrofos, & to-
dos ã cuíla do pão alheo5&
nenhum do feu .^ A Elias
fuílentava Deos cada dia
com douspãesj&a S. Pau-
lo primeiro Ermitão tam-
bém cada dia com meyo
pão :6c fendo os Miniíiros
de hum 5 & outro milagre
corvos, fempre o pão era
damefa de quem manda-
va fuílentar os famintos,
& não tomado a outrem. O
maior milagre neíle géne-
ro foi o dos pães,que fendo
cinco, fe multiplicarão a
tantos milhares , que fu-
ílentáraó cinco mil ho-
mens , &; fobejáraõ tantas
alcofas Mas eftes fobejos
para quem foraõ ? Para os
donos dos cinco pães, que
eraôosApoílolos. Seme-
lhante milagre jà o vimos 5
& eltamos vendo. O que
hontem fe cotava por uni-
era dantes \ Porque enten- dades 9 hoje fe conta por
deo o bom, 6c defmtereíià- milhares, ác por milhoens.
doPaílor , que era coufa Mas à cuíla de quem.^Dos
muito fora de razão que- mefmojs que daó a mate-
T iiij ria^
:^.w
29<> Sermão de
ria,5co_cabeda] paraomi- confirmação dous mila-
lagre. E em vez de terem
parte na multiplicação, &
quando menos nos fobe-
jos,atèos feus cinco pães
Ihosexcómungão de ma-
neira, que antes os querem
gresj mas com tal condi-
ção, que o que fízeíTe o
primeiro ,desfizeíle o fe-
gundo. Tomou pois Ge-
deão hum velo de lãa das
fuás ovelhas, & pondo-o
pcrder,que lograr 5 porque no meyo da eyra , diíFe;
lo lhos permitem conver- Quero que todo o orvalho
tidos em carvaó. defta noite caya na láa , &
2/1 O remédio defl-a nada na eyra: Scaflimíu-
grande perdição, &: deíla cedeo. Ao outro dia pofto
grande laílima jà o enfi- o velo no mcfmo lugar.
nou S. Gonçalo , fe ouver
quem lhe queira tomar a
lição. E em que coníiftio o
remédio ? Cófiílio em tor-
nar a converter o carvaó
empaóíaílim como opaó
le tinha convertido em
•carvão. Nãoeílàa perfei-
ção do milagrofo em po-
der fazer os milagres, fe-
nãocm os fabcr desfazer.
E a razaó no noíTo cafo hej
porque quando os mila-
gres faó danofos , para re-
fazer o dano do milagre,
he neceííario que desfaça
ofegundooquefez o pri-
meiro. Tendo hum Anjo
feito hua grande promeáa
a Gedeaòjque também era
ò^i^ç: : Agora quero às a ve-
ças, que todo o orvalho
deíla noite caya na cyra,&
nada na lãa : 6c também fu -
cedeo do mefmo modo.
Mas porque fenão conten-
tou Gedeão com hum fó
milagre, fcnão com dous,
ScquedesfizeíTe o fegun-
do o que tiveífe feito o
primeiro? Porque fequiz
certihcar da promeíla do
Anjo,&: conhecerei eraò
milagres de Deos. Eentê-
deo que fendo o orvalho
bem comum de toda a ter-
rajnaó podia Deos defrau-
dar húa parte delia com o
primeiro milagre,fem que
Iherefizeíleo dano com o
Paílor 5 pediolheelle em fegundo. Ifto hc oquepe-
dio
S. Gonç
d Io Gedeaó , iil:o o que fez
S.Gonçalo , & ido o que
naó ha quem imite. Baila
que tudo ha de fer para o
particular, & nada para o
comum j tudo para o velo
deGedeaó, & nada para a
eyra ? Aílim o exeçutaó
fem nenhúa igualdade os
que querem ter jurdiçaó
atè no que cae do Ceo :
& por mais que as queixas
cheguem ao mefmo Ceo,
nenhum dos que fazem os
milagres os quer desfazer.
Se cuidaó que he defcre-
dito, & menos authorida-
de do poder desfazer o
que íizeraó , enganaófe 5
porque muito mais pode-
rofos fe moílraráó no des-
fazer do milagre, que em
o fazer. Vede-o no noíTo
cafo. Converter o paò em
earvoens, pòde-o fazer o
fogo queimando-o 5 mas
converter os carvoens em
paõ, fó o pôde fazer a om-
nipotência obrando fobre
as leys de toda a natureza.
272 Finalmente nefte
milagre fe retratou o noílb
bom Paftor a fy mefmo, &
moftrou qual era, Eíle mi-
Pfalm,
úlo. 297
lagre teve aveço , & direi-
to : & taes haò de fer os ho-
mens, que governa® ho-
mens. O bom Paílornam
ha de fer todo bondade :
Cum eleão elecius eris , c^
cum perverfo per verter is. \'^Tij\
.Nem tudo ha de fer indul-
gência, nem tudo ceníura.
Ha de ter excómunhoens
para os rebeldes , & abfol-
viçoens para os arrepen-
didos: & tanto para os bra-
ços como os pães , como
para os pretos como os
carvoens. Ha de faber fa-
2er,&: desfazer,converter,
& defconverter.Deos con-
verteo a Nabucodonofor
de homem em bruto,& de-
pois tornou-o a converter
de bruto em homem. A
vara de Moyfes era o mef-
mo cajado com que eile
governava as fuás ovelhas.
Eque propriedades tinha
efte cajado ^ Húas vezes fe
convertia de vara em Ser-
pente, ôc outras de Serpen-
te em vara. Nem por fer a
Ley de Cfiriílo Ley da
Graça,ha de fer nella tudo
graça. A ceremonia com q
oAuthojr da mefma Ley
GOÍl*
298
■'«I
conflítiiío a S. Pedro fu-
premoFaílor, foi meter-
Ihena máo as chaves do
Ceo,6c da cerra. E porque,
ou com que myíterio cha-
ves? Porque a chave tem
huavoka para fechar, &
outra volta para abrir.
Nem ha de fechar tudo có
rigor 5 nem deixar tudo
abertocom demafiada be-
nignidade. Quando for
neceíTario, fechar de pan-
cada; mas fe não for neccf-
fario, não andar às panca-
das. Com ferem porem as
mCigaízs do poder paíio-
ralas chaves , jà eu notei
noutra occafiaó , que naó
diíTe Chrifto, o que fecha-
res, fera fechado , & o que
abrires, aberto j íenáo,o q
atares, Terá atado, & o que
defatares, defatado.E por-
que ? Porque quer Chriílo
que os feus Pailores fai-
baó atar,5c defatar , Sc naó
fejáo homens , que naó
ataó, nem defatáo. Porque
não atão, andão os vicios
Toiros y & porque não ác[-
ataó,eftão as virtudes pre-
fas. Ohfe refufcitára hoje
S^Ççnçalo, cQmo fc havi^
Ser r/í a ode
dever tocado tudo! Mas
temo que o não haviaó de
merecerosnoílbs tempos,
como ta m. bem os feus o
defmerecéraó.
§• V.
273 /^Uantoà ter-
V^ceira vigia ,
foi Santo,6c admirável Sã-
toS. Gonçalo na idade de
varaô 5 porque tanto que
entrou nella , fahio da pa-
tria,&fe partio peregrino
ajerufalem a viíitar osfa-
grados lugares de noíía re-
dempçaó, Sc viver, como
viveo,naTerra Sáta todo o
reftante da mefma idnde.
Não admiro nefta notável
refoluçaó o deixar a pá-
tria, onde o amor natural
coíluma lançar aquellas
íorteSjSc doces raízes , que
tão difiicultofa mente fe
arrancão : mas quando vos
vejo, meu Santo,com o ca-
jado de Paílor trocado em
bordaó de peregrino , dei-
xando as voffas ovelhas,«Sc
de Chrifl:o,porir correr,&:
venerar os paílbs q o mcf-
nio Senhor andou neíla vi-
da para as apafccntar;, 6c
rematou na morte para as
rc-
S. Gonçalo. 299
remirjifl-oheoqiienaófei eíle confelho parece que
admirar baílantemente ,
nem acabo de entender
274 Hiíavezfabemos
que mudou Chriílo os tra-
jos,&íe veftio de peregri-
no: mas quando, ou para
que ? Era no mefmo dia da
fua refurreiçaó , tendo di-
to três dias antes, q quan*
do tiraílem a vida ao Fa-
llor,re derramariaó as ove-
lhas: Terctitiam paftorem ,
O" ãifpergenttir oves gregis,
E porque duas delias hiaó
defgarradas , & quaíi per-
didas de Jerufalem para
Emaús , eíla foi a caufa
daquella peregrinaçam ,
querendo-as reduzir outra
vez o Senhor, & unir com
o Teu rebanho. Pois fe
Chriílo como bom Paílor
fe faz peregrino para tra-
zer duas ovei has deEmaús
a Jerufalem-,como S. Gon-
çalo , que devia imitar a
Chriílo, fe parte peregri-
no a Jeruíàlem , deixando
em Emaús naó duas ove-
lhas, fenão todo o rebanho
de que era Paílor ? Emaús
quer dizer, Cófelho teme-
rofo : Timens conjilium 3 &
Ibid
naó fó foi temerofo , fenaó
temerário. Nota o Evan-
geliíla, que Emaús ellava
diílante de Jerufalem í^^-
fenta edadios, Stadiorum
fexaginta^ que fazem da
noílà medida três legoas:
& fe Chriílo naó fofreo ,
que duas ovelhas fe au-
fentaíTem do feu rebanho
três legoas, & as foi bufcar
ao meyo do caminho: Ipje
lefus ãppropinquans ibat
cum illis ico-cvío fe aufenta
S.Gonçalo das fuás ove-
lhas em não menor diílan-
cia,que de mil legoas,quã-
tasdiíla Portugal de Jeru-
falem .? Mais nota o Evan-
geliíla, que eíla diligencia
afez Chriílo no mefmo
dia, In ipfadie : & fe o bom ibi,
Paílor no mefmo dia aco-
de a húataó pequena par-
te do feu rebanhoj como S.
Gonçalo deixa, & defem-
para totalmente o feu , 6c
fe vai viver tão longe del-
le, não por menos efpaço
de tempo , que quatorze
annos inteiros ^
27 5 Se alguém quizer
bufcar efcufa a hua tão no^
taveL
H'
«If
30 3 Sermão de
tavel refoluçaó do noííb Santa, fora trocar a terra
Santo, difficultofamentea
achará tal que fatisfaça. Se
diíTermos que quiz trocar
a fua terra pela Terra San-
ta ; eíla razão , ainda que
parece pia, não he baftan-
te para deixar o feu reba-
nho, fendo Paftor. Porque
ainda que trocar a fua ter-
ra pela Terra Santa , fora
trocar a terra pelo Ceo ,
devera trocar o Ceo pela
terra, não digo por acodir
a to do o rebanho, fenaó a
húa fó ovelha delle. Que
Paftorha, diz Chrifto, o
pelo Ceo, devera não fa-
zer tal troca,mas deixar,&:
trocar o Ceo pela terra,
nãofó para confervar todo
o feu rebanho,como diziaj
mas para acodir a húa fó
ovelha delle. E fequizer-
mosconíiderar , que a jor-
nada da Terra Santa foi
feita com efpirito, & defe-
jo de lá converter os In-
íieis Mahometanos, que a
dominavão , & habitão,
também eftaefçufa he in-
fuíficiente, &alhea do ex-
emplo de Chriílo. Quan-
qual tendo cem ovelhas,fe do os Apoftolos pedircão
acafo fe lhe defgarrou , & ao mefmo Senhor,que ou
perdeo húa , não deixe as
noventa & nove no defer-
to 5 & và bufcara ovelha
perdida? Aííim o fez o mef-
mo Chriílo. A ovelha per-
dida era o homem : as no-
venta & nove erão os nove
coros dos Anjos : o defer-
to onde as deixou, era o
Ceo : &: fe o bom,& verda-
deiro Paílor deixou oCeo,
& reyo aterra para acodir
a húa fô ovelha perdida;
ainda que trocar S.Gonça-
lo a fua terra pela Terra
viíFeos clamores da Ca-
nanéa, que era Gentia,ref-
pódeo, que as ovelhas, que
Deos lhe encomendara ,
eraó os filhos de Ifrael , &
não os Gentios : Nonfum ^. "]^'
mijfus nifi ad oves qu/epe-
rierunt domus Ifrael. E em
confequécia defta mefma
doutrina mandou a feus
Difcipulos, que fó prègaf-
femaosjudeos, & nam à
Gentilidade : hi -viam gen- Matth.
/ ntm ne abkritis. E como as
ovelhas, que S. Gonçalo
10.^.
. ' I.- . II '
S. Gonçalo. 501
deixava na fua pátria, & na riam : Sc diz o Texto fagra-
fua Igreja , erao as que do, que vendo Deos que
Deos lhe tinha encomen-
dado j ainda que a fua pe-
regrinação ajerufalem fof-
fe com intento de conver-
ter outras do Paganifmo,
comparado efte zelo com
a fua obrigaçaõjnaó fô naó
parece louvável, mas nem
ainda lícito.
2y6 Primeiramêteref-
pondojque a peregrinação
deS.Gonçaio à Terra Sa-
tã , naó fó foi licita, & lou-
vável, mas verdadeiramé-
te fanta 5 porque elie a em-
elle voluntariamente hia,
o chamou, & lhe mandou, j^id.-^
qiiefoíTcCeniensquòdper'
geret ad videndum^ vocavit
eum. Pois fe Moyfes jà Jiia
por fua própria vontade ;
porque o chamou Deos ?
Porque efte era o cafo co-
mo o do noííb Santo , em
que naó bafta a inclina-
ção, & deliberação pro-
priaj mas he neceíTaria ef-
pecial vocação divina. A
Çarça ardente juntamen-
te, & illefa, como dizem
prendeo naõ fó por efpiri- todos os Santos, íignifica o
to, 8c devaçaó particular myfterio, & myfterios da
fua, fenão por impulfo, 6c
vocação efpeciai de Deos.
Vejamosocafo refoluto,
& definido na Hiftoria fa-
grada. Era Paítor Moy-
Íes,& andava nos deíèrtos
deMadian guardando as
ovelhas, que/etro lhe ti-
nha encomendado, quan-
do vio de longe a Çarça
que ardia, & naó fe quei-
mava. Reíblveofeentaóa
ir ver de mais perto aquel-
la maravilha: Vadam^ &
vidtbo vijwnem hanc mag-
redempçaó humana 3 &af.
fimdiílèo mefmo Senhor,
que decéra a libertar o íèu
Povo: ^efiendíutliiferemiKd,^
eum : a terra em que eftava
a Çarça, fignificava a Ter*
ra a que hoje chamamos
Santa, Ôcaílim lhe chamou
a voz da (^^LYf^x.Locus enim
inqtio jias^ terra fana a ejí, '^^^^^^
E para hum PaUor como
Moyfes, deixar como elle
deixou a ailiílêcia das fuás
ovelhas por ir ver, & con-
templar de mais perto os
my*
302 Sermão ãe
myfterios de noíTa redêp- pelo mcyodia, para que o
caó,6c venerar com os pès naó bufcaíTe erradamente,
defcalços a Terra Santa ,
não baila fó a vontade > &
deliberação própria; mas
heneceílaria particular,&
efpecial vocação de Deos :
Cernens quod pergeret ad
*videndum , vocavit eum,
AlHmofez Moyfes, que
totalmente deixou entaó
ooííicio, & o rebanho: &
aííím o fez o noílb Santo
chamado também, & inf-
pirado por Deos, & por ií^
íb náo fó licitajôc louvável,
fenaófantamente, & com
adtode maior perfeição.
2 77 Mas fe foi grande
a duvida em que da fua
parte nos meteo a delibe-
ração do noíTo peregrino
em deixar as fuás ovelhas >
muito maior he a que de-
vemos admirar da parte
de Deos na vocação divi-
na taó efpecial,rara, &: naó
ufadadomefmo Deos, co-
mo agora veremos Pedio
aPaílora dos Cantares ao
feu divino Paftor lhe ma-
nifeílaíTe os lugares onde
apacentava as fuás ove-
lhas , & onde defcançava
& de balde por outras par-
tes : Indica mihi quem dili- <^ant.
git anima mea^ ubipafcasy'^'
ubi cubes in meridie , ne va-
gar i incipiampoji gregesfo-
daliumtuorum. E que lhe
refpóderia o foberano Pa-
ftor? Primeiro lhe diíTcq
naó conhecia quem era: Si
ignoras te \ porque fe co-
nheceíTe fuás obrigaçoens,
naó faria femelhante pe-
tição : &: fem deferir a el-
la, lhe mandou que feguif-
fe as pifadas do feu reba-
nho , & que trataíTedeo
apacentarcomo os outros
Paftores: Egreàere^ cr abi ^.^
poBveftigtagregum^érpaf- ' '^'
ce hados tuos juxta taber-
naculapaJiorum.Qn^m. naó
reconhece nefta breve hi-
ftoria , quam femelhante
foi a petição da Alma fan-
taaodefejo do noílb San-
to: & quam diíFerente a
repofta que elle alcançou
de Chrifto, à que ou vio de
fua boca a mefma Alma,
em que fe reprefentavaó as
de todos os Paílores de fua
Igreja que mais o a mão?
A
f '
45*. Gonçalo. ^05
j\ petição da Alma fanta, he , quam fínguíarm ente
&oderejodo noíTo Santo eítimou Chrifto os aíFe-
era de ver os lugares onde dos também íingulariíli-
Chriftoem fua vida apa- mos com que S. Gonçalo
centou fuás ovelhas com a na fua peregrinação acom*
doutrina que trouxe do panhou os paílbsda vida,
Ceo, & onde finalmente & morce ao mefmo Se-
defcáçouaomeyo dia,nao nhorjpois antepoz efta deJ
à fombra da arvore da vaçaó j&defejoà obriga-
Cruzjenaó pregado , & çaó, 6c cuidado da guarda
mortonella.ííTo quer di- das fuás ovelhas. De húa,
zer, UbipaJcaSi ubi cubes in & outra parte foi defufada
meridie. Mas fe ao noíTo
Santo fendo actualmente
Paftorlhecócedeo o mef-
mo Chrifbo efta peregri-
naçaó,6c que foíle ver, &
viv^er naquelles fagrados
lugares 5 como a Alma, 6c
Paftora fanta, em que eraó
íigniíicados os outros Pa-
ítores, de nenhum modo
lhe defere o Senhor a eftes
mefmosdefejos, & refo-
lutamente lhe manda, que
apacentem as fuás ovelhas,
&que trate cada hum de
feguir naó as pifadas de
Chrifto em Jerufalem , fe-
naóasdofeu rebanho na
fínezajmas muito mais adi-
miravel da parte de Chri-
fto , a qual ainda naó eftà
baftantemente põderada,
^{òi^c pôde dignamente
encarecer ou vindo ao meP*
mo Chrifto com S. Pedro,
iftohe,ao primeiro, & fii-»
premo Paftor com ofegu-
do. Perguntou Chrifto
RedemptornoftbaS. Pe-
dro, fe o amava mais que
os outros DifcipuloS : ^^-Joanc^^
mon loannisy diligis meflus ^iisr.
his > E como S. Pedro ref-
pondefte có a devida mo-
ácíiizyTíifiis T>ommeyqma
amo te-. Bem hbGÍsYÒsS^-'
fua terra: Abipoji vifiigia nhor,quevos amo: Pois,
g^^gum, Pedro, fe meamas, ài^^ o
280 Oquedefta admi- Senhor, Fafce ovesmeas^
ravel diíFerenca fe fegue ^ Apacenta miíxhas ovelhas.
Fei
^oj, Sermão ãe
Feita eíla primeira reco- Io, pois em lugar de Ihedí-
mendação, repetio Chri- zer, que continuaíle em
itid.
íloa mefma pergunta -, &
como Pedro reípondeíTe
do mefmo modo: Pois,Pe-
dro ) torna a dizer o Se-
nhorjfe me amas, como di-
zes, '^Pafce agnos meos^Apz-
centaos meus cordeiros.
Jà as perguntas fobre o
amor eraó duas, ôc as reco-
mcndaçoens do rebanho
também duas , & ainda
acrecentou o Senhor a ter-
. ceira, ^icit ei tertio-^ác íbr-
ite que Pedro fe entritte-
•ceojcomofe o divino Me-
"íl:re,a qiicm faó manifeltós
òscoráçbens, duvidaíTe do
'feuamor, ou deíconfiaíTe
' do feu cuidado. Pois fe três
vezes examina Chriílo o
amor de S. Pedro,naó fô
comograndej fenaócomo
maior de todos, & as pren-
dasqlhepede deíleamor
húa, duas,& três vezes,he
queapacente as ovelhns,&
cordeiros do feu rebanho ,
^afce oves meas-^ ^afce ag-
fiosmeos ^ que novo,ou que
outro amor he eílc de S.
Gonçalo para Chnílo, &
deChriíloparaS. Gonça-
apacentar as ovelhas, que
lhe tinha encomendado,
lhe infpira que deixe as
mefmas ovelhas, & fe par-
ta peregrino a Jerufalem,
naõ fó a viiitar, fenaô a vi-
ver nos lugares fagrados,
onde o mefmo Senhor ti-
nha paíTa do a vida, & pa-
decido a morte?
2 8 1 A mefma vida , &
morte de Chriílo femprc
íixa,& ardente na memo-
ria dono/To peregrino Pa-
fíor não ha duvida que foi,
comodejacob, s fua ama-
da Rachel , pois por cila
fervio duas vezes íete an-
nos naqucUe voluntário
defterro, fendo as fuás fau-
dades as ovelhas, & os feus
defejos, &:fufpiros os cor-
deiros que apacentava, co-
meçando dcfdc Nazareth,
&: acabando no monte O-
livete , &: repetindo cílc
amorofo circulo com tan-
tas paufas , &: eílancia.ç,
quantos eraó, ou tinhaó fi-
do ospaffos do feu aulente
amor. Mas quem nos aca-
bará de defcobrir o niylte-
rio
S. Gonçalo'. ^of
fio deíla taó íingiflar no- Te naó podia apartar áú-
vidade,& fem exemplo na les. Oh íingular,&admira-
eftimaçaó de Chriílo ? O vel fineza ! E cila digo em
primeiro penfamentoque
meoccorreo, foi, que em
premio da pureza virgi-
nal , que perpetuamente
guardou o nofíb Santo, lhe
quiz Deos conceder na
terrayo que fó concede aos
Virgens no Ceo. Hepri-
vilegio concedido no Ceo
aos Virgens 5 diz Saó
Joaóno Apocalypfe, que
clles fó íigaó ao Cordeiro,
que he Chrifto, a todas as
partes por onde, & para
onde for : Virgin es enim
funt : hi fequuntw Agnum
' quoctimqueierit.V orem os
Virgens no Ceo naó fó fe-
guem os paífos do Cordei-
rO:,mas vem o mefmo Cor-
deiroj & S. Gonçalo na ter-
ra fem ver, nem poder ver
o Cordeiro , lhe feguia, &
adorava os paífos. Elles
feguem os paífos do Cor-
deiro onde eílà o Cordei-
ro j mas S.Gonçalo naó fe-
guia os mefmos paífos on-
de o Cordeiro eftiveífejfe-
naó onde tinha eílado, &
fó porq tinha eílado alli,
Tom.7,
conclufaó , que foi a que
Chriílo aílim amado tan-
to eílimou. A primeira
peíToaaquê Chriílo apa-
receo na manháa da fua
Refurreiçaó, foi à Magda-
lena. AíIlm o dizem os E-
yangeliílas. Mas porque
mereceo a Magdalena naó
fó com exceiçáo de todas
as outras devotas mulhe-
res,mas também dos mef-
mos Apoílolos 5 eíle taó
fingular privilegio ? hç,àQ
a Hiftoria fagrada, 8c o que
ellafez,& os outros naóíi-
zeraójôc achareis arazaó.
As outras Marias, como os
Anjos lhe diíreraó> que o
Senhor refufcitára, & naó
eílava alli, foraófe : S. Pe-
dro, 8c S Joaó como acha-
rão no fepulchro a morta-
lha, 8c o Sudário, 8c naó o
íagrado corpo, também fe
foraó : porém a Magdale-
na fomente porque fabía
como os demais q aquelle
era o lugar onde o Senhor
fora fepuitado, iflo fó ba-
ilou para que perfeveraíic
V Au
li!
^^o5 Sermão de
alli,&: naó fe apartaíTe do do abazterno a Sabedoria
mefmo lugar. De maneira divina, que he o nicfmo
queos outros deixarão o Verbo^&dizquerecrean-
fepulchro,porque Chriílo dofe pelos lugares da ter-
naóeílavanellejporèm o ra^eráo as fuás delicias ef-
amorda Magdalena naõ tarcó os homens :2)^//?í^^-praim;
fe fou be apartar do mefmo i?ar jjerjingulas d'm , htdens ^•^'•^'•
fepulchroi porque ainda inorbe terrarum,& delicia
ijue o Senhor naó eftava
aielle,tinha eftado. E afllm
como bafl-ou, que Chriílo
tivti^Q eftado dentro da-
^uellas pedras, para que a
Magdalena fe naópodeífe
apartar dellas,eíla foi tam-
bém da fua parte a iineza,
^da parte do mefmo Se-
nhor a razaó,porque tanto
eílimou o feu amor , & o
antepoz ao de todos.
282 Deíle mefmo mo-
me£ ejfe ciimfilijs hominum.
Mas fe ainda então não
havia homensjquc eíliveP
fem naquelles lugares, co*
mo tinha as fuás delicias o
Verbo em eílar com ellcs?
Porque ainda que os ho-
mens então não eílivelTeni
alli, haviáo de eítar de-
pois. Como fe diíFera o
Verbo : Aqui ha de eílar o
Para ifo terreal, & as fuás
delicias eráo eílar com A-
doaíliília S. Gonçalo náo dam: Aqui feha de fabri-
fóaofepulchro de Chri- cara Arca, & as fuás dcli-
llo,íènáo a todos os outros
lugares, em que o Senhor
vivo, ou morto tinha eíla-
dotrefpondendo , êc pa-
gando com eíla fineza o
amor, com que o mefmo
Chriílo em quanto Verbo
tinha todas as fuás delicias
ab xterno em eftar com os
homens na terra. Notai
muito. Traçava cite mun-
ciaseraó eítar com Noé :
Aqui fe fundará a Cidade
deHebron, &: as fuás deli-
cias eráo eítar com Abra-
ham.- Aqui fera a terra de
HuSjScasfuas delicias eráo
eítar com Job: Aqui fe le-
vantará o monte Smay, &
as fuás delicias erão citar
comMoyfes:&: aílim dos
outros homens, ^ dos ou-
tros
§. VL
283
QUanto â quar-
ta vigia , foi
Santo, Sc admirável Santo
S, Gonçalo na idade da ve-
íliicej porque paílandofex
humdefertoa fazer vida
eremitica, foube deixar 9
mundo 5 antes que o mudo
o deixaáè. Naó quiz queo
achaíle a morte dentro doá
S.Gonçah: . 30/
tros lugares. Do mefmo
modo S.Gonçalo. Em Na-
zarech dizia : Aqui encar-
nou o Verbo: em Belém,
Aqui nafceo : no móce Ta-
bor,Aqui fe transfigurou:
no Calvário, Aqui morreo:
no OUvecejDaquifubio ao
Çeo:6cem todos eftes lu-
gares erão as fuás delicias,
cftar com Chriílo > não
porque alli eftiveííè, ma^
porque alli tinha eftado. *icuciin-aiiivji.uv,«wivi.v^«.vy*
De forte que o Verbo fup- muros do povoado j mas
pondoofuturOj&S. Gon^ eilerefahioao defertopa-
çalo fuppondo o paíTado , ra a efperar em campanha,
ambos có o mefmo amor, Oh que valente refoluçáo,
& com a meíma fineza i o 6c que bem entendida!
Verbo tinha as fuás deli- Como a velhice héo ori-
€Íascomos homens, onde zontedavida,&daniorte,
não eftavão , porque ha* oorizonteondefeajuntaa
vião de eílar j 8c S. Gonça* terra com o CcOySc o cem-
lo tinha as fuás com Chri* po com a eternidade; que
íl:o,onde não eftava , por- refoluçaó pode haver mais
que havia eílado, E por ef- bem aconfelhada, & mais
te modo excellente, 6c íiíi* digna da madureza de hu-
guiar comprío melhor que mas canSjque dçdicar à có*
todos o noflb peregrino o templação da mefma eter-
queDeos prometeo por nidade aquelles poucos
ffaias , que havia de fazer dias,8c incertos , que pôde
glorio fos os lugares onde durar a vida .^ Não foi ad-
tinha poíío os feus pès : Et miravel o noíTo Santo ve-
lociimpedim m^orum. glori- lho,porque iílo fez^mas he
!í' ^'^ ficabo, verdadeiramente admira-
^ Vij M
?°f Sermão de
vel,porque fez o que deve- que contamos , tanto mais
Senec
raó fazer todos os velhos,
&não vemos algum que o
faça. Notou judiciofamê-
3 teSenecajquede todosos
ou tf os géneros de morte,
fendo tantos,&: tão vanos,
pôde haver efperança de
efcaparjfóa morte qtraz
comíigo,ou aposfy a ve-
lhice, he morte fem efpe-
rança. Mataadoença,ma-
ta o incêndio, mata o nau-
frágio, mata a efpada, ma-
ta a feta,ou defcuberta, ou
faó as raízes com que efta-
mos pegados à terra. A 'as
confideremos quamdiíFe-
renremente tinha paíTado
o noíib Santo velho as ou-
tras ilias idades , do que
nòs temos vivido, ou def-
baratadoas noíílis, & eíla
feja a maior advertência
de o reconhecermos por
íingular , & venerarmos
por admirável.
284 Emfímnáo tenda
S. Gonçalo porque fugir
atraiçoada, mas de todos defy, íug.odenòspara o
eftes géneros de mortes feu deferto, & levantando
muitos efcaparao y ío da húa pequena Ermida fo-
morte da velhice ninguém bre as ribeiras do Rio Ta-
efcapou : AUagenera mor-
tisfpei mixtafimt.nihil ha-
ht qiiod fperet quem f ene-
ãus dticit admortem. E fen-
do táo defefperada eftaef-
perança,mais á:i^r\:às faó
para mim de admiração as
maga, fabricada pelas me-
didas do feu eíJDirito 5 alli
fó por fó com Deos em-
pregava os dias , & velava
as noites na altjílíma con-
templação daquelle fum-
mo bem, que cedo efpera-
- rr 11 • , 2 — ' *"^ «^v-tii, uuk. v-tuu cinera-
noílas^v^lhices, do que foi vagozarcomavu^a. Naó
a aeb.Gonçalo, pois nos havia,oufc ouvia naquelle
não dcfenganamos com
ellas. Quanto mais temos
vivido neíle mundo, tanto
mais amamos o mefmo
mundo^éc a mefma vida5&
quanto mais iaó os^nnoí.
hemaventurado lugar al-
gum ruído, que perturbai
Ic a quietação do Santo
Anacoreta, fcnãoa tépos
demundaçocns , ^ rcm-
pcíbdcs os gemidos, ac vo-
zes
S. Gonçalo. ^ ^o^
€cs mortacs dos que arre- debaixo dos pès dospaíTa-
batadosda fúria , Sc cor-
rentes do Rio taó impe-
tuonis,como fubicas, ou ef-
pedaçadosnospenhafcos,
ou afogados no remoinho
das aguas pereciaò lafti-
nioíliniente, & íèm remé-
dio. Eraó muitos todos os
annos os miferaveis nau-
geiros a braveza, 5c fúria
do Rio,que a tantos tinha
acto.
trag
2^f Grande em pfefai
mas táo aíhea do fogeiro
que a emprendia , como
difficulrofa ,&: impoíTivel
por todas fuás circunftan-
cias. AíTim fe riaô agora do
fragantes3& muito mais as imaginário remcdio os ^
lagrimas dos que nelles tantas vezes tinhaó chora
perdiaó filhos, pays , ou
maridos. E que faria quá-
do ifto ouvia, &c via hum
coração taó cheo, & abra-
zado do amor divino ?
Quanto maior he nos San-
tos o amor de Deos , tanto
mais forte he, Sc mais foli^
cito o amor do próximo.
Orava continuamêce, mas
do os verdadeiros perigos,
E certamente quando íc
naó confideraíTe no novo
architevlo mais que o pe-
fo, & debilidade dos an-
nos 5 a velhice he idade pa-
ra ter trabalhado , & naa
para trabalhar,para ter fei-
to, mas naó para fazer. E
que proporção tem Ç di-
porque de ordinário para ziaò} as contemplaçoens
remediar os trabalhos hu- de hum Anacoreta comas
manos naó baftão as máos execuçoens,&; adividades
Ocioías, pofto que levan- de húa taó grande obra?Sc
4:adas a Deos : refolveofe o S.Pedro foi chamado nef-
efpirito de hum pobre, ôc cio , porque fendo pefca-
folitario Ermitão ao que dorquiz fazer tabernacu*
iiunca fe atreverão a inté^ los -, que fe diria do noíío
tar os braços poderofos Ermitão determinado a
dosReys, que foi uniras fabricar pontes.^ A fuper-
duas ribeiras do Tamaga ficie defta defaprovaçam
Çjpm húa ponte » ^ meter do vulgo ainda tem mu irg
^i::. /fom7> Y iij ma-
^"li
l uc j o
41 r~.
maior Fundo naThcologia
erpiritiia],&: afcerica.QLiá^
do Marcha fe queixou de
que Maria fua irmáa a naò
aiudaíre,oquelhe refpon-
deo o divino Meílre, foi:
Manhãs Manha/jolicitA
es 5 ér turbaris erga phiri^
7na Maria optimampartem
elegit : EíTe voíTo cuidado,
Martha,poftoque bemin-
têcionado, não lerve mais
quede vos perturbar , ^
divertirem muitas coufas
alheas da proíiílaó de Ma-
ria: & fe cuidais que ella
aíTentada a meus pès , &
ouvindome eftà ocioía,
enganaif-vos -, porque ef-
colheoaparteque Iheeftà
melhor, 6c mais me agra-
da. ^ iílo meímo parece
que eíiava dizendo, ou di-
stando a S.Gonçalo a dou^
trina de Chrifro naquelle
cafo,&: contra a fua decer-
jninaçaó. Maria íignihca a
vida contemplativa, & in-
terior, que he a: que pro-
feíTaó os Eremitas ; Mar-
•tha figniíifa.avidaaanra,
^uehea que le emprega
em acçoens extcriorcs,po-
fto que cm fervido 'de
'ma o de
Deos,&: do próximo ; & fe
eíla das portas adentro
dehuaçafa, & occupada
fó em preparar o que lhe
parecia neceíTario para
hua mefa , divertia, & per-
turbava tanto a Martha;
qual feria a perturbação,&
perpétuos divertimentos
do noíTo Ermitão, empe-
nhada a fua velhice na fa*
brica dehúa ponte taòdif-
íiculcoía ? Pareceme qu<?
eílou ouvindo os ruidos
dos carros, dos penhafcos,
dos madeiros , &a conti-
nua bateria dos inftrumé^
tos dos OiTiciaes, &trabar
Ihadores, huns desbaftan*
do, outros lavrando , ou-
tros fabricando, 6c levan-
tando as machinas para
fuítentar os arcos, & guin-
dar, 6c aflentar a pedraria
ja hivrada ; Sc o author , 6c
fuperin tendente da obra
no mcfmo tempo dividido
em tantas partes, com o
cuidado, 6c os olhos nas
máo6 de todos. Vede fe có-
petiaaeíla fua jRidiga me-
lhor que a Martha o Soli^
cita es , (^ turharis ergapltp^
rm^, :.
• V ' • ^' • Mas
S. GonçA
i%6' Mas efta mefma
era a maior prova do ai-
tiííimo grão da contem-
plação a que o efpirito do
San'to Eremita tinha fubi-
do. A Alma que chegou ao
cume da perfeição da vida
contemplativa, nem asacr
çoens lhe divertem a con-
templaçãojnem a contem-
plação lhe impede as ac-
çoens 3 mas toda dentro5&
toda fora de fy, juntamen-
te eílà obrando no exte-
rior,& no interior cótem-
plando. Que vida mais
a£tiva,&: mais aduofajque
a dos Anjos fempre occu-
pados5& nunca jà m ais di-
vertidos ? Omnesfunt ad"
. mintftratorijfpiritus in mi-
nifterinm míffi. Os Anjos
da guarda de dia^&i de noi-
feeftão velandojcada hum
íòbre o homem que lhe ef-
tà encomendado : os Cu*
ílodios dos Reynos , &
Monarchias íèmprc atten-
dendo ao governo, & con-
fervação delias na paz, &
<ia guerra, & em tantos ou-
Çros accidentes , que nun-
ca paráoros que guião com
tanta ordçm, & concerto
lo. Cíli-
os AílroSj cada hum mo-
vendo a fua eílrelía, quaíi
todas maiores que efle
mundo. E de todos diz
Chrifto : Semper videntfa-^ \ %,ip\
ciem ^atris , qui in Calis
eft : Que eílão fempre con-
tem plando a face de Deos>
comofe eíliverão no deí-
canço>5cíbcegodo Empi*
reoíem outra occupaçãOj
ou cuidado. E tal era a c5^
templaçáo verdadeiramê--
te Angélica do noííb Ana-
coreta, tão quieto , & fem
perturbação no meyo da
tumulto, & trafego da fua
obra , como fenão tivera
fahido da ília Ermida. Po-»-
dendofe dizer delle o que
do mefmo Deos , de cuja
vifta nunca fe apartava :
Immotusque manens das
cunEia movéri.
2 87 Vencida efta pri-
meira apprehenfaó , & co-
nhecida a concordiaj&ar-
monía, que confervão dê-
trono mefmo efpirito, fe
he perfeito , a vida adiva ,
& contemplativa , a qual
não entendião os que con--
íideraváo o noííb Eremi-
ta divertido do exercicio.
V iiij da
ií
fu
•^^^ ^ , Sermão de
da fua pronnaó 5 feguefe a do qual diz S. Paulo, aue
regunda.cm que toda a tudo crè, tudo efp era ,^^
prudência, & providencia com tudo poác:Omnia cre-
humana podia reparar
muito. E qual era? Que
hum homem fó, &: defaíFi-
íHdodetodaaoutra com-
panhia, 6c poder, íe atre-
veíTea hua emprefa , que
muitos, & muito podero-
íos juncos jà mais empren-
deriáo,nem imaginavam
poílivel. Se os fabricado-
res da Torre de Babel, fen-
do todos os homens que
T.Cot.
II. 7.
dit^ omniafperat , omntafn
ftinet. Hu dos que fe acha-
rão entre os edificadores
da Torre de Babel , foi
Noè j & he coufa bem no-
tável, que a ellefó enco-
mendaíFej&dellefó fiaíFc
Deos a fabrica da Arca.
Fac tibí Arcam de ligms^tvxC
Uvigatis, lhe diíTc o fupre- '^ '•*•
mo Architedo daquella
novamachina, & prefcre-
, , — 1 — *iwvrt iixai^iiiija, oc prcicre-
havia no mundo juntos, & vendolhe a traça, a forma,
unidos no mefmo penfa- &as medidas com tanta
inento,o íim,& effeito que
confeguiráo, feia confu-
íaó,& defengano da fua te-
meridade > verdadeiramê-
|:eparece, que náo faziam
grande injuria às caos, &
prudência do noíJb Santo
veiho,os que reprova vão,
que elle fendo hum, Sc fó.
ain
da
miudeza,nem em comum,
nem em particular faz
mençaó de outro Artiíi-
ce 5 ou companheiro, que
ouveíie de ter parte na
obra,fenaóo meímoNoè
fomente: Manjiunculas in
Arca factes ^ Ò' bit imine li-
mes intriníecus^ & extrin- ^^'^ ^»
que a fua idade ficns-.&jir fácies eam.Voís''''
foffe mais viva, & mais ro
buíla 3 intentaíle húa tal
pbra. Mas o que ninguém
cria, nem efperava , mten-
fou,profeguio,& levou ao
lim cm S. Gonçalo a cari-
fe a fibrica era taó grande,
& taó nova,& previa Deos
que todos os homens do
mundo,cntrando nelte nu-
mero o mefmo Noé , nam
haviam de poder confe-
tí;ide,ôcamor dpProximp, guir, nè cgncinuar aquclla
!••;
S. Gonçalo. ^rjf
Torre na terra , havendo var dismiindiçoens do
decereíla fabrica os ali-
ceíTesfobreaagua; como
a encomenda, &: íiadehu
fó homem ? Porque o in-
tento da Torre era a vai-
dade, o intento da Arca a
caridade. O intêto da Tor-
ra era celebrarem os ho-
mens o feu nome antes de
fe dividirem : Qeiebremus fuerit fundamentmn^ & non
Gcneí. nomen noftrum antequam potuerit perficere^ omnesquh
intento da
Rio.
288 Mas ainda aqui nos
falta por dar íatisfaçam a
húa grande máxima da
doutrina de Chriílo. ^is
exvobis-volens turrim (edi-
ficarei nonpriusfedens com» \.x\c.x^
putatfu mptus^ qui neceffa- ^ ^ • ^9-
rtj fimt : nepofieaquam po-
dhndamiir : o
Arcaerafalvaros homens
da inundação univerfal
do Diluvio: Utpoffim vi-
vere : &c quando para con-
feguir os intentos da vai-
dade, naõ baftaô todos os
homens; para os da cari-
dade, por árduos , &z diili-
cultofos que fejaõ , baila
hum ío homem. Trocai
vident-, incípiant iUitdere etí
Que homem ha de vòs > O
qual querêdo edificar húa
torre, naó lance primeirp
asíiias contas muito deva'-
gar, &: computando o ca-
bedal com asdcrpefasi nap
vejafe he baílante \ por^
lhe naó aconteça começar
a obra, 8c não a poder aca-
bar,ficandoella, ^elleex-»
agora o nome de Noè em poílosaorifodas gentes ^
Gonçalo,o da Arca em Pó- Ifto he o que enfína Chri-
te,&:odo Diluvàoem Rio: fto Senhor noílb, & efta$
& vereis quam bem fun- faóascontas, Sco compu-
dada foi a caridade do nof- to que devia fazer o noííb
ío Santo na efperança de Eremita antes de pòr^nao
famento à obra : ver
meiro fe tinha com
levar ao cabo afua obra-, digoa máo, fenaó o pen
poisailimcomo a deNoè
era para falvar os homens
xla inundação do Diíuvioj comprar os matenaes, có
aíTim afua era paraosfal- ^que pagar aos Meílres, cq
pn-
que
o:>
314* Sermão de
que fazer ^ feria, & fuften- fabulas, que Orfeo com a
tar os trabalhadores, &ir. fua Cithara edificou os
to naò fó para começar a muros de Tliebas', porque
obrajfenaô para a pòr em era tal a doçura , & fuavi-
perfekaó. Agora pergun- dade daquelle pequeno in-
ço fe fez S. Gonçalo efte ftru mento tocado porelle,
computo? Digo que fim, que levava após fy as ar-
voresjos montes, os rios,a5
feras, & atè a liberdade
dos homens. Aífim creciap
fabulofamenteemTheba^
os muros, & aílim em A-
marante verdadeiramente
aponte.
289 DerãolheaS. G6-
& com taó nova , & a bre
yiada Aritmética, q todo
o refumio a duas adiçoena
fomente : primeira,Eu naó
poflb nada : fegunda, Deos
pode tudo.O mefmo tinha
jà feito S. Paulo, quando
diÇCcOmnia pojjum in eo
Philip. ^^\ ^^ confortai : Eu pelas calo huns touros bravos,&
é-^i- minhas forças nenhuma feros,&ellecom a voz de
coufapoíToj mas pelasque húafó palavra osamanfou
Deosmedà, fou todo po- de maneira , que logo to-
derofo. Tal era o efpirito , máraó o jugo,& tirara ó pe-
6c tal a confequencia do lo carro, feguindo a quem
noíToSantoiporqueeunaó esguiava, comofetiveraó
poíTonada , eufem Deos eníino de muitos annos.
Dão poderei mover huma Chegava à ribeira do Rio,
pedra : mas porque Deos chamava os peixes, & eiles
pôde tudo, eu com Deos, corrédoem cardumes fal-
&Deos comigo bem po- tavãoaospèsdoSanto,em
detemos fazer aponte. E quanto elle não dizia ba-
aííl m foi. Naó deo Deos _
S.Gonçalo a Vara deMoy-
fes i mas para lhe dar ainda
mais, deolhe a Cithara de
Orfeo,f:izendo-ade f:ibu-
íofa vcrdadeixa,CoataQ as
lia, & os demais com fua
benção fe retiravaó para
tornarem outra vez quan-
do foíTem chamados. Era
neceíí:u'ia agua para mais
ftcil íerviço da obra,tocou
a SAn<
S.' Gonçalo. 3 ^ f
o Santo velho com o feu co, elle eícurandofe por ef-
bordaó em hua pedra , Sc tar fora de caía, lhe refpó*
correo logo húa fonte: mas deo, que íiiã mulher o foc-
porquea agua bailava pa- correria5dandolhe para ei-
ra fatisfazer a fede, & nam la hum efcrito. Recebeo-o
para alegrar, & dar forças a mulher, & rirídofe para o
aos trabalhadores , tocou Santo,lhe diíTe : Padre Er-
.rioT
•1?
do mefmo modo em outra
pedra, Ôc (ahio delia outra
fonte de vinho. Trabalha-
vaô muitos braços, & mui-
tos inftrumentos para aba-
kr hu m grande penedo ,
(em elle fe mover, mas cô o
impulfodehuafó maó do
Santo, mais como andan-
do por fy mefmo ,que le-
vado por força , fé foi pèr
onde erà necéíTariOvForé m
como ha homiens mais du-
ros que as pedras , Sc mais
irracionaes que os brutos j
aili m como com elies per*
fuadindo-òs (O Saiito fúal
vemente a quanto queria,
femoílrava mais evideni
temente a oculta divinda-
de , que lhe governava a
lingua vâílim ouve hú tão
duro, & tão afbuto, que pe*
dindolhe o pobre Ermi*
táo,em cuja fantidade naõ
criajalgum foccorroparaa
mitáo, efte credito não vail
nada •, porque o que nelle
me diz meu marido , he q
vos dè de efmola quanta
pezarefte papel. Defpedi*
do taò íècam ente, replicou
com tudo o Santo ,que f$
pezaífeopapel como mã»-
dava o dono da cafajSí qu«
elle pelo pezo fe contenta*
ria có a efmola. Cafo vèr*
dadeiramêteda.máo ocul*
tadeDeos! Poz-feo papel
em húa parte da balança ^
& quando parece que ba-^
ftavaõ poucos gráos de tri^
go l^araia por em equili^í-
brio, viera 6"facos5& maia
facosj&po dera vir todo Q
ceileirojfem igualar o pezo
do papel, que naò chegava
a húa folkav Là fe queixa»
va Job de 'que a Omnipo*
tencia divina para o mor%
tiiicar' , ofleãtaíTe feu in A^
nito poder contra húa íok
fua.Qb-ra, .^or íkzmmm *> ilia,quetea ç vçatQ 'r- C^tu
/ >"
3^^ Sermão de
Job. 13 trafolhim.quoãvento rapi- como diz Plínio, he huma
^s- turyoífendíspotentiam tua: flor, a qual porque nunca
^ cà para canonizar a S. fc murcha, mereceo dcfde
Gonçalo oílenta feu poder a antiguidade o nome de
a divina Potencia em fazer immorcal. líTo íigniiica o
taó pezada húa meya fo- mefmo nome que Ihepo-
ina , que nenhum pezo a zeraó os Gregos,por onde
podcíie Igualar, nem leva- lhe cantou a immortalida^
tar,nem mover. AlTim có- de o Poeta h^ninodmmor*
correo Deos juntamente talesqtie Amararithi. E fc
como noíTo Santo no co- bufcarmos no Evangelho
jneçar,no continuar, Seno eíla quinta vigia , achare-
aperfeiçoarafua obra 5 & mosque depois de failar
alFim a deixou perfeita, & exprelTa mente na fegúda,
acabada para tanto bem & terceira,& fuppor nefla
de tantos, antes que a ulti-
ma idade IJie acabaílc a yi^
4%'7 ói^O j. ■ ofíiio -'• <; a íii-í
, ; apo ^"^Oncíuídastaó
V^^ felizmente as
quatro vigias, 6c idades da
vida humana, qual cuida-
mos que feria a quinta vi-
gia, que eu prometi do
iioííb Santo , naójà de vi-
yo,&: mortal, fenaôdeim-
-mortal, & depois da mor-
te ? h íla nova prerogn ti va
mais parece que lhe con-
vém a S.Gonçalo de Ama-
rante pelo fobrenome,quc
pelo ijome. O Aniaxaatho^
mefma conta a primeiraj^c
a quarta , introduz em
quinto lugar outra inde-
terminada , & nella hum
Pay de famílias muito vi-
gilante : §hiontamfi feira
'Pater famílias qtia horafur \^^^' ^■
veniret , vigilaret utique,
Eíla pois, naó das idades
que tem íim , mas da vida
immortal quenaó acaba,
foi,iSchea quinta vigiado
noíTo Sanro , na qual lhe
quadra admiravelmente o
nomedePay de fiimiliasi
porque elle verdadeira-
mente he o Pay univcrfal
nam íó daqucllagrande,&
numerola, PrQYÍjucu>mas
de
S. Gonçalo, 517
de todas as viíinhas , 6c có- cilía nas difcordias -, elíe
íinantes j as qiiaes em tudo emíim, fe andáo defgarra-
oqiiehaómifterde perto, doSjOs encaminha , & tal
& de longe, a eile recorre, vez os caíliga tambê amo-
Sò quem o vio, o pode có- roíam ente , para que nao
tarj&crer. Se naó tem fi- degenerem deíilhos de tal
lhos, a S.Gonçalo os pedéj
& fe tem muitos,a S. Gon-
çalo confultaó fe os haó de
mandar à guerra, ou ao ef-
tudo, ou aplicar ao arado.
Sehaò de caiar as filhas, S,
Gonçalo heocaíàmentei-
ro,&feos próprios pays,
ou não podem, ou fe átí^'
cuidáo de lhe dar eftado, a
lembrança que ellas por
modeítiaiè naó atrevem a
lhe fazer , a fazem em fe-
Pay.
291 Por todas eftas ra-
zoens confirmadas có infi-
nitos exemplos me parecia
ao principio, quecò o no-
me de Pay de familias fa-
tisfazia S. Gonçalo às obri-
gaçoens da quinta vigia,
que lhe acrecentamos à vi-
da. Mas bem confiderada
o que depois de morto, òc
immortal obra , & eítà
obrando cada dia em be-
gredo ao Santo, que como neficio dos que o invocaó^
mais poderofo, & mais vi- não ha duvida , que lhe vé
gilantePay, fe naó defcui
da. A elle encomendaó os
Paílores os gados,6c os La-
vradores as fementeiras: a
elle pedem o Sol , a elle a
chuva : &o ' anto pelo im-
pério que tem fobre os ele-
nientos,afeu tempo,& fo-
ra de tempo os alegra com
odefpacho de fuás peti-
çoens. Elleosremedea nas
pobrezas, ú\q os cura nas
enfcrmidades,elie osrecá"
muito curto eíle nome. E
para inventarmos algum, 4
iguale as medidas, & encha
o conceito de fuás mara-
vilhasjaílim como ao prin-;
cipio diífcque no feu naf-*
cimento foi minino como
home, ailim digo por fim ,
que depois da fua morte
foi homem como Deos:
Alguns annos depois de
morto S. Gonçalo em oc-
^fiáo de húa extraordiná-
ria
m
318 Sermão de
riu tcmpeílade vinha tâo todos graças a S. Gonçalo,
cheoj&furiofo o Rio Ta
maga, que náo fó levava
envolto com figo quanto
encontrava nas ribeiras,
mas também nos montes.
Entre outras couíàs vinha
atraveííàdo na corrente hu
carvalho de tanta grande-
za, que julgarão attonítos
quantos o viaó,que baten-
do como pezofeu, & das
aguas a Ponte, arruinaria
os arcos, 6c a derrubaria
feni duvida, S. Gonçalo,
que peio Habito, & lugar
donde fahira viíivelmen-
te, fe lhe manifeílou quem
era. E eu torno a repetir,
como dizia, que neíla ac-
çaó,bem entendida, mo-
llrouonoííb Santo, q para
com as fuás obras nam fe
portava como homem ho-
mem, fenão como homem
Deos.
292 Entre as caufas fe-
gundas j comofaô osho-
menSj6ca cauíli primeira,
C gritarão todos^S. Gon- quehe Deos, ha tal diíFe
calo, acudi àvoíía Ponte: rença comummente no
eisque no meyo deftes cia- obrar,que das caufas (c^xx-^
mores vem fair da Igreja das,comofaíláoosFílofo-
hum Fradinho veílido de fos,dependem as obras fó-
branco com o manto ne- mtntc infierí-y mas dapri-
gro, & hum cajadinho na meiracaufa dependem in
máo, o qual voando pelo feri , ó-inconjervari: dasl
ar ao Rio , lançou a volta caufas fegundas depende
do cajadinho a hum ramo as coiifas quanto ácriaçaój
dotronco,&fazendo-ocn- masdacaufa primeira naó
canar, 6c embocar direito fó dependem quanto à
pelo olho do arco maior, criação, fenaó tambê quá-
çllepaíTou precipitado c6 toàconfervaçaó.Quantoà
a corrente, 6c a Ponte fem criação, Deos,6c o Pay gc-
dano,nê perigo, íicou taò
íirme,6c inteira como fora
edificada. Com iguaes cla-
mores, 6c triunfos deram
raõ o Filho : quanto à con-
íèrvaçaõ, Dcoshefóoquc
o confcrva fcm dependên-
cia, nem concurlb do Pay.
Da-
mas obras as tinha Deos
criado,& feito para as fa-
zer: Ah 9mm opere fu&^quod
creavit 'Deus 5 ut faceret.
Pois fe as úv)}ii'x jà fei to, co-
mo as fez,& criou para as
S.Gonçãla. ^ic?
Daqui fe entendera aquel- de fer. Pois aílim como
le modo notável de f ai lar meu Pay obrou ao fabba-
com que diz a Efcritura , do naô fervil , fenão fobe-
que Deos ao dia feptimo ranamentejaflimofaçoeu.
defcãçou de todas as obras Ifto he o que faz Deos co-
que tinha feito : Requievit fervando as fuás obras 5 &
die feptimo ah univerfo ope^ ifto he o que fez S. Gonça-
rei^uodpatrarat : & logo lofahindo porfymefmo a
acrecenta,q todas as mef- confervara fua. Confer-
"^ You-aenta63& ha tantos
centos de annos, que a có-
Tervaj & a çonfervarà fem-
pre 5 porque nas fuás obras
náo obra como home ho-
— , ^ ^ mem, dequem àQpQnÚQm.
fazer ? Forque a primeira fó tnfieri^ fenao como ho-
vez fellas de novo pela mem Deos , de quem de-
criação, & depois de cria- pendem inferi , é^ confer^
das, para que náo deixaf- Vâri,
fem defer,fempreas ha- 193 Vamos a outras
via de eftar fazendo pela obras de Deos homem, &
confervaçáo.Heoqueref- de S.Gonçalo, Foraó os
pondeo,& declarou Chri- difcipulos do Bautifta per-
ito, convencendo admira- gíãtar em nome de feu Me-
velmenteaosqueocalum- íi:reaChrifto,feeraelle o
niaváo.de obrar ao fabba- verdadeiro Deos, 6c home
do : Tater meus ufyue modo prometido peios Profetas,
operatury ér ego operor. Por & efperado do mundo.T?/ ^^^
ventura Deos no mefmo esquiventurusesyanalium luf}
dia do fabba do em q def- expeãamus> E qãttcÇ^on-
cançou das fuás obras, dei- deo o Senhor? Em prefen-
xou de obrar? Naô i por- çados mefmos difcipulos
que fe deixara de obrar có- deoolhosa cegosjouvidos
íervando-asjdeixáraó ellas a furdos, lingua a mudos 3,
íi^iáoa
3-0 Sermão de
mios a alejados, pès a mã- raçoens dos trifles, dos' af-
rDid.4.
cos, faiide.&: limpeza a le-
proros,& vida a mortos. E
eftafoiarepoíla com que
os defpediojdizendo: £■«;?-
tes reniintiate loanni^ qute
audiftis^&vidiflis-.láQ^ái-
zei a Joaó o que ou viftes,
&viftes.O mefmorerpon-
doeu a quem por ventu-
ra duvidar do que tenho
dito, ou eftranhar que Te
diga de S. Gonçalo, q nam
obrava como homem ho-
mem, fenaó como homem
Deos. Ide, ide a Amaran-
te, vilitai no far^rado iVIau-
fli£l'os , dos perfeguídoS)
dos defefperados , que fó
na invocação do nome de
S.Gonçalo acháraô a con-
folaça®,oaíivio, arefpira-
çaõjO remédio.
294 Aílím obra como
immortal depois de morto
o grande imitador deDeos
homem. E porque o mef-
moSenrhor deixou ditOjq
depois de fubir ao Ceofa-
riaó feus fieis fcrvoá na ter-
ra naó íò femelhátes obras
às ruas,fenão maiores:0/é'- Joann:
ra qu^ ego facioyfaciet , c^ '"^•'^
foleo de S.Gonçalo as me- maiorafaciet , quta ad Ta-
morias immortaes de fua írf;;/^W^. Seattentamen-
vida pofthuma, & vereis o
que me ouvis. Vereis, ou
pintadas , ou de vulto,co-
motrofeos das fuás obras
divinamente humanas , as
muletas dos mancos , os
braços dos alejados , os
olhos dos cegos, as orei has
dosfurdosjaslinguas dos
mudos, as mortalhas dos
mortosjou moribundos: &
porque os maies interio-
resj&invirivcisíiió os que
maisatormentaó , & ma-
taõ> tambcni vereis os co-
te confiderarmos as circú-
ílancias deíles milagres,
acharemos que os de S.
Gonçalo comparados cò
os do mefmo Deos home
tem hoje no modo de os
obrar grandes exceíTos de
maioria. Grandes eraò os
concurfos dos que em fé
dos milagres que obrava,
bufcaváo , &: íeguiaó a
Chrifto : Seque batur eiitn
multttudo nuigna
debant jigna , qn.i: fncicbat
fiiper hiò^qni injírmabanttiry
diz;
quíavt- ^
S. Gonçalo. ^^i
dizSJoaÕ. Efepergun- quias, & eiicomendarre a
tarmos ao mefmo E vange- feu patrocinio,naó faó cin-
lifta a que numero chega- co mil,nem dez, nê vinte,
ibid.f,
ria a maior multidão de-
íles concurfos ; naó fó com
o nome de maior, fenaó de
niaxima,diz que chegarão
aferquaíicinco mil: Cum
fublevaffet óculos lefus , &
fenaó trinta , & quarenta
mil. Vereis que a multidão
innumeravel denaturaes*
& cftrangeiros naò cabe
pelas eílradas , que cobrc
os montes , que inunda 09
Ibid. 10.
vidijfet quia multitudo ma-> valles,& que não podendo
xlma venit adeum : Sc logo todos entrar, nem chegar
declarado o numero : !D//- de perto,cercáo tumultuo^
cubuerunt ergo viri numero famentea Igreja,veneran-
quaji quinquemillia. AhS^' do,6c adorando de longe
nhor,com quanto exceíTo as paredes fantas, queen-
fe prova no voíTo fideliín- cerraó táo benéfico , & fo-
rno fervo a verdade da- beranodepoílto. Eeftehe
quella grande promeíTa! outro exceíTo de maioria.
Quando naterra levanta- que também na compara-
ftes os olhos para ver a çáo de vòs mefmo lhe pro-
multidaó dos que pela fa- meteíles.
ma,& experiência de vof- 29f Para receberem a
fos milagres vos feguiáo, a faude,dizem os Evangeíij
maior,&rnais numerofaq ftas,quea multidão dos q
viílesyfoi de cinco milho- concorriaóa Chrifto , to-
mens. Porém hoje fe do dosprocuraváo tocar feu
Ceo onde eftais,aba terdes facratiíTimo corpo>do qual
os mefmos olhos divinos , fahia a virtude, que os fa-
& os puzerdes em Amará- rava : Omnis turba qudere^
te, vereis que pela fama , & bat eum tangere^quia virtus
experiências dos milagres deillo exibat y & Janabat
de S,Gonçalo,os que con- omnes. Cà também procu-
correm neíte feu dia a vi- raó o mefmo 5 mas porque
fiçar fuás fagradas reli- o aperto,6c a multidão que
: Tom./. ' X con.
322 ' Sermão de
contenciofamentc fe im- Invocareis oSenhor^&elIc
pedejhonaó permite , de
longe venéraó o Santo, de
longe fe encomendaõael-
Je,6c de longe, ou recebem
logo os milagrofos eíFeitos
de fua virtude 5 ou a levaó
comíigo alegres a fuás ca-
fasjcomoprimicias, d< pe-
nhores certos dos beneíi-
cios,que na occafião da ne-
ceilidade nenhum duvida
Ihehajão de faltar. Mas
vos ouvira: chamalohei»,
& elle dirá : Aqui eftou..
Aquieftou jdiz Deos: &
Aqui eftoujdizS. Gonçalo,
homem emíim no obrar
como Deos : Invocabis^ à*
dtcet : Ecce adjum.
E porque algúa vez in-
vocado S. Gonçalo, fuce-
deràquevos naò conceda
o que pedis, & pareça que
vos nam ouve \ fabei de
que muito he, que aquella certo, que vos enganais, &
venturofaProvincia, & as naó quero por prova ou-
outrasvifinhas, & coníi-
áhantes logreni a felicidade
de táo continuos, & certos
favores : fe as remotiíli mas
terras da Africa,da A íia,&
defta America, onde ape-
gas ha lugar, que naò te-
nha levantado Templos,
4DU Altares a S. Gonçalo,fó
com a invocação de feu
jiome,comofe nelie fe ti-
vera facramentado, pelo
efFeito maravilhofo de
tro exemplo, fenaó o da
mefmo Deos. Deos diz,
que peçamos, & que rece^
beremós : Tetite^ & acci- I^^JJ*-
j&/>r/>: 8c com tudo moílra
a experiência, que muitas
vezes pedimos, & não re-
cebemo<í. Náohatal, aco-
de S.Agoílinho. Que nam
recebemos o que pedimos,
he verdade: mas que naò
recebemos, hefallb /porq
9-
fenam recebemos o que
fuás graças de taò longe o pedimos,& queremos ; re-
exprimentaõ, & tem pre cebemos o que devêramos :^ug^í^
pedir, & querer. AT-^^^r Ep^íi. "
^ominus cjuod volumus^ ut ÍX^.
trtbuat qnod rnalhnius, A f-
j[pi fa^ cambem algumas
fente.DeDcosdiziaoFro-
fctalfiias : hivocabis , à*
^omimis exaiidiet : clama^
kfs^ ii^dicet : Ecceadfum :
fcMk.«
S. Gonçalo.
vezes S. Gonçalo, & naó ítia
fora Santo, nem amigo, fe
aílim o naó íizera.Taó mi-
lagrofo he quando faz por
vos o milagre , porque vos
ellà bem , como quando
ceíladeofazer , & ofuf-
pende, porque vos eftaria
mal. Vede-o no mefmo Sá^
to. Jà deixamos dito como
para a fabrica da fua Ponte
abrio duas fontes nas pe-
dras, húa de agua,outra de
vinho : mas a de agua ain-
da hoje corre, & perfeve-
ra,&: faz milagres: a de vi-
nho fecoufe totalmente. E
3^3
fenaó também ojui*»
zo. Vede o que fucederia
ao Povo de Amarante, fe
perfeveraífe a fonte do vi*
nho ? Por iíTo o Santo ain-
da no tempo da fua obra,
como notaó os Hiftoria-
doreS,abria5 & fechava a
mefma fonte três vezes no
dia: a primeira vez a ho-
ras de ai moço -, a fegunda a
horas de jantar, & a tercei*
ra a horas de cea : & neftes
três tempos que fucedia .?
Tanto que os ofíiciaes, &
trabalhadores recebiaó ca-
da hum por medida a fua
porque fe fecou ? Porque reção , a pedra fe fechava
maiores naufrágios podia outra vez 5 &a fonte naó
padecer aquelle Povo ne- corria. Taó provido, Sc vi-
íla fonte , do que dantes gilante era S. Gonçalo em
padecia no mefmo Rio. O que os feus milagres foi-
primeiroqueefpremeo as femparaproveito,& naó
uvas,&: inventou o vinho ,
foi Noè : & fendo Noè
aquelle grande Piloto,que
na maior tempcílade do
mundo foube governar a
primeira náo, 5c levou nel-
ía a falvamento o mefmo
mundo ; goftando depois
o mefmo licor, que inven-
tara, areou de tal maneira,
que naô fóperdeo a modç-
para daiio daquelíes por
quemosfazia. E eiftahe.a
regra por onde haveis de
conhecer os milagres, &
benefícios do noíTo Santo ,
taó agradecidos quando
vos negar o que lhe pedir-
des , como quando volo
conceder, pois vindo por
ília maó húa,ou outra cou-
áa,íèmpre he para voílb bé.
^X ij Atè
i
\li<
\
324 Sermão de
296 Atè aqui tenho com todas as fuás forças?
fallado em tudo com os
>\uchores da vida, 8c mila-
grés de S. Gonçalo. Por
Cuidando em feus pecca-
dos 5 lembroulhe o novo
propofito que tinha feito
íim quero acabar có hum &arrependendofedaquel-
cafo, deque eumefmofui laque tivera por melhor
teftemunha. Havia em
Lisboa hum devoto,& có-
frade do mefmo Santo , o
qual todos os annos con
obra,pedioperdaó aoSá»
to, ratificando com voto,
quenaó faltaria jà maisà
fua antiga devaçaó 5 fe cf-
corria para a fua fefta com capaíTe daquelle acciden-
vinte & cinco cruzados. tecomvida.Náocraóaca-
Humanno porém em que
os Oííiciaes eleitos eraó ri-
cos, fendo também rica a
Confraria , entrou elle em
badas eítas palavras, quã-
do com fegundo repente
ceílbu totalmente a dor,&
paflado o moribundo das
penfamento, que feria ma- portas da morte à inteira
iorferviço de Deos def- íliude, achandofe taó fam
pender aquelle dinheiro como dantes , foi porfeu
com os pobres. Aílim o re- pè dar as graças ao Santo ,
folveo comíigo fem o có- que taõ alpero , & taó be-
jnunicar a outra peílba : jiigno tinha exprimenta-
fenaó quando no mefmo
ponto lhe fobreveyo húa
dor interior , qne de ne-
do em dous momentos.
Mas quem haverá, que fe
não admire do novo eftilo
nhum modo podia fopor- praticado nefte cafo con-
tar-, Sc chamados à preíTa tra a ley geral da efmoIa,&
os Médicos , refolvéraó contra a preferencia , &
que logo logo tomaíFc os privilegio dos pobres tan-
S.icramentos, porque in- tas vezes publicado , &
fallivelmentc morna. Que
faria pois com efta fubita
fentcnça, quem hum mo-
mento antes citava fani; 5c
pregado por boca do mef-
mo Dcos ? Quando con-
correm Chriíto, «Sc os po-
bres para a efmola, day-a,
diz
i^
S. Gonçãlo.
diz Chrifto , aos pobres,
porque dando -a a elles,ma
dais a mim: Queâ uniex
hís minimisfeci^is^mihffe'
ciftis. Pois fe neííe cafo
concorre S. Gonçalo com
os pobres, como ameaça o
mefmo Chriílo de morte a
quem quer dar a efmola
aos pobres , Sc na 6 oííerta-
k a S, Gonçalo ? Baila que
iguala Chnftoospobresa
íy mefmo, & quer que S,
Gonçalo feja preferido
aos pobres ? Bafta que an-
tes quer Chríílo que feja
feílejado S. Gonçalo com
maiores aparatos,& maio-
^^S
§, Yim
^97 nPEnho acaba-
;i do 5 ou deixa-
do fem o acabar, o mea
difcurfo. Mas fe os Ser^
moens de S. Gonçalo to-^
dos eraó encaminhados à"
doutrinados ouvintes, &
naõ he licito faltara imi-
tação do Santo no feu pró-
prio diaj que doutrina pof-
fo eu tirar deíle Sermaó,
que feja acomodada aos
qHC me ouvem ? Heyde
exhortalos a q fejao bons
Paílores, como S. Gonça-
res defpeías, que os pobres lo .? J ílb pertence aos Ec-
niais Ibcorridos ? Bafta cl eikfticos. Heyde exiior-
que fendo os pobres fub- talos a que vaó em pere-
liitutos de Chriílo , nao grinaçaó do Braíil a Jeru-
quer o mefmo Chriíl:o> q falem ? Aífaz peregrinos
o fejaó de S. GonçaíoPPois faó os que taó longe fe de-
aííim lie ^ feja também o fterráraõ da pátria. Heyde
mefmo Chriílo feu Prega- exhortalos a que façao mi-
dor,& acabe o feu panegy- lagres ? Baila que fejamos
rico, que eu emudecido Santos fem a fpirarà cano-
con fc0b,que o naó íoi lou- niza^ão. Que doutrina fe-^
var. E eée he o exceíTo de rà bem logo a que tirem os
favor, & lugar a que S. Gó-
çalo fubio na fua quinta
vigia, em qvive j&reyna
immortal no trono daglo^
ria. Tom./.
da vida,&: obras de S. Gon-
çalo? A primeira que me
occorria muito útil , &
muito neceí]íaria,he, que o
X iij irxii'^
i
l
/ V
^Í:í I;i
í
n;
32<^ Sermão de
imicaíTemos em fazer pÓ- doclima,porq naô crcyo,
tes. Coufa he digna de como cuida o vulgo , que
grande admiração , & que os que lhe adminiílraò o
mal fe poderá crer no mú- Erário, mais o querem pa-
do, que havendo cento & rao Papado , que para o
noventa annos, que domi- Pontificado.
iiamos,& povoamos efta 298 Mas porque o def-
terra, & havendo nella cuido que eftranha eíla ad-
tantos rios,&: paíTos de dí^- vertencia pertence a pou-
cultofa paíTagem , nunca cos j feja doutrina , & exé-
ouvefle induítria para fa- pio geral para todos , q ao
zerhúa ponte. Queriojou menos procuremos aca
que regato ha na Europa
fem nome, & que lugar de
quatro viíinhos , que nas
pontes naófeja magnifico?
Sò por ellas fe conferva
era Hefpanha a memoria
de que os Romanos a do-
minarão. Porque Anco
Mareio fez a Ponte Subi i-
cia, da Ponte , & de a fa-
zer lhe formou Roma a
dignidade de Pontifice,
cujo nome, antes ainda de
a mefma Roma fer Chri-
flãa, fe unio ao Su mo Pon-
tificado. Tanto honra eíle
género de fabricas a feus
Authores. Pois por certo,
que nem por pobre, nem
poravaréta padece a nof-
fa Republica efta falta. Eu
a attribuo à inércia natural
bar por onde S. Gonçalo
começou, S. Gonçalo, co»
mo vimos, fendo minino>
foi homem : nòs fendo na
idade homens,na vida, &
nos coftumes fomos mmi-
nos. Melhoro djffe Séne-
ca do que fe pode traduzir
na noíTa lingua : Adhuc nori
folumpueritia in nobis ^ ftd ^^^^^
quod eft gravius^ptteriLnas i-.b 1 Ê-
remanet : ér hoc quidi mpe- p'^*"
tus ePt , quod authuritatcm
habemiis ftmimfoittafut ro-
rum^necpiierorum tantunjy
fedinfanttnm. Temos a au-
thoridade de velhos, & 05
vi cios de mininos ; & o
peorhe, que naó fó fevè
em nòs a mininiíTc, quehe
defeito da idade, fenaó as
mininiíles , que o faó do
juizo ;
S.Gonçalo] 327
juízo : Nonfolltm fueritia depois a'terra , parece que
innobis yfed puenlitas re- he começar o ç^ô^iííqxo pe-
Tnanet. A primeira coufa lasabobodas , & acaballo
que fez S.Gonçalo, foi por pelos aliceíies. Quanto
os olhos em hum Chrifto maiSjque fendo a terra ,&
crucificado, 6c eftenderos
bracinhospara fe abraçar
c(?melle:êc ifto he o que
moços , & velhos giiardao
para o fim da vida. Então
vem o crucifixo , entaó fe
o Ceo criados para o ho-
memjalíim como o fim do
home he o Ceo , 6c o prin-
cipio a terra , aíllm parece
que devia começar pela
terra,6c acabar pelo Ceo.
abraçaó com fuás Chagas, Antes naó,& por iíTo meA
êc como he por força, 6c a mo. Porque o homem tem
mais naó poder,muita gra^ o feu principio na terra, 62:
ça de Deos he neceífaria o feu fim no Ceo, por iíTo
para que feja de coração, lhe propõem Deos primei*
Quem quer começar bem, roo Ceo, 6c depoisa terraj
6c acabar bem , ha de co- porque fe quer começar
meçar pelo fim, 6c acabar bem,6c acabar bem, ha de
pelo principio. Defde o começar pelo fim ,& aca-
principio do mundo enfi^ bar pelo principio. Aílini
nou Deos ao homem eíla começou, 6c aílim acabou
importantiílima máxima S. Gonçalo. E fendo a fua
nas primeiras palavras da vida ,6c morte hdaperpe-
YÁcúXMTTiún principio érea-
vit l^eus Calmn^àrterram:
onde nota S. Joaó Chryfo-
ítomo, que Deos na obra
da criação começou pelo
Ceo,6c acabou pela terra;
poriíTo naó diz o Texto:
Creavit ferram^ & Qteltim ,
fenaõ Calum^ò' terra. Mas
criar primeiro o Ceo, 6c
tua imitação de Chrifto^f
foi coufa maravilhofa, que
aíTim como nafcido tomou
por exemplar a Chrifto
morto na Cruz,allim mor-
rendo imitou ao mefmo
Chriílo nafcido no Prefe-
pio. MorreoemfímS.Gó-
çalo, entregando a Alma
nas mãos da Rainha dos
X iiij An-
íi
Sermão de
A njos , de que foi devotif-
íinio,& fe achou prefente a
feufeliciílimo traníico 5 &
tanto que erpirou,re ouvio
noar liãavoz , que dizia,
Ide todos ao enterro do
Santo.Concorréraó todos,
& o leito em que acháraó
defunto o fagrado corpo,
foi deitado no cha6 fobre
húaspalhas. Aílim acabou
na morte imitando a Chri-
morrer ! ô ditofo começar,
& ditofiíTimo acabar ! Efte
foi o ultimo exemplo, que
S.Gonçalo deixou ao mu-
do, 6c com que deixou o
m udo, que todos ta m bem
havemos de deixar. E pois
o não imitamos no nafci-
mento, ao menos comece-
mos defdeeíle dia feu ao
imitar na morte, trazendo
fempre diante dos olhos o
ílo nafcido no Prefepio, fim da vida ,para que por
xjuem aíTim defde feu naf- fcus merecimentos , & in-
cimento tinha imátado a terceíTaó configamosavi-
Chriílo morto na Cruz. dafemíim. Amen.
í)h ditofo nafcer,& ditofo
SER-
y.9
í*3 -Ç^l •Ê<5f>3 «M-^«M'^S>3- Ç#3.*^y€^--ÇÍ>?'í^'^^^
ffffff¥fffff-ffffff--fffi
SERMAM
DA
D O M I N G A
VIGÉSIMA SEGUNDA POST PENTE COSTEN,
Na occafíaó em que o Eílado ào Maranhão fe repartia
em dous GoTernos5&: eíles fe deraó a Peííbas par-
ticulares moradores da mefma terra.
Cujus efl imago baec , à^fttperfcriptio ? T^icunt ei :
Cíefaris. Matth.22.
§.i.
A6 ha terra ma-
is diííicultofa
de governar 5 q
a pátria: nê ha
mádo mais mal
íbfrido^nem mais mal obe-
decido, que o dosiguaes.
Vivendo os Hehreos go-
vernados por Deos, o quai
no Propiciatório rerpódia
a todas fuás confultas , 6c
ordenava em voz clara O'
quefe havia de fazer, ou
naó fazer ; foraó elles taò
mal aconfelhados , q qui-
zcraó fer governados por
liomens, como as outras
nnçoens : & fendo taó fo-
berboS:,quedefprezavaó a.
todas em tudo o mais? ne-
K
301
4i<>i,
5 50 Sermão da 'Dominga 'vjgefimaftgundd
ílepontOjqueeraafuama- a pátria, & os eleitos eraô
lorprerogatiya , pedirão
fer femelhantes a ellas:
Conflitue nobis Regem , fi-
cut & tinivcr'£ habent na-
lionês. Oi primeiros Go-
vernadores pois,que Deos
liies concedeo com poder,
& foberanía real , foram
Saul &: David ; Saul que
andava bufcando asjumé-
tas, que fe perderão a fcu
Pay, & David que andava
guardando as ovelhas do
feu. Naó fez Deos diffe-
rençadas calidades, por-
que todos eraó filhos de
Abraham ; nem a fez tam-
bém dos officios , porque
todos naquclle tempo vi-
via5 de fuás lavouras , &
dos Teus paílos. Sò teve
attençãoàs peíToas, Scaos
talentos^porque afUm Saul
como David debaixo do
feu fayal eraó homens de
taó grandes efpiritosy co-
iguaes (^ como dizia } &
naó bailou que hum foíTe
Saul,& outro David, para
ferem bem aceitos. Ale-
gráraóíèos parentes, mur-
murarão os eftranhos, &
os demais (^que eraóqua-
fi todos} ficáraó defconté-
tos. Naó digo o que diíTe-
raó, porque as couíâsnam
eraó para dizer , nem fao
para ouvir: íbdigo queef-
tamos no mefmo cafo. Te-
mos repartido efte noílb
Eílado em dous governos
iguaes,&: debaixo de duas
cabeças,ambas naturaes da
mefma terra, fem fer a de
Promiíraó:&; aíTim da par-
te das cabeças, como dos
membros , allim da parte
dos novos Governadores ,
como dos fubditos ,fe po-
dem recear, como jà fe te-
mem, naó pequenos incó-
venientes. O recurfo eftà
mo logo moftráraõ as fuás Ionge,o remédio naó pode
obras. Mas quaes foraó os chegar, fenaó tardcj entre-
applaufos com que foi re-
cebida naquella Republi-
ca depois de taó apertadas
inílanciasa eleição deíles
dous governos? A terra era
tanto fó vos peço, que to-
meis o melhor confelho. A
obrigação dos Pregado-
res , a quem a h fcncura
chama Anjos da paz , he
ferem
pofl Tentecojien. 531
ferem Miniftros da uniaó, Senhor,Cuja era aquella
& concórdia : & porque ef-
ta devemos defejar todos ,
como bons Chriíláos, co-
mo bons repúblicos, & co-
mo bons vaíTallos , para eu
fatisfazer à minha obriga-
çaó,naó me occorre outro
meyo mais efíicaz, que de-
clarar a hunsjSc a outros as
fuás. O meu intento fera
eíle, o Evangeiho a guia, a
imagemj&cujo o nome ef-
crico nas letras : Ctijus eji ^
imago h^c^&fuperfcriptio ?
Reiípondéraó, que a ima-
gemj&- o nome era do mef-
mo Gefar; T>icunt e^Ctífa-
m.Iíio he o que contém as
palavras que propuz. O
reílodo Evangelho ficará
para outra occaíiaó , &
também a moeda. Eu naò
interceílbra para a graça a quero para hoje mais que
Virgem Senhora noíTa.Pe- a imagem do Cefar 5 por-
çamola com aquella atten-
çaó que requere taõ im-
portante matéria. Ave
Maria.
5. II.
que com as imagens dos
Cefares hey de fallar.
303 Cujzueft imago hac^
Todos os que governaó
faó imagens de feus Frin-
cipes : porque os reprcfen-
taó na peííoa, & no exerci-
302
PErgutado Chri- cio dos poderes. Começou
ílo Senhor noíTo
como Meftre da Leyjfe era
licito aos Hebreos pagar
tributo ao Cefar Empera-
dor dos Romanos,refpon-
deo, que lhe modralTem
primeiro a moeda do tri-
buto: Oftendite mthi numif-
ma cenfus.E como n3.moQ'
daeftiveííe eílampada húa
figura com certas letras em
roda i perguntou mais o
id.ao;
efte nome , ou titulo de
imagem no primeiro go-
verno do mundo, dado nao
menos que por Deos ao
primeiro homem, & nam
nas proviíoens do officio^
fenão antes da creaçaó del-
le, &do mefmo que o ha-
via de exercitar. Faciamus
hominem ad imaginem^ ò-'fi- q . ^
milituãimm noftram , & xlz^'
/f/f/í/" : Façamos o homem
^ (diíTe
i
t
,M
Oí
ç5 3 2 Sermão da T>omínga -jigefimafegíinda
(^ diíTeDcos^à noíTa ima- re deo Deos o titulo de
gemjêc femelhança , para imagem fua , porque lhe
quetenhaa preíidencia,& encarregou o governo do
governo do mundo. Sobre mundo , 6c que ajuntou à
eílas palavras lie grave imagem a femelhança, ad
queílaó entre os Theolo- imaginem-iérfimiUtttdinefn:
gos,em que coníiíla no ho- para que no mefmo gover-
memoferimagê de Deos? noíeíembraílê Adam^que
fe devia fazer femelhante
quanto foíTe poífivel ao fu-
premo Senhor a quem re*
p refenta va : Imaginem di'
xit obprincipatus rationem^
fimiiitudinem^ utpro vir i bus
humanisfimilesficimus T>eo .
304 OhquantoSi&quã
exceilentes documentos
deixou Deos naquella pri-
meira acção aos Principes
de como deviaó fazer , ^
Hereges Audeánosdif-
feraójqueconfiília na ror
nia,&: eílatura do corpo. E
também he herefia politi-
ca a de alguns Príncipes,
os quaes tanto fe deixao
levar deffas aparências ex^
teriores , que por ellas fa-
zem a eleição das fuás ima-
gens. Taò pouco importa
Earao governo da Repu-
liça a eftatura50ugentile*
za dos corpos, C dizSene- eleger as fuás imagés! To-
ca } como para o governo das as outras criaturas má-
danáo fero Piloto fermo
fo. Kefolvem pois todos os
Santos, 5c Doutores Ca-
tholicos , que a razaó da
imagem de Deos no ho-
mem confifte na Alma
adornada de três potécias,
emqucreprefentaao mef-
mo Deos trino,& hum. Po-
rém S. Bafilio & S. João
Chryfoítomo acrcccntaó)
que a Adam parcicularmé-
dou-as Deos fazer, ou má-
dou que fe fízeífe m : o ho-
me, queohaviaderepre-
fentarcomo fua imagem,
& a quem havia de entre-
gar o [governo do feu mun-
do,fello có confuka, ôc có-
felho, &: naô de homens,
que ainda naó havia, nem
de Anjosjqucjà eraó cria-
dos , mas das trcs PcQbas
divinas : Faciamus hominè
ad
1iWu!.
põflTentecoften, 555
nd imaginem , & fimilitudi- moria, para que fe lembre
nem nojtram : &: para que ?
Et prafit pifei bus maris^ &
volatilibus Caliy & befiijsy
univerfaqíie terra: para que
governe os peixes domar,
as aves do ar,& os animaes
da fua obrigação ; o enten-
dimento, para que faiba o
que ha de mandar > & a vó-?
tade, para querer o que for
melhor : & naó homens de
húafó potencia Q que por
da terra. Efe paraaelei- ilTo fazem impotenciasJ&
çáodequem ha de gover- faltandolhe a memoria, &
nar brutos, fe requere tan-
to apparato j & prevenção
deconfultas, & confelhos
fabedoria do mefmo
na
oentendimêto, fó tem mà
vontade. Com todas eftas
qualidades formou Deos »
& aperfeiçoou a imagem,
Deos i que fera para eleger que no governo do mundo
hum homem,que ha de go- havia de reprefentar a Ma^
vernar homens ? O cara- geftade divina : bem aílim
£ter de imagem fua polio comoreprefentaó as Ma-
Deos por ventura na Alma geílades humanas os que
do homem,porquefe naó em feu lugar, & com feus
ha de entregar o governo
a homens fem Alma ,? Sim-,
masnaófó por iífo. Naó
bafta que o que ouver de
governar feja homem com
Alma, mas he neceíTario,
que feja Alma có homem.
Se tiver Alma, & boa Al-
ma,naó quererá fazer mal :
mas fe juntamente naó ti-
ver a£tividade , & refolu-
ção,& talento de homem ,
náofarà coufa boa. Deo-
lhe Deos memoria , enten-
dimento,& vontade: a me-
poderes governaó eftas,
ououtraspequenas partes
do mefmo mundo. A ima-
gem do Cefar naó fó efta-
va eftampada na moeda-,
fenaó também, & muito
mais em quem goyernava
a Republica. Na moeda
era imagem morta,em quç
governava, imagem viva:
na moeda davalhe o cu-
nho o valor, em quem go-
vernaua davaólhe as pro-
vifoens o poder. E fe de
qualquer delias fe pergun-
taífe;
5 ;? 4. Sermão da TDo minga ^vige/imafeg unda
taíle -• Cujas eft imago bac \
Cuja he eíla imagem 7 De
ambas fe havia de refpon-
deremdifferente fentido,
mas com a mefma verda-
de5que era imagem do Ce-
far : l}icunt et: Cafaris.
^of Suppoíla efta fig- reprefentar hum Principe
nificaçaô nafcida com o fupremo nos olhos do mú-
§. III.
^06 /^"^Omeçádopois
V^^pela obrigação
das imagês, aílim comohe
grande dignidade haver de
mundfoj&cò a mefma na-
tureza, de que faó imagens
dos Princjpes os que go-
vernaó em leu nome, & os
reprefentaô -, fe eu pregara
em outra parte , havia de
repartir o Sermão em três
pontos. Primeiro , como
haóos Cefares de fazer as
fuás imagens: fegundojco-
mohaôas imagens de re-
prefentar os Cefares ; ter-
ceiro, como os fubditoS3&
vaíTallos dos Cefares haó
•de reverenciar , & obede-
cer às mefmas imagens.
Mas porque o primeiro
ponto naó pertence a efta
terra, nem a efte Auditó-
rio; tratarei fomente do
í^gundo, & do terceiro,
que fió taó próprios do lu-
gar, como neceílarios ao
tempo.
do, (^ouíejamaior,ou me-
nor o theatro ^ ^^irn hc
muidifficultofo 5 Sc arrif-
cado o acerto deíla grande
reprefentaçaó. Facil no
oue tocaaopoder 3 mas no
mandar 5 & obrar, muito
difficultofa, & de poucos,
lífoquizfigniíicar o Pro-
vérbio dos antigos, quan-
do diíTeraó) que a imiageni
de Mercúrio naòfe faz de
qualquer madeiro : Ncn ex
qnolibet lignofit Mercnrius.
£ porque mais a imagem
deMercurio,que a de Jú-
piter, q era entreosDco-
les a primeira, & mais alta
foberanía ? Porque Júpi-
ter era Deos do poder ,
Mercúrio da fabedona, 4SC
prudência : 8c a mageílade
do poder qualquer a pode
reprefentar facilmente, as
ac^ocns porém da fabedo-
na,"
poft Tentecojlen
ria 5 & prudência íaó mui
poucos os que fejaó capa-
zes de as compor , & exer-
citar 5 como ellas requerê.
Mais fácil he parecer Jupi-
ter,que Mercúrio. Quan-
do S.Paulo, & S. Barnabè
entrarão em Licaonia, ad-
mirados aquelles Gentios
do que viaó em ambosjdif-
feraó, que os Deofes em
femelhança de homens ti-
nhaó decido do Ceoàfua
Cidade :& a Barnabè cha-
mavaó Júpiter, 6c a Paulo
Mercúrio : Vocabant Bar-
nabam lovem^Tauhim vero
Merctirium. Mas fe Paulo
por tantas^Sc taó excellen-
tts prerogativas era maior
que Barnabè , porque de-
rao a Barnabè , & naó a
^507 Subamos das dei-
dades fabulofas à verda-
deira,&ellanos dará a ra-
zão deíla differença. O
Verbo eterno como Filho
natural de Deos Padrcjhe
imagem perfeitiílima da
mefmo Deos. E porque nó
fer divino atè os Gentios
coníideravaó duas eminé-
ciasfuperlativas 5 húa da
fumma bondade, 8c outra
dafumma grandeza , poí
onde chamavão a DcQ^
Óptimo Máximo ; decla--
rando Sala mão no livro da
Sabedoria a fumma per*
feição com que no Verbo
fe reprefentão bua^Ôc 011?
tra, diz que he efpeiho fem
macula da Mageílade de
Deos 5 & imagem de fua
Paulo o nome de Júpiter 5 honà-xà^-.Specítlumfine ma-
&aPauIo,&naó aBarna
bè o de Mercúrio.^ Porque
Barnabè excedia na efta-
tura,&magefl:ade da pef-
foa, Paulo na eloquência,
na fabedoría, & na doutri-
biiera. nz: ^ioniam ipfe erat dux
'verbkéc^. repreíentaçaó da
fabedoria requere muito
maior cabedal , & muito
maior home, q a da ma^e- fta diíTereiíca
ílade. t> . - ,
go bonitatis illius. O que ^''^^
aqui fó reparo, he>que híia,
&amerma reprefentação
em quanto he da magefea?-
dejfe chama eípelho; Spe^
culum mahfiatis ', & ena
quanto he da bondade ^(^
chama imagem , imago bo^
mtat is illius. E arazáo de^
deixando
por
40','
^^6 Sermão da dominga vigefinafegtmda
por agora a Theologica,&: der,&: a oítentaçáo, & exc-
bufcando fomente a Mo- cuçáo delle he muito fa-
ral,qualhe, ou pode fer? cil: porém asda bondade,
He a mefma que exprime- que faó as do bem mandar,
tamos na facilidade das &bem obrarjSc bem fazer
imagens,que vemos no ef- a todos, reprefentãofe nas
pelho , & na difficuldade outras imagens , ou pinta-
das que fe moílraó , 8c re- das,ou efculpidas , porque
prefentão em fy mefmas. eftasfaò muito difficulto-
As imagens que fe repre- faSj&trabalhofas, & que
fentãoemfy mefmas, ou requerem muita arte,mui-
faó de pintura,ou de efcul
tura. As de pintura hzér
fe com muitos debuxos,
muitas cores, muitas fom-
bras,muitos claros,muitos
cfcuros : as da efcul tura có
muito bater, muito cavar,
muito polir , muitos che-
tafabedoria , muita pro-
porção, muita regra. As
imagens de efcultura fazé-
fe tirando, as de pintura,
pondo: para efte tirar, he
neceífario muito defmte-
reífe : para efte por , &
acrecentar,muita igualda-
yos,muitos vazios: & hu- de: Separa húa coufa , &
tnas,&: outras có muita ar- outra, muita prudência,
te,muita applicação, mui- muita juftiça, muita intei-
ro trabalho. Pelo contra- reza5muita conftancia, &
rio as imagens , que fe re- outras grandes virtudes, q
prefentão no efpelho, ellas mais facilmente faltaó to-
fe pintão fem tinta , & fe das,do que fe acháo juntas,
entalhão fem fcrro,8capa- 308 Nas duas images
recém perfeitas em hum de Júpiter & Mercúrio, q
momento fem mais traba- feattribuíraò aos dous A-
lho, ou artificio que húa poftolos, temos o exemplo
reflexão natural. Pois por detudo. A imagemdeju-
iífo as da mageftade fe re- piter pmtavafe com hum
prefentão no efpelho, por- rayo na mão , a de Mercu-
quç a magQlUde , &; o po- rio com hum báculo entre
fojlTentecoften. 337
duas ferpentes. E aqiiife omefínotempo fe Tuften-
via bem quatn fácil hehua
reprefentaçáo^&quam dif-
fic 111 cola outra. Fulminar
rayosjeílremecero mundo
com rrovoens, efcalar tor-
res:, derrubar cafas , matar
homens, fender de aíto a
baixo cedros, cipreíleSíCn-
zinhas, & todas as outras
violências , & danos, que
caufaóosrayos , tudo he
muito fácil ao poder, em
quemabufardeile. Porém
meter o baíláo entre fer-
pentes difcordes , & vene-
nofas,&: fazer que não fe
mordáo,nemfe efpedacê:
domar ferezasjamanfar re-
beldias 5 &■ reduzir a que
vi vão conforme a razão os
tão os que a conquiítárão
nãodospaílos deanimaes
domeílicos, íènão da ca-
ça,6c montaria dehomês:
& que dificuldade fera
ainda maior manter em
paz,8cjuil:iça os que fó íe
mantém da guerra injufta?
Eíla he pois a primeira dif-
íiculdade geral deíle go-
verno •, mas eíla a obriga-
ção , 6c officio dos que nel-
le repreíèntáo a imagem
do Cefar.
í. IV.
A Segunda dif-
30P _
ficuldade,que
mais ainda impede,& qua-
quepornatureza,&coí1:u- fi impoíUbilita a boa re
me não tem ufo delia -, eíla prefentação deílas ima
he a diíficuldade grande
em toda a parte,&: na terra
em que eílamos,maiorque
emnenhúa outra. Menos
ha de ciacoenta annQS,que
nefla terra fe não conhecia
gens,he,que as imagens, &
o Cefar eftão muito diílá-
tes. Quando refpòndéraó
aChriitOjque aquella ima-
gem era do CefarjoCeíar
eílava em Roma, & a ima-
onome deRey,nemfeti- geríi em Jerufaiem. Que.
nhaouvido o de I.ey : &: fera onde o Cefar, & o Ref
que difiiculdade fera fazer
Gbedecer,& guardar nella
as Leys dos Reys "i DeíUe
Tom. 7.
eílà na Europa , & as ima-
gens na America ? O Rey
em hum mundo, 6c os que
Y ore-
n
•i^
Jeiem
fe-
nhor. Tanto atrevimento
Ihedàeílar o Príncipe 16-
gCjorecurfo longe , o re-
médio longe, écatè a ver-
dade não íò eícurecida ,
iTiãs opprimida dos mef-
mos longes. A Rainha Sa-
bà chamava bemaventu-
radososque ferviaòahl-
33^ Sermão da T>ominga vige [ima fegtmda,
o reprefentáo em outro? lesnáo tiveráo outro
AtèDeoife temeo deíles
longes : náo porque não ef-
teja em toda a parte, & ve-
ja tudo, mas porque vè fem
íerviílo. Aílimo mandou
notificar ao mundo pelo
Profeta Jeremias ; Ttitas
ne "Deus c ^cicino ego/um^é*
noTíDeus de longe? Cuidais
que eu fou Deos fó de per- Rey SaJamáo em fua pre-
tOj& não de Jonge ? Enga- fença. E deita bemaventu-
naif-vosjporque ainda que rança fepriváo em tempo
210 Ceo íenho a minha de táo bons, 6c táo julios
Corte,tanto aíJiílo na ter- Reyscomoos noíTos , os
ra.como no Ceo: C^km queporíerviçofeu , & de
& terram ego impleo. Ouve Deos, í'e expõe m náo fó às
com tudo homens tão ig- inclemências dos climas,
norantes,que interpretan- que he muito menos, mas
do mal o verfo de David: às fúrias dos longes : & a
^^íumcainjomino^terram verjôc chorar de perto as
113. j 6. autem deditfilijs hominum : perdas temporaes, 5c éter-
cuidarão que porq Deos nas,dequeclles íiiocaufa.
puzera a fua Corte no 310 Diz a parábola do
Ceo, demitrira de {^ o do- Evangclho,que partio hií
minioda terra , èc o dera Rey para muito longe a
aos homens. Náo creyoq conquiílar hú novo Rey-
os que governáo as Con- no, & entre tanto deixou
quiítas cuidáo o mefmo , encomendada a fua fazen-
nias he certo , que muitos da a três criados , para que
ásdomínãotão defpotica- negociafiem com cila. De-
mente, como fe o cuida- ftestrcs criados hum naò
rão.Tãofenhoresfefiizeni negociou , mas não rou-
dellasjcomo fc ellas , & el- bou , & os dous dcrão táo
boa
.ibid.24.
pfí
/•nfel
fofl 7entecoflen\ 539
boa conta da fua negocia- ges tem depois osfeusper-
çáo, que dobrarão o cabe- tos ; Sc por iííb os criados
dal doRey, & merecerão na aufencia fervem có tal
delle grandes mercês. Di- refpeitOjOu tal medo, que
tofo tempo>em que de três na prefença dão boa conta
criados de que fez coníi- de íj. Porém quando os
anca hum Rey , fervindo Keysnaó váo às Conqui-
não à fua viílajfenáo mui- ílas> ou elías íàó tão remo-
to longe delle, os dous ihe tas^quenão podem là irj
acrecentáraó a fazêda em comooslongesfempreíaõ
dobro, & o menos diíigen- longes ; quam longe eílà o
te, pofto que a náoacre-
centou , nem hum feitil
furtou delia. Acharfeíia
hoje hum par, 8c meyo de
criados femelhantes a ef-
tes ? Nem em tres,nem em
trinta, nem em trezentos.
E qual he a razão ? Omef-
mo Texto a deo narrati vã-
mente em bem clara prova
do que imos dizendo. Diz
Rey dos criados, tão longe
fe põem elles das íuasobri-
gaçoens. Quando o Rel-
vai do Reyno às Conqui-
íi;as,& das Conquiftas tor-
na ao Reyno , he Rey do
Reyno, 6c mais dasCon-
quiílas: mas quando o Rey
fica no Reyno, &àsCon-
quiílas manda fó os cria-
dos, os criados faó os Reys
o Texto , que foi o Rey das Conquiítas , & não o
muito longe do feu Reyno Rey. O Rey fallos fuás
a conquiílar outro , mas imagens, & elles fazemfe
para tornar outra vez:
Abijtin Regíonem longin-*
quam acciperefibi Regniim ,
ér reverti. Qiiãdo os Reys
vão do feu Reyno às Con-
quiílasj^cdas Conquiílas
tornâo ao Reyno : ainda
queasConquidas eílejaó
muito longe, aquelles lon-
Reys.
311 E quem lhe da
eftes azos, ou eftas azas,fe-
não aquellas que os levão ,
%c põem tão longe ? De
Roma a Jeruíàlem ainda
tinhaó algum vigor os ref-
peitos do Cefar .' Si hmic Joana:
dimittis^non esamicusC^e^ '^•"'
Y ij faris.
3 -í^o Sermão da T>ominga vigefimafegunda
y^w. Mas de Lisboa à In- pois era fua imagem, que
i
ciia,& ao Brafil com todo o
mar Oceano em meyo? a
fé, a obrigação, a obediên-
cia, o reípeiro, tudo fe ef-
fria,tudo fe raaréa,tudo re-
ferve. Vendofe taó longe
de quem os manda , como
là pòdeni o que querem ,
naò íe contentão có que-
rer o que podem. Leváo os
poderes de imagens , &
tomão as omnipotencias
deCefaresj &não de Au-
guílos, ou Trajanos para
confervação , & aumento
da Monarchia, mas de Ti-
berios , de Caligulas , de
Neros, deftruidores delia :
para que nos não admire-
mos das ruinas da noíla,
nem lhe bufquemos outra
caufa. Porque percleo A-
dam com o Parai fo a Mo-
narchia do Vniverío.^ Por-
que fe não contentou com
£er imagem de Dcos, mas
quiz fer como o mefmo
Deos, que o fizera fua ima-
gem. A tentação çom que
o fez apoílarar o Demó-
nio, foi com lhe dizer, que
feria como Dcos. Masfe
Adam jà era como Dcos,
lhe prometeo de mais o
Demónio n?,qucllc //r//í , GcneC
ernisficutdtj r O cquivo- '■'^"
CO do //r//? foi verdadvcira-
menre diabólico. Adam
em quanto imagc de Deos
|à era como Deos na repre-
fentaçáo, mas não era co-
mo Deos na foberanía : &
iíioheoquclhe prometea
o Demónio. E como A dam
fe não contentou de fer
como Dcos fó na reprefen-
tação, queeraoque tinha
por imagem , Òc quiz fer
como Deos na foberanía,
que era o que lhe vedava a
obediência, &: o preceito;
por iíib quebrou o precei-
to, & negou a obediência a
Deos. L líto que lez Adam
na Aria,he o que fazem na
mefina Afia, òc n.i no/la A-
mericaosquenão fe con-
tentando com fer imagens
dos Keys , excedem tão
exorbitantemente toda a
medida, & proporção de
imagens, como agora ve-
remos.
§■ V.
312 ^ Ntcs de haver
no mundo a
arte
A
poftTentecoften. 341
arte da pintura C que co- que mais parecem Ricos
meçou depois do incêndio feitios , que verdadeiras
de Troya ^ diz Plinio,que
fe rerrataváo os homens
cada hum pela fua fombra.
Punhafe o homem empe,
fazia fombra com o corpo
interpoíloàluzdo Sol, &:
aquelia fombra cortada
pela mefma medida era a
lua imagem. E como fe po-
dia conhecer a imagem, fe
não tinha feiçoens por on-
de fe dilHnguiíle ? Diz o
mefmo Piinio^que para fe
conhecer, lhe cfcreviaó ao
pè o nome de quem era :
Omnes umbra kominis cíT"
imagens do que ha de crer
a noíía fé que reprefentao.
Mas ainda tinhaó outra
maior impropriedade as
imagens cortadas pela me-
dida da fombra, porque fe-
gundo o lugar em que eíli-
veífe o Sol, feriaó fem ne-
nhúa proporção muito
maiores que os mefmos a
quem reprefentaváo. E iÇ-
to he o que fe vè, como eu
dizia, na Afia, 6c na Ame-
rica, nas índias Orientaes,
ondenafce o Sol , ^ nas
OccidentaeS; onde fe poé.
cumduãa : ideo & quospn* Não pôde haver fem elhã-
gerent aáfcribere inftitutú, ça mais própria. A fom-
Faziãofe os retratos na^
quella rudeza da arte, co-
mo em Portugal os que
chamão Ricos feitios : nos
quaes as imagens fenão
conhecerião pela figura, fe
o não diíTeíFe o rotolo. Ê
helaftima, que prohibiu-
do Alexandre , que nin-
guém podeííe pintar a fua
imagem,fe não Apellesj ca
nos apareçaó algúas fi-
guras tão dcífemelhantes
dos foberanos originaes,
Tom./.
bra quando o Sol eílà no
Zenith he muito pequeni^
na,8ctoda fe vos mete de-
baixo dos pès: mas quando
o Sol eílà no Oriente , ou
íiO Occafo ) eíla mefma
fombra fe eftende tão im*
menfamente, que mal ca*
be dentro dos orizontes,
Ailim nem mais nem me-
nos os que pcrtendem, ^
alcançáo os go\^rnos ul*
tramarinos. Là onde o Sol
eílànoZenitK, naò fó fc
y II) me-
í.
f^i"
342 Sermão da Uominga vigefimafegunda
metem eílas fombras de- damaó,aque vulgarmen-
baixo dospès do Príncipe,
fenão também dos de Teus
Miniílros. Mas quando
chegão àquellas índias,
onde nafce o Sol , ou a ef-
tas, onde fe põem, crecem
tanto as mefmas fombras,
que excedem muito a me-
dida dos mefmos R.eys, de
que faó imagens.
Hecouíli muito nota-
vel,& que por ventura não
tendes advertido , quanto
excedeo a medida de Na-
bucodonofor a grandeza
daquclla imagem, que elle
te chamamos meminho,
contém a decima oitava
parte do mefmo corpo. E
que fc fegue daqui.^ Cou fa
verdadeiramente não íó.
fe mais para a d in irar , íe
para rir. Seguefeque todo
Nabucodonofor cabia dé-
tro do dedo meminho da
fua imagem. Jà naó he
grande a infolencia deRo*
boani em dizer , que era
mais groííb o feu dedo me-
minho, que ElRey Sala-
maófeuPay pela cintura.
Mas qual fera a daquelles
mandou fazer depois que vaífallos, que fendo fómê-
vioemfonhosada fuaEf- te imagens dos feus Reys,
tatua.DizaHiíloriafagra- fe fazem tanto maiores q
da, que tinha de altura , ou elíes cà onde o Sol fe poé ,
cóprimentofeífentacova- ou ià onde o Sol nafce,
dos: Nabuchodoilofor Rex quanto he o exceílb im-
fecit ft atuam auream alti- menfocomque a fombra
Daniel.; ttidine ctibitorum fexag in-
3^- ta, i'\gora pergunto : E
quanto vinha a fcr maior a
grandeza deíla imagem,
que a eftatura do mefmo
Rej, a quem rcprefenta-
va.<^ Segundo as regras de
Vitruvio,&: a fymctría , &
proporçoens de hum cor-
po humano, o dedo menor
fe eíiende, fem outra me-
dida,Ibm outra proporção,
nem outro limite mais que
o quenomar,ou na terra
fecha os orizontes. A ima-
gem de Nabuco era de ou-
ro, as fuás faó de fombra:
mas como as artes que vé,
ou vaó exercitar, laò as da
folida,& verdadeira alchi-
mia.
CJMI
poft ^entecoflen. i \. |
mia ,elles ilibem cooTcr-^ grés dos rippliuididDs.Nei-
tereílaíbmbraem ouro,Sc íesíamoros Santuários da
fazerfe melhor adorar que Europa , ondeie veneraò
o mefmo Nabuco. A ima- imagens milagrofas , alli
creiTi de Nabuco para os fe vem penduradas as mor-
feus adoradores naò tinha talhas, as muletas , asca-
prémios , Separa os que deas, as amarras, os pès>os
naó adora vaó tinha forna- braços, os olhos, as lin-
Ihas. Là,ac cá naó he aífim. guas, os coraçoens dos que
Os que adoraó, & os que proteftaó naquelles votos
não adoraó, todos ardem: deverlhe miraculofamen-
porque todos por diverfos te todos eftes benefícios.
moaosficãoabrazados,& Deixadas pois as outras
confumidos terras mais remotas , que
313 Ainda reíla a ma- também podem teílemu-
iordor,& o maior eícan- nharneíle cafo j vos que
dalo, E qual he ? He que me ouvis , que direis da
quando eíias imagens tor- voífa ? Que milagres viíles
naó para donde vieraó,ía6 nos jà mortos? (quenao
taes as bulias de canoniza- fallo , nem quero que fal-
cão, que leváo com figo, leis nos vivos. } Equaes
que merecem fer colloca- feriáo as merecidas iníig^
das |pbre os Altares. Oh nias, ou trofeos dos meín
quem lhe puzera também mos milagres, com que a
diante as iníignias dos feus verdade fem lifonja^ & a
milagres! Vede que Xa- -'—^^ — ^—
vieres da India,6c que An^
chietasdoBraíil ! Eopeor
he, que fe algum os nao
imitou, nem teve imitado-
res i eíle he recebido fem
applauro,& eftà fepuitado
fem culto. Mas naô deixe-
znos em íúmcig os múd,-^
memoria ainda com hor^
ror, lhe adornaria as fe*
pulturas ? Também alli fe
veriaó mortalhas, naó de
poucos que refufcitaííem ^
mas deiníinitosjêc fem nu-'
mero, a quem tirarão a v'u
da. Também fe veriaó ca-.
4eaSí naó dos que Ubertá^
Y iii j raé
- »
íi:
344 _ Sermão daT>ominga vige/ima fegmda
raó do cativeiro, mas das quellas canonizadas ima-
naçoens.Sc povos inteiros, gens, que chegando aqui
que fendo livres , fizeraó deípidas^Sc toicas , torná-
cativos. Também fe ve- raóeílo£idas de borcado.
riaô amarras, naó dos na-
vios, que falváraó, mas dos
queíizeraó naufragar , 6c
perder, fendo elles no mar,
&: na terra a maior tormê-
ta. Também fe veriaó mu-
letas, não dos eílropeados
quefaraíTem, masdos que
fendo ricos , & abadados,
os deixarão mendigando
por portas, & fem remé-
dio. Também fe veriaó
braços,6c pès dos que fen-
do poderofos, fó porque o
eraó,os enfraqueceo , der-
& ouro; 6c pintadas có as
falfis cores com que en-
ganarão a fama , por ella
faó recebidas em andores,
6c frequentadas com rg^
marias. >
A Tègora tenho
^^4 , .
reprefentado-
aos noíTos novos Gover-
nadores,6cnaturaes o que
naó devem imitar nos ef-
tranhos. Nem creyolhc;
fera diííicultofa a abomi-
rubou,6coprimio ofeuin- nação de taò perniciofos
jufto poder fem mais ra- exemplos,naófócomoex-
zao que a violência Tam- primentados em todos,
bem fe veriaó finalmente mas também como feri-
osol?ios,que fizeraó cegar
com lagrimas: d>: os cora-
çoens que afogarão em
triílezas, em laííimas , 6c
defefperaçoens : d:^. as lín-
guas que emudecerão fem
poderem fallar, nem dar
hum ay, por Ihenaó fer li-
cito clamar à terra,né ain-
da gemer ao Ceo. Elles, 6c
outros faO os milagres da-
doSjSc magoados. Saibaó
porém que nelles como
naturaes concorre outra
terceira difiiculdade , que
nos eftranhos naó tem lu-
gar. Porque? Porque ain-
da que huns, 6c outros faó
imagens, elles faó imagens
comas raizesna terra. As
imagens naó fó ião obra
dosElUtuarAos,6c Pinto-
res,
I
U
pofiTentecoften^ 345-
rcsjíenaó também dos Jar- ceder aos que tem o o^over-
dineiros. Húa das coufas
mais curioías , qiiefe vè
nos jardins , onde as terras
le cultivaó mais primoro-
fa mente que nefta noíTa,
faó varias íiguras de muf-
ta^oii de outras plãtas for-
madas com tal artificio,
proporção , &: viveza de
membros, que tirada a cor
verde, em tudo o mais íe
no da fua própria pátria, &
naó por outra razaó , ou
funda mentOjíenaó porque
temasraizes na terra. Alli
tem os parêtesj alli os ami-
gos, alli os inimigos , alli
os intereíles da fazenda5da
familia, da peííba : & qual-
quer ácÇccs humores 3 ou
rcfp eitos, 6cmuito mais to-
dos j untos podem defcó-
naó diltinguem do natu- por de tal forte a imagem,
ral que reprefentaó. Mas dcreprefentaçaó de quem
efta mefma reprefentaçao
he muito diíHcultofa de
confervar. As outras ima-
gens> ou fejaó fundidas em
metal , ou efculpidas em
pedra, ou entalhadas em
madeira, ou pintadas nos
governa, que nem appare-
cia lhe íiquedo que deve
fer,&: em tudo obre, & feja
ocótrariodo que he obri-
gado. Se o humor das rai-
zes lhe brotar pelos olhos ,
naó poderá ver as coufas.
quaílros, ou tecidas nos ta- nem ainda olhar para ellas
pizes, fem mais diligencia^ fem paixaó , que he a que
nem cuidado, fempre c5- troca as cores as mefmas
ferváo,&: reprefentaó a íi- coufas,& faz que fe vejaó
gurajqiielhedeooartifice. hiias por outras. Selheto^
Porem as que faó forma-
das de plantas,çomo tem
asraizes na terra, donde
recebem o humor, crecen-
do naturalmente os ramos.
mar, &occupar os ouvi-
dos, naó ouvirá as infor-
maçoenscom acautela c6
que as deve exammar , ou
ficara taó furdo,que as naó
facilmente fe defcópoem, ouça, ainda que fejaó cla-
Zc fe fazem monftros. Ifto mores. Se lhe rebentarpe-
meímp fucede>ou pôde fu- la boca, mandará o que de-
/
■A
í^,
34,<^ Seymao da.^õmingdvigefimafegunda,
veprohibir, &prohibiráo oíferccer o governo àOíi-
quc deve mandar , & as veira,aquairecrcurou,dí-
fuas ordens feráó defor- zendo, que naó queria dei-
à^n^ ,& as fuás fentenças xarofeuoleo, cora aue fe
aggravos. Finalmente, fe ungem os homés,&fealu-
fair, & vecejar pelos bra- miaóosDeofes. Ouvida a
ços,&: pelas mãos, quefaÓ efcufa.foraóà Figueira, &
as extremidades mais pe- tambcm a Figueira naó
rigoías , & onde fe expri- quiz aceitar, dizendo, que
mentaó maiores exceílòs, os feus figos eraó muito
eftenderàos braços aonde doces, & que naó queria
naò chega a fua jurdiçaó, deixar a fua doçura. Em
& metera a inaó,& enche- terceiro lugar foraó à Vi-
rá as máos do que naó deve de, a qual diíle, que as fuás
^^-^^' uvas comidas eraó o fa bor,
31; Por certo que fe & bebidas , a alegria do
os que tomáraó febre fy mundo, & a quem tinha
eíles encargos fe aconfe- taô rico património , naó
Iháraó, naó digo comigo,
fenaócom asmefmasplã-
tas, que tem as raizes na
terra, ainda que os gover-
nos Foraó de maior íuppo-
íiçaó, & aurhoridade , os
naóhaviaódc aceitar. O
lhe convinha deixajo para
fe meter em governos. De
forte que aíllm andava o
governo univerfal das ar-
vores, como de porta em
porta,fcm haver qué o qui-
zeíTe. Mas o que eu noto
primeiro apologo que fe nefíasefcufis, he, que to^
efcreveo no mundo [ que dasconvicraó em húa fq
he fabula com fignihcaçaó razaó, & a mefma, que era
verdadeira ] foi aquelle naó querer cada húa á^zu
que refere a fagrada hfcri- xarosfeus frutos. E ouve
tura no Capitulo nono dos alguém que diíTeífe , ou
Juizes. QuizeraÓ ( diz) as propuzeífe tal çoufa a cila»
Arvores fazer hum Key arvores .^^ Ouve alguém, q
gue as governafle, & foraó iiRd^Q à OUvexra, que ha^
via
•í
foft ^entecoflen
Via de deixar as fuás azei-
tonas, nem a Figueira os
feus figos, nem a Vide as
fuás uvas ? Ninguém. So-
mente lhe diíTeraó, & pro-
puzeraó , que quizeífem
aceitar o governo. Pois fe
iÇÍQ foi fó o que I he diífe-
raójSc offerecéraó , & nin-
guém Ihefallou em have-
rem de deixar os feus fru-
tos ; porque fe efcufáraó
todas com os naó quererê
deixar ? Porque entende-
rão, fem terem entendi-
mento, quequem aceita o
governo de outros , fóha
de tratar dei les, & naó de
fy: & que fe naó deixa to-
talmente o intereífe , a có-
"veniencia, a utilidade, 6c
qualquer outro género de
bem particuíar,& próprio,
naó pôde tratar do co-
mum,
5 1 é Saibamos agora ,
& naó de outrem , fenaó
das mefmas arvores, fe efte
bom governo , do modo q
cilas o entendéraójfe pôde
confeguir, 6c exercitar có
as raizes em terra? Aílim as
que o offerecéraó, como as
que o naó aceitarão, todas
concordáo,que nao. Que
diíTeraó as que offerecéraó
o governo ? Diíferão a ca-
da hiia das outras : Vehi^ ò'
impera no bis\\ináQ^Sz go*
Judie
9.12,
vernainos. Vinde ?Xogo
feeilas haviaó deir , ha-
viaófe de arrai^cardo lu-
gar onde eílavãó,6c deixar
as fuás raizes. £ cada húa
das que náo aceitáráo, que
refpondeo ? Reípondeo,
que não podia ir , porquj
movendofe havia de deir
xarás fuás x'aizes , èc fem
raizes náo podia dar fruto;
Nunquid pojjlim déferere^^'-^'>*-
pnguedinemmeam-tér veni-
re, tit inter ltg7ia promove ar l
De maneira que governar,
&: governar bem , não pô-
de fer com as raizes na ter-
ra. Governar mal, 6c para
deftruiçãodo bê comum,
iííbíim. E na mefma hi-
ftoria o temos , que ainda
vai por diante. Vendo a^
arvores , que as três a que
tinháo oíFerecido o gover-
no, o não quizeráo aceitar^
diz o Texto, que fe forãé
ter com o Efpinheiro , U
lhe fizerãoamefma offer-
ta. E que refpondeo o Ef-
pinheiro?
/
>4
5 4.8 Sermão da dominga vigejimafegunda
pinheiro ? He repofta mui-
to ái<^m de ponderação. A ^.. VII.- >
propoíla das arvores foi a
Íbid.r4. meíma : ^^2/, é^ impera fu
Zbid.if
pernos-. & elle refpondeo
não fó como Efpinheiro ,
fenão como efpinhado : Si
verè me Regem vobis confti-
tuitis^ venite^ &fubumbra
mea requiefcite\fi autem fion
vultis 5 egrediatur ignis de
rhamno^ à* de^oret cedros
Libani: Se verdadeiramê-
te me dais o império, vin-
de todas deicarvos a meus
pès , & porvos à minha
fombra: & fe ouver algúa
que repugne, fahiràtalVo-
godo Efpinheiro, q abra-
ze os mais altos cedros do
Líbano, Não fei fe repa-
rais na diíferença. As ar-
vores, que lhe ofFerecéraõ
o governo, diíferãolhe,/^-
ni : & elle diíTelhes, k^enite.
Não íbu eu o que hei de
deixar as minhas raízes,
fenão vòs as voíTas. Em
conclufaô, que quem ha de
governar bé, deixa as fuás
íaizcsi 6c quem governa
n\al,arranca as dos fubdi-
tos,6c fô trata de confervar
as fuás.
317
Stahea partí-
L^cular difíícul-
dade, & o grande perigo
cm que eftaó de fe não có-
formarem com o foberano
original, que reprefentaô
asimagens,que tem as raí-
zes na terra. HeneceíTario
para fe confervarem neíla
nova reprefentaçaó, &pa*
ra governarem como de-
vem , que fe apartem da$
fiías próprias raízes. Olhai
para todas as varas defdc
a maior à menor com que
fe governa a Republica.
AqueihcS varas não tiver aò
também fuás raízes ^ Sim
tívcrão. Mas para gover-
narem,& terem jurdiçaó,
todas foraó primeiro cor-
tadas das mefmas raizes,6c
por lífo todas faó varas fe-
cas. Qae remédio logo pa-
ra que as novas varas,que
nos governão, tendo como
tem as raízes na terra, con-
fervem a imagem do Ce-
farquereprefentaó.^O me-
lhor, & anticipado remé-
dio ouvcra fido efcufaréfc
como
pofiTenfecoJien. 349
como fizerão as arvores que pôde a diligencia, & a
bem entendidas j mas a eí-
cufa jà não tem lugar. O
receo de poderem fer co-
mo o Efpinheiro, quepro-
meteo fombras, & amea-
çou rayos,tambem me não
dà cuidado i porque todos
conhecemos a moderação,
^ modeíHados que acei-
tarão o go\^erno. Mas por-
que os mefmos governos
antes coílumão mudar as
condiçoens dos homens ,
que con ferva las j o mais fe-
guro mcyo de todos feria
cortar as raízes. E quando
areíoluçâo de algum foiTe
tão animoíii que afiim o fi-
zeiTej cu me atrevia a lhe
prometer da parte de
Deos, que nem por iíTo lhe
farião falta. A Vara de A-
ramnão tiaba raizes na
terra ; & com todo rever-
deceOj íloreceo, &: deo em
meyo dia o fruto, cjue as
raizes lhe não podião dar
em menoi de hum anno.
Mas deixados os milagres
a Deos , Sc recolhendonos
aos limites da natureza, fó
vos aconfelho , q^e façais
com toda a applicaçaô o
induftria. Que faz o Jardi-
neiro para confervar a re-
prefentação das fuás ima-
gens, por mais que tenhaò
as raizes na terra ? Traz
fempreos olhos poílos na
figura quereprefentao j 8c
contra todo o Ímpeto do
humor, que as mefmas rai-
zes naturalmente cômuni-
cão à planta , jà endireita-
do, jà dobrando ,jà ligan-
do, jà decotando, conferva
nellas a imagem taó pro-
porcionadaj inteira, Sc fem
mudançajcomo fe a tive-
ra lavrado em mármore,
ou fundido em bronze.
3 1 8 Tudo iílo he ne-
ceíHirio a quem ha de re-
tratar, ou transfigurar em
fy não outra , nem menor ,
ou menos fagrada imagê>
q a da mefma PeíToa Real ,
a quem reprefenta. Fia de
endireitar, ha de dobrar,
ha de ligarjha de cortar : &
como.^ Ha de endireitar a
intenção , tendo-a fempre
muito re£ta de fervir fó a
Deos,&: ao Rey . Ha de do -
brar a vontade ., para que
fempre fe incline^ 6c íi ga o
X
^
jjfo Sermão daT^ammgavrgeJtmafegunda
juizo,& ditames da verda- Oraabri mdhoros olhos,
deira razáo. Ha de ligar,
& arar o appedte, que jun-
to com o poder, he muito
vioIento,& rebelde, para
quefenãodefenírée. E íi-
ôc logo a vereisi mas he ne-
ceíTario le\^antar o penfa-
mento. S.PauIodiZjqueo
Verbo eterno he a figura
dl própria fuílancia do
nalmente, fealgum átí^its. ^c\ár:Q\ ^ii cum/it fpkndor
.rr.n^ 1. ... gloria,^ figura fubftãntU^^
(jus. E que he,ou quer di-
zer o Verbo? He, & quer
dizer a palavra. Pois a
palavra de Deos he a fi-
gura da fua própria íuftá-
cia yfi^urafiibílanti£ ejus >
bim. Porque toda a fua fu-
ílancia , & todo o feu fer
imprimio , &: exprimio
affedtos quizer brotar no
que não he decente a tão
foberana repreíentação ,
decotalo logo , &: cortalo
para que a não defcom-
ponha j & fe acafo fe fente
por dentro , naó apareça
fora. A figura que haveis
de trazer fempre diante
dos olhos , he o mefmo
Hebr.i.'
Rey de quem fois imagê : Deos na fua palavra, como
6c náo como aufente,fenão própria, natural, & perfei-
como prefente •, nem como tiífima figura de íy mefmo,
inviiivel, fenão como vi- E allim como Deos impri-.
ílo. Mas como pôde ifio
fer,feelle eílà tão diftan-
te? Muito facilmente , fe
não tirares os olhos do feu
RegimentOjno qual vereis
ao mefmo Rey tão natu-
ral, & vivamente retrata-
me, & exprime a fua figu-
ra na fua palavra, afiim os
Reys, que fa5 os Deofes
da terra, fe imprimem , &
eílampáo nas fuás. De ma-
neira que quem lè as pa-
lavras, a firma, & 3S ordena
do em fua própria figura, do Rey nos feu s Regime-
como fea tivéreis prefen- tos,vè apropria figura do
te. Dirmchcis que no vof-
fo Regimento ledes fim as
palavrasj&c firma do Rey ,
mas naó lhe vedes a figura.
Rey, ouve ao Rey em fua
própria figura. ísTunca o
pincel de Apcllcs retratou
táo felizmente a Alexan-
dre,
'Ht^a.
íi
foftTentecoJien. ^fi
dre, & o reprefentou aos quede Key: In hac mepo-
olhos taó próprio , & taó tms parte confpicite qu^elã"
vivo,como os Reys no que
efcrevenij&ordcnaójíere-
trataó>ou reproduzem a fj
mermos. Sapiens in verhis
producet feipftim :diz oEf-
pirito Santo. Mas ouçamos
a hum Rey.
319 No tempo em que
os Godos dominarão a Ita-
lia,humdos Reys que ti-
veraó a fortuna de eícre-
ver com a penna deCaíIio-
doro , defpachando feus
Regimentos a algunsMi-
niílrosauíente$,que nun-
ca o ti n hão vin:o,diz aíTim:
tetprajentes : non eíf ^obis
damnum abfentié me£ : titi-
lius eft mente noffe^ quàm
corpore. Folgai { diz} de
me ver antes no que vos
efcrevo, que em minha
própria peílba , entenden-
do que me '^ç.àts melhor
do que os que na minha
Corte eítaó prefentes j
porque vereis o queelies
naóvem , 8c fabereis de
mim o que eu lhe encubra
a elles- aifi m q por eíle mo-
do nenhum dano recebe-
reis da minha au fencia.
Yenetefpeculum cordís^fpe- nem a m inha prefença vos
€ulum vohmtatis^ ut qtiibus fará falta ♦ porque na pre-
non fiímfacie notus , fiam fença , como os demais.
msrú qualitdte recognitus'.
Quando chegarem a voííàs
máos eâas minhas letrasj
recebei-as como hum ef-
vermeheiso roílo , & na
aufenciajpelo que vos or-
deno, vermeheisa Alma.
Mas naó deixemos fem
peiho do meu coração 5 da póderaçáo chamar o Rey
minha vontade, Sede mim às fuás ordens efcritas et
mcfmo : das quaes,pois me
naò conheceis pelo roflo,
me conhecereis pelo ani-
mo. Notai agora o que
acrecenta com juízo ver-
dadeiramente real, & dei-
criçaó> 6c agudeza mais
pelhos de íy mefmo : Tene^
tefpeculum corais^ fpeculum
volufitatis. A mais perfei-
ta figura, que inventou a
natureza, ànao pôde imi-
tar a arte, he a que fe vé no
efpeiho. Porque o q fe vè
na,s
y
.^
^^t Sermão da T)omin_ga vigefimafcgunda
nns cores da pintura, ou to obíervarem as ordens
nojvulto das eílatuas , he
fó húa femelhança , Sc re-
prefentaçaó dapeílba^po-
rèm no eVpelho naó fe vè
fcmelhança, ou reprefen-
taçaó, íe não a mefma pef-
foa por reflexão dasefpe-
cies. O efpelho naó he ou-
tra coufa que hum impedi-
mento das eípecies com
que vemos, o qual as naó
do feu Regimento , feráó
imagens do Cefar^ Sc pelo
contrario no ponto cm q
íenaó conformarem com
ellas, perderão a femelhá-
ça, a íiguraj&: o fer de ima-
gens fuás.
3 2 o Perguntaò os Theo-
logos, fe Adam pela def-
obediencia perdeo o fer
que tinha de imagem de
deixa paírar,^^: tornaó para Deos ? £ refpondem geral-
os olhos. P- aílim como o mente que naó j porq naó
efpelho fendo impedimê- perdeo a memoria, en ten-
to da viíla por meyo da re- dimento, & vontade, em
fiexaó melhora a mefma que confiftia a femelhan-
vifl:a,aílim na aufencia, çadeDeostrino,&hum, a
que também he impedi- queomefmo Deosotinha
mento da vifta , por meyo criado. Mas eíla repoíla
da efcritura fica a mefma
viíla melhorada. Sem ef-
critura he a aufencia im^
pedimento , com efcritura
he efpelho. Eíle efpeiho
pois dos Reys , em que
mais vivamente fe repre-
fentaafua mefma PeíToa,
quenafua própria figura,
heo q haó de trazer íem-
pre diante dos olbos os
quetempor obrigação, &
officiofcrimagcs do Rey.
Entendendo queemquá-
tem neceílidade de diíiin-
çaó. Omefmo homem de
dous modos era imagem
de Deos : hum como ima-
gem naturai , outro como
iip.agem politica. Em quã-
to criatura racional com a
fobcranía do livre alve-
drio cm três potencias, era
imagem, que naturalmen-
te rcprefcntava a Deos 5 a
qual de nenhum modo po-
dia perder , porque nella
coníiília a fua própria cf-
Icncia.
Nk»
poftTeniecõJten. _ ^^^
íència. Pòrèmem quanto comeíle, comendo tambe
fenhor do mundo com o
governo de todos os ani-
inaes,era locotenente do
mefmo Deos> &; imagem
politica rua,8c efta naõ fó a
elle j logo perdeo a ima-
gcm^emque reprefentava
a Dcos politicamente, &
osanimaes^q já naõ viao,
nem reconheciaó nellea
podia perder Adam> fenâo imagem» que tinha pcrdi-
quede fadbo a perdeo.Mas do, por inftinto natural fc
quandoj&como? Tinha- rebelláraó, & Ihenegáraó
lhe Deos dado por Regi-- a obediência.
mentOjqueguardaíTeoPa-. 321 Viíles (^ diz elc-
raifOí^cquenem elle, nem gantementenefte paííb S.
lua mulher comeíTem do Ghryfoftomo^^viítesafo-
fruto da arvore vedada. E geiçáo có que o voílb cao
cm quanto Adam guardou vos reconhece, a prompti-
eíle Regimento Ç que não dão cô que chamado aco-
tc fabeao certo por quan-
to tempo foi 3 confervou
inteiramente em fy cfta
íègunda imagê de Deos,
fendo venerado , & reco-
nhecido por fenhor>&:obe-
decidonoar, no mar, &
na terra de tudo quanto
vivia neftes três elemen-
tos. Porem depois que fal-
tou àobfervancia do mef»
mo Regimento , antes o
quebrantou em tudo, naò
guardando o Paraiíb, por
de, o amor com que vos fe-
gue,& o alvoroço natural
có que vindo de fora , vos
faea receber , & a faltou
vos feíleja : & pelo con-
trario, íe vos disfarça ílcs,
& cobriíles o roílo com
húarnafcara, eííe mefmo
cão, ladrando , remete a
vòs,& como eílranho, ou
inimigo dà rebate contra
vós em voíTa própria caía.?
Pois ifto mefmo fucedeo a
Adam com todos os ani-
que deixou entrar nellea maes,depois que defobc-
Serpente, nem fe abften- decendo, mudou a figura,
do da arvore prohibida , & perdeo a imagê deDeos,
porque confentio que Eva que era o caradter villvel
Tom. 7. Z do
I
^ f4 Sermão da dominga vtgejimafegunda
do domínio do Uni ver fo ,
quenelle tinha delegado.
Tanto vai de guardarem,
ou naó guardarem o Regi-
mento;. & ordens do fupre-
iiio Príncipe, os que eile
fubftituío em feu lugar,
para que como imagens
íuas o reprefentem. Eu
naó me queixo das imagés
§. VIIÍ.
322 /^Díroatèquiba-i
(^quãdonaó
fobeje 3 para que os noíTos
DO^amenteeicitos tcnhaó
entendido o modo^co que
podem 5 & devem íaiísfa-^
zer as obrigaçoens de ima-
emmafcaradas, porque fei gens do Ceíar,em quefem-
inuito bem as cores, coque outro exemplo ft vem de
honefta , & modeítamente
fefabem tingir, ôc fingir,
em quanto allim lhe im-
porta a fuás pertençoens >
mas a minha queixa , &
de todos he , que depois
<jue fe vem feitas,ou enfei-
tadas em imagens, entaó
tirãoa maícaraj& moírraó
defcubertamente o q eraó,
êcíempreforaó. Aílim que
jiaòha outro meyo certo,
®urode fe confervaré
na inteira repreíentaçaó
de imagens do Cefar,os
que por mercê, &c authorí-
dade Tua tem eílc nome/e-
naòa verdadeira,^ exada
obfervancia de fuás ordes j
& veremfe, ficcomporcTe,
& rctrataremíc em icws
Regimentosjcomo em eí-
peliios.
prefente coníiicuidoí,: que
era o primeiro ponto tia
noíTapropoira. Oiegunda
pertence aos íubdicos, &
vaíTaliosdo mefrao Cefar,
&he,como devem obede-
cesse reverenciar as mef-"
mas imagens; em que to-
das as diííiculdades5que no
primeiro difcuríò apontá-
mos, eííão facilitadas , 6c
por iífo fera eíle muita
breve.
323 Primeiramente
nosíubditosnao occorrea:
Giiíicuidade do acerto na
indiíterença, ourciòluça6.
do que fe ha de obiarj por-
que ella fo pertence a que
manda 5 6c não a quem lo
deve obedecer: fendo pri-
vilegiofingular da ubedi-
-encia.
foflTentecoflm. ^Tf
cncia, que podendo errar movero bem,aíííniíàbem
quem manda 5 & errando
líiuitas vezesjfó o que obe-
dece, ainda {^ç^^mào eíTes
mefmos erros , fempre
acerta. Do mefmo modo
naóeíláo expoílos osfub-
ditos àquella terrivel ten-
tação,em que mete as ima-
gens dos Cefares o eílar
longe delles j porque fe as
imagens, que os reprefen^
tão,eftáo longe, os que fe
devem conformar com el-
!aS) ainda que ellas fejaô
disformes, fempre as tem
àvifta. Finalmente,© íè-
rem imagens, que tem as
raizes na terra, tão fora ef-
tà de íèr inconveniente,
que he o que mais convém
a toda a Republica. Os que
nafcéraó, ou fecriáraó na
mefma terra, comoas qua^
lidades de cada húa faó
differentes , &: diíferentes
os climas,6c influencias do
Ceo quenelias dominão ,
& conhecem as inclina-
os meyos efficazes, & mais
provados,com quefe pode
obviar o mal. E de todas
eftaspropriedades, & no-
ticias,na6fó importantes^
mas totalmente neceífa-
riasjcarecem os que vem
de novo , Sede fora, fem
lhes valer, como inexper-
tos, nenhua ciência , òiÇ^
curíb, ou juizojpor agudo i
& bem inftruido que feja.
Adam & Eva tinhaó cien^
ciainfufa, & fabendo, co-
mo náo podiáo ignorar,
que as cobras naó fallavãoy
por informação de húa
delias, tendo-os Deos po-
fto no Paraifo para gover-
narem o mundo, o mundo,
& o Paraifo tudo perderão
em poucas horas.
^24 Pelo contrario,
quiz Deos acodir ao peri^
go de fe perder total men-
te, em que o Povo de If-
rael eílava no Egypto 5 & a
quem efcolheo para eíla
çoens,&: coílumeSjOu bos, grande emprefa de o con-
ouviciofos dos que as ha- fervar,& livrar de taó po
bitãOjSc de tudo tem larga
experiência , aíTimcomo
podem fuavemente pro-
derofos inimigos } A pef-
foa que efcolheo > foi a de
Moyfes, o qual poílo que
3T<í
veíhdodcpelles, & com
hum cajado na mão guar-
dava ovelhas em hum de-
ferto,na6 tinha menos que
quarenta annos de vida, Sc
experiência do mefmo E-
gypto. No Egypto nafcé-
ra 5 entre os Egypcios íè
criáraj&nasefcolas do E-
gypto aprendera quanto
elles fabiaó : & por iííb não
com outros inftrumentos ,
íenáocom o mefmo caja^
íio vcnceo todas as diííi-
culdades, & confeguio fe-
lizmente a emprefa , obra-
do os maiores milagres, q
jamais tinha viílo , nem
vioomundo. Então que-
remos que remedee os ca-
tiveiros do Egypxo:,& faça
milagres no Egypto, quem
nunca vio o Egypto. O
Profeta Abacuc quando
Deos lhe mandou, quefof-
feaBabyloniafoccorrer a
Daniel, que eílava no lago
dos Leoens , prudentiíli-
mamente feefcufou , di-
:2endo, que nunca vira a
Babylonia , nem fabía on-
de eftava tal lago; Bubylo-
raníei. Tiem 71071 vidjy ^ lacumnéf-
^^ ^'^ ^JSi £ fefoi a Babyloíiia^Sç
vige/imafegimda
tornou a Judéa , & fez em
meyo dia pelo ar,o quehú
diligente caminheiro naó
podéra em meyo anno,foi
porque o mefmo Arijojquc
lhe deo o recado da parte
de Deos , o levou, & trou-
xe, & lhe moftrou o que
nunca vira , & enfmou o
que naó fabia. Suppofto
poisque os que vem de mil
legoas a eíía noífa terra,ta6
nova para elles, como Ba-
bylonia para o Profeta, né
trazem , nem fao trazidos
de Anjos em fuprimento
das experiências que naó
tem , & quando começaó a
decorar os primeiros ru-
dimentos delias 5 fe voltaõ
outra vez para oiide vie-
raój muito melhor provi-
dos eftão hoje os lugares,
que elles haviáo de occu-
par,nos que com tanta ca-
pacidade de conhecimen-
to, juizo, talento,& verda-
deiro amor da mefma ter-
ra,a cultivarão como pro-'
priaj& não desfrutarão co-
mo alhea. E quando de feu
cuidado , (Sc trabalho co-
Iháoalgú fruto, QiYccin^in*
d^mçno^ ficará onde naf-
<:eo>
^'k
m
põflTentecoJien. 35"/
ceo, mie he o mefmo que experiência do Teu erro os
femearícde novo : & na5
dallo a terrajpara que o le-
ve o mar.
32<r Todas eftas razoes
de conveniência , & utili-
dade perfuadem no pre-
feri te governo a prompta
fogeiçaó, &: alegre obedt-
cncia dos fubditos, refpei«
tandoeílas novas imagens
do Cefar com tanto maior
propenfaó , & vontade,
quanto mais tem denatu-
raesjdomefticas 5 & fuás.
Mas he tal a protervia da
condição humana , %c vi-
cio táo próprio da pátria ;
que por ferem naturaes*
domeílicaSrScfuas as mef-
masimagenS:, em vez de
conciliarem maior vene-
raçãOjObediencia , 8c reA
peito, degeneraó em áç^C"
prezo, defobedienc ia, 6cre-
beldia. Ailimlhe fucedeo
aSaul , &: a David, fendo
ambos eleitos por Deos,&:
05 mais dignos do governo
da fua pátria. Huns obede-
céráo^outros fe rebelláraó,
6 em alguns durou a re
fogeitou à razaó. E fe buf-
carmos as raízes a efte vi-
cio, acharemos, que toda
elie nafce da igualdade da$
peíToas, prefumindo cada
hum, que a elle íe devia a
eleição do lugar , & a pre-
ferencia. A eleição do fum*
mo facerdocio na peíToa de
Aram foi tão mal recebida
de muitos, que Datan , A^
biron , & Core levantarão
tal tumulto no povo , que
para Deos o focegar, & ca-
ftigar os rebeldes, fe abrio
fubitamente a terra, & vi-
vos foraó fe pui ta dos no
Inferno com todas fuás ca-
fas,&familias , & abraza-
dos com fogo do Çeomais
dequatorze mil homens,
que feguiraó a mefma re-
belliáo. E porque a fegui-
rão .^ Porque muitos deli es
erâoiguaes, & parentes de
Aram^,^ náo fofriaó que
lhe foífe preferido. Mas^
tanto fente Deos, & táo fe-
vera mente caíHga a ce-
gueira de femelhantes am-
bíçoens > tendo dado por
beldia naó menos que (ttc ley ao mefmo povoj que
a,nnos inteiros i atè que a quando em algum tempo
Tom,/, Z iij oa-
( J
■
"
•^ 95^ ^^'^i^^ÕdaT^ommgavigefimafegnnda
j ouveíTenide eleger quem que a repreTentaçaó 5 cm
Dcur
1 .«f
OS governaíTe a todos, naò
foíTe outrem, fenaó de feus
irmãos, & de nenhum mo-
do homem eftranho : N.on
J)õteris alterius gentis homi-
nem Regem f acere , qni non
fitfrater tuus. Fina 1 mente,
fe como diz Chrifro .Se-
nhor noíTo, o bom Paftor
he aquelkjque conhece as
fuás ovelhas, ôc as ílias ove-
lhas o conhecem a elle:
Joann.
queellas confiílem, pofta
em qualquer materia,fem-
preheamefma. Quê ver-
dadciraméte crè em Chri-
ílo, tanto adora em hum
Crucifixo de ouro, como
cmoutrode chúbo. Qiie-
rem com tudo os lifongei-
ros,&: os liíbngeados, que
fô íe devaó os governos,&:
fó fejaó aptos para elles os
nomes pompofos > &: ap-
EgoJumTaftor bónus 5 & pellidosilluíires: como fc
çognofco oves meãs , & cog- as acçoens, &: feitos honro-
nofcuntme meí^ : como as
poderá governar, & enca-
minhar bem o eftranhoj
C&mais fefor Mercena*
rio^ que nem elle as co-
nhece açllas, nem ellas a
elle?
5. IX,
31S
MAs contra tu-
do iílo fe le-
vãtaaquclla politica mais
fcguidapelocoílume, que
approrada pelos exeplos,
a qual tem perfuadido ao
mundo, que fó olhe , ou fe
deixe cegar do reíplandor
das imagens, fcm advertir
fos fenaó hajaó de eíperar
com maior razaô daquel-
les,que querem aquirir a
honra,que dos-qiiecuidaó,
&: dizem, quejá atem. O
meímo luílre dos illuílres
lhes tira o temor, Sc os en-
che, ou incha de inimuni-
dade, quelhedaó confian-
ça para grandes oufadias;
& das ouíadias grades naf-
cem maiores ruínas. O
mais illuítre dos elemen-
toSvOmais alto por lugar,
&: o mais nobre por cálida-
de, he o fogo , & delle fe
acendem os rayos no Ceo,
&:featea5os incêndios na
cerra. O feu natural onde
chc-
i
poJlTen'
chega, he levantar fuma
ças,& fazer cinzas :& nao
he acomodado inftrumert-
to para edificar, & confer-
var Cidades, o que coftu
todos faó honradoS5mas da
nobreza do meyo. Epor-*
que não fizeraó as Arvo-
res eíle mefmo ofFereci-*
mento aos Cedros , às Pai-
jnaabrazarTroyas.Osou- mas,&aosCiprefies^ Naa
tros elemétos fervem-nos faó eítas Arvores entre to-»
de graça,& fó o fogo à nof- das as mais altas , as mais
fa cuíla, porque para fer- celebradas j as maisiílu»
TÍrhadeterque queimar, ílres? Pois porque naó tr\r
& fe naó queima, naó fer- tráraó cm cófideraçáo pa-
'" * • ' ' ' ra querer a verde , & flo-»
rente Republica das plan-
tas, que ellas a governaf-
fem ? Por iíTo mefm o -, por-
que eraô as mais altas, 8r
as mais illuílres. O alto, &
ve. Tal he a luz do mais
illuftre elemento : & tal
muitas vezes o governo
dos mais illuftres. Naó era
illuftre David, &foi illu-
ílriíiim_o feu filho Sala-
mão : & o Reyno, que fu- o illuftre he bom para o hi
íl:entou,6c amplificou o^ zarro, & oftentofo , mas
naó era illuftre, perdeo, &
desbaratou o illuftriftimo.
327 NoApologoque
referimos da Efcritura fa-
frada , em que as Arvores
ufcáraój&elegérao quem
as governafíe • he muito
naõ para o útil , & neceíla-
rio. As arvores nao as fez
Deos para bandeiras dos
ventos, fenaó para fuften-
to dos homens. Que im-
porta que a fua altura, ou a
fua altiveza feja muita,fe o
para notar, que aquellas, a íèu fruto he pouco > A quê
que oíFerecéraõ o gover- fuftentáraòjà mais os Ce-
no, foraó a Oliveira , a Fi- dros, as Palmas, ou os Ci-
gueira,6c a Vide, fem en- preftes ? Pelo contrario a
trar outra nos pelouros de- Figueira he a que faborea
íla eleição. Reparai agora o mundo, a OUveira,a que
nosappellidosdc Figuei- o alumia > a Vide,a que o
ía^Vide, §ç Oliveira, que alegra i U toda», entre as
Ziiij plaíi^
6o
Scnnao duT^on.
Eoclef.
^4 »7.
plantas as que mais o fu-
ílentáo. O que diz a Efcri-
tura das ou trás tres arvo-
res ai tiírimas3& illuílriíli-
mas, he, quetodas bufcaó
a fua exaltação nos montes
mais levantados: ^/^C^-
4rus exaltatafum in Liba^
no^ & quafi Cyprejjíis in m^^
teSion: quajt Talma exaU
tatá f um in Cades. Hon-
remfe embora com eflas
arvores os Teus m5tes> que
os noíTos valies naó hao
miíter quem procure a fua
cxaltação,fenão quem tra-
te do noííb remédio. Os
Cedros, as Palmas, & os
Cypreíles faó os Gigantes
das arvores, & o que trou-
5teraó os Gigantes à terra >
náo foi menos que o dilu-
vio. Oh que duro feria o
governo daquelle foberbo
Triunvirato no forte do
Cedro, inflexível j no ru-
gofoda Palma, afpero-, &
no funefto do Cipreíle,
rriíle ! Porém o das outra$
arvores de meãaeílatura,
feria igual, feria modera^
do, fcaa fuavcque por iífo
todas allegáraò a fua do-
çura. Jp, iíto he pelas mpf-
^iga vtgejtmafegit7iãa
mas razoens o que deve-
mos efperar do noíTo.
328 Sendo poistaó
particulares as conveniên-
cias do novo governo nas
imagens, que temos prc-
fentesjdo noífo feliciífimo
Cefar, que Deos guarde ,
feja também noTa,& mais
exacta que nunca a fogei-
çaó, refpeito, & reveren-
cia, com que todos os vaf«
fallos da mcfma Magefta-
deos venerem , & obede-
ça õ, naó fó como fe a Real
PeíToa eftivera prefence»
fenaò em certo modo ain*
da muito mais. Tenho ob*
fervadoaílim no Ceo co^
mo na terra, que mais eíti-
maô os fupremos Monar-r
cas os obfequios , que fe
fazem a fuás imagens, que
a fuás próprias PeíIbas.Lé-
brame haver lido em S.
Agoílinho no livro dos
feus Comentários fobre 05
Pfalmos,*quc reíidindoem
Romano tempo, em que
ainda naô eílava deílerra.»
da de rodo a idolatria , fc
admirava muito de queos
homens foíl em aofTcmplo
fio Sol; de que hoje fe vem
íiaQ
põJiTentecõften. 5^1
naó pequenos veftigios, & que naó mandou, que o
que alli de dia , & naõ de
noite adoraífem a imagem
domefmoSol com as co-
fias muitas vezes voltadas
a elle ? Pois fe tinhaó o Sol
adoraíTema elie , fenaóa
fua Eftatua ? Porque era
maior oftentaçaojSc gloria
da fua5que chamava om-
nipotência, fer venerado,
prefente, porque naó ado- & adorado na imagem, que
ravaôao Sol, fenaó a fua oreprerentava,que em fua
imagem > Porque entcn- própria PeíToa.
deo a religião, ou fuperíli
çaó dos Romanos , gover-
nada pelos primores da fua
própria politica j aue mui-
%o maior mageftaac era do
Monarca dos Planetas
fer venerado de taò longe
em fua imagem , do que
529 Soem huacircun-
ílancia obrou Nabuco co-
mo defconfí ado , que foi
cm fazer a mefma imagetn
de ouro. Faze-a,Rey> d^
pedraj6c feráó as fuás adoM
raçoens pira ella muita
mais reverentes, & para ú
adoradoemfymefmo,po- muito mais gloriofa*s. Na
ílo que viilo. Ao menos af- Eftatua de ouro podo pa?
íimhe certo, que o julgou recerque adoraó a mate-»
a foberanía de Nabucodo- ria,6cna6 a forma, o preçQ
riofor, quando fe reputava do metal,&na6 a reprefen-*
fuafoberbanaõfôfenhor, taçaódaimagem.Onde a
mas Deos detodo o mun-
do. Fez aquella Eílatua de
ouro de tão defmedida
grandeza comofabemos,
& com as fornalhas acefas
contra os que a naó adoraf-
fem, mandou, que ao fom
de trombetas todos do-
braíTem os joelhos diante
delia. Pois fe Na bucodo-
-|iofor eílava prefence,por-
matéria das imagens he
menos preciofa ^ alíi eftà a
fé,'6ca reverencia mais fí*
na. Eefta he aiineza do
noíTo cafo, adorando , ref*
peitando,6ç obedecendo o
original foberano do noílo
CeíarjOaò nas imagens df
ouro, que atègora cà fe
manda vaó, fenaó nos már-
mores naiuraes , U dome*-
^^2 ^^^^^oda^Bomingavígepmafegunda
íticos da noííli mefina ter- to do fervico Real , & Di-
rá. Seo eíFeito for qual fe vino.que com fumma paz,
cípera, & eu me eftou pro- quietação, & concórdia fe
iTietendo defta mudança verifique em todo efteEl-
tíamacdoAItifiimoiOpre. tado,oqQe Chriílo refpó-
ícnte governo fera taó deo à pergunta, que hoje
aceitoa peos,&ao Rey, Ihefízeraõno Evangelho,
queSuaMageftadcocon. iftohe^quea Deosfedèo
íirme , & faça perpetuo : de Deos , & o de Cefar a
com menos á^Ç^t{2. fua, Cefar : Reddite quét funt
com grandes utilidades C^faris.Cafari.&quafunt
noílas, & com taó conhe» 'Dei^^Deo.
cidas melhoras, & augme-
SER.
3<í3
ààkààÈ ^à^ààààààààààMà^
ffffffffffff^fffffi=ffl'i
SERMA
DE NOSSA SENHORA.
DA GRAÇA.
ORAGO DA IGREJA MATRIZ DA CIDADg
do Parájcuja fefta fe celebra no dia da AíTump-
Ção da mefma Senhora.
Mma. opúmam partem elegtt . Luc . i o.
'■'■^BiM^ Rande día,grã'^
È» de Feira :, grande
Evangelho : &
ííixi»^ grande difficul-
dade também a de cócor-
dar com propriedade , &
verdade o concurfo deílas
três obrigaçoens. O dia he
grande i porque he aqiielle
ferniofodia,emquea Vir-
gem Maria, depois de pa^
gaf o tributo à morte> co*
mo verdadeira filha de A^
damjrefufcitando logo co
mo verdadeira Máy de
Deosjfubio ao Ceo a gozac
para jfempre a gloria defua)
viíla. A feíla he grande i
porque he da Senhora da
Graça, titulo defta Igreja
Matriz, a primeira, Sc ma-
ior de húa tao dilatada
Provincia,& cabeça de to>«
das.Q Evangelho he graiv
dej;
j^4 SermaUe
de > porque nelle debaixo bridadc do me/mo titulo
Martha&Mariaferepre- ção da mefma Senhora,
íencaó as duas vidas a£ti
va, (Sc contemplativa , em
cujo complexo fe contém,
Sc côprehende toda a per-
feição Evangélica. E he fi-
nalmente grande a àim-
cuidade de concordar o
concurfo deRds três obri-
gaçoensj porque fendo a
gloria o fim , &: a graça o
meyodea confeguirjante-
Jori
naó confta , nem ficou em
memoria. Mas neíta q pa-
rece fem-razão, & impro-
priedade, acho eu três gra-
des propriedades, & ade*
quadas razoens. A primei-
ra,porqueagraçahe o di-
reito por onde le deve aos
Juílos a gloria: aíegunda,
porque a gloria fe diílri-
bue a cada hum pela medi-
por a graça a gloria , & o da da graça: a terceira,por-
iiieyoao íim,náo fó parece que quando acaba de fc
diíTonancia , fenão defor- aperfeiçoar a graça , entaó
dem maníFeíla : & porque
applicando o Evangelho a
melhor eleiçaÓ,&: a melhor
parte à gloria da Senhora,
em vez de celebrar a mef-
ma gloria no dia de fua
Aífumpção , trocala pelo
titulo da Graça,tambê pa-
rece impropriedade, por
lhe naó dar nome de iniu-
ítiça.
331 O motivo queti-
veraò os antigos fundado-
res,para que havendo Ic
fe começa a poíluir a glo-
ria. £ como o dia em que
fe cerrou o direitojcm que
fe igualou a medida, 6c em
qucfeconfumou a perfei-
ção da graça immenfi da
Máy de Deos,foio mefmo
dia da fua gloriofa A fi um p-
çaó : Sc naó em ditierentes
horas , ou momentos da-
quelíe dia,fenaó na mefma
hora, & no mefmo momc-
to,emqueacabou decon-
í limar a immenfidade da
yantado eíle Templo de- graça,começou a Senhora
baixo do titulo da bcnhora a gozar a inimenfidade da
da Graça , unilfem a ceie- gloria j não fó foi piedade.
m
íí:
Noffa Senhora àa Graça. 3 ^f
Ôcdevaçaó particular, fe- em queviveo neftemun-
naó juftiça , que nefte dia do,fempre creceo mais , &
foífe celebrada, co tno he , mais atè o ultimo inftante
com titulo de Senhora da da vida. Logo em nenhum
Graça. Tanto aíTim, q em outro dia, fenaóno ultima
nenhum outro dia,ou fefta da mefma vida, que foi o
da Virgem Senhora noíTa mefmodia da AíTumpçaá
fe lhe pode dar própria, & da Senliora, fe podia,&: de-
cabalmente o titulo da via celebrar própria, & ca-
Graça/enao nefte. Epor- balmente a fua graça 3 por-
que \ Porque em todos os que fó naquelle dia fe aca^
outros dias fempre a fua boudeconfumara mefma
graça hia crecendo, nefte graça em toda fua perfei-
fó chegou ao fummo grão ^aô,&: grandeza. E iftohe
de fua grandeza , & fe vio o que faz efta nofla \ greja;
toda junta, &confumada. 3^ Masporqagraçada
No dia da Conceição foi a Virgem Maria foi cófumaJ
Senhora còcebida^cm gra- da no dia,em que acabou a
ça , mas eíla graça creceo vida temporal, & a gloria
delHe a Conceição atè o da mefma Senhora també
Nafcimêto,derde o Nafci- foi confumada no dia, em
mento atè a Prefentaçao que começou a eterna-, pa-
no Téplo, & dcfde a Pre- ra entrar naaltiflimaque-
íèntaçaóno Templo atè a fl:ão,quefe naó pode evitaç,
Encarnação. No dia da En- neftes ternios,& nefte dia ,
carnação efteve a Senhora entre a graça , & gloria da
chea de graça,mas eífa gra- mefma Senhora,ambas có^
ça foi crecendo até a Viíi- fumadas: 6c para refolver a
taçaó , da Vifitaçaó atè o qual pertence, conforme a
Parto, do Parto atè a Puri- noflb Thema,a eleição da
licação, da Purificação atè melhor parte, Mana optU
aMorte,&Refurreição,& mam partem ekgit % peça-
Afcençáo de feu Filho , & mos à mefma Senhora da
por tantos ajançs depois, Gloria,& da Graça nosaC-
6^
i
^65
áíta de tal modo com
graça, q a mereçamos ver
na fua gloria . Âve Maria,
§. II.
Maria óptima farte elegit.
333 /^^Ccupada Ma-
V^ ria com toda a
fua attençaó em ouvir as
Sermão de
fua próprio , applicaa Igreja
Catholicaà,prerente íblé*
nidade da gloriofa Af-,
fumpçaó da Virgé Senho-
ra noíía. Naó comparando
Maria (^a Magdalena } a
Martha , mas preferindo
MariaCaMáyde DeosJ) a
toda a Corte celeílial An-
jos, & homens. Divide a
gloria doCeo em duas par-
palavras de fcujôc noíTo di- tes,húa, que comprehende
vinoMeftre, a (Tentada a todos os Bemavéturados,
feus figrados pès : Sc occu-
pada tam.bem Martha com
todo o feu cuidado nas
prevençoens,& policias da
inera,em que havia de fer-
vir,& regalar a taó fobera-
nohofpede: Maria enten-
dêdo,que ainda erriley de
cortefia era maior obriga-
ção a da fua aíliílencia: &
Martha queixofa de qfua
Irmãaa deixaíTe fó i ref-
pondco o Senhora queixa
dehúa ,& accdio pelo fi-
lencio de outra, pronunci-
ando como oráculo divi-
no,que Maria efcolhéra a
melhor parte: Marta opti-
mampartemelegtt. Efta hi-
íloria tomada em allego-
ria,por naò ter Evangelho
outra,que unicamente per-
tence a Maria , &: efta can-
ta j& apregoa, que naó fó
he melhor de qualquer
modo , fenao em grão fu-
perlativo óptima , Ofti^
mam partem ekgif.
334 Poreftemodofé
concorda muito acomoda-
damente o Evangelho cò a
gloriada Virgem Senhora
noífa j mas a fegunda diííi-
culdade, que refervamos
para eíle lugar, naóconfi-
fte em concordar o Evan-
gelho com a fua gloria , fe-
naó com a fua graça. E que
feria fe eu d i iTeífe,q m u i to
mais própria mente fecon-
cordaóo mclmo Evange-
lho,ôc as meíniás palavras
com
Nvffa Senhora ãa Graça, ^ 6j
çonio titulo da Graça,que de quem confeguio a opti-
com o da Gloria da mefma
Seuliora Aílimo digo, &:
aílimoprovo. Porque tu-
do o que Maria acquiria
aospèsde Chriílo , & as
m^Lfiptimam partem ekgit.
Na cóparaçaó literal, Ma-
ria Magda lena foi preferi-»
da a Marcha na melhoria
da graça : na comparação
melhoras em que foi pre^ allegoricajMariaMáy de
ferida a fua Irmáa , hiílo • Deos foi preferida a todos
rial,literal,& propriamen- os Bemavérurados na me-
te eraó da Graça, & naó da Ihoria da gloria. Porém na
Gioria.Cóíirmafe do mef- comparação noíla, & deílar
mo Texto,o qual ò^iz^ que Igreja particular, em que a
Maria eíiava ouvindo ao feftejamos debaixo do ti-
Senhor: Audiebat ver bum
illiiis. Naó díz^que via, fe-
naó que ouvia, & o ouvir,
que he o fenuido da fé^per-
tence a eíla vida^onde a al-
ma fe melhora pela graça ,
& naó à outra , em que fe
tulo da Graça , nomeímo^
dia, em que a Igreja uni-
verfal a celebra debaixo
do titulo da Gloria : quan-
do a comparada não pode
íèr fenáo a mcfma Senhora
comíigo,nêa comparação
beatiíica peia viíla. Logo pôde íer outra, fenáo entre
quanto à concórdia do E- a mefma Graça,&a mefma
vangel ho to o titulo , mui-
to melhor concordado o
temos CO o titulo da Gra-
ça, que com o da Gloria»
Porque à Gloria íóCc attri-
bueem parábola , & por
acomodação, & da Graça
falia hifto;ial, própria, 6c
naturalhi ente.
3 5f S o reíla a compa-
ração de húa parte boa, &c
©urra melhor, & a ventagê-
Gloria ; a qual deites dous
títulos havemos de dara^
preferencia, & de qual ha- >
vemos de dizer-. Mar moj?"
ttmam partem elegit : de
Maria em quanto Senhora .
da Graça,ou de Maria em
quanto Senhora da Gioria?^
Eíte íerà o altiílimo ponto
do aojílxj difcurfo. E poílo
que ambos os títulos na
Máy de Deos fejáo iramê-
fosj
363 " Sermão ãe
fos y para maiór gloria da do com a fombra ? Será co-
iTiefma Senhora, daremos mo hum homem compa-
a preferencia ao titulo da rado com húa formiga?Se-
íua Graça. Ohfeamefma rà como hum Serafim có-
Senhora da Graça nos aíli- parado com húa borbole-
íliíle com a Tua para pene- ta ? Não. Porque a pedra ,
trarmosjou nos deixarmos &odiamante,o Sol ,6c a
bem penetrar defta verda-
de!
§• IIL
fom bra, o homem,& a for-
miga,o Serafím,& a borbo-
leta, tudo faó coufas natu-
raes , 6c criadas por Deos
em quanto Author da na-
tureza: & como faó natu-
raes , nenhúa delias tem
comparação com o quehe
fobrenatural Tanto aílim.
L 33^ 13 Ara demoftra-
\ çáo, & intelli-
gencia delia [ que não he
fácil ainda aos maiores en-
tendimentos] havemos de
fuppor, queaíTim a graça quefeDeos criaífe, como
como a gloria, faó bensfo- pôde, outros mil mundos
brenaturaes. E fe me per- mais perfeitos que eíle, &
guntardes [ como deveis povoados de creaturas
perguntar, ou todos, ou muito mais nobres ,& ex-
quafi todos } que coufa he cellentes, fempre o fobre-
bem fobrenatural? Haveis natural as excederia incó-
defaber,quehehumbem, paravelm ente. Porque he
o qual na nobreza , no pre- gráo muito fuperior a tu-
ço,6c na dignidade excede do o que comprehende em
atodososbens danature- fyaesferada natureza. E
íza,aírim viíiveis, como i^- taes faó a graça,&: a gloria,
viliveis. E para que decla- que fó fe podem comparar
remos efte exceífo com ai- entre fy,como nós as coni-
gum exemplo: fera como paramos neíta noíla que-
hum diamante compara- íláo.
do com as pedras da rua .^ 337 Digo pois, outor-
$erà como o Sol compara- no a dizer,que havendo de
£a.
Noífã Senhora daGrãç a. ^69
fazer efcolha entre a glò- &:adadivadeprerente>co-
ria,Sca graça, coniornieo
noíTo TÍiema , Maria opít-
mam partem eíegit , antes
devemos efcolíieragraça,
que a gloria. E iílo não por
húa razaó, fenaó por mui-
tas. Seja a primeira , por-
que a graça envolve com-
íigo a gloria : & ainda que
poíTa haver graça fem gío-
ria, não pôde haver gloria
fem graça. A graça he fun-
damêto da gloria, & a glo-
ria he confequêcia da gra-
ça; a graça a ninguém he
devida, &: a gloria he devi-
da a todo o que eftà em
graça. Diz o Apoílolo S.
Pedro , que na graça , que
hea forma com que Deos
nos faz participantes da
natureza divina, nosdeo
as maiores5&maisprecio-
fas promeíTas. Eíle he o
fentido daquellas pala-
vras : Ter quem maxima^&
^^^'^ pretiofa nobis promiffa do-
*■ navit^ utper h£c ejficiamt'
ni divina confortes natura.
De forte que na dadiva
nos deo Deos a dadiva, &
maisaspromeíFas. Mas fe
mo nos deo as promeíTas
nà dadiva ? Porque as pro-
meíTas futuras faó a gloria,
& bemaventurança , que
havemos de gozar noCeo,
a dadiva preíente he a gra-
ça de que jà gozamos na
terra : ác porque na graça
fe envolve a gloria5& bem-
aventurança , que lhe he
devida , por iíTo quando
nos deo a dadiva , nos deo
juntamente as promeílas:
Máxima^ Ò']pretiofa nobis
promijfa donavit.
338 AíHm declaraóef-
tefamofo lugar de S. Pe-
dro os mais doutosjôc mais
literaes Expoíitores , mas
eu tenho outro melhorEx-
poíitorque todos elles, o
Real Profeta. ^Àa míferi- ^^^^^
cordiam , & ver it atem dili- 83! 1 2^1
git 'T>euSigratiam , à* glo-
riam àabit T)õminus. Por-
que Deos ama a mifericor-
dia,6c a verdade , por ií!Co.
dará a graça, & mais a glo^
ria. Reparemos muito na-^
quelie, ^uia ; porque.Pois
porque Deos ama amife-»
ricordia,6c a verdade: por-
ás promeíTas faõ de futuro, que Deos hç xnifericordio-
^70
Sermão í^e
fo,& verdadeiro , eíTa he a
razaó , ou eíTas faó as ra-
zoens porque ha de dar a
graça , & mais a gloria ?
Sim. A graça 5 porque he
mifericordiofojèca gloria,
porq he verdadeiro. Co-
mo a graça com que Deos
nos perdoa os peccados, 5c
nos reconcilia comíigo^a
ninguém he devida, toda
he liberalidade, & dadiva
de fua mifericordia : po-
rém a gloriajcomo Deos a
tem prometida a todo o q
efti ver em graça, toda per-
tence à fua verdade, por-
que como verdadeiro naó
pôde faltar ao que té pro-
metido. Excellentemente
S. Agoftinho : lllequi tri-
buit mifericordiam Jervat
*veritatemy indulgentia do-
fiavitycoronamreddet . Do-
nator efiindidgent ia ^debitar
coron£. O mefmo Deos
Cdiz Agoílinho } que na
graça nos moftrou a fua
mifericordia, na gloria nos
moftrarà a fua verdade.
Na graça a fua mifericor-
dia, porque nos deo a in-
dulgência que naó devia >
& na gloria a fua verdade ,
porque nos dará a coroa
de que fe fez devedor;2)í7.
nator indidgentia , debitor
corona: Sc o modo com que.
fe fez devedor naó he por-
que recebeífe de nòs aJgúa
coufa,que nos haja de pa-
gar, mas porque elle nos
prometeooque naó pôde
deixar de cumprir : í)^^/»
l^orem "Dominiis ipfefecitfey
nonaccipiendo , fed promit-
tendo. Non ei dicttWyredde
quodaccepifti-fedredde quod
fromififti, E como nos ar-
chivos da graça eílaó de-
pofitados os créditos da
gloria , vede fe fe deve an-
tes efcolher a graça, que a
gloria, poisa graça , 6c a
gloria tudo pertence à gra-
ça.
339 Por efl:a conexão
infaliivel da graça com a
gloria chamou S.Paulo bé-
aventurada aefperançn,có
quenefta vida efperamos
a mefma gloria : Expeãan-
tes beatamfpem , é^ adven- 2 1 j/'^'
tíim gloria magni T>ei. Mas
para que nos naó engane-
mos com eíla efperança,
como com as demais, que
tanto coílumáo enganar i
^
Noffa Senhora da Graça. 3 / 1
hc neceíTario advertir , ventagem à correfponde-
que ha húa grande diífe- cia do amor infinitamente
rença entre os fundamen- defignal, mas reciproca do
tos delia. Olugardaefpe- homem para com Deos, &
rança he entre a fé, & a ca- de Deos para com o home?
ridade ; Te a efperança fe A verdade deíla ^-^—
funda fomente na fé> nani
he verdadeiramente bem-
aventurada , porque tem a
bemaventurança duvido-
fa: mas fefe funda na cari-
dade, que he a graça , en-
tão hc certamente bem-
aventuradaj&fem nenhúa
duvida-, porque lhe naó
pôde Dcos negara bem-
aventurança, & gloria que
efpera : Expeõfantes beata
fpemy & advent um gloria
magni ^Dei.
$. IV.
5^0 A Segudarazaó
yl^j^porque mais
íè deve efcolher a graça,
que a gloria , he tirada cia
definição , & eíTencia de
húajSc outra. Agraçacon-
íiíle em amar,&fer amado
de Deos,a gloria em ver ao
mefmo Deos : &: pofto que
o ver a Dcos feja a maior
felicidade, quem negará a
fobera-
nillima correfpondencia o
mefmo Deos a fez de fé,
quando diífe: Ego diligen^
tes me diligo,M2iS ainda cô-
parado o ver a Deos fó c6
o amar a Deos de noíía
parte -, nenhum entendi-
mento haverá jufto, & def-
intereffado, que naó efco-
Iha antes o amar. E fenão
tomemos por juizes aos
q mais vem, 6c maisamão
a Deosjque faó os Serafins.
Ao lado do trono de Deos
noCeo vio o Profeta Ifa-
ias dous Serafins, os quaes
com duas azas cobrião os
olhos, & com outras duas
abrião o ^Q\to'fDuabus alis n^i^^^
^oelãbant faciem ejus , &
duabus volabant. Todos os
Anjos vem , 6c amão a
Deos,6c quanto mais vem^
mais amá05 6c quanto mais
vem , & mais amáo, mais
alto, ^ mais eminente lu*
gar tem cada hum na fua
Gerarchia. PoisfeosSe-
A^aif raíins
I
J
B7^ Sermão de
rafínsfegundoefta ordem, Dcos; porque mais fepre-
aílim como tem o fupre- zaò os Serafins, & maisef-
mo lugar na fuprema Ge- timão na felicidade fupre-
rarchia, aíTinifaõ os que madofeu efladoaíingula-
maisvem, &mais amáo a ridadedoamor , q a pree-
Deos, como fe moílráraó minenciadover. PoriíFo,
ao Profeta com os olhos como nota S. Dionyfio A-
cubertospara naõ ver, & reopagita,a denominação
lo com o peito aberto para do entendimento, queíao
amarPParaamar digo, 6c osolhos com que fe vè a
para mais amar j porque o Deos, a deixarão aosChe-
movimento das azas [naò rubins,queeílãohumgráo
fendo para voar , porque mais abaixo , & tomáraó
eftavão firmes ) mais era para fy a antonomafia do
para tolerar o incêndio do incendio,com que fe abra-
s
amor, como dizem huns
S3nchcs Interpretes , ou para mais
Cornei. í _ '.
bic. oexcitar,&acender,como
dizem outros. Pois fe tan-
to amão,6c tanto, &: tão ar-
dentemente eíláo amado j
como parece que api^gaó
záo no amor do mefmo
Deos , chamandofe Sera-
íins,quequer dizer os ar-
dentes. A fegunda razaó,
& muito mais alta, he, que
fechaó os olhos, quando
^ - -^ 1" 'o-^ abrem o peitOí porque tem
com huas azas o mefmo q por maior fineza, & mais
acendem com outras; & digna do mais perfeito
r. ,_- 1 f
como negaó ao mefmo
amor a viíta do objedlo
amado.^
341 Duasrepoflas tem
eílabem fundada duvida.
A primeira, que cobriaó
osolhos para não ver,quã-
do abriaõ o peito para
amar, fendo o objeítoda
YÍfia,&doamor o mefmo
amor o amar fem ver, doq
amar vendo. Heoq enca-
receo S. Pedro nos primei-
ros ProfeíTores do Chri-
ílianifmo, dizendo, que
fem ver a Deos o amavaó .•
^tem chm non videritis di*
ligitis. E he a dilFerença \.%!'''
verdadeiramcntcScrafica,
çomqueamao na terra os
bem-
Nopi Senhora da Graça. ^73
Bemaventurados da gra- eflasduaspalavraSjnãodu
çaj& no Ceoos da gloria.
Os da gloria amáoaDeos,
masvendo-o: os da graça
também o amaó, masfem
o ver.
34.2 E fe eíla ventagê
tem em quanto fomente
amão a Deos,que he huma
parte da graçajque fera em
quanto J^mão a DeoS5& faó
amados de Deos, em que
coníiíletoda ? Eíla reci-
proca correfpondencia de
amor entre Deos, & o ho-
mem, queeftà em graça,
declarou a Alma dosCan-
nai(
enTU
vidou de chamar a cada
húa delias infolente , &c a
ambas infolentiílimas: In-
foLens ver bum , ò* ego iUi :
nec minus infolens dileãus r>.^er~
meus mihi : nifi quod utro
queifífolentius utrumquefi'^^
mui. Mas a Alma que ifto
diíTe, era hua Alma, q eíla-
vaera graça, & he tanta a
alteza5aque amefma gra-
ça levanta a Alma, naó fó
em quanto ama , fenáo em
quanto ama , & juntamen-
te he amada de Deos ; que
o que podia parecer info
lencia da parte do homem
tares, quando diíle : 'Z>/7<?-
^ Bus meus mihi 'iò' ego illi: da parte de Deos he jufta
Deos he o meu amado, & condecendencia , tratan-
eufouaamadadeDeos. E
fendo Deos quem he por
íiia infinita grandeza, & fo-
beranía: & fendo o home
quem he (^ ou que naó he 3
por fua vileza, &: baixeza,
emrefpeitodeDeos tam-
bém infinita ; quem have-
rá que naó eílranhe, & fe
aííbmbre defta confiança,
&; igualdade de fallar : iUe
dofe com tal familiaridade
Deos com o homem, & o
homem com Deos, como
fe foraó iguaes : ^ajtex
£quo moremgererey& repen-
dere vicem , como nota o
mefmo S.Bernardo. Com-
paraime agora o amar a
Deos no Ceo por razão da
vifta, com eííe fer amado
de Deos na terra por razão
mihiy& ego tUi'. Elle o meu da graça. Os Bemaventu-
amado,& eu a fua amada ? rados no Ceo diráó, q por-
S, Bernardo comentando que vem a Deos, amão ne- ,
Tom. 7. Aa iij ceíía-
^4
3/ +
ceflariamente a Deos
nos diremos na terra, que
porque eliamos em graça
de Deos , fomos amados
neceíTariamente de Deos.
Sobre eíla minha propoli-
çaó, cabia melhor ainda a
cenÍLira de infolente, fe-
nâoforadeféjcomohe. Se
a viíla de Deos neceílita
aosBêaventuradosa amar
aDeosjtambem a graça ne-
ceílita a Deos a amar ao
homem. A viíla neceílita
aos bêaventurados a amar
a DeoSjporque não podem
deixarjnemceíTarde amar
a Deos vifto : & a graça ne-
ceílita aDeos a amar ao ho-
mem , porque não pôde
Deos deixar,nem ceifar de
amar ao homem , que eílà
em
;raca.
§.v.
343
tagem
A
Terceira ra-
zão, ou ven-
porque prefcín-
dindo a graça da gloria ( q
heofcacido em que falhi-
mos J fe deve antes efco-
Ihera graça, he, porque a
graça faz ao homem íilho
Sermão de
& de Deos, a gloria herdeiro.
Se os homens conhecerão
o que encerra eíle nome fi-
lho de DeoSj& como a gra-
ça não fó nos dà o nomejfe-
não o fer do que o nome
fignifica , que difFerente-
mente eílimariâo em fy,&
reverenciarião nos outros
efte nafcimento infinita-
mente mais que Real! Sc
nafcer de Felippe em Hef-
panhajOudeLuisem Fra-
ca , ou de Ferdmandoem
Alemanha,fetemcom ra-
zão pela maior fortuna j
qual fera a daquelles, dos
quaesfedizcom verdade:
Non exfangumibíiSy fed ex .^^
^eonatifunt^ Os outros i «s- •
nafcimentos eílimãofepe-
lofangue, o dosíilhos de
Deos por não fangue. Mas
a caufa de os homens nam
fazerê deíle altiíllmo naf-
cimento a eílimação que
mercccjhejporque naó co-
nhecem a Deos. Se não co-
nhecem o Pay 5 como hão
deeíHmarosíilhos.^ Aílini
o poaderou com profun-
diílimo peníiimento o E-
vangeliftaS. Joaó : Vídete^]oi%
qualcm charitatem dedit no^ ^ ' •
NojJ^ã Scyih o ra da Graça. Í7'S
bis Tater^ utfilij t>ei nomi- naó diz aíllm, fenão que O
nemítr^&Jtmus.Tropter hoc
mundus 710)1 novitnos^ quia
nonno^vit eiim. Vede o que
chegou a nos dar a immen-
fa caridade do eterno Pa-
dre, hum dom táo excel-
lenteyíScrobre humano, &
hum foro táo chegado a
fua própria divindadcjque
naó fó nos chamemos fi-
lhos de Deos^mas que ver-
dadeiramente o fejamos.
E fe o mundo não eftima
como devia aos que fomos
filhos defte Pay,he5porque
o não conhece a elle: -Pr í>/-
ter hoc mundus non novit
nosyquia non novit eum.Qo^
moíediííera a Águia dos
EvangeUftas : Eu foudef-
prezado, porque o mundo
conhece o Zebedeo de
quem fou filho por natu-
reza,&não me eftima co^
mo devéra,porque não co-
nhece a Deos,de quem fou
filho por graça.
34.4. Notai o que diz,
& não diz S Joaô. Parece
mudo não nos eftima,por-
que não conhece a Deos,
de quê fomos filhos : Trop-
ter hoc mundus non novit
nos, quia non novit eum. De
íbrte,que porque o munda
nos não conhece por filhos*
de Deos, fe fegue que nani'
conhece a Deos ? Sim. E a
razão he^ porque prefume,
& faz conceito de Deos,;
não como de Deos j fenáQí
como de homem. O ho'->
mê fóprefilha, & faz^her-^
deiro ao íervojquandõ náo{
tem filho próprio. Aílim;^
áií^Q Abraham a Deos,que
fuppofto não ter filho/ería
feu herdeiro Eliezer íeu
fervo : Ego v adam abf que
liberis : & Eliezer vernacu-.Pl''''^^;
lus meus yh ares meus erit. E ^ ^
depois que Deos deoa Ar^^
braham hum filho , que foi:;-
Ifaac, difie Sara fua mu-
lher, que lançaífe fora a If-
mael filho da efcrava,pórc
òi t
que não ha via de fer hér-ii'
deiro com feu filho .' Ejice^
que havia de dizer, que o ancillam^ò' jilium ejusy nàn ^l^f*
mudo não nos eftima, por- enim erit bares fiítus ancil^^
que não conhece que fo- la cum filio meo Ifaac Iftoí
mos filhos de Deos : mas he o que fazem os homês ,
(Aa iiij &o
Roman
8 i6.
37^
& o mefmo prefume
cuida de Deos quem o não
conhece : ^ma non noxtt
eum. Como Deos tem íilho
próprio 5 & natural, igual
em tudo a fy mefmo, 8c nòs
os homens fomos fervos,
cuida o mundo ignorante,
que naó havia de fazer
Deos aos fervos herdeiros
com o filho. Mas he tanto
pelo contrario, que para
que os fervos foíTem her-
deiros com o filho , fendo
fervos por natureza,os fez
primeiro filhos por graça.
ExpreíTamente S. Paulo;
Ipfe enirn fpirltiis teftimo-
niumreddit fpirtttú nojiroy
quodfumusfilij ^et. Si fu»
temfilij^ é^haredes : h cre-
des quidem T^eiy coháredes
éLutem Chriííi : fitamen cÔ-
Jyatimuryiít & conglorifice-
34^ Neíla ultima pa-
lavra conglorificemur , & na
palavra coháredes declara
o Apoílolo , que aílim co-
mo a graça nos faz filhos,
afiim a gloria nos faz her-
deiros. Para que nòs ago-
ra vejamos fe nos havemos
Sermalde \
& ros,que de filhos , & fe ha-
vemos de eftimar mais a
herança, ou o naícimento.
Cà onde os Pays faó ho-
mens, pôde fuceder,&fu-
ctáG muitas vezes fer o
nafcimento tão baixo , 8c
tão vil,& a herança tão co-
pioíaj&tão rica,quc fe def-
preze o nafcimento, & fe
eftime a herança; mason»
deoPayhe Deos, tão infi-
nito na nobreza, como na
eíTencia, ainda que feja a
gloria a que nos faz her-
deiros, claro eítà que fem-
prc havemos de eíhniar>
naófó maisjfenaó infinita-
mente mais , a graça, que
nos faz filhos. Efie foi o er-
ro, & o acerco daquelles
dous filhos do Pay, que re-
prefentava a Deos , hum
louco,outrofezudo. O lou-
co, que era oProdigOjem
vidadoPay pcdio que lhe
dèfle afua herança, por-
que eílimava mais o fer
herdeiro,que filho: porem
ofezudo, que era o irmão
mais;velho, deixoufe ficar
fempre na cafa do Pay fem
fallar, nem fe lembrar da
de prezar mais de herdei- herança, porque tanto me*
no^
Nojfa Senhor a
nos eftimava a herança,
que o nafcimentOjComo íe
fora fó filho,& naó herdei-
ro. E ifto he o que deve fa-
zer todo aquelkjque com
juizo maduro , & inteiro
comparar a graça, & a glo-
ria.
§. VI.
1^4,6 A Quarta razão
s' ' Jtlk, deíla preferé-
cia he taò fútil , & bem ar-
guida como feu Author.
Aquillo he melhor ( diz
Efcoto } cujo oppofto he
peor : o oppofto da gloria,
quecófifteem vera Deos,
he nao ver a Deos : o oppo^
Ào da graça , queconfifte
em amar a Deos , he na6
amar à Deos : logo me-
lhor he a graça , que a glo-
ria , porque peor he na6
amar a Deos, que he o op-
pofto da graça , que naó
ver a Deos,que he o oppo-
fto da gloria. E que feja
peor naò amara Deos, que
naó ver a Deos , he mani-
íeftoj porque naó querer
ver a Deosynáo fó pôde fer
licito, fenão meritório , &c
q^uerer não amar a Deos^c
da Gr aça, 577
não fó he íêmprepeccado,
& graviílimo peccado ,
masnãohe poílivel moti-
vojquéofaça tolera veljOu
licito.
547 No Teft a meto Ve-
lho, & Novo temos dous
famofos exemplos defta
Theologia nos dous maio-
res Heroes da caridade,
Moyfes & Paulo. Determi-
nado Deos a acabar de húã
vez com o Povo de Ifrael
pela idolatria da bezcrrói
oppoz-fe Moyfes a efta de-
terminação, que Deos lha
revelara jdizendo: Aut di-
mitte eis hanc nexam , aut gxocf,
Jinonfacis -ideie me de libro P-^i^-
tuoy quemfcripjifti. Ou vos,
Senhor, haveis de perdoar
ao Povo efte peccado , ou
fenaó fazeis o que vos pe-
ço,rifGaime do voífo livro.
Efte livro,GomQ confta de
muitos^ lugares da Efcritir-
ra,heolivroem que efta6
efcritos os que faó prede-
ftinados para a gloria. Mas
paremos aqui, & vamos a
S.Paulo. S.Paulo decla-
rando o grande ^ntímeii-^
to que tinha de ver como'
os da fua nação naôque-
ria6
37^ Sermão de
mó crer em Chriílo , & fe vem que fe embarcaó para
precipitaváo obftinada- eftas partes, ou outras po-
mente a perpetua conde- voadas de Gentios,os Mi-
nação, diz que por elles niftros Evangélicos , nani
defejava fazer hum tal fa- fe podem perruadir,fenaó
crihciode fy mefmoa queostraz,ouleva aellas,
l>»eos,que Deos o privaífe algum motivo de intercf-
eternamente da gloria,qiTe fes temporaes. E certo que
confifte na fua viíla , com para desfazer efte eno-ano
tantoquc a mefma gloria, bailava a cófideraçáorque
de que elle fe privava, a fazia hum homem muito
ouveíTem ç\\tB, de gozar
crendo em Chriílo Jfto he
o quequerem dizer aquel-
las animofas palavras : Op-,
tabam ego ipfe anathema
IT"' €e à Chrtfto pro fratribus
ç .,,. meis^ quijunt cognati mei
• !■■ fecundum caYnew. E aíllm
entendem eíleTexto,&: o
bem entendido, quando fe
embarcava de Roma para
os defterros do Ponto Eu-
xino: Vel quo fefiinas irey
velundey -vide : Olha donde
yàs,& para onde. Eífesjcu-
jos intentos taó groífeira-
mente julgais, vede donde
vem,& para onde: & coii-
de Moyfes S Joaó Chryfo- fiderai '( ainda têmpora,
ftomo, Theofílado, Ecu- mente) o que làdeixão,&
meniojRupertOjCaíIiano, oquecàachaõ. Mas a rarl
Origenes, S.Bernardo, & zaó porq avaliais taó bai-
^ntre Theologos, & Inter- xamente os rifcos dos ma
pretes he a fentença mais
literal,& comum.
348 Antes porém que
<perremos efte ponto nam
quero paíFar em filencio
hua advertência muito ne-
ceífaria a eíla nolTa terra.
Os que fô eftimaó o que fe
res, as incomodidades das
terras, & a ellranheza dos
climas a que expõem ávi-
da, he,porque não conhe-
ceis como elles o valor das
almas. Parecevos que fa-
zia bem Moyfes,& que fa-
zia bem S. Paulo cm que-
vècomos olhos j quando rerem trocar a gloria, &
bem
NojJ^a Senhora daGraça. 579
béaventurãça do Ceo pela de Deos pelo amor do pro-
falvaçáodas almas de feus
próximos ? Náo creojq íeja
táo rude a voíTa fé, que di-
gais que faziáo mal. Pois
muito menos he trocar
Portugal, que o Ceo, 6c
querer falvar as almas pro-
priasj& mais as alheas, que
levar a vera Deos as alheas
à cufta de o naõ ver por to-
da a eternidade. E ifto he-
o que fazia não fó depois
de Chrifto S. Padlo,fenam;
antes de Ghrifto Moy fes.
34.9 Agora pergunto:
Eíles dous homens taó va*
lentes,&: táo deliberados^
que aílim fe refolviaó a
náo ver a DéoSrfuppunhaô
também com o impet05&
fervor da mefma refolu^
çáo, que o naõ haviaó de
amar ^ Abfit : De nenhu m
Eiodo. Porque aíHm como
por hum motivo tão pio, &
de tanta caridade feria ac-
ção naó fó licita , mas he-
róica oíFereceríe a naõ ver
a Deos ,aíllm feria não íô
iiiicita, mas Ímpia querer-
fe expor ao não amar. An-
tes he certo , que quanto
mais renuaciavão a vifta
XI mo , tanto mais fortes
raizes lança vão no amor
do mefmo Deos. Ouça-
mos a eloquência deChry-
foftomo arguindo nefte
cafo a S. Paulo : ^uid aisy „
^aule-i nonne jam ãixijU\ 835.
§luis nos feparabit à charu
t ate Chrifit> Ehtm Paulo,
naófoisvòs aquelle quejà
diíTeftes , que nenhúa cou-
fa vos fe pararia do âmoÊ
deChrifloi'Náo fois aquel-^
leque quereis, que a voíía
almafe defataíTe do voífo
corpo, para eítar fempre
Gomelle.'^ Pois como ago^
ra quereis carecer de o go»
zar,&:verpor toda a eter-
nidade } Antes por iílb
mefmo,refponde em nome
de S.Paulo o mefrpoChry-
íbíícMnoV Porqiíe] eu amo
muito a C hrifto , por iílb
me quero privar deo ver^
& gozar, para queemlu-.
gar de mim , que fou hum^
fói,o vejaòy ac gozem vmm
tos, Scfegundo o/^meude4
íèjo,o amem^& louvem to^
dos : hnh cmia amoChri-i
ftum^ cupio fifarari á frui<
tione Chrífiiy Mt^lur.eSy imo
onh
380 Sermão de
omneseum amento & law Ceo, fenáo também quc-
dent, E quanto foíTe agra- rer antes padecer as penas
davel a Deos efte exceíTo do Inferno. Ifto não per-
de caridade , aílim em S. tendeo Moyfes, né S. Pau-
Paulo,comoem Moyfes, Jo,mashereroluçáo famo-
poílo que a nenhum delJes fadeS.Anfelmo, &àqual
aceitou o ofFerecimento , no meímocafo eftà obri-
íe vio bem nas mercês com gado todo o Chriíláo : Si
que depois honrou a hum , htnc feccatiptidorem^ ò' il-
&a outro: fazendo geral- Imccernereminferni horro-
mente, & para com todos remy& neceffarto uniillorú
tal difí^erença entre a fua haberêimmergi^prmsmem
graça,& a fua gloria j que a inferna immergtrem , quàm
quem^ naó quer a fua gra- peccatum in me aamittercm.
An fel.
Hb. de
-'■imilin
cap 1^0.
ça,caftiga-o com oprivar
da gloria, & a quem por fe-
melhante motivo náo qui-
zer a fua gloria, premia- o
com lhe aumentar a graça.
í. VIL
35-0
MUi dilatada
coufa feria ,
fe ouvefíemos de ponderar
comoatègoraas outras ra-
zoens deíía differéça ; mas
porque naòhe bem , que
totalmente fiquem em li-
lencio , de corrida as irei
Se de húa parte,diz Anfel
mojfe me puzeíTeo pec-
cado,& da outra o Inferno
com todo o feu horror: &
me foíTe neceíTario efco-
Iherhumdosdous , antes
me havia de lançar logo no
Inferno, que admitir em
mim o peccado. Mais: E fe
folie poílivel (^como de po-
tencia abfolura não repug-
na 3 ver hum home a Deos
no Ceo eftando em pecca
do : qual feria no tal caio
maisditoíò, eíle homem,
ou Anfelmo?Náo hadu-
Salar
Tsner.
Ov.eJ.
Aniajj.
apontando. Seja a quinta, vida,queAnfelmo.Porque
que por confervar a graça Anlclmo no Inferno con-
náo fò he licito , ôc louva- fervava agraça,ainda que
vel renunciar a gloria do padecia as penas dos con-
dcnados.
Noifa Senhora da Graça. ^'Sl;.
denados, &:o outro no Ceo graça, nao fó mora Deos
poíloque via a Deos, em
que confiíle a gloria dos
Bemavêturados, naó cita-
va em graça.
3fi Maisaindaj&naó
fuppondo cafos extraordi-
nários, fenaó o que de fa-
£to eílá fempre obrando
Deos no Ceo , & na terra.
No Ceo fempre Deos eílà;
comunicando a fua viíta,
aos que depois da morte
íaó dignos da gloria; & na
terra fempre eííà comuni-
cando a fua graça aos vi-
vos , que fe difpoem para
ella. E porque modo , ou
com que diíferença de au-
thoridade3& honra comu-
nica Deos a huns, & outros
a fua viíla, & a fua graça ^
Bemditafeja a divina Bó-
dadejuuncanas demoílra-
çoens mais divina í Aquel-
íesa quem comunica a fua
gloria, leva-os ao Ceo , &
dalhes lugar na fua Corte :
porém aquelles a quem co-
munica a fua graça , vem
elleem peílbaadarlha, &
fallos morada fua. Se hi-
mos ao Ceo,moramos com
Deos, masfe eítamos em
comnofco^, fenaò em nòs.
E para que em nada feja
menor eíla aíHftencia pef-
foal de Deos em nòsjque a
vifta do mefmo Deos nos
queeftaó na gloria j con-
cordaó os Theologos, que
para fer verdadeiramente
bemaventurado o que vè a
Deos, não baila fó ver ao
Padre, ou ao Filho, ou ao
Efpirito Santo j mas he ne-
ceíTario ver todas as três
PeíToas divinas 5 porque fó
deílemodo he vera Deos
como elle he : Tunc 'videbí- , joan.
museumficutieft. Pois af- í-^.
íim como no Ceo osBem^
aventurados da viíla , nam
fóvêhúa peílba da Trin-
dade, íènaó todas tresj af-
fim na terra os Bemaven-
turados da graça naó fó
tem dentro em fy o Padre,
ou o FilhojOu Efpirito Sã-
to, fenaó todo Deos trino ,
& hú em todas as peíToas.
E ifto com tanta diíferen-
ça,& ventagem,quanta vai
deobjeílo a morador. He
texto expreíFo do mefma-
Chrifto: Siquisdilmt me^ J^^^^*
JermonemmeumJervamh&
' ãd.
3^ .- Sermão de
ài eum njéhiemus^ ér ma^ijío- diamfuam magvam regcne-
nem apiid ip[um faciemus. ravit nos in harcdítatcm m-
I. Pctri
1.3.4.
Slui diligit me,cis ahi a gra-
ça : Et ad eum veniemus ,
eis ahi as três peíToas divi-
nas : Et manjionem apudip-
fumfaciemusy eis ahi a mo-
rada perpetua 5 & aíTiften-
cia permanente.
35 2 Mais outra vezj
poílo que depois do que
acabamos de dizer, pareça
que não pode haver mais.
E a razaó deíla nova diffc-
rença, ou ventagem he:
que a gloria que havemos
de gozar no Ceo pela vi-
íla, já apoíTuimos na terra
pela graça. Efcrevendo o
ApoftoIoS. Pedro aos no-
vos Chriílãos do Ponto,
Galacia, Capadócia, Afia,
& Bithinia , aonde fendo
Summo Pontiíice,& Vigá-
rio de Chrifto, tinha ido
pregara Fè[ para que ve-
jais outra vez, qúam alto
miniílerio he o da conver-
íaó dos Gentios, taó pouco
conhecido da gente rude}
diz eftas notáveis pala-
vras : BenedíãíisT>eus Ta^
ter domint noftrí Icfu Chri-
corriiptibilem^ Ò' inconta'
minatãy é^ immarcejcibilê^
confervatam in Cífiis in lo-
bis. Quer dizer : Bem dito
feja Deos,Pay de noíTo Se-
nhor Jefu Chri ílo , o qual
pela graça do bautifmo
nos gerou fegunda vez pa-
ra a gloria incorruptivel,
&perpetua,que eílà guar-
dada no Ceo, & em nòs.
Neflasduas ultimas pala*
vras,no Ceo,&em nos, />i
C alisto- in i;í?^/i-,e íià o rna-
ravilhofo deíla fentença.
Que a gloria eíleja guar-
dada no Ceo , bem fe enre-
de 3 porque o Ceo heo lu-
gar da gloria, 8c no Ceo he
que a havemos de gozar 5
masfeaquelles com quem
fallava S.Pedro eílavaó na
terra, como nòs eílamos;
porque lhe diz que eíía
mefma gloria não fó eílà
guardada no Ceo, fenam
nelles mefmos, & em nòs :
Ser-vatam in C^lis^ò' in uo^
bis^ Porque acabava de
lhes lembrar, que eílavaó
gerados fegunda vez pela
fiiyquifecundtim mifericor- gradado bautifmo, como
nò$
KoJTa Senhora
nos eftamos: & eíla mefma
gloria , que depois have-
mos de gozar no Ceo pela
viíla,jà agora apoílliimos
na terra pela graça. De for-
te, que o Chriílão que eftà
em graça, quando vai ao
Ceo, naó fó leva o direito
•para a gloria comíigo, íe-
não a poíTe da mefma glo-
ria em fy. Por iífo não diz,
qeftà guardada para nòs,
fenãoemnòs, mC^Us, &
invohis. Veja agora cada
humfeefcolheria antes a
poíTe do bem,ou prefente ,
ou futura,ou dentro em fy,
ou fora.
§. viir.
3f3
M Ais ainda. Diz
S JoaÓ Chry-
foftomo , que alíim como
não havemos de temer o
Inferno por horror das pe-
hasjfenãopor ter ofFendi-
doaDeos,& perdido fua
graça : aílim naó havemos
dedefejar o Cep, princi-
palmente por amor da glo^
ria , fenão por gozar da
mefma graça, éc amar ao
mefmQDeos eternaméte;
da Graça. ^ g-^
Utgehennãm timere nonde-
bemus propter ignem ^Jed ç;^
■ qtáa offèndimus tam bonum íoft-ho-
' Tíominum^ & ah íllrnsgra- Tx^qI}'
tiafiimus alieni : ita adreg- "^^•
numnobis fejiinandú prop-
ter amarem in iUum , út ejus
gratiafntamur. De manei-
ra que o ámor,& defejo bê
ordenado da gloria,naò ha
de fer por amor da gloria ,
fenão por amor da graça.
He erro em q cahio Moy-
íç:s^ mas de que logo fç
emendou no mefmo aóbo
com admirável retradta-
çaó de palavras. Tinha
Deos dito a Moyfes , que
eílava em fua graça .• Inve- exoí
nifU gr at iam coram me, E^>*^°
fobre eíla fuppolição de '^"
eftaremfua graça , inílou
Moyfes dizendo : Si ergo
invenigratiam in confpeêlu
tiio , oft^nde mihi facien%
tuam^utfciam í/, & inve-
niam gratiam ante óculos
tuos. Pois Senhor, fe jà ef-
tou em voíTa graça, conce-
deime a viíla de voffo ro-
íl:õ,paraque efteja emvof-
fa graça.Quem haverà,que
não veja,6c note neftas pa-
lavras como Moyfes no
^84^ Sermão de
mefmo a£to de as pronun- jo querer a graça para go-
zar a gloria > muito melhor
derejojSc muito mais alto
penfamento he defejar a
ciar trocoua ordem com
que as começou a dizer, &
com que acabou. Quando
começou, ordenou a graça gloriajpor fegurara graça,
de Deo1^ para a vifta de O primeiro fez Moyfes c6
Deos : Si invenigratiam in menos coníideraçáo , quã-
confpecfu tiio^ oftende mihi ^ do diíle : Si invcntgratiain
faciem tuaín-, &cquádo aea
boujordenou á meíma vi-
ílade Deos, para a mefma
graça de Deos : Oftende mi'
hi faciem tmm^ ut invenia
gratiam ante qcuIos tuos.
Pois a mefma: graça nas
primeiras palavras he me-
yo para alcançar aviíla de
Deosj&logoa mefma vi-
fta de Deos nas fegunda^
paIav.rasliemeyo para ai*
caçar a mefrmâ graça ? Sim:
porque aílim. emendou
Moyfes,&: melhorou o feu
defejo. Ordenar- a graça
para a glòriajôc fazer a glo-
ria fim da graçajbom defe*-
jo hej mas ordenar a gloria
para a graça, 6c fazer a gr.ar
^a fim da gloria , I;e muito
in confpeãu tiio^osfende mi-
hi faciem tuam : 6c o fegun-
do com muito mais fino,ôc
prudente juizo , dizendo.*
Oftende mihi faciem tuam^
ut inveniam gràtiam ante
óculos tuos.
3 f4, Finalmente,feja a
ultima razaó de efcolher
antes a graça, que a gloria,
a eíleril idade da mefma
gloria, 6r a fecundidade da
mefma graça A gloria no
Ceo he liúa felicidadegrá-
<ie,mas felicidadcque não
crece, porque hiia gloria
náx) cauia outra gloria^ po-
rém a graça na terra he hu-
■ma felicidade jou húabé-
avcnturança , que femprc
crece, porque fempre húa
melhor defeJD> Porque ■? graça ellà produzindo ou-
Porque a graça antes da tra graça. Depois que o E
gloria eftà perigofa , 6c der
pois da gloria cílà fegura.
E poílo que he bom deíe-
vangelilia S.João declarou
a gloria de Chriílo pela fu-
pcrabundácia de graça de
q^up
cann
.14.
Noffa Senhor
quôeílavacheo : P^idimus
gloriam ejus quafi unigeniti
àTatre^pknum gratiíS , &
veritatis^ áit que defta en-
chente, coíiio de fonte pe-
renne recebemos todos a
graça, & não húa *fó graça ,
íenáo húa fobre outra íem-
premais,&mais : qiieiílb
quer dizer '.^eplenitudim
ejíis omnes accipimns gra^
^^çjiampro gratia. Onde fe
deve muito notar, que tê-
do fallado na gloria,& gra-
ça de Chrifto jfóda graça
diz, que recebemos graça
por graça , & graça fobre
graça,6cda gloria nãojpor-
que noCeonaõ dáDeos
gloria por gloria,ou huma
gloria fobre outra. Efte
privilegio, & efta preroga-
tiva he fô da graça. £
quamfuperior feja porií^
fo mefmo à gloria do Ceo,
cm nenhum outro dos que
muito crecéraó na graçajO
podemos ver melhor, que
no mefmo S. Joaó, Vio S.
)ca- Joaó no feu Apocalypfe a
^4«7Deos aífentadoem trono
de Mageílade, &que o af-
fiftiaóem roda do trono
quatro animaes myíterio*
Tom.;.
'ã da Graça. 3 8 f
fos todos cheos de olhos, o
primeiro femelhante a
Leão, o fegúdo a Bezerro ,
o terceiro a Homem , o
quarcoa Águia. Ninguent
ignora que neftes quatro
animaes eraó reprefcnta-
dos os quatro Evangeli-
ítas,S. Marcos noLeáo,S.
Lucas no Bezerro, S. Ma-
theus no Homem, S. Joa6
na Águia > & todos cheos
de oVciQS^mte^iò' retroy por -
que todos na parte poíle-
Tior tinhaô as noticias da
divindade, & na anterior
as da humanidade deChrí-
fto, de quem efcrevéraõ.
Vindo pois a S-Joaôídalhc
o Texto o quarto lugar, &
dizquefóeile voava : Eú
quarttifn animalfimtle aquí^
líevolanti. FoisfeS. Joaó
entre todos os Evangeli-
ílas foi o que mais altamé-
teefcreveo, porque fe lhe
dà o ultimo lugar • Ôc fe to-
dos os outros animaes ti-
nhaô azas i porque fe áiz ,
que fó elle voava .? Primei-
ramente dáfe a S. Joaó a
ultimo lugar , porque eíle
efcreveo depois dos ou-
tros Evangelizas , ac não
Hb me-»
i
Sermão de
annos
W^
§. IX.
ss
ATèqui temos
vido as ra»
zoens porque comparada
a gloria com a graça, íe de-
38^
menos qiic trinta
depois , havendo outros
tantos que S. Matheus, S.
MarcoSjSc S. Lucas eraó jà
morros. Mas daqui mefmo
fe acrecenta mais a fegun-
daduvida • porque fe os „^ o- 3 -
outros três Evangelizas veefcolher antes a graça,
eííaváo jà no Ceo vendo que a gloria. E fe alguém
a Deos, como voava ellefó cuidar, que naó falíamos
eílandona terra > PoriíTo atègora no que principal-
mefmo. Porque os outros mente devíamos fallar ,
eflavão gozando na gloria,, quehea Virgem Senhora
dóde fenão fobe, & b.Joaó nofla da Graça , cuja feíla
eftava merecendo na gra- celebramos •, digo,qo que
ça,onde fempre ^c crece. atègora diíTe, aflim coma
Eu vos prometo , diz S. foraóprerogativas dagra-
Bernardo,qfeDeos défie ça,aílimforaòexccllencias
licença aos Bemaventura- da Senhora debaixo do
mefmotitulo. S. Thomás
com feu Mellre Alberto
Magno diftinguem na gra-
ça Al Virgem Maria três
^,,^ ^^,...... eltadosdeperfeiçáoiopri-
gloria,pai a depois voarem meirodcfde o principio de
à mefma gloria mais cheos fua Conceição, a que cha-
degraça; logofeaefcolha mão de fuíliciencia : o fe-
fefarianoCeOjOndcrcnaó guadodefdc o pontoem
pôde fazer, porque fcnao que conccbeo o Verbo
fará na terra ? Em S. Joa6 eterno, a que chamaó de
naó foi clciçaô fua : mas he abundância: o terceiro por
certo, que ellc foi o mais todo o tempo da vida atè
amado, & quando os me- a morte, a que chamáodc
nos amados viao, cllc voa- exccUciicia fingular. Por
va. to-
dos, que o eíláo vendo no
Cco,para virem à terra a
merecer,Sccrecer a maior
graça,que todos aceitariaó
eíle partido deixando a
Noffa Senho i
todas as Vazoens pois que
referimos , muito melhor,
&mais altamente enten-
didas, comparandofe a Se-
jihora comfigo mefma, co-
mo aquella lingulariílima
alma, que fobre todas as
criaturas amou,& foi ama-
da de Deos, também nam
pode deixar de eftimar
mais a graça, que a gloria ,
pois no mefmo amor reci-
proco coníifte a graça. Eí^
timou mais a graça, que a
gloria, não por aíTegurar
no Ceo a mefma graça,em
que fora confirmada defdc
o inítante de fua Concei-
ção , mas por aumentar
mais, & mais o amor , que
là fe iguala com a vifta por
toda a eternidade. Bata-
lhava no coração daMáy
deDeos o mefmo amor,por
húa parte com odefejo de
mais depreíTa o ver, & por
outra com a razaó de mais
oamar eternamente , &
porque eíle motivo foi o
vencedor , poriílbefco-
Iheo como melhor parte a
da graça: Maria optimam
j.<artemelegit.
I j6 Naquellaspalavras>
' a da Gr aça. 387
Indica mihiyfiení diligít^^l
anima mea^ ubi pafcas , ubi
cubes in meridie : manife-
fíou o amor da Senhora
quáto defejava ver a Deos
no meyo dia da gloria : & a
repoftafoi, q mais convi*
nha porenta6,quena au*
fcncia de feu Filho fícaífe
apafcentando o feu reba-
nho: Abifoft 'veftigiagre-^^-^A,^
gum tuorum&pafce hados
tuosjuxta tabernuctíla pa-
fórum. Aílim o fez a Sc*
nhora, fendo dalli por di-
ante o oráculo de toda a
Igreja, &: Meftra dosmef-
mos Apoftoios, naõfó em
Jerufaiem,& na Judéa,mas
peregrinando a outras par-
tes do mundo. Durou, nao
digo eíle defterro da glo-
ria, mas efta aufencia de
feu Filho, não menos que
vinte & quatro annos de-
pois que elle tinha fubido
ao Ceojcomo prova oCar-
deal Baronio , fundado
no teftemunho irrefraga-
velde S. Dionyfio Areo-
pagita : até que finalmen-
te em tal dia j como hoje,
foi chamada a bemditiíli-
ma JMãy a receber da mão
_Bbij de
A^S
Sermão de
Cant
4.8.
\im
defeuFilho 5 & gozar por
toda a eternidade a coroa
immenfada gloria, que ti-
nha merecido a fua graça.
JE digo que foi chamada-,
porque aílim o declaraõas
vozes de toda a Santiílima
Trindadejnão em comum,
masdiílintamente repeti-
das por cada hua das divi-
nas PeíToas : Vtnt jfonfa
mea^vemcie Libano^vemco-
ronaberis, O Padre diíTcj
/^w/,' chamado- a como Fi-
IhajO Filho diírej^;2ijcha-
mandoa como MãyjO Ef-
pirico Santo diíie>^//j
chamando-a comoEfpofa.
Mas fe toda a Santiílima
TrindadCí&cadahCia das
divinas Peílbas poríy, &
portão particulares moti*
vosdeíejava vera Virgem
Mariano trono da gloria ,
c^nde também como Filha
viíle o Padre, como Mãy o
Filho, & como Eípofa o
EfpiritoSanto: Sca mefma
Senhora fufpirava por eíle
dia com tão ardentes defe-
jos, &: violentiílimas fau-
dadesjquc cilas, ôc o amor
lhe romperão os laços da
yida,&: lhe delatarão a al-
ma j como as mefmasPer-
íbas divinas , que podem
quãto querem, não íóper-
mittírao , mas quizeraó,
queamefma Alma fantif-
fimacontinuaíTeneíle mu-
do privada do Ceo, & da
gloria , & padeceíTe feu
amor efte largo martyrio
por tantos annos ? Aqui
vereis, quam verdadeira
hc a doutrina de todo o
no ílb difcurfo, & a* razoes
delle. AíTentou no Confi-
ílorioda Santiílima Trin-
dade o Padre,que a fua Fi-
lha,o Filho,que a íua Mãy,
^o Efpirito Santo, que a
ília Efpoíli íe lhe dilataíle a
vidadeDcos, 6c a gloria
por cfpaço de vinte 6c qua-
tro annos, para que em to-
do eíle tempo mereceíTe
m ai Sí 6c m ais, & creceíTena
graça •, porque computa-
dos tantos annos de gloria
com outros tantos de gra-
ça, não fó por eleição da
mefma Senhora, fenaó por
decreto de todas as Peílbas
divinas lhe convinha, ^
importava mais o crecer
na graça, que o gozar a glo-
ria. Vt c HW H lar es merita^
ejus
Pct. Da-
miau.
'cimda
A(>i"ipr.
Vug.
Noffa Senhora da Graça, 5 89
ejus ajjítmptionem ad glo- Santos dizem o mefmo c5
riam tamdiu dtjtuhfii ,-
S.Pedro Damiaó.
í. X.
1^ K As quem po«
diz termos naó de menor ex-
preílaó,masde mais pro-
funda intelligencia , que
por iílb naó repico. Só qui-
zera, que todos os que me
ouvis foífeis Theologos ,
para a demoílraçaò dos
aumentos de graça, a que a
Senhora creceo neíles últi-
mos annos de fua ia n ti fil-
ma vida. Procurarei po-
' "dera declarar
quaes foraó os aumentos
de graça com que a Virgê
Maria (^ em todo efl:e tem-
po mais propriamente Se-
nhora da Graça ^ acumu- rèm de os reduzir às regras
lou, húa íbbre outra , as de outra ciência mais vul-
immeníidades da fua .? S.
Epiphanio diífe : Gratia
Saneie Vir gtnis eft immen^
Dm. dcT^ • S.Boaventura : /^w^»-
gar5& maispra£l:ica5pela
qual jà que nenhum enten-
dimento humano pode
comprender efta immen-
.audib. pi certefuit gratia qua iffa fi dade^ ao m enos de ai gu m
^om^. fiiit plena \ Sc S. Aníehno; modo a poílamos todos
ui?^' ^^damplííís dicere pofiíl)
íap f . T>omina^ immsnfitatè quip*
\f^^'pegrati£y &gloriíe^ érjeli- le modo de conta, que vul
:ellenr.
^P3-
conjedurar.
358 Todos fabeis aquel-
citatis tii£ confiãerare inci'
fienti & fenfus deficit , ò"
linguafatifcit. Eltes San-
tos com palavras claras, &
expreffas apregoaó por
immenfa a graça da Virgê
Maria .'ÔcS. JoaóDamaf-
ceno, S Jeronymo^ S. E-
frem, S.Bernardo, S Jgna-
cio MartyrjS.Pedro V ero-
nenfe , & /^uaíl todos os
Tom. 7.
garmentefe chama ao ga-
larim, em que tudo oque
fepoíTue , & precede em
hum numero, fe dobra no
feguinte. Suppondo pois
cò a mais aíTentada Theo-
logia C em que ella naó eí lá
pouco obrigada ao doun í- .suar. *
limo Soares de nolfa Com- tom. 2:
panhia '} que os ados do aiip^íg.
amoriôc caridade da Virgé '^^^-^i
Bb iij fan-
•■
mm
390 Sermão de
fanciíllma, os quaes todos quinhentos 8c doze* no de-
cr:ió perfeitiílimos , con- cimo, mil & vintC & qua-
tro. De forte, que em dez
quartos de hoia , 6c com
dez a£bos de caridade me-
receo a Senhora , Ã: creceo
a mil & vinte quatro gráos
degraça. Agora faça cada
dignamente mereciao ou-
tro tanto aumento degra-
ça, qual era o que tinhaó
emfy,5tporiíro huns fo
bre outros fempre mais, ôc
mais hiaó dobrado a mef-^
ma graça i façamos agora humdevagaremfuacafaa
a conta aos gráos de graça, conta que refta em todos
4 a :'enhora podia acqui- os quartos de hora de hum
rirem hum fó dia, & para dia, que faó noventa 6c
que a conta proceda com féis, porque ainda que fe-
toda a clareza, naó prefup- gundo a forçofa ley da hu-
ponhamosnaalmadamef- manidads alguns quartos
ma \' irgem mais que hum da noite occupaíle o bre-
gráo de graça, nem coníi- viiUmo fono os fentidos
cleremos que fazia cm
cada quarto de hora mais
que hum aâ:o de caridade,
lílo poílo,no primeiro
quarto de hora,& pelo pri-
meiro afio de caridade,
dobrou a Senhora o mere-
cimento , & mercceo dous
gráos de graçi : no fegun-
do quarto mercceo qua-
tro ; no terceiro , oito ; no
qu irto, dczafeis : no quin-
to, trinta 6c dous : no fcx-
to, feífenta& quatro: no
fctimo, cento ^Sc vinte oi-
to : no oitavo, duzentos &
5;incoeata <k fcis ,; no wono,
exteriores da Virgem, eíTe
fono naó interrompia as
acçoens da alma, que fem-
pre vigiava,amava , & me-
recia; Ego dormia y& cor ^^^^^^
meumvigtíat. Mas porque a.
entretanto naó íique cor-
tado o íio, Sc íliíbenfa a de-
moftraçaòdanoífa conta,
eu a refu mirei breviíFima-
mente, repetindo fò as fo-
mas de dez em dez quar-
tos.
Nos vinte quartos de
hora daquclle dia tinhao
crccido os gráos da graça
da Senhora a numero de
qui-
Nopi Senhora da Cr aça', g 9 1
quinhccos & vinte & qua- quatro contos, fetecentos
tro mil & duzêtos & oi te-
ta & oito. Em trinta,a qui-
nhentos & trinta Sc íetc
contos,quínhentos fetenta
6ç quatro mil nove cen-
tos 5c doze. Em quarenta,
a mil 6c trezentos Ôc feten-
ta & féis milhoens , fetenta
& fcis contos í fetccento§
& trinta & cinco mil qua^
trocentos ^ oitenta 6c oi-
to. Em cincoenta , a hum
conto quatrocentos 6c no-
ve mil duzentos 6c vinte
niilhocnS) cento 6c fetenta
6c fete contos , fetecentos
6c fetenta 6c nove mil fete-
centos ^ doze. Em ítÇd^n"
ta, a três milhoens de mi-
lhoens, duzentos U, onze
contos , quarenta ^ hum
mil fetecentos 6c trinta &
cinco milhoens,6c quarcn-'
ta 6c féis contos quatrocé-
tos 6c trinta 6c fete mil 6c
oitocentos 6c oitenta 6c oi-
to. Em fetenta , a fete mil
6c noventa 6c quatro mil
feiscentos6cvinte 6c qua-
tro. E m oiten ta,a féis con-
tos trezentos 6c oitenta èc
cinco mii quatrocentos ^
vinte 6c dous milhoens de
milhoens, Be cento 6c no-
venta 6c féis contos oito-
centos 6c oitenta &dous
mil&: cento 6c oitenta 6c
oitomilhoens,cento èc fe-
te contos, Sc cento trinta
6c quatro mil 6c novecen-
tos & fetenta Sc {^is. Em
noventa 6c féis finalmente,'
fazafoma de quatrocen-
tos 6c treze mil , quatrocê-
cos Sc fetenta Sc cinco con-
tos , quarenta Sc oito mil
quatrocentos 6c quarenta
6c nove milhoens de mi-
IhoenSi feiscentos Sc feten-
ta 6c hum contos , noventa
mil milhoen$,6c trezentos
6c noventa 6c fete contos,
fetecentos Sc oitenta 6c fe-
te mil céto 6c trinta 6c kiSy
&duzétos 6c vinte 6cqua- que he o ultimo quarto de
tromilhoensde milhoens, horadehum dianatural.
duzentos & treze contos ,
quatrocentos fetéta 6c três
mil quinhentos Sc dezafe-
te milhoenSj& trezentos &
35^ Demoftrada efia
immeníidade de graça
acquirida peia Virgem Se-
nhora noííà em hú fó dia ,
Bbiiii cui-^
m
392 Sermão de
cuidareis fem duvida to- ceição tinha acquírídoem
dos, & eftareisefperando,
queeu tire por confequen-
cia as immenfidades da
trinta & quatro annos da
vidadeíeu Filho , & qua-
renta & oito da fua. Sup-
mefma graça, a que a mef- puz em fegundo lugar, que
ma Senhora creceria no ' * '
compridiílimo efpaço de
tantos dias, mezes, & an-
nos, quantos fe contarão
defde a Afcenção de feu
Filho atè a fua gloriofa
AíTumpção. Mas nao di-
go, nem direi tal coufa;
porque feria diminuir, de
apoucar muito , & Bizer
grande aggravo à mefma
em cada quarto de hora
fazia a Senhora fomente
humaíto de caridade, &
amordeDeos, fendo efl:cs
adbos tantos, quantas eram
as refpiraçoens da mefma
Senhora , cuja memoria,
entendímcntojéc vontade,
nem por hum momento fe
divertia da attenriíllma
contemplação do divino
graça. As duasfuppoíiçoés objedbo, com que fua alma
que fiz na conta defte dia, iníeparavel mente eftava
foraó fó ordenadas à clare
za,& evidencia da mefma
cota, & fingidas como por
exemplo com dous defei-
tos contrários à manifefta
evidencia da verdadeira
fuppofiçaó.Suppuz q a Se-
nhora no primeiro quarto
daquelle dia tiveíTc hum
fógráode graça , & efta
fuppoíiçaô íbi (ingidajpor-
que no dia da Afcençaóde
Chriílo tinha a Senhora
tão innumeraveís gráos de
graça, quanta defde o in
íèmpre unida , amando-o
de dia,& de noice fem cef-
far com mais intenfos, &
efficazes affecios", que os
Serafins da gloria. Ifro he
o que entaõ naò fuppuz
para a clareza da conta, 5c
o que agora fupponho pa-
ra a confequencia , &con-
je£lura da graça, na qual
como em hum pego , ou
abifmo fem fundo afoga-
dos, 6c perdidos todos os
números da Arichmetica,
fórcílaao dircurfo,& en-
llante de lua puriíllma Cp- tcadiméto humano o paf-
mo
NoffaSenhoradaGraça. 393
mo, & à língua o filencio , fi mt^L^quod in ea divina ope-
& coníiíTaó de que a graça
deMaria he incomprehen-
fivel.
, 35-3 Quê fomente íou-
be achar paralelo á graça
da MãydeDeos, foi oau-
tiquiílimo Aadrès Crecen-
fe,oquala comparou com
o inefFavel my ílerio da hu-
manidade do Filho, a que
chama inHíiitas vezes infi-
nitamente infinito. As fuás
rata ejtgratia tnfih ties tyi-
finitè. E como a immenía
grandeza do infinito fó a
pôde comprehender entê-
dimento infinito, qual he
unicamente o de Deos-,por
iíTo conclue S.Bernardino,
fa liando da perfeiçam da
graça da Senhora neíle D.Ber-
mefmo dia 5 que o conhe- ^^j;^ ,
cimento delia fó eílà refer- deAf- '
vado para Deos : Vt foli ^ 'J'|;-
palavrasfaôeílas;JV^///W, ^20 cogmfcendd referve-
quõd nosfiiperat^ in eã divi- tur.
naoperata eft gratia^ nemo
Andrjas mlretur mttims ad novum ,
Crere '. ^jyieffdhHe quod in eaper-
de Dar- aVíuM ejt myfteriiimyab omm
Viíg?"^ Infinitate infinines infimte
èxemptum. Notemfe mui-
to eáesnovos, & últimos
termos 5 ab oníni infimtate
mfimties infinite Foi o my-
íleriodeDeos feito home
infinito fobre toda a infi-
nidade, exemptum ab omni
infinitate-^ porque foi infi-
nito infinitas vezes , infini-
tiesy Sc infinito infinitamê-
tc^ijifimtè. Eneíla infini-
dade, ou infinidades fó fe
pareceo com elle a graça
da Mãy infinitamente in-
^61 Nodiada AíTump-
çaódefceoomefmo Filho
de Deos a honrar o triun-
fo de fua Máy , acompa-
nhado de toda a Corte do
Ceo, Anjos, & Santos: os
quaes admirados diziam;
^i£ eft jfla^qu£ afcendit de
defertO:, delkijs ajfluens^m-^ ^
nixafuperdtleBumfutim^
Quem he efta, que fobe do
delertOjnaò fó chea, mas
inundando delicias , fu-
ílentada do feu amado z' O
feu amado he o bemdito
Filho , primeiro motivo
daquella admiraçao,o qual
para maior mageftade do-
triunfo , quiz ellefer em*
peíToa
Canr;
394 Sermão
peííbaoqiiclevaíTedebra- tanto que apareceo aglo-
m
ço a fua Máy. As delicias,
ou inundação de delicias,
que juntaraente adrnira-
vaójéc das quaes naô fó hia
cheajmas como de fonte
redundante manavaó , &
cnçhiaótiido, naô poden-
do Ter as da gloria para on-
de começava a fubir 3 eraó
fem duvida as da graça,
que na terra,& na vida taô
immenfaméte tinha acqui-
rido. Aílim comenta eíle
lugar o doutiírimoCardeal
Hailgrino : Affincre mitím
dicitur grattarum dcUàjSt
Ó"virtutum\ & innixafu"
per dileõfuwy ctíjus inniteba»
riofa triunfante reveílida
das immenfidades de fua
graça, maiores na grande-
za, que todas as delicias,
que ate entaó fe tinhaõ go-
zado na gloria,tudo quan-
to tinha decido do Ceo à
terra defapareceo à fua vi-
íla. Excellenteméte S. Pe-
dro Da miáo : In illa inac-
ccjjibili Ince perluc€7is , Jic p Pam.
ntronrmque fpirituum Ije-^^^/^^^
betabat dtgnitatem ^ ut (mt Virg, '
quajinon jmt y & compara-
tioiíe tllhis , nec poJJJnt , nec
debeantapparere. Que Re-
gião mais povoada (* hc
cóparaçaô do mefmo San-
turgrati£. Mas o que eu fo- to ) Que Regiaó mais po
bretudo admiro nos mef- voada que o Ceo de noite?
mos admira dores, he, que
cm tal dia , & em tal con-
curfo chamem à terra de-
Cant. 8. ferto : ^laeft ifia , qu£ af-
í- cendit de deferto ? Se toda a
Corte do Ceo tinha deci-
do com o feu Principe à
terra : Se defpovoado o
mefmo Ceo, todo naquel-
lediaeííava junto na terra
donde começava a mar-
char o triunfo , como fe
chama deferto ? Porque
Tantos Planetas , tantas
conítellaçoens, tanta mul-
tidão de Éííreilas maiores,
& menores fem numero.
Mas em aparecendo o Sol,
o m efm o C eo fu b i ta m en-
te ficou hum deferto, por-
que tudo à vifra deilc fe fu-
mioj&defiparcceo, & fó
elle aparece. O melino fu-
ccdeo a todas as Gerar-
chiasdoCconcíledia Por
grandes, &: iniiunicraveis
naò
Nojfa Senhora da Graça. 3 9 f
naócabiaôna terra, mas com osapplaufos das vo-
tanro que abalou o triun- zes, com os aíFedbos dos
fo, & aparecerão os fobe- coraçoens, & com os jubi-
ranosrciplandorcs dagra- los,& parabéns de toda a
ça,ouda'ScnhorLida Gra- alma, que Maria em quan-
ça, tudo o mius deíapare- to Senhora da Graça , ain-
ceo,6c ficou hum deíerto: da em comparação da fua
giuége/hfta.qusafcenditde mefma gloria, cfcolheo a
dtfertú ; porque codas eífas melhor parte : Maria opti-^
Gerarchias em iua prefen- mam fartem elegit.
§. XI.
^6z T Sto poílo C para
Xque nos naó falte
çaeraócomoíenaò fora6>
ta/mt tmiquãm mnfinv j &
porque todas em lua com-
paração, nem podiao, nem
de viaò aparecer, C'' com" ^ '■. '
paratiotie iUiiis^ necpojjtnt^ o fim de taò largo difcurfo,
nec debeant apparere 5 fó quando o temos acabado^
aparcceo, & fó fe fez men- perguntara eu a todos os
ção do fcú. amado , innixa que me ouvirão > fe fariam
Cant. Jufer dikã^mjnum^Q^h& eftamefma eleição : fe a
*'^' nova confirmação deita temfeitoatèagora,ouíea
mefma verdade j porque determinaó fazer? De nm-
junta com a graça de Ma- guem creo, fe he Chriílaó,
ria fó a de feu Filho avulta, & tem fé , que naó faria a
& aparece -, por ítr graça mefma eleição , cftimando
de homem Deos, abaixo mais a graça de Deos,que
do qual, como diz S, An- a mefma gloria, como fez,
fclmo, nenhúa fe pòdecó- coma maior luz de todas
íiderar, nem entenderina- asluzesdoEfpirito SantOj
ior que a de lua Máy: §lua fua fobcrana Efpofa Maria
maior fub 'D^o necitieat m" Senhora noíTa ; bailando
telligi. E iílo baile finai- para iífo, quando naó ou-
mente,para que todos ce- vera tantas razoens, como
kbremosj & confeAêmos vimos, fer eleição, ^ refo-
I
rlKt
396 Sermão de
liiçaó fua. E digo, fe he daSanciíTimaTrindadcao
Chriílaójêc tem féjporque
o contrario feria não dar
credito às Efcrituras fa-
gradaS5que allegamos: naó
imitar , nem venerar os
exemplos dos maiores Sá-
tos de hum5&: 011 tro Tefta-
mento Moyfes & S. Paulo:
&: cerrar as portas da pro-
Padre, ao Filho, & ao Ef-
pirito Santo. Sò quem naó
tem fé, como dizia , naó
tremerá de ouvir , &c ima-
ginar hum táo horrendo
lacrilegio. Entaó prezem-
fe os q lílo fazem de fer de-
votos da Senhora da Gra-
caj6c de ter dedicado a fua
pria cafa a toda a Santiíli- Igreja, 6c poílo a fua pátria
maTrindade, que em to- debaixo do titulo, & pro-
dasastres PeíToas , como
ouviíles da boca do mef-
mo Chriílo, vé fazer mo-
rada na alma, que eftà em
graça. Se quando tresAn-
tecção da mefma Graça.
Como a graça coníifte em
amar , & fer amado de
Deos, fô quem de todo co-
ração eílima mais a fua
jos em figura das tresPeA amifade, que a fua mefma
foas divinas foraó fer hoA viíia, pôde aífirmar com
pedes de Abraham, elle
os náo recebera , & agafa-
Ihára com tantas demo-
ílraçoens de cortezia , &
amor,antes os lançara de
fua cafa , quem fe naó af-
fombraria de tal defcome-
dimento ? Pois o mefmo,
& muito maior he o que
fazem a Deos os que nam
aceitaóa fua graça, ou fe
defpedem delia, naó dan-
do com as portas na cara a
três Anjos , fenaó verda-
deiramente às trcs Pelfoas
verdade, que faria a mef-
ma eleição, que fez a Se-
nhora da Graça.
363 MaspaíFandoàfe-
gunda pergunta , refpon-
deinie,fe fizeíles efta elei-
ção atègora.? Ohvalhame
Deos, que confufaójiSc que
anguftias feráó as voflãs,
quando no dia do Juizo fe
vos fizer eíla meíma per-
gunta ! O lume da razaó
natural , fem chegar aos
preceitos da Ley de Deos^
ellà ditando a todo o ho-
mem,
Noffa Senhora
mem, que entre o bem, &
o mal deve eleger o bem,
& entre o bom , & o me-
lhor, eleger o melhor. Ve-
jamos agora nos voílbspé-
fa mentos, nas voílàs pala-
vras, & nas voíTas obras,
que todas aíli haóde apa-
recer publicamente, que
he o que efcolheíles: a gra-
ça, ou o peccado ? Nos pé-
íamentoso peccado , nas
palavras o peccado , nas
obras o peccado y & íem-
pre,Ôcemtudo , ou quafi
tudo o peccado , com per-
petuo efquecimenta , &
naó fó efquecimento , mas
defprezo da graça. E por-
que.? Nas obras por hum
appetite irracional, ou por
hum viliílimo intereíle:
nas palavras por húa mur-
muração da vida alhea^ ou
por hum impeto da ira:nos
penfamentos por húa re-
prefentaçaó do defejo vaó,
& tal vez por húachiméra
nãofô fingida,mas impof-
íivel. E he poíIivel,que por
ifto fe troque , fe venda, &
fe perca a graça de Deos:6c
fobretudoj que fentindofe
tanto outras, que não me-^
da Gr aça. 597
recém nome de perdasjío
as da graça fenão íintão !
Verdadeiramête] , que não
fei onde eftà a noííà fé,
nem o noíTo entendimen-
to ! O que fó fei he, que fe-
melhante infenfibilidade
fófeachaem almas, que
eftão deílinadas para o In-
ferno , 6c jà nefta vida me-
recem o ódio de Deos, co- ^^
moEfau: Efau autemodio cÍjj.
habui, Vendeo Efau o feu
morgado a Jacob por hum
appetite taó vil,& hum go
fto taó groíTeiro , & taõ
breve comofabemos, Ôc
pondera a Efcritura fagra-
da, que depois de fazer ef-
ta venda fe apartou dalli :
TarvipendenSymàdprimo^ Gere^
genita vendidijfet , fem fa« ^^^^
zercafo do que tinha fei-
to, nem pefar o que tinha
vendido. AíHm acontece
aos que perdem a graça d$
Deos , & muito mais fe t
vendem por aigúa coufa
defeugoíl:o.Por qualquer
outra perda fe enrrijflecé,
&poreíla,&com efta ra6
fôraeíláo de le entriíle-
cer, que antes íealcgraôí
Latantur cu malefecermt.
i
35)8 SermaÕde
3^4 Aos que atègora tima a ambição humana,
fizeraótammàj&taóerra- & nenhum pendor faz em
da eleição como efta, fó
peço que tomem a balan-
ça na mão, & pefem o que
Efau não pefou. Dizeime:
Quaes faó as coufas neftc
inundo pelas quaes os ho-
refpeito de hum fó gráo de
graça , como também o
não faria, ainda que Deos
levantaíTe hum novo Im-
pério, no qual hum home
dominaíTe a todos os ho-
mens coílumão perder, ou mens,&atodos os Anjos,
vender a graça de Deos ? Finalmente, fobrc as ri-
Geralmente,diz S. Joaô
Evangelifta,raó, oudefejo
de riquezas , ou defejo de
honras, ou defejo de go-
ílos, & deleites dos fenti-
dos. Pondeme agora tudo
iílo em húa parte da balã-
ça,& da outra hum fó gráo
de graça,& vede qual pefa
mais. Ponde todo o ouro,
toda a prata,todasaspero-
quezas, & honras acumu-
lemfe todos os goftos, to-
das as delicias , todos os
prazeres, nao fó quantos fc
gozáraó, & podem gozar
nefte mundo , fenaó tam-
bém os que fe perderão no
Paraifo Terreal 3 & para
que vos não admireis de
que pefe muito mais hum
gráo de graça , fabei que
las, & pedras prcciofas, ainda hc mais digno de fe
que gera o mar , & a terra, appetecer, que tudo quan-
& hum grào de graça, nam
fó pefa mais fem nenhúa
comparação , mas omef-
mo feria fe toda aterra
foífe ouro , & todas as pe-
idras diamantes. Acrccen-
taimaisà balança todas as
honras , todas as dignida-
des, todos os Cetros &
Coroas, todas as Mitras &
to gozãOj& quanto hão de
gozar por toda a eternida-
de com a viíla clara de
Deos todos os Bemaven-
turadosdoCco ; &: fendo
iíío aílim , pôde haver ma-
ior locura, que por húa on-
ça de intereíTc ,por hum
pontinho de honra ,&:por
num inítantc de golto per-
STiaraf ^ ^ tud9 quantQef- der, naó hum fó gráo de
Nojfa Penhora da Graça. 5 99
graça de Deos, fenão toda Pois ifto he o que fazeis,
Píalfti.
fem o entender, todas as
vezes q defp rezais a graça
de Deos. Ouvi ao mefmo
Chrifto como jà fe queixa-
va defle defprezo por boca
do Profeta : Tretíum meum
deo,erao temporal,queel- cogitaverunt repeUerc.QhQ- €1.^
le herdou de feu Pay Ifaac, gáraó os homens a tal ex-
tremo de cegueira, &mal.
dade, diz Chrifto, que en*
tráraó em penfa mento de
regeitar , Sz defprezar O
meu preço. Ah Senhor,que
os mefmos, que crem em
vòs , & fe chamaó Chri-
ftãos,não fó chegarão a en-
trar em taô abominável
penfamento ■-, mas com os
a fua graça ?
365 Mas para q aca-
bemos depefaro que ain-
da naó eftà pefado , torne-
mos ao morgado deEfau.
O morgado,que Efau ven-
o qual indo a fer facriíica-
do, não chegou a derra-
mar o fangue: o morgado,
que nòs vendemos, he o
fobrenatural, & da graça,
do qual o Filho de Deos
nos fez herdeiros, tendo -o
comprado com todo o fan-
gue , que derramou na
Cruz. E eíle preço infini-
to he o que nòs taó vil, taó penfamencos, com as pala-
impia,ôc taó facrilegamê- vras, com as obras, & com
te defprezamos, Dizeime, tudooquecuidão, 6c fa-
fe quando na MiíTa fe leva- zem,defprezão, & daó por
ta o íangue de Chrifto no nada eíle voílb preçoí No
Caliz,ouveíIe algum, que
em vez de o adorar, & ba-
ter nos peitos , lhe voltaíle
o roílo , lhe fechaíTe os
olhos 3 & com o geíto de
ambasasmãos o regeitaf-
fe^&lançaííede fy,quem
haveria que não abomi-
naíle tal homem , & fe po-
deífe, o queimaíTe logo?
ta aqui Hugo Cardea],quç
em tudo o que fe vende,ou
compra naó ha hu fó pre-
ço, fenaó dous. Hú o pre-
ço da coufa comprada, ou-
tro o preço daquilío com
que fe compra : ^od emi-
tur^é'quo emitur. Eíles íàõ
os dous preços, q defpre-
za todo aqueile que pecca,
acYeU'
400
& vende , ou troca
peccado a graça de Deos.
Hum o preço da graçajque
Chriílo nos comprou com
feufangue,& outro o pre-
Sermão de
pelo á\^no de fer abominado:
Et fajiguhicm teftamenti
plhitum dtixerit : Sc do
mefmo Chrifto com ex-
preííàó,& reflexão de fer
ço do mefmo fangue, com Filho de Deos, o qualpi-
quenoscomprou a graça za, & mete debaixo dos
It le me perguntais atèon- ^hs'.^i FiltumT>ei Loncul-
de chega eíte defprezo ? caverit.
Tremo de o dizer, mas he
bemqueo ouçais, & fai-
bais. Chega eíle defprezo
naó fô a dcfprezar de qual-
quer modo a graça de
r)eos,&ofanguede Chri-
ílo, mas a meter debaixo
^66 Chegada a verda-
de, Sc evidencia do noíFo
difcurfoaeíle extremo de
impiedade, & horror :, que
fenáo podéra crer, nê ima-
ginar, fenáo fora de féi
bemcreo que não haverá
dos pès,&pizar a mefma alma tão perdida, nem có-
graça, 6c o mefmo fangue, ciência tão defefperada,
6c o mefmo Filho de Deos. que conhecendo o erro, &
Sa6 palavras exprelTas , 6c cegueira em que atègora a
tremendas doApoíloIoS. fofreo a paciência, 6c mi fe-
Paulo : ^uifdium 'Dei con- ricordia divina , fem a dei-
Hcbr. culcaverity &fangíii7icm te-
^'''^^ JiamentifolUitum duxerit^
inquojanâlificatus ejt ^ &
fpiritíú gratine cÓtumeliam
fecerit } vede fe falia no-
meadamente da graça, no-
meadamente do langue, Sc
nomeadamente de"Chri-
ílo. Dagraça,aquefazta6
grande injuria : Spiritui
grátis co7it ume liãfn fecerit :
doíàngue , que reputa por
tar mil vezes no Inferno,
como pondera o mefmo S.
Pau Io, Sz como hú tal def-
prezo do íhngue de Chri-
llo,6cdopreçodo mefmo
finguc merecia^ bem creo,
digo, que ninguém havc-
ni,qucnão tenha mudado
derciòluçáo, Sc com ver-
dadeiro arrcpendimenco ,
6c dor do paOjdo, a não te-
nlia feito muito firme ác
an-'
Nojfa Senhor,
antepor a graça de Deos a
tudo quanto pôde ter , ou
defejarneíle mundo, em
quanto no mefmo mundo,
excepta fó a fua graça, lhe
pôde dar o mefmo Deos.
E para que iílo naó íique
íó em bonspropoíltosjque
podem eíquecer, & tornar
a fer vencidos do mao co-
llume i acabo com decla-
rar a todos,& lhe proteftar
da parte do mefmo Deos ,
fobpena de faivar, ou nao
falvar, o que devem fazer.
3Ó7 Tudo fe reduz a
três pontos, & muito bre-
ves, para que vos fiquem
na memoria. O primeiro,
que logo, & fem dilação o
queeftiver empeccado íe
ponha em graça de Deos
por meyo do Sacramento
da Penitencia,fazendo taó
exado, 8c taò fiel exame ,
& confiíraó de toda a vi-
da paífada, como fe aquel-
la foífe a ultima para ir dar
conta à divina Juftiça. O
fegundo,hum total, 6c fir-
miflimo propofito de con-
íèrvaramefma graça , &
perfeverar nella , lem fa-
zer cafo de fazenda^ hoíi"
Tom .7.
ida Gr aça. 401
ra , ou qualquer outro m-
tereífe , & conveniência
humana, & com refoluçao
de antes padecer mil mor-'
tcsy que cometer hum pec*
cado mortal. Terceiro^
naófóconfervar a mefma
graça, mas procurar com
todo o cuidado de a aumê-
tar comoexercicio con-
trario de virtudes, & obras
Chriftáas : com obfervan-
cia dos preceitos divinos,
com a frequência dos Sa-
cramentos, com a oração,
com a efmola, com o jejú>
6c mortificação de todas
as paixoens dacarne,com
amor dos inimigos, com o
pèrdaó das injurias, com a
paciência dos trabalhos,&
conformidade com a von-
tade de Deos em todas as
eoufas, que nefta mtfera-
vel vida ordinariamente
faó ad verfa s : & como dan-
tes com os penfamentos ,
palavras, 6c obras oífendia
ao mefmo Deos, ailim da-
qui por diante as ordene
todas com reála intençaa
a feu divino ferviço, 6c au-
mento de fua graça , na
qual taõ brevemente co-
Cc mo
402 Sermão de
mo vimos, pôde acquirir, daGraça vos pedimos uni-
& multiplicar muito gran-
des theíòuros^ & recupe-
rar em poucos dias de ver-
dadeira contrição, Sc amor
deDeostudoo queefper-
diçouj&rperdeoem toda a
yidapaíTada.
368 E porque delibe-
rada, & reduzida a alma a
eíle fegundo, &: feliciflimo
citado, he certo, que nam
le defcuidarà o Demónio
em procurar de a derrubar
delle com tentaçoens-,aqui
entraopatrocinio, &: am-
paro da Senhora da Gra-
ça , 6c feu fantiílimo nome
terrivel fobre todos ao
mefmo Demónio , nome-
andoa, & invocado- a mui-
tas vezes no meímocon-
ílido 5 &; dizendo ; Maria
M^tergratKCt Mater mi fe-
rie ordiíT^tu nos ab hoflt pro-
tege : Maria Máy da graça,
Maria Máy da mifericor-
dia,vòsque fó podeis for-
talecer a noíTa fraqueza ,
nos defendei deílc cruel
inimigo.
369 AíTim poftrados
diante de vofib foberano
acatamento, como Trono
camente efta, que vos efti-
maíles fobre todas. E con-
íiadamcnte,Senhora, vos
fazemos efta petição de-
baixo da promeíla do vof-
fo Apoftolo : Adeamus er-
20 cíim íiducta ad thror.nm „ ,
gratt£ 5 ut mtjericordiam » 6.
confeqttamur^à^gratiã in-
veniamus in auxilio oportu-
no. Graça , & mifericordia
nos promete debaixo do
voíFo amparo. E como nos
pôde faltar a graça, ou a
mifericordia , fendo vòs
Maria Máy da graça , &
Máy da mifericordia: iWíí-
ria Mater grátis , Mater
mifericordia ? Com.oNJáy
àà graça não fó tédes abú-
dantiíllma graça para vòs,
fenaó para voílbs íilhos ,
quefomoso.9 peccadores.
O mefmo Anjo, que vos
faudou dizendo ; Gratia
pLna^-àQYQccntou logo,<S/>/-
ritus Sanãiis fuper-veniet in
te : porque naó fó foftes
chca de graça,fcnaó fobre-
chea : 'F/ena (ibi^iiper plena
7/í>^/>5 como diz voíFo de-
voto S.Bernardo:Cliea pa-
ra vò§) Çc para nos fobre-
cheaj
UNMft
NojTa Senhora ãa Graça. 40 3
cíieas^om que deitas fu- bemanòs^&nospertende
perabundancias de graça vencenpelo que, Senhora
náo podeis deixar de par- da Graça,a vos vos perte*
tir liberalmente com nof- ce defendernos de fuás te-
co como Mãy da graça, taçoens,8caftucias:rí^;í^^
Mater praM. ^ muito me- ah h o fie protege, t. nam lò
nos o devemos defconfiar vos dizemos, Tu nos ab ho-
devoíFa mifericordia ^ co- /^/r^r^^^ , mas para qu€
mo Máy de mifericordia , eíla protecção leja perpe-
pois temos razaÓ de vos tua,&fegura atèa morte,
pedir,ou demandar a mef- acrecetamos, Ethoramor^
ma graça, naÓ fôde mife- tisfufcipe. Eíle ditoío dia,
ricordia, fenaòdejuftiça. Senhora 5 foi aquelíe, em
Omefmo Anjo vos diílè : que pagando como filha
Invemftigratíãapud "Deu : de Adaó o tributo à mor-
Que vòs achaftes a graça. te,na mefma hora em que
Quem achaoperdido,tem começou a voíla gloria , fe
obrigação de o reftituir a confumou a voíTa graça:
quemoperdeo, &:fe Eva pelo que^Senhora da Gío-
nos perdeo a graçajvòs co- ria,& da Graça, por voíTa
moKeparadora de todas as fantiílí ma morte, nos con-
fuás perdas 5 a deveis nam cedei para a noíTa húa tal
fó por mifericordia, fenaó hora, em que acabando ef-
porjuítiça, acporreílitui- tamiferavelvidaem Gra-
çaó a feus filhos. O mefmo ça, na eterna, & feliciílima
inimigo, que a ella tentou, poíTamos acópanhar voíTa
& venceo, nos tenta tam- Gloria.
Ccij
SER^
40+
■mm
VO
SERMAM
DE
SJOAM EVAlSIGELISTA
Fefta do Príncipe D.Theodoíio na Capella
Real, anno 1(^44.
ConverfusTetrusviditillumdifàpiihm, quem ddigcbat
Jefusyfeqnentem. Joann.21,
ff. I.
Uidava eu, que
fó dos que íèguê
ao mundo havia
venturofos , &
deígraçados. Também na
fantidade ha fortuna. S.
Joaó Bautiíla foi dcfgra-
çado com Reys, S, Joaó
Evangelilla foi venturofo
Gom Principes. S. Joa6
.Bautiíla foi aefgraçadocõ
Reys 5 porque hum Rey o
fez nafcerem húa monta-
nha, 8c outro Rey o fez
morrer em hum cárcere.
S. Joaó Evangelifta foi vé-
turofo com Principes,por-
queo PrincipedoCeo, &
oPrincipe da Igreja, am-
bos andaó em competên-
cia neíle Evangelho íbbre
qual fe lhe ha de moílrar
mais afeiçoado. Fez Chri-
{ío a S. Pedro Principe
uni-
A
|o3nr.
M.2I.
[bid.2:^.
Sermão de S.loaõEvangeUfla, 405-
univerfalda faa Igreja, & porque fe moftra fenrido
apontando S. Pedro para Chriílo do cuidado , que
S Joaó, diíTe : T>omine, htc moftrava Pedro ? Os fenti^
autem quid? Senhor , fe a mentos eraó diverfos, mas
mim me dais o Pontifica- a caufa era a mefma. Sen-
do, fe a mim me entregais tiãofe ambos , porque am-
as chaves do Ceo, aos me- bos amavaó muito a S.
recimentos de Joaó, que João. Pedro fentiafe da
lhe haveis de dar? Que ref- dignidade , que lhe dava
ponderia Chrifto a S. Pe- Chritlo; porque como Pe-
dro? Sk eum voio manere dro amava muito a Joaó,
donecveniam.qtiidadte^Sè queria a dignidade para
eu quero que Joaó fe fique elle,&: não para fy : Chri-
aíTim, quem vos mete, Pe- fto fentiafe do cuidado,
dro, a vòs nilTo ? Quem vos que moftrava Pedro , por-
fez procurador de Joaó ? que como Chrifío amava
^///í?í2í//^é'? Notável repo- mais que todos a Joaó,
fta de Chrifto, & notável naó queria que ouvefle
propofta de Pedro! Chri- quem fe moftraíFe mais
fto & Pedro ambos parece cuidadofo que elle. Onde
que eftaó queixofos pelo eftà Joaó,dizia Pedro,por-
quehaviaõ de eftar agra- quemehaóde dar o Pon-
decidos. Na repartiçam tificado a mim ? Hic autem
dos lugares fentemfe as ^íí/V.?Ondeeftoueu,dizia
dignidades, que fe dão aos Chrifto, porque ha de ter
outros: nos negócios dos outrem cuidado de Joaó?
amigos, fentefe que haja ^idad te ? De maneira, q
defcuidados,masnam que o Príncipe da Igreja, &: o
•liaja cuidadofos. Pois fe Principe da Gloria anda-
Chrifto era amigo dejoaó,
6c Pedro eftava feito Pon-
tifice : porque fe moftra
fentido Pedro da dignida-
de, quelhedava Chrifto?
Tom. 7.
vão ambos em competên-
cia fobre qual havia de
amar mais a S Joaó ,porq
fer amante do Evangeli-
fla amado , ouhe deftmo,
Ce iij ou
40 6
Sermão de
"^ ■•^\
ou he obrigação dp$ ma-
iores Príncipes.
371 Taó qualificada,
Senlior,5c taó authorizada
comoiílotem V. A. ade-
vaçaó do feu amado Evá-
gcliílaSJoaó: authoriza-
da com os cuidados do
Príncipe da Igreja,& mais
authorizada com as emu-
laçocns do Príncipe da
-Gloria. Com tudo , Se-
nhor, eu quando confide-
ro a V. A .Príncipe de Por-
tugal 5 naó deixo de ter
meus efcrupulos neíla de-
vaçaó. S.Joaó foi o valido
deChriíloi&: hum Prín-
cipe de Portugal logo em
feus primeiros annos aíFei-
coado a validos! Devaçaó
a valido, ainda que Santo,
cm hum Príncipe ! Efcru-
puíofa devaçaó. Là diziaó
os Ifraelitas aDeos,que
lhe naó havíaó de chamar
Baalim , que quer dizer,
Senhor meu j porque ain-
da que Baalim era nome
de Deos, equivocavafe cp
Baal , 4 ^^^ "O"^^ do ído-
lo. Pois feonome do ído-
lo, ainda pofto cm Deos,
craperígoíbi o nome de
valído^ainda que pofto em
S.Joaó , porque o naó fe-
ra? Valido ainda que feja
S. Joaõ,he valido ; & aifei-
çaó a valido no noífo Prín-
cipe! Pois por certo, Se-
nhor, que não faó ç,^^s os
exemplos,que V. A. vè:
náo he eífa a doutrina com
que V. A. he criado.Quan-
to mais que havendo de
haver valido , parece que
naó havia de fer S. Joaó.
Os validos inventáraóíc
para os Príncipes defcan-
çarem nelles j & S. Joaó
era hum valido , de quem
diz o Evangelina : Recu^
hmtfupra peãuí ^Dominii]cihi^.
Queeíteve encoítado íb-***^
breopeitode feu Senhor.
Lindo talento de valido!
Em vez de o Príncipe dç;{*
cançar nelle, elle defcança
no Príncipe/
§. II.
373 /"^Omiftoferc-
V^>prefentar af-
íim, cu acho duas razoens
muito forço fas para o
Príncipe N.S.fe affeiçoar
a elle grande valido de
Chri-
A
S.loãdEwtígeVfia. , . 4^7
Chriílo. Aprimeira,pelas porque o foi pnmeiro do
partesdo valido : a fegun- SereniíTimo D. Theodoíio
da, pela authorídade de feuAvo: EttamT>omtno
quem o inculcou. Quiz anja noftro lauãabútter aã-
ElRey Athahrico tomar hsfiffe. Sendo S.A.demui-
porfeuvalído a Tholoni- to menos annos fonhou>
CO patrício Romano , & qire lhe aparecia o Senhor
cfcreveolhe aíTim em húa Dom Theodoíio > & que
Epiílola, que he a nona dó lhe encomendava muito ,
livro 8.de Cafriodoro : Ad que foíFe grande devoto
relevandãjlorenúfmaata* de S. JoaÓ Evangeliflra , de
tis mftr/folíCítudinem vé^ quem eíle toda a vida fora
fumeftte wum prudentif^ devotiíTimo. Náo foieíia
fimum adhibere, quem con* a vèz primeira 5 quetelíci.
f{atetíamT>omino dvo no- dades de S. Joaò tiv^-ao
0rô laudabiUter adhafijf^. principio em fonhos. Eíte
Querovos por cópanhei- íbnho myftcriofo toi o
rono governo deftes meus principio defta devaçao:ôc
primeiros annos,dizAtha- efta herança dmna foi a
larico a Tholonico, por que deixou a hu tal Meto
. duas razoens-.porq tendei hum Cal Avo.
prudência para o fer , & ^n Jà outrji vez ao
porque o foíles primeiro pé daCruz foi S. João is-
do Senhor Theodorico vangeliíla deixado em he-
meu avo : ^em conftat rança; Sc a meuver,eftehe
etiam Domino avo noftro hum dos grandes louvores
laudahiliteradhajiJfe.^E^^s doDifcipulo amado : ler
mefmas faó asrazoens,que hum am Jgo,de quemiepo-
oPrincipe,queDeosguar- deteftar. Hum dos gran-
de,tcm para fer taô affei- desefcandalos, que tenho
coado a eíle grande valido do mundo, he , -porque íe
• àe Chriílo. A primeira^ nãohade teftar dos ami-
porque tem grandes par- gos? Na morte teílaò os
tes para o fer : a re<5unda , homes de todos feus bens,
^ " Ce iiij &pojs
a
(>;
Joann.
408
& por eíTa mefma razaó
parece, que haviaó de te-
ftar dos amigos em pri-
meiro lugarj porque entre
todos os bens, nenhú bem
ha maior que os amigos, 6c
entre todas as coufas nof-
fas ^nenhuahe mais noíTa
que os amigos. Pois fe os
amigos faó os noílbs ma-
iores bens , & os bens mais
Sermão de
rusmortuuseft: Lazaro he
morto. Notável diííercn-
ça! Quando Chriílo diz
que Lazaro dorme , cha-
malhe amigo noíTo : La-
zartis amicus no/ter dormit-,
quando diz que Lazaro
he morto, naô lhe chama
amigo : Lazaras mortuus
efl. Pois fe lhe chama ami-
go quando diíTe que dor-
rbid.14
noíTos, porque naÓ tefta- mia, porque não Ihecha
mos delles ? A razáo heef- ma amigo , quando diíTe
ta j porque os bens de que
teftaó,& podem teílar os
homens, faóaquelles, que
permanecem depois da
morte j &:osamigos,ainda
quefejaó os noíTos maio-
res bens, faó bens que fe
acabaócomavida. O ma-
ior amigo permanece ate
a morte, depois da morte
ninguém he amigo. Mor-
reo Lazaro eftando Chri-
ílo aufente i & he muito
de reparar o modo có que
Chriílo Senhor noíTo deo
efta nova aos Apoílolos.
A primeira vez diíTe: La-
zarus aniicus nofter dor mi t.
Lazaro nofib amigo dor-
me. Dahi a pouco expli-
coufe maisjôc diíle: La;^a'
que morrera .^Porq quan
dodiífe que dormia, íu-
punha-ovivo; que o dor-
mir em rigor he de quem
vive > quando diífe que
morrcrajdeclarava-o mor-
to : & o nome de amigo
acabafe com a vida : de-
pois da morte ninguém he
amigo. Lazaro vivo he
amigo : L azar lis amicus
nofter y Lazaro morto he
Lazaro : Lazarus mortuus
eft. E como as amizades
humanas faó bens que naó
permanecem depois da
morte, por iíTo os homens
naó teílaó deíles bens, por
iílòfcnaódeixaò os ami-
gos cm teíiamento. Sò S.
joaóEvãgcliihi foi cxcei-
çáo
à
■^-
|oinn
ip ió
S.loaÕEi^angelifta. 409
çaõdefta regra, como de com a morte: as finezas do
todas. Fez Chriftofeutc-
ftamentonahora da mor-
te, & a principal herança
de que teílou , foi S. Joaó :
Mu líer^eccefilius tuus . S a-
bíaqoamor do feu ama-
do naófe havia de acabar
com a vida j por iííb foi a
herança principal de feu
tefta mento.
374, No Sacramento
da [^luchariftia confagrou
fangue de Chrifto ainda
depois da morte perfeve-
ráraó. O corpo de Chrifto
concorreo a redempçaó,
padecendo j o fangue de
Chrifto concorreo à re-
dempçaó, derramandofe:
pois por iíTo teílou Chri-
íto de feu fangue, & náo te-
ílou de feu corpo , porque
o corpo depois da morte
naópadeceo, o fangue de-
Chrirto igualmente feu pois da morte ainda fe der-
corpo,& fangue ; mas no rzmo\x'.Exivit Janguis.EÇ-
modo da confagraçáo re
paro eu em húa differen-
ça grande. A confagraçaó
do CalizjchatnoulheChri-
fto teftamcnto : Hic Cálix
Lnc.22. novum teftamentum eji tn
^' me o fangume : à confagra
fa foi a caufa porque ad- ip^^".'
vertidamente o E vangeli-
ftafallando da lança, naò
diíle que ferira, fenaó que
abrira : Latus ejm aperuit : ''^'^■
porque a lançada nam foi
ferida para o corpo , foi
Ibid-ip.
çaó do corpo naó lhe cha- porta para o fangue : nam
mouteílamento ; Hoc eft foi ferida para o corpo,
corpus meum-t^ nam diíTe
mais. Pois fe Chrifto cha-
ma teílamento ao fangue,
porque naô chama teíla-
mento ao corpo > 6c fe te-
ílou do íàngue,porque naó
teílou do corpo ^ A razaó
muito a noíTo intento hc
eílaj porque as finezas do
porque o corpo naô a {cri-
tio ', foi porta para o fanr
gue,porque o fangue fahio
por ella : Exivitfanguis. E
como no corpo áç^^ois de
morto naó havia fentimê-
to para padecer, & no fan-
gue depois da morte ainda
havia impulfos para fair.
corpo de Chriílo acabarão por iífo ^teílou Chriílo de
feu
41 o Sermão de
fcu fangue,&não de feu noíTo Senhor. Provo em
corpo : Hic Cálix novum
tejlamentumeft in meofayf
guine-. Oh divino JoáOjque
bem moftrais fer Tangue
de Chriíto na fineza de
voíla amizade! Náo fe aca-
barão roflas finezas coma
morte, antes depois que
Chriftomorreo por vós,
morreíles vòs mais por
próprios termos. Quando
Chrill:ofezo feu teftamc-
to n^ Cruz, teve duas cou-
fas de que teílar r teílou do
Reynoj&teíloudeS.íoão.
Saibamos: E a quem dei-
xou eíles dous legados ? O
Reynodeixou-oa Dimas,
S. loão deixou-o a fua
Máy. Pois como aíIim,Se-
elIc-poriíToteílou de vòs nhor, parece que fe ha viaó
voílbMeftre : por iíío te- de trocar os legados : o
ílárãódevòs noíTos Prin
cipes.
37f Ora eu me puz a
confiderar em razáo de
herdeiro , a qual devia
mais o Principe, que Deos
guarde, fe a ÈlRey noíTo
Senhor, fe ao Senhor Dom
Theodofio .? Em quanto
herdeiro delRey noííb Se
Difcipulo bailava deixalo
a hum amigo , o Reyno
convinha deixalo à Máy:
pois porque deixa o Difci-
pulo à Máy, & o Reyno a
Dimas .^ Porque a quem
Chrift-o amava mais, era
bem que deixaíFe o me-
lhor legado. E có o Reyno
de Chriílo fer o melhor do
nhor, a herança heoRey- mundo, àMáy,a quê a ma-
no de Portugal : em quan- va mais, deixou a íoaó , a
to herdeiro do Senhor D. Dimas,a quem amava me-
Theodofio, a herança he nos, deixou o Reyno. Por-
S.Joaó Evangelifta. Poisa que muito menor herança
qual deve mais S. A.em ra- era o Reyno,do queloaó.
zaó de herdeiro .<* Naó ha S. Ambrofioexpreííli , &
duvida 5 Senhor, que em
razaó de herdeiro deve V.
A. mais ao Senhor Dom
Theodofio , qucaElRcy
eftremadamentc .• Matri
dixit-.Ecce filius títtis: : La^ ^^,
troni dixit- liodic mccií eris
in Taradifo : plurisfinans^
í. III.
5*. haõ Evangelifia. ' 41 1
qiiodpietatts officia divide-
bat^ quàm quod Reg?iu C^-
kãe donabat. A May , a -n • • t
quemamava mais, deo a 37^ A Pnmeiraboa
loaó, a Dimas, a quê ama- 't\ parte, que eu
va menos, deo o Reyno : reconheço em S.Ioaò para
porque pondo em fiel ba- valido, he fer E vangelifta.
lança de húa parte o Rey- Os validos haó de fer E-
no do Ceo , de outra parte vangeliílas. O oíficio dos
a S.Ioão , entendeo Chri- Erangeliftas he dizer ver-
fto,que dava mais a Ília dade 5 & os validos haó de
Máy em lhe dar a Joaó, do ter o dizer verdade por oh
que a Dimas em lhe dar o ficio. Alguns homens tem
^ —' ^ ^ ' havido Evangelizas, mui-
tos homens tem havida
vahdos : mas valido, 6c E-
vangelifta juntamente fó
S.Ioaóo foi. A razaó,ou
fem-razão diílo he ; porq
os q faó validos não que-
rem fer Evangelizas: & os
É^cjaoiTlíirisputans^qmd
pietatis oficia diviaebaty
fuàm qmd Regnum Cdtlefle
dynabat. E feSJoaó fem
lifonja he melhor herança,
que o Reyno do Ceo, fem
ingratidão podemos di-
zer, que he melhor heran-
ca também, que o noífo de que faó Evangeliftas nam
Portugal. chegaó a fer validos. Sq
Efta he a primeira ra- em S. loão feajuntáraó ef-
zão,&; mui juftiíicada, que tas duas propriedades, das
S. A. tem para fer mui af- quaes fe compõem a ma-
fedo ao grande v alido de ior prerogativa fua. Sabeis
Chrifto, por fer herança qual he a mais finguiaif
do Senhor Dom Theodo- prerogativa do Evaugelir
fiofeuAvo. Aíegundahe, ftaamado? Heferamado
pelas boas partes, que em íendo Evangeíiíla. R^P^-
S Joaó fe achaó para vali- ro eu muito no noíTo Evã^
dp>como agora veremos. gelho em húa coufa em
que naó vejo reparar. ^^
^12 Sermão de
joann jc^j^^s quid veTum efl tefti- Ter amados. Oh que gran-
W^:
monmme]us\ diz S. Joaó
por fim de feu Evangelho,
que tudo o que diz nelle
he verdade. Ociofa adver-
tencia,ao que parece, por
certo. Leãofe todos os E-
vangeliftas, & nenhum fe
achará, que fízeíTe feme-
Ihante advertência. Pois fe
Gs outros Evágeliftas naó
dizim que he verdade o
que efcrevéraó 5 porque
cizS íoão, que he verda-
de o q le efçreveo ? Náo
de gloria de Chrifto! óq
grande gloria de loáo í
Grande gloria de Chnílo,
que o feu amado feja hum
> vangelifta : grande glo-
ria de loaó, que fendo E-
vangeliíla feja o amado.
Masiílo naó fe acha em
toda a parte: fó na Corte
do Ceo,&: na de Portugal ;
íóno Principe da Gloria,
&no noífo Principe. O q
importa, Senhor ,he,que
feja fempre aílim. Os ama-
tij ha Igual authoridade ? dos fejaó fó os Evangeli-
Náo era Evangelifta co- ftas: Sequem naó for Evá-
mo os demais ? Sim era,
mas era Evangeliíla ama-
do •,& porque o amor po-
dia fazer foípeitofa a ver-
dade, advertio, que ainda
que era amado, era verda-
deiro: 'Dífcipulum quem di-
ligebat : (^fcimtis qnia ve-
rum] e/l tejimonhim ejus.
Ordinariamente nas Cor-
tes dos Principcs, os que
contrafazem a verdade,
faó os q grangcáo o amor.
Na Corre de Chriílo naó
heaflimios que tem por
profiífaó fer verdadeiros,
iàó os que tem por premio
gelifta, naò feja amado.
377 Equalhca razão
porque os Evágeliíhs de-
ve fer os amados.^ A razaó
he evidente: porque o ma-
ior merecimento para fer
amadojhe amar,6c a maior
prova de amar , he filiar
verdade. Perguntou Dali-
la a Sanfaó por trcs vezes,
em que parte tinha vincu-
lada fua fortaleza, iSc que
remédio podia harcrpara
fer vencido ^ Rcfpondco
Sanfaó a primeira vez, que
fc o atalfcm fortemcnrc
com nervos : a fcgúda vez,
que
S.loaÕ Evangelifta. 41 1
que fe o ataíTem com cor- 'vices mentitus esmihi. Pela
das : a terceira vez, que fe primeirafalfidade em que
o ataíTem com oscabel- ovaíTailofor achado , ha
los 5 mas de todas as três de cair logo da graça do
vezes rompeo elle çom fa- Principe, & cair para fem-.
cilidade as ataduras. E pre. Parece demafiado ri-
que faria Dalila vendofe
aílim enganada ? C^ei-
xoufe muito de Sanfaó :
diíTe^que fabia de certo,
que a n^ió amava , ^ fez-
Ihe efte argumento,* ^ííí7-
modo dicis quod amas me ?
per três vices mentitus es
mihi\ Como dizes tUjSan-
íàój que me amas, fe me
mentifte três vezes ? Bem
tirada confequencia : mê^
tifl:eme,logo naò me amas.
A confequencia he clara:
porque amar he entregar
o coração , mentir he en-
eobrilo: bemfe fegue lo-
go, que quem nao falia
verdade, naó ama ; porque
como ha de entregar o co-
ração, quem o encobre?
De maneira , que da ver-
dade de cada hum pòdc
julgar o Principe o feu
amor : com advertência
porém , que naó deve ef-
perar, como Dalila, pela
terceira mentira ; Ter três
gorjporq agraça deDeos
naô fe perde por qualquer
mentira: bem pôde hum
homem naò fallar verda-
de, & mais ficar em graça
de Deos. Com tudo no
Principe naò he bem que
fejaaííim. Porque ? Por(|
para Deos, que conhece
os coraçoens , bem pôde
haver mentiras veniaes,
mas para quem os naò co-
nhece, todas he bem que
fejaò mortaes,& que por
todas fe perca a graça. A
graça confiíle no amor:
quem naò falia verdade^
naó ama-,logo onde fe pro«
va o defamor , bem he que
fe perca a graça. Percafe a
graça , onde fe provar o
defamor, que hea menti*
ra : ganhefe a graça, onde
fó fe provar o amor^que he
a verdade: & andem jim-
tos çomoem S.Ioaò o titu-
lo de Evani^eliíla com jò
de amado,
Naé>
f
4,144 SermaÕ de
lf% Naó fou amigo cas , diíTe-as S.
de deixar duvidas na mi-
nha doutrina. Todos me
eftaó pondo contra efta
húa grande inftancia. S.
Alatheus, S.Marcos,S. Lu-
cas também foraó Evan-
geliftas j com tudo não al-
cançarão privilegio de
amados: logo S.Joaó naó
foi amado por fer Evan-
geliíla; & fe foi amado por
Evangelifta, qual he a ma-
ior razão ? A maior razaó
he efl-a: porque S, loaó E-
vangelirta, como notou S.
leronymo, diíTe no feu E-
vangelho muitas coufas,
que os outros Evangeli-
rias deixarão de dizer : &
dizer as verdades , que os
outros dizem 5 não he ac-
ção que mereça ílngular
amor i mas dizer as verda-
des, que os outros deixaó
de dizer , quem iíiofaz,
merece fer fingularmente
amado. As verdades que
diífeS. Mathcus, diíTe-as
S. Marcos, diíle-as S. Lu-
cas :ns verdades quediíTe
S. Marcos, diflè-as S. Lu-
cas, diíle-asS. Matheustas
verdadçs quç diffç §, Lu,-
Matheus,
diíle-as S. Marcos : mas
muitas verdades quedifle
S.Ioão,naóasdine S Ma-
theus, nem S.Marcos,nem
S.Lucasj elle fó as diíTe.
E quem fabe dizer as ver-
dades, que todos os outros
callão, elle fó merece fer
mais amado que todos.
Não ha de fer o amado
quem calla as verdades,
que os outros dizemjfcnaó
quem djz as verdades,que
os outros callão. AíTim o
fez S. Ioão,& por iíTo foi o
íingularméte amado: T>if'
cifulum qtiem dtligebat.
§• IV.
379
ASegúda qua-
lidade de va-
lido que teve S. loão, & a
que cu admiro muito nc-
ííe grande Santo, he fer hú
valido,quc ficou aflim : S/c
etim 'uolo mancre. Pergun-
tou S. Pedro a Chriflo;
domine , hic atitem qiúd ^
Senhor,fc a mim me fazeis
Principcda voíTli Igreja,
S.loaòjovonb valído,que
hwi de fer ? Keípondeo o
Se-
S.loaÕE^vangeliJia. 415'
Senhor: Si c eiím volo ma- mais acomodada para o
iíére : Quero q fique aílim.
Eíla he, a meu ver, huma
das grandes excellencias
do Evangelifta , fer hum
valído,que ficou aílim. Ser
vali do,&- ficar logo de ou-
tra maneira , iíTo acontece
a todos, mas fer valido, &
ficar aílim como dantes, he
íingularidade de S. loaó.
S. Pedro, que media a S.
loáo pelos outros validos
que Deos pertendia. Deos
de hiãa pequena parte de
Adaõqueria fa^er fubita-
mente húa Eva, que foífe
taó grande como elle; pois
por iíTo a formou do lado,
&c naó doutra parte j por-
que he propriedade dos
lados crecer muito em
pouco tempo. Ainda ago-
ra coíla,6c jà Eva ? Ainda
agora húa parte taô pe-
imaginava que havia de quenadoladode Adáo, &
crecer muito com o vali
mento : Hic autem quid^
Mas S. íoaó, que fe media
confígo , ficoufe aíIIm co-
mo dantes era : Sic eum v&'
lo manére.
380 Húa das circun-
ílancias em que reparo
tà taó grande como o mef-
mo todo de que era parte?
Sim : porque a colla era
parte do lado de Adão.
Adaó era Principeuniver-
fal de todo o criado: & naó
hacoufa que mais creça,
nem mais depreíTa, que os
muito na criação do mun- lados dos Principes. Veja
dojheformarDeosa Eva feem lofeph com ElRey
do iado de Adão- ; naó a
pudera formar da cabeça ,
para que fora entendida.^
Não a pudera formar das
mãos, para que fora exe-
Faraò : vejafe em A mão
com ElRey AíTuero : ve-
jafe em Daniel cõ ElRey
Dário. E que fendo taô na-
tural o crecer nos lados
cutiva ? Não a pudera for- dos Principes, que S.Ioaô,
mar dos pès, para que fora que era o lado do maiov
diligente ? Pois porque a
forma do lado .^ Porque o
lado de Adáo era a parte
Priticipe do mundo>nam
trataíTede screcentamen-
to^&fç deixaíie iicar aili m:
Sic
f
^m
Cant.
7-7'
*^i
4IÓ
■Sermão de
Síc etim vólo manère ? Gra-
de excellencia do Evano;e-
Ma!
381 Trescoufas hane-
íte múdojque fempre cre-
cem, & nunca ficáo aíllm :
húa faz a natureza , outra
-rli
melhorando yàclaritntein - ^p
clarttatem , como diz S.
Paulo. Eíla he a cílatura
das palmas alentadas pela
natureza j eíla he a eftatu-
ra dos Santos infpirados
pela graça -, & efta he a ef-
fiiz a graça, outra faz a for- tatura dos validos aíTopra-
tuna. A natureza as pai
mas: a graça os Santos: a
fortuna os validos. A eíla-
tura da Alma Santa diziaó
as outras Almas fuás com-
panheiras , que erafeme-
Ihante à palma : St atura
tuaafftmilata eji palma. E
porque mais à palma , que
a outro corpo bizarro, Sc
viftofo de quantos criou
nos campos a natureza ?
dos pela fortuna. Eílatura
que por mais crecida , &
por mais remontada atè
as nuvens que a vejamos,
fempre crece mais,&mais.
E fenão lembraivos dos
três que agora dizia, Deo
Jacob por béçáo-a Jofeph>
que creceíle fempre : Fi- cca^c
Ims accr t/cens lo feph, f/ms i? -»•
acere/cens: &:ondefecum-
prio cila benção ? Na pri-
Porquc todas as outras ar- vança,Sc valimento de Fa-
vores, ainda que fejaó os raò. Amam graó privado
cedros mais gigantes do
Libano,tem limite no cre-
cer , & termo na cílatura :
fó a palma náo , fempre
crece. Taes faó as almas
dos Santos. Como a vir-
tude não tem termojcomo
a perfeição náo tem limi-
te, fempre eltão crecendo
na virtude , fempre eílaó
de AíTuero , atè o dia em
que acabou creceoj & por-
que não teve mais para on-
de crecerjacabou. Pareceo
defgraça5& foi natureza;
que aíllm acontece à pal-
ma, ou crecer, ou acabar.
Daniel na privança de Dá-
rio, tendo fubido a fer hú
dos três fuprcmos Princi-
fubindo na perfeiçào,fcm- pes de toda a Monarchia ,
prefeeítáQ renovando, 6ç ainda q Rcy queria que
cre-
S.loão Evangelifta, 41 7
crcceílc mais , & que foífe crece a eftatura dos mef-
_ .. . 1 iTTt
cUefófobre todos -.Torro
Rex cogitabat conflituere
etm fuper omne Regnum,
Offenderaòfe os grandes
de tanto crecer : 5c o remé-
dio que inventarão para
mos adorados. Hontem
Pygmeos, hoje homens, à
menháa Gigantes, o outro
dia ColoíTos Pefamedeíla
ultima comparação, por-
que quando lhe acrecentei
qiicnaó creceíTe mais Da- a grandeza, lhe tirei a ai-
mel, foi bufcaremlhe oc- ma. NáoaíTimomaiorv^
cafiaó com que o tiraíTem lido do maior Príncipe b,
doladodoRey. Na5 he ]Q2.Q'.Sic€umvolo manére.
frafefódanoíTalinguajfe- Sempre ficou na mefma
naó do meímo Texto fa- eílatura, fempre fe confer-
s;rado : Vnãe Trincipes, & vou do niefmo tanianho,
fatraP£ qiiarebant occafio- & nem apparencias de ma-
nem^ut mvtnirent Tímielí ioría lhe grangeou o lado.
èlatere Regis. Do lado o Levantoufe queíláocn-
querião tirar, porque do treos Apoftolos,qualde.^
lado lhe vinha o crecer. lesfoíTemaiorP^/^^m/^^íLuc
Não fei que influencias té vtderetur effe mmor > Efta ^^•
o lado do Príncipe , que queílão,ameujuizo, foi o
cm todo ea-e elemento em maior louvor de S. loão.
que vivemos, náo ha parte Que feja S. loãoremquc-
táo fértil , & táo fecunda ftão o valido, &: que ainda
comoaquellesdouspèsde efteja em queftáo quem
terra ; tudo alli fe dà, tudo he o maior ! Grande lou-
■ "" vor de valido í Naquella
mefma hora , &naquelle
mefmo lugar em que fe le-
yantou a queftão,que foi à
mefa da cea, tinha Chriílo
feito publica entrega do
feuladoa S. loão 5 ac na-
alli medra, tudo alli crece.
Crecem os parentes , os
amigos, os cnados.xrecem
as honras, os poílos , os tí-
tulos : crece acafa,a fazen-
da, o regalo : crece o po-
der, o dominiojO refpeito.
a adoração , & fobre tudo quella mefma hora , & na-
Tom./, I>d qucHa
4^S Ser mau de
quella merma mefa fe ú- retiir. E tinha crecido, &
4
nha S.Pedro valido defua
valia , para faber por elle o
fegredo do traidorj&elle o
tinha perguntado a Chri-
ílo. Pois íe o valimento de
S. Joaó eílavataó declara-
do, fe o lado do fea VáwQx.-
pe lhe eílava taó publica-
mente entregue todo , &
fóa elle ; como duvidaó
ainda os Apoílolos, & có-
tendem fobre qual dos do-
2eheomaior.? Náo eílà
claro, que o maior entre
medrado taó pouco S.
loão com o feu valimento,
que todos os outros Apo-
ííolosnaó fó podiaó plei-
tear com ellea maioría,re-
não amda as apparencias.
De forte que no cume da
fua privança, Sr no mais
fubido,& remótado do feu
valimento, naófónaóera
maior, mas nem o parecia:
^ús eoYum videret ur. S o
iftohe ficar aíilm.
382 Mas nefte ficar af-
todoshejoaó ? AíTim ha- fim de S. loão, quem ficou
via de fer,feJoaó naó fora mais acreditado, o lado,ou
hum valido, que ficou af-
íim. EraS. loáo tanto do
feu tamanho fempre , taó
medido com a fua eílatu-
ra,sS: taò igual fó configo,
que por mais que creciam
os valimentos , elle fem-
pre fe ficava afilm como
dantes era: na valia era
fem contenda o maior,
mas na maioria como os
demais: ^ús eorum víd^.'
retureffe maior. E notai,
que a contenda em rigor
naó foi fobre quem era o
maior,fcnaó fobre quem o
parecia : . ^is eoriim vide-
o valido ? Eu cuido que
ambos. Afilm como nos
validos, que náo ficão af-
fim, tanto heo deícredito
dos validos,como o dos la-
dosi afiim nefie grande va-
Jídojque ficou aílim , taó
acreditado ficou o lado,
como o valido. Não fiava
taó delgado como ifio a
máy de S, loão, & fiada no
fangue que corre pelas
veas,pedioa Chrifiopara
cada hum de feus filhos
hum dos lados, & hua das
maiores cadeiras do Rey-
no : "Dic iitjcdeant hi duo
fijj
tfhtfli
S.loao.E
filij mel , iinns addexteram,
é' alitís aãfiniftram in Reg-
no r//í>. NaódiffirioChri-
ílo porentaó , mas a feu
tempo de a metade deíla
petição fez dous defpa-
chos : deo hum lado a S.
loâoj&cdeo húa cadeira a
S. Pedro. Pois fe a mãy pe-
dia para S.Ioão a cadeira,
& mais o lado, porque lhe
naódeoChriftoo lado^Sc
mais a cadeira ? E jà que
lhe naòquiz dar ambas as
coufas que pedia , fenaó
hua fó, porque lhe na6 deo
a cadeira , fenaó o lado ?
Deolheolado,&naó a ca-
deira, para acreditar o la-
doj&deolheo lado fem a
cadeira, para acreditar a S.
loaó.Sc Chrifto amando a
S. loaó mais que a todos
lhe naó dera o ladojfcnaó a
cadeira, moftrava que eíti-
mavamaisa cadeira, que
o lado J&: era defacreditar
o lado : & fe lhe déíTe o la-
do,&:a cadeira juntamen-
te, moftrava que S. loaó
naõ fò eftimava5& queria
o lado , fenaó também a
cadeira 5 & era defacredi-
tar a S»l9áo. PoriiTolhe
Vãngeliftd. ^ 4^^
naó deo a cadeira, fenaó o
lado, &poriírolhe deo o
ladofem a cadeira. Que-
rer antes a cadeira, que o
lado, he afrontar o lado:
querer olado3&; mais a ca- ^.
deira,he afrontarfe o va-
lido: querer o ladoj&nao
querer a cadeira, he honra
do v,alido,8c mais do lado.
Ifto he o queninguê faz,
iftohe o que fez S Ioaò,&
iílo o que Chrifto queria ;
q foíTe feu valido S.Ioaó,&
que fendo valido feu, fe íi-
caíTe aíTitn : Sic eum volo
manére.
§. V.
38 j A Terceira qua-
jnLlidade admi-
ravel,que refpíandece no
Evangelifta, foi fer hum
valido, que fez do fegredo
ignorância. Hum dos ar-
gumentos de feu valimen-
to,que S.Ioáoallega nefte
Evangelho, foi pergun^tar
a Chrifto : ^h í>ft,qui tra- j^^^^
dette ? Quem era o trai- 21-^0.
dor,que o havia de entre-
gar? Refpondeolhe o Se-
ílhorjque era Judas:&acre-
Ddij centa
420
ccntao Evangelifl"a : Hoc
Sermão de
dãoofeí
Teclo
a memoria,
joann. atitem nemo jcivit íHfcum- fendo que o haviaó de en-
'^^ ' beríthim-.Q^M^i^íonm^vxm comendaraoefquecimen-
ofoubedos que eftavso à to. O fe.s;redo encomen-
mefa:logo náo o foubc o
jnefmo S. loão, que era híi
dosqueeftavãoa ella. He
confequencia de S. A^p-
ílinho. Pois fe Chrifto o
difleaS. loão , comohe
poíTiveli que S. loão o naô
íbubeíTe? Claroeftàqueo
foube .-pois íe o foube S.
loaój como diz que o nam
foube ? Hoc atitem nemo
fciíit ? A razão he eíla :
porque o que Chriíto diflc
a S, íoaó 5 diílelho em fe-
gredo,6cS.íoãooquefabe
cm fegredo naó o fabe.
Nos outros homens o ia-
berem fegredo he fabcr,
em S. íoaó o faber em fe-
gredo he ignorar : Nemo
fcruít. Nenhum ícgredo he
fegredo perftitOjfenam o
que paífa a fer ignorância ;
porque o fegredo que fe
íiibevpodefe dizer, o que
feignorajnaò íepode ma-
ni fcilar. [{ lia he a cau ía de
os homens comummente
não fíbcrcm c;uardar
dado à memoria corre pe-
rigo j o fegredo encomen-
dado ao cíquecimento eílà
feguro. A razão he: por- .
que o fegredo encomen-
dado à memoria he caute-
la, & oquefe guarda com
cautela, podefe perder: o
fegredo encomendado ao
cíquecimento he ignorân-
cia, & o que fe ignora to-
talmente, não fe pode ma-
nifeftar. Logo o perfeita
fegredo heíó o que chega
a fer ignorância , & tal era
odeS. loão : IJoc aiium
nemo fcivit difiumbentjum.
Bufqueiprovaa eíle pen-
famento,&:fó em hum ho-
mem Deos a achei.
384 Falia Chriílo da
incerteza do dia do luizo ,
&: diz aflim : T>edie auttrn Marc.
ilía ru-inofctt^ neqtte Ârigeli^ ' ^^^
neque Filnts. Odiado! ui-
20 ninguém o fabc.nem os
Anjos, nem o mclmo Fi-
lho do homem. EAc tex-
to hc hum dos m:iis diffi-
grcdos ; porque cncomcn* cukofos, que tem o Tclla-
mcn-
S.loãÕ E'vangelifla '. ^ 421
mento Kovó-, tão diffiçul- quando havia de fer o dia
tofo, quefe canfárão nelle
todos os quatro Doutores
da ígreia contra a herefia
dos Arrianos. Dizer Chri-
íloquenê o mefmoChri-
ílo ílibe quando ha de fer o
doíuizo, fabia-odema
neira, que não queria re-
velar efte fegredo aos A-
poftolos : & nas PeíToas di-
vinas, como Chriftojofa-
ber em fegredo he igno-
dia do luizo : notável pro- rar. S. Hylario : ^od Fi-
pofição! Chriílo em quan- Ihís hominis nejcit^ facra-
toDeos fabe quando ha meraumeft^quodraceat. O
de fer o dia do íuizo , por- que Chriílo chama igno-
que a Ciência á'iYÍa2i he rancia do dia do luizoj
comua, & igual em todas nãohe ignorância, he fer
as três divinas PeíToas: gredo •, mas chamafe o fe-
Chrifbo em quanto home gredo ignorância , porque
também fabe quando ha nas Peílbas divinas o en-
de íer o dia do mizo , por- cobrir he como o ignorar.
que ainda que a Ciência O mefmo paíTou em S.
de Chriílo em quanto ho- Ioaò(que delle,& de Deos
memnãoheinfmita , he fallaô com o mefmo efdlp
univerfal, ScperfeiriíTima, os Evangeliílas ) quiz di-
^ conhece todos os futu- zer que encubrira, & diífe
ros, & decretos divinos, que ignorara : Hoc atitem
Pois fe Chriílo em quan- nemofcivit dtfcumbenthm.
to Deos, & em quanto ho- 385 Ainda naô eílà en-
mem fabe quando ha de carecido o íino do fegredo
fero dia do luizo, porque deS.Ioaó. Tornemos ao
diz que o naó íabe ? T>e die noíTo Texto. §^1 recubuit
mitem tila nemo fcit , neque fuprafjeãiis T>ominh & di-
,Fãíus> A expoíiçáo deíle xfn^iiseji^^qui tradet ie>
"paílb mais recebida de to- Diz S. loaó, que vio S.Pe-
dosos Doutores, he eíta: dro aquelle difcipulo
porque ainda que o Filho amado do Senhor, o qual
de Deos fabia muito bem naCeaeíle\^ereclinadofo-
Toni.;. Dd iij bre
42 2 Sermão de
brefeu peito, 8c lhe per- os perguntara, íTm ; que
guntou quem era o trai-
dor? Reparo. Parece que
S. Joaõ naó havia de di-
zer, que era aquelle que
perguntou a Chriílo , que
era o traidor , fenaó que
era aquelle a quem Chri-
ílo diíle, quem era o trai-
dor. Fundo a duvicla:por-
^ue o intento de S.Joaó
era provar , que elie era o
amado de Chriílo , & o
amor de Chriílo para com
S.Joaó naó fe prova com
S.Joaó perguntar o fegre-
doa Chrilio , fenaó com
Chriílo revelar o fecíredo
lhos diíFeraó , não. Não
dizer hum homem o íè-
gredoquefabe, he muito.
Masnãodizer quefabe o
fegredo , he muito mais.
Porque.^ Porque nró di-
zer o fegredo que íabe, he
guardar fegredo às coufas :
mas naó dizer que fabe o
fegredo, hc guardar fegre*
do aoíegredo. A viíla de
S. Paulo fe verá melhor
eíla fineza de S. locão. A
S.Paulo arrebatou- o Deos
ao terceiro Ceo , & revê- ^-.^^^'
ioulhe grandes íegredos : 1 2.4.'
Au divi arcana vcrhay qua
•a S.Joaó Pois fe Chrifbo 7ionlicethominiloquí\Ouvi
revelou o fegredo a S. fegredos, q fenaó podem
Joaó , porque nam diz
S. Joaó, que Chriílo lhe
revelou o fegredo.^ Porque
diz fomente, que elle lho
contar. Ora vede quanto
vai de S. Paulo a S. loaó.
S. Paulo naó diíTe os íe-
gredos que ouvira , mas
perguntou : Et djxit: G^uis diílè que ou vira fegredos :
ejl^qui tradct te ? Naó fe Audivi arcana verba , qua
podiafubira mais em ma-
téria de fegredo. Foi taó
efcrupulofo valido em
matérias de fegredo S.
Ioaó,quenem quiz dizer
non lie et homini loqui. S.
loaó não diíle os fegredos
que lhe diíTeraó, nem á\^z
que lhe diíícrão fegredos,
que os perguntara íò diíTe:
■os fegredos, que lhe diíTe- Et díxit\§luis ejl^qui tradcP
raó, nem quiz dizer que TeP S.Paulo guardou fegre-
Ihe diíferaó fegredos. Que do às couíàs , porque nam
Axkii
S.lõaõEn)àngeliJla.
dííTe as fevelaçoensi mas fem a fuftanck
náo guardou fegredo ao
fcígredo , porque diíTe que
lhas revelarão. S. loao
guardou fegredo às cou-
íiiSjporque não diífe quem
423
de paó.
Pois fe com menos mila-
gres íe podia fazer cabal-
mente o myílerio , Deos
que fempre acurta de mi-
lagres > porque náo quiz
não vos direi a verdadeira
razão , mas dirvoshei húa
moralidade muito verda^
deira. Todos os Sacra me-
tos faõ inftrumentos da
era o traidor j Sc guardou queficaífea fuítancia do
fegredo ao fegredo, por- pão no Sacramento ? Ea
quenãodiíTe que lhe dcC-
cubriráo quem era. Que
muito logo, que feado taó
fecretario S.IoãOjfoíTe taò
yúiáolDifcipulum^quem
diltgebathfus,&aixit\^is graça,&: efte de mais graça
eft,quitradette> que todos : & não qui^
§. VI. Chriílo,queagraçafedef-
2S(J A Quarta,&ul- fejunta com o pão , nem
/\tima boa par- que o pão andaífe junto ca
te que admiro em S. loaÓ, a graça. O maior abufo, &
hefer valido , que quiz a o maior nfco que tem a
graça por amor da graça, graça dos l'rincipes,he an-
Logo me explicarei mais. darem o pão, &a graça ju-
No Sacramento da Eu- tos. Seno Altar federa o
chariílía deixou Chrifto pão a moyos , amda que
asfontes de fua graça j mas não fora confagrado , mui-
he muito de reparar, que tascómunhoens fe havia»^
não quiz Chrifto que íi- de fazer por amor do paó,
caífe alli a fuftancia do qfenão fazem por amor da
pio. Fundoo reparo. Me- graça. Querer a graça poi?
iTos milagres eráo neceífa- amor da graça,he devaçáo,
riospara eítar o corpo de querer a graça por ainorf
Chrifto , & a fuftancia de do paójhe fome.Por líio ha
pão juntamente , que para tantos famintos, ou tantos
cftaro corpo de Chriílo esfaimados da graça, lo-
^ Ddiiij dos
T Co-
ri a th.
14. IO
m
424 Sermão de
àos querem fer cheos de dio Chriílo a eíle íncon-
graça , mas não de graça
vazia. Gratia T>n í7i me
'vactianonfíiit^áizidi S.Pau-
lo em bem mais honrado
fentido. A graça ha de fer
para vòs encheres as obri-
gaçoens da graça , & nam
para a graça vos encher a
\òs^ ou vòs vos encheres
com ella. Entáo íeria a
graça menoscuftofaa quê
adàj&mais bem avaliada
em quem a logra. Por líTo
Chriílo não quiz que o
pão andaíTe junto com a
graça. Mas porque os om-
nipotentes do mundo não
veniente. No mefmo Sa-
cramento ainda que nam
ella pão quanto a fuílan-
cia,eílà pão quanto aos ac-
cidentes : porem a graça
não fe mede com o pão.
Muitas YQzts quem co-
munga húa hoília muito
grande, leva pouca graça >
&quem comunga húa par-
ticula muito pequena, leva
muita graça : para que en-
tendão os homens, que a
graça não fe deve medir,
com o pão.
387 Oh que bem go-
vernado andaria o mudo.
fazem eíla feparaçáo co- feviíTemos pobres de pão,
mo poderão lem grande os que vemos ricos da gra
milagre i chegou a graça a
transfuílanciaríe tanto no
pão, que ninguém bulca
jà a graça por amor da gra-
ça, íenão a graça por amor
ça í Mas íb na de Oeos he
lilo : na graça dos homens,
querem eiícs que íeja de
outra maneira. Ninguém
teve mais graça com o leu
do pão, &: pela medida do Puncipe, que David com
j)ão, ou peio pão lèm me- lonatas:^: qu.i 1 ibi a prova
dida, fe avalia a graça.Por-
que tem hoje mais pão
que todos , quem ontem
não tinha hum pão ? Por-
que eílà mais na graça,que
todos. Oh q groíicna taó
defia graça .^ O Texto fa-
grado o diz : Spoliavit fe
ionatbas túnica qua erat uv^ ' ^eg:.
dtitus.sí^dtáiteauí 'David: '^'^'
Defpojoufe lonatas de
Icusveíhdos, (Sc dco os a
grande í jMas que bé ucu- David. Defoitc que a pro-
va
'^i^i:...i
S. lo ao Enjangeítjla, ^ 4.2 f
va da graça do Príncipe nelle o rendido , & naó o
faóosdefpojos : Spoliavít-
fe. Notável coufa í que
cuidem os homens , q não
tem a graça do Príncipe,
fenão quem lhe leva atè os
velHios ! E que tenha a
graça defpojosjcomo fe fo-
ra guerra ! Os defpojos faó
íinaes de haver vencido ao
inimigo: & que a graça dos
amigos dos Principes te-
nha os mefmos llnaes ! Por
iíTo eu temo , que eíle mo-
do de conquiílar a graça
he fazer guerra : fó quem
faz guerra quer defpojos.
Quem conquiíla a graça
pela graça , contentafecó
o coração. Vejafe no noíTo
Evangeliilia. Conquiftou
a graça de Chriílojá: veio-
fe a rematar a conquiíla
em que ? Em lhe render
rendofo. Sò S. loãofoube
eílimaragraça do Prínci-
pe, como le ha de eílimar:
a graça por amor da graça ,
& nada mais.
388 Três 5 ou quatro
vezes falia S. loão em fy
neíle Evangelho , &: fem-
pre fe chama aquelle Dif-
cipulo , nunca fe chama
loaó ; ^ífcipulus ille. Pois
porque fe não chama S.
loaò pelo feu nome? Aper-
temos a duvída.S.Ioáo ne^
fce Evangelho falia em'
Ghriílo, falia em Pedro,&
fállaemfy: aChriftocha-
jnalhe Chrifto , a Pedro
chamalhe Pedro, mas a fy
não fe chama loaó : pois le
a Chrifto chama Chrifto,
& a Pedro Pedro, a loaò
porqlhenáo chama loaó .^
Chriíloo cor^2iO : Recu- Arazaóhe , porque loaó
buit_ fuprapeõfus ejids. Mui- ' qu er dizer graça & amou
toeílimou S. loão o cora- S. loaó a graça tanto por
ção do feu Príncipe ; mas amor de fy meíma , que né
eftimou-o, porque fe lhe o nome de graça quiz ter
rendeo,&: não porque lhe ~. cí)èi ella. Os ^ue amão a .
rendia. O coração do Prin- graça dos Principes mais
cipeha-fede eftimar pelo defen tereílada mente , ao
rendimento , & não pelas menos querem com a gra-
rendas : ha-fe de eílunar çaonome^ querem com a,
Ul
i .J
.14.
42 (í ^ermaÕde
graça as vozes: mas S.Ioaã de gloria: & S Joaó amava
amou a graça dofeuPrin- a gloria de Deos , como
cipetaó finamente átÇ^a-
tereíIado,que quiz a graça
aindafemo norne> quiza
graça ainda fem as vozes.
Por iíTo callou o nome de
Joáo, porque era nome de
graça. A graça por amor
da graça ;eftehe o timbre
do Êvangelifta.
385? O mais fino amor
da graça confente configo
outro amor,que he amar a
graça por amor da gloria.
Sò S.JoaópaíTou adiante,
6c atè do amor da gloria
quiz feparar o amor da
graça. Moy fes dizia a
Deos : Si invenigratiam in
ocultstíãSy oflende mihi fa-
dem tuamiSç.nhoT^ÍQ achei
gloria de hum Deos cheo
de graça. Vai muito de húa,
confideraçaõ a outra : por-
que amar a graça por amor
da gloria, he querer gozar
o premio: amar a gloria
por a mor da graça,he que-
rer fegurar o amor. Qual
he a melhor couía,que tem
a Bemaventurança? A me-
lhor coufajque tem a Bem-^
aventurança, naôhe o go-
zar a gloria, he o fegurar a
graça j porque o^sBem-
aventurados naÓ podem
perder a graça de Deos ; &
ifto he o que confiderava
S.Joaõ. Moy fes confidera-
va a graça como penhor
da gloria, S.Joaóconfide*
graça em voíTos olhos, mo- rava a gloria como feguro
ItraimeovoíTo rofto, em da graça. "O amor de Moy-
que confifte a gloria. E S. fes era intereíTado, porque
Joaó que dizia ? yidimus ordenava a graça à gloria,
gloriam ejus , gloriam cjuafi enca minha va o amor à vi-
unigeniti â Tatre pknum fta. O amor de S. Joaó era
grati£\ Vimos a fua gloria, fino,& puro , porque que-r
como gloria do Vnigenito ria a graça por amor da
do Padre cheo de graça.
De forte qu e M oy fes a ma-
va a graça de Deos , como
graça de hum Deos cheo
graça •, queria amar lem at-
tencáo a ver.
g9o Daqui fe enten-
dera hum myílerio gran-
de.
^JoaoE^vangeliJla.
de,& nunca aíTaz entendi-
do, do noíTo Evangelho:
*ÍDifcipuhm , quem dilige-
bat^ qui & recubuit in cana
fuprapeãus^úmini. Enca-
rece S.Joaó o amor que
havia entreelle, 8c Chri-
íto , & para prova deíle
amor, diz que adormeceo
fobreo peito do Senhor.
Boa prova de amor , por
certo! Amar he defvelo,
adormecer he defcuido:
pois como pôde fer, que o
-defcuido feja prova de
defvelo; & que o adorme-
xer feja prova do amar?
Adormeceo , logo amou:
he boa confequencia efta?
Sim ; porque S. Joaó ador-
meceo com o peito recli-
nado fobre o peito de
Chrifto: & não pôde haver
mais fino, nem mais pro-
vado amor , que aquelíe
que entrega o coração , &
fecha os olhos. Entregar o
coração có os olhos aber-
tos, he querer a vifta por
premio do amor : entregar
o coração com os olhos fe-
chados, he naó querer no
amor nem o premio da vi-
íta. Donde fe infere ckra-
mente, que teve mais per-
feitas circunílãcias o amor
de S.Joaó, que o amor dos
Bemaventurados j porque
os Bemaventurados amão
com os olhos abertos, S.
loaò amou com os olhos
fechados. Os Bemaventu-
rados amão com as fatisfa-
çoens da viíla, S. loaõ ama
fem osintereíles de ver.
Se he boa a minha coníe-
quencia, digaó-no os mef-
mos Serafins da gloria. Vio
Ifaias os dous Serafins, 4
alliítem ao trono de Deos ,
6c diz que com duas azas
voa vaô , & có outras duas
cobriaó o rofto : Uuahus
. volabant , ó* duahus veU^
bant f aviem. Pois fe todos
os Anjos eftão fempre ve-
do a Deos, como cubriam
efíes Serafins os olhos? He
que como os Serafins no
Ceofaó por antonomaíia
os amantes , qucriaó ao
menos na reprefentaçam
oíFerecera Deos hú amor
mais fino que o dos outros
Efpiritos bemavêturados.
Eamor mais fino q o amor
dos Bemaventurados, he
abrir o coraçaõj 6c fechar
os
4^8
Serma^dê
os o\\\os'fDuahus Võlabant:
eisahio coração aberto:
*íDudbus velabant : eis ahi
os olhos fechados. Os ou-
tros Bêaventurados amaó
com o coração aberto , &
comos olhos abertosrmas
os Serafins, que os vencem
noamor,amáocom o co-
ração aberto , & com os
olhos fechados. Bem aílim
como S. Joaó, de quem
aprenderão eíla fineza:
iJífiípuluy quem dilígebat^
qui rectibittt fitara pecfus
T>omini.
S' VIL
391
T^ Como em S.
Cloáo havia ta-
tás qualidades de amante,
& taó grandes partes de
valido , que muito que o
amaíTe tanto o Principe
da gloria Ch ri ílo: q muito
que o amaíle tanto o Prin-
cipe da igreja Pedro! Para
que acabemos por onde
começamos : o maior en-
carecimento, que fe pode
dizer de hum valido, hco
qucdiífe Curcio de Epa-
ininondas privado de Ale-
xandre Magno : Multaiík
fine Rege profpere , Rexfine
illo nihil maguce rei gejjít.
Foi taó grande homem E-
pamínondas , que fendo
valido de Alexandre Mag-
no, elle fez muito grandes
coufasfem Alexandre, A-
lexandre nenhúa coufa
grande fez Tem elle. Outro
tanto podemos dizer de
S.Ioaócó toda a proprie-
dade : fendo valido, nam
de Alexãdre , mas do mef-
mo Chrilí o. loaò fez mui-
tas coufas grandes íem
Chriílo vifivelmentepre-
fente, Cbrifto naó fez as
maiores coufas fem loaó.
SJcáoTem Chriílo vêceo
os tormentos de Roma,
fcm Chriílo bebeo os ve-
nenos de Efeíb, fem Chri-
ílo padeceo os deílerros
de Pa d mos, fem Chriílo
converteo , ^ rcduzio a
Chnílo a Afia, fem C hri-
íloenfinoua todo o mun-
do, éy- propagou a Ley do
amor de Chriílo. Grandes
coufiis fez S. loaó ícm
C hní i o : Multa tile fine Re-
ge pr o fperc. Pelo contrario
Cliriíio icm S.Ioão apenas
fc2
LUí:... l
S, loaoEvangelifta.
fez coufa grande. Fez guncou
Chrifto o primeiro mila-
gre nas vodas, & ahi eftava
S.JoaóiRefufcitou Chri-
11o a filha do Principe da
Sinagoga , & levou coníi-
go a S. Joaó: Inílituío
Chriílo o Sanciílimo Sa-
cramento da Euchariftia,
que foi a maior de fuás
maravilhas, & tinha a S.
Joaó fobre o peito : Trans-
%uroufeChrifto no Ta-
bor, & S. Joaô aíHílio na-
queila gloria : Derramou
fangue Chriílo no Horto,
& S.Joaó acompanhou-o
naqueilapena.-emíini, re-
mio Chriílo o mudo mor-
rendo na Cruz,& naó teve
outrem a feu lado, fenáo
S-Joaó: Rex (ine illo nthil
magn£ reigejjit,
392 Efe iílo fucedeo
ao Principe da gloria , que
muito que ao Principe da ^Íi:)S€om a efpad:
Igreja aconteceíTe o mcf- Deo a fortuna a '
mo? Arrojoufe S. Pedro
ao mar para bufcar a feu
Meílre, mas S. Joaó foi o
que lhe moílrou a Chri-
fbo : Quiz faber S.Pedro na
Cea, quem era o traidor,
mas S.Joaó foi o que o per-
429
Atreveofe S. Pe-
dro a entrar no átrio dbi
Pontiíice, mas S. loáo foi;
o que o introduzio : Re foi-
veofe S.Pedro a reconhe-
cer a fepultura de Chrifto,
mas S. Joaó foi o que o
guiou. De maneira que o
Principe da gloria , & o
Principe da Igreja ambos
fevaliaó à^^. Joaó •, mas
com eíla diíFerença : o
Principe da gloria valia fe
de S.Joaó como de yalído*
o Principe da Igreja valia-
fe de S.Joaó como de va-
Jedor. E o noíTo Principe
como.^ Por ambos os titu-
los. Tem V.A.Senhor,em
S.Ioaó valido , & valedor :
valido para a devaçaó, va«
ledor para a neceíHdade.
Reílicuío Deosa V. A. a
feus Reynos em tempo
que he neceífario defende-
a na maó.
V. A. por
competidor hum Princi
pe Balthafar, taó poderoío
como o de Babilónia. Mas
fibida coufa he, que bafrá-
raó três dedos com iiuma
pcnn apara fi z ç r t r e m e r a
Bakhaíar. Oh que acomo-
dada
430 Sermão de
dada emprefa para o noílb ras de noíTa confervaçaõ :
Príncipe! Três dedos de
S.Joaócom húa penna, &
húaletra,que diga : Con-
tra Balthafaremfatís\Com
amor , & entendimento
tudo fe acaba. Eíta penna
hedaFenizdoamor : cfta
com eíla penna fe faráó
autênticos os varicinios,
que taó gloriofamence fal-
láo da Coroa de V. A.ne-
íle felicereynado. Final-
mente Q que finalmente
aqui vem a parar tudoj)
penna he da Águia dos en- com efta penna, que he de
rendimentos. Com efta hum Evangelifta, que tem
penna fe efcreverà a kn-
tença de hua demanda
taòjufta: com efta penna
íè confirmarão as Efcritu-
por nome graça, fe firma-
rão aV.A.depoisdecum-
pridiílimos annos , os de-
cretos da Gloria.
S£K<>
451
âââiâi #â=iââáiiâi -àààààà
SERMAM
DA SEGUNDA
DOMINGA
DA QVARESMA.
AJfumpJit lefusTetrum^é' l^cohum^ &loannem^ & du-
xit tUos in montem excelfumfeorfum^ & trans-
figiiratuseftanteeos, Matth.17.
S portas quaíl
'§M da terra de Pro-
miííaó mandou
M oy fes apre-
goar em dous montes al-
tos, & oppoílos (^ com vo-^
zes, que todo o exercito
immenfodos filhos delf-
raei eílendido pelos cam-
pos mil agrofa mente ou^
via } em hum chamado
Garizim , as felicidades
dosqueguardaíFema Ley
de Deos , 8c em outro que
fe chamava Hebel, as mal-
diçoens, & defgraças dos
qanaó guardaílem.Taes
fe me afíguraÔ nefta entra-
da da Quarefma os dous
montes também muito al-
tos, 6c não íó opp oitos, mas
totalmente contrários, cu-
ja hiíloria Evangélica ne-
íle Domingo, <Sc no paífa-
donosreprefcntou, U re-
prefenta a Igreja. Nopri.
meiro monte o Demónio,
4 ainda fe chamava Prin-
cipe
Matth.
Matth.
»;.2.
Si rmão dafegunda IDomin^a
mundo , mo- cio eílão aparelhadas para
osquedefprezaó
cjpc deíle
li mu a Chriílo todos os
Reynos do mefiiio mun-
do , & codas íuas glorias :
OHéndit et omnia Regna
fmmdi ^ (^gloriam eorum.
Nofegundo Chriílo ver-
dadeiro Rey> 6c Senhor do
Ceo moílrou a alguns Dif-
cipulosfeus mais familia-
res, naó todo o Reyno, nê
toda a gloria do mefmo
Ceo, porque não eraó ca-
pazes de a ver os olhos
humanos 3 mas algúa parte
delia : Ettransfguratus efi
5 &: que-
brantãoa mefma Lev , a
que o Demónio tentador
nos incita com a falia ap-
parencia das glorias do
mundo.
394 Como ambos ef-
tes montes faó de gloria,
poíioquetaó diverías , a
cada hum deiles refpondc
afiia aíiUmpçaó. Ao ^ri-
mQivo^AjJumpJit eum T>ia' Matth,
bolíis: ao íègundo, Affiimp- '^^•
fit Icjus Tetruniy & laco- ^^^, ^^
bum^ Ò' loannem, E certo 171-
anteeos. Oh quanto vai de qbaftava fer húa aíTump
monte a monte ! o quanto
vai de Reynos a Reyno !
ò quanto vai de glorias a
gloria ! Também hum de-
ites montes , & com mais
razaô, fe podia chamar o
das felicidades, & outro o
das maldiçoens. E tam-
bém eftà bradando o pre-
çaò do Diabo, 8c outra af-
fumpçáodejefu, para to-
dos amarem, 6c defejareni
aaflumpçáo de leíu , &
abominarem , 6c renega-
rem da aíTumpçáo do Dia-
bo. Mas que heo que ve-
mos ? O caminho do mon-
te Tabor,por ondeie vai à
gaó em cada hum deiles : gloria do Ceo , deferto , 6c
Que as felicidades eílão quafifem haver quem o
pize : ^ a cílrada do outro
monte fem nome, por on-
deie vaias glorias do mu-
do, chca,Sc rebentando de
gente de todos os eílados»
amda daqucUcs que pro-»
feíTaó
guardadas para os que
guardarem a Ley de Deos,
a que Chriílo transíigura-
do nos anima com a viíla
da gloria do Ceo : 6c as
maldições dp mcfmpmQ-
1».
da §luarefmA,
íc^xo o defprezo do mef- dio a cíioraó. ^
mo mundo ! Là diíTe Da- porei hum monte a viíta
vid, que todo o homem, do outro monte , & huaâ
que tem fé,&: entendimen- glorias a vifta da outra glo-
to, o que faz muito de pro- ria : o monte da tentação a
pofitoneílevalledelagri- viílado monteda Trans-
mas, he difpor a fua afccn- figuração , Sc as glorias do
çaó : Afcenfiones in corãe
Taim. /uodíípofuít^invaUe lacry
^i-^7- marum^inloco^ quempoftiit.
Pois fe todos defejamos5&
efperamos que a noíTa af-
cenção, & aíTumpçaó feja
para gozar eternamente
as verdadeiras felicidades
da Bemaventurançajcomo
deixamos o caminho do
mundo à viíla da gloria do
Ceo : comparando nao
bens có males 5 fenáobens
com bens. Por efte meyo
mais clara , & manifeíla*
mente , que por nenhum
outro, fe vera a diíferença
dos falfos aos verdadeiros :
6í}àqueos noífos enten-
dimentos, &: vontades an-
monte por onde Chrifto dáotaó enganados, ao me-
nos guia à gloria do Ceo,6c nos nos defenganaráó os
feguí mos com tanta anciã, olhos. A luz da divma gra-
& contenda, não digo jà a çafe firva de noios abrir,
eftrada, feiíáo os preci- & allumiar por interceíTao
picios, por onde o Demo- da chea de graça. Ave Ma^
nio, debaixo do fali o no-, ria,
me de glorias do mundo ,
nos levaàsmaldiçoens do
Inferno?
39 f Ora cu c5 a graça
divina quizera hoje desfa-
zer eíla cegueira, que tan-
tas Almas tem enganado,
& perdido , as quaes neíla
vidaanaó conhecerão , 6c
agora fem nenhum reme- diíferença dos bens, que
396 OOdo o monte
Ji da tentação co
as glorias do mundo à vi-
ílado monte da Transfi-
guração com a gloria da
Ceo5quemnos moílraràa
3
4 5 4» Sermão déifegtmda^ominga
íe prometerr^õ no primei- tão claramente como a luz
Pfalm.
46.
romontejP^ fe prometem
no fegun'do5fenão quem fe
achou tm ambos , tentado
em hum, & transfigurado
no outro ? Efta mefma du-
vida tiveráo muitos, que
refere David , os quaes
perguntava© : Quem nos
moíírarà os bens ? Multi
Ihiij.
Matih.
17-2.
Itid.
do mefmo Sol nos podem
moftrar a grande diíFeren-
ça, que ha entre os bens da
gloriado Ceo, & os que
também fe chamão bens
das chamadas glorias do
mundo. O lume do Sol he
puro , 8c fem mancha : he
tanto para cada hum , co-
dicunt: ^is oftendit nobis mo para todos : & todo fc
bo7ia ? E refponde o mef- goza juntOjôc náo por par-
mo Profeta,queo]umedo
roílo do Senhor nolos mo-
ítraria : Signattim efl fuper
nos lúmen vultus tui ^omi-
Nunca o rofto de Chri-
ne
ílo Senhor noíTo efteve
mais allumiado5& mais lu-
minofo, que nefte dia de
fua Transfiguração , em
que refplandeceo o fcu ro-
fto como o Sol : Refpltn'
duit fácies e jus ficiít Sol. E
emíinal de que logo aqui
fe virão os bens , diíFe S.
Pedro em nome de todos :
Bonum eft nos hic ejje. Sen-
do pois o lume do rofto de
Chrifto o que nos ha de
mofcrar os bens, & fendo o
lume do mcilno rofto co-
mo o do Sol , três coufns
acho no lume do Sol, que
tes. Neftas três proprie-
dades pois do lume do Sol,
nos moftrarà o rofto de
Chrifto três diíferenças
dos bens do Ceo aos do
mundo,que também feráó
os três pontos do noííb
difcurfo. No primeiro ve-
remos,que os bensdo mu-
do laó bens com miftura
de males , & fó os bens do
CeopuroSjôcfem miftura:
nofegundo, que dos bens
do mundo , quando mui,ro
logra cada hu m os feus,*6c
nos bens do Ceo logra ca-
da hum osfeus, & mais os
de todos : no terceiro , que
os bens do mundo , fc che-
gão a fe gozar todos , he
fuccírivamenrc,& por par-
tes > porem os bens do Ceo
fcm-
iam
çaó afará taò
o mefmo Sol.
fempre, todos, & junta- bens feffl males ,• na terra
mente. Prometi que tudo ha bens,& males juntame-
ifto veríamos có os olhos, te. E porque razão ? No
& pofto que a matéria de Inferno ha fó males j por-
aleunsdeftes pontos feja que ha fô mãos : no Ceo ha
fuperior a todos os fenti- fó bens,porque ha fó bonsí
dos, a luz da Transfigura- & na terra onde andão de
clara como miílura os bons com os
máos, era jufto que andaf-
fem também mifturado»
^. IH. osbens,&osmales.
398 A primeira me-
307 r^Iza primeira ílira deíla verdade he a
JL/diíferençada mefma natureza em tudo
noíTapropoíla, que todos o que criou para o home.
os bens do mundo faô bens No maior mimo dos fen-
com miftura de males , & tidos, que he a Rofa , cer-
fó os bens do Ceo bens cando-a de efpmhos, nos^
puros,& fem miftura. E aí- deixou, diz S. Ambrofio,
fim he. Quando Deos nof- hum claro, Sc defengana-
fo Senhor fabricou efte doefpclhodeftadeliciofa,
grande edifício doUniver- & dolorofa miftura : Spma ^^^^^
fo, dividio-o cm três par- fepjítgratiamflõns tanqua ,b í.
tes : húa na terra , que he humana fpeculumprceferens'^^^;^
cfte mundo em que vive- vita , qu£ Juavtt atem per-
' ' ' ' funãionis fu£ finitimis cu*
rarumfpinisjá^pè compun-
gat. A mefma coníidera-
çaó feguio , & adiantou
Boecio, o qual ajuntando
ao exemplo da belleza o
mos 5 outra debaixo da
terra,que he o Inferno,ou-
tra acima da terra , que he
o Ceo : & cm todas eftas
três regioens repartio os
bens,& os males, mas com
grande juftiça, ôc diff'eren- da doçurajcantou, ou cho-
ca. No Inferno hafó ma rou elegantemente : Ar-
íe^ fem bens 3 no Ceo ha fò matfpina Rofam , mella te*
Eeij giint
43^ Sermão da fegunda^omifiga
gunt apes. E aílim como encia , diíTeraò que Deo5
naó ha neíla vida Rofa tinha dous tanques , hum
fem efpinho, nem mel fem de meljoutro de fel, 6c que
abelha iaílimiião ha pêro- nenhua coufa mandava
la fem lodo, nem ouro fem
fezes, nem prata fem li-
ga, nem Ceo fem nuvem,
nemSolfemfombra , nem
lume fem fumo, nem tria-
ga fem veneno, nem mon-
aos homens,que naó vieíTe
paíTadapor ambos :6c que
efta era a caufa, porque em
todas as que chegaváo à
terra , vinha a doçura do
bem miílurada có a amar-
te fem valle , nem quanti- gura do mal. Naó podéraõ
dade fem peio, nem en- fallar mais ao certo, fe ti-
chente fem minguante, verão lidoa David. Dizo
nem trigofem palha, nem Real Profeta , que Deos
carne fem oíFo, nem peixe tem na mão hum Caliz,
femefpinha , nem fruta, pelo qual dà de beber aos
porfaborofaquefeja, fem homens,cheo de vinho pu-
caroço, ou cafca quedei- ro,&: miílurado : CaUx mvcúvtx,
tarfóra. No mefmo tem- manu^ominivinimeripU'''*''^-
po de que fe compõem a nus mifto. Repara , Scper- ^^,.,,^
nofla vida , naó ha veraó guta S. Agoílinho: piorno- ibit^
fem inverno, nem dia fem
noite. E neíla mefma fe-
melhança he tanta a diífe-
rença, que para haver ve-
raó,6c inverno, he neceíTa-
riohumanno, 6c para ha-
ver noite,6c dia, faónecef-
farias vinte òç quatrç ho-
ras j mas para haver mal, 6c
bem , baila hum fò mo-
mento.
395) Os Gentios fem
fé enfinados fó da experi-
do mert^jtrnixto^Sz o vinho
era puro, como era miílu-
radoi6cfeera miíturado,
cosno erapuio .^ Porque
naó ha bem natural, Si de-
fi:c mundo , ainda que da-
do pela mão de Dcos,por
mais purOjôc defecado que
fcja, que não traga cm fy,
6c configo algúa miílura
de mal. O vinho hc aquclle
cordcal ílm pi ez, medicado
pela natureza para alegrar
oco-
da§uarefma. 437
o coração humano : mas íhor que Salamáo, vede o
não ha alegria, ou cauíà de
alegria tão contraria , &
alhea de toda a triííeza,
que não dè que penar ao
coração. Se ri, o rifo fera
miílurado com dor : íe go-
íla, o goílo fera metido en-
tre pezares. Aífim o dei-
xou em provérbio Sala-
mãoide prefente como ex
que faria ? Fabricou hum
Palácio real ernjerufalé,
que depois do Templo
queelle edificara, foi o fe-
gundo milagre: no monte
Libano traçou vários reti-
ros,8c cafas de prazer, em
que de mais de fe ver jun-
to todo o raro , &: curiofo
do mundo , a amenidade
primentado , & de futuro dos jardins, a frefcura das
CO mo Profeta : Rifus dolo- fontes, a efpeíTura dos bof-
remifcebitur , & extrema
gaudij luBus occupat.
400 E pois nomeámos
o mais fabio de todos os
homens , & o mais opuíen-
to,& deliciofo de todos os
Reys, elle nos dirá o ver-
dadeiro conceito que fez ,
6cnòs devemos fazer dos
hcns do mundo. Eu me
refoi vi, diz Salamâo , a m e
dar a todas as delicias , &
gozar todos os bens dcfta
viá-x-fDíxi ego in cor de meoy
Vãdara, & ciffluam delictjs ,
é^fruar bonis. Com eíle
prefuDofto querendo , po- menlos : os gados maiores,
dendò , ^ íabcndo fazer 6c menores, que naqu elle
quanto quizeíTe , porque tempo também eráo ri-
niní^^uem pode tanto, nem queza dos Reys , não ti-
Guiz mais, nem foube me- nháo numero : os cavallos
Tom./, ^ . Eeiij
quês, a caça , & montaria
de aves, 8c feras, & atè as
fombras no veraó , &os
Soes no inverno excedião
com a arte a natureza : o
trono de mar^m em que
dava audiência, 5c a carro -
ça chamada Ferculo , em
quepaífeava, eraó de tal
architectura, &: preço, que
faz particular defcripçam
dellesaEfcritura : às galas
deSalamãoomefmoChri-
ftolhe chamou gloria: os
thefouros de ouro , &: pra-
ta,que ajuntou , eraó im
i '
Sermão da fegunda Dominga
repartidos em coufa viraó léus olhos ,n€
inventarão feus penfamé-
tosjnem appetecéraófcus
defejos, que lhe negaíTe :
Omnta qu<e de[ideraverunt
oculi mei non ncgavl eis^ nec ?.cá.
prohihiú cor meum qitin om- *°*
438
eílavaó
quarenta miJ prefepios : a
fumptuoíidade da mefa,
para a qual concorriaódi-
verfas Províncias, & a ma-
geftade, grandeza , & or-
dem dos OiHciaes, & Mi-
niftrosjcomqueera fervi- nivoluptatefrueretur. Ef-
^o j foi a que encheo de tandopois neílas felicida
pafmoaRainha Sabà : as
baxel]as,&: vafos eraóde
ourOjas muíicas de vozes
exquiíitas de ambos os fe-
Xos,&os cheiros , & aro-
mas com que tudo recen-
dia, quanto cria , & exhala
o Oriente. Não fallo na
calidade, & gentileza das
Damas , filhas ácl^nnci-
pes,5c €fcolhidas em diíFe-
rentes naçoens, entre as
quaes ÍÒ as que tinhaó no-
me, ôceílado de Rainhas,
eraofeíTenta, fervidas to-
das com appararo, & mag-
nificência Real. Tudoif-
to gozava Salamaó em
des de Salamáonaó fó re-
copilados, mas eíiendidos
todos os bens do mundo ,
faibamos por fim , que có-
ceitofezdelíesr Elíeodiz,
& em bem poucas pala-
vras: C//j^Wt^ convertijjem
aduniverfdopera^ cjuafece^ ibid
runt manus meay& adlabo^
res in qtúbus fru ira fiída-
veram^ vtdi in omnibus va-
nlt atempo* afjllEíione m ani-
mi: Voltando os olhos a
tudo quanto tinha feito,
em que de balde tinha tra-
balhado, & faado ( feito
diz,& trabalhado, v*^ fua-
do,& náo gozado , porque
fummapaz,& com igual tudooque gozou, foi de
fama, fem inimigo , ou re- húác^frujlra )&ío que vi ,
ceoquelhedéífe cuidado,
& em tudo fe empregava
comtalapplicaçaó, & ex-
ceíTojquecllemefmo con-
feíla de íy , que nenhuma
& achei em tudo, hc,que
tudo hc vaidade, ícafíiic-
çaó de animo ; i-^anitatem ,
& affliãwntm animi.ho-^o
fe todos os bens do mundo
. laõ
da§íuarefma. 4^^
faó vaidade, como podem dados, afflicçoens , & do-
fer verdadeiros bens ? E TQs:Setoto Regm temfore
ià que lhe concedamos o nec ad unum qmdem hor^
nome de bens > fc todos quadrantempuram habml'
caufaóafflicçaó do animo, fe.meramque Utttiam^ jed
como podem fer bens fem multis tilam curis , angon-
miítura de males ? bus, dolonhusque fermtx-
401 Mas porque nam f/^;». Efeeílatriíle miftu-
cuidealguem,que do tem- raexprimentáraó nas ma-
pode Salamaó para cate- iores felicidades do mun
ráó mudado os bens do do entre os Reys Salamaó
inundo, ou melhorado de & entre os Emperadores
natureza; ouçamos outro Carlos; que poderão di-
erande oráculo quafi de zer das fuás particulares,
noífos dias. Quando o Em- ainda os mais bem viítos
perador Carlos Quinto
fezaquella grande acçaó,
em que teve poucos a quê
imitar,& terá menos imi-
tadores , de renunciar o
Império j dando as caufas
defta retirada depois de
tantas vitorias, confeíTou
eom lagrimas diante de
todo o Senado de Bruxel-
las, que a principal,ou hu-
nia das principaes fora; , ^
porque em todo o tempo & na Coroa o precedia o
C diz) de minha vida , de- Rey . Tudo governava,tu-
pois que puz na cabeça a do mandava Jofeph , tudo
Coroa, nem hum fó quar- lhe obedecia , com nunca
to de hora tive de pura, & vifta,nem efperada f-elici-
verdadeira alegria, fenaó dade 5 mas onde ? INo b-
fempre miílurada có cui- gypto. Nmguem he, nem
^ - Eeiiij pode
da fortuna ?
S. IV.
4.0Í I^^Randesforaó
l^as q fonhou
Jofeph , & faíraólhe taó
verdadeiros os fonhos,que
de vendido, & efcravo íe
vioVifo-R.ey doEgypto,
& com tal authoridade, &
poderes, quefôno nome,
3
44° Sermão dafegttnda dominga
pòdeferfelicecoma Al- achará que andaõnelletao
ma noutra parte. O cor
po, o poder, & a dignida-
de eílavâo no Egypto , a
iVlmajO amor, & a faudade
andavão peregrinando em
Canaan 5 com que toda
aquella apparencia dos
maiores bens da fortuna
vinhaõ a fer fuplicio , &
contrapefados os males
com os bens,que ainda em
comparação dos maiores
fe pôde por em balança fe
pelaómais os males.
40^ De/oíeph foiPay
Jacob também aíFáz dito-
fo. Aquejacob teve pela
raaior ventura de fua vida.
deíterro. No Egypto vi- foi quando ao cabo detá-
vo, na pátria morto : no tosannosdefervir alcan-
£gyptoapplaudido,napa. çouDor premio a compa-
tnachc^rado : no Egypto nhiadeRachel. Seo que
dandode comer ao mun- muicoledefeja, muito fe
dp, na pátria comido das preza jfe o porque muito
feras: no í^^gypto tudo, na fetrabalha, muito fe eíli-
patria nada. Ainda que ma3nenhum goílo.ncnhúa
J ofeph naÓ fora levado ao alegria teria jà mais quem
Egypto para efcravo, fe- tanto amava, quefe igua-
nâo para Vifo-Rey, igual- laíre;com efta. Mas vede
mente hia vendido : por- quam penfionados dà o
que muito melhor fortuna mundo os í^oílos , & bens
era para elle eílar em cafa
de Jacob , fendo o filho
maismimofodo Pay, que
na Corte, &: no Palácio de
Faraó , fendo o primeiro
Miniíiro, &o mais valido
doRcy. Abra os olhos o
mundo,&:naó fe contente
com ver os homens por fo-
ra,pcncrre-os também, &
coniidcrc ospordumo,<5c
defta vida. A felicidade
foihúa,as penfoens forao
três, & todas aíTáz psfa-
das.A eílerilidade da mef-
ma Rachel, os enganos de
Labam, & os ciúmes de
Lia.Por mais amadas, &
por mais pertendidas que
iciaó as que chamamos
venturas, todas no cabo
fao Racheis. Náo ha ila-
chcl,
da^arefma. 44.1
€hel, que naÓ tenha o feu de. Muito eílimão os ho-
Labaó,& a fua Lia. Se Ra- mens a gentileza , muito
chel agrada, Labatn mole- eftimaóovalor, muito ef-
íla:fe Rachel dàgoftojLia timão o entendimento:
da pena. Qaanto mais que mas perguntem os fermo^
para moleftar, Sc dar pena, fos a Abíalam, os valentes
baftalhe a Rachel fer Ra-
chel. Lede a hiftoria ía-
grada, êc achareis que foi
taó mal acondicionada
aquellarermofara5que era
neceíTario todo o amor de
Jacob para atarar,Sc fofrer
feusantojos. Muito mais
trabalho lhe deo depois,
do que tinha trabalhado
porella antes. Tão trava-
dos andao nefta vida os
goílos com os defgoílios,
tão mi (lurados os males
com os bens. Se Rachel
tem bom roílo , tem nià
condição : fe Lia tem boa
a David, os entendidos a
Achitofel, que penfaó pa-
gou o primeiro à fua genti-
leza, o fegundo ao feu va-
lor,^ p terceiro ao feu en-
tendimento. Era Abfalam
taó galhardo mancebo ,
que do pè atè o cabello da
cabeça, como falia a Efcri-
tura, nenhum pintou a na-
tureza mais bello. As Da-
mas lhe compravaó os-
cabelíos a peio de ouro, &
dos mefmos cabelíos ihe
teceoamortco laço, com
que pendurado dos ramos
de hum carvalho, acabou
condição, tem máo rofto : infamemente a vidajpaílà-
& não ha bem nenhum taó do pelos peitos com três
inteiro , que poífa encher
os olhos , & mais o cora-
ção.
Eftendei a viíla , ou o
penfamcnto por todas as
coufas do mundo,& vereis
que não achais húa fó in-
ííanciiíjnem hum fó exem-
plo contrario a eíta verda-r
lanças. E eíla toi a penfaój
que pagou Abfalam à fua
gentileza. Era tão valente
David,que tremendo todo
o exercito de ífrael á vifta
do Gigante Golias , elie
fó,& defarmado aceitou o
defaí]o,&: derrubado a feus
pés,com a fua própria ef-
pada
44 ^ Ser^^Õ dafegunda dominga
pada lhe cortou a cabeça feu entendi mento. Fiai-
Masfoitala inveja , & vos- là de entendimentos,
ódio, que defde aquella fazei làcafo de valentias,
hora lhe cobrou ElRey & prezaivos de gentile-
Saul, que mais de húa vez zas í Tem os males taó vi-
ço ma lança, que trazia na
máo por cetro, o quiz pre-
gar a húa parede. De ma-
neira que 1 he foi neceíTario
a David homiziaríè pela
mor te do Gigante ,como
fe matara hum Hebreo, &
fugir da fua vitoria , como
fe fora delito. E eíla foi a
penfaõ, que pagou David
ao feu valor. Era taó en-
tendido Achitofel, & taó
prudentes , & fabios feus
confelhos , queporteíle-
ciados,& corrompidos os
bens, que a gentileza he
laço, o valor delito , & o
entendimento locura.
404 Mas para que he
irmos bufcar exemplos ao
Teíta mento Velho, fe no
Novo,6c no noííb Evange-
lho temos o maior de to-
dos. Transfígurouíe Chri-
ílo no Tabor, apparecéraó
alli Moy fes, & Elias > &
quádo parece que haviaó
de dar o parabém ao Se-
munhodo Texto fagrado nhor, da gloria com que o
feouviaó como oráculos viáonaquellemonte,oem
do mefmo Deos. Seguio
as partes de Abfalam,quã-
do fe rebellou contra feu
Pay, aconfelhou-o como
lhe convinha 5 &: porque o
moço fatal naó quiz fe-
guirfenaóoquejà o leva-
va ao precipicio, foi tal a
fua defefperaçaójque atan-
do a banda ao pefcoçOsSc a
húa trave, fe afogou a fy
mefmo. E efta foi a peníliô,
que pagou Achitofel ao
que lhe falláraó , foi da
morte que havia de pade-
cer no do Calvário : Lo-
que bantur de exceffti, quem \'i'^'
completiiTus erat in leru fa-
lem. Pode haver pratica
mais alhea da occafiáo que
efta.? Qu^^ndo o roflo de
Chrifto eftá rcfpíandccen-
tccomoo Sol, então lhe
fallãonoccclypfc? Quan-
do as fuás roupas cli-áo
brancas como a neve, en-
tão
da^arefma. 443
tàõ lhe fallaõ nos lutos? E fazermos taó pouco cafo
no dia que tem mais ale-
gre na fua vida , entaó lhe
fallaó na morte ? Sim. Por-
que naó ha alegria nefte
mundo taó privilegiada,
que naô pague penfaó à
triíleza. Atè no monte Ta-
bor, atè na Peífoa de Chri-
fto , atè no milagre da
dos feus chamados bens,
pela miftura que fempre
trazem demales^comofe
verdadeiraméte foraò pu-
ros males fem nenhúa có-
poíiçaójou temperamen-
to de bens. He doutrina,
que defpedindofe do mun-
do o Redemptor dellenos
Transfiguração , por mais deixou eftampada com feu
foberanos que fejaó os exemplo no meímo mon-
bens, húa vez que tocáraó
na terra, naó pode haver
gofto fem pezar, nem glo-
ria fem pena. Tanto affim,
que fe faltar o motivo na
prefença do que he , have-
lo-ha na memoria do que
ha de fer : transfigurado
agora, mas crucificado de-
te Calvário. Duas vezes no
Calvário deraô fel a Chri-
ftoj húa antes,outra depois
de crucificado. Antes de
crucificado , quando lhe
deraó vinho miftura do có
fel ; 'Dederunt ei vinum cum Matrh;
felle mixtum : depois de^^'^"^'-
crucificado, quando dizê-
pois. £ fendo a Transfígu- do na Cruz , que tinha fe-
raçaójcomo logo áiílh o de, lhe deraó fel, Sc vina-
mefmoChrifto, parecida gre : ""Dederunt in efcam
com a Refurreiçaó, & naó meamfel^ò' infiti meapota- 1^^^^'
com a morte 3 viráó dous verunt me aceto. E como fe '^'
homens do outro mundo, ouve o Senhor em hum,&
que mifturem a morte có outro cafo ? Em ambos
a Transfiguração, & con- provou hiia, 8c outra bebi^
fundaò oCalvariocom o da,&emambosanaóquiz
beber. Aíli m o referem da
primeira, & dafegunda os
Evágeliílas pelas mefmas
palavras : Cíè;f/^///?^/f/, i.^3^/
Ta bor.
405- Seja pois a con-
clufaó dcftas expericcias ,
& defenganos do mundo,
44-+ Sermão da fegnndaT)omingd
noluit blbere. Na primeira ambas as bebidas hia fcí.
I
bebida, he cerco que hia o
amargo do fel moderado
com o doce do vinho, &
nafegunda hia o mefmo
fel naó moderado , fenaó
exafperado com o azedo
do vinagre.Pois í^q o fel hia
táo differentemente tem-
perado em húa, & outra
bebida, porque igualmen-
te as regeitou o Senhor
ambas, fem nenhúa diíFe-
rença? Porque na primei-
ra o vinho mifturado com
o feI,&o doce com o amar-
go , era o bem miílurado
com o mal : na íegunda , o
fel junto com o vinagre,
era hum mal fobre outro
mal, fem nenhua miílura
de bem:& provando Chri-
llo,& reprovando igual-
mente húa, & outra bebi-
da , quiz-nos deixar por
doutrina , & por exemplo
naconfufaò dps bens , &
males de que fe compõem
efte mundo, que tanto de-
vemos defprezar, & abor-
recer o bem miíhiradocó-
o mal, como fe o bem,&o
mal tudo fora m:jl,fcm ne-
nhua mitlura de bem. Em
em húa juntamente com
vinho, em outra juntamé-
te com vinagre, que he vi-
nho corrupto; & he tal a
corrupção, que caufa nos
bens a companhia, & mi-
ftura dos malesjque o bem
miílurado com o mal fe
converte totalmente em
mal , & perde todo o fer
que tinha de bem. Faça-
mos pois de todos os cha-
mados bens defte mundo a
eftimaçaò, & conceito que
elles merecem : indigno,
qualquer que feja , de fer
amado como bem , fenaó
abominado, & aborrecido
como verdadeiro, & puro
mal:& pela miUura que
tem de doce, ainda mais
abominado , & mais a bor-
recidojcomo mais falíò,<5c
enganoío.
§. V.
4,06
cclcffia
quei
da gloiia
SOo
que
os bens dá-
lia pátria
íó os bens da-
a terra de Promiffiõ
fó os bcjiS da-
quclic Taborda Berna vc-
turança,
^a^arepma. 44 f
turança , fó aquellesuni- arvore da Ciência , &: a
camcnte fe podem cha-
mar bens , porque fó faó
bens fem miftura de ne-
nhum mal. He o Ceo co-
mo o Templo de Sala-
máo, em que nunca fe ou-
vio golpe de martello,
porque là, como diz o E-
vangelifta Profeta, nao ha
coufa que caufe dor , ou
pena, nem tire da boca
hum ay : & faó os morado-
res do mefmo Ceo, como
as Eílrellas fixas do Fir-
mamento , onde naó che-
gao fumos dos vapores da
terra , que as offufquem :
arvore da Vida. Mas a da
Ciência continha dous
contrarios,a da Vida naó :
porque a ciência era do
bem,& juntamêtc do mal,
que he o contrario do bê :
& a da Vida era da vida fó-
mente,& naó da vida,&: da
morte, que he o contrario
da vida.Pois fe ambas craó
arvores do Paraifo , por-
quê havia nellas efta gran-
de differença > Porque
também o Paraifo naó era
abfolutamente Paraifo,fe-
naò Paraifo terreal : & por
iífohúa das fuás plantas
gozando todos em fumma era parecida às delicias da
paz a pátria do fummo terra, &: outra femelhante
bem , que naó feria fum- às do Ceo. A parecida às
mo, nem bem , fenaó ex- da terra , era da ciência
cluiífe todo o mal por mi- do bem,& do mal j porque
nimo que feja. E por iíTo fó na^rerra fempre o mal anda
os bens naturaes da mefma miílurado com o bem : âc
pátria faó puros, finceros, a femelhante às do Ceo,
& perfeitamente bens , era de vida fem morte }
fem corrupção, contrarie-
dade,nem miftura de mal.
407 Entre todas as piá-
tas do Paraifo terreal ou-
ve duas arvores maisin-
;íignes 5 &dequefófabe-
;nosonome, que foraó a
porque no Ceo todo o bê
liepuroj^c íincerofem mi-
íl:ura,nem companhia de
Aílim o diz S. João
maj
defcrevendo a Jerufalem
da gloria: & naó dà outra
p;2ão deftâ djjíFerença de
CQB-
}
4^'^' Scrmaodiíug
cottfíis , íeti.io ierein húas
as Í€giindas, que faó as do
Ccoiôc outras as primei-
rasvquefaó , ou foraó as
deíle mundo: Et mor sul'
tranon erity neque luãttsy
Apoc. neque dolor erit ultra , quia
21.4. prima abierunt.
408 Para prova dos
bens deíle mundo fempre
mifturados com males,
tomei por teílemunha a
natureza; & para prova
dos bens do Ceo puros, &
fcm miftura, tomemos por
teftemunha a arte. A arte
para purificar o ouro, co-
mo elle he o mais preciofo
metal , aplicalhe também
o maisefficaz, ^poderofo
elemento, que he o do fo-
i'.yf^* go : Aurum quod per ignem
probatiir. Alli o purga, &;
alimpa das fezes , alli o
prova, & lhe apura a fineza
dos quilates j & entaó fe
reputa entre nòspor ouro
purifiimo. Mas para que íe
veja o noíTo engano , po-
nhamos eíTe meímo ouro
noCeo. Diz S.Joaõ, que
as ruas da Cidade do Ceo
VlpfK. faó de ouro limpo : ^toí^^
2i.ai. Ci<uiía^}s aurum mundum.
'iridá ^ominjra
\í íe perguntarmos y eíla
limpeza , & pureza cfo ou-
ro do Ceo em que confi-
íle? Depois de dizer au-
rum munaum , acrecenta , ibij,
tanquam vitrum ferluct-
dum^ que he puro , &: lim-
po, porque he diáfano, Sc
tranfparente como vidro.
Logo fe o ouro entaó he
puro , & limpo , quando
chega a fua fineza a fer
diáfana , & tranfparente
como o vidro i bem {ç^íq-
gue,que o noíTo ouro craf-
fo, eípefix), opaco , & que
nenhúacoufa tem de diá-
fano, nem tranfparente,
por mais que nos lifongee
comafuacor , & nòs nos
enganemos com elle , de
nenhum modo he ouro
limpo, Sc ;puro. De ma-
neira, que comparado o
ourodaterra,queos Rcys
põem febre a cabeça, com
o ouro do Ceo, queosBé-
aventurados trazem de-
baixo dos pès, platea ejus ;
todo o da terra eílà pene-
trado de fezes, &cheo de
efcoria, poílo que nòs a
nao vejamos ^ èz íó o do
Çeohepuro , Sc limgo.
aurum mundum
do, fe pedirmos ao mefmo
Evangelifta, que nos diga
com que
ingredientes
fe
purifica tanto efte ouro do
Çeo ? Refponde, que fó
com entrar no mefmo
Ceo : Nonintrabit in eam
ibiiz;. aliquod coinquinatum, E
como aquella he a nature-
za do Ceo, &eíla a da ter
ãa§luarefma, 44.7
Sobre tu- da noíTa vontad e, e m quá-
to quer, he o bera j '& o ob-
jedoda mefma v<ontade,
em quanto não quí^r, he o
mal :& como tudo o que
ha no Ceo he o bem, & o
que não ha no Ceo he fó o
mal j por iíTo ha no Ceo
tudooque quizermos, &
fó não ha o que naó qui-
zermos. Se nos bens do
ra j a mefma diíFerença de mundo ouvera eíla fepara-
ouro a ouro nos eníiua, çaó, também na terra po
que aílim como na terra
naó pôde haver bem, que
careça da miftura de mal,
afllmtodososdo Ceo faó
puros,&fem miftura.
409 Se quereis faber
de mim (" dizia pregando
S. Agoftinho } o que ha no
Ceo ? Naó vos poíTo dizer
o que ha, fem dizer tam-
bém o que naó ha. Ihl erit
quidquidvoles , & non erit
quidquid nolles. No Ceo
ha tudo o que quizerdes,
& fó naó ha o que naó qui-
zerdes. Logo parece que
o Ceo he feito pela medi-
da da noífa vontade.? Naó.
A noíTa vontade he a fei-
derao homem querer, &
gozaro bem fem o mal:
mas por mais que queira,
naó pôde 5 porque fempre
o mal anda naó fó junto,
fenaó penetrado, & infe-
paravel do bem. E para
que acabemos de conhe-
cer a futileza com que os
mefmos chamados bens
nos lifongeaô, & alegrão 9
& com falfas aparências
degoílo disfarçaó o mal,
que fempre levaó comll-
go, levemolos nós ao exa-
me do Ceo, &làfe defco-
brirà o feu engano.
410 Diz o mefmo E-
vangelifta S. Joaó [ o qual
ta pela medida do Ceo : & he força, que tornemos a
porque .^Porque o objeâro ouvir, fuppoílo que S.Pau-
lo,
448 Sermão da ftgiinda dominga
lo, que também vio o Ceo, ÍI05& as da grande alegria.
nos naó quiz dizer nada.^
Diz pois o Evangeliíla t?ó
notável no que diz , como
nas palavras com que o
dizjqueatodos os quede-
íle mundo paíTaó ao Ceo ,
lhe enxuga Deos os olhos
de toda a lagrima ; Etab-
Apoc 7. Ji^^g^^ T>eus omnem lacry-
*7- mam ab oculis cortim.E que
quer dizer toda a lagrima?
Quer dizer todo o género
que fó a grande alegria, 6c
o grande gofto fazem re-
bentar os olhos em lagri-
mais j porque fe naó haò de
admitir no Ceo ? Porque
todas eíTas lagrimas foraò
deíle mundo. E lagrimas
defte mundo 5 ainda que
foíTem de alegria, & gran-
de alegria 5 nunca podiaó
fer de pura alegria, & ain-
da que foíTem de goílo, &
de lagrimas [como aguda, grande goílo , nunca po-
& literalmente comenta S. diaó fer de puro goíl ojpor»
Ambrofio) porq neíle mu- que no mundo naó ha go-
do naó fó ha lao;rimas de ftofemmiílura de pezar,
dor,& triíleza, íenaó tam-
bém lagrimas degoíto5&:
alegria :&: aíTim de híias
como de outras enxuga
Deos CS olhos dos que vaó
ao Ceo. As palavras do
grande Doutor da Igreja
laóeílas; jihjlerget ''Dctis
omnem lacry mam , 71 am iri-
fiitia jdpe lacrymas edu-
cit^fapè& Utúia^jape &
gaudium. Mas que as lagri-
mas da triíleza, & da dor
naó tenhaó lugar no Ceo,
bemeflà: porém as lagri-
mas da alegria, 6c do golto,
& mai^ ^s do graiidc go-
nem alegria fem miítura
de triíleza : & femelhantes
miíluras de nenhum modo
tem lugar no Ceo, onde as
alegriasj&: osgoílos , co-
mo todos os outros bens,
faó puros, 6c fem miílura
de mal. A alegria no Ceo
hc lem trifteza, o goílo he
fem pezar, o defcanfo hc
fem trabalho, a fegurança
he fem receo,o focego fem
fobrefalto, a paz íem per-
turbação, a honra fem ag-
gravo, a riqueza fem cuí-
dado,a fartura íem faílio>
a grandeza fem cnveja , a
abuji-
ãa ^arefma. 44^
abundância fem mingua,a abundantiafine indigentia :
companhia fem emulação, oãavus pax fine perturba^
a amizade fem cautela, a tione : nonusjecuntas alTJ^
faudefem enfermidade, a
vida fem temor da morte \
emfím todos os bens pu-
ros, &: fem miít ura de mal,
& por i^o verdadeiros
bens. O Bemaventura-
dosdoCeo,olhailàde ci-
ma capara eíle mundo, &
tende nova gloria accidê-
taldos bens que gozais,
naò digo em comparação
dos malesjfenãodos bens,
quenôs padecemos.
411 Mas confirmenos
cila corrente de bens fem
males hum compédio dos
mefmos, & femelhantes
âttributos 5 com exclufaó
cada hum do feu contra-
que timore : decimus cogni-
tio abfque ignorantia : unde-
cimus gloria (me ignomima:
duodecimus gauàium fine
trifiitia. Atè aqui o Dou-
tor Seráfico, o qual neftas
doze prerogativas de bens
fem males nos defcreveo
hum inefável zodiaco de
glorias , o qual todos os
Berna venturadosnaó nos
dozemezes doanno,nem
nas doze horas dodia,mas
fempre,& fem ceifar eftaã
correndo, & gozando im-
movel mente no circulo
fem fim da eternidade. Di-
tofos elles, que gozaô tan-
to bem ; & nòs também di-
rio, os quacs reduz S. Boa- tofos,fe nos difpuzermos
ventura a numero de do- ao nao perder.
2C, como outros tãtos fru-
tos da Bemaventurança.
Trimus eft fanttas abfque
infirmitate-.fecundusjuven^
tus fine feneãute : tertiusfa-
tietasfmefafiidio : quartus
libertas fine fervitute : quin-
tus pule hritudo abfque de-
formitate \fextus impaffibi-
41a A Segunda dif-
jCjkS^réí^^ da nof-
fa propoíta , he, que dos
bens do mundo quando
muito logra cada hum os
feus : dos bens do Ceo, &
litas abfque dolore '.feftimus no Ceo Ipgra cada hum os
Tom. 7. Ff feus,
45 ^ Sâr//:ao dafegunda 'T>om'mga
íeus, & mais os de todos, cida a verdade, fe lhe nam
DiíTe quando muito; por- reftituiíFe.Suaeraafazen-
que muitas vezes naó ba- da doPay de familias do
fta, que os bens deíle mun- Evangelho, encomendada
do íejaó noíTos, para que o a hum feitor, para que ar-
mefmo mundo nolos dei- ' ^
xe lograr. Sua era de Na-
both a vinha, & naó fó fua
ZI.2.
por todos os direitos hu-
manos, mas por diftribui-
çaó,6cdoaçaó divina, &
por mais que elle a quiz
Iograr,& defender, baftou
queElRey Achab tiveíTe
appetite de pi atar no mef-
mofitionaòhum bofque,
ou hum jardim, fenaóhúa
horta de verduras popula-
res, Hortum o ter um s para
que em adulação do mef-
mo Rey lhe fofle tirada
poriuftiçaavinha,& mais
ávida. Sua era de Miphi-
bofeth a herança de feu
Pay Siíul,em que vivia pri-
vadamente, quando tinha
direito para afpirar à Co-
roa,6í bailou o falfo teíle-
munhodebura criado in-
fiel, para que acufado fal-
famente de crime de lefa
Magcílade, lhe foíTc con-
fífcadaamcfma herança,
&z ainda depois dç conhe-
recadaíTe as rendas dos
que a cultiva vaó, & nam
baftou que conííaíTe por
efcritos o que cada hum
devia , para que o mefmo
feitor naó roubaíTe grande
parte das mefmas rendas
com tal aftucia , que nem
demandar o pode o Se-
nhor, & em vez de o acu-
far, o louvou. Mas q mui-
to que a cobiça,&: inHdcli-
dade alhea nos naó deixe
lograr os bens deíle mun-
do.por mais que fejaó nof-
fos-, fe nos mefmos lem
outro inimigo, ou ladraó
bailamos , & por noíTa vó-
tade , para nos deípojar
dellesí PozDeosa Adam
noParaifocom obrigação
de que o cultivaílc&guar- ^^^^
dalle: ^t operarctur^& cu- ;.if.
flodiret íllum Sc eíla fcgú-
da parte quando menos
parece que naó tinha lu-
gar naquclle eíiado. Outro
homem, de quem Adam
ouvefie de guardar o Pa-
ra ifo.
raifojnaòohaviano mun- MasnaóíicaíTim. Fupara
do. Para os animaes tam-
bém naó era neceílaria a
o-uarda, porque todos por
inftinto natural , & foge i-
ção inviolável o obede-
ciaó: logo de quem havia
de guardar Adam o Parai-
fo^Dequem o naò guar
lograr o meu , heime dé
guardar de vòs: & vòs pa-
ra lograr o vpííò , haveis^
vos de guardar de mim.
Poriílbchamao Santo ao
meuj&teu com elegância
verdadeiramente áurea,
palavra fria : Meum^ac tuu
dou . Havia- o de guardar frjgidíim illud ver hum. E
defymefmo: & porque quefrieza50u frialdade hc
Adam o naó guardou de
Adam, fendo os bens que
poíTuia todos os do mun-
do, elle mefmo,& fó elle fe
defpojou de todos,fem ha-
ver outro, que lhe impe-
diífe o logralos.
4,1 g Dando a razaó
defta differença entre os
bens do mundo, 6c os do
Ceo S.Joaó Chryfoílomo,
diz em húa palavra, que
he, porque no mundo ha
ineu,&:' teu,& no Ceo naó:
Vbi non eft meum , ac tmim
frigidíim illud njerbum.An-
tes parece,que porque no
inundo ha meu,& teu, por
iíTo havia de lograr cada
humofeu pacificamente,
& fem cótenda : eu o meu^
porque he meu ; &: vos o
voífo , porque he voífo.
efta do meujfic teu ? He taí
frieza,& tal frialdade, que
naô ha amor no mundo
tão ardente por natureza ,
&:táointenfo por obriga*
ção, que logo não esfrie.
Em havendo meu, & teu,
não ha amor de amigo pa-
ra amigo,nem amor de ir-
mão para irmão, nê amor
de filho para pay,né amor
de pay para jfilho , nem
amor de próximo , por
líiais religiofo que feja,pa-
ra outro próximo , nem
amor do mefmo Deos pa*
ra Deos. Antes de haver
meu , & teu , havia amor,
porq eu amavavos a vòs,Sc
vòs a mim: mas tanto que
omeu,& teufe meteo de
por-meyo,8cfe atraveíTou
entre nòs, lo2;o fe acabou o
Ffij axiioti
4-52 Sermão ^afegunda dominga
amor 5 porque vòs jà me mitesdecadahum,inven-
nãoamaisamim jfenaó o táraóos marcos j & para
meu 5 nem eu vos amo a guardara vinha , & o po-
vos, fenão o voílb. No mar, inventarão os vala-
principiodo mundo , co- dos, asfylvasjas {ç.Yts^^
mo gravemente pondera as paredes de pedra liga-
Seneca, porque nao havia da, ou foi ta > mas tudo lílo
guerras ? Porque ufavaó
os homens da terra como
do Ceo. O Sol , a Lua , as
Eftrellas , & o ufo dafua
luz he comum a todos, &
aíHm era a terra no princi-
pio: porem depois que a
terra fe dividio em diífe-
rentesfenhores, logo ou-
ve guerras, & batalhas, &
fe acabou a paz , porque
ouve meu,& teu.
414 Que direi dos me-
yos, & dosremedios, das
induftrias, das artes, ^m-
fl:rumentos,que oshomês
tem inventado , para que
€ada hum podeíTe poíluirj
& lograr o feu íegura , 6c
quietamente -, mas fem
proveito ? Para guardar a
cafa inventarão as portas,
Ocas fechaduras i mas pela
mefma abertura,poronde
cncra a chave, deixa tam-
bém aberta a entrada para
ii^azua. Para finalarosli-
fe rompe, & fe efcalla. Pa-
ra guardar as Cidades in-
ventarão os muros , os fof-
fos, as torres,os baluartes >
as fortalezas, os preíidios,
a artelharia , a pólvora;
mas naó ha Cidade taó
forte, que por bataria , ou
por aíTalto, ou minada por
debaixo da terra, ou pela
ar, fe naó expu gne, & ren-
da. Para guardar os Rey-
nos, & os Impérios inven-
tarão as Armadas por mar,
& os exércitos por terra ,
tantos mil foldadosa pè,
tantos mil acavallo, com
tanta ordem,&: difciplina ,
com tanta variedade de
armas, com tantos artifí-
cios,&:machinas bellicas;
mas nenhum deíles appa-
ratos taó eílrondofos, &
formidáveis tem bailado,
nemparaqucos Aílyrios
guardalTcmo fcu Império
dos Perfis, nem os Perfas
o fcu
o feu dos Gregos, nem os
Gregos o ícu dos Roma-
nos, nem os Romanos fi-
nalmente o feu daquelles a
q\iem o tinhaó tomado,
tornando a fcr vencidos
áos mefmos que cinhaô
vencido , Ôc dominado.
Mais inventarão , & fize-
raô os homens a eílemcf-
mofimdc coníervar cada
hum o feu. Inventarão, &
guim com a chuça , todos
foraó ordenados p::ira con-
fervarem a cada hum no
feu , & todos por diíFeren-
tes modos vivem do voíTo.
§■ vn.
41 f TT Sta he húa das
^, razoens,a qual
o divino Meftre Chriílo
Senhor noíTo nos allcga>
firmarão Leys, levantarão para que façamos os nof-
Tribunacs , conílituiraó íbs thefouros dos bens do
Magiílrados, deráo varas
às chamadas Juíliças com
tanta multidão de Mini-
ílros maiores, & menores,
€c foi com cífeito tão con-
Ceo,& no Ceo, & naô dos
bens do mundo, & na ter-
ra } porque na terra ha l^^-uiath,
droens , & no Ceo n2LO'.^^^<^'
Nõlite thefaufízare vobis
trario, que em vez de dc« interra^ ubi arugo^à' tinea
Ôcrrarcm osladroens, os demoUtur^ & ubi fures efo-.
nictéraõ das portas adcn*
•troi^c cm vez dcos extin-
guirem, os multiplicarão í
éc os que furtatáo com
ínedojéc com rebuço, fur-*
táo debaixo de ProvifoéSa
&: com imra unidade. O
Solicitrdor com a diligen-
cia, o Efcriváo com a pcn^
na, a Tcftcmunba com o
i^ramcnto^ o A vogado có
a allegaçâo, ojulgador cô
f fçaten,ja , êc, atè oBeii-.
diunt^&furantur^ Thefam
fizate atitem imbis in O^.
ki ubi neque arugo-^nequetiÀ
nead^moíitttr ,& aht fures,
non effoimnU necfttmntur.
Nas quaes palavras fe de-
ve notar m uito, quenáo fó.
nos aconíelha, &: manda í>>
Senhor,que guardemos. ^^^
noííbs bens dos ladroensv
da cobiça , fenãotambem
dos ladroens da nattirezar :
VkidrugOy&tinea demoU^
Ff iij tur^
4 í 4 Sermão ãafegtinda 'T^ominga
tur. Os bens deíle mun- Que faó todos os eíemen*
tos, fenáo huns roubado*
res unívcrfacs de tudo o
que grangea,& trabalha o
género humano ? O fogo
nos rouba com os incên-
dios, a agua comasinun-
daçoensjoarcomas tem-
peib des, & a mefma terra
com os exércitos innumc-
do,como faó corruptiveis,
ainda que náo haja ladrão,
que os furte, el!es mefmos
fcnosroubáoi porque as
roupas, por preciofas que
fejáo, come-asa polilha,
que nafce das mefmas rou-
pas j & os metaes , ainda
que fejáo ouro, & prata,
roe os a ferrugem,que naf- ravcis de pragas , que co-
ce dos mefmos metacs. mo femcada comos den*
Porém os bens doCeo,quc
faô in corrupd veis , nem
dclles fe pôde gerar vicio
de corrupção,que os gaite,
nem a lima furda do tem-
po, que tudo confomc, lhe
pòdc meter o dente j por-
que a fua dureza he como
a fua duração , & faó bens
eternos. Oh quanto mais
nosenfinou o divino Mc-
ftrc neílas paIavras,do que
cilas dizem! Quando não
ou vera Coííàrios no mar,
nem falteadores nos cami-
nhos, nem ladroens publi-
tesde Cadmo, nafcem, &
fe levantão delia , para ou-
tra vez nos roubar o que
nos tem dado. Ouçamos
ao Profeta Joel. Rtjiduum
eruca contídit locujia : re-
fiduum locujla comtdtí ^í-H
bruchus : re fiduum bruchi
comeãitrubigo. V'icráo,diz
JoeI,quatro pragas fuccef-
íivas à terra, hãa fobre a
outra E que íizerao ? To-
talmctcdevaíUráoa mef-
ma terra, íèm perdoar a
quanto ella dà cultivada,
ou cfpontanca mente cria ,
cos , & fccreros no povoa- & fem cultura. O que áni-
do i qucmjia tão podero- xou a lagarta, come o o íza
fojqucpoffaconfervar, &
lograr o que poíTue ncíle
mundo contra os roubos
inevitáveis da natureza?
fanhoto; o que deixou o
gafanhoto, comeo o pul-
gão; & o que deixou o pul-
gão, comco a ferrugem.
De
BB
De forte, que para ferem eftecafo,os cuidados, os
defpojados os nomens dos
maiores bens, & mais ne-
ceílàriosàvida, quacs fao
aquellesdc queella fe íii-
ftcnra,náo depende a fua
perda,& defgraça das ho-
llil idades , & roubos dos
Sabéos,&dos Chaldêos,
que deriruirào as terras, os
gados , & as herdades de
Job 5 mas baftão fó as pra-
gas naturaes da mefma
terra corrupta, para que
cm hum momento fique
trabalhos,& osfuoresdos
que toda a vida, & todo o
amorempregáo em acqui-
rír,& aumentar os chama-
dos bens dcfte mundo, fc
no mefmo tempo cm que
cuidâo que faò feus, ná©
fabem para quem traba-
lhão ? He ponderação do
frande Rev , & Profeta
)avid, trifte verdadeira-
mente,&digna de quebrar
as mâos,& os ânimos a to-
dos os que debaixo defta
tão pobre como Job, qual- ignorância fe canção. Lhej pr^w
querquefoífe tão rico, & fmrizau&ignotat cm ca- 387.
abundante como elle. Tu- gregabtt ea : Acquirem,
dooquenafcena terra, o ajuntão, enthefourao, &
SoI,&:achuvaocria; mas não fabem para quem.
o mefmo Sol, fe he dema- Cuidáo que he para fy o
fiado, o queima^ & a mef- que chamaó feu, & nao he
ma chuva, fe he muito cò- feu, nem para fy •, porque
tinuada, o afoga : para que he para outrem, & tal vez
acabemos de nos defenga- paraomaior immigo.Af-
-mr da pouca firmeza , ou fim lhe aconteceo àquelle
fegurança ,que pôde ha- Rico, a quem o Evange-
ver nos bens, que não faó lho canoniza com nome
do Ceo , pois as mefmas nâofó de nefcio , mas de
caufas, que os dão , os ti- eftolido,/«/í^. Dava o pa-
rlo, & as mefmas que os rabem à fua Alma pelos
produzem,os matão. muitos bens, que tinha jii-
416 E como ficáo bal- tos para muitos annos ; A- r^^^.^
4a4os, ainda fcm chegar a nima nita^habes multa hcna - 9.
. ''^ Ffiiij m
4S^ Sermão da fegunda, dominga
in anrwsplurmos, E fendo jamos, que ouve bum hc
mandado fair deíle mun- memcaó mimofo da for-
donaquella mefma noite, tuna , que todos os bens
obidao. ^ P^^g""^^' 9.^1^ i^^e iize- que poíTue deftc mundo ,
t^o.íov. Et qu£ parafti^ ou herdados, ou acquiri^
cujuserunt^-^ todoseíTes dos,os logrou pacificamc.
bens,queajuntafte,&cha- te,fem que a inveja dos
mas bens, cujos feráó ? O iguaes,nem a potencia dos
trabalho foi teu, Sc os bens maiores lhe inquictaíFe a.
lerão d^ quem naô fabes. poíTe, ouduv^idaíTeo do^
Nao aíTim os h^m do Ceo, m inio ; que felicidade hc a
}>ra]m. GIZ o mefmo Profeta. La- defte homem ? Primeira-
ia/a. hresmanuumtuarum.quia mente com fer fingida &:
manducabis, beatus es , & nao ufada , fe os bens faó
^ene tibi ent. Vos tra balJia-
icis neíla vida -, mas na ou-
tra fereis Bem aventurado,
porque comereis o fruto
<ios voííbs tra bal hos,ou os
mefmos trabalhos de vo€-
fas máos; Labores manuum
poucos, nãodevedeeílar
contentei 6c fe Çàò mui*
tos, quem duvida,que ain-
da defejamais.^ Sendo ccr-
to,queemhum, & outro
caio mais vem a padecer,
loerai
que a lograr o qae tem
titarum, Aquelle foi cano- Mas íê por graça efpcciai
nizadopor nefcio, & eííe de Deos he eíTe homem
por Berna venturadoj por
que fó os que trabalhão
pelos bens do Ceo fabem
de certo , que trabalhão
paraf^^¶o quehe,&
hadeferfeu eternamente.
5- VIII
417
M
As conceda-
mos 3 ou hn-
táo moderado, &taó fe-
nhor de feus appetires,quc
com o fcu pouco, ou o feu
muito, fe dà por ratisfei-
tojpoíTue, & logra mais
algúa coufa que o fcu /
Não. Pois eíhi he a ditfc-
rença,que ha entre os bens
do C eo, & os u o n 1 u n d o.
Os do mudo quando mui-
to,^ por nula^rc, tanto d*
xia-
JM
da^arefma. 45-7
natureza, como da fortu- portionem fubftantia^ qua
na,Iogra cada hum os feus: TpÊcontingit. E eíle pecca-
os do Ceo naó fó logra ca- do cometido em prefença
da hum os feus/enaó tam- do Pay, coram te , confeííà
bem os de todos. Oh fe en-
tendeííemos bem eílepõ-
tOy que pouco caíb faría-
mos dos bens da terra]
Arrependido o Filho Pró-
digo do mal aconfelhado
que havia íido em fua vi-
da paíEida , veyo bufcar
outra vez a caía do Pay-) &
lançado a ícuspèsjlhedif.
íè : 'Pater^Decvavi in Caiu ,
ér coram te: Pay meu j eu
em voíTa prefença pequei
contra o Ceo. Os pecca-
dos, que fe condenaó no
Pródigo ) todos foraó co-
metidos em aufencia do
Pay,âc muito longe dellei
ibid. x^i^ regionem knginquam:
IrUC.
que peçca do foi I ogo eíle gra cada hu m o feu , fena ni
de que principalmente fe o de todos, Nomefmoca-
acufa, cometido em pre-
fença do Pay, 5c contra o
Ceo ? O único peccado,
que cometeo o Pródigo
em prefença do Pay , toi
pedir que lhe déífe em vi-
da a parte da herança, que
lhe tocava, porque queria
lograr o ít^x^Ti^miida mihi es , ^ omnm mea tmfunt :
o Filho arrependido, que
foi peccado contra o Ceo :
^eccmnin C^lum ? Sim;
porque pedir fóafua par-
te, & querer lograr iòm en^
te o feu, foi igualar o Ceo
com a terra. Na terra,
quando muito, logra cada
hum a porçaó dos bens,
que tocáo a cada hum : ^a
mihi portionem fubfianti£^
qíi£ mecontingtt ; & quem
he filho do Pay do Ceoj &
criado para o Ceo , con-
tentarie fó co m o feu , h e
injuria, he aggravo , be
peccado grande, que co-
mete cot ra o mef mo Ceo,
porque no Ceo náo fó lo
íb o temos.
4 1 8 Eftranhando o fi-
lho mais velho as fedas
com que o Pay celebrava
a reftituiçaó,6c vinda do
mais moço , as palavras^
com que o confolou,foraó
eílas : Fili^tufemper mecum
45"^ Sermão dafegunãa n^omlnga
Fiiho\ vos fempre eftais hum. Sedfic à perfecíis^é'
coraigo , & tudo quanto
tenho, he voíTo. Nefte tu-
do repara muito S. Ago-
ítinho : porque tendo o
Pay outro filho, & o Pró-
digo outro irmáo , como
podia o Pay dizer a hum
dellcs,quetudoo que ti-
nha era feu ? ^tdfibi vult,
omniameatuafunt^ quafi
nonfint & fratris ? Nem
obáa , que hum dos filhos
nunca íahiífe da cafa do
Pay , & o outro fora delia
immortalíbus filijs haben -
tur omnia^ utjmt ò* omniu,
jingula^ ét omrúa Jingulo-
rum : rerpondeelegante,&
doutamente o mefmo S.
Agoftinho. Nefte mundo,
onde os homens faó mor-
taes , & os bens também
mortaes, cada hum logra
fomente o feu •, porem no
Ceo, ondeos homens, &
os bens faó im mortaes, ca*
da hum lograodecodos,&
todos o de cada hum, O
viveíTctaò perdida mente> peccador arrependido lo-
porquejà eftava arrepen- gra a gloria do innocente,
didodeíTamefma vida: Sc
onde oPayhe Deos,tan-
to direito tem à herança
dos fcus bens os arrepen-
didos,como os innocentes.
Aílim que a duvida toda
eíl:à,ondea põem Agofti-
nho,quc he no omnia : Om-
ma mea tuafunt. Pois fe os
herdeiros , & os irmãos
craó dous-, como diz o Pay
que tudo era de hum ir-
mão , fendo também do
outro ? Porque fallou co-
mo Pay do Ceo , & dos
bens do Ceo,onde tudo he
de todos > & tudo de cada
que nunca pcccou, & o in-
nocente, que nunca pec-
cou, logra a do peccador
arrependido: & nem o in-
nocente por innocente cx-
clue o peccador , nem o
peccador por peccador
defmerece o que logra o
innocente i mas todos go-
zaóodecadahum, & ca-
da hum o de todos : Om-
niumjingíday ô' om/.ia Jin»
gulorum.
419 Haverá por ven-
tura na terra algum exem-
plo, que nos declare cfta
reciproca, & total còmu-
meação^
nicaçaõ, taõ total, & toda também
em todos , como total , &
toda em cada hnm? Nun-
ca ouve, nem podia haver
tal excmplojou íemelhan-
ça na terra -, masfó a ouve
depois que deceodo Ceo.
Equalhe? O diviniílimo
Sacramento : Tanis^ qui de
í^jT ^^^^ àefcendit : o diviniíli-
mo Sacraméco lie penhor
4fP
a íèmelhança $
porque fem femelhança
não pôde haver figura. Lo-
go fe o Sacramento , em q
não vemos a Deos,he figu-
ra da gloria 5 que confífte
emveraDeosi onde eftà
efta figura , & efta feme-í
Ihança? Admiravelmente
o dizem as mefmas pala-
vras da Igreja : ^íam pre-
da gloria, ôr figura daglo- tioficorporis , & fmguinií
ria. Húa , & oucra coufa tui têporalisperceptio pra-
nos enfina a Igreja: pe- J%"íír<2í.Notefe muito apa-
nhar da gloria , future gío- la vra perceptio : náo confí-
Ti^noms pigniis datm : ^^ íle a figura, & femelhança
gura da gloria , quam pre' do S:icramento com a g1o^
tiõficorpjns , ér fmgumis
tiii têporalis perctpttoprafi^
gurat, O penhor, para íèr
penhor, náo be neceífario
que ren ha a íè m e 1 ha í i ca ,
fenáo o p reco, & va I or do
que aíTegura. Aífim ve-
mos, que a baxella, outa-
peceria he penhor de tan-
ta quantia, quanta fe nos
fia debaixo delia : & ifto
mefino tem o valor, & pre-
ço infinito do Sacramen-
to, em quanto penhor da
gloria, ^^las para fer figu-
ra da gloria^ naó bafta fó o
valor , & o prejo j fcjoam
na no que recebemos, po-
lio que feja o mefmoDeos;
mas confiíí e no modo com
que o recebemos : Tempo-
r di s per ceptttpr afigurai. E
porque,^ Porque a ilim co-
mo no Sacramento tanto
recebe hum,como todos,
& tanto recebem todos,
como cada hum i aílim na
gloria tanto lograó todos>
como cada hum, & tanto
cada hum,como todos. Cà
na terra, como ha a divifaó
de meu a teu^cada hum lo-
gra os feus bem, mas nam
participa os dos outros?
»
Luc.
3)
Mattb.
17.4-
46^0 Sermão dafé^\
porém no Ceo os pro-
prios, & os dos outros ta ri-
to Hió comuns de todos,
como particularesde cada
hum, porque là nao tem
lugar cita divifaó.
4Í0 Daqui fe enten-
derá o fundamento, por-
que S.Pedro noTaborfoi
notado pelos dous Evan*
feliílas S. Marcos , &• S.
,ucas com húa ccnfura
taò pcfada como de naó fa-
beroque diíTc : Ntfiims
quiddíceret. O que áiííi^ S.
redro, foi , que fizeíTcm
alli três tabernáculos, hum
para Chrifto , outro para
Moyfes, outro para Elias :
Faciamm hic tr^a ta^erna^
culãitibiimumyMoyJi tmurrh
&Elf£imufn. E cm que
efteveo erro, ou dcfacerto
digno de taò notável , 6c
declarada cenfura? Eílcrc
cm que íendo o Tabor
naòíó hum retrato da glo-
ria do Ceo, fenaò hCia par-
ticipação própria , & ver-
dadeira do que nella íe go-
za vquizS. Pedro introdu-
zir 5 & cítabelecer noTa-
borhua couía taô impró-
pria, & alhea da meíaia
haf
unda Vomivga
gloria, como teu, &:tcii:
Tíhi unum^ Moyfi unnm^ &
Eliaunum. Excellentemé-
tc S. Pafc ha fio. Error in
céLíífa eft^quta triafipromit- m^' h'."
titf acere tabemacuUy unu
Jciltcetj ac privai um Jofu ^
alterum Môyfi^ & ídiud E-
Itíf^ua/inon eos caperet usu,
tahemaculunf jfeu in unop^
mulconfiperenonpojjent. S.
Pedro como deíIntereíTa-
donaóquiz introduzir na
gloria o meu » &onofíb,
porque naó diíTc que faria
tabernáculo para Ç^^ ncid
para os companheiros, 6<
a tè aqui naó errou callan-
do: porem tanto qne fal-i
lou,& difíe v^ntum ttvi , naó
parando alii, mas queren-
do dividir os tabernacu-»
los , & fazer outro para
Moyfcs, & outro para É^
liasj como fc todo?} naa
coubeílem no mcfmo ta-^
bernaculoj ou o niefmo ta-
bernáculo naó foíTc capaz
de todos i aqui, ^ ncíla ái^
vilaò, he que cilcvc o íeu
çno, porque na gloria do-
Cco, que o Tabor rcprc-
fentavajO tabernáculo de
Moyfes hc de Elias, & o do
Elia^
da ^arefma. 4^1
Elias he deMoy fes, fico de borem. Os indoutos', por-
Moyfes , & Elias hè de que também muitas vezes
Chriftb, & o de Chrifto hc
de Moy fes,& he de Elias,
^hede Pedro , & he de
João, 6c he de DiogOjfem
excluir a ninguém , mas
cómunicandofe naó fó
univerfalmente a todos/e-
naó particularmente a ca-
da hum.
í. IX.
421 /^^Ontraefta dou-
trina porem ,
poílo que taó provada, me
parece que eftão replican-
do naó fó os doutos, & in-
doutos da terra^fenaó tam-
bém os Bemavencurados
do mefmo Ceo. Os dou-
tos, porque muitas vezes
leraó no Evangelho : Tunc
redàet tmkutque fecundum
opera ejm: Et in qua menfu-
Marc.4. ra menfifuerttis^ remetietur
^ 'uobis : & em S. Paulorj^i
■X. Co- farcèfeminati parcè éy ine-
úrxt.^.e.fef .^^ qui femmat in beyie- aífímlà por dentro ha m:^-
dí5íionibíiSy de benediõíio- ior es, 6c menores dignida-
nibus i^metet : Etunuf- des, maiores, & menores
'»: Co- quifquepropriam mer cedem coroas, maiores, & meno-
accipietjecundím Juum la"^ res lumes da viíta de Deos,
&na
Match
■6.27.
tem ouvido na interpreta-
ção deftes textos , que os
prémios do Ceo fe haó de
diílribuir a cada hum por
jufl:iça;&que a medida la
do gozar ha de fer a meí~
ma que cà foi do fervir : 6c
que quem fêmea pouco ,
colhera pouco, 6c quem
muito, muito : 6c queapa-
ga,que ha de receber o tra-
balhador, ha de fer confor-
me o feu trabalho. OsBê-
aventurados finalmente j
porque he certo , que no
Ceo ha muito differentes
grãos de gloria, como fo-
raó diíferentes na terra os
da graça: 6c que aílim co-
mo cà por fora vemos que
no mefmo Ceo húa he a
claridade do Soljoutra a da
Lua, outra a das Eftrellas:
Alia dar it as Solis^alia cla^
ritas Luna^ & alia ciar it as ^ ^
Stellarum : Stella enim ^if.^x!
Stella differt in ciar it ate 5
^6i
&na
rança maiores, & menores
participaçoens , ou como
diz S. Paulo , pefos delia.
Pois fe os BemavenCura-
dos na gloria, & as glorias
dos Bemaventurados naó
•faó iguaesj como pôde fer
primeiramente , que em
tanta deíigualdade do que
poíTuem , eftejaõ todos
igualmente contentes : &
que fendo o que cada hum
poíTue próprio de cada hú,
gozem todos igualmente
o de cada hum , & cada hú
igualmente o de todos ?
Sermão dafegunda T>ominga
mefma bemaventu- nefta mefma differenca,
pofto que deíigual , toáos
refpedbivamente , & cada
humeftaó igualmente có-
tentes -, porque nenhum
quer, ou defeja mais do
que tem : fundandofe a
igualdade do mefmo con-
tentamento na medida da
própria capacidade, & na
proporção da juftiçajconi
que fe vem premiados. Cà,
onde todos apetecemos
fer maiores,naô fe entende
iílo j mas fácil mente fe pô-
de comprehender por va-
rias femelhanças. Levai ao
422 Para declaração de- mar três vafos, hum gran-
'fíe,que parece enigma, ha- de, outro muito maior,ou-
tro muito mais pequeno,
& ene hei- os todos ; nefle
cafo o vafo menor tem
menos agua, o grande tem
mais , èc o maior muito
mais:& com tudo neíia
mefma dcfigualdade ne-
nhum admite, nem pòdc
admitir mais do que tem ^
porque cada hum fegúdo a
ília capacidade eílà igual-
mente cheo. Tem hum
pay três filhos, hum mini-
no, outro moço , outro jà
homem feito : velho a to-
doí.
vemos de fuppor, que no
Ceo ha ver , & gozar a
Deos , em que coníiíle a
gloria eífencial : & ha go-
izarfe da mefma gloria dos
que vem a Deos, & o go-
■záo, que faó duas coufas
muito díverfas. Na gloria,
que confiíle em ver, & go-
zar a Deos , ainda que al-
guns poífaó fer iguaes, ha
-muitos grãos de differen-
«ça,& exceílb , fcgundo o
maior, ou menor mereci-
mento de cada hum, Mas
da^arefma. j^,6^
dos da mcfma tela: & qual porque aílim o pede a na-
eftà mais contente ? Por
ventura o que levou mais
covados ? De nenhum mo-
do. E fe naó trocai os vefti-
dos, & vereis fe queralgú
o do outro. Mas cada hum
fe contenta igualmente do
feu, porque he o que lhe
vem mais jufto , & mais
proporcionado à fua eíla-
tureza das partes, & a ar-
monia do todo. E fe eíla
uniaó j conformidade , &
ordem fe acha era hum
corpo natural, & corrupti-
vel, qual fera a do corpo
celeílial daquella fobera-
na,& fobrenatural Repu-
blica,onde a vontade do
mefmo Deos, que o beati-
túra. O mefmo paífa nos íica,hea Alma, que o in
Bemaventuradosdo Ceo. forma.
Porque aílim como a glo-
ria da vida clara de Deos
os enche por dentro aílim
os vefte por fora. Nem
obftaa capacidade maior,
ou menor do merecimen-
to, nem a eílatúra mais, ou
menos alta da dignidade,
para alterar, ou diminuir a
423 E quanto à fegúr-
da parte da objecção, em
que parece diíHcultofo go-
zarfe cada hum das glorias
de todos, & gozaremíe to-
dos da gloria de cada hum.
aílim como fatisíizemos à
primeira diííicu Idade com
a proporção da juftiça, af-
vic.cap
30.
igualdade deíla fatisfaçaó, íim refpondo a fegunda cò
a extcnçáo da caridade.
O Ceo he húa Republica
immenfa^ mas onde todos
feamão : & cfik là a cari-
dade tanto no auge de fua
perfeição, que todos, &
cada hum amaó tanto a
qualquer outro, como a fy
mefmo. Donde fe fegue^
que ainda que os gráos da
gloria fejaò deíiguaes fe-
gun-
& contentamento década
hum no feu eítado j por-
que como bem declara có
Auguft. outra femelhança S. Ago-
decí- ftinho, também a cabeça
he mais nobre que amaó,
^ amaó mais nobre que o
pè, & nem por iífo o pè
defeja ler maójnem a maó
defeja fer cabeça, nem a
cabeça defeja fetcoraçaôi
4^4
gundo o
Sermão da fegunda T>om'inga
merecimento de todos , & cada hum, como
Laurét.
Juftin.
deLôg
ti tas
cada hum, a alegria, &o
goílo deíTa mefma gloria ,
ou glorias, he igual em ro-
dos, porque todos as eíli-
maó como próprias, & ca-
da hum como fua. Expreí^
famente S.Lourenço Ju-
ílmiano. Tanta vis Í7i illa
calefti pátria nosfociat^ ut
quod infequifquenonaccí'
pit^ hocjeaccepíjfein altero
exultet. Vna cunãis erit
beatttudo latitia , quamvis
non unajít omnihis fublimi'
tasvtta. Notefe muito a
palavra beatttudo U titia ,
em que o Santo diftingue
na mefma bemaventuran-
ça duas bemaventuranças,
húa da gloria , outra da
alegria : a da gloria he par-
ticular , òc determinada,
porque coníiftc na viíla
de Deos, que fc mede com
o merecimento , & graça
defta vidaj porém a da ale-
gria naó tem termo, nem
limite, porque he immen-
fajôcfem medida, fegundo
aextençaõ da caridade: a
qual comprehendendo , &:
abraçando a todos , fe ale-
gra , & goza da gloria de ao fogo cm que ardia o feu
fefora própria. Eefl:e,co-
mo fe fora própria , naó
quer dizer, que naó tem,
nem pofiiie cada hum a
gloria dos outros, porque
verdadeiramente a tem,&
poíTue 3 diz o Santo , naó
emfy , mas nos que ama ^"l***-
como a fy mefmo ; ^^t quod Civit.
infe quijque non accipit^ hoc JJ ^caiu
fe accepijfe in altero exultet. gci.
Efta mefma razaó he de hí^^i*
S. Agofl:inho,de S. Boa- '''i"^'i't
ventura, deS.Anfelmo, & *^'^^*'
de todos.
424 E para que o ufo,
ou abufo da pouca cari-
dade deíle mundo nos naó
efcureçaaintelligécia dep-
ila verdade,com dous ex-
emplos deíle mefmo mu-
do a quero declarar, hum
lingularem S.PauIo,ourro
univerfal em todos os ho-
mens. Erataó immenfa a
caridade de S.Paulo, que
elle padecia os males de
todos os homens, & nenhu
mal temporal , ou efpiri-
tualfucedia nefte mundo,
que naó acrecentaflc no-
va, & particular matéria
ãã§luarefma. ^ 4.6 j
coração. §uis infirmatuTy abrazavaó, & quêimavaó :
Cor. i^ ego non infirmor > Quis ^ihfcãndalizatuT-^&ego
' -^- ^ ' '■ ' fíi?;^ /^r^r? Efe a caridade
de Paulo o fazia padecer
os males de todos , fcindo
mais natural à natureza
humana gozarfedos bens ,
que padecer os males i
'^' fcandalízatur , & ego non
urorl Aílim como todo o
pcfo da redondeza da ter-
ra pefa, Sc carrega para o
•centro •, aíllm todas as en-
fermidades , todas as do
fes, todas as penas , todos quem duvida, que a cari-
es trabalhos , todas as af- dade de qualquer bemavc-
flicçoens, ^ tribulaçoens , turado, a qual no Geo he
iniferias,pobrezas,trifte- mais perfeita, que a dos
zas^anguftiasjinfortunios, maiores Santos na terra 3
defgraçasj emfim , todos excite, aíFeiçoe,& obrigue
os males do género huma- naturalmente,&fem mila-
no carregavaò de toda a gre,acada hum, a que fe
parte fobre o coração de alegre,& goze dos bens de
Paulo, adoecendo elle de todos ?
todos,&com todos : Quis 42 f E fe naô C para
infirmatur^ & ego non infir- que cada hum fe p^rfuada
Wí?r?E aíTim como no mef- peio que exprimenta em
mo centro eftá o fogo do fy mefmo } pergunto a to-
Inferno, em que ardem os dos os que fois pays , ou
condenados , pagando as máys. Náo lie certo, que
penas das culpas , que co- ospays , & as mãys tanto
metéraóneftavida; aílím amão, & eftimaóos bens
ardia no coração de Paulo
*o fogo da caridade taó
forte, 8c intenfa rnente,que
'todos os efcandalos,& cui-
de fcus filhos , como os
próprios ? Atè as feras
mais feras, fe fe lhes fizer
efta pergunta , refponde-
pas,qiiedenovofe come- ráóquefim. Eeuacrecen-
tiáo,naófó o atormenta- to,quenaó feràverdadei-
vaó de qualquer modo> ropay , nem verdadeira
mas verdadeiramente o mây,oquenaóeftimarme-i
Tom. 7. Gg nos
4^6 Sermão ddfegundaT>ominjia
nos os feus bens , que os que fe o amor de todos os
de feus filhos. Por iíTo os
Corcefáos de Jerufalem,
quando David renunciou
a Coroa em feu filho Sala-
paySj& mãySj quantos ou-
ve defde o principio do
mundo , & haverá atè o
fimjfe uniíTe em hum fó
maója lifonjacomquebe- amor, comparado eílecò
o amor do menor Beni-
avenmrado do Ceo,naó fo
o naó igualaria , mas nem
pareceria amor. Vede ago-
ra, conclue S. Boaventura,
quamimmenfaferà a glo-
ria dos que aílimíe amaó,
fendo elles infinitos, &a
gloria de cada hu m,as glo-
rias de todos I
426 Oh bcmaventu-
rados vòs , & bemaventu-
radas, naó digo a yoílajfe-
naóas voíTas bemaventu-
jarao a mao ao mefmo
David, foi, dizendo todos
a hua voz,& com o mefmo
conceito, que Deos fizeíTe
o trono 5 &: Reyno do Fi-
jho maior, &: mais felice
ainda queodoPay. Epor
iííba Mãy de Nero, tendo
ouvido de hum oráculo,
que fe chegaífe a ^ç;r Em-
perador feu Filho, a havia
de matar, refpondeo : Ocr
ctdat , dummodo imperet :
Matemeembora,com tan-
to que feja Emperador,
ranças! Là eílà gozando
Afilm eftimou mais a Mãy elta verdade, quem a diífe
a hQnra,& Império do Fi- na primeira palavra , que
lho,quea vida própria. E
feaeíles extremos íè ef-
tende o amor natural da
terra, que fera o fobrena-
turaldoCeo? Hetaógrã-
efcreveo. A primeira pa-
lavra do primeiro Pfalmo
de David he, Beattisvir , píài».
Bemaventurado o home. »■»•.
E qual he a bemaventu-
dc,ou por fallar mais pro- rança,queofaz,&lhedà o
priamente , he taó perfei- nome de Bemaventurado?
to, taó puro , & taó fobre-
humanoo amor, com que
todos os Bemavcnturados
reciprocamente fe amaó}
Naóhehúa, nem fó mui-
tas, fenaó todas as bem-
avcnruranij-as de todos os
Bcmaventurudos) porque
todas
da^arefma.
bemaventuran- vòs í^ozais os
t%>das as
çasde todos concorrem a
fazer Bemaventurado a
cada hum. Aílimo decla-
ra expreíTamence o mef-
mo texto original Hebrai-
co, em que Diviá efcre-
yeojoqualtem em lugar
dcBeatm vir^ Beatitudi-
nes virii. fe cada hum pe-
la fua gloria particular he
perfeitiílima mente Bem-
avènturado, & gloriofo ,
que fera peias glorias, &
bemarcnturanças de to-
dos ? Pela fua gloria Bem-
aventuradocada hum pe-
lo que elle mereceo, & pe-
ks glorias de todos fobre
bemaventurado também
pelo que elles merecerão.
Exceíib verdadeiramente
de comunicação de bens ,
¥-7
frutos de
feus trabalhos, pois gozais .
oqueelles merecerão 5 &
vòs naó mereceftes.
427 Vòs (^ ponderem
os da terra bem o que di-
go 3 vòs naó foftes Patri-
arcas, & gozais a gloria
dos Patriarcas : vòs nao
foftes Profe tas, & gozais a
gloria dos Profetas : vòs
naô foftcs Apoftolos , &
gozais a gloria dos Apo-
Solos ; vòs naó padeceftes .
martyrio, & gozais a glo-
ria dos Martyf es : vòs naó
foftes Doutores, nem eníi-
naftes, & gozais a gloria
dos Doutores : vòs naó vi-
veíles nos defertos>6c gOf^
zais a gloria dos A naco-"
retas : vòs nàó profeíTaíles
continência , & gozais a
que podéra parecer inju- gloria dos Virgens: vôs fo-
fío, fe a gloria naó fora fies peccadores, &tal vez
premio da graça. De vòs grandes peccadoresj^ go-
pois,& de todos vòs, ò fe- zais a gloria dos innocen-
liciílimos habitadores def- tes : vòs finalmente fois^
fa Pátria celeftial ; de vòs 5 homens com corpo, & naó
&.a vòs fe pôde dizer com efpiritos , jSc gozais as glo-
t-sãAÒ-.AUjUboravenmt^ rias de todas as Gerar -
(^vos in labore s eorum m-
troiftis : Que os outros me-
fecéraõjôc trabalharão? &
chias dos Anjos. Aíílm o
difcorre , & contrapõem
admiravelmente o Sera-
Ggij fim
S.Bona'
vent. ii
Solilo-
4<> 8 Sermaõ dafegunda T>omínga
fim dos Doutores da Igre- acomodar à brevidade do
jaS.Boaventurajpoftoque tempo, & fuppondo que
com a ordem mudada, mas baftaó as demoílraçoens
com o mefmo fentido. Ibi deílesdous difcurfos para
virgo gaudebit defan6f<e vi- fundar fobre ellas húa grá-
duítatis mérito: ibi njiduA derefoluçaó ; acabo com
exultabit de cafto virgini-
tat is privilegio : ibi Confef-
for de Martyris jucundabi-
tur triumpho : ibi Martyr
tripudiabit de Confefforum
hravio : ibi ^ropheta lauda*
kit de Tatriarcharum pia
conver/atione : ibi Tatriar-
chaexultabitde Tropbeta-
fazer a todos os que me
ouvirão húa fó pergunta.
Gredes ifto que ouviíles ,
ou naó? Quem cré o pri-
meiro, 6c fegundo ponto,
he Chrifíaó, quem naó crè
o fegundo,he'Gcntio-,mas,
ou íejais Genriosjou Chri-
ílãos , fe totalmente nao
rumfide : ibi Apoftoli , & tendes perdido o entendi-
Angeli gaudebunt de mérito mento,&:ojuizo, não po-
»mniuminferiorum:ibiom' deis deixar de eflar pcr-
nes inferiores Utabuntur de fuadidos do que ou viftcs ,
gkria^&coronafiiperiorum, ou a defprezar a falfidade
de huns bens,ou a defejar
428 inAltavanos ago-
£"^ ra o terceiro pó-
toda noíTa propofta , &
mofl-rareomo tudoiftofe
goza no Ceo, naõ fucceíli-
vamertte,fenaó por junto,
reduzindo toda a eterni-
dade a hum inftante, &
eftendcndo eíTc mefmo in-
Hante por toda a eternida-
de. Send© porém forçofo
juntamente a verdade dos
outros.
429 O Gentio naõ fa-
be que a Alma heim mor-
tal, nem crè que ha outra
vida. E com tudo, fe ler-
des os livros de todos os
Gentios, nenhú achareis,
nemFjlofofo, nem Ora-
dor,nem Poeta, que lo c6
olumedarazaó , & expe-
riência do que vem os
olhosjnãocúdcneo amor,'
ou
da§íuarefmã\ 4^^
iDucoÈiça dos chamados tcdo vérda-deiro mal^qu
bens deite mundo, &:naó
louve o derprezo delles.
Gentio ouve , que redu-
zindo a dinheiro hú gran-
de património , que poí^
fuía, o lançou no mar , di-
zendo : Melhor he, que eu
te afogue , do que tu me
percas. Deixo os rifos de
Piogenes, que metido na
fuacuba zombava dós A^
lexandreSjScfuas riquezas.
Deixo a fobriedade dos
Sócrates, dos Senecas, dos
Ep ide tos, 6c fó meadmi-
gozar a do falfo bem. Não
feria louco o que pela do-
çura da bebida tragaíTe jú.-
tamente o veneno i* Efta
pois era a razaó , & a evi-
dencia, com que fem féj
nem conhecimento da ou-
tra vida fe defenganavaó
os Gentios , & huns pelo
peio fe defcar regava ò dos
falfos bens , outros pelo
défprezo os iiictiaó debai-i
xodospès. -^'f
430 EfeaíHm os tra-
ta va o Gentio, que naó te-
raj& deve envergonhar a mia delles, queolevaíTem
todolChriíláo , o exemplo ao Inferno, nem lhe impe-
domefmo Epicuro neíle diíremoCeo3quedever€-'
conhecimento, fendo elle, folver,& fazer o Chriftão ,
& a fua Seita a que mais
profeífava as delicias. G'^/i^
ãsbis mi^íus F mintis aolébis:
dizia oComico Gentio, &
fali ando com Gentios : Se
tiveres menos goílos,tam-
bem ceras menos dores. E
porque na miftura desfal-
que não fó reconhece nós
bens domtmdo a vaidade
do prefente, fenaó tambê,
écm.uitomáiso perigo do
futuro } Será beai, que por
hum inílante de goílo me
arrifque eu a hua eterni-
dade de pena, & por hua
ibs, 5c enganofos bens, di- âpprehenfaó de bèrri mi-
vidiaóobemdo mal, &: llurado com tantos males,
coiitrapeíavaó o que ti- perca a gloria da viíla de
nliaódegofto,com o que Deos,&ogozar naó íó a
caufavaó de dor % antes minha bemaventurança ,
queriaó naó padecer a par- ítnzóíi de todos os Bem-
Tom.j. Ggiij avcn-
4^7 o Sermaã dafegunda 'Domivza
aventurados? O fé, ô en- aolosagloriado Cco. O-
rendimento , onde eftás ?
Mas o certo he, que nem
entendimento tem os, pois
naó fazemos o que íizeraó,
& entenderão tantos Gen-
tios : nem fé, fenáo morta,
& fem acção vitaI,pois el-
la nos naó move a viver
como Chriftãos. Se o que-
remos fer, & emendar o
deslumbraméto defta taó
enorme cegueira, eu naó
vejo outro remédio, que
nos abra os olhos , íenaó
tornar pelos mefmos paf-
fos deftes noíTos dous dif-
curfos aos dous montes
donde eiles fairaó. Oh que
Ihai, & notai bem, quanto
vai de monte a monte : ve-
de, & coníiderai bemjquá-
to vai de glorias a gloria.
Naquelle monte eítáo os
males fobre -dourados có
nome de bens : neíle eíláo
osbensfemfombra , nem
apparencia de mal. Alli
eftàofalfo , aqui o verda-
deiro • alli o du vidofojaqui
o certo: alli o momenta-
neo,aqui o eterno ; alli o
que vai parar no fogo do
Inferno, aqui o que nos le-
va a fer Bera aventurados
no Ceo. Vede, vedei &CÓ-
íiderai bem o que deveis
duas eílaçoens taó pro- efcolher; porque qual for
prias de hum tempo taó a voíTa eleição neíla vida,
íanto como o da Quaref- tal fera a voíla remunera-
ma ! Húa ao monte da ten-
tação, outra ao rnonte da
transfiguração : húa ao
monte, onde o Demónio
jffioftrou a Chriílo as glo-
lias do mundo, outra,onde
jChrii&ç^moílrouaos Apo^
ção na outra: ou padecen-
do fem íim todas as maldi-
çoens com o Demónio, ou
gozando na eternidade tO'
das as felicidades eoxm
Chrillo.
SEX^
1 . 4*71
SERMAM
DE
S BARBARA-
SimtleeH RegnumCalorum thefauro abf condito in agro
^uem qui invenit homo^ abfcondit^ é^pr a gáudio il-
Uusvadít-i&vendituniverfa.i quahabety
&emitagrumiUum,M2itth,i'3^.
5. I.
Síim como ha
huns homens ,
que nafcéraófó
parafy, & ou-
tros, que naícéraó parafy,
& para a Republicai& por
iílb faó os mais beneméri-
tos do género humano, Sc
celebrados da fama : aíllm
ha huns Santos, que foraó
cfcolhidos fó para louvar a
Dcos, 6c outros para lou-
var a DeoSjSc favorecers^c
ajudar aos homens. E fen-
do eíla fegunda prerogati-
va taó parecida ao mefmo
Deos, que não nafceo para
fy,fenãoparanós5 & tão
femelhance aos Anjosjque
juntamente vem a Deos
no Ceojôc nos guardão na
terra: fe fizermos compa-
ração no mefmo gener®
entre todos os Santos , &
Santas,facilmente achare-
mos j que não fó igualou,
Gg iiij ma^
i
r '
4.72
mas excedeo a
Quem ? Aglorioía Santa
Barbara, a cuja protecção,
& memoria com tanto ef-
trondo,& abalo dos ele-
mentos, fe dedica eíle ale-
gre dia.
432 Nas palavras, que
propuz, diz Chrifl-o Me-
/l-redivino,&: Senhor nof-
fo, que he femelhante o
Reyno do Ceo a hum the-
íburoefcoadido no cam-
po , o qual como achaííe
hum homem venturofo, fe
foi logo a vender quanto
tinha,para cóprar o cam-
po, ôc fe fazer fenhor do
thefouro. Para intelligen-
ciadequethefouro efcon-
dido foíTe efte , he neceíTa-
rio faber primeiro,quaI fe
ja o Reyno do Ceo , que
Chrillo chama femelhan-
te a e' le : Simile efi Regmim
Calorum thefauro abfcon-
dito. S. Gregório Papa ad-
verte aqui doutamente?
que o Reyno do Ceo nas
divinas letras fe divide,ou
diftingue em dous Rey-
nos, hum eterno, outro tc-
poral, hum futuro , outro
prefente , hum na Jgi cja
Sermão de
todos : Triunfante, que defcança
em paz no Ceo, outro na
guerreira, &:Militanre,que
ainda trabalhaj&: peleja na
terra. Daqui fefegue, que
aílim como ha dousRey-
nos fcmelhantes ao the-
íouroefcondido, aílim ha
dous thefouros efcondi-
dos, femelhantesahum,&
outro Reyno : & eftes
faó osdous thefouros , que
S. Barbara comprou com o
preço de quanto tinha:
i^^endit tmiverfíi^qua ballet >
& emit agrum tUum.
433 Tinha S. Barbara
como filha única , & her-
deira de Diofcoro feu Pay,
fenhor nobiliífimo da Ci-
dade de Nicomedia, hum
riquiíll mo património dos
bens, que c ha mão da for-
tuna. Tinha mais outro
maispreciofo, & mais ri-
co, que era ode todos os
dotes da natJreza , &: gra-
ça, fermofura, diferirão,
honel}idade, &as demais
virtudes, por onde o dcíc-
jo,& emulação de todub os
Grandes a procuraváo por
eípoíà. E tendo ja conla-
gradotudoiíloa Dcos na
ílor
S. Bar bar a. 47^
flordaidade-, atè a liber- primeiro, que para publi
caros poderes, & louvores
deSBarbarajadlm como
ostrovoens dâ artelharia
faó mudos, afiim as vozes
mais polidas dos Prégado-
res5&toda a noíTa eloquê^
cia he barbara. Ave Ma-
ria,
§. II.
Simik eft Regnum delorum
t he J aur o abf condito,
43 f T T Uma das cou-
jt Jlías admirave-
isj que fez5&: tem Deos ne-
íle mundo, & dequefua,
fabedoria, & grádeza mui-
to fe preza, faó os feus the-
fouros efcondidos. Por
ventura (^ diz Deos a Job 3
entraftetu nos meus íhe-
fouros da neve, ou viíle os
meus thefouros da farai-
vajos quaes eu tenho guar-»
dado para o tem po dos ini-
migos 5 & para o dia da
guerra^Sc da bataIha?iV//»^
quid ingreffu
dade, & avidalhe facrifi-
cou a fua fé, &: o feu amor :
a liberdade, em hum dila-
tado martyrio prefa por
muito tempo, & afferro-
IJiada em hum Caftello: &
a Vida, em outro martyrio
mais breve , mas muito
mais cruel ? fendo varia-
mente atormentada com
todos os géneros de tira-
nias,&: finalmente degola-
da com a maior detodas,^
por máo de feu próprio
Pay.
4,^4 Eíle foi o preço
verdadeiramente de tudo
quanto poíTuia , com qae
Barbara comprou os dous
thefouros, hum para fy, ou-
tro para nós. Para íy, o da
eterna coroa,que goza em
paz na Igreja Tnunfante
do Ceo : para nòs , o do
perpetuo íoccorro ycom
que noj> ajuda a batalhar,
& vencer naiVIiluante da
terra. Defic,quehe oque
hoje vimos reconhecer di-
ante de feus alçares em quidingreffm es ihcf aures
ptTpetua 2C. áo de graças , mviS'i ant thtfatírosgraiidi"
he o de que rrararei fómé- nis vidjdi s ^U£pr^paravi \^^^^'
te, Coiíteíiando porem intemfmhoJttSyO' indicm -'
474 Sermão ^s
pfgn^.òheíii^ Porvenru- thcfoiiros efcondicíos ti-
ra podeacègora a efpecu- nbaja profetizado Jacob ;
laçaó dos Filofofos defco - Imindat tonem mar is quaft d 'if
briraorigem,& verdadei- lacfiigent,& thefaurosabf ''' ^
rascaufasdos ventos, taò cayiditos arenarum.
inconílantes,6cleves zWqs^
43 (í De maneira, que
na terra, na agua, no ar,co-
moemdiíFerentes, & va-
íliflimos campos, téDeos
efcondidos feus thefouros.
Mas nenhum deftes, com
ferem táo grandes , & taó
vários, he o que o rnefmo
Deos defcobrio a S. Barba-
ra, Sc de que el Ia co m os ca-
bedaesdefeu merecimen'
6c taó encontrados nas
fuás opinioês,como oNor-
te,& o Sul? Mas por iíTo os
defenganou David, que fó
Deos , que criou os ven-
tos, lhe conhece o nafci-
mento , & os tira quando,
& como he fervido , do fc-
creto de íeus thefouros;
Pfaim. guíprodiícit ventos dethe- ^.-....^...^ ni^iccuucn-
'•^*' * Jaurisftás. Naó he^ menor to fe fez fenhora. O maior,
maravilha, que naó crecê- o mais nobre , o mais ma-
doafuperfíciedo mar hu ravilhofojócomais efcon-
dedo com todas as corren- dido thefouro do \Jn i ver-
tes dos Rios, que nelíe de- fo, he o quarto eIemento,o
faguaó, fejaó taes as inun- fogo. He tão efcondido,
daçoens do rnefmo mar, que Pitágoras , & outros
que tenhaó afogado Cida- que refere S. Agoílinho,
des, & fepultado Provin- porque náo vemos a esfe-
cias inteiras. Mas todos ra dofogo, aneo-áraõ to-
eftes dilúvios particulares, talmente. Os lugares,em
íem ferem ajudados do que a natureza collocou
Ceo, nem das nuvens , os os elementos, occupaó to-
tem depofitado Deos nos dooefpaço,quefe eftcndc
ocultos,6c profundos abif- defde o centro do mundo
mos dos feus thefouros : atè o Ceo. A terra ao re-
Toncns in the [auris abyjfos. dor do ccn tro , a a c^u a fo-
Finalméte deites mefmos brç a terra , o ar íobrc a
iigua,
Pfâlm
32-7.
S, Bàrhm-a.
agua, o fogo fobre o ar atè fez mençaô dos ou tros três
o concavo da Lua, ou do elementos, a naô íq7. tam-
bém do quarto ? Se í^z
niénçaó da terra , da agua ,
& do ar, porque a naó fez
ta m b e m do fogo ? Forque
Moyfes, como notaó S,
Logo final he (^inferiaó ef- Baíilio, S. João Damafce-
tes Authores^que o fogo no,& Béda,fó faJlou das
naó tem esfera. Mas fendo coufas manifeftas , & que
evidente por outras de- fe vem. E aílim como caí-
moílraçoens, que a perfei- lou a criação dos Anjos,
çao do Univerfo naó po- porque faó im\Ç\vQ,is , af-
Empireo. Masfe a esfera
do fogo he taó immcnfa,
& o fogo naturalmente lu-
niinoío , como a naó ve-
mos ao menos de noite?
dia carecer deíle thefou-
rojo que deviaó inferir,
como nos dizemos, he,que
íenaó vè,por fer thefouro
efcondido. E porque o naó
poííaó contradizer FiJofo-
tos^ nem Mathematicos,
kaófe as primeiras pala-
vras, com que a Efcritura
lim nãofaJlou do fogo ele-
mentar, porque eílà efcon-
dido a noílbs olhos.
437 Efte thefouro pois
taó propriamente efcon-
dido, he o que Deos defco-
brio,& de que deo o domi-
nio a S.Barbara,fazendo-a
governadora, protedora ,
fagradadefcreve a criação 6c defeníbra do fogo. Oh
do mundo , & acharemos gloriofa filha de Eva, ma-
nellas expreíTamente a ter- ior fenhora que a primeira
ra, a agua, o ar, maso fo- mulher,aindanoeíl:adoda
go naó : Terra mtem erat
geoeí: ínaníSy^vacua^&Jpiritus
^^' KDomirã ferebatur fuper
aquas. Terra autem, eis ahi
a terra : Super aquas,GÍs ahi
^ agua : Spiritm Tíomini ,
^i^ ahi o ar. E porque ra-
innocencia,&na felicida-
de do Paraifo ! O maior
poder,ou poderes,que nu-
ca Deos deo a algum hof
mem, foi a Adam. E que
poderes lhe deo ^ Sobre a
terra, íòbre a agua, fobre o ^^
.2a_ó Moyfes aíÈim €omo ^y\Ftpr^Jitpifàl?mynaris^i^'
D
Sermão de
^ volatUibus CcU^ & áe-
Jlijs , ac tmi-verfjj terr£.
Tudo o que fe move neíle
mundo, ou andando na ter-
ra,ou nadando na agua, ou
voando no ar, fera íbgeiro
a teu império. Mas aílini
como Deosdeoa Adam o
domínio dos três elemen-
tos inferiores, o do quarto,
& íiipremo, porque lho
naódco? Se ao império da
terra ajuntou o da agua,6c
ao da agua o do ar ; ao do
ar porque naô ajutoutam-
nis ante Ipfum pT£cedet'l^-x^
ra qualquer parte que vol-
te o rofto, lliem dclle cha-
mas de fogo : Ignis à facie
ejmexarfifSQ oIha,he com
olhos de fogo : OcuH ejns
tanquamjícimMa jgnis : Se
ouve, com ouvidos de fo-
go : 'Dem^qui exaudiet per
ignem : Se falia, com vozes
de fogo : Audijii verba ti-
Uns de médio igrds ; E ate o
mefmo Deos Te cria vul-
garmente , que era fogo:
"^Den s nofter ignis cohfumcns
pr?im.
96 J.
Pialm.
Apocal.
1 14.
36.
Ibidi-f.
bem o do fogo ? Forque ef- eft. íílo hc o que viraó os
fe refervou-o Deos para Profetas no Ceo, &tam-
fy. Lede os Profetas, que
faó os que vivendo na ter-
ra fópodiao entrar, & ver
a Corte do Ceo , & acha-
reis, que todo o apparato
da Mageítade de Deos he
fogo 5 & tudo quanto de-
creta,&: executa , por in-
ílrumentos de fogo. Se ef-
tà aíTentado,© feu trono he
Daniel, dc fogo ; Throiius ejíís
7 9-ío. jlamma tgnis : Se fae a paf
fearcomoem carroça, as
rodas laó de fogo : I^or^
eJHsignrs accerij.is: Se leva
Exod.
9.18-
bem o vio todo o Povo na
terra, quãdo Deosdeceo a
lhe dar a Ley no Monte
Sinai : 'Totus autem mons
Smaifnmabat : eo quod def^
cendijfet T)omin7ísJuper eip
inigne: De todo o monte
faiáo, & fubiaó nuvens ef-
peflas de fumo , porque
Deos tinha decido fobre
elleemfogo. Tudo o que
feouvia,eraótrovoeRS, tu-
do o que fe via, relâmpa-
gos : Et ecce c^ptrunt andi-
ri tom t rua , cr micarefitUwná.xô.
k
'mm
diante a fua guarda reai,os gura. Atèos Gentios, por
chi-
archeirosfao de fogo: Jg
eíles cftcicos,ao ítujii pi ter
«y. Barbara
chamarão tonante , & lhe
deraó por armas osrayos,
cantando os feus Poetas
do falfo Deos o mefmo,
nem mais,nem menos,que
David aííirmou do verda-
deiro: Intonuit de Calo ^o-
pfaim. minuSy ò" AltiJJirmis dedit
ipi^t- vocemfuam \ gr ando ^ò" car -
bonés íffnis. È eíle he,como
dizia, o Império, & gover-
no do quarto, Sc fupremo
elemento, que Deos refer-
vou para fy, & tendo o ne-
gado a Adam, &naó con-
cedido a algum de tantos
famofos Heroes , que paf-
íaraó em tantos feculos , o
delegou finalmente em S.
Barbara, fogeitando a ef-
fera do fogo, & feus prodi-
giofos, & temerofos eíFei-
tos ao arbitrio de feus po -
deres, & o foccorro , & re-
médio delles à invocação
4efcunome.
í. III.
' 438 C Se m«e pcrgu-
Eí tardes quando
lhe deo Deos a envefti du-
ra deíleímperio,ou a poífe
defte governo^ & de que
477
modo ? Refpondojque por
meyo de dous rayos fataes,
pouco depois da morte da
mefma Santa. Concorre-
rão para a morte, ou para o
triunfo de Barbara dous
bárbaros, hum menor, ou-
tro maior tyrano, ambos
crueliílimos. O primeiro
tyrano3&: menor foi Mar-
ciano , que martirizou o
corpoinnocente3& virgi-
nal da Santa com os mais
exquifitos tormentos : o
fegundo tyrano, & maior
foi Dioícoro feu Pay , que
com entranhas mais feras:,
que as das mefmas feras,
defembainhou a efpada,&
lhe cortou a cabeça. Que
faria àviíta deíle eípecba-
culoofogo , que com in-'
ftinto oculto, & mais que
natural, jà fentia naquelles
fagrados,& coroados deff
pojos,6c jà começava a re-
conhecer a no va íogeição,
& obediência, que depois
de Deos lhe devia ? Rat-
gaófe no mefmo tempo as
nuvens, ou vemfe dous te-
merofos trovoens , dçfpa-
raòfe furiofamente dous
rayos, os quaes derí u-ba a-
d©,
^^
'47 S Strmã^^dê
do, abrazando , te coiifu- íem ufo de razaó , com ou-
mindo os dous tyranos5eni
hum mo mento os desíize-
raó em cinzas. Ah mifera-
veis idolatras , &: tyranos
impijílimosjquc íe no mef-
mo tempo, em que os dous
relâmpagos vos ferirão os
olhos, invocaíTeiso nome
da mefma vidlima, a quem
tiraftes a vida, ella fem du-
vida vos livraria da mor-
te! Mas nem os tyranos
cegos foubéraó conhecer
onde tinhaó o feu remé-
dio: nem os mefmos rayos,
que nefta execução come-
tros dous rayos racionaes y
& de grande entendimen-
to. Aos dous irmãos S.Tia-r
go, & S. João mudouihe
Chriftoonome , ou acre-
centoulho , chamandolhe
r^yos-.Jacohum Zebedaiy
& loarmemfratrem lacobi^ Maicj.
C^ impofiiit eis nomina Boa- ' ^' •
nerges^quodefifilij tonitrui.
Boanerges propriamente
quer dizer filhos do tro-
vão , & porque do trovão
nafce o rayo , Boanerges
em fraíi Hebrea, ou Syría-
ca, qual era a vulgar da-
çavaô jàaprofcílar o cul- quelle tempo, íigniíicara-
to,& veneração de Barba- yos. E que fízeraó eílcs
ra, efperáraõ fcu impeno ,
ou cófentimento para vin-
gar fuás injurias j porque
naóobravaó como caufas
naturaes por próprio im-
pulfo, mas guiados por de-
ílino oculto , & entendi-
mento fuperior, que os go-
vernava.
439 E para que veja
inos,quam entendidamen-
teferviraóaS. Barbara, ôc
fem efperar fua obediên-
cia lhe obedecerão ; com-
paremos eítcs dous rayos
dous Rayos tão entendi-
dos? Negando os Samari-
tanos a Chriflo a entrada
da fua Cidade , quizeráo
ambos caftigar eíle á^Ç-
prezo,&. vingar cila inju-
ria de feu Mcílre, fazendo
com.o rayos , que deccíTc
fogodoCeo,& abrazaíTc
os Samaritanos : mas eílc
fogo, eíie zclo,&: eílc pcn-
famcntotáG bravo, &: tão
bizarro tudo ficou no ar;
porque ? Porque confultá-
rão, 6c pedirão licença a
Chri-
-Vm
t^-
Luc.p.
S. Barbara. ^yp
Chrifto : Domine^ vis dict- eílà , que lhe não havia de
mtiSy ut defcendat ignls de
Cxlo , ò" confumat illos ?
Refpondeo o Senhor, que
elle não viera ao mundo a
homens , fenam a
conceder a licença. Mas
o mefmo Senhor, que nam
havia de conceder a licen-
ça pedida , depois que a
Magdalenafcm a pedir lhe
fal vaIlos,& que elles como fez aquelle obfequio , não
feus Difcipulos havião de fódefendeoaobra,mas a
matar
perdoar injurias , & não
vingallcis. O mefmo havia
de refponder S. Barbara,fe
os noíTbs dous rayos a con-
fuItáraó,ou lhe pedíraó feu
confentimento para vin-
gar as fuás injurias, & ma
approvou,&: louvou : Bo-
num enim opus operata eft in ^^f^^-
me. Omefmohaviade fu- '"^■'°'
ceder aos dous rayos do
Apoftolado, fe elles abra-
zárãoos Samaritanos, co«
mojuftamcnte mereciãoj
tar,& abrazar os tyranos. Mas o que elles , fendo ta6
Mas elles fendo rayos fem entendidos, não entende-
entendimento entenderão rão, nem íizerão , fizeraó
melhoro cafo. Ha cafos, fem entendimento os nof-
€m que por pedir licença fos rayos, porque eraô go-
fe perdem as mais glorio- vernados por outra intel-
fas acçoens. Notou difere- ligencia mais aJta.
tamente S. João Chryfo-
Itomo, que fe a Magdalena
pedira licença a Chriílo
para lhe derramar húa yez
aos pès, outra fobre a ca-
beça os feus preciofos un-
guentosCque erão as aguas
de Córdova, ou de Âmbar
440 No cafo da prifaõ
de Chrifto, S. Pedro fem
pedir licença tirou pelaef-
pada , enveftio os inimi-
gos , & começou a cortar
orelhas : os outros Difci-
pulos pelo contrario, che-r
gáráofe ao Senhor,& pedi-
11-
daquelle tempo 3 como ef- tsio Ucguç^: domine, Ji j^err ^ ^
te regalo foíFe tão contra- ctitimus ingladlo ? F quem a^-'*^'
rio à mortificação, que o fe moftxou mais íiel fervo.
Senhor profeíTava , claro maisvalenre, 6c mais zelo-
fQ
4,8 ò Sermão i^e
íoda\^id;i,& da honra de IheniandaíTem. Mas com
razão he regeitada de to-
dos efta fucileza , como
alhea do texto,& da conò^x.^
ção do rayo ; porque os ra-
yos depois de caliíicarem
a fua obediência com a
execução, então he que a
proteftâo com dizerem.
Aqui efba mos ; i^«%í,e^r^^
'vertem ia dicent : Adftimus.
lílo he o que íizcrão os
dous rayos vingadores
3í
feu Senhor ? Na6 ha duvi-
da, que Pedro, & co mo tal
olouvão todos os Santos.
Entre os outros Difcipulos
tcUiibem fe achavão os
dous Boanerges , os dous
Rayos, masquem fe por-
tou como rayo foi Pearo,
porque eíTa he a bizarra
natureza dos rayos, ferir,
& executar primeiro , &
depois proteftar a fua fo-
geiça6,& obediência. He das injurias de S. Barbara,
texto excellente no livro começando a proteftação,
Job. í8. ^Q^Q]^\]\[^iyiquídmittesful' & reconhecimento da fua
gura-i&ibunt^Ò' rever ten- obediência, & íbgeição à
tia dicent tibi : Adfiífnus? Santa,peiaanticipadaexe*
Porventura, diz Deos a cuçáo doquedeviáoàfua
Jobjfaótaesosteus pode- honra,femefperaroman-
res,comoosmeus,quedcf- dado, ou licença do feu
pidas do Ceo osrayos,& império. EJl nirnirum h^c
elles depois de executa- circumlocntio obfequeyitif-
rem tornem a ti , & te di- Jímnrum famulorum : diz cõ
gão: Aquieftamospromp-
tospara obedecer o que
nos mandares.*^ Caietano
demaíiadamente fútil ne*
ftepaíTo, diífe, que eftão
aqui as palavras trocadas,
& que primeiro fe havião
deprcíentaros rayos obe-
dientes,& dizer, Adfumus^
6c depois exccucar o que
S. Gregório Papa o doutif-
fimoPineda.
441
§• IV.
T
Emosvifto co-
mo S. Barbara
dominou o mais efcondi-
dothefouro da natureza,
q hc o fogo, 6c como Dcos
lhe
S. Èarbara. 48 1
Ike fogeitou as mais vio- efta flngiilar prerogacira
lentas , & temeroíàs par- de S. Barbara , qualquer
tes, ou efFeitoscícIIc , que outra Virgem, & Martyri
faó os rayos. Dizendo po- mcr eceo igualni tm.^^ por-
tem o Evangelho, que os que deo o mefmo preçoi
thefouros, de que falia, A mefma natureza parecd
ninguém os alcança de também que confirma eílç
graçajfenão comprados,& direito em duas exceiçoê^j
comprados có tudo quan- oulimitaçoens, com que
to poííiie : Vendit univerfa^ produz os rayos. Não fó os
quahabet , & emit agrum Poetas , que merece pou-
íY/a^/jfeguefejquc vejamos co credito, mas os Autho-
qual foi o preço propor
cionado , & juftojcom que
anoíla Santa , & ella fó,
comprou, & mereceo efte
extraordinário dominio.
He queílão curiofa, & naó
fácil. Para inteiligencia
res da hiíloria natural, co-
mo Piinio, & os mais, ex-
ceptuáo da jurdição dos
rayos entre as aves a A-
guia,6c entre as arvores o
Louro. E aílim como a
Águia , & o Louro náofaô
delia, havemos de fuppor dominadas , fenão predo-
que eftes thefouros, quaef- minantesao rayo, aflim à
quer que fejão, ou os com- Virgemj&à Martyrpare-
praó os Santos por mãa ce queJie devido efte pre-
propriajoupormáo alhea. dominio : à Virgem , em
Os ConfeíTores compraó quanto Martyr , como à
por mão própria, com as Águia, pela Coroa , & à
virtudes,&boasobras,quc Martyr,em quanto Virgê,
elles per fy mefmosexer- como ao Louro, pelaLau-
Citáo : os Martyrcs com-,
práo por mão alhca , co m
os tormentos, & cruelda-
des , que lhe fazem pade-
cer os tyranos. Mas daqui
parece que fe fegue> que
, Tom,/»
reola. Que cauía ha logo ,
ou que razão de diíFerença
entre tantas Virgens , &
Martyres, para que a íin-
guiar prerogativa deftc
dominio a dèíle a ^lymã.
Hh Ju.
i mi'
! \
^ .«. f 1
482 Sermão de
Juftiçajcomo premio de fez. Os equleos , as cata-
feu merecimento, única- ílas^os efcorpioens,& pen-
mente a S. Barbara? tes de ferro, as laminas ar-
442 Arazaó manifc- den tes, os chumbos derre-
ftahc} porque o martyrio tidos, os peitos cortados,
de S. Barbara entre todas, os dentes, &: voracidade
& todos os Martyres,foi
o mais violento, & furiofo
de quantos fe padecerão a
mãos dos tyranos. Os ou-
das feras, tudo fe expri«
mentou em Barbara: não
havendo parte faã, & de
que não correíTe fanguc
tros Martyres padecerão a em todo o delicado corpo,,
mãos dos Ncros, & dos &fcrindofejà não o cor-
Dioclccianos } S. Barbara po, fenão as feridas huas
a mãos de feu próprio Pay; fobre outras. Vencido pois
género de martyrio pela Marciano, & vendo efgo-
atrocidade dcfta circun-
ílancia,naó fó lingular, &
inaudito , mas não imagi-
nável. Soube Diofcoro,
quefua íilha era Chriftãa,
& porque nenhum meyo
lhe bailou de promeífas,
ou ameaças , de benevo-
lência, ou rigorjcom que a
podeífe apartar da Fè ^pri-
meiramente a entregou ao
Prefidente Marciano de-
baixo de juramento , que
todos os tormentos, & gé-
neros de martyrios , quan-
tos atè então fc tinháo in-
ventado, os havia de ex-
primentar,& executar nel-
ia: Sc ajiiai o jurou, Ôc fe
tados em vão todos feus
tormentosj, pronunciou fi-
nalmente a ultima fenten-
çaa& mandou aosverdu-
gos,que cortaíFem a cabe-
ça a Barbara. Os verdu-
gos.^ replicou o Pay, iíTo
não. Eu fou, & com eftas
mãos, o que lhe hei de ti-
rar a vida. lílo diíle de-
fembainhando a efpadajôc
deícarregando-a com toda
a força na garganta inno-
ccntc, comhum golpe lhe
apartou a cabeça dos hom-
bros. Oh efpedl.iculo , ô
portéto de deshumanida-
de,nQca viílo, como dizia,
né ouvido, nê iinagin.-ído í
Hum
S. Bar bar a. 4^^
445 Hum fó Pay le- fejava a vida , outro tiraa-
mos nas F fcricaras, que ti-
raíTe a vida a fua filha, que
foijeptejem comprimen-
to de hum voto, que tinha
feito a Deos. Mas que có
do-a a quem a tinha dado»
Hum com o maior exem-
plo da fé, outro com o ma*
iorefcandaIo,& horror da
natureza. Em fim ambos
paraçaó tem aquelíe caio pays,& ambas filhas, mas
com eík? Aqueile foi hum com tal diflPerença em hú ,
cxccíTo de Religião, efte & outro efpedtaculo, que
humprodigiode cruelda- vendo o facrificio dejep*
de. AlJio Pay era Sacer- te choravão de laftima
dote, aqui facrilego, ím-
pio, 6c blasfemo. Humfa-
crificava a filha amada a
Deos, outro a filha aborre-
cida aos Ídolos. Humdcr-
retendofelhe as entranhas
de compaixão como cera,
outro com o coração mais
duro que os mármores.
Hú correndo] he dos olhos
lagrimas de piedade , &
amor , outro vomitando
pela boca labaredas de
ódio, & ira. Hum derra-
mando o fangue da filha
CO mo próprio, outro naó
fó como alheo , mas como
do maior inimigo. Hum
tremendolhe a máo da ef-
mulhcrcs,& homens , & a
vifta do parricidio de
Diofcoro pafmavão , & ef-
ta vão atónitos os leoens,&
os tigres. E como o mar-
tyrio de Barbara foi o mais
violento, & furiofo de to-
dos os martyrios , por iííb
mereceocomelleo domi-
nio do mais violento , 6t
furiofo de todos os Ele-
mentos.
444 Cóparaimc o Pay
de Barbara, na violência ,
& fúria defta fua acção 9
com o fogo,&: vereis quam
parecidos, & femelhantes
íaó hum, & outro. Notou
advertidamente Séneca , 5^^^.^
pada, outro triunfando de quehe natural da violen-
d ver tingir na purpura, cia, & efficacia do fogo, ;
que lhe íaíra das veas. nãoconfentirque as cou-
Hi^m matando a quem de- fas fejáó o que faó |: Ignis
Hhij mhit
:i||i;
4^4- 'Sermão de
nihileffey ^uoãfit , patitur, tureza,&: ellas por inditu-
EraDiofcoroPayde Bar- to, fem geração. Ouça-
bara,masa violência , & mosao Authordo feu Ri-
furia, ou por melhor dizer tual no livro dos Faílos.
o fogo da fua tyrania não Nec tu aliudVtftam , quam
coníentio que fofle o que ^iva intelltge flammam,
era. Era Pay,&: deixou de Nataque de flamma cor-
lerPay. Mas allim havia poranulla vides.
de fer , ou deixar de fer o lure igttur Vtrgo eji.quafe-
que era,para mais própria- minanulla remittlt
mente íer como o fogo. Neccapit
Entre tod©s os Elementos E como o Pay de Bar-
fó o fogo não hePayitodos bara, fendo Pay por natu-
os outros geraó,&faÓ fe- reza,deixoudeferPaypor
cundos,fóofogohc efte. tyrania,& tendo-a verda-
ril,&nao gera. EíTa he a deiramente gerado, lhe ti-
propriedade da etimolo- rou tão cruelmente a vida,
gia,com que os Latinos fa- como fe a não gerara , em
biamente lhe chamarão perpetua memoria át^ç:
/^«/j.XJompoemfeonomc portento da deshumani-
igmsá^m,^àç^gigno,co- dade lhe deo juílamente
moi^ái^tr^çi.nongignens, Deos o dominio do Ele-
o que não gera : porque as mento, que fó não he Pay,
Salamandras, que alguns nem gera : & aílimcomo
lhe perfílhaó, faó fabula, dia padeceo a violência.
Mais fízerão. Para guar- &furiado mais violento.
Ovid ia
Faftis.
dar perpetuamente o fo
go, que chamavão fagra-
do, inítituirão a Religião
das Virgens Veftaes. E
porque razão Virgens ?
Para que ellas, & o fogo, a
quem guardavão , foíTem
femclbantes : clle por n^-
& furiofo de todos os mar-
tyrios, aífim dominaffe a
violência, & fúria do mais
violento, & furiofo de to-
dos os Elementos.
4+f E fe a íingulari-
dade do martyrio de S.
Barbara mercceo eítc do-
mínio
\J'JÁ
S. Barbara] 4^/
mmiocómumfobre o fo- das as criaturas irracio-
go, não foi menos devido naes, nenhúa traz maisim-
à caufa do mefmo marty- preíTo , & expreíTo em fy
rio o dominio , & império efte carader, que o rayo ,
particular fobre as partes
mais violentas , & furiofas
do mefmo fogo, que faó os
rayos. Quaíido o Pay jà
cruel encerrou a Santa na-
oqual he hum tridente de
fogo dividido em três pó-
tas, & por iíTo chamado
trino, ou trifulco. i//^ /»^-
ter^Reãorque^eúm ^vui
quella torre, mandou que dextra trifulcis ignibus ar
feabriíTem nella duasja- mataeft^ diz Ovidio i3c
nellas ; & como depois
viíTe abertas três , & fou-
beílc da mefma filha , que
cila tinha acrccentado a
terceira em hora da Trin-
dade do verdadeiro Deos,
trino, & uno , que adora-
va ; efta fé, & proteílaçáo
conftante foi a caufa do
feu marty rio. Vamos ago-
ra ao miíterio, & propor-
ção do premio , com que
Deos o remunerou. Ém
todas as coufas , que Deos
criou, como marca , ou ca-
radber próprio Ç a modo
dos grandes artifices 3 im-
primio alguns veftigios do
íeuíòberano fer, trino , &
hum, poílo que muitos os
naóconheção, comodiíTe
David : Et veftigia tuanon
cognojcentur . Mas entre to-
Jom./.
Séneca : Opifex trifulciful-
minis Jenfit^ eus. Por ou-
tra parte a mais natural
hoftilidade dos rayos,(que
íèmpre bufcão o mais al-
to} hecombater,& efcal-
lar as torres. Tanto af-
fim, que em alguns lugares
de Itália , que refere Píi-
nio, foi vedado noteppo
da guerra levantarfemfe
torres, porque todas ba-
tiaós&deftruiãoos rayos :
Turres bellicis temporihis
defierejieri^7iuUa non earMm
fulmine diruta.^ como a
caufa do martyrio de S.
Barbara foi a Fé, & prote-
ílaçáo da SantiíUma Trin-
dade efculpida, oa decla-
rada nas três janellas da
fua torre ♦, para que o pre-
mio foíTe proporcionado
Hh iij naò
Pliniuv
lib. 2.
cap.4.
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^'^ Sermão de
mo fo ao martyrio, fenaó 4^7 He tal a bondade
TS^T^^^^^^A^A^"^"^.^' ^^Í^^^^^C o qual ainda
moriadaTrindadedeolhe quando mais irado fc náo
o doniinio dos rayos , que efqtiece de fua mifencor.
reprefentaóamefmaTriii. dia Jquequando quer ca-
dade nas fuás três pontas : íligar os homens , o que
& cm memoria da torre
fella Tutelardes torres, 8c
dos caftelíòs, para que as
guarde , & defenda dos
mefmosrayos.
mais fente he,não haver
algumiquefe lhe oponha,
&lherefifta. Efta he a,
queixa, que faz por boca.
delfaiasno Capitulo cin-
coenta & nove , onde o
Profeta defcreve ao mef-
^ ' ■_. '■ ■ y" moD^os irado contra os
í>íi446 pAra >=bem vos cativos de Babilónia , &
^ 1 fejaórodopo- armado de juíhça,de zelo»
oeroío, & todo piadofo de indignação, òc vingan-
DcosCque me naó quero ca para os caíligar , ò^^^dc-
congratular neíle caíò có '
anoíTají^voíra Santa, fe-
naó com a voíía iníinita
bondade. jPara bem vos
fejaó eíles m cfrn os pode-
res , que cómunicafces à
Ç p ^ , icrva, Cv ue- w,,,t»í.^^í,;>,,^ c^aují uurci.r luu-
tenlora noíia, para que te- t tonem hoíiihusjtiis , & ^^/-
nha a voíTa miíericordia, cifíuudimm immicis fuis
quem modere os rigores Eítascraóasarmas,deque
de voO-ajuí^iça, & quando Dcosjà cílava veítido de
íiruircomo inimigos
. In-
duíusejíjuftitía, iit loricuy
& galea falutis^ zn capite s^ ^p.
eJHs: hidíLtus c[l vejUmen- •7-»5i-
tis ultionis y é- opertus ejl
quaji palito zeli : Jictit ad
vindtãam quaJi adretribu.
a voífa maõ' armada de
rayos queira fuhninar o
nuindojou vos tenha maó
nobraço^ouosapague, &
divirta,antes de chegarem
à terra.
ponto em branco , para
executar o caíligonaquel-
les homens. £ a fua quei-
xa, no meyo deíla mefma
dehbcraçáó , qual era >
S. Barbara] 4^7
Bédita feia tal bondade,ac nal Hebreo, non afcendtftts,
tal amor ! Et vidit quia non infraãuras, & interrufUo-
efl 'Vir : & aporiatiis eft.quta nes ] neque oppofuiftis mu-
nonefíqui occurrat. Aílim rumpro domolfraeU utfta
provocado de íiiajuíliça,
aíllm irado, aílim armado,
aíTím deliberado a caftí-
gar,& jà com os inftrumê-
tos da vingança nas mãos:
o que Deos mais fentia, o
que mais o magoava , o
que mais o aíHigia, &: qua-
retis in pralio ir.die T>omi^
ni. Foi o cafoj qiie tinha
Deosficiado a Gidade de
Jerufalemcoín o exercito
dos -Chaldeos para a ca-
íligar,& deílruir: ^ tendo
jà aberto brechas para o
aíTalto real (^ que iíTo quer
fi defefperava, ( que tudo áizGtfiaãuras,& innrrup
iíTo fignifíca aporiatus eft } tknes ) queixafe Deos de
emfim o de que fó fe quei- queos cercados nam fizef-
xava o bom Senhor, he de fem contramuros ás mef-
naó haver hum homem, mas brechas, Neque oppo*
que Te oppuzeíTe , & con- fuiftis murunii & naó fahif-
trariaíTe a fua mefma deli- fem a defender fortenien-
beração, & acodiíTe pelos te a entrada dos inimigos.
que queria caftigar,&ro- Pois íè o fitiador era Deos,
gaíTe, & intercedeífe por
ellcs: & com efficacia de
razoens, como Moy fes , o
perfuadiíTe a perdoar : ou
lutando com elle , como
& o exercito de Deos , &
de Deos havia de fer a viv
toria, & o eaíligo , In 'dm
^omini s porque fe queixa
o mefmo Deos de nao ha-
Jacobjà força de braços, & ver quem fe lhe oppuzeíFe^
a braços o reduziíre,& ren- & refifí:iíre,iVd/?í afcendiftis^
'^ ex adverlo^nequeojjpofmjiis'
murum^ Forque lendo a
condiç^\ódeDeos naó có-
denarjfenaó perdoar, nam
aíTolaryfenáo confoiarjiiaò
matar , fenaó dar vida 5
íiii iiij 9.uan«
deífe
448 A mefma queixa
fez outra vez Deos pelo
Profeta Ezechiel , dizen-
Eiech do ; Non afcendijtis ex ad-
'i í- verfo [ ou como lè o origi*
i
iRcg.
488 Sermatde
quando, a mais naÓ poder, rabit : carbmesfucceyinfunt
toma as armas para nos ca- abeo. Inclinavit cJos , &
itigar.oquemais defeja,& defcendif. & caligo fub pe-
reíifta,& o obrigue a em- conCpenu eJHs,fuccenfi funt
quando da femelhantes Calo'Domrms,& excelíus
poderes contra fy , ou fo- dabrt ■vocemfuam. 7mZ
brefy mefmoa Barbara , gittas,& dépavtT fui-
naoaeIla,nemanòs.fpnaó * i. ,1 r- ^ 'J"i
guT, é- conjumplit eos. Et
naó a ella,nem a nòs, fenaó
C;sdtirAr°"^;^' ^^'''"' ^'^^à-revdatJ rum funda.
^^«.rr^í&fe queixava de neT>omini, ai tnfptr atice
raoter hum homem, que fpiritusfurons eius. Nam
felheoppuzeíTe , jàagora tz lingua. quepoíTa decl™
terá hua mu!her,que p. «é- ,„ a profopopea tremen-
ça,&odefarme.„,,,,,,.v..^ da defta defcripçaó , S
As mais temerofas, &
formidáveis armas deDeos
faó os trovões, & os rayos :
Vomimmformídabtmt ad^
verjartj ejits : & fiiper ipfos
in Calís tonabit. Armado
emudecendo. 'Inclinará
Deos os Ceos,& avilinhar-
fehamais à terra para ca-
íligar feus habitadores :
debaixo dos pès trará hum
remoinho de nuvens ne-
deitas armas nos pinta Da- gras, efcuras , & caJigino-
vid ao meímo Deos com {:,s', das ventas lhe fairáó
tal horror de palavras, que fumos efpeíTos de ira , de
ate pmtado faz tremer, indignação , de furor : da
Lormnota eft, & contremuit boca,como de fornalha ar-
dente, exhalarà hum vol-
cáodefogotragador, que
tudo acenda em brazas, &
converta em carvoens:
atroará os ouvidos attoni-
Urra '.fundamenta montium
^l^eg. coricuJfaJunt,& conquaffa.
tayqiLoniarn iratus eji eis,
Afcenditfurmis de naribits
ejusy&ignisdeore ejíis vo-
S. Barbara. 489
tos com os brados medo- nome, por mais que as nu-
nhos de fua voz, que faó os
trovoens ; cegará a vida
com o fuíilar dos relam-
veiis fe rafguem em tro-
voens, fe acendaó em re-
lâmpagos , & fe desfaçaò
pagos alternadamête ace- em rayos,(S. Barbara! )em
fos, abrindofc , & tornan- fe invocando, &foandoef-
dofe a cerrar o Ceo teme-
rofa mente fendido : defpa-
rarà finalmente as fuás íàt-
tas, que faó os rayos,5c co-
rifcos : abalarfehaó os mo-
tes, retumbarão os valles,
aífundarfehaó atè os abif-
mosos mares , defcubrir-
feha o centro da terra , &
«parecerão revoltos osfú-
damentos do mundo. Eno
meyodefta confufaó, af-
fombro,terror,&defmayo,
quaes eftaráó os coraçoens
dos homens , & que fera
delles ? Confumilos ha
Deos, diz David , Et cm-
fumpfit eos. Mas ifto fe en-
tende do tempo , em que
David efcreveo , muitos
feculos antes de hai''er na
terra a gloriofa defenfora
deílas baterias, & ácí^cs ti-
ros do Ceo , atè entaóin-
venci veis. Porém depois
que no mundo foi conhe-
cido aquelle nome fagra-
áoy ou o fagrado daquelie
te poderofo, Ôc portenrofo
nome, os trovoens , os re-
lâmpagos, os rayos tudo fc
diílipou,& aquelles eílron-
dos, medos,& ameaços do
Ceo, não fó paráraó fem
efFeito,& fe desfízeraó fem
danoi mas donde a terra
temia fer abrazada,fc vio
regada,porque os rayos fe
refõlvéraó cm rios, & o
fogo fe có verteo em agua : Píaim.
Fulgura jnpluviamfecit, ^^'^'^'
449 E u naó quero, nê
poíTo dizer , que depois
que no mundo ouve Si
Barbara^ os rayos naó fof-
fem nocivos aos homens >
ou aíFom brando- os fó com
o ar,ou tirandolhe a vida ,
êc fazcndo-os em cinza
com o fogo ; pois eftáo
cheasas hiftorias de mor-
tes notáveis de grandes
perfonagens feridas , & ef-
pedaçadas com rayos. Mas
oque fó quero dizer he,
que de peilbajque inyocaf-
490 ScrmaUe
fea S. Barbara & algum podem evitar : outros faò
hiíWha,nemcomolo- nos,&?ópara eftespode^
go direi,a pode haver. Se^ aproveitar as oracoens , t
raes^d^oi^d ;r "T "^ -^os:i^W^.^.,,;i._
aesdepoisdedifputarro- ^^. tynmonahhus ttafur^^^^-'
hua fentença verdadeira- preces fuennt, & vota íL
mente Eftoica : Maloful^ ^./.^/Atèaqui^eneeact
men non Umere, quàrn r:ofe : Jo grande Filofofo 'mas
fintes quero não temer 6 fem fé. Para nos porenTI
rayo que conhecelo. Tu, fabemos que naõ^ha fado
i.ucilio,enrina aos outros mais que a Providencia
comoosrayosfe fazem eu divina^emprelivre, & t^l
para mim fo quizera faber do Doderofa : digo que ne^
comofe naô temaó : Ita^ nhum rayo poderá fazer
•mw ^uealws docequemadmodú mal a quem fe encomen^
jiant, ego mihtmetum tUo- dar a S.Barbara.E porque^
rum excutt maio , quàm na^ Porque allim o promereo
turamindtcart. E fe per- Deosà mefma lianta An-
guntarmos ao mefmo Se- tts de ofl^erecer a garganta
neca como fe podem nam à efpada do tvrano,fezBar.
temer os rayos?Refponde, bara oraçaó a Deos , que a
que naò temendo a morte.
Sòquemnaó teme a mor-
te, naò teme o rayo. E naó
bailara , fallandogentili-
camcnte , encomendarfe
hum homem aos Deofcs.?
Abfolutamente naó. Por-
que os ray os, diz elle, huns
faó fatacs,&neceíí-irios,&
eftesde nenhum modo fc
todos os que a tomaífem
por inrerceííòra concedef-
fefuadivma Mageltade o
que pediílcm : & no mef-
mo ponto íè ouvio huma
voz do Ceo,que dizia : Af-
iim ícrà como defejas. Lo-
go nenhum rayo pode fe-
rir a quem tomar por iví^
tcrcellòniaS. Barbara. A
con-
S. Barba
confequencia Ke evidente.
Porque aqueIlaívDZ,que fe
ouviodo Ceo/fòi voz de
Deos : & o rayo,que fae do
trovaó, também he voz de
Deos, como diz Job : la-
^^- ^7' nabit T>eus invocefua.Lo-
go efta fegunda voz de
Deos he força, que fe con-
forme com aquella pri-
meira também de Deos,
porque naó feriáo vozes
da rumma verdade, fe 'bua-'
contrariaíleaoutraj íii''°*^v
5. VI.
45^^. A Tè aqui temos
ZjLviílo quães faó
os poder es, &: domínio de
S. Barbara fobreo fogo na-
tural, & contra os mais
violentos, & furiofos par-
tos delle , quaes faò os
rayos. Mas de trezentos
annos a eíla parte tem cre-
cido muito mais a jurdi-
çaó,& império da mefma
Santa fobre o Elemento
do fogo. Ate o anno de
Chriíl:omir&: trezentos &
quarenta &:quatro,o cam-
po em que dominava S.
''^' 491
era ;i Regia 5 doar, com os
ícus relâmpagos, & rayos ,;
& com todos . 05 o Litros;
meteoros ardentes , que
nelle acende o fogo , env
que também entraó os va^^
ftiílimos corpos, 6c formi^
dáveis incêndios dos Ca-r
metas Efte univerfal do-
mínio como governadora,
& protectora exercitou a
noílà Santa pí^fk-eípaço
mais de mil annos,que tan-
tos fe contarão defde o feu
martyrio atè o anno jà re-
ferido de mil trezentos &
quarenta & quatro. E fa-
ço aqui efba diílinçãd de
tempos , & de poderes j
porque nefte anno fe acre-
centou à mefma Santa fo-
bre a jurdíção do fogo ele- Sponda-
mentar , & natural , a dos "oaíl
fogos artiíicíaes,cujospro-^^i '344-
digiofos exceíí<^s , que ca-
da dia vemos crecer mais>
«Sc mais com novos horro-
res da natureza , entaó ti-
veraó feu principio. Com-
razão clamão as Efcritu-
ras, que das pa rtes S eren->
trionaes,& do Norte faí->
ria todo o mal. Aílim fe vio
na Germânia^ porque del-
ia
i
i-erem.
1.13.
49 J Strmaode
la fahio naquelle annopa- ria, porque, atè entaó efta
rapefte imiv^erfal do gé-
nero humano a fatal invé-
ção da pólvora , fendo feu
defcobridor Bertoldo Ne-
gro, o qual jà trazia no ap-
pellidoacor,quehavia de
ter o feu infernal invento.
O primeiro Profeta , que
profetizou os males , que
no Setentriáo haviaó de
terfua origem , foi Jerc
va cncerradOi , & oculto
nos fegredós da natureza ,
& quando fe inventou, en-
tão fe àç^Çzohxio^T andetur .
Os primeiros q feachaó
haver ufado da artelharia
pelo artificio da pólvora
(^ao menos na Europa] fo-
ráoos Mouros contra os
Chriílãos na Batalha de
Al2;ezira em Hefpanha.
mias, quando em figura de De maneira, que bem ad-
húa caldeira ardente ,0/- vertida a Chronologia dos
Iam fuccenfam ego video ,
vio o incêndio, com que
Nabuzardaó havia de
abrazar a Jerufalem. E
verdadeiramente que as
fuás palavras muito mais
naturalmente fe podem
entender do incêdio , com
que Bertoldo abrazou o
mundo. Ab Aquilone pan-
detur malum fupcr
tempos, no mefmoíeculoj
&quaíi pelos mefmos an-
nos tiveráo feu infauílo
nafcimento as maiores
duas peíles do mundo , a
pol vora,& o Império Oto-
mano. E parece que aílim
eílava profetizada húa, U
outra muitos feculos antes
por Daniel no Capitulo fe-
timo. Fallaallio Profeta
»rt*..*, ,„^^^„* y,*y^t/ 01717168 w inn vy . X til ia a £ H W XlUH.La
' '^"^^ habitat ores terra. Aquelle dos quatro mais famofos
fogo abrazou fomente os Impérios do mundo , &
habitadores de Jerufalem ,
eítetemabrazado, &:con-
fumidoatodas as naçoens
do mundo. E delle íe diz
com maior propriedade ,
^andetur malum , que o
malfc abriria, 6c defcobri-
com grande efpecialidade
das três partes do Roma-
no, que lhe havia de rou-
bar, &: dominar o Turco
na Afia, na Europa, 6c na
Africa,chaniandoao mef- Daniel-
mo Turco> Comu par\,uLú^ 7.8.
pela
W
bid.
SjBarbara.
pela baixeza de feus prin- Deos
cipios. E na mefma or-
dem da narração diz, que
vio a Deos aíTentado no
trono de fua Mageílade, &
queda boca lhe faia hum
rio de fogo arrebatado:
Fluvim igneusy rapidus que fua Providencia, que fe fa-
•'° egredtebatur à facie , hoc çáo. Efteriopoisdo fogo
efiy ah ore ejus. E que rio » - ^ ^ ^ . ^ ,
de fogo nomeadamente
arrebatado, & furiofo hc
eíl:e,fenaó o da pólvora,
inventado no mefmo tem-
495
porque naó fó as
coufas naturaes faó efFei-
tos da fua boca , & da fua
vozilpfedixityCrfaãafunt'^ ^'^^"^
fenaó também as artifi- ^^'
ciaes, quando querendo,
ou permitindo difpoem
arrebatado, & furiofo da
pólvora fe dividio logo
em tantos canaes , huns
maiores, outros menores,
quantos faó os canos de
po do Império Turquefco, ferro, ou bronze,por onde
como logo nota o mefmo o mefmo fogo furiofam^-
I. Profeta : Afpiciebamprop- te rebenta , & por iííb fe
ter vocem fermonum gran- c ha mão bocas de fogo. Na
diiim^ quos cornu illud lo- Cavallaria as pifl:olas,& as
quebatur ? Era o author à^-
Ite invento de profííTaó
Religiofo, ao qual, como
bem diz Eípondano , fora
melhor, que notempo, em
quefaziaaquelías experi-
ências, fe eftiveíFe enco-
mendando a Deos : mas
permite o mefmo Deos
lemelhantes invençoens,
aflim para caftigo dos
máos, como para gloria, &
exaltação de feus Santos.
Primeiramente faia efte
caravinas, nos Infantes os
mofquetes,& os arcabu-
zes, nos exércitos, & nos
muros das Cidades os ca4
nhoe^SíÔc as culebrinas»^ E
todos eHes infíru mentos,
& os que os manejaó, fica-
rão defde entaó fogeitos
ao imperio,& debaixo da
protecção de S. Barbara.
4f I Vede quanto íe
aumentou o feu dominio
comoinvento da pólvora
na mulddaó,na variedade.
rio de fogo da boca de naforçajnos eíFeitos , &
ain-
Sermão de
flicilidade dos tanta mulrídaó de rayos,
quantas faó as pedras das
fuás muralhas. Os rayos
que caem do Ceo em mui-
tos annos/aó contados, os
quefe fulminaó da terra
na bataria, ou defenfa de
húa praça, naó tem conto.
ainda na
tiros, í^ machinas de fogo,
a que prefide. Para fe ge-
rar hum rayo he neceíla-
rio, que as terras naó fejaó
extremamente frias , que
por iílb na Scithia faó ra-
riíUmos : he neceíTario,
que o tempo feja Eftio, ou Ainda quando os do Ceo
Outono: que as nu vens fe- fenaó contentaó com fe-
jaó efpeíTas, & húmidas
que as exhalaçoens fejaó
fecas & cálidas : que o mo-
vimento, ou anteparifteíis
as acenda : que a rotura por
onde fae feja pela parte in-
ferior,& não pela de cima:
6c que a matéria feja craííâ,
& pingue, porque fenam
diflipe, ou apague o fogo,
antes que chegue a terra.
Tudo iílo he necefiario
para formar hum rayo na
Região do ar. Na terra po-
rèm, quam pouco bafta .?
Bafta que aos que tem o
fupremo poder lhe fubá à
cabeça hum vaporíinho,
ou de cobiça, ou de ambi-
ção, ou de inveja, ou de
ódio, ou fomente de vai-
dade, &: gloria , para que
contra hua fortaleza , ou
fobrehúa Cidade chova
rir os montes , ou com fe
em pregar nas feras, & nas
eníinhas, ou fó com meter
medo aos homens 5 raro he
o rayo, que feja reomais
que de hum homicidio.
Mas os que faem de húa
peça de artelhariajfe o naó
viftes,ouvi o eílrago, que
fazem. Na batalha naval
entre os Ccfarianos , &
Francezes na ribeira de
Salerno matou húa bala de
artelharia quarenta Ceíà-
rianos: Na batalha cam-
pal dos Alemães contra os
Efpanhoes junto a Rave-
na matou outra peça com
hum íó tiro mais de cinco-
enra Alemães : Na guerra
de Alberto Cefir contra
os Polacos em Bohemía,
não clizem as hiílorias ác
qual das partes, mas afiir-
maó.
S. Barbara. 4Pf
maó, que húa fó bala ma- ferno havia de fair apol-
tou oitenta foldados. vora,dc nenhum modo
4f2 Que femelhança dera ao rayo o nome de
tem com a fombra difto as inimitável, pois a noílà ar-
telharia naô fó o imita,mas
vence. Todo o apparato,
& fabrica eftrondofa de
hum rayo a que fe reduz
no ar ? A húa nuvem 5 a hu
relâmpago, a hum trovão >
& aomefmorayo. Etudo
iílofe vèj&exprimenta có
ventagem no tiro de húa
peça. O fumo he anuvem>
o fogo o relâmpago , o ef-
trondo o trovaó , a bala o
rayo. E digo com venta-
gemi porquea nuvem aca-
bou no primeiro parto , &
em fe rompendo fe desfez,
êcdefvaneceo: & a peça
inteira , & folida dura an-
nos,ôc fecuIos,defparando>
& lançando de fy no mef-
mo dia, & na mefma hora
naófohum, fenáo muitos
rayos. Pouco ha diííemos,
que o fogo natural era eíi
teril, & náo gerava ; mas
depois que o Artificial fe
ajuntou com a pólvora em
todo o género de viventes
tem filhos de fogo. Ani-
nhara, que do mefmoln- mães defogo nos camelos,
íer-
Balliílas, as Tcrebras , os
Arietes,as Catapultas, &
todos os outros inftrumen-
tos bellicosjque com tanta
força de engenho inventa-
rão primeiro os Gregos,
depoís os Romanos , &
com canta força de braços
naó confeguiaó em muito
tempo^éc trabalho, o que
faz em hum momento húa
maó com hum botafogo.^
Muitos ouve 3 que quize^
rao imitar os rayos, que a
Í;entilidade chamava de
upiter , em que foi taó
famofa a arrogância de
SulmonReyde Elide vi-
vendo, como he fabuíofo
no Inferno o caíligo do feu
atrevimento. Virgílio lhe
chama louco, porque quiz
imitar o rayo, que nam he
imitavel.
*DemenSiqui nimbo 'i & non
imitabilefulmen
^^re^ér comipedum curfu
Jtmularat eqmrum.
Mas fe a fua Mufa adevi-
49^
Sermão de
I
'<-
ferpentes de Fogo nosba-
íiliícos,aves de fogo nos
falcoens 3 & em todos os
outros inílrumentosfulfu-
reos,homcnsdefogo. Ho-
mens de fogo na artel lia-
ria , homens de fogo nas
bombas, homens de fogo
nas granadas, homens de
fogo nos petardos,homens
de fogo nos trabucos , ho-
mens de fogo nas minas,6c
aílímíbbre a terra, como
debaixo delia homens de
Averiguada conclufaõ hc
entre os Meftres de haa,5c
outra milicia , que compa-
rada a da terra có a do mar,
eftahe muito mais traba-
Jhofa,&perigofa. Na terra
peleja contra vòs hum ele-
mento, no mar todos qua-
tro : na terra tendes para
onde vos retirar, no navio
eftais prefo, &naó ttndQg
outra retirada,que lançau"
dovosao mefmo mar. Na
terra ajudão huns cfqua-
fogo,que nelle, & delle vi- droens a outros efquadro^
vem, ens,& huns terços a outros
terços, no mar eílais com
os companheiros à viíla,&
nem elles muitas yqzqs vos
podem foccorrer a vòs,
nem vòs a elles. E quanto
ao exercício da artelharia,
na terra borneais a voíía
peçacuberto de hum pa-
rapeito de pedra de cinco
pès, ou de hua trincheira
defcixinade dezoito, no
mar dctraz de húa taboa
de três dedos. Na terra cor-
re a artelharia íobre huma
efplanadaíirme, ^fegura,
nomarfobre hum convéz
í l- m p rc i n qu i c to , &: ta m -
bem inquieto da parte có-
traria
§. VIT.
^^l np A5 neceílario
X he ao intrépi-
do, &: temerofoofficio da
artelharia ( que tudo iílo
comprehende) opatroci-
nio deS.Barbaranaterra.
E pafíando da terra ao
mar , bem fe deixa ver
quanto mais importante
ferà,6c quanto mais admi-
rável,& milagrofo , defen-
dendo aos que pelejaó có
os mefiiios inftrumentos
de fogo, metidos em hum
lenho, ôc fobre as;ondas.
S. Barbar a.
'497
traria o ponto a que íe ni-
vella o tiro. Os Gregos
chamarão àpeça de arte-
Iharia bombarda pelo boa-
to 5 os Latinos tormentum^
pelo que atormenta o cor-
po oppoílo que fere : eu na
terra chamaralhe tormen-
to,&: no mar tormenta : Ig-
niSi é^fulphnr , érf^iritus
frocelUrum. Grande ci-
rcncia Geométrica he ne-
ceílaria para entre dous
pontos inconftantes tirar
Âúa linha certamente re-
éba, qual ha de feguir a ba-
lapara fe empregar com
cíFeito. Mastudo iílo pò
de fazer o fabio artilheiro
náutico có maiores eílra-
gos do inimigo , dos que
acima referimos , confe-
^uindo com hum fô tiro,
por fer no mar, o que nam
pôde foceder na terra. Ex-
plicarmehei com hum ex-
emplo famofo da fagrada
Efcritura.
4jr4, Por occafiaó do
ieílamento de David faz a
Efcritura hum Catalogo
dos feus mais iníignes Ca-
pitaens, que he a melhor,
& mais preciofa herança ,
Tom./.
que Hum R.ey pode deixar
a feu filho,eomo bem o ex-
primentou Felippe Segú-
do nos que herdou de Car-
los. Começa poiso Cata- 2. ^^^
logo :Hac nommafortium ^^^•
T>avid: Eftes faó os nomes
dos valentes de David. E-
rão eftes valentes trinta,eA
colhidos entre todo o exer-
cito, os quaes fe chamavaé
os trinta fortes de Ifraeí;
deftes trinta eraó efcolhi-
dos três , os quaes íècha-
mavaó os três fortes: & de-
ites três era efçolhido hu,o
qual naó fe chamava o for-
tiííimo, fenaóo fapientif-
fimo. As palavras notáveis
do Texto faõ eftas : Sedens
in cathedra fafientijjimus
^rinceps inter três : ipfieft
quafi tenerrimm ligni ver-
miculm^ qui oãingentos in-
ter fectt impetu uno. Eftà af-
fentado na cadeira o Prin-
cipe fapientiílimo entre
três, o qual de hum Ímpe-
to matou oitocentos, &he
como o bichinho fem for-
ça vqueroe as raizes da ar-
vore. Três duvidas nam
vulgares tem eíle Texeo.
Se eíte primeiro , & mais
li afFa-
4^8 Sermão ãe
atFamado Capitão de Da- tem acontecido , fcm dii
■!;•'■'
Vià. matou oitocentos^ co-
mo os podia matar de hú
fó Ímpeto, Interfecit oãm-
gentos impetu une ? E fenaó
fó entre os trinta , fenaó
entre os três fortes de If-
rael,eraelleomais forte;
porque naó fe chama o
fortiílimojfenaó fapientif-
íimo , SapientiJJimm inter
fr^^ .<^ Final mente, feaquel
vida a deitara a pique com
hum fó tiro, & no tal cafo
dehumfó Ímpeto matará,
oitocentos, & ainda mais
homens : Occidit oãingen-
tos impetu uno. E por húa
vitoria taó notável , que
nome,ou fama alcançara o
Artilheiro? Naó nome,ou
famadefortiíllmo, fenam
<ie fapientiílimo ; porque
Ia fua grande façanha a de- aquellaacçaónaó foi obra
clara a Efcritura por hua das forças do feu braço ,
comparação ; porque fe fenaó da ciência pratica
compara a hum bichinho daGeometria militar,com
femforçajque rocas raízes que governou taó acerta-
da arvore .-7/7^^ í^«^í/^;;í damenteotíro,& por iíTo
tenerrimus ligni vermicw fapientiíTimo na arte: Sa-
/ííj ? Deixada a interpreta- fientijfimus inter três. Fi-
ção literal defta hiííoria , nalmente, para tirar a ad-
quc naó he fácil > eu que fó miraçáo de hu m taó gran-
areferi,& tomei porexê- deeftrago, executado por
pio, digo,que nella eftà ad- hum inltrumento fem for-
miravelmente retratado ças,traz a h fcritura a com-
quantopòde obrarofabio paraçáo do bichinho, que
artilheiro com hum fó tiro fem ellasroeo as raízes da
iiaónaterra,fenaónomar. arvorej porque alojados
Atirando a hua Capitania, muitos homens debaixo
ou a outra grande nao de de húa grande arvore , fe
guerra,fe lhe penetrar có ella por Jhe faltarem as
abalaopayolda pólvora, raízes cahio fubitamente
ou lhe romper outra par- fobreelles, a todosoppri-
tevital^comoalgúasvezes mio,ac acabou de hum fô
SiBariãfâ. 499
golpe, T^aõ fendOi a eauía tccçaó, que nos defenda, &
principal de tamanha rui- livre. Verdadeiramente,
na a grandeza, &: pefo da
arvore, fenaó o bichinho,
que lhe roeo a raiz : Ipfe e(t
tanquam tenerrimu^ Ugni
njermkuliís, -■'
45" f Por eíle íingular
exemplo fevé quãto mais
poderofa he a artelharia
no mar, que na terra ^aju-^
dandofe,6c dandofea maó
o Elemento da agua com o
do fogo. Jà antigamente
tinhaó feito a mefma com-
panhia entre fy eftes dous
Elementos contra Faraó
no Egypto : Grando^ & ig-
nls" mifia pariter fereban-
tur\ & a mefma fazem na-
turalmente em todas as
batalhas, ou conflitos na-
vaes. O fogo queima , a
agua afoga, o fogo mata , a
agua fepuita. Mas fe tanto
he oeftrago i que faz yi &
pôde fazer hiia peça de ar-
telharia nas nãos inimigas,
daqui fc deve fazer refle-
xão, ( como a fazia Aga-
menon no incêndio de
Troya ) que o mefmo fará
nas noífas, fenão tivermos
álgúa mais poderofa pro-
que he tão pia, & chrifl-ãá-^
como bem entendida ar-
chitedura aqueila, có que
cm todas as nãos de guer-
ra) que faò Cidades nadan<-
te«, a cafa que os Hereges,
6c outros menos devotos
chamaó praça de armas,
nòs como templos peque^
nos a dedicamos a S. Bar-
bara, & a fundamos fobre
osalmazens mais fecretos,
cnl q a pólvora vai guarda-
da.. Como fe diíTera a noA
fa Fè, ou a nofla confiança
com os olhos na vigilância
de taó foberana Protefto- yiztth.
ra: Non fínetperfodi domuni ^4-43 •
fuam. Para mim naó íaô
necefl^arios outros nviía-
gres de S. Barbara, mais q
eíle taó univerfal , & taó
continuo em todos os va-
fos de guerra prenhes de
mais aparelhados incen-
dios,queo cavallo Troya-
no.
4f6 Vendo Moy fes nos
defertoà de Madian, que á
Çarçaardia,&naó fequei- ^^^^
mava, difle : Vadam^ & vi-^ ^ 3° '
debiivifivnemhcmc magna \
liij Q£^
w
■!í>'
iif
f^ Sermõde
Qyero ir Ter efte grande E defta mefma ncceílida-
^ilagre. O milagre confí. de de comer para fe íu-
ítia,cm que eftando o fogo ftetar, nafce aofogoaquel-
tao vifinno à Çarça , ella Ja voracidade,com que taó
com tudo íem o admitir
em fyy eíliveíTe taó verde ,
que como bem dífíh Philo
Hebreo, mais parecia que
a Çarça queimava o fogo,
que o fogo a Çarça ;& que
cm vez de o mefmo fogo a
abra2ar>a regava,para que
mais reverdeceíTe. Por iíTo
facilmente fe atea,&:tan.
to mais, quanto a matéria
he maisdifpoíla. Suppofto
iílo,quem naó terá por mi-
lagre, & continuou mila«
grés de S. Barbara, princi-
palmêtenas nãos de guer-
ra, em que perpetuamen-
te fc conferva o fogo , &
Moyfes não folhe chamou muitosfbgos, abílerfeelle
milagre, mas grande :F/^ de fc atear em matérias
/wnem òancmagmm.E nao taó difpoílas^como as dos
leria grande,nem milagre, mefmos corpos navaes ?
leafome , & voracidade Pode haver matéria mais
do fogo naó foífe qual he, difpofta,& mais golofa pa-
U myft eno com que os ra o fogo, que taboas fecas.
Antigos fingirão a Vulca- breu, alcatram, fevo, efto-
no Ueos do fogo manco,& pa,& pólvora, & tudo ííIq
arrimado a hum bordaÓ, aíTopradodos ventos , ôc
lie porque fó o fogo entre em perpetuo moto , que
todos os Elementos necef- por fy mefmo he caufa do
lita demateria, em que fe calor, & o calor do fogo ?
luífente. A terra, a agua,o Se as nuvens húmidas, &
arfuítentaÓfe , & confer-
vaófe em fy mefmos, o fo-
go fe naó tiver em qiiefe
íuííente,apagare, & morr
re. Aíli.n fe apagou nas
alampadas das Yirgensi
frias naturalmente produ-
zem fogo por antepariíle*
íis, como naó obra os mef-
mos cffeitos em matérias
tão difpoílas todo o Ele-
mento da agua , que as ro-
nekías pola falta de óleo. dea,por natureza mais hu-
midoj
S Barbara. foi
mido , Sc mais frio ? Mas defcartegando pólvora, &c
para que faó argumentos,
onde as mcfmas maravi-
lhas fe demoftraó melhor
nas experiências da vifta,
do que as pode coníiderar,
ou arguir o difcurfoíPcn-
devos no Galeaó S. Do-
mingos, Capitania Real
de noíía Armada nas qua-
tro batalhas navaes de
Pernambuco, fuftentando
a bataria de trinta & cinco
iiaos Olandezas ; & que he
tendo nas mefmas mãos
os murroenscom duas me-^
chás acefas, ou os botafo-
gos fíncados junto aos car-
tuchos : & que bailando
qualquer íaifca para exci-
tar hum total incêndio, Sc
voar em hum momento
toda aquella maquina: que
entre tanta confufaó , Sc
viíinhança de pólvora , Sc
fogo , eíliveíTeo Galeaó
tremolando as fuás ban-
o que fe via dentrOj^ fora deiras táo feguro,& fenhoir
cm toda aquella fermofa, do campo, como húa roca
& temeroía fortaleza nos
quatro dias deíles confli-
tos ? Juga va o Galeão fef-
fenta meyos canhoens de
bronze em duas cubertas
batida fó das ondas, & naó
das balas j quem negará
que fupriaalli a vigilância}
& patrocinio de S. Barba-
ra,o que nenhúa providen^
tinha guarnecidas porhú, cia humana podéra evitar?
&: outro bordo o convèz.
os caítellos de popa , Sc
proajas duas varandas, Sc
as gáveas com feiscentos
mofqueteiros. E fendo hu
Ethna, que lentamente fe
movia, vomitando labare-
das, & rayos de ferro , Sc
chumbo por tantas bocas
maiores,ác menores : dan-
do todos , Sc recebendo
pólvora , carregando , Sc
'^ Tom. 7.
457 ÇObre eft'fe^cOv
reconhecimento, - que vi**
vaSjSc louvores deve toda
a nlilicia Catholicâ, aíílní
no mar , como na terra, m
fua grande Prote£bora ? Sc
que documentos darei eu
aosGíficia^s maiores, Sc
li iii me-
Vil
1
.<.,
;,
li'
1
1M
tj
1
1
1
<
a
ii£.
^
4Reg.
2.11,
5^^ SennaÕde
menores da nobiliirima ar- os rayosdoSoI jde outros
tedaartelharia,feus fub
ditos,& devotos .? Para o
triunfo de S. Barbara fe me
ofFereciaa Carroça de E-
lias por fer de fogo : mas
lugares da mefma Efcri-
tura tiraó os Santos Padres
a verdadeira caufa. Eftan-
do Elias retirado em hum
monte, mandou-o chamar
pofto que tao fmgular en- ElRey Ochofias por hum
tre todas as que vio com Capkaõ de Infantaria,
admiração o mundo, por- acompanhado de cinco-
quedenenhú modo igua- enta foldados , o qual lhe
la apompa,8c mageílade, deo o recado do Rey com
quehe devida às vitorias eílas palavras: Homo 'Bei,
da noíTa Santa , fó nos fer- hac dicit Rex : Feãma^def- \ ^,'«'
vira para notar no mefmo cende: Homem de Deos, "
fogo a diíferença , como diz ElRey, que decais lo-
fervemas fombras , & os go, &: lhe vades fallar. E
oppoftos para mais illu- que refponderia Elias? Si
ftraroscontrarios.Defcre- homo T> d fim , dtfce.idat
vendo a Efcricura o modo, ignis de C^lo, & devoret te ,
com que Elias arrebatado &qmnqítaginta tuos : Se
da terra fe apartou de Eli- fou homem de Deos , deça
feo, diz que foi em huma foçro do Ceo, que te abra-
xrarroça, porque tira vaó ze^^a ti,&:aos teuscincoen-
cavallos,&que a carroça, ta. Allím odiíTe j&aíllm
&oscavallostudo era de fe comprio logo : deceo
fogo:^:? ecce currm ignetis, fubitamente fogo do Ceo,
& equt ignei divifenmt queabrazou,&confumioo
íitrumqne. E fendo que o CapitaÓ, & os foldados.
Texto fagrado naó dane- Sabido o cafo por ElRey,
fte lugar a razaó , porque mandou outro Capitão có
triunfou Elias pelo ar em
carroça de fogo , podendo
fer antes de nuvens mais
viftoíamcnte douradas c6
outra companhia do mef-
mo numero: 6ccomoeíle
déí^Q o recado com igual
comedimento; a rcpofta
. I .w , de
tornei.
1 cap.
:ccl.
8.8.
S.Bar
de Elias foi como a pri-
mcira,& o Capitão , & os
foldados todos foraó abra-
zados com fogo doCeo cm
hum momento. Tal era o
império, que Deos tinha
dado a Elias fobre o fogo,
de que eile ufava taó def-
poticamente : & efta foi a
razaó , porque o mefmo
fogo, comofogeito,&fub-
di to fcu, fe donverteo cm
carroça, & cav:9-Hos para o
levarem triunfo: IgnisE'
liam quafi fuum imperato-
rem rever etur , et que quafi
famulus fuum ultro offert
obfequium^ diz có S. Chry-
foílomo, & os outros In-
terpretes literaes , Corne-
lio.
4f8 Combinemos ago-
ra fogo com fogo, império
Gom império, & Barbara
com Elias. A Elias , & a
Barbara deo Deos o impé-
rio do fogo 5 mas com que
diíferente mageílade exer-
cita hum , & outro o mef-
mo império.? Elias manda
ao fogo que queime , &
Barbara,que haó queime :
Elias mandalhe, queabra-
ze homens A Barbara,que
bar a, 5-03
os náo toque : obedecci\-
do porem o fogo a Elias,
queima,&abraza como fo-
go que he, mas obedecen-
do a Barbara, como feper*
dera a própria natureza,
quaíi deixa de fer o que he,
por naó faltar ao que deve.
Da parte de Elias parece
que he igual o poder no
império , mas da parte de
Barbara moftra q he mui-
to maior na obeuiencia.Sc
quando Daniel foi lança-
do no lago dos Leoens , el-
les o coméraó, naó era ma-
ravilha : mas que famin-
tos, & como paílo à viíla
refreaíTem a própria vora-
cidade, a fua abftinencia
era a que provava o mila-
gre : & aquillo he o que fa-
zia Elias nos homens, que
dava a comer ao fogo , iílo
o que faz Barbara nos que
livra dos incêndios. Ver-
dadeiramente era galante
a confequencia, com que
Elias fazia decer o fogo áo
Ceo .' St homo ^eifum^def-
cendat ignisde CaíOy & de-
vorei te : Se fou homem de
Deosjdeça fogo do Ceo, q
te abraze. Bafta que o final
li iiij de
g,
50+ Ser
de íer de Deos era abrazar,
& confumir homens ! Pa-
ra bem parece que havia
de dizer,Se fou de Deosjeu
rogarei a Deos por ti, eu te
guardarei, eu te defende-
reij & ifto he com que pro-
va a noíTa Santa fer mais
propriamente de Deos. fi-
lias imperando ao fogo,
moftrava que era de Deosj
mas de Deos vingador, de
Deosrigorofo, de Deosfe-
vero : & Barbara no mef-
mo império moftra tam-
bé que he de Deos; mas de
Deos perdoador, de Deos
piedofo , de Deos benig-
no, emfím de Deos, no de
que mais fe preza Deos.
4fp Naó ha duvida,
que na comparação de im-
pério a império, o ufo , &:
exercício dcMc foi muito
mais humanOj& benéfico ,
ScporiíTo mais divino em
S.Barbarajqueem Elias. E
paífandoa comparação de
togo a fogo,aí]im como no
que domina S. Barbara
defcobriremos húa grande
novidade, aílim na combi-
nação do mefmo dominio
fuljiiemoscom a verdade,
maÕde
onde fó pôde chegar o en-
carecimento, & de nenhu
modo paíTar a imaginação.
JàdiíTemos, com a opi-
nião comum dosHiftoria-
dores,quem,&quãdofoi o
primeiro inventor da pol-
vora. Mas febéfe lerem, &
entenderem as Efcrituras ,
acharemos,que quatro mil
annosantesa tinha jà in-
ventado Deos no fogo ar-
tificial, que cho\^eo fobre
Sodôma. Que foíTe artifi-
cial,& não natural aquelle
fogo, confiadas palavras,
com que Moyfes refere a
mefmahiftoria, dizendo,
que o Senhor choveo do
Ceoenxofre,6c fogo feiro
pelo mefmo Senhor : 'Do-
mintís phíit fiiper Sodomam ceneC
fulphur^a 'tgnemàT>om'mo 'i'^^
de Calo. Onde he muito
novo,& digno de fe notar
aquelle termo, Tiommiisà
'Domino, para declarar,co-
moadv^crtcm todos os in-
terpretes, que tal género
de fogo não foi eíTeito das
caufasnaturaes, masdaar-
tcj^Sc íabedona divina, a
qual não cria nada de no-
vo, mas das coufas jà cria-
das,
S\ Barbara. ^05-
áas,compondo-as, & unin- fornalha de Babilónia, re-
do-as entre fy, produz ef- prefentavaa fegunda pef-
feitos novos,& maravilho- foa da Trindade, o Filho :
fos, qual foi aquelle fogo Etfpeciesquarti fimilis Fi-^^'^^'''"
verdadeiramête artificial. lioT)ei.^ E quando Deos
Mas que o artifício foíTe o
mefmo da polvorajnaó ba-
ila efte fó texto para o pro-
var, porque fó faz mençaó
do enxofre, Ignem^ & fui-
phur. Temos porém outro,
em que o mefmo Moyfes
no Deuteronomio torna a
defçrevero mefmo fogo,
& diz expreíTa mente, que
para livrar a hum homem,
qual era Loth, do primei-
ro incêndio da pol vorajco-
mete efta diligencia a dous
Anjos,& eífes reprefenta-
doresdeduas peíToas di-
vinas j vede qual he o im-
pério, o dominio , & a jur-
diçaó de S. Barbara, pois a
ellafó encarregou Deos o
eracompoftode enxofre, cuidado,&fuperintenden-
&falitre jquefaóos dous ciauniverfal de livrar, &
ingredientes da pólvora: defêder a todososhomés,
Sulphure^ & falis ar dor e aííim na terra , como no
comhurens, in exempB Jub- mar,do fogo, ^ incêndios
verfionts Sodoma, Deíle fo- da mefma pólvora I
gopois,&do primeiro in- ^60 Fabriquem pois
cendio , que caufou no os Serafins, que faó eípiri-
mundo a pólvora, livrou
Deos a Loth. Mas por
meyo de quem ^ Nam fó
de dous Anjos , mas eífes
reprefentadores de duas
peíToas divinas , porque
craódous dos três , que
aparecerão a AlDraham no
valle de Mambrè Q bem
aíTim como o Anjo, que li-
vrou aos três mininos da
tos também de fogo,novo
carro triunfal a S. Barba-
ra, melhor, & mais gíorio-
fo que o de Elias : di^ntQ
do qual naó fejaó levadas
em urnas triftes,& funeílas
ascinzaáde homens abra-
zadcSj^f morros, mas vi-
vo», & dando vivas à ío^
berana Froteéiora todos
arquelks [ numerofem nu-
mero j
S*^^ . Sermão de
mero] que liyroiido fogo, vosaproveitar de hua fó
& dos incêndios. E o noíTo
mÇxgnç^ Capitão do mar,&
da guerra, que hoje có tan-
to apparato , & grandeza
celebra a mefma triunfa-
dora, leve como nobiliíll
coufa boa, que trouxe ao
mundo o uro,8c invento da
pólvora. DasBiborasnaó
fó fe tira veneno , fenam
tambê triaga. E que coufa
boa trouxe ao mudo a pol-
1 n ----""- -^^ •^ivyuA^.cn^aiuuoapoi-
ma partedosfeus triunfos, vora.^Hum defengano uni-
rodando em carretas dou- verfal,de que nenhnm ho-
radasos canhoens ganha-
dos em tantas,& taô famo-
fas vitorias , com os quaes
melhor, que com colunas
de bronze, fc honraó as
portadas defua illuftriíTi-
ma Cafa : digno fucceflbr
mem fe devejà fiar das
fuás próprias forças. An-
tiga mente havia Achilles,
haviaHercuIes,havia San-
foens : depois que a pólvo-
ra veyo ao mundo, aca-
boufe a valentia dos bra-
daquelle immortal Heroe, ços. Hum Pigmeo cÓ duas
quecomoMartedapatria, onças de pólvora pôde
adefendeonaguerra , & derrubar o maior Gigante
comoPay,cerradasaspor- Que fundamento cuidais
ínt-^r. í"*^' ^ ^^^°" ^^' ^^^^ ^ Filofofia Symboli-
" ^ ca das fabulas,para fingir,
que os Gigantes fizeram
guerra ao Cco,&quÍ2era6
toriofa em paz
§. IX.
4^1 17 AvôsCanimo
ílfos Miniílros
de Vulcano,que continua-
mente exercitais o perigo-
apear do feu trono a Júpi-
ter j fenaó porque enten-
derão , & quizeraó decla-
rar aquelles Sábios, que os
homens , que fe íiaó cm
lo manejo do fogo nos ma- fuás grandes forças,naó te-
lores, &: mais arrifcados mem a Dco^, nem o vene-
mílrumentos da voíTa ar- raó,como fenaó depende-
te; o que fó vos digo por raòdelle. Ouviaarroean-
fim ke,que nam deixeis de cia facrilega, 6c blasfema ,
cora
S. Barbara.
cóqfallavahú deíles cha-
mado Mefencio. Dextra
mthi T>eus , & telum , quod
mijjile libro : O meu Deos
he o meu braço,& a minha
lança. Por certo foberbif-
4,62 Sirva pois a pól-
vora, que fempre trazeis
nas máos^de vos lembrar o
perigo, em que igualmen-
te trazeis a vida , vivendo
de maneira jqueíejaagra-
íimo Capitão, que naó ha- davel a Deos, de quem por
vieis fallar táo confiada- taó ordinários accidentes
mente, fe fora em tempo,
que o menor foldadinho
do exercito contrario, vos
podéra refponder com húa
boca de fogo. Eíle he pois
o derengano,que trouxe ao
mundoapolvora,para que
todo o homem, Sc muito
mais os que vive na guer-
ra, & da guerra , fe perfua-
daó,quefó Deos lhe pôde
confervaravida, & naó o
feu braço, nemafua efpa-
da. Aííim o dizia David,
aquellefoldado tãoesfor-
çado,& tão forçofo , que
com as mãos defarmadas
efcalava Uííbs,'&; aífogava
Leoens: Glaâius meusnon
Jalvabit me.
eftà mais dependente, que
a dos outros homens. E va-
lendovos da poderofa in-
terceííaó da voíla vigilan-
tiíllma Protectora a glo-
rioía S. Barbara : de cuja
devaçaò,& invocação vos
prometo por fim, o que a
mefmaSanta tem provado
ao mundo com vários ex-
emplos. Ainda os que ef-
taó ardendo no meyo das
labaredas, invocando feu
nome,feelle lhes naó íal-
va totalmente a vida tem-
poral , ao menos lha íu-
ítenta quanto bafte, para
que, recebidos os Sacra-
mentos, alcancem a eter-
na.
SER
4(^3
SERMAM
DO
t
S A B B A DO
ANTES DA DOMINGA DE RAMOS,
r. na Igreja de N.Senhora do Defterro.
Bahiajanno de 1(^34,
CogitavermtTrincipes Saccrdotumut ò Lazarum in-
terfaerent^qtiia multipropter illum abíbant ex Judais^ &
credebantinlefum. In craftinum autem turba multa ^
qua venerat addiemfejiumycum audijfent quia ve-
nit lefiis Jerofolymam^acceperunt ramos palma-
rum^ò' procejjerunt obviam ei, Joann .12.
§. 1.
Thcmahe gran-
de , mas o Ser-
mão fera peque-
no. Saó as pala-
vras do EvangcliílaS.Joaó
aos doze Capítulos de fua
hiftoria fagrada ; querem
dizer: Fizeraó confulta os
Irincipes dos Sacerdotes.
Quando logo encontrei có
cíleprincipíojfiz eftacon-
fidcraçaó. Confulta, os
Principcsdos Sacerdotes!
Sem duvida , que fairáó
Sermão do Sabbado antes
delia grandes bens à Re-
publica:he gente Ecclefia-
llica, Re pelo confeguinte
dou ta, & fanta-, que fe pô-
de eíperar de h Cia confulta
fua, fenaó coufas de gran-
de gloria de Deos5& gran-
des bens dos homens? A f-
lim o imaginava eu, mas
enganeime. Contra Deos,
& contra os homens íim,
O que fahio da confulta,
foi, que em todo o cafo
inorreíTe Chriílo,Gomo no
dia dantes fe tinha decre-
tado) iíTo quer dizer aquel-
le Et^ut &Lazarum,como
interpretaó os Doutores:
^ naó fô q dêíTem a morte
a Chrifto, fenaó que tam-
bém tiraíTem a vida a La-
zaro , a quem o Senhor
pouco antes tinha refufci-
tado; Uf ò* Lazarum in-
ter jicerent. Hajuizosmais
apaixonados ? Ha fcntença
mais enorme ? Ora ouça-
mos as cauíàs,que allegaô ,
êc admirarnoshemos mui-
to mais. Morra, dizem,
Chrifto, porque faz mila-
gres , porque dá faude a
enfermos, êc vida a mor-
íosjporque he amado,por-;
âa dominga de Ramos, f o5>
que heeftimado, porque
he feguido : & morra La-
zarOjporque fendo refuf"
citado por virtude de
Chriftojhe caufa de o ama-
rem, de o eftimarem, de o
feguirem : ^lia multiprop- r^^j^^.
terillumablbant exludaisy »i-
Ò" credebãt in lefum . (^Hon-
ra do crime í 3 Tudo ifto mÍIÍ
paíFoucomQhoje: Ju era- ibidu.
jtinum amem : porém ao
outro dia, diz o E vangeli-
íla, que entrou o Principe
da gloria a cavallo por Je-
rufalem triunfando (^den-
tro porém dos limites de
fuamodeília, 6c humilda-
de ) fervindolhe de pom^
pofo acompanhamento a
multidão infinita do' po-
vo, que com palmas , & ac-
clamaçoens devoto o fe»
guia ; Turba mttltay qu£ ve-
ntratad diemfeftum^ acce"
perunt ramos palmarum^ ò*
procejferunt obviam eL Atè
aqui a letra do noílb The-
ma. O que temos que ver,
hehúa caufa cri mejfenten^
ciada, apellada, revogada.
Do primeiro tribunal fai»
ráó culpados os innocen-
tes: do íegundg fairáò con-
denados
fio Sermão
denados osjuizes. Pouco
difto parece que eftà no
Tliema, mas tudo tirare-
mos deli e. Naoo moftro
logo, por naó gaílar dous
tempos.Peçamos a Graça.
í. 11.
' 4<>4 r^IziaPlatam,
JLyque os que
julgaô, ou governaó,era
bem que dormiíTem fobrc
as refoluçoensjquetomaf-
fem. Parecialheao grande
Filofofo, queojuizo con-
fulcado com os traveíTei-
ros, era força que faíííe
mais repoufado. AíHm
acontcceo aos noíTos Jui-
zes do Evangelho os Prin-
cipes dos Sacerdotes^ dor-
mirão fobre a refoluçam,
que hontem tomáraó^de
tirar a vida a Chrifto, po-
rém hoje acordarão em
Confelhocom hum confe-
lho taó deíacordado,conio
foi confirmarem hiia Ç^n
tença a mais injufl:a,a mais
barbara, amais facrilega^
que nunca íedeo, nem ha
de dar no mundo. Pergun-
tara eu a fuás Senhorias
do Sabbado
dos Principes ' dos Sacer-
dotes ;E bem, Senhores,
fazer milagres , refufcitar
mortos, fer cftimado, fer
querido, que culpa he, ou
contra que Ley? NoExo^
do, no Levitico , no Deu-
teronomio, que íàó os Câ-
nones por onde vos gover-
nais,naó ha Texto, que tal
prohiba : pois ignorância ?
Seria afronta de hum Tri-
bunal taó authorizado,
querer prefumila nelle.
Deoarazaóde tudoEuti-
mio em duas palavras;//^*
que t Ota res eft invidia. O
cafo he, que tudo nefte ca-
fo he inveja. Pois já me
naó efpantOjqueachaíTcm
os Principes dos Sacerdo»
tes na mefma bondade
crimes, na mefma innocê-
cia culpas,no mcfmoChri-
fto peccados , porque - nos
TribunacSjOu pubiicosjou
particularesjonde a inveja
preííde , as virtudes faó
peccados, os merecimen-
tos faó culpas, as obras, ou
boas calidades faó crimes.
40)'' Filava Saul hum
dia muito maicncolizado,
&íriíi:e, dcícjou quclhe
b«f-
'mtes âa T)omngã de Ramos] j i i
bufcaílem algum bom mu- zê os Doutores Hebreos j
fico, naófeife para fe ale- como refere Nicolao de
grarjfeparafe cntriftecer Lyra, queefte Cortefaó ,
mais. Acudio logo hum que aqui falloujCra Doeg,
dos Cortefaós , que o alli- capital inimigo de David.
ftiaó, dizendojque naó po- Capital inimigo de David,
dia SuaMagcftade achar & gafta tanta retho rica em
outro como David j por- feus louvores? Capital ini-
- que além de grande muíi- migo de David, & de hum
cojcra mancebo muito va- fundamento taó leve, co-
lente,de grande intelligen- mo fer mullco, toma occa-
cia nas matérias de guer- íiaó para fazer hum aran-
ra, cortefaó, avifado , gen- zel taó largo de fuás gran-
til-homem, & fobre tudo dezasPSim. Defcobriolhe
muito virtuofo,& temente
a Deos : Vuíifilium Ifaifci-
entempfallere , & fortijjl-
mum roborey & virum helíi^
cofum^& prudentem in ver-
bis^& vir um pulchrum , &
^ominus ejl cum eo : Ha
a tenção delicadamente
hum Expoíitor grave Por-
tuguez , & de nofla Com-
panhia : Sctebat Saulem ejje
mvidum^& alienis laudtbus
incredibiliter cruciar t : lau-
dat igitiir T>avidem apud
mais panegy rico que efte ? Saulem^ ut Saul invidiafti
Pareceme que eftaó dizê mulis agitatus interficiat
do todos os que o ouvirão, T>avidem. Sabia Doeg,que
que he grande coufa ter era Saul grande emulo de
hum amigo em Palácio, & -
que efte o devia fer mui
verdadeiro de David, pois
fabía fazer taó bons oííi-
ciospara com elle diante
del-Rey. Tal heo múdo,q
muitas vezes parece fíne-
David 5 que o invejava
muito , & como no juizo
dos invejofos os mereci-
mentos faó culpas, & as
excellentes calidades deli-
tos, louvou, 6c engrande-
ceoaDaviddiãtede Saul>
zas de amifadejO que faó para que Saul, como fez,
ódios reíinadiííimos, Di- défle fentenca de morte
con-
}v3^
fii Sc^rmaÕ do Saíhadõ
contra Da '/id. DiíTe, que como levava par cõmpa^^
era prudente , guerreiro,
esforçado, gentil-homem,
vírtuofo, & dotado de tan-
tas outras boas partes : &
quem bem entendeíTe to-
da efta ladainha de enco-
mios,& louvores, bem po-
dia dizer por D2Lvid)0rate
proeo. Eraò capitulos,que
contra elle fe prefentavaó
ao Rey, não menos que de
lefaMageftade. Pareciam
louvores , & eraó acufa-
çoens : pareciaó abonos, &
eraò calumnias. Calum-
niadooinnocente na fua
virtude, &: acufado o be-
nemérito nas fuás boas
obras, fem que à innocen-
cia fe lhe déíTe defefa, nem
ao merecimento lhe valef-
fem embargos, porque era
ojuiz a inveja.
466 Que bem o entê-
deoaílimo mefmo David!
nheiraafuafama ,& efta
nunca fabe guardar filen-
cioi começou a correr lo-
go pela Corte,que era che-
gado o valente de Ifrael, o
matador do Golias, aquel-
leaquemas damas de íe-
rufalemcompuzeraó a*le-
tra,que então andava mui- , j^.
to valida : Tercuffit Sanhi.i\
mi lie, T>avid decem miUia,
Coufa maravilhofa a que
íefegue! Tanto que che-
gou aos ouvidos de David
o que paíTava, diz a Efcri-
tura,que começou a recear
muito aparecer diante de
A chis : 'Fojíiit T)a\:;d Ser-
mones ijios in cor de fiio^ cJ- ^^^ '• '
extimiát valde a facie A-
chis Regi s\ &: a ultima re-
foluçaó que tomou, foi fu-
gir dalli , & irfe meter em
húa cova : Fugit antem inde
infpeluncam Odollam, Pois áfi?
Denos a confirmação, quê David, que rcfoluçam he
nosdeoaprova.PaíToufeo eílavoífa ? Que quer di-
Uf
perfeguido mancebo para
aCortede Achís Rey, &
Reyno contrario ao de
Saul,&: que por iíTo pare-
cia fcguro. Hia fó, defco-
nhecido,&: disfarça doimas
zerirdefv^os fazer Ermitão
de hum deferto , quando
vos YtdQs taõ acreditado
em húa Corte ? Qiiando
vos vedes com tanta fima
duntcdoRcy , para que
fií-
antes dã ^omln^
fugis de Tua prcfença ? En-
jCendia-o como prudente,
obrava como experimen-
tado. Saó os louvores no
pribunalda inveja accufa-
çoens: & porque David íe
viotaó louvado, homizi-
oufe. O verfe louvado era
yeríc aççufado, o ver fuás
grandezas referidas , era
•veras fuás culpas prova»
das, teve logo muita razão
de fe homiziar, & fugir tã-
to de fy,como de feus emu-
los. Os Satrapa9,& primei-
ros Miniílros de Achís
^raó mui picados de inve-
ja contra os Hebréps : &
<:omo havia de efcapar
4elles 5 & viver na mefma
Corte David criíiiinofo
das fuás vitorias, & Keo da
fuafama? Se fe diíTera de
David, queera hum falfa-
rioj hum perjuro, hú adul-
íero> hum homicida , hum
roubadordpalheoj&r ou-
tras baixezas, fe as ha ain-
da maiores 5 paíTeára Da-
vid na Corte , & entrara
muito confiado no Palácio
do Rey , porque ai li tem
(eílesferviços premio , ou
quando menos, paífaófem
Tom. 7.
\adeRdms^. yr^
caíligo: porem dizendofe
delle tantas virtudes, tan-
tas grandezas, tantas faça-
nhas, tantas excellenciasi
andou como prudente em
fe homiziar,em fugir j^por-
que todas eífas excellen-
cias,&: grandezas eraõ cri-
mes contra a peíToaj&pri-
vad!os de Achís, & delito»
fem perdaà contra as leys
da inveja. Coníidero eu ,
que ha mandamentos da
ley da inveja, allim como
haMandamentos da Ley
deDeos. Os Mandamen-
tos da Ley de Deos dizem.
Não matarás, Naò furta-
rás,Naó alevantarás falfo
teftemunho ; os manda mé-
tos da ley da inveja dizem,
naó feras honrado, não fe-
ras rico, não feras valente,
não feras fabio , não ferá§
bemdifpofto ,&: também
dizem , não feras bom
Prègador:&fcacafo Deos
vos Vez mercê, que foubef-
feis por os pès por húa rua,
que foubeífeis apertar na
mão húa efpada, quefof-
féis difcreto, generofo , ou
rico,ou honrado i no mef-
mopòto tiveíles culpas no
• ^ Kk ■ tri'^
f 1 4* Sermão do Sabhado
tribunal da inveja,porque o refufcitou Chrifto • que
peccaftes contra os feus culpa he fer hum homem
mandamentos. Por eftas refufcitado > Taò longe
culpas efteve taó arrifcado eft^ve de culpa nefte cafo ,
David, por eftas foi hoje quenem a teve em ado.
condenado feu filho Chri- nem em potencia , nem a
lio, que alllm lhe chama- teve, nem a pode ter Cu-
raó as Turbas no Evange- rou Chrifto hum moço ce-
\ho'. Hofanna fihopavid. godé feu nafcimento, &
Era grande Pregador, fa- perguntarão os Difcipu^
2ia muitos milagres, dava los, cuidando que excita-
faudea enfermos, refufci- vaóhúaqueílaódeRrande
tava mortos,& comoeftas habilidade; T^omme, quis joa
excellencias, ou eftas cul- pccavit, htc, aut Parêntesis-
pas eftavaó provadas com ejus, tit ca cus nafieretur >
osapplaufos,comasaccla- Senhor, por cujos pecca-
maçoens, com o amor, & dosnafceo efte moço ce-
feguimétodospovos,«^«/// go, pelos feus,ou pelos de
Mantexlua^ts, & crede^ ftus pays ? Rimfe muito
imntmlefum. Confirmou- defta pergunta os Expofi-
le o primeiro decreto , & tores , 6c em particular
fahio a fegunda fentença , Theophilado,porqu€ fe o
que morra Chrifto, ut & moço nafcéra cego por
Lazarum,tdeft, ut Chriftn, feus peccados , feguirfehia
à' Lazarum interfciant.
S' III.
4^7 lI)Emeftâ,cumal
LJeftà : porem a
Lazaro porque o códenaó?
Não lhe neguemos fua de-
fenfá natural. Sc o conde-
não , como dizem, porque
quepeccára antes de naf-
cer : & que maior difpai a-
te pode dizerfe, ou imagi-
nar, que ter hum homem
peccados, antes de ter fer:
ier peccador antes de fer
homem ? Naó menos ia^
nocente que il lo eftava
Lazaro. Eftava morto,
quando Chnfto o refurci-
tClí,
antes daT^omlnga de ^antof, fif
toMy &C por beneficio do como os demais , fizeralhe
naò fer eílava impeccavel. o pay húa túnica, ou pello-
Aílim que podemos dizer te, naó fei dé que eftofaíi-
delle neíle cafo, o que de
Eurialo diííe feu grande
amigo Niío ; Nihilifte^ nec
aufus^necpotmt^ Nem teve
nh2.mdhoryt uni cam foly-
mitamy com que aparecia
os dias de fefra na Aldeã
menos paftor que os ou-
^ulpajnemapodeter: in- tros.Ahquantos Jo^ésdc-
^nocenteemad:o5&empo- ftes ha hoje no mundo!
tencia. Mascomferaílím, invejados, murmurados,
faó taó linces os olhos da perfeguidos, porqueíPor-
inveja,que neíles impof- que Ihesdeoa fortuna c6
liveis de peccado defco- que trazer húa capa me-
briraó,&: acháraó culpas liior que a voíTa. AíTimef-
d i gnas de morte, ut & La- ta va condenado o innocê-
s^aruminterficerent.E^OT' te moço, quando trouxe
que?^//^[ eisaquiacul- íua ventura por alli hum
p:i )qu!a fmlti propter //- mercador Ifmaelita , que
fcnef.
7.t8.
bim credebant inlefum\^or
que muitos por caufa, ou
por õccafiaó delle criaó
cmjefu.
4,^ Fizeraó coníèlho
fobrejofeph feus irmãos :
fahio delle que morreíre,&
quafi com as mefmas pala-
vras, que temo^ no Evan-
gelho, o refere a Efcritura:
Cegitavertmt eum occidere.
Sabida a caufa, era porque
o amara Jacob particular-
mente, & além da famafrra,
prometeo por elle vinte
rcales, &os cobiçofos ir*
mãos, que eraó dez, por
quatro vinteins , que ca-
biaó a cada hum, venderão
a feu irmão, & as fuás cbn-
ciências.
^69 Tinhaólhejà des-
pido a túnica caufa das in-
vejas5& naó tinha bem vi-
rado as coftasjofeph, quã-
do os vendedores arre-
metem a ella,& a começaõ
a fazer,ou desfazer em pe^
ou pellote do campo com daços. Parai ahi ingratos
que hia guardar as ovelhas i;rmãos,parai,&refpondei.
Kkíj me^
5 1 6 SermaÕ
me, que quero arguirvos.
Não eftà jà vendido Jo-
feph? VoíTa cólera naõ eílá
jà vingada ? VoíTa fereza
não eílà jà ÍUísíqíxí-Sí ? EíTa
túnica que culpa tem, ou
que culpa pode ter ? Por-
que a fazeis em pedaços ?
Bem Çtiy que naó haveis de
ter boca para me refpon-
der, mas refponderà por
vòs Ruperto Abbadeiir^-
tern£ glorÍ£ monumentum
impeccabile Ç notai muito
a.que\lG rfnj)eccai?ik ^ Fra-
teriííe gloria monumentum
impeccabile laceratur : adeo
nec morte^nec venditionefa-
tiattir invidia. Nenhuma
culpa tinha a túnica dejo-
feph, que mal a podia terá
feda, oulãainfeníiveljfem
vida 3 fem alma , Tem von-
tade. Com tudo nefta in-
capacidade natural, & ne-
fte impoíUvel de culpa,
acharão híía os invejofos
irmáos,&: foi,fer inílrumê-
to da gloria de Jofeph :
Fraterna gloria monurnsn^
tum. Era prenda da parti-
cular afleição dcjacobjcra
gala com quejoíbph fe au-
thonzava, com que luzia
doSabbado
mais que os irmãos , com
que grangeava refpeito
noseílranhos , & ifto lhe
bailou por culpa, para fem '
culpa a defpedacarem:A/<?-'
numentum impeccabile la-,
ceratur. 1^2.0 fei fe fe pode- ■
ra achar em toda a Efcri-
tura paíTo que mais aovi--
vodeclaraíTe o queremos-
entre mãos. Nenhúa culpa-
tinha cometido Lazaro,
antes nem a podia ter quã-:
do o refufcitou Chrifto>
como vimos5& neíla gran-
de innocencia, antes nefta.
impeccabilidade foube a
inveja defcobrir culpas, &
culpas dignas de morte,,
que foraójferinfrrumento
das glorias de Qhníko.quia
multi propter illum crede-
bantinlefum. Fora famo-
faj&: mais que todas, a re-
furreição de Lazarojadmi-
randofe , & pafmando a
gente de ver paíTar pelas
ruas de Jerufalem o que ti-
nhaó viflo de quatro dias
morto na fepultura, & co-
mo toda eíla admiraram
redundava em fama , &
gloria do refu feita dor, por
íerinílrumcnto da gloiia,
dcíla
antes daT>õínmga de Ramos. fi/
defta" fama , condenaó â dia por JetUfalem triuii-
Lazaro a perder a vida: UP
éf Lazarum inter fie erent\
Bem aíTim como a inveja
dos irmãos dejofeph, nam
contente com fe vingar
nelle, paíTou a executar a
vingança na tunicá inno-
cente : Adeo nec morte , nee
farido, recebido com pal-
mas, & acclamadodo po-
vo : Acceperimt ramos pai-
marum , é' procejferunt ob-
viam ei. AíTim o diz o The-
ma. Mas vejo que me aí-
guem.Naó tinha eu pro-
metido ao principio, que
venditionefatiatnrinvidia, na revogação das fenten
ças, fícariaõ os Juizes con
^WW'l
i^un^j^'. oui
ror .ií:x?"up
470
I Ronúciada çô-
trà Chrifto, &
contra Lazaro eíla taó in-
jufta fen tença, como a in-
iioc^ncia quanto mais cal-
la,então allega melhor por
ly diante de DeóS , fervio
ãénados ? Onde eftáo èftas
condénaçoens ? Onde ef-
taó eftas penas ? EíTa he a
graçajferem-no, &nam o
parecerem. Não íè execu-
tar a morte de Lazaro foi a
primeira pena : entrar
Ghriílo por Jeruíàlem tri-
unfando foiafegunda.Ve-
efte íilencio de appellaçaó jamosa primeira,logo paf-
ante feu divino tribunal, faremos à outra.
Não tardou muito o def-- 471 Eftavajob cuber-
pacho Q que no juizo do to de lepra com as doreSj^c
Geo não ha dilaçoens3& ò trabalhos^ que tantas ve-
que fahio nelle foraó dous
decretos contra os dous
dos Pontifices nefta ma-
neira. O primeiro , quê a
fêntença dada contra La-
zaro fenaòexecutaíle:que
ficaíTefócm intentos, Co-
gitaverunt.O fegundo,que
Chrifto entraíTe ao outro
Tom. 7.
zes fe tem repetido nos
Púlpitos , & nunca aíTáz
exageradojcomeçaa quei-
xarfe, & dizer aíli m : T>ies
mei tranfierunt^cogitationes
tHeadiJipataJunt^ tor quen-
tes cor meum. Paíráraófe
meus dias 5 & os contenta-
mentos que neiles tinha
Kk iij tam-
Job. ,7:
II.
■^^PIP
Éd^
fiS Serrnao
também fe paUaraõ , que
para naó durarem muito ,
bailava ferem meus, T>ies
mel: alguns intentos que ú-
ve, cogitat tones me£ , abor-
toumos a fortuna^não che-
garão a ter execução, dijjl'
patíefunty 6c ifto, diz Job,
hea maior pena que pade-
ço , porque quantos foraó
cntaó ^íTqs intentosjtantos
verdugos tenho agora,que
me atormentaó a alma,
tor quentes cor meum. Naó
acabo de meadmirar, que
hum homemjque tanta ra-
zão tinhade faber avaUar
tormentos, fahiíTe com íe-
melhante queixa, t bem,
exemplo da paciência, taó
mimofo andais vós da for-
tuna, que de coufas taó
poucas vos queixais tanto?
Naó tendes perdas de fa-
zenda, mortes dos filhos,
mina da cafa,& do eftado,
doresjtriíiezas, defempa-
ros, miferias, o corpo feito
hCia chaga viva •, que tem
que ver com tudo ilto os
intentos naó executados,
para, fo yos queixardes
dellcs 3 Cogitãtio?ies mea
Jlpatafaut? Fallou co-
do Sahhado '-.>%
mo grande Meftre de par-
ciencia. Tinhatomadoos
pulfos Job a tudo, o que he
dor, a tudo o que hepena,.
a tudo o que he tormento ,
& porque achou, quenam
ha dor taó exceíltva , pena
taó cruel, tormento tão in-
fofrivel como hum penfa-
mento fruftrado , hum in-
tento fem execução; por
iíFo tendo tanto de que fe
queixar, fó fe queixa de fe
fruílrarem feus penfamen-
tos,&de feus intentos fe-
não executarem , Cogita^
tioncs me£ dij/ifata funt.
Como era taó difficultofo
o credito defte encareci-
mento, não o quiz fiar Job
dos Expofitores, ellefe fez
comentador de fy mefmo
no verfo feguinte : Sifujii'
nueroy infemus dontus me a J'^^ '7'
eft. Tutredini dixi\Tater '^ ''*'
meus es-, mater mea^ é^foror
mea^ vermtbus. Naó cuide
alguém, diz , que faó hy-
perboles, ou exageraçoens
fantafticas o que digo,por-
que de verdade he o tor-
mento que padeço taóin-
fofrivel , & taó dcfefpera-
do,quefc durar mais hum
.-.;,. pOU-
UO.:
antes da T>ominga de Rémss. f i ^
pouco, Sifíipyii^erú v bem verdugos; que lhe aperta^
me podem abrir a cova. O raóo garrote à; alma,fí?r^
que os mortos fem padc* quentes cor meum , cxecu-
cerexprimencaò nafepul- tandonelles a fentençade
tura,iílbhe o que execu- Deos,fentençanaó menos
taó em mim os meus pen- que de morte, ScfeDultura:
famentos: porque nam-ha- Sífuftinuero/epídcMrumdo'
corrupção ^ o que tanto pe-' musmeaefi,
netre,& desfaçajnáó ha bi-
chos, que tanto comáo, &
carcomáo hum cadáver,
como os mcímos penía-
mentos me eftão morden-
do o coração, & roendo a
alma:& o peor he , qué
nãoacabáode matar, mas
matandomeme eftáo ge-
rando outra vez, como fe
foraõ meu pay , & minha-
mãy,para maispenar vTíí-
tredini dixi\ ^ater meus es
tu;mater mea^ & foror mea^
'uermibus. Comparemos
agora o cogitdtiones mea de
Job , com o cogitaverunt
dos noíTos Juizes : & vere-
mos fe ficáraó códenados.
Tiverão intentos de ma-
tar a lj7íZ2iVO^Cogita'verunt
ut Lazarum interfaerent^
ficarão eíTes intentos no
ar, nam chegarão a ter
472 Satisfa^amôls ago-
ra aos curiofos. Suppofto
que foi fentença de morte
efta,& as de morte faó taô
varias, perguntar me ha 6,
que género de morte foi?
Gnome nãolhefabéreieu
dar, mas digo , que he húa
morte da cafta daquellas ,
que por mais penar não
matãojhu a mortein terior,
que fe fabe fcntir, mas não
fefabe explicar ,táo rigo-
rofa, tão cruel, que feDcos
mandara pendurar de hum
pào todos eftes Principes
dos Sacerdotes contra os
foros de fua dignidade,
muito mais benigna , êc
piadofa fora a fentença.
DeoAchitofel hum con-
felhoa Abfalam,com que
fem duvida ficaria desba-
ratado feu pay David, con-
exccu(^2ió)Coptatíones me^e tra quem o ingrato filho fc
dijjipatte jiint , & aílim levantara, não o aceitou
não executados fôramos Abfalamporpermiflaôdo
Kk iiij Ceo,
T20 Sermão
Ceoj&tonloú outro htm
diífercnt&qJhe àto Cufai. ;
Tanto que 'Achitofel vio
ifl:oCou\rihum caforaro,
& efpantofo ^ poemfe a
cavallo', partefe para fua
cafa, faz feu te fta mento,
deita hum laço ahúa tra^
íf if . ^^' enforcafe: y^%V in do-
mumfuam , d^ dtfpofita do-
mo fua , fufpendio interijt.
Muitas queíloens fe pòdê
levantar fobre efte cafo.
A dos Canoniftas bem à
raãoeftà,& he,fe fe havia
de enterrar efte homem
cmfagradojounaó? AEf-
critura diz , que o enterra-
rão na fepultura de feu
pay : Sepelierunt eum cum
patribus [uis ', masiftonam
faz argumento, porque na-
quelies tempos nem as fe-
pulturaseftavão nas Igre-
jas» nem ha via ainda o Ca-
pitulo Tlacuit i & dado
que hua,& outra coufa fo-
ra,entre todos os Santos
& Doutores, que efcrcvé-
rão fobre o paílb, fó hum
Rabino diz,que náo efta-
va Achitofeíem feu juizo.
Se aíTim he ( agora entra a
minha queílaó ) fe eftava
cru feu juízo Achitofcl,co-
i^o Sabbado
mo fez húa acção tão defa-
íizada,como he enforcar-
íehum homem com fuás
próprias mãos ? Diífe -o a
fagrada Efcritura , & he
prova maravilhofa do nof-
io intento : Vtdens qíiodnon
fuiffetfaõiwn eonfiliúfuumy
abijtin domuni fuam^ò' fuf'
pendio interijt. A única, &
total razão, porque fe en-
forcou Achitofel , diz o
Texto, ^oi^Fidens qiiodnon
fuiffetfaãum confiimmfuúy
Porque vio, que naó fora
executado feu confelho.
Quem dera credito a tal
caufa, por mais Doutores
queodiíreráo>feo mefmo
Efpiriro Santo o náo affir-
mára ! Tão cruel executor
he hum confelho não exe-
cutado, taes dores, taes pe-
nas, taes tormentos cau ia
n-a alma de quem o coníi-
dera,q eftãdo hum. homem
em feu inteiro juizo, efco-
Ihendo fegundo as regras
da prudência do mal o me-
nos, teve por melhor mor-
rer a fuás próprias mãos
agonizando em húa forca,
que viver padecendo os
rigores de hum tormento
taó defcfperado. Allim o
GX-
antes da dominga de Ramos. 5-2 1
exprimentou AchitofeljSc deílapena em húa, vilania
paraqueaílitno expritné-
taíTem os invejofos Pon-
tífices, ordenou Deos^que
naó chegaíTe a ter execu-
ção o confelho, que entre
fy tomáraójde tirar a vida
a Lazaro , ficando ntrlles
eíTe mefriio confelho nam
da condição natural dos
invejofos, com que mais
fencemosbens aiheos, &
fuás glorias, que os males ,
& tormentos próprios. En-
trou Chriílo Senhor noílò
hum dia no Templo àt^t-
rufalem , & vendo que fe
executado, por executor eftaváoalli vendendo pó
da mefma morte , ou por bas, cabritos, cordeiros &
ventura ,de outra mais
cruel, que a que lhe deter-
mina vão dar: Cogita verunt
Trincipes Saceraotum ut&
Lazarmn interficerent.
473 /^Ondcnados te-
Vw^mos os Juizes
pela primeira fentençain-
juílamente dada contra
Lazaro. Ainjuíliça da fe-
gunda dada contra Chri«
fto era muito mais atrõ3:&
para que o foíFe ta m bem
em a pena , & o caftigo ,
mandou Deos , como di-
zia mos, que entraííe o Se-
nhor por Jerufalem triun-
fando : Acceperunt ramos
palmar um , é- procefferunt
ainda novilhos, indignado
de tamanho defacato , to-
ma as cordas,com que vie-
raó atados aquelles ani-
maes , faz delias huns co-
mo azorragues, começa a
açoutar os que compra^
vão,6c vendiáo. Compras,
& vendas feitas na Igreja
caíliga-as Deos por fua
própria mão; & não come-
te a outrem a execução de
femelhantes delitos : fetíi
repararem fua authorida'
de. Mas cuidava eu, que fe
aggravarião muito eíles
homens úq (c verem tão
afpera, & tão baixamente
tratados por Chriílo , ôè
que quando não chegai-
ítímalhepòras mãos , ao
menos o blasFemaíIem.
obviam ei. Fundafe o rigor Fui porem- ver o Texto,5c
achei.
1
52 2 Sermão
achei, que nenhila mà pa-
lavra diíTeráo contra o Se-
nhor, não o reconhecendo
portal. Comparando pois
eíle paíTo com outros de
fua vida mui difFerentes,
fazeftapóderação S.Joaó
Chryfoilomo. Se quando
Chriílofarou o mudo , o
accufáráo por endemoni-
nhado : Se quando Chrifto
deoviftaa hum cego, o
querião apedrejar; Se quá-
do refu feita a Lazaro , dão
contra elle fentença de
morte : como agora que os
açouta , 6c os trata como
e fera vos, nem fe quer húa
mà palavra dizem contra
ChriíloPComo o não ac-
cufaôjcomoo não apedre-
jaó, como o naó mataó ?
Divinamente o Santo Pa-
dre : Animadvertis invidia
incredjhílem^ & quonampa-
Bo in alios coUata beneficia
tnagis eosirritahúnt ? Naó
vedes, diz Chryfoílomo, a
vilania deftcs invejofos,
que mais fe doíâo dos bens
alheos,quc dos males pró-
prios r Sarar Chriílo en-
fermos, dar vida a mortos,
erão bens ,alhcos> por iílò
do Sahhado
ofentião tanto, que q«c*
rião apedrejar a Chrifto, &c
tirarlhe a vida : açoutallos
Chrifto a elles, & tratallos
como efcravos, erão males
próprios, por iftb o fentiaò
taó pouco, que nem huma
fó mà palavra diftèrão có-
trao mefmoChrifto.Mais.
Os milagres, que Chrifto
obrava,erão fama,& gloria
para Chrifto , os açoutes
com que os caftigava, eraó
p en a, & afronta para elles,
mas como era gente inve-
jo fa, mais fentião a fama,
& gloria de Chrifto, que as
penas,& afrontas fuás :ex*
ceftb verdadeiramente da
inveja, não fó admirável,
masincrivel , invidíam in-
credihilem.FciTCccri enca-
recimento a confirmação
que hei de dar a efte paííb ,
mas tem bom fiador.
474 Ardia no Inferno
o Rico Avarcnto,& vendo
dalli o pobre I;azaro no
Seyo de Abraham,difte af-
íim : Tater Abraham-.mife- ,
reremet^ & mitte Lazaru , i^ 23.
HT tyitingat extremum digtti
in aqua?fi, nt refrigerei lin^
guam ;//í'^^//.PayAbraham,
tCtt-
antes da dominga de Ramos. p ^
tende compaixão de mim, de, nem amor, que fe là o
mandai a Lazaro, que mo -
lhe a ponta do dedo na
agua, &: me venha refrige-
rar a lingua. Náo lhe de-
ferio Abraham a gofto-,
mas como da avareza he
tão próprio o pedir, como
o náo dar , tornou o Ava-
rento a fazer fegunda pe-
tição : Rogo te pater ^ut mit'
ouvera, não fora Inferno ,
fora Paraifo: como he pòf-
íivel, que tiveíTe efte con-
denado tanto amor para
com feus irmãos, que lhe
queira mandarPrègadores
da outra vida, para que fe
convertão ? Quanto mais ,
que para o refrigerar do
incêndio, qualquer outro
tas eum in domum pdtris o podia fazer tao bem co^
mei^habee enim quinquefra^ mo Lazaro : & para pregar
tresyutteftetur illis ^ne ò"
ipfivenlant in himc locum.
Rogovos muito , Pay A-
braham,queao menos mã-
deis a Lazaro a cafa de
meus irmãos, que lhe diga
p que porca paíTa , para
que não fe condenem. Ou
eu meenganoj ou cftas pe-
tiçoens dizem hua coufa ,
&pertendem outra. Se as
labaredas do Inferno fam
tão grandes como fabe-
mos,& o Avarento o fabía
por experiência, como he
poílivel , que tiveíTe para
fy, que as podia refrigerar
tão pouca agua, quanta pô-
de levar aponta de hum
dedo ? Mais. Se no Infer-
no náo pode haver carida*
a feus irmãos , muitos ou-
tros o podião fazer melhor
que elle. Qual he logo a ra-
zão, porque em húa , &
outra propofta fempre in-
íiíle unicamente em que
và Lazaro j em hila , Mttte
La^arumyçm outra, Rogo
ut mit tas ettm ? O cafo he,
que nenhúa deftas coufas
pertendia o Avarento ^ &
todo o feu intento, & tei-
ma, era tirai lo do Seyo de
Abraham, & fazer, que ao
menos por algum tempo
náo gozaíTe o dcfcanfo em
que o via. He futileza de
S.Pedro Chryfologo, & a
razão não fó tão delicada j
mas taó natural comofua:
^odagit dives^non efi no^
vciii
I
7':'
5^4^ Sermão do
velli doloris^fed livoris an-
tiqui : zelo magis incendi-
tuTy quàm gehenna. Sabeis ,
diz Chiyfologo , porque
bufca o Avarento tantas
traças,& invençoens, para
quefaya Lazaro, íe quer
por hum breve efpaço, do
Seyo de Abrahaò?He por-
que fe eftà comendo de in-
veja, porque vè agora em
tanta felicidade o que
noutro tempo vio em tan-
ta miferia : Zelo magis in-
cenditur^qttam gehenna. A-
qui vai o fútil do penía-
mento. O Avarento eftà
no Inferno, mas o Inferno
do Avarento mais eftà no
Seyo de Abraham , que no
mefmo Inferno. Porque
mais o atormenta no Seyo
de Abraham o defcanfo,&
felicidade, que alli eftà go-
zando Lazaro, que no fo-
go do Inferno as mefmas
chamas, em que elle eftà
ardendo. Pedia que fahifie
Lazaro do feu defcanfo,&
que trouxe ftc agua para o
refrigerar , & o refrigério
eftava naõ na agua, que
havia de trazer, fenam no
defcanfo,de que havia de
Sabbado v-u
fahir. Como era invejofo,
maisoabrazavaó as glo-
rias alheas, que via, que os
Infernos próprios, em que
penava : Zelo magis incen-
dituTy quam gehenna. Efte
foi o género de caftigo a
que a divina Juftiça con-
denou os injuftos Princi-
pes dos Sacerdotes mui
conforme a quem elles
eraó. Eraó invejofos , co-
mo vimos 5& porque ne-
nhúa pena os havia de
atormentar tanto como as
glorias de Chrifto, entra o
Senhor diante de feus
olhos em Jerufalem triun-
fando com húa univeríàl
acclamaçaó de filho de
David , & Rey de Ifrael,
com hum perpetuo vidor
nas bocas, & nas mãos de
todos : AccepeTunt ramos
palmarum^ & proceffernnt
obviam ei.
475" Bem pudera eu
dizer, que foi efte maior
caftigo, que fe Deos lhe
mandara dar cem açoutes,
como pelas ruas publicas
os negociantes do Tem-
plo: bem pudera dizenquc
foi maior caftigo, que fe os
lan-
antes da^omlngn de Ramos. ^i^f
lançalfe logo nas chamas : as cruzes, em q invifivel-
do Inferno, como o Rico
Avarento -, mas em parte
quero ir menos rigorofo,
por ir mais próprio. Sabi-
da coufa he, que a pena a
que os Juriftas chamaó
ÍT^Z/Wj, he entre todas a
maisproporcionada.Digo Mardocheo,fó porque hua
pois, que foi eíla pena dos vez fenaó levantou paííàn-
mente hiaó crucificados
na alma , cruce mentis 3cvci
lembrados eftareis da hi-
íloria de Aman privada
delRey AíTuero. Mandou-
Aman levantar húa Cruz^
para crucificar nella a ^
Pontífices, pena , & tor-
mento de Cruz. Elles qui-
zeraò crucificar a Chriílo,
& Chriílo crucificou-os a
elles. Naó he meu o penía-
mento,ou a fentença, fe-
naó do grande Padre da
Igreja S. A^o^'m\\o •Quam
cTucem . mentis invideiitiai
Jud£orum perpeti poterat ,
quando Regem fuum Chri-
ftmn tanta_ multitudo cia-
mabat. Que vos parece
que foi para os invejofos
Pontífices entrar Chriíto
porjerufalem triunfante?
Que vos parece q foi ,diz
Agoftinho, fenaó crucifi-
calos? Aquellasacclama-
çoens do povo eraó os pre-
goens, que hiaó diante pu-
blicando o delito dè fua
injuftiça : aquellas palmas,
que levavaó nas mãos, eraó
doelle. Ataesfoberbas,8c.
infolencias chegaóos pri-
vados de quem nam fabe
fer Rey . Porém trocou a .
fortuna as mãos, revogou-,
fç afentençaem outro tri-
bunal fuperior , & o cruci-
ficado foi o Aman. Aílim
aconteceo aos Principes:
dos Sacerdotes. Elles no
feu tribunal quizerão cru-
cificara Chriílo, porém o
tribunal divino em pena
defua injuítiça , ordenou
quenelles fe executaíTe a
fuafentença)&que foílem
elles os crucificados, nam
em húa fó cruz , porque
eraó muitoSjfenáo em tan-
tas cruzes V quantas foram;
as palmas do triunfo de
Chriílo: ccceperunt ramos
palmanim , à^ exkrunt ob^^
viam et,
§.ví.
<
i
1.
■■(,■:'
p6
S' VI.
47^
vangelho, & fatisfeito ao
que prometi. Reílame dar
íatisfação ao lugar em que
Sermão do Sahhaãõ
unum adverftu T)ommm^
&adverftu Cbrijlumejm.
Ajuntáraófe os Reys da
terra, & uniraófe era votos
os Príncipes contra Chri-
ílo, diz David : & nam hc
pequena a diíficuldade de-
lia Profecia. Seaentendc-
'Enho cóclui
do com o E
eftou, q he o do Defterro , mos da morte,que Chrifto
cuja dcvação nefte fabba- com eíFeito padeceo , nam
do feriai convocou a elle ouve entáó mais que hum
tão grande Auditório. Co- Rey,que foi Herodes . fe a
íiderei devagar, que parte entendemos da morte,quc
deftedifcurfo lhe acomo
daria. E porque nenhuma
achava, que lhe ferviíTe,
determinei fazerme hum
aílintea mim mefmo , 3c
acomodarlhotodo. Tudo
quanto atèqui tenho dito,
foihúa reprefentação do
quepaíTou no defterro de
Chriílo. Para intelligen-
cia deita conllderaçáo ha-
vemos de fuppor , que os
Juizes, que condenarão a
Chrifto à morte, quando o
Eterno Padre lha comu-
tou em defterro , nam foi
fó Herodes, como parece,
fenão Herodes , & junta-
mente o Demónio. Provo.
v^AvA.í. Aftítenmt Reges terr^^ ^
^' Trincipes conveneruut in
lhe quizerão dar quando
nafcido,da mefma manei-
ra náo ouve mais que hum
Reyjquefoi também He-
rodes (náo jà o mefmo, fe-
não outro do mefmo no-
me: que hum tyrano, que
perfeguio innocenteSjuam
havia de viver trinta &
tresannos. 3Diz agora S.
Joaó Chryfoftomo : Nun-
quid Herodes Reges ? Por
ventura Herodes he mui-
tos Reys:Herodes he mui*
tos Principes .í> Claro eftà,
que não: pois fe he hum fó
Rey,&humfó Príncipe,
como diz David, que fc
ajuntarão , &: fe uniram
Reys, &■ Príncipes contra
Chrifto : AHtterunt Reges
tcrra^
' ' M Ml
antes da Dominga de Ramof, '^ty
terr^y é* 'Prinàpes come- acclamado por Rey de If-
neruntinunum ? A reporta rael, &que muitos criaó
do mefmo Santo Padre he nelle : Multi abtbant ex lu- J^^;';
o que eu dizia: In Rege He- d£is,& credebantin lefum-^
rodepeccatt quoque Regem ScHerodes, &com elle p
oftendit. Olhava David Demónio, porque jà o co- ^
com olhos proféticos , que meçavaó a ver em feu naf-
vcm o vifivel, & invifivel, cimento bufcado, & vene-
rado dos Reys do Orien-
te, & dentro da Corte do
mefmo Herodes acclama-
do por Meílias, & Rey dos , ,
Judeos : Um ejt qut natus 2.2
eíiRexJudaorum. K^*..
/^jj Viíiaafemeíhan-
& por iíTo diz, que fe ajun-
tarão Reys , & Principes
contra Chriílo 5 porque os
que o condenarão à mor-
te, não foi fô Herodes , fe-
naó Herodes , & mais o
Demónio. Herodes Rey
de Judea, o Demónio Rey ça da condenação de Chri-
dopeccado:HerodesPrin- ftono tribunal dos hom es,
cipe da terra, o Demónio feguefe ver a condenaçani
Principe do Inferno : In dos Juizes no tribunal de
Herodepeccati quoque Rc' Deos com a mefma pro-
gem ojlendit, E fe bem con- priedade. A primeira pena
íiderarmos o motivo que a que Deos condenou os
Herodes, & o Demónio
tiveraó para querer tirar a
vida a Chrifto5&: aos inno-
centes na occaíiaó de feu
deílerroj acharemos, que
he amefma,eom que a in-
veja moveo os Principes
dos Sacerdotes a querer
matar naò fó ao refufcita-
dor,fenáo também ao re-
fufcitado, Eílesjporq viaó
a Chrifto reconhecido, &
Princip es dos Sacerdotes
foi , como vimos , que íi-
caííem fruílrados os feus
intentos: & tal foi também
a de Herodes. DiíTe Hero-
des aos Magos : Ite^interra^
gate diligêter deptiero : Ide>
informaivos donde eílà
eíTe miniíio que dizeis: Et
cum inveneritisy renuntiate
mihèy E como o achares
avifaimc , ut&ego ^erãem
údê"
P8
Sermão
aaore?neiwi , para que eu
também o và adorar. lílo
pronunciava Herodes c6 a
boca,&:como coraçáo di-
'ziarldejinformaime, que
■cu lhe tirarei a vida, & mil
•vidas (^como tirou a tantos
mil innocentes. } Mas que
fez Deos .^ Ou por hú An-
JO5OU por fy mefmo aviíòu
aos MagosjquevoltaíTem
por outro caminho : &
quando o Tyrano vio feus
intentos fruftrados^F/Ví^wx
qtioniam ilhif/ís effet a Ma-
gis^ diganos o mefmo S.
Joaó Chryfoftomo, qual
ficou. Saõ palavras, que fe
as mandáramos fazer de
encomenda , ^^o vieraó
mais medidas com o-in-
tento : Conjidera quaiiam
Herodempatiprobabilefue-
rít^ qui certèfuffocari etiam
pra indignationis magnitu-
dinepotuitj cumfs ita illu-
fumatque irrifum viderM,
-A pena que Herodes fen-
tio vendo fuás traças át^^-
vanecidas, &: feus intentos
fruftradosjconfidere-o que
fabc que coufa hc a inveja,
que explicarfe com pala-
vras naò he poíilvel. Mil
do Sahhadõ
vezes quizeratomarhum
laço,&enforcarfe (^ digno
caíligo daquella cabeça
tão indignamente coroa-
da,3 &: he maravilha como
a mefma dor colérica, que
o fazia raivar, lhe naó áéí-
fe hum nò na garganta, ôc
o afogaíFe. Là diíTe a Efcri-
tura de Achitofel : Vtdens
quodnofifuijfetfaãum con-
JdhmfimmyMjt^ & fufpen-
diointerijt. È da mcfma
maneiradiz Chryfoílomo
de Herodes : Vtdens qiionm
illufus efet à M agis, fujf o ca-
ri etiam pr£ indignationis
magnitíidinepotuit. E nòs
vejamos agora fe he igual
a condenação de Herodes
com a dos Principes dos
Sacerdotes. Elles conde-
nados a ficarem os feus in-
tentos fó em mt^Vítos : Co-
gitaverunt Trincipes Sacer^
dotum ut CT Lãz^ariiyyi /;/-
terficcrent: & ellc condena-
do a ficarem fruílradcs os
feus , .& zom barem delle
•os Magos : Videns qnoniam
■iUuJks ejfct à Magis.
478 A ícganda pena
coube ao fcgundojuiz o
Dcmomo: 5c íbi^ver entrar
a Chri-
antes da Dominga de Ramos. ^29
a Chriílo triunfante no efcapado das mãos de He-
rodeSjhia entrando vivo,&
triunfante nos braços da
Máypelasruas do Egyp-
tOj ao mefmo paíTo dentro
dos Templos, & derruba*
dos dos Altares hiaó cain-
do as imagens dos falfos
Deofesjcm que o Demó-
nio era adorado, desfeitas
empÒ5& emcinza.
479 He Theologia cer-
ta, que quando Deos lan-
çou do Ceo os Anjos máos,
huns foraó parar no Infer-
no,& outros fícáraó nefta
Região do ar , aos quaes
por iíTo chama S. Paulo
Aéreas poteftates. De forte,
que nefte mefmo lugar nos
eftão ouvindo muitos De-
mónios, Sequeira Deos, que
fejaófóosque fenaó vem.
Dà a razaó deite confelho
divino , divinamente S.
Bernardo: Diabolusinpde'
namjuam loctim inaereme^
dium inter Calum^ ò* ter^
ramfortitus eft^ ut videaty
é^invideaf^ ipfaqueinvidia
torqueafur. Quer áizcrJ^H'
ra maior tormento do De-
mónio lhe deo Deos eíle
cárcere livre do ar,elemen-
Li to
Egypto, como os Princi-
pes dos Sacerdotes verem
o feu triunfo por meyo de
Jerufalem. Pintanos iílo
maravilhofamente o Pro-
feta Ifaias:^í afcendet Do-
mimis fuper nubem levem^ò*
[^' ^^' ingredieturç^^yptum.SO'
birà o Senhor, & entrará
pelo Egypto, levado como
em carro triunfal em hua
nuvem leve. Eíla nuvem
leve (diz S. Ambroíio^he
a Virgem Santiífima, Mãy
do mefmo Senhor mini no,
que o levou em fcus bra-
ços ao Egypto : nuvem,
porque ella he a que nos
defende dos rayos do Sol
. dejuftiça,& leve, porque
nella fó entre todas as cria-
turas nunca ouve pefo de
peccado. E que fuccedeo
ao Demónio á vifta deíle
triunfo ? O mefmo Profeta
o áiz\Et commo^vebuntur à
fade ejus fimulacra c/^-
gypti. E à vifta defta entra-
da triunfante cahiráó der-
rubados por terra todos os
ídolos do Egypto. Aílim
foi, porque aífim como o
defterrado minino, tendo
Tom. 7.
!^>
BI
I;
530 Sermão do Sabbado
to meyo entre o Ceo , & a
terra, porque vendo fubir
os homésdaterraaoCeo,
& deita Igreja Militante,
onde osperícguejirgozar
da gloria na Triunfante i a
vifta,& inveja defte triun-
fo lhe íirva de maior Infer-
no aos que ficáraó, que aos
que là eítão penando. Jà
ouvimos a S. Pedro Chry-
fologo , que menos pena
davão ao Rico Avarento
as labaredas do Inferno em
q padecia, que as glorias ,
que Lazaro gozava no
Seyode Abraham: & eftc
foiocafl:igo,mais que do
próprio Inferno, a q Deos
condenou o Demónio, no
mefmo defterro com que
livrou de fuás mãos a feu
filho ; para que vendo o
entrar triunfante pelo E-
gyptOjpenaífemais, & fe
desfizcífe de inveja, allim
como fe desfizeraó os mar-
mores,6c bronzes das ima-
gens, & íimulacros em que
era adorado ; Et commove-
buntur à facie ejusfimula»
€ra (i^gypti.
§. Vil
ACabei. Efup-
1 '
480 _
pofto que te-
nho fatisfeito ao Evange-
lho,& ao lugar ; algúa ju-
ftiça parece que me fica
para pedir ao Auditório a
mefmafatisfação. No E-
vangelho temos a Chrifto
triunfante em Jerufalem :
naquelle Altar temos a
Chrifto triunfante no E-
gypto : jufto he, Senhores,
que entre também Chri-
fto triunfando, ou pelo E-
gypto , ou pelajeru falem
de noíTas almas. Que outra
coufahehúa alma , onde
eftà levantado altar a Ve-
nusjidolo da torpeza : on-
de fe fazem facrificios a
Marte, idolo da vingança :
ondehe adorado Júpiter >
idolo da vaidade; que cou«
fahe, digo, húa alma de-
ftas , fenão hum Egypto
idolatra .? Entre pois Chri-
fto triunfando pelo Egyp-
to defta ai ma : Et comove*
antur à facie eJHS fímulacra
ç_y£gypti^^ cayáo , èí ren-
daófcafeuspès todos eíTes
ídolos.
antes da T^ominga de Ramos. 5 3 ^
Cava a torpeza, mana Santa, em que ne-
nhum Chriftão ha de taó
ídolos.
caya a vingança , caya a
vaidade, &acabemfe ido-
latrias tão pouco Chri-
ftãas. Que coufa he por ou-
tro modo húa alma, onde
rey na a ambição : onde dà
leys a inveja : onde manda
tudo o ódio t que coufa he,
torno a dizer,húa alma de-
itas, fenaó húa Jerufalem
depravada, 8c perdida , &
onde por ódio , por ambi-
çaó,& por inveja fe dà fen-
tença de morte contra o
mefmo Chrifto ? Ora,pois,
Jerufalem, Jerufalem, con-
'verteread T>ominum T))eu
tuum , acabemfe ódios,
acabemfe invejas, acabéfe
ambiçoens : cayão todos
eíTes vicios aos pès de
C hriílo, &:levantemfe pai-
ra as nas mãos em final da
vitoria : Acceferunt ramos
palmar um^ & exierunt oh*
'viam et.
4,8 1 Não duvido que
fraca Fè,& de tão fria pie-
dade, que fenão lance ren-
dido aos pès de Chriílo.
O que porém quizçra eu
encomendar, & faberper-
fuadir a todos he, que nos
nãoaconteçajO que acon-
t€ceoaos que acompanha-
rão a Chriílo no feu triun-
fo. He advertência de S.
Bernardo. Quando o Se-
nhor hia paíTando pela$
ruas de Jerufalem, tiravaó
muitos as capas dos hom-
bros, para que o Senhor
paífaíFe por cima delias \
porém tanto que o mefmo
Senhor tinha paífádo, tor-
nava cada hum a levantar
a fua capa, &: polia outra
vez aos hombros como
dantes. O mefmo nos acó-
tecea nos neíla Somana.
Dcfpimos, ou parece que
defpimososmáos hábitos
de noíTos vicios, lançamo-
o facão aílim todos os que los aos pès de Chrifto , pa-
temnome de Chriftáos, raquepaífe por cima del-
não movidos da eíficacia
de minhas razoens , mas
obrigados da fantidade do
tempo. Entramos na So-
les com a Cruz às coftas j
porém tanto que paífou ,
tanto que fe acabou a So-
mana Santa , & chegou a
LI ij Paf-
v^^
53- Sermão do
Pafchoa , torna cada hum
aos mefmos vícios , & a re-
veftirfe delles, comofejà
não foraó peccados.Oh fe-
pultemolos para fempre
com Chrifto morto , &
deixemos eíTes máos habi-
ros,como Chriílo deixou
as mortalhas na fua fepul-
tura. Façamos diante da-
quella Senhora huns pro-
poíitos , & reíoluçoens
muito firmes de fer perpé-
tuos efcravos feus , & de
feu béditiílimo Filho : fe-
guindo-o,ôc fervindo-o sê-
Sabbado
pre5& em qualquèi parte:
ou no Egypto,como de-
ílcrradosdefte mundo, ou
em Jerufalem, como mor-
tos ao mefmo mundo ; naó
havendo trabalho , ou fe-
licidade, nem fortuna taò
profpera,ou adverfa, que
nos aparte de feu ferviço,
de fua obediência , de feu
amor,& de fua graça, para
que vivendo , & morrendo
com elle,& por elle, o acó^
panhemos na vida, onde
naó ha morte, por toda a.
eternidade. Amen.
vi
SEIti'
m
SERMAM
S.JOAMBAUTISTA,
NA PROFISSAM DA SENHORA MADRE
Soror Maria da Cruz, filha do Excellentiífirno Du-
que de Medina SydoniajReligiofa de S.FrancifcOs
no Mofteiro de N.Senhora da Quietação, das
Framengas, em Alcântara.
ESTEVE O santíssimo SACRAMENTO
cxpoíto. An no de 1644.
EUfabeth impletum eft tempmpariendi^érpeperitfilmm. Et
audierunt vicinh& cognaú ejus, quia magnificavit T)o-
minusmifericerdiamfuamcumiUa , & congratulaban-
tur ei.Et venerunt circúciderepuerum^& vocabant eunt
no?nmepatrisfiii Zachariam. Et refpondens mater ejuft
dixif-Nequaquam/edvocabiturloannes: Luc.c.í.
vozes dos homens. Admi*
§. I.
Senhor.
O dia em que
nafce a Voz de
Deos 5 juftamê-
t© emudece as
STorn./,
raçoens emudecidas faó a
retórica defte dia \Mirati
funtunivepft y pafmos, &
aílbmbrosfaõ as eloquen*'
cias deíla acção : Faõíus eft
timor fuper omnes vkinos
Lliij f#-
554^ Sermão de
eonim. Hedia hoje defal- vai muito de lugar alugar
laremoscoraçoens, 6c de
callaretn as linguas : por if-
íb a língua de Zacharias
emudeceo,por iíTo os cora-
çoens dos Montanhezes
fallavaó : Tofuerunt in cor-
de fuo dicentes, E fe em
qualquer dia do grande
Bauciíla he perigofo o fal-
lar,& os difcurfos mais dif-
cretos faó os que fe remete
aoíilencio 5 que fera hoje
no cócurfo de tantas obri-
gaçoens, emqueascaufas
dotemorj&os motivos da
admiração fe vem taó cre-
cxàos^ Setodaarazaódos
aílbmbrosno nafcimento
do Bautifta era verem que
dava Deos a hua alma a
maó de amigo ; Etenim
mamis Domini erat cum ti-
lo -, quanto mais deve af-
fombrar hoje noíla admi-
ração, ver que dà Deos a
outra alma a mão de Efpo-
fo : Etenim manus 'Domini
erat aim illa > Bem fei que
©rigen. diíTe Origeucs , que dar
Deos a máo ao Bautiíla foi
Defpofarfe Deos nos de-
fertosjhe coufa ordinária;
mas defpofarfe Deos nos
Palácios : Deos defpofado
no Paço.' Maravilha gran-
de. Hecafo efte, em que
acho contra mim todas as
Efcrituras.
483 Se lermos o Pro-
feta Ofeas, acharemos,que
querendo Deos defpofarfe
com húa alma, diíTe, que a
levaria primeiro a húde-
ferto: ^ucam eam infolitu^ ^^^* '^'■
dmemy& loquar adcor ejtis.
Se lermos o Profeta Jere-
mias, acharemos,que lem-
brando Deos a JerufaJem o
tempo,que com ella fe àzí-
pofára, advertio, que fora
noutro áç,Çç:no:Charitattm Jcíid;
defponfationis tu£j quando
fecuta es me in deferto. Se
lermos os Cantares de Sa-
lamaó, acharemos, que os
defpoforios daquella al-
ma,fobre todas querida de
Deos, num deferto íe tra-
táraójnoutro dcfcrto Çc có-
feguiraó : i^?/^ ejhjlu, qu£ Canr.3,
defpofarfe com fuaalma; afcmdit per dijirtinn ,diz
mas muito vai de dcfpofo- no çap.g . ^/^ efi tjía , qu^e cw.s,
rio a defpoforiò , porque afcendit de áejerto inn:xà
miÊmm
6encí.
Jhper ãHcãnmfuum , diz no
cap. 8. Mas para que hc
multiplicar EfcrituraSjfeo
mefmo Efpofo , que eílâ
prefente, nos pode efcufar
aprova? O myfterio cm
que Deos mais propriamê-
tefedeípofacomas almas
he o Sacramento foberano
da Euchariftia. Porqnclle
C como gravemente notou
S. Agoftinho) por meio da
'^«gafl^. yniao do corpo de Chrifto
fe verifica entre Deos, & o
homem , Emnt duo in car-
melina. E fe bufcarmos os
lugares emque Deos fígu-
racivamcntc celebrou ef-
tes deípoforios , achare-
ihos,queosprincipaes, af-
fim noVelhojComo no No-
vo Teílamento , foraó de-
fertos. A principal figura
do Sacramento no Teíla-
ínentoVelho foi o Mannà,
durou quarenta annos, &
todos foraõ de deferto;
Tàtres nofiri manducave-
í?^''"' funt Mannâ in deferto. K
principal figura do Sacra-
mento no Teílamêto No-
vo, foi o milagre dos cinco
paens,&:o milagre dos fe-
se,6í ambos fucedéraò no
Bautijta, f.rf
deferto : 7)ejertus locm ejh ^^^^"^ ^''
é" nanhabent quod mandu' j^^^^j.
cent. Vnde eos quis potefl
hkfaturarepanibus infoli-
tudine ? Pois qual he a ra-
zão [ para que mais funda-
damente nos admiremos]
qual he a razãos porque fe
defpofaDeos nos defertos
fempre ? Náo heo Monar-
ca wniverfal do mundo,
não hc o Príncipe eterno
da gloria? Pois jà que ha de
defpofarfe defigualmentc
na terra,porque naó bufca
efpofa com menos defi-
gualdade nas CorteSj&nos
Paços dos Reys , fenáo nos
defertQS5& nas folcdades?^
484 A razaô he •, porq
efpofa com as qualidades
de que Deos fe agrada,nã o
feacha nos Palácios, acha-
fe^os defertos. O Sacra-
mento nos fundou a du vi-
da iSJoão nos fundara a
repoíta.Fez Chrifto hum
Panegyrico do Bautifta
(quedetaó grande fogei-
to fó Deos pode fer baftan-
te Orador) as palavras fo-
rão poucas, a fuftãcia mui-
ta, & começou o Senhor
^íTím-.^idexiJiisindefertu 1^,^.7.
Lliiij ^'^:
Í3<> Sermão de
videre ? Hommem moUihtis homem, que feguia todo ò
'vejlitum ? Ecce mã molUhus
'vejiiuntur^in ãomibus Re-
gumfunt. Sabeis quem he
JoaójeíFe a quem todos fa-
bem, & que fugia de rodo
o mal. E para dizer que
feguia todo o bem, diíTe,
que vivia no deferto , para
•i . ' A. '^ *"■ M"'" ♦^ ivjLct iiu ucicrLu, para
lusaver?[dizChriíto3He dizer que fugia de todo o
hum homem,que vive no mal,diíre,que não vivia no
deferto : não he dos ho- Paço.ExphcoulhcChrifto
niens,que vivem no Paço. a vida pelo lugar, & para
Notavd dizer ! Pois Se- dizer quem era, diíTeonde
nhor, eíte he o thema, que morava. Ainda nam digo
vos tomais para pregar do bem. Para dizer quem era,
Bautiíta ? Quando quereis diíTe onde morava,& onde
concluir , queheo maior não morava. Para dizer
dosnafcidosjfundaisoSer- que era homem do Cco,
mão em que vive no de- diífcque morava no defer-
ferto,8j: não vive no Paço .? to : para dizer que naó era
bim. rodaa perfeição re- home da terra, diíre,qnaÓ
lumidaconfiftccomodi- morava no Paço. Eque
zem os Theologos , inpro" eftando os Paços dos Reys
Jecuttone , &fiiga, emfe- da terra tão mal reputa-
guir,&: em fugir; em feguir dos com Deos,que aauelle
a virtude , & em fugirão Senhor, que fófe dcípofa-
vicio.PojiíTo os preceitos va nosdefertos,hojeo ve-
Ecclefiafticos, & divinos,
hunsfaópoíitivos, outros
negativos j os pofitivos,
que nos mandão feguir o
jamosdefpofadoem Palá-
cio .' Maravilha grande.
485- Mas qual fera a
razaó deíla maravilha ?
bem,osnegativos,quenos Qual fera a razão , porque
mandão fugir ao mal. Pois Deos, que fó fe delpolava
para Chrifto refumir a nos dcfcrtos, hoje fede fpo-
poucos fundamentos toda fano Paço .^ A ra7no he^
a pcn-eição do Bautiíla, porqueiPaçoda^Rainhas
que itz> DiíTcquc era hum dePort.u-al, he P^ço com
pro-
S.loaS Bautífta. ^37
propriedades de deferto. Reys (diz S. Gregório Pa- ^^«&
Deos comummente def- pa} em cujos Paços Reaes ^^'
de tal maneira fe contem-
pofafe no deferto , porque
naó acha no deferto as co-
diçoens do Paço : hoj c def-
pofafe no Paço 5 porque
achou no Paço as condi-
çoens do deíèrto. Quando
a Job no meio de feus tra
porizà com a vaidade da
terra, que fe trata princi«
palmente da verdade do
Ceo 5 & Paços onde fe fer-
ve a Deos como nos er-
mos,naó faó Paços, faó de«*
balhos lhe parecia melhor fertos: ^i adificantfibifo'
a morte, que a vida , entre Utudines, Bem dito , que
as queixas que fazia delia, edifícão-, porque ha duas
diíFe defta maneira : Et maneiras de edificar :edi-
nunc reqíiiefcerem cum Re- ficar por edifício, &edifi-
giòm^é' Confulibus^qui adi- car por edificação. O e'difí-
ficantjibifelítudines. Se eu gío faz dos defer tos Pala-
fora morto, eftivera agora
defcáçado entre os outros
Reys , & Príncipes , que
edificaó defertos. Notável
cios, a edificação faz dos
Palácios defertos. Hu Pa-
ço onde fe ferve a Deos, he
hum deferto edificado. Pa-
mododefallarlCí/»^ Regi- çoonde fó Deos fe ferve>
bm^ qui adificant JoUtudi-^ 6c o mundo fó fe contem-
nes \ Reys que edificaó de
fertos í Se diíTera Reys que
edificaó Palácios j bem ef-
tava.-masReysque edifi-
caó defertos i Os defertos
edificaófe ? Antes desfa-
zendo edifícios, he que fe
fazem deíertos. Pois que
poriza : onde a claufura có-
petecomádas Religiões:
onde as gafas faó difíimu-
laçaó do cilicio : onde a li-
cença do galanteo, a liber-
dade dos faráos, & outras
mal GntçnâidsLS grandezas
faoexerciciosde efpirito
Reysfaóefl:es,que trocaó ondefair do Paço para o
os termos a Architedura? noviciadomaíshe mudar
Que Reys faó eíles5qedifí- decafa,quie devida; eíle
cão defertos ? Saó aquelles ermo corteíaó nam lhe
ena-
ii\
538 SermaSdé
chatttein?aço,cliamemlhe pois nos dà licénçâ ò paA
de ler to : ^i adificant fibi mo : Et apertum ejt iUico 9S
Socrat. foktudines. Là diíTe Sócra- ejm.
tts do Emperador Theo-
doíio Segundo , que fora
táo religiofo Príncipe , &
taó reformador da Cafa
Real,que convertera o Pa-
ço em Moíleiro : Talathim
§■ II.
Erdadeiramê-
te, que me vi
embaraçado no concurfo
jic difpofuit^ut haud alienum das obrigaçoens de hoje ^
éffet a Monafierio. Efta có- porque faó todas taó gran-
to eu entre as grandes fel i- des,quecada hua pedia o
cidades do noílb Princi- Sermão todo. Para naóer-
pe,que Deos guarde, & a
tenho ainda por maior,qa
do outro Theodoíio. O ou-
tro Theodofio fella, o nof-
foachou-a: o outro criou,
efta reformação , o noílb
rar, aconfelheime com o
mefmoSJoaòBautiíla, &
fcguireifua doutrina: èlui
habetfponfamyfponfus efi^ ^^^
amtcmautem fponjl gáudio
gaudet. Eu fou amigo de
criafe nella. Oh que gran- Chrifto (" diz S.JoaóJ) a ef-
des fundamentos para pofahedo efpofo , a feíla
taó grandes efpcranças ! . hedoamigo. Aííim feja. A
E como no Paço de Por- feftaferàdeS.Joaó, o dia
fugal tem o Ceo tantas feràdaEfpofa, & oEvan-
prerogativas de deferto, gelho fe acomodara tanto
que muito, que Deos co- a hum, & a outro , que pa-
ftumado a fe defpofar nos reçajque he de ambos. Va-
defertos,o vejamos hoje moscóelle, femnos apaiw
defpofado no Paço ! Cef- tar hum ponto. '"^
fem pois as admiraçoens 487 Elijabeth impletum
com as dos Montanhczes, eft temptis pariendi^ &pepe-
rompafe ofilencio com o
deZacharias, &: comece-
mos a fallar íicíta acçaó,
Tttfilinm. Ifabel depois de
com prido o tempo dos no-
ve mcfeS;foimãy de hum
filho.
SJoaÕ
filho. Aquella palavra,?;»-
pletum eft temj?us^ácpois de
comprido o tempo, pare-
cco fuperflua a algíãs Dou-
tores antigos, Naó eílava
claro,que S. Joaó havia de
nafcer como os outros ho-
menSjpaíTado o tempojqtie
a natureza limitou para o
nafcimento ? Pois porque
dizhua coufa fuperflua o
Evangeliíla, que nafceo S.
Joaó depois de comprido
o tempo: Elifaheth imple-
tum eft tempm ? O Cardeal
^^^'^ Toledo, & todos os Lite-
raes dizem, que naó foi fu-
perflua efl:a advertência,
fenaó muito necefl^ariaj
fuppofl:oqueem SJoaófe
anticipáraó tanto as Icys
da natureza, que aos Ígís
mtÇc$ de concebido jà ti-
jjhaufo de razão. Equem
anticipou o ufo da razaó
tantos annos, podiafe cui-
dar,que também anticipa-
ria o nafcimento alguns
mefes. Pois paTa quç íe
foubefl^e,que naó foi aífim,
digaoEvangelifl-a, q naf-
ceo S Joaó depois de cheo,
& comprido o tempo; Eli-
fabeth impktum eji tem^us»
Bautifta. f59
Efl:a he a verdadeira intel-
ligencia deíle Texto -, mas
quanto mais verdadeira ,
tanto mais funda a minha
duvida. Que fe diga,que S,
Joaó nafceo comprido o
tempo, porque naó antici^
pou o nafcimento i bem
dito efl:à:mas porque o naó
anticipou ? Porque náo an-
ticipou o tempo do nafci-»
mento, aílim como antici^
pou o tempo do ufo da ra-
zaó .í* O uíb da razão, fegu«
do as leys da natureza, ha-
via de íer aos C^tQ annos
do nafcimento, o nafcimê-
to aos nove mefes da con-
ceição. Pois fe anticipou
o ufo da razão tantos an-
nos, porque naó anticipou:
o nafcimento alguns me-
fes ? Porque o nafcimento
pertence ávida da nature-
za, o ufo da razaó pertence
à vida da graça j & nas ma*
terias temporaes,o que co-^
fl:uma fazer o tempo, bera
he que o faça o tempo : nas
matérias efpirituaeSjO que
eofl:uma fazer o tempo,
melhor he que o faça a rat
Zaó. Para nafcer ao mudo,
faça o tempo,o que ha de
fa*
m
í
Mai-c.
22.
Hl
Chí-y-
540 Serina O de
fazer o tempo : para nafcer mudo, faça o tempo, o que
a Deos, o que ha de fazer o ha de fazer o tempo: Elifa-
tempo,faça-oarazaó. Ca- hth impletum eft tempusj,
minha va Chrifto de Be- mas para dar frutos a Deos>
thania para lerufalem, vio o que ha de fazer o tempo,
no capo húa figueira mui- faça-oarazaó : Exultavit
to copada, chegou, & co- infansinutero. "Eí^^h^hÚ^SL
mo naó achaíTc mais que das excellencias , que eu
folhas 5 amaldiçoou-a. E venero muito entre as grã-
notaoEvangeliftaS.Mar- des do Bautiíla ; fer hum
cos (coufa muito digna de homem,em quem fez a ra-
fe notar) que naó era tem- zaó,o que faz nos outros a
podaquella arvore ter fru- tempo. Efperarem os an-
to : Non erat tempusficorú. nos pela razão,iíIb aconte-
Poisvalhame Deos ^ paA ce a todos, mas adiantarfc
maó aqui todos os Douto- a razão aos annos , fazer a
res ; fenaó era tempo de razaó o que havia de fazer
fruto, para q o foi Chrifto o tempo j ifto fó fe acha no
bufcarPEfeo naó achou,
quando o não havia , por-
que caftigou a arvore? Se a
caftigou, tinha ella obri-
gação de ter fruto. E fenaó
era tempo,como tinha efta
obrigação ? Tinha efta
Bautifta : fe bem gloriofa-
mente imitado hoje.
488 Oh que gloriofa me-
te equivocado temos hoje
oanno ; o Abril mudado
em Setembro, & os frutos,
1>"3— ' ' '- que havia de amadurecer
obrigação [ diz S. Chryfo- o tempo, fazonados na ra-
ílomo ] porque ainda que záo ! Quem podia fazer
porferPrimavera naó de- outono dos frutos, apri-
via frutos ao tempo, por ma vera daí> flores , fenaó a
Deosfequererfervir delia, efpofaqueriaade Chrifto?
devia-osá razaó. Eas di- Flores app ar uerint in terra
vidas da razão na m haó de 7ioJira^ternpuspn f-.átioiíts aã* ^^"''^
efperar pelos vagares do i^êw/Y.^Alíim obedecemos
tempo. Para dar frutos ao tempos^ondeaílim domina
ara-
' S. loaÕ Bautifta. f4i
a razão. QLiejào mundo, pois de pentear defenga"
& a vida não faibaó enga-
nar ! Que vejamos tantos
defenganos da vida em tão
poucos annos de vida! Que
he ifl:o?He que fez a razaó,
o que havia de fazer o tê-
po. Seguiremfeaos annos
os defenganos, he fazer o
nos j & que os cabellos de
Abfalaó na idade de ouro
íintaó os rigores do ferro í
Que enxugue a Magdale-
na as lagrimas dos pès de "^ ^'
Chrifto com os cabellos,
mas que os naó corte 5 &
que haja outra Maria, que
tempo,o que faz o tempo: ponha aos pés de Chrifto
masanticiparemfe os de- os cabellos cortados, com
fenganos aos annos, he fa-
zer a razaòjO que o tempo
havia de fazer. Queixa vaie
. Marco Tullio,q fendo os
homens racionaeSjpudeíTe
mais com elles o difcurfo
do tempo , que o diícurfo
da razaó. Mas hoje vemos
o difcurfo da razaó mais
poderofo, que o difcurfo
do tempo. Que não baftaf-
fem noventa annos para
'•^cg- dar íizo a Helí , & que ba-
^' ílem dezoito annos para
fazer fezudo a SamuelPOh
que grande viftoria da ra-
zaó, contra a fem-razaó do
tempo ! Hua velhice enga-
nada,he a maior fem-razaó
do tempo: hua mocidade
defenganada, he a maior
vitoria da razaó. Que nam
1^^^ <;orte os cabellos Sara de-
os olhos enxutos ! Qúela^ Gen.48.
cobna primavera dos an-
nos enterre a fua Rachel i
he inconftancia da vida :
mas que Rachel na prima-
vera da vida fe fepulte a fy
mefma ! Grande valor da
razaó. Dar a vida a Deos
quando elle a tira, he diíll-
mular a violência , entre-
garlha quando elle a dà,he
facriíicar a vontade. Quem
dedica a Deos os últimos
annos, faz Chriftão o te-
morda morte : quem lhe
eonfagrà os primeiros, faz
religiofo o amor da vida.
489 As batalhas da ra-
zaó com os annos he hua
guerra,em que reíiftê mais
os poucos, que os muitos.
Deixaremfe vencer da ra-
zão os muitos, annos, nam
hc
Luc.i
2,Reg.
^9-
f42 Sermão ^e
he muito : mas deixaremfe Defenganárao a Bercellai
vencer , & convencer os
poucos 5 grande poder da
razaó í E maisfe confide-
rarmos a refiílencia favo-
recida do lítio. Poucos an-
nos5&nas montanhas (^co-
mo eraó os do Bautifta}
naó he tanto, que fenaó de-
fendaó à força da razaó ;
maspoucosannos, & em
Palácio, convencidos , &
defenganados ! Graó vito-
ria. OiFereceo ElRey Da-
vid a Bercellai hum gran-
de lugar no Paço, & elle,
que era jà de oitenta an-
nos,que refponderiaPOí^í?-
genarim fum hodie : non iri'
digeo hac viciffltudinei^tÇ-
pondeo , que aíTáz tinha
aprendido em tantos an-
nos a defenganarfe das
Cortes , que o deixaíTe o
Rey viver retirado coníl-
go,&: tratar da fepultura ;
porém que aceitava o lu-
os muitos annos próprios,
para naó querer o Paço pa-
ra fy, & enganáraó-no os
poucos annos aiheos,para
querer o Paço para o filho.
Naó fei que tem o Paço,&
os poucos annos ,que ain-
da quando o conhecem os
muitos, naó fe atrevem ao
deixar os poucos. Teve
conhecimento para o dei-
xar hum velho , naó teve
animo parao aconfelhar a
hum moço. Sendo mais fá-
cil de dar o co nfelho,que o
exemplo, deo o exemplo
Bercellai, mas naó fe atre-
veo a dar o confelho . An-
tes parece que fe fuflituio
a pay nos annos do filho,
para lograr na mocidade
alhea, o que na própria ve-
1 hice naó podia. E que naó
havendo valor na velhice
para deixarem totalmente
o mundo5ainda aquelies, a
gar para hum feufilho,que quem o mundo deixa; que
tinha de pouca idade: EJi hajarefoluçaóna mocida4
firvus tms Chamaam , ipje de,para meter o mudo de-
'vadat tecum. Parece que baixodospès^quemomú-
fe implica nefta acçam o do trazia na cabeça ! Oh
amor de Pay, mas explica- que bem fc dcfafronta ho-
fe bem o engano do mudo. jc a natureza humana. Là
dl.
S.loa^
dizia S.Paulo: Mihi mun-
^^^^'^' dus crucifixus eft , ò' ego
mundo: O mundo cftà cru-
cificado em mim, & eu eA
tou crucificado no mundo.
Sc o mundo ellava crucifi-
cado em Paulo , tinha o
mundo viradas as coftas
para Paulo: fe Paulo cita-
va crucificado no mundo,
tinha Paulo viradas as co-
ftas para o mundo. Eque
dèeu as coftas ao mundo,
quando o ni\;indo me vira
as coftas -, n^ô he muito:
mas quequahdoo mundo
me moftra bom rofto , dè
cu de rofto ao mundo; efta
hea valentia maior. Que
quando o mundo fe ri de
vòs, vòs choreis por elle> ô
fraqueza í Mas que quan-
do o mundo fe ri para vòs ,
vòs vos riais delle > a va^
lentia í
490 He taó grande va-
lentia efta , que fendo pró-
pria das forças da razaó,
naõ fiou S. Paulo o credito
delia , fenaó dos poderes
do tempo. Falia S. Paulo
dcMoyfes, & diz aífim;
Adueb. ^^yf^^g^fàisfaãusne^^^
,1. VitJeeJfefilítmfJía Tha-
BmtUía. f43
raonisy magis eligens ãffligi
cum popuío 'Dei^érc . M oy-
ÍQS depois que foi de maior
idade, deixou o Paço del-
Rey Faraòj deixou a Prin-
cefa , deixou quanto alli
pofiliíaj&efperava 5 efco-
ihendo o viver pobre , &
fem liberdade,com o povo
de Deos no cativeiro do
Egypto. O em que reparo
aqui he no grandisfaõfus:
que fez ifto Moy fes depois
de fer de maior idade. E a
que vem agora aqui a ida-
de ,? S. Paulo tratava da re-
íòluçaô, & naó dos aniios
deMoyfes, Poisíea refo-
luçaó eftava no animo , &
naó nos annos , porque diz
que era de maior idade
Moyfes, quando deixou o
Paço , & fe cativou por
Deos.? Direi Moyfes cria-
rafe no Paço delRey Fara^
defde minino , era todo a
mimojSc favor da Prince-
íà do Egypto, que o adop-
tara por filho, & como tal
era fervido, & venerado c5
authoridade,&: magnifieê-
ciareal. E deixar Moyfes^
a grandeza , & regalo da
Paço,deixar aamor de húa
Fria-
1
'54'4< Sermão de
Princefajdcixar a cercania foou logo pelo lugar , que
de húa Coroa , pareceolhe
a S.Paulo, quenaó era fa-
çanha crivei em poucos
annos j por iíTo ajuntou a
refoluçaó com a idade, pa-
ra que a idade délTe credi-
to à refoluçaó : Moyfesgra-
engrãdecéra Deos íua mi-
fericordia com Santa Ifa-
bel : ^ia magnificavit
T^eus mtfericoràiam fuam.
Notável dizer ! Parece q
naó eftà boa a confequen-
cia do texto. O que foou
disfaõtus. Como fe difíera: pelo lugar, havia de fer o q
Ninguém duvide efta ga- íliccdeo em cafa de Zacha-
lliarda acçaó de Moyfes ,
porque quando a fez,era jà
de maior idade, bem cabia
nos feus annos. Ora feja
embora a refoluçaó de
rias. Suceder húa coufa,
& foar outra, iílb acontece
nas Cortes lifongeiras , &
maliciofas,&naó nas mon-
tanhas íimples. OnoíToE-
Moyfes vitoria do tempo , vangelho o diz : Divulga
que a grande acçaó , q nòs bantur omnia 'verba hac :
celebramos hoje, com fer que o que fe divulgava, era
taó parecida em tudo o o mefmo que fuccdia. Pois
mais , não fe pôde gloriar fe o que fucedeo,foi nafcer
delia o tempo, fenão a ra- oBautiíla; Elifahethpepe-
zaó. Obrou aqui a forçada ritfilium -, como diz o E-
razaó, o que là fez o poder vangeliftajque o que foou.
do tempo : Eltfaheth im-
fletumèfttempus.
§. in.
491
E:
Tauàterunt 'vi-
]cini, ò" cognati
^jns , quia magnificavtt
Í)ens mifericordiam fuam
cumiUa. Tanto que nafceo
foi,que engrandecéraDcos
fua mifericordia: Et andie^
runt , quia magnificavit
Deus mifericordiamjuayn 7
Grande louvor do Bauti-
íla ! Quando as vozes di-
ziaó em cafa de Zacharias,
que nafcéra Joaõ, repctiaó
os cecos nas montanhas, q
Deos cngrádecéra fua mi-
$Joa6(diz Q EvangcliltaJ fericordia> porque quando
1 : Joaà
S. loa o
Joaõ fae ao mundo, aunié-
taófe os attributos a Deos :
quando loão nafce, Deos
crece. Não he arrojamen-
to, fcnão verdade muito
cháa.Diííe-o o mefmo S.
loão 5 6c mais faltava em
íeus louvores com grande
modeftia : Illu oportet cref-
cere^me autem minui : Im-
porta queellecreça^&que
eu diminua. Aquelle(^eile3
naóTe refere menos , que
ao Verbo humanado. Pois
comoaíllm ? Deos ainda
em quanto humanado naó
pòdecrecer. Como logo
diz S. loaó : ll/um o^portet
creftere: Importa que elle
creça ? E dado que podeíTe
crecer , que dependência
tinhaóos crecinientos de
Deos 5 das diminuiçoens
do Bautifta? Deos lie gran-
de fem depender de nin-
guém. Como diz logo : 11-
lum oportet crefcere^ me au-
tem mlnui : Importa crecer
elle, & diminuir eu ? He
poílivel crecer Deos ? E he
poííivel que o feu crecer
dependa do Bautiíla? Sim.
Porque ainda que Deos>
porfer infinito, nam pòdc
Tom./.
Bautifia. 5-4.5-
crecer em fy mefmo , por
fer limitado o conhecime-
to humano,pòde crecer na
noíTaeftimaçaó. E naefti-
mação dos homens, nem
Deos podia crecer fem di-
minuir o Bautiíla , nem o
Bautifta podia diminuir
fem Deos crecer. Ora ve-
de como. O conceito que
os homens fazião de Deos
antiguamentejcra tal, que
quando o Bautiíla apare-
ceo no mundo, aífentáraõ ^^
que elle era Deos. Confor- n.
me efta refolução,lhe foraó
oíferecer adoraçoens ao
dèferto, onde o mefmo S.
loão os defenganou. E co-
mo o Bautiíla, & Deos, na
opinião dos homens , erão
iguaes > tanto que por feu
teílemunhofe desfez eíla
opinião 5 neceífariaihente
creceo Deos , & o Bautiíla
diminuio. Diminuio oBau-
tiíla, porque ficou menor
que Deos : creceo Deos,
porque ficou maior que o
Bautiíla. De forte, que de-
pois que o Bautiíla veio ao
mundo, ficou Deos,para c6
os homens, maior do que
dantes era : porque dantes
Mm era
•M''
54'^ fiz-
era como o Bíuitifta, de-
pois começou a fer maior
queclle. Donde fe infere,
em grande louvor deftc
grande Santo, que a medi-
da do Bautiftahe fer me-
nor que Deos,& a medida
deDeos he fer maior que
o Bautifta. Naó tenho me-
nos abonado fiador, que S.
Agoílinho : G^úfquis loan-
j.Aug. neplm eft^non tantum homoy
fedT>etíseJt. Sabeis quem
he Joaó ? He menor que
Deos. Sabeis quê he Deos?
He maior que loaó. Com
eíla difFerença porém-, que
em quanto S. loáo o nam
diíFe, eraó iguaes •, depois
que o tefbem unhou, come-
çou Deos a ler maior. Que
muito logo, q creça Deos
nos feus attributos, quan-
do S Joaó nafce no mudo !
Et audiertmtj quia magntfi"
cavtt ^etis mifericorúiam
Jnam.
4*92 Deíla maneira crc-
cco Deos naquelle tempo,
&: tambcm eu hoje,íc a c6-
fidcraçaó me naó engana,
o vejo muito crecido. En-
tão creceo nas minguantes
de Joaó , hoje. crece nas
maode
minguantes do mundo. A-
pareceolhe a Nabucodo-
nofor aquella taó repeti-
da, 6c taó prodigiofa efta-
tua i & vio o Rcy, que to-
candolhe hua pedra nos
pèsde barro, a eílatua fe
diminuioa poucas cinzas,
& a pedra creceo a grande-
za de hum monte : t^aãnsDin.!.
eft mons magnm^ & replevii
terram. Para entender eíla
figura, que he enigmática,
falhamos, quem era a pe-
dra,& quem a eílatua. Em
fentido de S. A mbrofio, & Ami^r.
S. Agoftinho, aeíhtuaera "^^^ê^^-
omúdo,apedra era Dcof.
Pois fe a pedra he Deos,
como crecea pedra > Deos
pòde.crecer .^ E fe a eílatua
hc o mundo, como dimi-
nuea eílatua ^ O mundo
diminuefe.? Tudo faõ ef-
í-eitos da eílimação dos
homens. Segundo a cíli-
maçaó q fazemos de Deos,
& do mundo , ou crece a
eílatua, & diminuç ape^
dra,ou crecea pedra, & ái^
mmue a eílatua. Se pomos
a Deos aos pcs do mundo,
crece o mundo, 3c diminue
Deos, fc pomos o mundo
aos
SJoaoBautífta. 1^7
aos pès de Deos , crece derrubar com húa pedra
Deos,6cdiminue o mCrdo.
Deixara Deos por amor
dos nadas do mundo , he
fazer a Deos menor que
nada: mas deixar o tudo do
mundo por amor de Deos,
he fazer a Deos maior que
tudo ; Accedet homo ad cor
aM , & exaltabitur Deus.
ao Golias, bailou a funda ^^'^•?'
de David , para derrubar
comoutrapedra a eílatua
de Nabuco, foraò neceíTa-
riosimpulíbs ( poílo que
inviíiveis } do braço de
Deos. O Gobas tinha de
altura féis covados, a efta/*
tua tinha féiTenta j que nas
Bcmditofeja elle, que de grandezas mais pompofas
quantas vezes vemos a domundo,femprefaó ma
Deos táo pequeno , & taô
apoucado nas Cortes dos
Reys, o vemos hoje tam
grande,^ taó crecido!Taó
•crecido , & tão acrecenta-
doeílà hoje Deos em fua
ioresos Gigantes, que as
eílatuas. Nunca asmachi-
nas vivas igualaó a medi*
dadas fonhadas. Sonha a
fantaíia, promete a efpe-
rança,profeciza o defejo ,
grandeza , quantas faó as reprefentaa imaginaçam:
grandezas do mundo, que & ainda que a foltura de
vemos a feus pés arroja-
das, ii eftatuadeNabuco,
na eftatúra reprefentava
•grandezas, na matéria ri-
fles fonhos, o comprimen-
to deílaspromeífas, o pra^
zodeílas profecias, a ver-
dade deílas reprefentaçoês
quezas, na íignificação ef- nunca chegaó j mais triun-
tados, &tudo ifto abrazado fa o amordivino , quando
T. Rcg,
i7-
em fogo do coração fe re-
de hoje em cinzas aos pès
deChriíto Ninguém me-
lhor façrifíca a Deos o mú-
do,que quem lho offerece
em eftatua. Porque o mun-
do em eílatua he muito
maioi'quefymermo. Para
piza o fantaílico , que o
verdadeiro : o eíperado^
que o poíTuido. Deixar an-
tes de poíTu ir, he ufura de
-merecer ; porque quem
maisdá,mais merece , &
quem dà os bens na efpe-
rança,dá osonde faó maio-
Mm ij rè$.
54 S ' Sermão de
Tcs. A melhor parte dos deo. Não ha duvida, que
bensdeílavidahe o efpe- dos bens temporaes mais
rar por elles : logo mais faz liberal he o mundo em fuás
quem feinhabil ira para os promeífas, que Deos cm
efperar, que quem fe priva fuás liberalidades.Náo co-
Mat.h.
4-
dc os poíTuir.Por iíToChri
Ho chamou os Principes
dos Apoftolos, quando lã-
çavaó as redes, & não quá-
do as recolhião : Mittentes
retetnmare. Porque mais
faz quem deixa as redes
lançadas, que que^n deixa
os lanços recolhidos. As
redes quando fe lançaó,le-
vão em rada malha húaef-
perança •, os lanços quando
ferecõlhemjtrazem muita
rede vazia.
493 Oh quantaSíSc quam
íluma Deos dar tãto,quan-
to o mundo coítuma pro-
meter. Bem fe fegue logo,
que mais dà a Deos quem
lhe dà as promeífas do mú-
do,quc quem lhe torna as
dadivas fuás. Se dais a
Deos o que Deos vos dà,
dareis muito y mas fe dais a
Deos o que o mundo vos
promete, dais muito mais.
Oh quão liberal eftà com
Deos, quem dandolhe as
maiores grandezas, ainda
bufca artifícios de lhas dar
bem fundadas efperanças, acrecentadas ! t que artifi-
ôquantas,&:quam bé en- cio pode haver para acre-
tendidas grandezas hon
raóhojeem piadofo facri-
^cio os Altares de Chriílo!
niQiv T. Dizia S.Paulo aos Roma-
nos, que ninguê pôde dar
a Deos fenáo o que Deos
lhe der primeiro. Mas eu
vejo hoje hum efpirito tão
engcnhofamente liberal,
que havendo recebido de
Deos tanto, ainda lhe oíFe-
rccc mais do que Deos lhe
centarosbens, & grande-
zas do mundo? Eu o direi :
que nos exemplos delia
acção não fe pôde deixar
de aprender muito. Os
bens, &: grandezas do mu-
do falíamentc fe chamaó
bcns,porquefaó males, &
fem razaó fe chamaó gran-
dezasjporquefaó pouqui-
dades. Pois que remédio
para fazer das pouquida-
de5
dcsgrãndezías, & dos ma-
les bens ? O remédio he
deixalos,& deixalos em ef-
perançasiporque eíles,que
o mundo chama grandes
bcnsjfó faó bens,qiiando fe
deixaójfó faó grandes,quã-
doíeefperaó. Aeíperança
Ihedàa grandeza , o dcf-
prczo lhe dà a bondade;
deíprezadosíàó bens, ef-
perados faó grandes. E af-
íim : mais dà quem deíp re-
za o que efpera, que quem
dà o que poíTue. Dehúas,
& outras: depoíTuidas, &
de cfperadas grandezas,
faó defpojos as cinzas,que
hoje íè rendem aos fobera^
nosimptílfos daquella pe-
dra divina. Oh como defà-
parece a efliatua! Oh como
creceomonte ! Denoííàs
diminuições aumcta Deos
fuás grandezas, de noílbs
defprezos fua Mageíladc.
494 Là vio S . loaó no
Apocalypfc aquelles vinte
& quatro Anciãos, que ti-
rando as coroas dascabe-
ças,as lançavão aos pèsdo
trono de Deos : Mitt entes
coronas fuás ante thronum.
Tornou a olhar o Evange-
Tom.r,
lu
BítUtljid. ^4^
lifta,& vio,qiie Deos tinha
muitas coroas na cabeça :
Et in capite ejus diadema»
ta multa. Pois fe as coroas .'^®^'^
fe lançavaó aos pès de
DcoSjComo tinha Deos as
coroas fobre a cabeça.^Por*
uc tanto crecc Deos cm
ua grandeza , quanto dcP*
prezão os homens por feu
amor. As coroas na cabe-
ça de Deos era ò aumentos
de ftia grandeza : as coroas
aos pès de Deos eraó def-
prezos do amor dos ho"
mens; & com as mefmas
coroas,que arrojava o def*
prezo humanoj fe authori*
zavaaMageftade divina:
porque tanto crece Deos
nos au mentos de fua gran-
deza, quantas faó as gran-
dezas, que põem aos pès
de Deos noííb amor. Diga»»
felõgo, que creceo , & íc
engrandecco Deos hoje
duplicadamence: húa vez:
medido co m S . Ioaó>outra
vezmedidocom o mudo.
Ser antepoílo ao mundo,
&fer preferido a loaó, he
crecer muito Deos em fua •
eftimaçaõ,6c«ngrandecer- >
fe muito em feus attribu-
Mm iij tos:
ff^
Sermão de
'£luia magntficavit m aior graça, liâô IZC^ÇCeni
^etis mijericordiam fuam,
/^9^ Et njenerunt circú-
Cíderepuerum, Vieraó cir
cuncidarominino. Supo-
11o que o minino era S.
Joaó^parecequeo naóha-
viaó de circuncidar. A cir-
deinnocéte aos remédios
de culpado ! Grande ac-
ção: grande facrificio.Fal-
la Zacharias à letra do ma- Zichau;
ior facriíicio da Ley da
Graça, o San ti íH mo Sacra-
mento da Euchariília , &
cúncifaó naquelle tempo diz aíTim \§luod bonuejuSy
era o remédio do peccado &qiiGdpulchrum ejus^ nifi
original5ComohojeoBau- frumentum eleãorum >y ò*
tifmo. Pois fe S. loaó efta-
ra jà livre do peccado ori-
ginal, feeftava em graça
de Deos, Sc fantifícado nas
entranhas de Tua mãy,por-
que fe fogeita ao rigor da
circuncilaó ?■ Porque ain-
da que a circuncifaó nam
lhe tirava o peccado ori-
vtnum germimns^ Virgines?
Quecoufa fez Deos boa,
que coufa íqt. Deos fermo-
faneíle mundo , íenaó o
paó dos eícolhidos , & o
vinho dos ca ílos*^ Quefe-
jabom,& boniíllmo o fa-
criíicio do corpo,&fanguc
de Chrifto facramentado ,
ginal>dequc eílava livre, naó haverá quem o negue,
acrecentavalhe a graça da Mas que diga o Profeta,
juftiíicaçaó com que naf-
céra fantifícado. E eíla he
nos fervos de Deos a maior
fineza da virtude , fogeita-
remfeatomar para aumê-
ro da graça, os rigores que
Deos deixou para remédio
da culpa, A circuncifaó
nos outros homens era re-
médio da culpajem S.Ioaó
era fó aumento da graçajÃ:
fogeitarfe S. loáo par;^
que naó ha outro taóbom
como elle : Sluodbonu ejiis^
& quodpulcbrujnejiístí^Tiò
íci como o havemos nos de
conceder. E para que nam
vamos mais longe : o facri-
ficio do corpo, &: fanguc
de Chrifi-o na Cruz,nao he
taò bom como o íacrifício
do corpo , & fangue de
Chriílo no Sacramento?
Heo mefmo fu.ílancial me-
te.
da mcfma
SJcdÕBautifídl
te. Pois porque diz Zacha- ferénças > &
riasr queo facrificio do igualdade yêcagens:^<?i
corpo, ^ Tangue de Chri- honumejus^& quodfulchru.
ílo no Sacra mento he me- W»x ? Tal foi o a£to da cir
Ihor que todos ? A razão
da ventagem eu a darei.O
facrificio do corpo, &fan-
gue de Ghriílona Cruz,
cuncifaò do Bautiíla com-
parada com a dos outro»
alhos de Adam. O corpo ^
& farigue que os óucrog
foi facrificio para remédio deraó ao golpe da circua-
de peccado : o facrificio do cifaó para remédio da cui-
corpo, & fanguede Chri- pa,deo-o S. loa ó [que anão
fto no Sacramento , he fa- tiiíha ) fó para aumentos
crificio para aumento de da graça 5 & que fe facrifi-
graça. Ainda que em Chri- quehuminnocente, para
ílo naò havia peccados crecer na graça,ao que eílà
proprios,nê merecia graça
para fy$ tinha com tudo to-
mado porfua conta a fa-
tisfaçaó de noífos pecca-
dos, 6c os meyosdeneíTa
juftificação. Equefacrifi-
quetantoChriílo na Eu-
chariília para au m ento da
graça,quanto facrificoH na
Cruz para remédio da cul-
fogeito o peccador para
remediara culpa ! Grande
acçáo doBautifta.Mas nao
foi íua fó cila vez> nem fua
fomente.
49(> Duas innoccncias
temos hoje fogeitas aos re-
médios da culpa -ambas
condenadas ao rigor , ^
ambas ao habito da peni-
pa ! Qiie empenhe corpo , tencia 5 que taes injuíliças
& fangue para aumentar como eílas fabe fazer o
merecimentos iinnocen- amor divino. Condenain-^
cia, como empenhoucor^ aocencias como culpas,
|po,&: íangue para alcançar caftiga merecimentos co-
perdão ao peccado í He mo delitos. Que facão grã-
circunílancia de facrificio de penitencia os grandes
taò relevante íefta, ^ue da peccadores, he muito ju-
Mefmaidoãtidade tira dif- âo; que aipenitencia he re^;
Mmiiij m^à^i^^
mk
ff2 . SermaUe
medió do peccado. Mas uniaóao Verbo fua alma
queoBautifta fe defterrt não era impeccavel > As
ao deferto, fe condene ao mefmas palavras o dizem:
cilicio, fe caftigue com o ^ipeccatumnon noverat,
jejumiminino,emqucpec- Pois como pode caber de-
cou voíTa innocencia? Hu litona innocencia : como
corpo delicado condena- pòdefer, que o impecca-
do a tanta afpereza I Húa vel fe fízeíTe peccadorrPrí?
almainnocente caftigada nobispeccatumfecit > K^Ç-
com tanto rigor! Se o Bau- pondo. O impeccavel não
íiftaforao maior pccca- fe pôde fazer peccador de
Gor,que havia de fazer fc- culpas, mas pódefe fazer
namifto?Masifl:ofez,por- peccador de penas. Nani
quehavia de íer omaior pôde cometer peçcado
Santo. Não pôde chegar a quanto à culpa^ mas pôde-
mais o mais fervorofede- fe fogeitar à pena do pec-
fcjodafantidade, que fo- cado,comofe o cometera,
geitarfc aosremedios do Jílohe o que hz Chriílo
peccado , quem goza os poramordenòs.&ifí-ohc
o que muito encarece S.
Paulo em feu amor : ^/
pi cc atum non noverat ^pr o
nobispeccatumfecit. Nam
pôde o amor chegar a ma-
ior extremo, não íe pode
f ' .. f M
privilégios da innocencia.
Encarece S.Paulo o amor
deChriílo para có os ho-
niens5& diz defta maneira
aos Corinthios; ^ipecca-
tum non noverat ipro nobis , ^^ ^^.^
€o^rtt. P^ccatumfectt. Amou o Fi- adelgaçar a maior fín^eza ,
lho de Deos tanto aos ho- que a fazerfe peccador nas
mens, que naó tendo co- penas,quemhe innocente
nhecimento de peccado^ nas culpas. Que o pecca-
fe fez peccador por. amor dor de culpas fe faça pec-
delles. Eftranha fen tença í cador depenas, bufca na
Chrifto naó era innocen- penitencia o remédio de
tiffimo, antes a mcfma in- feu peccado : mas f zcrfe
jwoceaeu ? Por ra^aó da peccador de penas o inno-
cento
S.loao
<cnte de culpas , íie bufcar
na penitencia o defafogo
de feu amor. A penitencia
no peccador paga , no in-
nocente obriga: naquelle,
pelo que oíFendeo , nefte,
pelo que ama : vede quaes
agradarão mais a Deos, fe
as fatisfaçoerts de oíFendi-
do , fe as obrigaçoens de
amado ?
49/ O igualmête ama-
do , que amante Senhor !
cófenti os termos da igual-
dadejquantoentre o áivi-
no5& humano fe permite,
pois vemos hoje as finezas
devoílb amor competi-
das, como as dividas de
noííà obrigação defempe-
nhadas. Hua alma inno-
cente de culpas, maspec-
cadora de penas,hua inno-
cencia em habito peniten-
te vos oíFerece hoje a ter-
ra,Eípofodo Ceoj qucef-
Casfaó as cores de voíTb
pcnfamento,eftas as galas
de voílb amor,eftas as pur-
puras do voíToReyno. F/-
ha Babylonis induutur pur^
i^"«/«rd!,é' ^//í?>C dizia S.Ber-
nardo em femelhante ac-
jaõ à Virgem Sophia )
Bautifta. y^j
^fubinde confcientia pan"
nofajacepfulgentmonilibusy .
moribusfordent. E contra
tu^forispannofa^ intusfpe-
ciofarefplendes yfeddivinis
afpeãibiis non humants : /'«-
tuseftquod deleõfat , quia
intuseftquem dekãat. Ne
a romancear me atrevo ef-
tas palavras , porque em
tanta differença de elei-
çoens, ou fe ha de topar co
o aggravo,ou com a lifon-
ja . E contra tu (^ò ifto que-
ro repetir } foris pannofd ,
intus fpeciofa refplendes :
Pelo contrario vòs,ô efpo-
fadeChrifto( diz S. Ber-
nardo } como dentro ten-
des a quem quereis agra-
dar, por dentro trazeis as
galas : por fora Yç:íziàz de
íayal , por dentro de ref-
plandores : Foris pannofa y
intus fpeciofa rtfplendes,
Verdadeiram.ente,q quan-'
do reparo neftas palavras>
me parece que vejo já íi-
naes do dia do íuizo. Hum
dos finaes do dia do luizo
fera (^ como diz S, loaô nó
Apocalypfe^ Ntíúií^ o Sol A^qs^;.
de cilicio : Solfaãusefni-
^er tãquamfacfus cíUfinus»
Efejà veniós
cilicio o Sol, fe mortifica-
das fuás luzes , fe peniten-
tes feus refplandoresj de-
baixo da afpereza de taó
groíTeiros ecclyples > que
havemos de dizer ? Que fe
acaba o mundo ? Que he
chegado o dia do Juizo?
Com muita propriedade
fe pôde dizer aíllm j por-
que melhor merece o no-
me de dia do Juizo aquelle
Serfnaode
veftido de penitencia o Sói, fendo in?
nocente, porque naó ha fa-
criíicio mais fermofo aos
olhos de Deos , que huma
innocenciailluftreem ha-
bito de penitencia.
498 Aquellas pélles de
que Deos veftio aos pri-
meiros fenhores do mun-
do, eftavaólhe muito mal a
Adaó,mas eílavaólhe mui*»
to bem a Abel. A Adam
eílavaólhe muito mal ,
em que o mundo fe deixa , porq erào habito de pec-
que aquelle em que o mú- cado com penitencia, a A-
dofeacaba. Quanto mais,
que também fe acaba o
mundo para quem acaba
comelie. Como cada hum
de nòs tem o feu mundo, o
univerfal acaba com to-
dos, o particular acaba có
cada hum. E que muito,
que fe vejaó finaes do dia
do Juízo em húa alma pa-
ra quem hoje fe acaba o
mundo ! Mas perguntara
eu ao Sol,porque fe veíle
de penitencia? Por culpas.^
Náo i que o fez innocentc
a natureza. Pois porque.^
Para os olhos do mundo
por luto, para os olhos de
hú eftavaôlhe muito bem, f °*^
porque eraô habito depe-
nitencia fem peccado : em
Adáo eráo habito de peni-
tenciado,em Abel eraó ha-
bito de penitente. Eíia
grande ditíerença ha entre
a penitencia dos peccado-
res, & a penitencia dos in*
nocentesi que a penitencia
dos peccadores he reme*-
dioja penitencia dos inno-
centcshe virtude. Nam
quero dizer, que os ados
depenitécia nopeccador,
& no innocente naó fejáo
virtuofos fempre. Sò digo,
que os peccadores tomáo
Deos por gala. Veítefe de a virtude da penitaicia pe
Í9
-^^
S.loaÕBautífta. SfS
lo que tem de remédio, os naó merecidos , 'quaes faó
innocentestomaóo remé-
dio da penitencia pelo que
tem de virtude. Donde fe
fcgue.que a penitencia ho-
ra os peccadores, os inno-
centes honraò a peniten-
cia. A penitencia honra os
peccadores, porque lhe ti-
ra a afronta do peccado,os
innocentes honraò a peni-
tencia, porque íhetiraó a
itiiftura de remédio. Oh
ditofòBautiíla^ô ditofa al-
ma imitadora voílà ; am-
os dos innocentes. O me-
recimento oífendido fó o
pôde fatisfazer a innocen-
ciacaftigada.Ohquegran-
de facrificio para DeósíOh
que grande lifonja para o
Geo ! Là diíTe Chrifto^que Uc.íf,
faz maior fefta o Ceo ao
peccador penitente,que ac^
juílofem penitencia. Pois
fea innocencia do jufta
agrada muito, & a penitê-
cia do peccador agrada
mais i quanto agradará
bos em habito de peniten- aquelle excellen te eftado ,
tèsj bambos honradores que abraça a perfeição de
da penitencia.Ditofos vòs, ambos, & ajunta a p^nité-
que fazeis trofeos de vito- cia de peccador com a
m-
ria os inílru mentos do def-
agravo, & gozais a prero-
gâtiva de peniten tes,fem o
defar de arrependidos. E m
vòs he virtude , o que nos
outros he remedío^em vòs
eleição, o que nos outros
neceííidade.Sò em vòs na6
he remédio do peccado a
penitencia, fendo que fó a
Voílapenitêcia poderá fer
remédio do peccado. Por-
que oífenfas não mereci-
das, quaes faò as deDeos, , fe de dar nome aro mininoj»
fé fe pagaò com caítigos & queriãoos circunftan-
nocencia dejufto.^Iílo he
o que fez o Bautifta hoje
na circunciíaó , fojeitando
izençoens de innocencia a
remédios de j>eccado : Et
venerunt eircuncidere fue^
rum,
s.y-
4PP TI? Tvocaõa^i eum
gJàmmme patris
fui Zachariam. Feito o
aâ^o da circúcifaõ> tratou-
o
j^S^ Semaodâ "^"" "
tes , que fe lhe puzcíTc o vaíTea memoria dos pays
nome de feu pay, & que fe
chamaíTe Zacharias. Gu-
vioiftoS. Ifabel, ^ài^ç^:
no nome, quem profeílava
o efquecimento dos pays
na vida. Quereis que fc
Nequaquam, Por nenhum chame Zacharias, porque
cafotnáofeha de chamar he nome de feu pay? Alie-
allim. E porque razão ?
Porque não fe ha de cha-
mar Zacharias o filho de
Zacharias ? Não era nome
fanto ? Não era nome illu-
ftre? Não era nome autho-
rizado? Não era nome glo-
riofo ? Sim era, mas era no-
me de pay ; l^ocahant eum
nominepatrisfui, E o nome
dos pays, quanto mais il-
luftre,quanto mais glorio-
fo, tanto menos o ha de to-
mar quem profcíTa íèrvira
Deos , como profeílava o
Bautiíla. Nonomeperpc-
tuafe a memoria dos pays :
na Religião profeíTafe o
prai.4^. efquecimento delles : Obli-
"vifcere poptilum tuum , ^
domumpatristui.^ como o
Bautifta havia de fer(^ co-
mo foi } primeiro funda-
dor,&: exemplar de Reli-
giofos j não quiz prudente
S.líabeijquetomaíreo no-
me de Zacharias > porque
não era juíto , que confcr-
gais contra vòs. Antes por-
que he nome de feu pay,
fenão ha de chamar aíllm ;
Vocabant eum nomine pa*
tris fui Zachariam , é' ait
mater ejus: Nequaqua.Quc
grandemente imitado, fe
bem em parte excedido
vemos hoje efte exemplo
do grande Bautifta. S. Lu-
cas,porque cfcrevia para a
memoria dos futuros, de-
tevefeneíle lugar em con-
tar a genealogia dos pays
de SJoaó ; eu que fallo aos
olhos dos prefentes , nam
mehe neceíTario determc
em tãofabído, como tam-
bém me não fora poílível
em tão grandiofo aílump-
to. Muito fez quem deixou
o nome de Zacharias, au-
thorizado aiíim com húa
teara -, mas muito mais hz
quem deixa o glonoíiíli-
mo nome de Gufmáo(^glo-
riolbnoCeo, & na terra ^
cujo Real , U efclarecido
faji'
S.loao Bautifla. f^7
fangue fe teceo fempre nas de S.Marcos perguntou/e
purpuras de toda Europa;
&hoje com mais gloria,
que em nenhíi outro Rey-
no( pofto que com igual
mageílade em tantos ) o
vemos felizmente coroa-
do,&: veremos em immor-
tal defcendencia , no noílb
de Portugal. Eílehe o fa-
moíiílimo eni todas as ida-
des: o eminentiílimo em
todas aspeíToas : o aííinala-
diííimo em todas as em-
prefas : o celebradiíllmo
cm todas as hiftorias , no-
.inede GufmáOj& eftehe
íó que hoje vemos deixado
pelo humilde da Cruz.
Não íei fe admire nefta
eleição o virtuofo, feo diC- pellat, He do Texto. Por
creto. Emfim a virtude,8f que S. MatheOs diz aíTim :
bufcavãoajefu Nazareno ^^^
cmcí^<:3.do: lefum quaritis J'^'
Nazaranu crucifixU. Pois
fe oAnjo de S. Marcos cha-
mou a Chriílo Jefu Naza-
reno crucificado •, porque
razão o Anjo de S. Ma-
theos lhe chamou Jefu cru-
cificado fomente, & nam
fallou no Nazareno ? O
melhor comentador dos
E vangeliílaSi o dputifllma
Maldonado, notou adver-
tidamente, que o Anjo de
S. Matheos apareceo co-
mo Anjo, &o Anjo de S.
Marcos apareceo como
homem : Matthms Ang^e-
lumy Marcus hominem af-
Matth.
O entendimento tudo me
parece Angélico.
500 Quando os Anjos
mo íèpulchro de Chrifto
perguntarão às Marias o
quebufcavaò , ufáráo de
differentes termos (^ fegú-
do diverfos Evangeliílas.)
O Anjode S. Matheos per-
guntou,fe bufcavâo a J eíii
Angelus i^úmmi defcendit
de Caío^qui dixit mulieri'
bus: Hum Anjo do Senhor
deceodoCeo, quefallon
às mulheres. ES. Marcos
diz aíllm : Intr antes monu-
mentum^ vid^runt juvenem
jedentem: Entrando no fe-
pulehro, viráohú mance-
bo aíTentado. E como o
crucificado : lefum^qat cru- que fallou às Marias em S.
cifixus efti qu/trms.O Anjo . Majccos^era homens ^, em
55*8 Sermão de
S. Matíieos eraAnjojpor mòuonomcda Cruz, &
iííb o de S. Marcos chamou
a Chriílo Jcfu Nazareno
crucifícadoj&odeS. Ma-
theos chamoulhejefu cru-
cificado fomente 5 & nam
fallouno Nazareno. Ora
notai. Entre o Nazareno,
&o crucificado havia efta
differençaem Chriílo5que
o Nazareno era nome dos
pays , o crucificado era
nome da Cruz : & antepor
o nome de Nazareno ao
de crucificado, antepor o
nome dos pays ao nome da
Cruz, iíío fazem os An-
jos, que faó como homés -,
mas tomar o nome decru-
cifícado, ôccallar o de Na-
zareno, tomar o nome da
Cruz,& deixar o nome dos
pays, iíTo fazem ús Anjos,
'que faó como Anjos. O
Anjodc S. Marcos, que
•fallou como homem da
terra : Piderunt jwvenemfe-
de?item: antepoz o nome
dos pays ao nome da Cruz:
leftnn quarítisNazaranum
cYucifixíim. O Anjo de S.
Matheos, que faJlou como
Anjo do Ceo: Angelm ^o-
mini defcendit de Calo : to-
deixouo nome dos pays:
lejum ^qui crucifxas eft ,
qu^eritls .(ò\i difcriçaó mais
que humana! Oh eleiçam
verdadeiramente Angéli-
ca ! Sei eu, que as Marias
ouvirão os Anjos, mas nc-
nhúa delias aprendeo a
mudar o nome. Maria
Magdalena naó fe chamou
da Cruz , fenaó Magdale-
na: Maria Cleofc nam fe
chamou da Cruz, íenam
Cleofé. Naó foubéraó dei-
xar o nome dos pays,& to-
mar o da Cruz aqucllas
MariaSjporqueeftava cftc
religioío primor guarda-
do para outra, quenade-
vaçaó havia de vencer as
Marias , & na difcriçam
igualar OS Anjos.
50 1 Mas aííimcomo
em cafa de Zacharias fe le-
vantou queílaó fobre o
nome do Bautiíla ; allim
hc bem que a tenhamos
hoje aqui fobre eíle nome
da Cruz. Quem là contra-
diílc o nome deJoaõ,foraó
as peífoas mais authoriza-
das,queafiiiHaó à celebri-
dade da fclla: y^ vaierant t^ic^;
cde^
ímt
S.JoaõBautlJla, ffp
celebritath grafia : comen- zçr , que naíp quer que ^
ta o Cardeal Toledo. Quõ
aqui impugnará o nome da
Cruz , fera cambe a peíToa
mais authorizada,qalIifte
à celebridade da feíla, que
he,quem ? Chriílb facra-
jnentado.EalIim como là
nomefejada Gruz, fenam
do Sacramento ? A razaó
he muito forçofa. Porque
profeíTar Keiigia6>mais he
façram enÇârfe, que ç rucifi-
carfe. Todos os Samtos co-
mummente chMmaÔ cruz
diziaó,que nao fe havia dç ao eilado Religioíb : ; mas
chamar Joaó , fenaó Za
charias : aíHm cà diz Chri-
ílo, que nao fe, .hayia de
chamar da:Giiuz> femaó dp
Sacramento. ,Naó he imst;-
ginaçaó fem fundamento
minha , he acomodaçam
verdadeira, tiradaa CO m: ' to-
xia a propriedadejdô Te56-
toi O nome que la querisp
dar ao Bautiíta, era Zacha-
rias. E Zaeharias que quer
dizer ? Quer dizer ; Me-
moTÍ<tT>ominh A memoria
<io Senhor. I0b mefmohe
o Santiílimo Sacramento
daEuchariília. Hea me-
moria do Senhor, que elle
nos deixou .por prendais
em fuaaufeneia : H^c qm>-
.tiefiunque feçeritis yin mú
memoriam facktis. Eftá
fundado. Agora pergunto
eu. E querazaó tem Chri-
ôo ^cra,inçníado para úi-
com licença fua, eu digo,
que o eftado Religiofo
tem mais do Sacramento ,
que da Cruz. A razaò em
que me fundo, tieeíla. For-
que na Cruz morreo Chri-
ftohúa fp vez -, no Sacra-
mêto morre todos os ô^:3i^.
Oxfacriíicio da Cruz foi
.cniento^nias foi único j o
facriíicio do Altar he in-
cruento, mas he quotidia-
no.
592 'A maipr fineza do
amor he morrer \Maiorem If^'^
charitatemnemo hahet',m^s
tem hum grande defarefta
fineza,que quem a faz,nap
pode fazer outra. He a jn^-
iorfineza,mas he a ultima.
E como Chdfto amam
taó extremamente aos ho-
mens , & via que morren-
do na Cruz íe acabava a
íiugferig A fua^ fínezas -, que
fez?
«íf-
^mm
m
5<>o Sermão de
fez ? Inventou milagrofa- amor grande fe compara à
mente no Sacramento hú morte,&o maiorao Infer-
modo de morrer fem aca-
bar,para morrendo poder
dar a vidajôc não acabando
poder repetir a morte. Efta
-hea ventagem^que leva
em Chriílo o amorjq nos
moftrou no Sacramento,
ao amor que nos moílrou
. na Cruz. Na Cruz morreo
húavez i no Sacramento
moríecada dia : na Cruz
deoaviday no Sacramen-
to perpetuou a morte. A
Efpofa 5 como quem me-
lhoras fabeavaliar,nos di-
rá a verdade deíla fineza:
Fort is eft ut mors dikãio^
c^mxdurajicut infernus a mula-
tio, O amor fe he grande
[que iíTo quer dizer dí/e-
ãio } he como a morte i &
fe he maior Q que iíTo quer
áiztTamulatio^hccomoo
Inferno. Notável dizer!
Porque razaõ compara Sa-
lamaó o amor grande à
morte, Sc o amor maior ao
Inferno ^ Eu o direi. Entre
a morte,6c o Inferno ha ef-
ta diíferença, que a morte
tira a vida, o Inferno per-
petua a morte. Por iílb o
noj porque mais he per-
petuar a morte, que tirar a
vida: tirar a vida,he mor-
rer húavez j perpetuar a
morte, he eftar morrendo
fempre. Eis aqui a deíi-
gualdade do amor deChri-
ftonaCruz , & no Sacra-
mento. Competio o [amor
de Chriílo no Sacram éto ,
^&o amor de, Chriílo na
Cruz •, o da Cruz foi como
o da morte, porq chegou a
tirar a vida : Fortis eíí ut
mors dileãio j o do Sacra-
mento foi como olnferno,
porque paíTou a perpetuar
a morte : ^Duraficut Infer-
nus íemulatio^ muito mais
foi perpetuar a morte, que
tirar a vida j porque tirar a
vidajhe morrer num inílá-
te, perpetuar a morte, he
morrer toda a vida.
5-03 Eis aqui a razaõ
porqueoeílado Religiofo
fe parece mais com o Sa-
cramento, que có a Cruz.
Na Cruz morrefe húa fó
vez, no Sacramento mor-
refe cada dia. Sei que diíTc
S. Agoílinho , que fó os
Mv
S.loaoBautijia. 5^i
Martyrespagaôa Chrifto todos, S. Paulo : §luoUdie
a fineza que fez em fe dei- monor:Q'3.à'3L dia morro. De
xar no Sacramento , por- maneira , que aílim como
que morrem por quem Chrifto no Sacramêto in-
morre por d\es:^íacceííis ventou hum modo de mor-
ad menfamTrincipis debes rer fem acabar , para mor-
Jimiliapr^parare^ hoc beati rendo poder dar a vida , &
Martyresfecerunt. Mas ef- nam. acabado poder repe-
1^ ^^^^ ta razão de S. Agoftinho tir a morte ^ aílim os Patri-
"^'("dènos licença o lume da arcas das Religioens( &
Igreja 3 impugnafe fácil- melhor que todos o Sera-
mente.Porq muitas mor- fico em feu divino Inftitu-
tesnão fe pagaó com húa to } parecendolhe pouco
fó morte : Chrifto no Sa- amor não morrerjêc pouca
cramento morre todos os
di^asj os Martyres morrem
húa fó vez: logo naó pagaó
os Martyres a Chrifto no
Sacramento. Pois que di-
remos a ifto ? Digo que os
Martyres pagaó a Chrifto
na Cruz, os Religiofos pa-
gão a Chrifto no Sacramê-
mortejmorrer húa fó vezj
acháraó efte modo mila-
grofamente natural de vi-
ver morrêdo, para na mor-
te multiplicarem as entre-
gas da vidaj& na vida per-,
petuarem os facrificios da
morte.
504, Grande lugar do
to. Gs Martyres pagaó a Protopatriarca das Reli
Chrifto na Cruz 5 porque gioensS. Bafilio. Falia o
morrem húa vez, por quê grande Bafilio das ccllas
húa vez morreo por elles : dasReligioens maiseftrei-
os Religiofos pagão a tas,&: diz, que a cella de
Chrifto no Sacramento, huma Alma Religiofa he
porque morrem cada dia, emula, he competidora da
por quem morre por elles fcpultura de Chrifto:0 cel-
todos os dias. Ha quem o UDominicafepulturaamU"
diga ? Náo he menos Re- la ! Pois faibamos j que ca-
ligiofo,queo exemplar de lidades tem húa cella para
Tom./. Nn tão
5^2 Sermão de
taó nobre competência ? te. Es húa fufpenfaó glo-
Em que prefumpçoens fe
funda efta emulação ? Que
fe compare a cella a qual-
riofa de morte, & vida (^fc
bem gloriofa com pena}
onde pofta a alma nas
querfepulturaj juftafeme- rayas do viver, & morrer,
Ihança • porque onde o ha- participa indecifamente o
bito hehúa mortalha, o
leito hum ataúde , as pare-
des taó eftreitas, ^ có taó
pouca luz, como eílas que
vemos, muito ha de fepul-
tura. Sepultura fim: mas
fepulturanaó outra, fenão
a de Chriílo 5 porque ra-
zão? Porque nas outras fe-
pulturasmorafó a morte 5
na fepultura de Chrilto
morou a morte , & mais a
vida juntas. Na fepultura
de Chrifto eftevc a vida
morta, & a morte refufci-
tada : & taes faó as voíTas
cellas, ò Religiofos efpiri-
tos : O celía dominicitfefful'
tur£ amula , qua mortuos
mais rigorofo de ambas;
infenfivel , como morta ,
para o goftofo da vida :
fenfitiva,como viva, para
o penofo da morte. Em ti
fevè multiplicado o mila-
gre natural da Feniz , fen-
do pátria , & fepulchro
quotidiano, onde fe morre
àvida,&fenarce à morte,
faltando cinzas, mas nani
faltando incêndios. Em ti,
C& com maior proprieda-
de hoje] fe vè verdadeira a
metáfora dos orizontcs,
fendo oriente , & occafo
juntamente, onde o Sol no
mefmoinrtante morto, &
nafcido refufcita a hum
fufcipis^Ò' revivifierefacis. emisferio,quando fe fepul
Ò cella verdadeiramente ta a outro Emtifinalmé
imitadora da fepultura de te (^ com feres a melhor
Chrido , pois eítà em ti a parte do Piraifo^fe vè fem
vida morta, & a morte re-
fufcitada : a vida morta,
porque naó tem ufos a vi-
da ', a morte refufcitada ,
porque tem alentos a mor-
fingimento a fabula do In-
ferno, fendo cada Religio-
fo efpirito hum Ticio em
bemavéturan.^a depenas,
que náo podendo morrer,
para
S.loa^
para morrer mais vQzç;Sy
tem morta a vida , 6c im-
mortal a morte : Semperque
renafcens nonperit^utpoffít
fapeperire. Naó he muito,
que achee;?. comparações
no Inferno ao maior facri-
ficio, quando no Inferno
as bufcou a Alma Santa ao
maior Sacramento. Dehú,
& outro fe pôde dizer com
grande femeihança : IDura
ficut bifernus amulatio, E
comooíacrifício da Reli-
gião,por fer morte perpe-
tuada, fe parece mais com
o Sacrainento, quecom a
Cruz •, fendo o oíficio dos
nomes declarar a eíTencia
das coufas •, parece q quem
profeíTa Religião, nam fe
deve chamar da Cruz, fe-
naó do Sacra mento:^ri;<?-
cahant eum nomine patris
fui Zachariam^hoc ejiy me^
mor iam ^omini.
ff. VI.
50^ /^Om tudoref-
V^ ponde S. Ifa-
hú : Nequaquam: Por ne-
nhum cafo. E com muita
razáo. Porque ? Peia mef-
Baufiftã, í^3
ma,que o perfuadc. Porq
feonomc do Sacramento
diz tudo o que ha no eíla-
do Religiofo,& o nome da
Cruz diz menos, pelo mef-
mo cafo fe deve tomar o
nome da Cruz, Sc não o do
Sacramento. Na eleiçam
dos nomes ha húa grande
diíFerença tomada dos fins
porque fe elegem: os no-
mes que fetomão por ver-
dade dizem tudo,os que fe
tomão por vaidade dizem
mais, os que fe tomão por
humildade dizem menos.
Ecomo a mefma humil-
dade,que defprezou a grá-
deza dos nomes paternos ,
foi a que fez a eleiçam do
nomeReligiofoj por iííò
com difcreta improprie-
dade efcolheo o nome di"
minutivocja Cruz,emquc
he mais o que fe calla^ que
o que fe diz. Como refpon-
do a Chriílo facramenta-
do, com o mefmo nome do
Sacramento quero confir-
mar a rcpofta. O Sacramê-
todo Altar chamafe cor-
po, & fangue de Chriílo.
Eííenome lhe deo o mef-
mo Senhor : Hoc eji corpus
Nn ij meum:
■m
n
I
€::
5^4 ■ Sermão de
meum : Hlc eft Cálix fan- mo paíía no noíTo cafo:
guinis mei. Pergunto : E ha
no Sacramento mais algCia
coufa PHaalma, & ha di-
vindade. Pois fe no Sacra
mento naó fó eílà corpOj&
langue , fenão também al-
ma, & divindade , porque
fenão chama corpo, & al-
ma5rangue , ^ divindade
de Chriílo, fenão corpo, &
fangue fomente ? Porque
eíle nome deo-o Chriílo
ao Sacramento na hora em
que fe quiz moílrar mais
humilde. A hora em que
Chriíto fe mofírou mais
humilde, foi a mefma em
que inftituío o Sacramen-
to de feu corpo, & íangue ,
difpondo aos Apoílolos cô
a pureza do lavatório : & a
fy com a humildade de lhe
lavar os pès. E coUio Chri-
fto poz o nome a efte my-
ílerio com advertências de
humilde, por iíTo declarou
que ainda q fenão tomou o
nome ao Sacramento , fc-
guiofelhe o exemplo. Dei-
xaie o nome do Sacramen-
to,porquediz mais,toma-
fe o nome da Cruz,porquc
diz menos ; que fe preza o
verdadeiroamor , do que
he,&nãodoque fignifíca.
Baftelhe à Religião fcr
Cruz ex vi verhorum^Tiuiá^
que feja muito mais per
concomitantiam. Tão jufto
foi logo deixarfe o nome
de Zacharias quanto à íig-
niíicaçáo, como quanto à
realidade : Et fat mater
ejus : Neqíiaquam.
§. VIL
505 A Caboufenosa
/\Thcma5& fe
me naó engano tenho pon-
derado todas as clauíulas
delle,com alsua femelhan-
fómenteomenosque nel- ça às obrigações deíle dia.
le haviaj que os nomes,que Mas também vejo, que re-
compõem a humildadcjsê-
precallãomais do que di-
zem. O que diz, he corpo,
& fangue i o que calla,he
alma;^divindade.O mef-
parariaó os maiscuriofos,
em que paíTei em filencio
aqucllas palavras : Audíe*
runt viciíú^ ò' cognati , ò*
congratídabantur ci. Con-
fcífo,
riiíiimi
msà
S:loaS
fisíTo", íjueiiâo fallei neftas
.palavras j & também con-
feíTojqueas deixeijporque
não achei nellas femelhan-
ça/enáo muita difFerença
do noíTo intento. Cognati^
(^ v/dm congraíulabafituT
ei. Là no nafcimento do
Bautiítadizo Evangelho,
que os parentes, & os viíi-
nhos eftavaó muito conte-
res, & agradecidos [j porem
cànaóheafílm. Tão fórà
eftáo de poderem eftar c5-
tentcs os viíinhosjôc os pa-
rentes; que antes o pa-
renterco,&: a vifinhança tê
razaõ de eftar queixofos.
Tem razão o parentefco
de eftar queixofo, porque
fe vè a fy deixado : tem ra-
zão a vifmhança de eftar
queixofa, porque vè osef^
tranhos preferidos. Quan*-
do o Tangue fe vè deixado,
porque naó ha de eftar
queixofo o parentefco t E
quando as Eftrangeiras fe
vem preferidas ás natu-
raes, porque não ha de ef-
tar queixofa a vifinhança.?
Não fe diga logo aqui ;
Cognati^é' vícini congratu-
hbanturei. Acudoaeftas
^ Tom./.
Bautijfa. f^f
duas queixas, & acabo.
5-07 Primeiramête di-
go, que não tem razão o
parentefco de eftar quei-
xofo 5 porque quand© ás
obrigaçoens do fangue fe
deixaóporamorde Deos,
não he fazer off^enfa, he fa-
zer lifonja ao parentefco.
Da parte de quem he dei-
xado he facriíiciojinasda
parte de quem deixa he li-
fonja. Tudo provo. Hof-
pcdou Martha a Chriftô
em fua cafa, & tinha cfta
fenhora húa irmãa,a querii
o Texto chama Soror Ma- lhc;
x\^\Ethuk erat Soror no-
mine Maria : a qual fe reti-
rou com Chrifto -, & aíTen-
tada humilde a feuspès, o
eftava ouvindo,&contem-
plando. Chegou Marthà
aoSenhor,&: diíTelhei^^?-
mtne^nonefttibi cura^ quod
Soror mea reliquit mefoiam
minijirare? E bem Senhor,
tanto vos defcuidais de
mim, que naó vcd^s^ que
minha irmâa me deixou
fó .? Efta foi a hiftoria; duas
fáó as minhas pondera-
çoens. Digo que Martha
na queixa que fez de Ma-
Nniij ria
'"^"mmm
'i
{
31
í
a
i
1
i
1
^ Bb
i
\
5"/^^ Sermão de
ria oíFereceo hum grande porque a deixara
facrifícioaChriftoj&Ma- "' ' "
rianaoccaíiaójque deo à
queixa, deo hua grande ík-
tisfaçaó a Martha.
508 Difficulto aíTim.
Chriílo naó foi o que cha-
mou a Maria 3 Maria foi a
— - Maria?
Mas deites dous facrifícios
qual he maiorj o de Maria,
ou o de Martha > Eunam
me atrevo a dar fentença
neftacaufa. Sòdigo, que
fe nefte lugar pregara S. chrri
^- „,.._. _ Pedro Chryfologo,havia
que íe allentou a feuspès de dizer, que o facriíicio
íagrados.Poisfeaoccaíiaó de Martha era maior que
jufta.ouinjuíla da queixa ode Maria. Pergunta S. Gen
Pedro Chryfologo, quem *
fez mais, fe Abraham em
a deo Maria , & não Chri
floi porque propõe Mar-
tha a fua queixa a Chrifto,
& naó a Maria ? Porque
Martha nefta acçaó nam
pertendeo tanto dar quei-
xas de Maria, quanto oíFe-
recer facrifícios aChrifto.
Como fe diíTera Martha r
Não cuideis, Senhor, que
fó Maria he a que faz as fí-
nezas,que eu também vos
ofíereço as minhas. Maria
facrifíca fua devaçaó,eu fa-
crifíco minha foledade :
facrificaralfaac j fe Ifaac
em fe oíferecer ao facriíi-
cio ?ílefolveq Abraham;
& verdadeiramente tem a
Efcritura por fua parte.
Pois fe Ifaac era a vidbima,
que havia de ficar niorto:
fe Abraham era o Sacerdo-
te,que havia de fícar vivo;
como era, ou como podia
fer, queofacrifício foíTe
maior em Abraham , que
em Ifaac ? A razão he eíta.
Rehjuit mefolam miniftra^ Porque Ifaac facrificava a
re. Ella ofFerecevos o eftar fua peífoa, Abraham facri-
com vofco, eu ofFereçovos
oeftarfemeila. De forte
que em húa acçaó havia al-
3i dous facrifícios : hum de
Maria,porquefc fora para
Chriílo, outro de Marcha,
ficava a fua íòledade: Ifaac
ofFereciafe a fícar fem vi-
da, Abraham offereciafe a
ficar fem Ifaac. E fegundo
o muito q Abraham ama-
va aqucllcfíJho, maior fa*.
crifício
S.Joa^
crifício fazia em o dar a el-
lc,queelleeinre dará fy.
Bem digo eu logo, que foi
grande íacrificio^o q Mar-
tha offereceo a Chrifto en-
tre fuás queixas, pois lhe
facriíicou não menos que
a foledade de Maria: Reli-
quit me filam minijir are.
cop E que Maria na
mefma occafião, que deo à
queixa,deo húa grande fa-
tisfaçáo a Martha , não ha
duvida. Porque ? Porque
deixar Maria a Martha
náo por amor de outre, fe-
náo por eílar com Chrifto,
foi dizerlhe claramente:
que fazia tão grande efti-
maçãodeíiaa companhia,
que fó por Deos a podéra
deixar, & fócom Deos a
podia fuprir. Vendo os fi-
lhos de Ifrael, que havia
quarenta dias, que faltava
Moyfes,por cftar fechado
com Deos, determinarão
abalar dope do monte, &
irfe.Foraófeter c5 Araó,
& diíTeraó allim : Fac nohis
Exod. ^eos ^ qui nos fracedann
gi. * Moyfienimhmc vira nefi'i--
mus quid acciderit \ Araó,
fa^einQS hum Deos, q nos
Bautíjfa. s^7
acompanhei porque na m
íabemos que feito he deftc
homem Moyfes. Linda çó-
fequenciapor certo! Daí
cà hum Deos, porque falta
Moyfes. Moyfes nam era
homem .<* Elles mefmos o
dizião : Moyfienim httic vi--
ro. Poisfe Moyfes era ho-
mem,porque pediam hum
Deos em falta de Moyfes ?
Porque haprefenças, que
fó por Deos fe podem dei-
xar i &c ha aufencias>quefó
có Deos fe podem fuprir.
Gomo os Hebreos amavão
tanto ao feu Moyfes, & fe
vião forçados ao deixar,
faziaó efte difcurfo. Jà que
fe ha de deixar Moyfes, fó
por hum Deos fe ha de dei-
xar j&jà que fe ha de fuprir
com outrem o feu lugar, fó
com hum Deos fe ha de fu-
prir. Por iílb pedião a A-
raó hum Deos, 6c não ou-
tro fubftituto daquellaau-
fencia: Fac nobis T>eos^qui\
nospr£cedant. Efta fatisfa-
çaóderap os Ifraelitas a
Moyfes, quando o queriaó
deixaria efta foi a fatisfa-
çaó,que deo Maria a fua ir-
mãa 5 quando a deixou,,
Nniiii Dei-
I
f68
Sermão de
Deixou de cftar comella,
mas por eftar com Deos :
^iuaetiam fedefis fecus fe-
(íes T>07nini. Naó tem logo
razão o parentefco hoje de
fe moílrar fentido,ou quei-
xofo, fenáo contente , &
agradecido : Cognati con-
gratiilabanturei.
fio Et audierunt vici'-
ni. Também fenam deve
queixar a viíinhança de
ver as Eílrangeiras prefe-
ridas às naturaes. Eporq?
Porque húaaima, que por
mais fervir a Deos quiz
ajuntar a claufura com a
peregrinação , neceíTaria-
mente ouve de deixar os
naturaes5&: bufcar os Ef-
trangeiros. Húa das couías
que muito agradou fempre
a Deos em feus fervos, foi a
Gen?T2. peregrinação. Por iíTomá-
l'^l]l doua Abraham, quefahif-
fe peregrino de fua pátria:
poriílo quiz que peregri-
naffe Jacob em Mefopota-
miaJofephnoEgypto; &
a© mefmo povo querido
de Ifrael , porque o efco-
Iheo para fyjO fez peregri-
nar inteiro tantas vczes,6c
por tantos annos. E como
Deosfe agrada tanto dos
peregrinos C^^e também ^^^^th,
o quiz fer nefte mundo 3 ^
que faria húa alma defejo-
fa de agradar muito a
Deos,vendofe obrigada à
claufura pelo feu eftado,8c
inclinada à peregrinaçam
pelo gofto divino ? Pere-
grinação, & claufura nain
podem eílar juntas ; pois
que remédio ? O remédio
foijcntrandoem Religião,
efcoiherhumMofteiro de
Eftrangeiras ; para q vieíTe
deíla maneira a achar jun-
tas a claufura, & a peregri-
nação : a claufura no lugar,
aperegrmaçaó na compa^
nhia. Quem cuidaria , que
era poílivel eílar juntamê-
te em Portugal, &: peregri-
nareniFlandes? Pois iíIq
hc o que vemos hoje cora
noífos olhos.
fii Falia David da,
peregrinação dos lilhos de
Ifrael para Paleílina,^ diz
aílim: Cum exiret de terra^?íL\.^^
ç^yE^yptiy lingnam qna non
noverat audi^it'. Quando o
Povo fahio do Egypto,ou-
vioalingua,qucna6 ente»
dia. Particular moao de re-;
parar \
««M
S.loao
parar! Se David pondera-
va a peregrinaçáo dos IC-
raelitas, parece que havia
de dizer, que paftaraó cli-
mas incognicos, que cami-
nharão terras desconheci-
das. Pois porque naó repa-
ra nas terras, fenaó nas lin-
guas ? Porque naó diz, que
andáraó por terras eílra-
nhas, fenáo que ouviram
Jinguas eílrangciras ? Por-
que julgou difcretamente
o Profeta, que a formalida-
de da peregrinação nao çó-»
fiftia tanto na mudança
dos kigares, quanto na dif-
ferençadas linguas. Nam
efl:à o fer peregrino na ef*
tranhcza das terras que fe
caminhão, fenam na eílra-
nheza da gente com que fe
trata : Cum extret de terra
t^ígyptiilifiguam qua non
noverataudivit. Sahir do
Egypto para onde fe ouve
outralinguajiíTo he pere-
grinar. K fe he verdadeiro
peregrinar o viver entre
gente de lingua eftranha ,
bem digo eu, que fe viraó
aqui juntas milagrofamê-
te a claufura , & a peregri-
nação ; a claufura no lugar,
Buutifla. ^6c^
a peregrinação na compa-
nhia. Naó deve logo de ef?
tar queixofa a viíinhança j
pofl-o que a queixa parecia
juftiíicada j antes tê obri-
gação as Religiofas Portu*-
guezas de fe èdiíicaremj &
alegrarem muito de verem
(^ fobre hum táo grande
exemplo 3 hum tão novo,
& particular efpirito na
proíiífaó de feu eftadojtro-.
cando as apparencias do
fentimenío em motivos de
parabensi Vicini congéatu^
labantur ei.
fij Temos acabado a
Sermaó,& com eile as Vi-
(florias do Impoííivel , quo
aílim fe chama. Doulheef-í
te nomejnão fô por fer Ser<^
mão do Nafcimento do
Bautifta, com o qual pro-
vou o Anjo, que nada era
impoííivel a Deos : ^i/a ^"c»^^
non erit impoffibile apud
T^eum omne ver bum s íenão
por fer Sermão defta pro-
fiíTaó foi emniííí ma, que ce-
lebramos, na qualíem ha-
ver reparado , deixo pro-
vados fcis impoííiveis. No
nafcimento do Bautifta
venceofehum impoííivel,
^ue
570
Sermão Je
que foi ajuntarfe eílerili-
dade com parto : Elifabeth
feperitfilium. No aáo de-
fta profifTaó vencéraófe
féis impoíliveis , que foraó
os que ordenadamente vi-
mos em Ç^^s difcurfos. No
primeiro,ajuntarfe a Cor-
te com o deferto. No fe-
gundoa mocidade com o
defengano. No terceiro a
grandeza com o defprezo.
No quarto a innocencia
comocaftigo. No quinto
a vida com a morte. No
fextoaclaufura coma pe-
regrinação. Efeisimpoíli-
veis vencidos na terra,que
devem efperar, fenaô lú.s
coroas ganhadas no Ceo?
Darvos-hano CeOjErpofa
fereniíTimade Chrifto , a
Corte com o deferto hua
coroa de folitaria entre o
Coro dos Eremitas. A mo-
cidade com o dcíengano
húa coroa de prudente en-
tre o Coro dos Doutores.
A grandeza com o defpre-
zo hua coroa de humilde
entre o Coro dos Apofto»
los. A innocencia com o
caíligo hua coroa de peni-
tente entre o Coro dos
ConfeíTores. A vida com
a morte húa coroa de mor-
tificada entre o Coro dos
Martyres. Aclaufuracom
a peregrinação húa coroa
de peregrina entre o Coro
das Virgens. Aílim triun*
fa^quem aílim vence: aífim
alcança, quem aílim mere-
ce : aílim goza , quem aííim
trabalha:aílim reynajquem
aílim ferve : neíía vida a
Deos por graça ; na outra
vida com Deos por gloria:
§iuam mihh & vobisy &c»
EINIS.
I N-
ââiiâi ààààààààààààà' àààààààà
ffffffffffff:fffffffffifffff
I ND EX
Dos Lugares da Sagrada Eícíkura.
OsNumeroSyfígrííficãoasTagmasy&asC&/ums.
ExLib.GeneC
Cap. I . V. I. T A* principio creavit Deus
J C^lãj (S t erram, pag. 5 x y,
col.i.
v.l.Terra autem erat inanis,^ vacuAy
pag.rLiG.col.i.^Sp.âpf^.coLi.
, Voiá. Et fpiritm Domini ferebatítr fn»
per aquas^pag.á^li^xol,!.
v.^i^. Fiat Ihx, E.faãa efi lux, pag. 62.
col.i.
■ «'.4. E: vidit Deus Incem qmd ejfèt bo"
\^ }ia,pag.6z.ço/. I.
'Verf.i^l .Benedíxitífue ei<;p Ç}C).coL l.
,■ Ibiá.Crejate^O' mfíltipiieammi,p. ^.
coli.
V. 24. Sccmdumfp^ciesfHas , fag. 59,
col.i.
^ f . i6. Faciamus hominem ad imagi-
nem , Ç^ ftmilitPídmem noflram : &
, praJttpifcibHs maris.ZSc.pag.xz/^.c.í.
injin.&fic^i^.p,^ g I .Í-.2. ífi fin.^feqq.
^p'^7y. coLx. 'infin.^feqq,
C>2.^.x.Y .z. R-qiiievit diefiptimo ah uni-
■ verfi opere quodpatrarat^p.'^ i ç.e. i .
s-',^. Ab omm opere [m qmd crcfívit
Deus,utfa€eret,pag, ^19 xol. i ."
V. ij.rt operaretnr^^ cufiodiretillum^^
pag.â^iyO.col.iànjin.
• V. x^.Erpim dm in carne f^naypagx^f,
coli..
Gúp.'^,v.^.Nequaquam morte mor temi»
m,pag.'z6^col.x.& fiqq.
v.^.Et eritisficHt Dij^p. 194. cal. x. ift
finp.z6^.c.%.^p.'^^o.c.2.inprinc,
Í/.9. Adam, ubi es ? pagxi.eol.i..
V.Z I . Fecit quoque Dominas Deus A-
díe,& uxori ejus túnicas pelUceasy ^
induit eos,pag.f^/\..col.t.
v.xz.Nefortefumatetiam de ligno vi»
ta, ^ vivai in aiernum^pag. xf^.çoi^
v.ij!^.Coílocavit ante Tara^fumChs»
rHbim,& flammeumgladium ad ett^
' fiodiendi^é, m vii^m ligm vit<s;,pag. x^Q»
Col.X.
Gap.6. V.4. Gigantes autem eram fuper
terram^p.^.col.x.
V.14, Fac tibt Arcam de- lignis kviga»
tis,pag.'í^i'i.col.x.
l^i^úMatiffíncHlaiin Ana fácies , (§
51^
Index cios
bituminc fivics intrinfe^Hs j O extrin-
fecffs, pa^.^ 1 i.çol.tr^ ' ■" " ^ '"'
v.i^. Et Jic fácies eam, pag. g iz.col.z.
■ - ^.ZO..ytpo]fint vivere,p.'^i'2^.c9l.i.
Cap. 1 1 . v.í^.CelebremPis nomen noflrum ,
^ antequíim àividamur^ p.'^i'^.coí.i.
Cap.ii.v. I. Dixit antem JDominus ad
Abram : Egreàere de terra tua^ i3c. p.
5^68 cqI. I .
Cap. 14.V. I ^.MelchiÇedech proferem pd'
nem ( era,t enim Sacerdos Dei altijfi-
mi, ) pag.z^i.col.z.
C^p.i^.v.z.C^ g. Ego vadam abfcjue li-
beris : ^ , Eliex^er vernaculus meus ,,
haresmeHserit,p.'^'j^.col.z.
Cap. i^.Y..'L.4pparnerftnt eitres viri^a^.
. , 91.C-0/.I. - ,
"V.io.Revcrtensveniamad te tempore
ifloy vila comité ^& habeb.tt filtfim Sa-
' 'ra Hxoriua^pag.^i .col.z.Ç5 feq.
. \V, 14. Juxta condigam reverter ad te
hoc eodem tempore^vita comité, p. 91.
L. col.z.mfin.CSfi<l.
Cap. i^.v.râp.DommHSpluitffiper Soda-
mamfiílphur,& igriem à Dommo de
Calo,púg.^O:\..col.z.
Cap. i I .V. 10. Ejíce ancilkm , :^ fUifir»
cJHs: non emmerit haresfilim.analla
CHmfiliomeo/faaCyp.O^yy.c.Z-tnf».
C^\-).zz.v.Z.(^fe^^ToUefltfim tuum fim-
gcnitum, ^uem dtligts, Ifaac, de. pag,
^GG.coL.T..
• i-.iS. Benedicemur in fentine tuo om-^
■ nesMg.^6.coL%.p.ç)J .col.x. (Sp.ioi,
col.z.
Cap. 2 •'. V. í^4. Parvipcndem ^uodprimO'
íTrnita'vnidídíJ[et,p.^97 -col.z.
Cap- 2.9. V. I • Profcãuscrgo lacob vcnn m
taram oncntaUm.p .'^G^.coLi.
C^^.7;7.v.iXiinmmpoljmu^,p.3i.$^
, V. 1 8. Cogltaveríifít iUum eç^id^re^pag.
^i^.ccl.i. '; ' '"^ :
v.i^.Ecce fomniator venit : venite, oc
cidamtis epim,pag.%zxol. 1 . infin.
Cap.g8.v.27. . KnHsprõtHlU mannm , itk
qua obfietrix Ugavit coccinam , pag.
-• -■ : -ijj.eol.z.
Ibid Ifie egredietur prioTy pag.zi^.c. li
Cap.59.v.i. Igitur lofiph dftãus efi in
zj£gypt!'í7njdc.pag.^G^.col. i .
C^p.^i.y.^.Exp/oraíoresefiiSip.jT^.c.z.
Cap. 48. V. 7. Aííhi enim cjuàndo venie^
bam de Afefipotamia^ ^c.p.f^ 1 .c-Z.
Cap.49. V. ^. 6c 4. Rnben prtmogtnttus
mem^c. non crefcas,p. 101.C.1.& 2#
V.^.Catfilfis Leonis /f(da,pag. ^^.col.i,
infin,
Ihiá. Re<jMÍi^fi-ens acmbffifii nt Leo,p\
98.6-0/. I.
«í^W. I àf-Ifachar Aftnftsfortis, pagi/^^.i.z.
inprinc.& p.çS.coLi.
■ v.i y.Fíat Dan Coluber in via, p^^-4.^.
col. I .infin .^ p.^ ^'Col. i .
v.z I .Ncphthalí CervHs ^mij[fií,p.^^.c,
I .infin.& pag.^S.col. 1 .
V.ZZ' Filius accrefccns lofeph ,filÍHS «í--
crefcens,pag. i o i .col. i .tnprtnc.& c. z.
C^ pag./^i6.col.z.
V.zi .Benjamin Lúpus rapax,p.'\^.^.l»
infin.(S p.g^.col.i.
ExL.ibr.Exodi.
Cap.^.v.:^. Fad.im, & vidcbd vi/micnt
hanc magnam.p.ii^Oi.col. i Mfin.d p,
á^ç)<).col.i.tnfin.^fc!j.
'y.^.Cemens íjkod pager et ad vidctídu^
vocavU enm.p.-xp 1 xol.z .m pnnc.
<u.i^.Loci4S entfn tn que fias, terrafanFlA
eft, p. 1^0 \. col.z,
1.^. Deficndt u( Hbsrem mm^pag.^o i ,
Ca|?,
Lugares da Sagra
Ç3p,4.V.24. Cum<^ue ejfetin itinere.in di~
verforío^occurnt ei DominHSy ^ vole-
kit occidere eum^p. 1 6 1 .c.l.infin.
V. t^.SponJfí ifanguintim tu mihi es,p ^g.
i6'^.col.iJnpnnc.
vx6. Et àimijit eHm,pag. 1 6'2^.co!.i.
Qà^.^y .z\.Grandoy & ignis mifia pari'
terferebantHr,p.í^(^^.col.\.
Cap. 1 2.V.29. Faiium ejl ^amem in noBis
médio, per CHJfit Dominus omneprinta^-
genitnmin terra t/^gypti,p. 190.C.1.
Cap. 9 .V. I G.Et ecce caperum audiri to-
nitrua,^ micare fulgura^ pag.^jS.c.
V. 1 8. Totm amem mons Sinai fuma-
hat : 60 qmd dejcendijfet Dominu-s fi-
per eum in igne^p.^jG.col. 1 .
Cíip.23. V. 1 5:. Non apparebisin conJpeBtt
meo vacHHs^pag.ijG.coLz.
Cap. 5 1 . V. I . Fac nobis Deos, qtii nospr^'
cedam : Aíoyftenim hmc viro ignora-
mmcjíiid accídentjp.^Sy.col. i.infin.
'V. 1 t.Ns <^Hdífo dicant zy£gyptijp. i ai.
col.i. *
V. 5 r. C? g i. Am dimitte eis hanc no-
xam\aHtf%nonfacis^deUms deli.
bro tm^cjíiemfcnpfiiii^p.^fj, c.i.
Gap.3g.v. i^. luvemfii grattam coram
me^^ag.^ycoL.í.
í/. I g. Si ergo ínveni gratiam in confie^
ãu tuo, ojíende mihifaciem tuam^ ut
[ciam te , ^ inveniam gtatiam ante
óculos tms\,pag.'^%'^.col.z. ^ fiqq. (3
pag.^xG.col.i.
Ex LibnLevíticí.
Cap.6,v.i2. Tgnis in altarifemper arde-
bit^pag,'!.'^ r.. col. i jn fin.& coL 2.
Cap. 16. V, t, Ne ingredtaiur SatiBua-
rÍHm,qmdcfl mira vdum^ mfi hu
daEfcritura. 57^
amgfecerity pagl^^^.eol. lànf.a. Úp,
XJi^.col. I .
V. 7. P^itulmn pro peccato ojferct, & arie-
temin holocauflum^p .i^^ii^.c . i .mfin.
v.i\.& I^. Hisrite celebratis^ &c. ul-
tra, vdmninirabitit; Sanãa,p, 25'g.í'.
i.mfin.
£x Libr.Deuteronornij.
Cap.^.v.i^,. Deus tuus ignis conjumens
efl,pag.^'j6.coL2..
v.'^6.AHdijliverba illin$ de medío ig-
gnis,pag. 4.7 6. col. 2.
Cap, 1 7. V. ( f. Nonpoteris akerius gen tis
homine Regem facere^qut nonjjtfrater
tuHS\pag.'x^!^%.col.\.
Cap. 18. V .it.Hochabebisjigntim : Quoi
Prophetapradixerit, &' non evenertt :
hoc Dominus noncfi locutus^pag. 1 1^,
coL\.
Cap.29.v.Z3. SHÍphure, & SoUs ardor e
comburens , in exemplam fubverjionis
Sodoma^pag.^o^.col.i.
Cap.^2. v.^4.iVô««^ hjíc coditafint apt-íd
me,(3fignatain íbejoaris meisf pag,
iy.col.i.in me d.
v.'^^.Mea ejl ultio, & ego retribuam eis
in tempore ,pag. 1 7 .col. i . in med.
Cap.33.v.i9. Inundaíionem marisqMoJi
lacfugent , ^ thefauros abfcondttos
arenarum ,pag. 4 74. eol.z in princ.
Ex I..ibr.Iofue.
Cap. 7. V, 9. Quid fácies magno nomim
tuQ?pag. i^i.col.j.
ExLibr. lucltcum.
Cap.^.v.^.Niinfuid pojj/tm deferere pin-
guedinem meam, (3 venire , Pit inter
ítgnapromovear} pag.'^^'j.c.^.
v.iz^Veni^& VíKpcra nobis,p.'^â^J.e.7.
v.iâ^.Feni^^ impera fiiper nos,p-. 548.
çcl.j,
"^r 15*,
fJ
574
Index dos
v.í^. Sivere me Regem vobis confli^
tnitis^ venite , &fih umbra mea re-
tjuiefcite :Jiautem non vultis^egredia-
wr ignis de rloamno^\í devoret Cedros
Lihaniyfag, 548.CÍ?/. i .
Gap. 14. V. 1 2. Proponam vobis problema,
pag. 1 y^.col.z.
Cap.ió.v.iy. Qmmodo dicis ejuod amas
me ? Per três vices menWfis es mihi,p.
Ex Libr.i.Regum.
Cap.i.v. lg. zy£fiimavit eam temí^len-
tam^dixitqm ei : VfqHequo ébria eris?
pag.ji.vol.i.
Cap.2.v. I o. Dominam formidabum ad-
verjàrij ejí4s,fuperipfos in CahstonA'
bít^pag.^HS.col. I.
Cap.g V.12. (^fiqq. In dte ilUJufcitabo
adverpAm HeU,^c.p. 5*4 1 .c. i .
■C^^.^.Confiitue nobis Regem.pcm Ç3 uni-
verjk habent nationes,p . 7^ ip coL i ,
Q'A^.\ ^ .V .^p.Peccavi :fed honora me co-
ramfmiortbpu populi mei , ^ coram
Ipael^pag. 1 '^^.col.z.&feq.
Cap. 16.V.7. Homo videt ea, qudeparent ,
Dominus autem inmeíur cor, pag.6^.
CO Li.
V. i^.Fídifiliíim Ifii fcientempfallere ,
k3 fortijjimum robore, (3 virum belli-
cofíimJS prudemem m verbis, & vi-
rumptilcbrum ; ^ Dominus efi cum
eo,p.^ 11. col.i.
Cap. 1 7. v.4.^.^ fe<^:j. Et egrejfíís efi vir
fpurii^s de caft-rísPhilifihinornm,nomi'
ne Coita h, de Geth, altitadtmsfix cft'
biíor;im,^ p^lmi , ^cpag.^/^y.col.z.
inprmc.
Cap. i8.v,4. Expoliavitfe Ionath.ts tú-
nica ejua erat mdfítus, ^ dedtt eam
DAV:d,p.i^'íí^.col.z.tfjfih
V. 7. PercuJJit Saulmille, ^ David de
cem millia,pag.6j .col.i,
Cap.2i . V. 1 1 . PercHJjit Sanlmille^íS Da-
vid decem mtllia,p . 5- 1 ixol.i.
V. 12. Poptít David [ermones tfios in
cordefro , ÇS extimmt valde a fac e
Achis Regis,p.^ i t.col.x.
Cap.2i .z/. i .Abtjt ergo Davtd inde,Ç^ffi'
gtt ínfpelnncam Odollam^p.^ il.c.z.
Cap. 28. V. 1 5-. J i i xta Tex c. Hcbr. jQtta-
re tncfuietafti me, m afcendenm ? pag.
ZlS.col.l.
Ex Libr.2.Regum.
Cap. 12.V. I ^.Peccaviypag. 1 55". col. i. #'»
princ.&fetjíjl.
Ibid. Dominus quoque tranfiulit pecca-
tum tH(4m,p. I "^^.col. I .
Cap. 1 4. V. 14. Omnesmorimur , (3 cjHaJi
aijHa dílabimur,p.z^.col. i .
v.zó.Et quando tondebat capillum, ^c.
p^.$^i. col.i.in prmc.
Cap, 1 7.v.2:^. Vtdens cjHodnonfuijfet fa-
ãnm conJilÍHmffium,pag.^zo. col. 2.
&feqq.
Ibid. Ãbijt in domum fuam:^ dijpo/tta
domo fiia^fiffpendio interijt,pag. ^zoc.
I .^fecjq.
Ibid. Et fepHhusefi infepulchro patris
Jfíi^p.^xo.col. I.
Cap.ip.v, gf. ^56. Oãogenarius fum
hodie : ÇSc. non indigeo hac viciJJitHdi-
n\pag.tç^Z.col.i.
V ; j.Efifervus tuHs Chamaam.ipfe va-
dat tecum^pag.^i^r.col. i .
Cap.22.v.8.9.io.;:^. <S feqq. CommotA
#/?,0í contremuit terra : fmdamenta
monti.m conctfjfa f:nt^ Õ concjuajja-
ta,c]íioniam mitus efi eis. Afcenditfft»
mas de naubfis ejui , ^c.f^ig. 488.<-.
i.infin.^fcqq.
EM
Lugares da Sagrada Efcritura.
v.^i. Cribrans aquas de nubibus Ca^
lorHm^pag.^ ; .col.ian princ.
Cap.i^.v.S. Hac nominafortium Da-,
z'iJ,pa^.^^ j.col.z.
Ibid.Davídfidem in c athedra fapien^
úljimm Princeps inter tres,ipfe efi qua-
ji tenerrimm Itgni vermtculus , qni
oãingemos inter fecit impetn uno^pag.
^0)^X01.2..^ feqq.
ExLib.g.Regum,
Cap. 1 1. V.50. PalliuntfuHnt novHm,pag.
103.C0/.1.
í/.ç^i. Ecce ego fcindanj- Regnum de
mann Salomonis, ^ dabo tibi decem
Tribns^pag. i o^.col.^anprinc.
Cap, 1 7. V. I . P^tvit Dominíís,in cujus conf-
peã!*[h),Jí erit ros, ^plfívia. p. i o jr.
coL I .
Cap.i8.v.24.. Deffs, qffi exmdierit per
ígngm,pag.^y6.col%.
Cap. 29. V. 14. Zelo z.elatusptmpro Do'
mino Deo exerciiuumy k3c. & dereli-
UusÇnm ego folus^pag.ioi.c.^.
V. 1 8. Derelinquam mihi in Tfraelfip'
tem millia virorum , quorum genua
nonJuntincHrvataanteBaaly p. 102.
€ol.z.
Câp.zi.v.z Hortumolerum,p.^^o.c.i.
í/.if. Fenundatus efi, ut faceret ma-
lum,pag I 'ip^.col I .
Q'^'^.xi.y ."S^. Anignoratis quod noflrafit
Ramoth Galaad, & negligimus tollere
eam de m^nu Regts Sp ^e? p.\ 09.^.2.
«z/.ó. Congregavit Rex Ifrael Prophe^
tas, cjuad ingentos cirúter viros ,pag.
109.C0/.2.
Ibii Iredebeo in Ramoth GaUad ad
belUndum^an cjuisfcere? p . 1 09. í-. 2 .
Vdià.Afcende^ ^ dabit eam Dominus
mmanHtua,pag.iio.c.i.
v.S, Remanjtt vif Hnus: fed ego odi eum^
quianon prophetat mthi bonum yfeâ
inalum,pag. 1 1 o col.
V. 1 3 . Stt [ermo tuus fimilis eorUm , (3
loquere bcna, pag. 1 1 o.col.z-in princ.
1'. 14. Vivit Domm^Siquía quodcuncjue
dixerit mihi Domm^Sy hocloquar^ p.
IlO.Col.2.
Ex Libr.4.Regum.
Cap.i.v. 11. Homo Dei, hac dicit Rex 1
Feftina, defiende, pag.^01 .cz.
v.lt. SihomoDei egofum^ dejcetidaí
ignis de Calo,Ç3 devorei te^ & quin*
quaginta tuosypag.joi.c.í.&fejq.
Cap.2. V. 1 1 .Et ecce currus igneus^& equi
ignei diviferunt utrnmque.p. joi .cl*
Cap.4.v. yVafa vácua non pauca,p.i'j6.
col.i.
Cap. 5'.v. 7. ánimadvertite^ ^videte^ quod
occaftones quarat advetfum me, pag,
yi.coLidnfin.
Cap.20. V.9. Kis ut afiendat umbra decem
lineisy an ut revertatur totidem gradi-
bus ? pag.zo/^.coi. I
V. i o.Factle efi umbram cr encere decem
lineis: nec hoc volo ut fiat ,fèd ut re -
vertamr reirorjum decem gradibus^
pag. to^.col.x.
Ex Libr. I . Paralipomenon.
Cap.xo.v. I . Eo tempore.^ quofolent Reges
ad bella proceder e ,p.izy .çol. 1 .
ExLibr.Tobiç.
Q^>.^ .v.i6.Rogo te, indica mihiyde qua
domaram de qua tribu es tu? p.^o.c. i.
V. I H.Ego fum Azoarias Anania magni
filÍHs.ipãg.i:)C .c. 1 .& pag.^z.e.l.
Ex Libr.Eíther.
Cap. 7. V. 8. Etidm Reginamvuh oppri>-
inere,weprafent€yin àomomea^ pag,
yi.coLi..
Ex
. — ::'-^»»*i«pi
•^16
ExLibr.Tob.
Çap.^.V.l^.C^ lâf.EtriHnc requiefcerem
ctim Regibtis,^ Confulibus , qui aãt-
ficmtJlbifolítíidmeSip .^-^J.col. i.(S
V. I o. Si bonafHfcepimus de manu Deiy
mala quare nen frfcipiamus ? fog.^^
col.z.
dap.'r.v.'2. 5/'í'<!5' egohabm n7enfes va-
Index do9
CfíOS.p.
''d.X
y^.coi.i.
v.S. Nec afpiaet me vipis hominis, pag.
ij^.col.i.
Cap. IO. V.6.FÍ qtíízras iniquit atem. meã ^
^ peccatum meum firmeris ? p . z^.c.
l.inprinc.
v.j. Et feias cjuia nthil impiumfecerim^
pag.i^.c.\.^ 1.
Cap, ig.v.xj. Contra folium, qmàvento
rapittiyjftendispotmtiam tnam ,pag.
5 i^.col.t,in fin.CSfiq.
V.Z7. Obfervafli omnes [emitas meãs, ^
: vc-flio^apedirnimeorum corfiderafii,
pag.zf.coLi.infin.
Ibia. Secundúm Septiiaginta. Et
r adices peànm meortim conjiderafii ^
pag.iú.col.i.
Cap.i4.v.2. EtnnnqHtmin eodemflatu
permanet,pag.ix.coLi.in med.
Cap.:^8.v.22.0' xi.Ny^nqmd ingrejp^s es
thefiifiros nivis, ant thefauros grandi •
nisvidifti\ ciua;pr^paravi in tempfis
hofiís^ in dicmpHgn&^^ belU ? /'.47 5.
1;,;^ íol.i.infin.Z^y feqq.
■ >J».:^f ISJHncjíiidmittes fulgura^Ç^ ibíit :
Ô' revertentia aicent ttbt : Adfamus ?
pag.\%c.col.i.^ X.
Cap, I 7.V. 1 1 . Dtes mei tranfierimt , cogi^
, tationes meee dijfipatxfiwt, torquentes
cor meum^ p.^;J .col.x.in fm.^feqq.
. ' -^.15. SífitjlmHçro^tnferpHs dçmus mca
jeqq.
V. I ,\..PHtrediyn dixi : Pater meus es :
Marermea, Z^firormea vermíbus^
pag.^ S.col.Z. Ú feqq.
Cap.^7.v.5'. Tonabit Deus in vocefua^p.
í\.C)l.C0l.l.
Ex Libr.Pfalmorum.
Pfalm. I .V. I .Beatus vir,pag.<^66.col.i.Ç^
jeqq.
V. 5. Et erit tanquam lignum^ quodplx'
tatum ejijecus dectirjns aquarn : ^uod
fruUumf. um dabtt in temporefuo ,p.
l^x.col.i.inpytnc.^p.l^-i.c.r.^feqq.
Ibid. Folmm ej^.s non defluet, pag.zc)%.
col. I .
Pfahn.a.v.2. Afliterunt Reges terra , CS
Príncipes convenernnt m tínum ad-
verfus Dowtnum , ©' adverfus Chn-
flum ejHs, p.')X6.c.i.mfin. ^fiqq.
Pfalm.4.v. ^.r? qmddtUgitis vatntatew ,
(3 qutcrttis mendacium ^ pag.ic}-'.c.v.
infin.CSfeq.
V.6. Mtílti dicHnt : Quiis ofle
bona'?pag.i^'^^.çol.i.
V .y . Signatnm efl fiifer nos Ifimenv/ih
tas tui Domine.pag.ò^':í^áf.c. i .
Plillm. 1 7.V.9. Jgnis afacie ejus exarjity
pag.úf'] 6x01.2.. \-
V .lòf.Inlonmt de Cdo Dominas ,. CS
AlijJimHs dedii voçcm [nam: granào ,
C3 carbones igms^pag.^jy.ci.
v.zrj . Cum eleito eleitas cris j CS ( tim
perverjò pervertem, p.ic)"/ .Cl.
Pjabn. 1 S.v.z.C£li enarrant gloriam Dei,
CS opera manHum ejns annHntiat fir^
mamcntiím.pag.ii^<^.col. 1 .
v."^. Dies diei crnílat vcrbum : CS nox
tio clí indicat fcientiam^p.Zâff^.c. i .
«/. c. /;; omnem terram cxtvit fonas ^fl-
r?í,CS infncs orbts terra verba eorfim^
/;.249.f.i. ^^!f^y
idy
cnait nct>!s
Lugares da Sagrada Efcritura^ 57/
V. 1 3. Jl^ occultis meis mmda me, (3 ab Pfal.6 :^.v.8. Accedet homo ad cor almm :
aliemsparceferv9 tuo,p.'^^.col.i>
'Pãlm.zz.v.^. Farafii m confpeãu meo
menfam, adverfrs cos, qui tnMant me,
pag.í6y.col. I .infin,
Tiàím.-^z.v.y.Ponens in thefaaris abyjfos,
p.í^y^.coi.i.mfin.
V.S^/pfedíXíf, Ó faãafint , p4g. 495.
coi.z.
VÍ2Xm.'i^^.^.^.Nolmtintellig€re ,«í benc
a^eret^pag.^^xol.i.
Pfalm.3 6.V. lo.Çí^res locnm ejm,^ non
mvenies^fag.í^y.c. i.
" v.'7^f.P^idt impiHmfrperexaitatum , ^
eUvíimmficm cedros Ltbaniyp. i ç6.c. 1 .
%>.l^6.Et tranjiviy& ecce non erat:^ quéL-
jivi exm,(3 non eíí inventus locns ejust
pagi^6.c.i.& x.^p.igj.c.i.
Pfalm,3 7.V. i4.£^o autem tanquamfitr-
dusncnafídí-ebamyp.i^^^.c.^.
Pfalm.^S.v. ';.Thefiúr(z^t:& ignorat cui
congregahit ea,p.^f^.c.z.
l^íúm.^z.v.fjadíca me DeHs,& difcer-
tie caufam meam de gente nonfinãíH^ab
homine iniqm eripe me,p.^^.€. 1 .in pn^
^Jeq.
IJ^falm 4:^.v. 7. Gladm meus nonfdvabit
me^p.^oj.c^i.infin.
Píàlm,44.v. 1 1 . OblivifcerepopulH tuum^
& domumpatris tHÍ,p.^^6.c.i.
•Í/.15', Adducenmr Regi virgines poíi
eam,p zi à^.c.zjnfin.
Pfahn.49.v.2 1 .Stamam te contra faciem
tuam,,p.iz^.c.i.
Píalm. fo, V. f. Peccatummeum contra
me efijèmper,p. izS.c.l.
Pfaliii^jy. v.8.yí<5Í mhtlum devenient tark-
quam aqua decurrens,p .ij.c.i.in princ.
IPíalm 6i.v.^. Preíium meum cogitme-
írmtrepsllere:,p:'i(^^x,Zy
Xom.7,
^ exaltabitnr Deus^ag. ^/í^j.col.
Plàlm.óS.v. 10. Zdmdomm tua come*
ditmeyp.io^-c.i.m fin.
V. zz. Dederunt in efcam meam fel : Cf
infiti meapotaverHntme aceío,p.^^^,
col.z.
Pfalm.yi.v. 7. Eritindiebus ejus jufii^
^ tia y Ç3 abmdantia pacis y.pag. ^^
colz.
Pfalm.yi. v.zo. Velm f@mnÍHmfmgen^
tinm Domine, imaginem ip fórum adni-»
htlumrediges,pag.\y.col.t.
VÇúm.j/^^w .^. Çalix inmanu Domini
vinimèriplenfís miflo, pag.^7,6. coLz^
P falm . yó.Y.zo.Et vefiigia tua non cog-
HofcentHr,p./!fi$.c. i ,m fin.
Vfalm.y/.v.zf. Panem ãngelorum mm^
ducavithomo,pag.z^y.c..i,
Pfalm. 78. V. 10. Ne forte dicant in Genti-
bus,pag.i^i.C'i'
Pfalm.8o.v.6. Cumexiret de terra t/£-'
gjpi : linguam^quarr^non neverat , aíf'
divit,p.^6^.Col.Z.&feqq.
v.ii. Dilata os tuum, & impkbo illud^
pag.Z^^.C,Z.&feqq.
V. 17. Cííavit eos ex adipefrumentiypag,
. z^-^.coLz,
]?Mm,B^.y4.Etenim pajfer invenitfbi
domum : Õ turtur nidumftbi.ubipmat
fHllosfuos,p.zzi.c.i.infin.
v.6.C^ jMeatm vir , cujus efi auxilium
abs te : afien/iones in cordefuo difpofuit,
in valle lacrymínrum , in loco quemp o •
fuit^ag,zzi.e.z.^feqq.(3p-â^ll.s.l.
v.iz. ^damtfericordtam, ^ ver-tmum
diligit Dem:gratíam^ é'-g^^'^^'^*^''"^^^^^
DominHs,p-i6<^.c.'i'^ ■'
Píalm.96.-z^. :^./gnis ante ipfimpraceder^
^■Mi
178
Index dos
Píàlm. loi.Y.ii.Tn omniloco dominatto-
nis ejpís benedic anima mea Domino, f.
ifi.coLi.
Pfalm. I og.v. f. Fnndafii terram fitper
ftabilit-atemfíiam^p.zi J.coí. z.
• ^' 5 ^ • -^^ refpick terram , Ç3 facit eam
tremer e, pag. iz^^xol. i .infin.
Piàlm. I09.v^4-./»r^■^;í■i Dominm,^ non
■ fanií ehit eum : tu es- Sacerdos in ^í«e-
numfecundum ordinem Melchifedech,
p.zji.c.i .infin, (S'fèfq.& p. zf^.c. i.
plàlm.iio. V.4. G? j. Memoriam fecit
^ mirabUÍHmfHorHm,ÇSc.efcam deditti-^
memibusfe.pag.i^y.c.t.
Pfalm. 1 1 T^.v.i&.Calum Cali Domino \
/>rf^.^5'8.í•.^.^ ;>.-558 c. I.
Jbid. Teritam amem dediffidjs hominíi ,
Píàlm. 1 1 8. V. I 'è.Revela óculos meos.pag.
iz^.col.i.
V.S^. In éSternum, Domine , ver hum
^ tHfim permanet in Ca/o, p. x^j.c, i .
^y. I ;5 1. Os menm aperni, & attraxi Jpi-
ritfimjp.x/^.
jp.ig7. I^ifius es Domine : Ç3 reBnm ju-
dicifím tufim, pag.'^^.c0Í.z.& pag. 79.
col.i^
pfalm. 12 7. V. a. Labores manHum tua-
rum cfuia manducabis : beatutet^^ be^
netibierit^p. ^^^6 c.i,
Pfalm. 1 34. V. 7. Fulgura in pluviam fe-
€it,pag.jfi^.e.z.
-!/. 8. ^iproducit ventoí de thefauris
fiis.pag./^y^c.i.
pfalm. i:^6.v.9. Beatus í^ui occiditpar'
vulosfiio^ ad patrem, p, i ^/^.col. i .
Pfalm. 142. V. 2. Ncn intres in judicium
€umfiivo tuo,pag.^S.c.i.
Pfalm. 148. v.4.£r a^ua omnes , cjUd; fn.
feruiosfiunt , IdHdentmmen Domint,
pag.zz^.col.i.
Ex Libr. Proverbiorum.'
Cap; I . V.24. rocavt, & renuiflis, p. i j jC
col. I .inprinc.
Ibid. Extendi manum meam,ÇS nonf.-iit
qui afptceret, pag. 1 5-5- .g. i .in pnnc.
•v.-L^. Defpextfiís omne conjiltum, />. 15'5'J
col.i.
V.z6. Ego (^uoque in interitu veflro ri»
debo,& fubfannabo^.i^^.coLi.
v.zS.Tunc invocabunt me^fS" non exau-
diam, pag. 1 5*5'. c-o /. i .
Cap.2. V. lAf.Latantur cum fnalefecerin^
pag.-^^j.c.t. infin.
Cíip.S.v.ij. Ego diligentes me ^di/igo^p.
'i^yi.col.i.
v.^o.&Qji. DeleSiabarperfmgules diesy
ludensin orbe terrarum: c5 aeltcia mea
ejfe úim filijs hominp!m,pag. 'XpG.c.i.
Cap. 14.V. 1 5. Rtfiis dolore mvfccbitur^f^,
extrema gaudij luUus occupat, P- AZ7
çol I,
Cap.2g.v.2 6.7'r^^í//i mi cor tuummi^
hi,pag. 1 5rf .£•<?/. 2 . infin.
Cap.^o.v. 16. Ignisnunquam dicit^Sf^ffi-
cit.pag.'L'j2..c.\.infúi.t3feqcj.
Ex Libr. Ecckíiaítcs.
Cap. I .V.4. Generatiopréítent , & grftéra-
tio advenit : terra amtm in <íte> num
ftat,pafí^. ly.c.i .infin.& c.i.
Ibià. Terra amem tn xiernum Jlat, pag^i
Zl6.C0l.2.ÇSfi(^.
v.f. Ontur SeU& occídit,p.ii6c.r.
V.6. Gjrai per Aíeridie?n, ÇSfieHitnr ad
A^ailonem , Inflrans nniveyfa tn ctr-^
cuitu^pag.- i6,c.2.
V. I o. NihilJ . b Sole novum ,p. i t^C).c 2 .'
Cap.2.V. I. Dixi cgoin cor de meo : Va-
díim^ é' ajjhiam deltcijs^^ fruar bcnis^
p^g,^7,J-col,i.
V. IG"
riiiifirTii
Lugares da Sagrada Eferiturá^
V.io. OmnU^ua áefidemveytmt ocfiU fiiorfám.p.iSj.C.lAnfin.Ó' Cl-
màyHonmgavíeí-s : nec prohihi. cor
mcHm quin emni volHpxatcfrmretHr^p,
V. II. Cftm me convertijfem aã univerfa
. omra^qmfecíratít mantis taça , Ç3 ad
labores^in pinhas frufir a fadaveram ,
• vidi in omnibm vamt atempe' M^Uãio-
. f^ew attimi.píig ^'^'à.c.%. uW; ^i.:. v-
Ex Lib.Cantic.Çantkor.
,Cai5. 1 .V.7. indica mthi^ quem diUgit anL
mameayubipafcas^ubi cabes in meri-
- . ^die^ne^-vagariinctpiampofigregesfoda^
. êtim.tíidrHm,pAg.y:>7-^col.z.^'pq^.^^
■ . p.'^'è'js.r.fnprmc.
v.^. Slígn0yaste,p.'7^oi.c.z.
Ibid. Egredere, C5 abipofi vefifgia gre-
gttm^O pafie hados tmsjuxta taberna-
' €Hta pajiemm,p. :^Qx.c.i.^feqq. 0" p.
gS/.cz. - '
Gap.2.v 9. En iffefiatpofl parietem no-
ftrum^p.x']'}^,col.'L'^íeqq.
■ Jí>. ia. Flores ^pparuermt m terra nofird ,
tempus putatíonis advemt,pag. 540. c.
■i.infin.
V.16. Dileãrn nfeusmihi^ ^ego ilU,p,
. 373 c.i.
Cap.^.v 6QuaeP: ifta, í^m afcendit per
, defertum r^ag.fQ^^.c.rdnfin.
Cap.4.v.6 Vadam admontem myrrha ,
ér^d coUâmthuris,pag.i6^.coL 2. &
feq^.&pag.ijg.col.i.
^. 7 Tota pffkhra es arnica mea , £? ma^
çtãa non ejitn te^p.ió^.c-^. ^fiW- :
.^.H.Kem,Jponfa mea, veni de Líbano ^
%iem cor@naberis,pag.i^^.ç.i-
'V.<^. Vvilneraf^i çor meum^foror meajpo'
Jdj vídneraflt cor weum, p.i6^<C.i'
Cap f^v.i. i^entat dileãm meus in hov
mmfm^mi^^-^omdmfruãHmpQmoríi
579
Ibid. J^eni in hortum meun^ , foror me a
fponfa^ mejfm myrrham meam,p^i6.J4»
i.Ópag.iyS.çoI.z.
-z/.! I. Coma eJHsJjçíft elàca palm^ranf »
, nigrdi qptafi çorvHs,p,zgz^ç.z.
V. 1 2. Lábia ejus dtfitlUntia mjrrham
primam^, i j^.cz.infin. &feqq.
Cap.7.v.7.. StÉúratua ajfimilata efipd->^
m<e,p4g.^i6-c.i.
Cap.S.v.)- QMi!sèliifia,qua afiendit dé
deferto, delíá/saffiffens, tnni;cafuper du
leãur^fnnm '^.p.l^)^'C. x. ^ [eqq. &p.
^'^^xoWL.infin.d (eq.
v.ó.Fortís efi m mors dileBiê^pag. 560^.
Ibid . DuraficMinfernus (ímuUuo, pagí
loó.c.i.infin & p.^6o.ç i.& ^.
ExLibr.SapieiKiae.
Cap.4.v.8:c^9. C^Kí mtemfmt fmfu
,hominis\^ (Htasfmeãmis vita immpi'
çulatayp.x^2..c.i.infin.
C^p.^.y.íEgo dprmio, é'Cormmmví'
.gilat.fag.'2^^oxol.x.
-&. :^. Fíenitentiam agentes, fí? .pr£ angu^
fiiafpiritmgementesypag.^^. coL i. íí»
princ.
Ibid. Vicentei intra fe,p.$^.c. i.
Ihid. Hifin/qfíos habmmm aiiquando
inderifpim,&in fimUmdinem impro^
perij,p.ff.càf.i.
Í/.4. Nosinfitipui ojitam lUorum (^sít"
mabamus infaniam^Õ finem UlorHmf"
ne honor.c.Mce qHomodo çompmatifí^nt.
inter Ftlioiêei, Í3tnter Smttosfirs ti-
. lorum eBjpag.f^. çoLiàn princ.
í/. : X Ergo erravimus k viíi vent.aiis , p
SolinteíligenÚAmn eft ortusnobis.pãg,
^T^.colt.mjin.
V.2. ^iã néis\pr.ofmt fupcrbia }pag.
Oo ij 53. c<
,8,
Vonò.Diviúamnjjahantia quid contulit
fiobis ^pa^.f^.col.i.tn prwc.
V. 9. Iranfierunt omnia tila tanquam
Hmbra,fag.^^.c.i.
Ibid. Tanqaam n^intim percurrens^pa^.
v.io.Ettanquamnavis^^Ha pmranjit
jitU Plantem aquim : cnjvii^ cumprate-
rierit^non efi vefiigm mvemre,p.f^.c. i .
i>. I i.Aut tan^Ham avis^qua transvolat
in aere^ verberam levem ventum : ^
nHUumfignUrmtnvenmr uineriiillm^
pag.^/!^.c.i.infin.
V. I l.Aut tantjriam fagitta emijfa in loctt
^efiinatií, divtfus aer cotinuo in feredu-
jks efi,m ignoreturtrãfttus illÍHs^p.^\.c,z.
V. I g.iS/c <í3 nos natí continuo defivimus
effè, Z3 virtHtis e^uidem nullHmftgnum
valftintHs oflendere : in malignitate ííh-
temnoflra confHmptifHmHs,p.^í:^.c,x.
I v.ijí^.Talia díxerunttn Inferno hi qui
feccAvernnt^p.i^í^.c.i..
Cap. 7. V.26. Specnlnjine macuU Dei ma-
iefiatis, Ç^imago bonitatis illius^p.'^ BJ-^-^-.
ExLibr.Eccleíjaíticj.
Cap. y.Y.y.Noltfie/-íJHdex, nifivaleas ir-
YHmperc intqmtates : ne forte exttmef-
çasfaciem potentis^.i^-^.c.x.infin.
Cap. 10.V.8. Regnum a gente in gentem
transferturpropi cr tnjuftmas^p. 1 8 .£■. i .
Cap.20.v. 29. Sapiens in verbisproducet
feipfHm^p.:i^^\x.\,
Cap.24.z/, I -j.QuaftCedrm exaltatajitm
tn Ltbano,p. ^6o.c. i .
«'. 1 8. Et q.'^aJiCypre[Jiís in monte Sion :
quaji Palma exaltatafum in Cades,pag.
V.z^^ei ed;:m mc^adhuc efurient : (^
q'ub, junt ms^adhHcJinmt^ p.iji.c.i.
Index dos
Cap. 48. y.^.Qhí rcceptfis es in turbine ig-
nis m currH equo, h igneorn^ p.yCi.c. I .
ExProphet.llaiae.
Cap.2.v.4. Conflabunt gládios fuosin VO'
meres^^ lanceasfnas tnf alces, p.^^.c. I .
v.ii^.Quid efl quod debm ultra f acere vi-
ne£ mea,& non fect ei ? p.^í^.c.z.
C^p. 6. V. 1. Du.rbus velabant faciem ejuSy
(3 duabusvolabant,p.yji.c.z. C3 p^g,
^ty.col.x.CSfeq.
Cap.7.v.i4.juxtaTcxt. Hebr. Eccey
abfcondita concipietyp.zj±x.x.
Cap.8.v.3./^í?í:^ nomen ejus Accelera.fpo'
lia detrahere,F.ftmapradan, p. 94.^.2.
Cap.9.v.6. Cujíís imperiumfuper hume-
rum ejus,p.<^^x. I .
Ibid. Vocabitur nomcn ejus Deusfortis^
?.94.c.i.
Cap. 1 1 .v.G.Habitabit lúpus cum agno,p,
^6.col.i.
V. j.Et leo quaftbos comcdet paleas^ pag,
^d.col.i.
Cap. i^.v. 1 2. Quomodo cecidifii de Ca-
lo^Luctfcr "í p.i.zoxol.i.
V. I g. Qhí dtccb,:s in carde tuo : In C<e-
lHmconfcendam,p.2.'2.cx. i.
Ibid. Super afim Dei cxaltaho foliunt
meum,p.\<^j^x.i.tS p.ix^. c. i .
V. i^.Simdis ero AlttJJimo, p. ^. 1 94 . c. 1.
ÇS pag.iz^xol.i,
v^if.rcruntamen ad infirnum deíra^
hêris in profundum laci,p.zz(^ c.i,
Cap . 1 9 . V. 1 . Ónus iy£gypti,p. 1 1 2 .c. r . <
Ibit]. Ecce Domin^.s ajccnd:tfupe nu bê
levem,^ ingrediaw tyE^píu p .i^zc^x . i.
Ibid.^í comov. buntur Jim::Uichra ^/E-»
gypti àfacie cjus, p.^z^ c.\.ÍS fc.-jq.
Cap. g5'.v.4. Ipfe veniet, (S falvabft ncs^
pag.^i\xol. I.
v.b.7 mf faltei Jlçin çervus çlaudus , ^
aperta
JMlMCjugjkiii
Lugares da Sagrada Efcritura^ 581
aperta erit lingua mutoríí, Õc.p.^^.c. 1 . Cap.ó^. v.20. Pueri çentum annorum^p.
Cap.^S.v.ii, De mane ufque ad vefpe
ramfimes me,^p.i\.c. i .
Cap.40. v.4.0w«?.f vdLis implebitur , (^
omnis motis^\3 collishumiliabitur^fag.
Cap.45'.v.i5'. VeretHcs Deus ahfiondt-
tHs,Deus IJrael Sahator,p.zy^.c.t.
Cap.yg.v.ç^. Novijfimtim virorum^pag.
izj.col.z.
C^p.^H.v.^. ínvocabís , & Dominus ex-
audtet : clamabis, & dicet: Ecce adjum^
pag.Q^zx.c.u jnfin.^ c.x.
Cap.f 9.V. i6.>Er vjdit quia non efi vír\(3
aportatm eji^ qma non efi qui occmrat,
pag.ií^^j.c.l.in princ.
V. 1 7. IndmHs efljufiitia^ ut loricay& ga-
leaj^lutís tn capite ejus : indpitus efi ve-
fiimentis nhionis , & opertm efi quafi
pdlioz^eh^p.é^Q.c.x.
t/. 1 8. Sicm ad vindicam quafiad retri^
buúonem hofiibusfiis^^ viçijjitudinem
inimicis Çms .p ag.â^6 .c .1.
Cap.6o.v. lg. Etlocumpedummeomm
glorificabo^p .'ipj .ç. i ànfin.
Çap.óg.v. I . Quis efi ifie^qui venk de E-
- kom^tinãis vefiibus de Bofraf p . iS^.r.
1.& feqq.^ p.l^y.C.Z.Ç^ fiqq.
Ibid. IfieformoÇus infiolafua^ gradiens
in mnltitudine fortittidinisjtiâi^p. iSy.
c.z.infin.^ fiqq,
Ibid. Ego qmloqmrjufiittam^Ç3 prO"
pi^gnatorfím adfalvanaum^p. j ^J.c.i.
lf.2..Qi-are ergo nérum efi indumentum
tuum , ^ 'vefiimenta tuaficut calcan-
num m torcúlari ?p.i^j.c.i,
v.':t^XorcHlãr cãlcavifolm, (3 de Gentu
bus non efi vir mecum^ p. 1 87.C.2.
Ibi d . Afpeijus efifanguis eorumpiper ví'
fitmenta mea,p. 1 88 .c. i . "^
TLt^o.coLz.
Ex Prophet.Icrcmiae.
Cap. í . V. 1 3. Ollamfuccenfiím ego video^
pag.^C)Z.c.i.
v.i^.Ãb Aquilone pandetHrmakm p-
per omnes hahitatores terríe,p.^^2.c.i.
Cap.2. V.2. Charitatem defponfationis tua,
quando ficma es me tn ^efirto, p, ^24.
çol.z.
Cap. I i.w.i^.Cogitfivertintfuper me con*
jtlia^ dicentes : Aítttarnus lignum in pa-
nem ejus,<3 eradamus eum de terra vi'
ventium,p.z6'i^.c. i jnfin.^feq.
Q2cç.i.':^M.iyEntafiieDem e vicino egQ
fiim,& fion Deus de longe} p.':}7%.c,i.
v.i^. Cíeluw,& terram ego tmpleo, pagj
7,'^S.c.i.
Threnor. Câp. f ,v. 19. Torcular calcavit
Dominus virgini filias Itida^ />. i SS.c. i .'
Threnor.Cap.g.v. i.^<? virvidensp^pt-
pevtatem meam^f. 1 6o.c, i . »
í/.go. SAturabkHr opprobrijs, pag. 141.'
coLz,
Threnor. Cap.4.v.22. Filia Sion, notp
addet ultra , ut tranfinigret tc^ p . 2 14.
col.i.
Ex Prophet.Baruch.
Cap. 3.V.38. Pofihdícin terrisvifiisefi^ÇS
cnm hominihus converjatus efi^p , 272»
c.í.tnprinc.
Ex Prophet. Ezechielis.
Cap.S.v .5'. Et ecce idolum zjsli in ipfo m2.
íroítu^p. i oj.c. 1 .inprinc.
V. 1 1. Etfeptuaginta viri de fenioribus
domus ífael, (Sc.fianttum ame ptãw
ras : ^ unusqmfque habebat thnnbpt"
hmin manu jua^p.ioj .Cl.
V. 14. Et ecce muUeresfidebant pUngen*
tes Adomdem^p, 1 07 .c. i .
^mmmm
582
v. i6.Etecce£jíiaJi vigintl^mntjue viri
dorfa habmtes contra templi^m Domini,
fag.ioj.c.i.inprinc,
Jbiá.Eí fácies ad Orientem:^ adora-
bantadortum S^lisyp.ioy.c.z.
Cap. I o. V. 1 8. Egyefa eft gloria Domini k
lminetenfpã,p. i i^.c.z.injin.^fe^.
Cap.i'^.v.f.N'&nafiendiflis ex adverfi
( aut juxta Text.Hebr.«<?» afcendi-
ftisinfraãuras^^ interruptiones ) ne-
£^fie oppofHtflis murumpro domo Ifrael:
mftaretis m pralio in die Domini^ pag.
^^y.col.i.tnfin.&feqíj.
ExPropher. Daniclis.
Càp.2.v. 2 T . fpfi mtitat têmpora; ^ Sta-
tes : transferi Rcgna,atque cShflilHit^p.
, i%.coLi.
-z/, 2 1 .Ti'(3 fq^. Th Rex videbas^ & eC'
ce quafi ji atua una granais^ (Sc.p.^/\'J,
col\.infin::3 fqcf.
Í/.34. Abfcijfíis lápis ftne mmibm.p.ZoÇi,
col.i.^ p.^\'] .c-t.inprmc.
v.l^^.NnllHsque locas mventm eftcis,p.
2.06.C0I.1.
Ib id . Faãus eftmons magnm, & imple-
Index dòs
v.cf.Thrcfius ejfUfflamma ignís^pay.
^yó.col.i.
Ihid.Rot^ eJHs, ignis accenfks^p.â^jG c . il
v.io. FIhvíhs igneus f rapidusque erre»
vitt erram ^p.íif^\.
Gjol.z.
C.ip.^^.-z/. I. Nabuchodonofor Rcx fecit
fiatuamaurcam alitudine crd-hitorum
fxagintay dc.pag.:2^^^.cõl: i. C^ p^g-
, ^^J.col.t.
v.gz. Et fpecies quartiJlr/tUts FtUo Dei,
pag.'^0).col.z.inprinc. '""^ '
Qà^.6N.i\.Porro Rcxcogitahat conJUtHe-
re eumjupcr omne Regni'.m\'p.^ i J.c. I .
Ibid. Fnde Príncipes, é Sair apa quare^
bant occafoncm, vA tnvemrcnt Damcli
ex latere Regis, p^g.4. ly.ci.
Cap-7-V.2. Etccse quaí.'íor venti Cali
pugnabaiít m m ar i magno. p.yx. i.
fy .8, Cornu parvHl4im,p.\<^)z.c.z.ffjfiK
diebatur a facie ejus, (Sc.p.íy^ i.c. I .
' v.li. Afpiciebam propter vJcem fermo~
nnmgrúndiHm^ qms cornn illftd loque*
batiír,p.^c^7^.c.i.
Cap.i4.v.:^4. Babylonem mnvidijÇS U*
cnm nefcto p.'2^^6.c. 1 .i»fin.
Ex Prophet.Ofee.
Cap.2.v.i4. Ducam eamin folitudinemi
k3 loquar ad cor ejMs.p. 5" :^4.6'. i .
Ex Prophct.Iotlis.
Cap.i.v.4. Reftàuura cruca comeàitlo'
enfia : refid'APim locufia comedit bru»
chus rrcílduum bruchi comcdit rubtao,
pag.^f^.col.z.
Cap.a V. 1 o. A facie ejus contremuit ter'
ra^motifunt Cdi : Sol i5 Luna obtene-
bratifum,(^ Stelk retr>ixcrfíntfp lendo»
rem fuum.pag . 1 4^]. col i .
^'. 1 1 . Dominns dedit voccmfuant ante
f a ciem excrcitusfeii : quia mnlia fimt
tiimis c afira ejus^quiafortia, \S facie n»
tia veibnm eJHs^pag.\^.col.\.
v.ix. Magnus emm dies Domini,Ç^ ter»
ribilis valde^pag. 144.C. i jnfin.
Ibid. Et qfiisjufiímbit cpim ? pag. 144.
col.i.tnfin.
VDU^.Nnnc ergo, dicit Doininns^ conver^
timim ad me ni totó corde vefiro , pag.
Í^.C0l.Z.^fq.
Ex Propher.Tonas.
Cap.:>. V.4. Adh;ic qHodragiMA dies , CS
Ninivefnbvertet:ir,pag. 145-.^. i .
Ex Prophcr.Nahum.
Cap. I ,V. I Onsís Níni'yc,p. i 1 2,c. I.
Ex Prophct.Habacuc.
Cap.:^.v.6. Afpcxit, 5* dijfolwt gentes, p.
iLi^.ci.inprtnç, Ex
Lugares dá Sagrada Efcriturar 58^
Ex Propber.Zacharia:. ^uavit enim Regnum Ca{orum,p. 149.
col.i.
Cap.4. V. I. BhHpís efl: in defertum^ut ten-
taretíirkDiabolo.f.ii i.c.i.
v.íÇ.AJfpinip^i: eum Diabolíís infdnElam
Civitatem, ^ftatmt eumfmperpinna-
cnlum TempU,pag.i ii.c.z. inprinc. (^
Cap.6.v.i2. Ecce viroriens nomenejpís,
pag.^Sf.c.z.
Cap.9 V.17. ^md bonumcjfis , ^ quid
pHkhrHme]Hs: niftfr^mentíím ekão-
rfim,& vintim germinam virgines,pag.
Cap. I i.v. 17. o Pafior^^ Idôlfim ! pag.
^^xol.zàn med.
Ex Propher.Malachiae.
Cap. i.v.^.ii/í^í amem ódio habmyp.'y)'j.
CO Li..
V. 1 o. Non efi mihi voluntas in vobis : &
mnnHs nonfufcipiam dé manu vejha,p.
1^6x01.1.
V.M. Ab ortH enim Solis ufcjue ad occa-
fiim, magnum efi nomen meyi.m in Gen-
tibíis, ^ m omni loco facrificawr, ^ of-
fertHr nomini meo oblatio munda, pag-
: 1/!^6.Col.i.<^ fetjq.
Cap.4.v.2, Etfmitasinpennis ejus,p.^^
col.i.infin.
Ex D.Matth^eo.
Cap. i.v. I G.Maria, de qua natus efi; fe-
C^p.z.v.i.P^bí eft,qm natus efi Rex Tn»
dieorum fp.fTLj.c.^.
v!^.Iteí3 interroffãte diliqenter de tuC"
ro^p.^xf.col.ianftn.
Ibid .El cum invenerins , renuntiate mi-
hiypag. ^1'jc. l.in fin.
Ibid./^ ^ ego vemens adorem eum^pag,
^1'j.col.i.tnfin.
v,i'^.^fiqq. S/rge^ ^ accipe puerum^
■ O marrem ejus, ^fi'!ge in fL/£gyptum ,
, Ç5cpag.^ 6S.C0Í.2. m pr-inc,
V. 1 6. ndens quoniam illfijhs ejfet k Ma-
gisp.^^S.CA.&feqq.
Ibid.^ bimam^& infra^p Si.eol. i .
Cinp.'^.Y:Z.Pmfmfíim agite : appropin-*
pag..^'
[^.c.^.
1/.6. Aíitte te deor[tim,p.i i i.c.i.
v.%.Iterum ajfnmpfit eum in montem ex-
celfiim'úalde^t.l\\.c.'h.
Ibid. Ofiendit ei omnia Regna mundi^ ^
gloriam eorum,p.^'2,^.c. 1 .
V. g.Si cadens adoravéris me^p. 2 1 \\c. 2 j
V. I %.Mittentes rete in ?nare,p. f/^Sx. i .
Cap.^.v. /^ly . Qhí Solem [num oriri facit
Cuper bonos^S maios. p.'i06x. i.
Ibid .Etpluitfiiperjufios^^ injnfios^pag^
loGxol.i.
Cap.6.v. 10. Adiwniat Regnum tuum,p2
I49.Í". I.
V. 19. Nolite thefíuriz.are vobis in terra*.
ubicerugo.^^ tineade?nolitur,& ubifif»
res ejfodmnt,& furamur^p. 45*^ .í-,2.
v.roThefauriz.aieautemvobtsin Calo:
ubi nequé terugo^^neque tinea demolitur^
■ Ç3 ubi fures non efiodium.necfurantur^
pag4S^x.z.
Câp.y. v.i.N'oíitejudicare, ut nonjudice^
mim,pag,Syc.i.inprinc,
V.lJn quo enim juÀicio judicaveritis Jh^
dicabimini,p.Sjx.i. inprinc.
Cap.9.v. 8. J^/ dedtt poteflateni talent
hominibus.p.ià^jx.i.infin.
Cap. lo.v.y./» viímgentiHm neàbieritís^
p.'^QOxol.x.infin.
v.x^-Si Ratremfamilias Beelz^ebub VO"
caverum: quanto magii domefiicos ejnst
pag^ox.%.in princ.
VãèiMs ergotimmrins m. Nihil efitm^
í
11
efi opertum^cjHodnon revelabitur j <^
occiiltam, cjf/õdnonfiiemr, p.So.col. z.
inpmic.&fèc^.
v.i^ .Nolite ttmere eos^qm occidunt cor-
. pus, animam autem nonpojfint occi-de-
re :fed potius timste eum, t^mpotefi Í3
animam , (3 corp%s perdere in gehen.
nam,pag.'j%.c. i . tnfin.
Cap. I i.v.i. loannesin vincHlis,pag. 5*6.
col. I .^[eqq.
'v.yTu es^cjuiventuruses^an dium cx-
peElamus} p.6%.c.i.z5 p.^i<^x.i>infin.
v.í^.Eantes renunttate loanm ejHíeaudi'
fiis,i3 vidifiiSypag.^%.col. 1 anfin. & p.
g20.í:.I.
■z/.j. Caci vidcnt^clmdi amhulant^ mor-
tui re/krgfint,p.6S.c.i.infin.
V. 6. Et beatHs efl, cjui nonfaeritfcanda'
lÍK.atus inme^p.G^.c.z.inprmc.
V. 7. ^id exiflis in deferi um videre ? p.
èg.çol.i.pag.f^^.col.l.tnfin. ^feqq.^^
Ibid. irnudinem vento agitatam ? pag.
6g.c.z.
-zf.S. Hominem moilibin vefiitam •''/'. 69.
C.1..C5 p.'y'>^6.col. I .in princ.
' Võià.Eccc qni molhbm veíiíyrntptrjn do'
77nbHs Regnm funt^p .^i^G. cl .inp. inc.
'v.<^ Prophâtam^p.i 08 .c. i .infin.
Võ\á.'Plmqr:am Prophetam.p. Gc).col.z.
^p.io^.e.i.infin.
'v.iQ. Ecc!^ ego mino Angelum meum^p.
6(^.c.zànfin.
v.i l\ .íoannes Baptifla ipfe efl Elias, pag.
I íé.í-.i.
Cap. I g.v. 28. Vis im(is^& colUgimtts ea}
. p.jiy.c.i.infin.
v.i^o. Sinitc mraque crefcere ufque ad
mejpm^p.y ^.c.zjn prmc.
v.í^^,SimíÍe efi Regnnm Cdornm thc^
Index do?
janro abfcondito in agre : quem qui íh^
vêntt homo,ahfcondity & pree gáudio tU
Ims vadit,íi vendit univerfa , q^a ha-
bet^& emit agrptm tllHmfpag.^ji .c. I .
(Sfeqq.
'«'.47. S.igenâ. mijfain mare^pag.i^x.z.
in med.
v.^i. Ideo omnis Scriba do^HsJtmilis eji
Patri-familias^ qmprofert de thefanra
fm nova,(3 vetera^p. 1 6o.c. I .
Cííp.i y.v.z^.NonJiimmiJJíisni/íadoveSf
quAperierunt domjis Ijrael, pag. 200.
co/.x.
Cap. 1 6. V. 2 7 . T/mc reddet unicniquefç.
cnndkm opera ejus^p.i^G i.c.i.
Cap. 1 7.V. I . Ajfumpfit lefus Petrum , Ç5
lacobt4m,^ loannem^ ^ dnxit tllos in
montem exccljHmfeorfnm, pag. 42 1 . r.
I. (Sfeq.
v.z. Et íransfiguratus efianteeos^p.^'^!,
C.l.&fiqq.
IbiJ. Refplendnit fácies ejus p.cut Sol,p.
434.^.1.
v.^' Bonum efl nos hic cjfe^p.^'^^c. i.
Voiá.Factamfii hic triatabernacftia, tibi
finum, Aloyfi unum, ^ Elia unum^p,
ófio.c.i.^z.
Cap. 18. V. 10. Semper videntfaciem Pâ'
tris^qm m CccUs eji.p.'^ t i x.z.
v.zyQjfi voUit ratton-m ponere cnm
fervislHis^p.áfi.c. i.
v.x^.Dccem mdlia talenta^p./^%,c. i.
C-àp.lç).y .ij.X^id ergo erií Kobií ? p.rg,
ZOO.C.Z.
v.zH. Sedebitisf:pcr fedes duodecim, jf*"
dícames dttodecim tribns ífrad^ p. 200.
c:Lz,
Cap.20 V. zi.Eicf!tfid.a»t hi dno (ilij
mei^unus ad dexierum, (S unas adfm-
firam in Regnç tHo,p .4 1 S.f. 2 . tnfin. Cjí
fiqq. Cap.
Lugares da Sagrada Eícritiira.
Cap. 1 r,V. 19! Nanejuam ex te fruãns
rtajcatur ínfempiternum, ^g^i^i .co/.i^
iSp.-i^z.c.i.
Cap.ix.v. 19. Ofienditemihi nffmijma
cenjuí,p. '^'^i.c.i.tnfin.
v.io. Cujfís efi imago hac , ^ [uptr-
firiptiú P^j.gxp.c. 1 .^fi(jiq.
v.iiDicmtH : Cafrris.pag. 519.^.1.
Ihiá.Reddite ergo quaÇmt Cafarts^C^-
fan:(^ quafmt Dei,Deo,p.^6z.c.z.
Cap.2g.v.2,5»/>ffr cathedmm M^jftfide^
rum ScribA^^ Pharifsi.p . 1 98.C-. i .
v.S-Amant antem primos recubitus in
CAnis, oprimas cathedras injjnagogiíf
f.ago.c.i.
'v.zj .S:pHlchra dealbata^p. 292.^. l .
Cap.24.v.29. SolobfcHrabitur, Ç3 Lufia
non dahit lí^men fuum^ (S Sielk cadent
deCalõ^p.i\ox.i. '
. «^.30. TuncparebitJignMmFilijhominií
i inCalo,p.z^^.i.i.
Ihià.Tmc videbunt Filium hominis ve-
nisntemin nubibus Cdi,p.^^.e.i. fi? 2.
^.43. Nonjineretperfodí domumfuAmy
Cap.Xj-.v. 1 5*. vnicmqtie fecHndum pro-
priam virmtemjp.^'^.c.z.
nj'\<^.Pofi mfiUíim vero temporis venit
Dominas feívorurn iUoru^ & popiit rá-
- tion em cum eis,p./^i .ci.in fin.^feq.
<v.'\^.Venttebet}fdíãi,p.%7^.c.l. ,
'O.\o. Ouofidiyifecflis tini ex his frd'
tribtis méis minimis^ mihi ficiflts^ pag.
q25'.r.i.
1^.41. Difceditekme nidediãi in ignem
4£trrnum,pctg,^z.col.t. in prittc. ^p.
Gap.26. V.8. V^í ^Hidperdim hxc ? />• 1 59^
Tom.7,
o. Opusemm hnum operata efi m
me.pag. ^y^.cal.z:
v.zi. dmendico vohls ^(^hía mm pe*
flrâm me tr^dimrns efí f ^ox. i.[."/^
v.zz, Nmqmd egofum Dominstp.Tpl
co/.i.
t/.i6. Hocefi corpus meum, p. 565. c.x.
infin.^ feíjq.
v.-^i. Percutiampaftorem, & difpergeU'*^
tur ovesgr€gis,p.z<^g.c, I .
•^.jS. rt videret finem^p .jG.c.z.
V. óc. Blasphemavit,p. 14 1 .col. x.
V. 68. Prophetiza nobis Chrtfie : Qnk
efi quite percuffií ? />. 1 1 ^X. l .
Cap.27.v.i3.^<'w audis quanta adver-
Jumte dicunt tefitimnia f pag, 134.
col.i.
v.z\.Accepta aqua, lavit manus coram
põpulo,dicens : Innocens ego Jkm àfan^
gUnejufli hujuSyp. 6^x.z.(5fiq.
V. 25-. Sanguis ejusjuper nos , pag^ 66,
cd.i.
'Z/.34. Dederunteivinuw cumfelkfm^
fiHm,p.óf\lxol.z.
Ibid. Cíimgufiajfet,noluit bihere.p.^^T^,
col.z.infin.
v.XJ.Et tmpofuerunt fuper caput ejufi
caujamipjiusfiriptam,p.6i.e, i.inftn,
& c.z.
^.^z.SeipJun» nonpotefi falvMm facere^
pag.i^ix.z.
V ôl^.Seduãorille^p.iàfix.z.
Cap.iS.í/. 2. Angelus Domim defcendk
de Calo^p.^^y x.z.&feqq.
VS' Dixit mulieribm,pag.^^j, c.i. ^_
Ibiá.lefum, quicructfixuseft, qumtis^,
^fj.c,i.injin.&fiqq,
Ex XX Marcoi
Cap.2.V.i7. fycobu Zebedxi,^ loannem
Wê
J»
5^^ Index dos
fratrem Taçohi: ^ impofuit eh nomina.
Bomerges^ qHodefi, FdijtonitrHiypag,
Cap.4..v.24. In qna menfura menJífíierU
tis, remetietnr vobis,p .46 1 .c.i.
Cap. 6. V. g 5-. DefertHS: efi íocuSy (Jc. pag.
f^f.c.z.íMprífíc. -
Cap.8.v.2. Nechabem qnad wandHcent,
p-f7,^.£.z.tnprmc\
'Z'.i\.. F'ndeillos. quis poterit hrcfaturare
fanibHs infihtudim f p. ^25-. co.l. 2. m
princ.
t/.8. SMHraúliint.p.zj^.e.'l\. .v
«'.2.4. Fidea homines,v€ht arbwes^am-^
hHJmtes,p.\-ii^.c.\.tnfin.
Cap. 1 1 . V , 1 2. Èfíír/jt^p.^ I ,çol, I , mprtac.
»'. I g . Síqiiidfone mvmiret m ea^, p. 21..
cot. i,
Ibid. Non enimerat tempní ficorum, jO>^
3 i .eol, I .p.ag.'ip..c. I . ^;>. 5'4o.í-. i .
a/. 14, £/ refpondens.dtxit et : Iam non
Amplms in íeternum ex tefrPíãum qmf
quam mAnducet^p.-^
.e.z.
Cap. í '^.y,'^z.D'e die autem tilo nemo fcit^.
nsque Angelí, neqne FUiHs,pag, 4x0.^:.
lànfin.t^ feqq.
Cap. 1 4.V. g . Simonis Leprojl^p . 77 .c. 2.
'Z'- g 3 . C<^pit pavere, i5 tadere,pag. 183.
col.i.infin,
"V.i^/í^.Dederat antem tr aditar ejus ftg-
num. eis, dicens : Qy.emcumque ofcnla.-
tusftiero. ipfe efi. : t.€ne:e eum^pag^^i.c.
l.tnfm.^ feqq.
Cap. 1 6. v.^-. Et introeuntesin: M,m^men'
tum viderunt jHvenem fedentem ,pag.
S^^J.c.i.^feqq.
*V. 6. lefum quA. itis NAZ.cirentHm ^ cniçi'-
fixjim^p . 5" 5: 7 . c. 2 .in pYinc. Í5 fcqq..
'V. 10. Pradicaverfim íibiqtic, pag.z^^,
(o/.i..
Ex D.Lnca.
Cap, I .V.28. Avegratia plena,p.^oi.c.%',
v.zç. Turbata cji mjcrmone ejusp. 1 84.
col.z.
v. "^o. ISTe timeas Maria, p, 1 84.^.2.
Ibid. Invenifii, gratiam apHU Denin^ to
403.^.1.
'u.\x. Dabitilli Dominus Dens feder»
Davidpatris cjm : ^ regnabit in domo.
lacob in aternam^ pag, 96. col.i.injin.
&feq.
v.T^f.Spiritus S4nãffsjMpervenie:in te^
pag.^oi.c.1..
'£'.37. Qnianon erit impoffibile apnd.
Diumomne verbftm,p.^6^.c.%.
•z;. 3 o .Fiai: mihifecfindum verb^m tnam^,
pag. i84.<r.2.
v.à^i. ExHltavitinfansinfiterOy p. 5*40-
col.i.
v.^j.jS.&fêqq. Elifabethimplcfím ejh
tempmpartendí : ^ peperit filiam. Et
ÁHÁierunt vicini^ ÍS iognati ejas , quid
magnificavit Dominas mifericordiam
finam cum illa, & congratulabAnitir ei^
Et veneram circuncidere pHeram^ ^c,
v.ò-j^. Miratifimit uníverfi.pag. 5'33- fv
1..<^. fe-cjq:.
v.6f. FattHsej} timorfnper omnes vici*
noseorfim,p.^'2^-:i^.c.x. tnfim.
Ibid. Divulgabantur amríta. verba hac^
pagj^.c.z..
^.66. Fofiuertmt in cordejucy dicentcs, /.
534.^.1.
\h\á. Etenim manus Domini trat cnf»
illo,p.s^:i^à^.cA,
t/.So. Pner antem creficíbat^^c. pi 542^
col 1.
Cap.2.v,7. Peprrit Ftliíím fiuum Primo-
genit.:?7J.^p.lb6'C.i..
Lugares da Sagrada Efcritura
^S;
Olp.'!'. V. 2, Faílum efl verbnm Domini
Juper loannem^CSc.p. iii.c.i .^ [e^^.
'tv.\ Et venit in omnem regtonem lorda*
' H/s, prádicam baptifmum p^nit^nti^
in remijJiawmpeccatõrHmy pag. iz i . c.
•«/.4. J^ox cUmantisin deferto, pag.ivz.
celi.infiK.
Cap.6.v. 19. Omnis turba í^aar&hat mm
■ tanger e^ quiá virtus de Uh èxihat , ^
ftnabat omaesyp .o^zi .e.7..infin:
•v.'Xp .Nolitejudicare^ & Konjffdicabi'
• mini:noUtecondemnare , & non con-
âemnabimini,p,%G.c.i.
Cap./.v. "^.Líicrymis c<£pxt rigare pedes
ejus^\3 capilUs capkisfiutergebat,p.f^ i .
COI.Z:
^^- 39 • Qi^fdpeccátnx efi, pag.^ 5 .coi. 2 . ^
p.iy^.coí.i.
v.^j. RemktPímur eipeccata mnlta^pág,
Cap.S.v, 5*. Exijt quifeminát, fiminare^
p^g.iiz.c.z.
vil. Sémen efi verbum Dei, pag. 1 22.
€al.z,
Cap,9,v.!^ I .hieebant cxcefum ejus^quem
<:ompletwruserMin Jernfdsm ,j!'.44i.
' €01.2,.
«/, 5g. Nefciens qnid Âiceret, f.^^o.c. i .
* ^.5*4. Dómine,vis dicimus^ ut ignis def.
■cendat de Cds^ & eenfumat iltos ^p^g.
^j^.c.iinprwi:.
Cap.io.v. 27. Diiíges Dcminum Deum
íuHm extoto cor de tuo , ^ ex tota mi-
ma tHa,& ex omnibm •viribfís tnis , (3
■^x omni mente ttfa^.z^^.c.'!.^ fiqq-
' ^. 59. Et h-uic^rM firornomine J\ãari^^
J>.S6S.C.2.
ibid. Qndí etiam fedem feçns pedes 2?^-
'^ni,p.^6^,<;,idnpnn€y
Ibiâ. Atídtebat veybumi/ãus,p.'^Sj.c.i.
v.±o. Domine, non efi tihi curdi , qmdfi-
YOY mea reliqmt ms falam miníjirare? f^
iy).c.i.(^ p.S^^^.C.Z.^S feqq.
v./^i.Martha,Manha,(olicita es , ^
tmbaris ergaplurima,pag.'^ lo.col. i . &
c.x.infin.
v.^\,Manaoptmam partem etegit^pag,
'^io.c.i.(^p.'^6:^.c.i.&feqq. ->
Gap. 1 1 .v,2. Advemat Regnn/n tuíim^^pl
àf.if.lnBeehebfíb Príncipe Damonio^
rum ejicit tí^monia^p. 1 4 1 .c.i.
Cap . 1 1 . V. 1 9 . Anima mea habes mui f/t
bónainannosplfirimos, pag.^fj^.c.x.íf&
fin.
vôjo. Quáí aniâmparaflí, tujus ermt} p,
45'6.ír.i. . ^
t/,^8. SI vmerit in fecunda vrgilm^ & jC
in UríídTJígiiia venerit , & tta inveíie.^
rit : beatifunt fervi iUi,pag. x8 1 .coL i,;
&feqci. .
i/.'ic^. Quontamft fçiret Pater-familias l
quá horaffir veniret , vigdaret utiqke^
pag.'^i6.c.x.
Cap. 14. V. i.Sabbathê mandncare panem ^
ièiffi obfirvabant eum,p . 1 92.^^/. i . m
fn.
^.y\I)i<:ehatáHtem &^d invitatos pa^
rabolam,p. I94.C-. 1 .
Ibid» íntenãms qmmedo primos accubi-
tm eUgertnt.pag.i^T^.cd.i . \3 p. 201.
ç.l.infn.0'feq.
■ i/.^.CHmpocaíHsfierisad nu^tias,^€,
pag.i^f.ç.i.
Ibid.jEf tm<: inçipias mm rubore novif
.fimum loçHmtenere,pag.\<)'yc. i.xnfn.
p.iz6.c.r.^.p.zz^.c.i.
V. 10, Recumbein nòviffmol^co^ p.i^i.
"
■«■m
>
58 S Index dos
Ibid. Amke^ afiendefnperÍHs,fag. 126, C^p.zi.v.i^. Eruntjígna in Sele^ ^ Lh'
col.x.ÇSp.iz^.c.i.
y.l!^.^ 29. Quis ex vobís volens turrim
^dificare , non prius fedms compmat
frmptHs, cjHt neceffkrij funt : ne , pofiea-
, ^Ham pofuent ffindantentumy^ non po -
tHeritperjicere^omnes qni vident , ma-
piant illudere ei ? p.^ii^.ç.i' ■ . . /
pap. i5'.v.7. Dic9 vohts^ cjuod itagaudití
, tritin Cdlofiíper uno peccatore paniten'
\ tiam agente^ qukmfuper nonagintano'
\ vcmjuflís.qm non indigent panitcntia^
'p.i%.Pater,damihi por t tonem pibftan»
tia^qua me contmgit,p./^^y.c. i . í»jí».
í/. I iJn regione longinqtíam^p. 45*7.^. i .
V. 1 8. Pater^peccavi in CalHm,& coram
te,p.^^y.c.i.& feqq.
V. ^ I .FfUytufemper memm es, Ç3 omnia
, mea tnafunt^p^â^^-j .c.x.infin. &fiqq.
Çjãp.i6.v.z.Redde rationem vilUcationis
jtHa \jam enim non poteris vilUcare^p.
'^f.c.i.mfin.
k^.i^.Pater Akraham, miÇercre Tsm, Í$
mim Lazjirumy ut intingat extremum
Àigiú in aquam , nt refrigerei linguam
m€am,p.^i.l.c.'2..infin.^fe<jiq,
. v,irj.Í5 28. Rogo te pater ^t mittas enm
in domum patris mei:habeo enim cjmn-
(^ue fratres^Ht teftetur ilhs^ne & tpjtve-
niant in hfinc locHm,p.^X'i.c. i .Ò/èqq.
Cap. ij .Y .T^j.ybicunquf fnerit corpus ^tU
Ihc congregabutur Ú aquiU,p.Zy0.c,z.
Cap. i^.v .f .DeJccnde,p.io^.c.l.
•vAZ.Abijt in Regionem longincjuam ac»
€iperejibi Regnií,^ reverít.p.-^-m.c. i .
í;. lg. Negotiamini dnm vcmojpag^i,
€ol.z.
v.ii.Serve neqfíam,p./^z.C'Zf
na,pag.Si.c^z.
v.'^7,.CaIf*m, 0 terra tranjibunt : verba
atitem mea non tranjibum^ p. i.c. \,Ç3
Cap.22. V. 1 •j.Dividitc inter vos yp. 248.
col.i.
V. i^.Hoc eft corpus meumtp.^o^.c. i. ^
pag.^$ 3 '^' ^ .tftjin.&feqq.
v.lo.HtceftCaitx novum tefiamemum
inJàngHÍnemeo,pag.j!^p^. c. i.p. 4.10.
coÍA.t^p. j6^.c. I .tn prtnc. (S feqq. ,
v.Zíí^.Quis eorum videretur ejfe maior ^p,
i^f.c.i.^p-^iJ.ci.C^fiqq.
v-Tfi. Satanás expetivit vosjut ribraretf~
eut triticum,p.zf. Cl.
v.^'i^.Prolixius orabat,p. i y^.c. i ,
v./S^.EtfaíiusefiJiidoreJHs/tcHt gutta
fanguims.p. 1 7 1 .c i .ÍS? i.p. 1 71. c.z.p,
\ j^.ç. I . G^ z.íSp. I %^.c.z.infin.
v.i^^. Domine .^fipercutimus in gladio l
p.^79 cz infin.
V.6 1 .Refpexit,pag. 1 25.C. I.
Cap.2g.v.2. Subvertentem gemem «#7
Jtram^p.\\\.c.z.
V. 14. Ego nullam caufam invenie in ha*
mineiflo,p.6\c.Z'
v.z^Jefumvíro tradidit voluntati eo^
rum,p.6^.c.z.
v.g4. Pater, dimitte illis : non tnimfci^
nn t qutdfi cÍHnt,p . g 5 .«"• I .
v.^T^.Hodtemeçumerii inParadrJo.pa^
^lo.c.z.infin,
Cap.i4.v. I iJpfa die,pag. 299.^.1.
Ibid. Staaiorumfexaginta^ P''£- '^9^
col.z.
V. 1 5. ípfe lefus appropinquans ibat CHta
iUís,p.z99 Cl .
Ex D.Joannc,
Cap. I . V. I g. Qui non ex fanguinibusjèd
ex
^í^
Lugares da Sagra
(ol.iJnfin-.pag.x^^.colA.^leqq.'^?.
Ihió.Et habitavit in nobts,pag.^^z.c.u
Ihiá.EtvidímHsglor^íim ejus, gloriam
qt4aJiFmgemti.à PMre^ píemmgram,
^veritatis.p.TL-} '2^.c. i .pag. 585". col. i.
in princÔ pag4'i.6.c.i .
^.16. De plenimãine ejusomnes accrpi-
\ WHs^ ^ gr a- Um progfMta.p. 585". c. i .
v.i^. Sacerdotes j& Levitas^ p.%<^.c.l.
Ibid. Tfí quis es ? />.88.(r. i .^ feqq. pag.
izy.c.z-in pritjc.^ p.f^^.c.z,
V. 20. Et confejfus efi^^ non negavit: &
confejffis efi : Qtiia nonfum ego Chri-
flHS,p.97,.G.l.^Z.^p-lOl.C.X.(^fi^q.
v.^i.Elus estti } pag.ioi.col-zanfin.d
fiq.&p.ioS.c.i.
Ibid. Nonfim,pag, iox*coii. ^pag,
Ibid. Propheta es ttt ? pag.io^. c. l-pag.
\OQ.C.\.(Sp.ll$.C.l.
\h'\à.Noi9,pag. 10^ xA.
v.iX.Qíiiddtcis deteipfo ?p.SS.col.i.&
feqq.
v.i^.Ego vox clamantis in deferto , pag,
ii^.Ç'i'mfin.p.ii6.c.z.^ f.iiy.c.z,
f »»/».
i/.z6.Medm veftrumfietit, quem vos
nefiitís,p.ici.c.z.
v.i8. Híecfi5lajHtJttram/ordanem,p.
lOl.C.l.
Cap.-^. V. 19. Lux venit in mundum , ^
dilexerum hominesmAgis tencbras^quã
lucem,p.6t.€.i.<^z.
v,Z^.§í^habetJponfimi^onfas efi: ami^
cus ante jponji gáudio gaudet^p.^l S.f.i.
v.^a. Illnm oportet crefc^re , m ±^t^_
da ECmtun, fSp
minuiipag.j^f.c.í.
Cap.4. V. 30. vi//; labor averHnt, (3 vos in
labores eorít introifiis,p.i\.6j .c. lànfin.
Cap.c. V. 1 7. Pater meus ufque modo ope-^
ratttr:^ ego operoryp.'2^\^.c.i. ■ -
V. zz. Pater omne jHdiei'^m dedit Filio, p.
60.C.Z.& p.6 1 . c. i.inprinc.
Cap.6.v.2. Seqtfebatur eum mnltitudo
magna^quia videbantfigna^ qudLfaáe-
batjuper his^qui infirmabantur, /-^^-o.
col.z.infin.
V.')- CfimJkblevaffH óculos lefus , ^ vi-
dijpt qtiia mnltitudo máxima venit açl
efim,p.'^zi.e.i.
«z/.io. Dijcubuerunt ergo' viri , numera
quafi quinque millia,p . 52 1 .c. i .
v. iz.SHperaveruntfragmèta^p.zyi .f . r.^
v.zj. Operamini non cibum^quiperit^feã
qtiipermanet in vitam aternam , quem
Ftlkis hominis dabit vobis^p.z'2j x-z,^
feqq.
Ibid. Huncenim Pater fignavit Demypl
Z'ipx.zA3feqq.
v."! I .Patres noftri maducaverunt Man^
nàindefirto,p.^^fX.i.^
v.^Q'Hic efipanis de Cdo defcendens : ui
Jiquis exipfo manducavertt , non ma*.
riaturp.x6f.c.i,
v.f^. NtJimandHcaveritis camem Filij
hominiSy(S biberitis ejusfanguinem, non
habebitis vitam in vobis^p . 1^9. É^2,
V, ff. Caro mea^vere efi cibus,p.z^7^x.JÍ
ínfin.
v.f^.Qffi manducai me^ (^ ipfi vivet^
propter me,p, ^T^^x 2 . infin.
v.f^.Hic efi panis,qHÍ deCdo defiendit^
p.l'^lX.i.^feq^.^p.ií^S9-^'^'
Ibid . ^í" manducat hunc panem, vivet
. inaternum,p.zf^x.j.&fiqq.
vJSi,Hoc i)osfiandaHz^tf P' ^^o.€.^.
v,6y
i)
' ■ Index dos
cvno vUcrith Fílium hominis af- fwnem <.mdmmfâeiemHS, ;>.5 8"i xol. i
■ 590
^'.6^. Si
^ céadentcmuhí eratpyim^ p.ZiSp.c.z.
■V .6^^SpíritHsj(i^qm vivificai : caro non
■ prodeftqHidqHamyp.ià^o c.X.é^feejaf.
Cap.7.v.54 Quibreúsm^^ér ^^^ invcniâ'
' íís,p.i^6.c.i.
CiLpM.v.ii.Etin peccati> vefiro moris'
7?tÍHÍ,p.l^6.C.l.
w /\.S. Samaritanas estUy<3 Damonium
hahes,p.i^i.c.2.
Cíip.9.V.i. Rabbi^quispeccavit ,hic,aut
parentes cjus^ut caçus nafçeretur? p.Si,
Cap.io. V. ij^. Ego fum Pafior bmus: é^
cogn'ofi:o oves meãs y ^ cognofcfim mi
Gap. I i.v. I i.Laz,n-ru:amícm mfierdoT'
mit^p.\o^<c.\jnfi}i.& eol.i,
f.14. LAz^cirtts mortuuseft.pag.Llo^x.l,
infin.^ col.z.
^47. Qjiia hic domo multa fignafacit^
' 'P^^ 6^-c.l.infiíí,
' ■©'. 48. Vement Romani^ ^ toUent noftr»
' iocHm.p.íipx.i.
Cíip, 12. V. IO. 1 i.'^/cqíj> Cogitaverunt
Príncipes Sacet-datí-i^f^ tit Í3 Laz.arum
imcrficeyent^&c.p.foS.c. I .&fi^^q.
ij.l2.Hofiííinafiiío David, p.^i^.c,i.
^'.1^. Eccemundus tatus ^ofleum abtjtj
p.09 c.l.inprinc.
Cap. I ^.V.iS. Hoc^utem ncmofcivit dif-
• €HmhentíHm,p.^^o^^.iJnprtnG. & coL
l.l^feqq.
C:\v^i ^.Y.z. Fado parare vobis hçnm^ p.
I99.C.2.
■'í/. 1 2. Opera qna ego facio^faciet, ^ ma-
iorafaciet : qnia ad Eatrew vado, pag,
'V.i'!. Si quis diligit me.fiermonem mcum
ihfin.<iy fcq.
Cap.ij.v. lg. Maioremhac dileãionem
nemo haht,p.^^^.c.x.
Cap. 16.VM4. PetiieÇ^ accipietii,p.'^iz,
col.i.
Cap. 1 9. V. 12. Si huKçdimittis , non et
a-micus Cifaris.p.'^i 9 r.i. infin.
v.i6. Mulícr, eçcefilmstuHs.p 409.^.1.
'Z/.g4. LatusejHs aperuit.p^^^Of^.col i.
lhió,Exivitp.nguis,& aqua^pag.Gô.c.Z,
p'lji .cqL I .tnprinc. ^ col.z. ^^.409.
col.z.
Gap.zi.v.r^.Etfiimus quia verum efi
teftimoniu ejus.p.^i i .c.x.mfin. ^ fiq.
V. i^. Simon loannis, diligis me pias htsf
Ibid.Tufiis qpiia amo tep. ?og.f.i,
Ibid Pafce agnos meos,p.::^o^c. i,
'^'. I y.Dícit cí tertí0,p. ^04 í". i.
Ibid. Pafce eves meas,pag. '^c^.cffl. i m
fin-é-fiq-
■V.ZO. Converpís Petrus, vidit ãlum diÇ-
€ipulum, quem diltgebat lefus ,feqMn^
■tcm^p.^C^.C.l.& feqq.
Vo\ò. Qui & recubutt in c£fiAfuperpe-
ãus ejusyp.^oó.-coLz.^ p^g,^z 1 c^2. i*
fin.
\h\á. Et dixit : Domine^qaisefi^quitra'
Àct te fp.c^i^ col.%.^ pag.iigZic,x:in.
fin.&fcqq.
v.Z I . Domiíie, híc amem qmd ? p . 405*,
C.\.^ l.^p.^l.^.c.Z.afeqq.
v.zz. Siccumvolo mancre d9nevveni%^
quidadte} p.j^0yc.i.& Z- ^ p. 414,"
4:.Z. ^ fcqq.
Ex Libr.A6luam Apoílolor.
Cap-l .v-^ Et nubes fvfccp:t eum nh e:u-
Jis eorum,pag.7.j j^.coL i.
/crví^bit,^ ad enm venismHs^p mm- ^.z^.Vt abirft in lGCMmfuffm,pag. a o r ,
ç^i^ "^ .Ca?.
Lugares da Sagrada Efcríttira? fp í
Cap.^.v.i y.SciO'<jtíiai>er ignorantiamfe- detn accipiet fecmdHmfmm laborem^,
cifiís^Jicut ^ Príncipes vefiri,p.'^'i^.c.i.
Cap.i^.v.ii. f^ocabant Burnibam , fo-
V27n : Paulmn vero-, Aiercurmmypag.
Ihid.^oma??^ ipfe erat dtix verbi, pag.
Cap.i.7.v.28.-^ ipfaenim vivimuSy. ^
movemury&fHmm^p.x/^i.c.x.
Ex Epiír;D.PaLil,ad Romanos.
Cap.i.v. 1 .In ciuojMdicas aherum , teip-
fitm eondemnas.p . 8 6. col. i , iujín .
v.í^ An divitias bonitâth ejm , é^ pati-
entí£,& lo-nganimitatis contemnis^ pag.
lô.c.t.mfim.
v.^. Secundam amem duriíiam tuam^^
impanitens cor, thefa,Hriz.as tibi iram ,.
in dte ira,,^ revelationis jufli judiei}
' Det,p.z6.c.z infin.&fe(j^.
Cap.8. v^i6. rppenim Spmtustefiimonm
redditfpiritíii noflra , ^mdfíímus Fdlj
Dei,p.:2,'/6.c.i..
V. 1 7. Si OHtemfiUj, & h^rcd^s ; hteredes
qnidem DW, coh^eredes autem Chrifii :
, Ji tamen compatimur , m & eonglonfi-
cemur.pag.-^jGx.i.
"^•^f- Qji^^^i^go nos feparabit k charitate
ChriJíí?p^'^'j6:c'-2.
Cap.p.v.^. Optabam eggipfe anÀ.hsma-
ejfe à Chrífioprofratabus meis^quiftint
cognati meifecundumcarnem, p. 278.
col A.
Cap.i i.v.g^. Quam incomprehenjihilian
funt judiem cjus \p.Tl.c. 1 .infin.
í/.ç^f. Aut quis prior d^dit illi^ & retri-
buetíir ei} pag.c^^^.c.i .
Cap. 1 5'.v»i9.. EvAngelium Chrifli,pag.
257X.1.
Ex Epiít. I ad Corintlr.
Cap.g^.V.8. FhusqxifqHe propy.iam merae-
p<íg.^6i.e.i,infii.
C^p.^.v.^-Nihil mihi confcius fum , pag,
i^c.i.& 2.
\hià.Sednon inhocjufiijica^uspim : qui
autemjudkatme^ Dominus eíí,pag.i'^,
col,x.
v.^.Notitemte tempHsjudicaref p JJ^c»
1 .inprinc.
Ibi d .QHpadufque veniat I>ominus> , q^ã
Ç3 illHminabit abjcondita tenebrdmmg
pag.'^^x.iànfin.
Cap;7.v.29. Fi & quihabent ftxores, ta*
quam mithabentesjtm.,p.'^x^t-^feqq:.;
'U.'2pEt quiflent^tanquam nonfienies t
& qui gaudent, tanquam nongauden"
tes : & quiemunt ytanq^ammn pojji'^
dem-es.pag.;^ c.z.&fiqf.
•y.^i. Et qMUtuntur hoc mundo' , tan^
q>tam non utantur^p.'^.c.x.&fiqq.
Ihiã.Pr^terit emm figura hujus mmtdi^
p.â^c,i.
Cap.p.v. 14. Gmnes inftadiocurripmifeã
unus accipit bravmm-p . 2 o ^.í". i .
Cap.io.v.ii. O mniain figura, conúnge^
bantitliSyp,iS'^.€.i.
v.iz. Quifieexifitmatfiare ^ v.ideat n&
cadat,p.zi^.c.z.
Cap. 1 1 .v.2g. /« qua noUe tradebamry/p^
a45'.c.2..,..r,
^^.24. Hoc ejt corpus meum, qftoâprom^.
bistradetur^p.^Gi.c.z.itiprinc
Cap.i 5.V.7 . OmniafifjJrert^p^2.6S'^,%^
Ibid. Omnia credit, ommaJpsrat.yOmnm
fiíjfinet^p.-^ix.cz.
^'. 1 1. Cumejfemparvulks', kqúeBm! hU
parv--4lm,fapiebam m parvulus.,cogiía^
i>am Mparvulus-. ^iuando-auiemfaãu^
fiim vir^ ev-ãcuavi quiS crantpaxv-HB^
\
í
^92
rrnjn'/ indexdos
Cap.i5'.v.io. ex addir. KcchC Gratía
ejm in me vdctia non fnu , fed gratia
eJHsfemper in me man etjp.zy^.c. 2. in
fin.à feqq.^ />4X4.c-.l. tHpnnc.^
*:/. 2 1 .jQjfottdie morior^pag. 2^ 3 •^•'i . ^ p-
^ói.c.z.in princ.
•z/. 4 1 . Alia c Untas SoUs.alia çUritas Ln-
n^^& alia claritas Stellam. Stella enim
àftella dijfen in clarita^e,p./\.6i.c.l.
V. \6.Non prius qmà [pintuale efi , fed
qmd animakydeinde qnod (piritmle,p.
289.^.2.
Ex Eoift.i.ad Corinth.
Cap.2.v. M.Evartgelium Chrijii^ P-'^S7'
col.l.
Cap.g.v.iS. J claritatein daritatemj p^
0^16. Ci-in princ.
Cap.f. V. 15". Pro omnibHs mortnus efi
Chrifipis,p.\6\,c.\.
v.z I . ^i y^on noverat peccatHm,pro no-
hispeccam?nfecit,p.^^z.c. i .^ feq^
Cap.6.^^ i . Ne in vacuum graiiam Dei
recipiatis,p.zj2.c.i.^fip.
Cap.9.v. 6. O/iiparcefimtKat , parcè ^
■ meíct:^ qmje?7}inat m benediãioni-
bus, de benediãionihus (3 metet,p.^6l,
col. i .infin.
'V. I "i^.Evangelium Chrifii,p.Z^j.c.í.
Cap.i i.v.'l.^-Qj4Ísir,firmatHr,& cgomn
infirmar"^. Qiiisfcan dalizjttnr , (5" ego
non HYor ? p.^ó^.c i .in ^nnc. & c.z.
Cap.i2.v.4. Audivit arcanaverba,qu<e
non licet homini loj!íi,p.í\.zz.c.z,
Ex Epift.ad Gaiatas.
Q-xv).i^.v.Z'^ . Spiritu vivimns ,fpiritu ^
amb'Mem'^Sy p.1âf'yC. i .
Cap.6.v. 14. Mihi mundus crucifixus efi,
^ eoo mundo.p.f^i^T^.c.iin p,inc.
Ex Epilt.ad Philíppcnf.
Gap.i.Y.ó.C^ -j.Cnm informa Dei efièt ^
non rapinam arbitratus efi ejfefi épejua^
lem Dco,t:^c.pa7.X'^\,.c9l.x.(S feqq. (^
pag.ZT^^.col.z.
Cap.4. V, 1 2. Seio abfíudare , (Sfciv efifri-
rejp./^d^.c.z.
V'i\ Ommapojfum ineo , qui me con*
fortat.pag.xi^.c.i.
Ex Epiíl.ad Colofleníès.
Cap. I . Y.xo.Pacificansperfanguine Cru*
eis eJHS, five qH4L in terris ffive ^ha in
Cáílís,p.i6^.c.z.
Cap g.v.^.Afí^rm efiis: C3 vita vefira
efi abfcondita cum Chhfio, in De9,pag,
27f.c. 1.CÍ2.
1/.^, Cfim Chriflus apparuertt, vita ve^
ííra : tunc C^ vos apparebitis cum ipjh
ingloria.p.zy^.c.i.^ fiq.
ExEpiít.adTitum.
C^ip-Z.v. I '^.Expeãantes b:atam fpem, &
aâventHmgloriA magni Deiy pag.yjo,
CdLz.&feq.
Ex Epiíl.ad Hebrícos.
Cap I .v.i .Novijfime locutus efi nobis in
Fílio,p.z^6.c.i.
v."^. Qui cumfi: fplendor glori<t , ^ fgt^
raffíbfiantia ejus,p.'^fo.c.l.
V. 1 4. Omnesfunt admimfiratorij fpiri*
tus in mmificrium mijfi,p. 3 1 1 .í" I-
Cap.4.v. 1 6. Adeamus ergo cumfiducia
adthromímgratiâi : Ht mi(eríC9rdia?n
confequamur, ^ gnniam -nv^niam^s
in auxilio opportHno,p./^ 2. c.z.
Cap.6.v.6. Riirfam crticifigentes Filium
Dcip.^ox.z.
Cap.7.v.iT. Translato enim ftccrdotio ^^
neceffc efi, Ht çj^- Icgis fausLuw fiat,pAg.
Z^ i.col.ijn fin .0 feqq.
v.ZT^-Et alijqiiidem piares faãi funt Sa-
cerdotçs^ídtirco qtíod morte proh^berin~
t»rpermanc}e,pag.xfz.col. i .
,v
Lueares da Sagrada Ercritiira: f9^
íttermm, fempkernum hde( fic^dd
Cap.ç.v. 1 1 . Pontrfexfamyt^irttm hmra,
G'4. lo.v. I4.^w<« 9lfUtione,c(íHfrnímavà
infempííertmm/ànãíficatos^p.tS^.c i .
Í/.19. ^f Pilíffm Dei, conculc(!iverky(S
■ . Jàngmnemteflamenú follmam dum-
rity in quo fanãificams efty ^ ffirim
• ■ gráúa contHmtliamfecerit^f. ^00.6,1.
Cap. I KV> 24.6c 2^: Mojfes granas fa^
Uhs negavitfe ejfefiíium fdiA FbaraU'
vis : magis eligem affigi vum pepul»
Cap. n.v. 1 7. Ohedite Prafofins veBns^
ÇSfubjaceteeis.Ifji enim pervigHant ,
i^mji rnmnm po animahis vesím
reddtíHrí^p.lfi.c.l.
ExEpift.J.D.Petri.
Cap. i.v.^.ÔC 4.. BehedtBíís Deus, &P^"
terDommmftri Tefii Chriftí , qui fe-
4mdum mifeníordiamfmm magnam
reireneravit nos in hícreditarem incor-
mptibilem^^ incontaminatam, & im-
marcifcibilem, cmfervatam in CaUs in
vobts^p.-i^^ZX.iÃnfin.^ feqq,
v.J.AumTnquoÀper ignenf prob^tur.p.
?/.8. Quem chm mn vidsriíis , diligiiisy
vag.'iiz.c.z.infii.
Ex EpiJb:2.D.Petri.
Cap. 1.V4. Per qHen^^tnAxima,^ pretio^
(â nobis promi[fa dimavit : fitperhíscef'
ifciamini dtvin^ confortes na:ur^, pag.
%i. I o. Fratr es Jat agite, utper b&na opera
€enar/i vefiram vocationem, & eleíiio'
4í€mfaciatis,p. 1 1 9.<?. i . £5* feqq.
Ex Epift.i.D.Ioanu%
yabemMs-amd Patrcm.Iefitm Chrifinm
• jHftum,p.i^'è.c.x. . ;
Gap-.'' .V. 1 . f^tdeíe qHítlémcharitatem de^
. ^dit^mbis Pater , «í fil^j Dei nomine-
míir^&Jtmus. Propterhoc mund'isn(n^-
^ 'novit nos: quia nonmvit mm, p.TJ^.
çoL%.infin.êfeqq. r ■ ^
"^^.í. Oftoniamifidebimus mmpcuticjtt
^.281. Cl.
' ' Ex Libr.Apocalypíis.
Gap.T.v.14. OquH ejm tanquam fiam*
ma igms,p.^'j€.c.x.
V.16. GladiHsutrâqpte parte acHtus, pag.
143 .c.x.
Cap.4.v.6. Ante,^retrKp.'2^%$.c.x.
v.j. EtqaartHm- animal fimile aquik
mlanti,p.'^%S ^^'^•
v.lO.Mittebamcor()nasfiias ante thro"
num^p.^^^^-c.i.infin:
C'X^.''^ .&' Agnfimjianten^ tanqmm oc*
oípim,f .1%^.C' I .^ i-
«^. 9 .Cantabmt cant.icmn novtím, p-^'ifi.
(j.i.infin.
v.ii. Dignui efi Agnm, qm (fccifm efi,
Mcipere virtmem, ^ divinitatem, pag.
%'^^.c.i.&feqq.
C^p. ó.v.^.Fídifiíbtmaltare animas in*
terfeãoruntprpptef verbftm Dei^.z^S.
€.%.infin.&fiq.
V. iz. Solfa^Hs eíí niger, tanquamÇai;-^
cuscilicinm.p.SS^ c.'2..infin.
Capj.v.iy. Et abfiergn Deus emnem
laçrjmam abocuUs eorum^.ò^i^.c. i .
Cap.i4.v.4. Virgines enimfunt, Hi (è-
mtmtur Agnnm qmctínqíie ierit.fag^
goj-.í-.i.
í^.ó. Habcii^em Evangelium tíernum, pt
l^ó.c.Z.infin.&feq.
^. j.QMía vmt horajfidkij e^u, p. i^y*
í
f94 Index dos
Cap. 19.V. li. Etmtapiteejusdiadema' Cap.2
ta míííta,p.f^g.c.í.én prtnc.
Gap. 10. V. II. Et vidí throriHm magnum
.IgOfiàiÂnm, (3 fedentemfuper eum^k cu-
jHs confie ãh fugit terra , (^ calum, p.
t;. II. Et vidi mortHos magno s y& pn/tiloí
fiantes in confpeãu throm,p.iS.ç. i .
Xhià.Etlihriapertifunt: ^ almsliher
apertus efi, ejui efi vita : ^ judicati
funt mortm ex his cjHétfçripta erant in
lihris jècmidkm opera ipforum^p.-i^.c. i .
, V 4, £/ mcrs ul ra n»n erit^ ne-
^H€ InlÍHs.nec^Hs dolorerit ultra , e^uia
prtma aipferHm,p.;^^6.c.l.
v.zi. Platea civttatis aumm míwdnm^
J&.446. c. 1 .infin &[€Cfef,
Ibid. Tanquam vurum perltuidHm^p,^
446.C.X,
V. 2^. Nam ciar it aí Dei illuminavit
eam^^ lucerna ejm efi Agnus, p. x 54.
col.l.&feefq.
v.i 7. Non intrabit in eam alit^Hod coi»*
qmnaium^.^'j.c, i. »
IN
f9f
I N D E X
Das couías mais nota^^^is.
Os Numeros^ftgmfich às Tagims.
A S Acções de cada hum
.- :^ f\ faó a fua eíFencia, pag.
: >i 15', 1 1 6. A verdadeira fidalguia he
Acção, p.i 17. Nas Acçoens íê de-
vem fundar as eleiçoens, & fegu*
rar as pred^ílinaçoens^p.i 1 8,
'^<laÕ. Elcufa que teve Adão para naô
refponder a Deos,quando lhe per-
guntou aonde eftava^ p. 21. Por
valofjSc virtude do fanguedc Teu
Filho foi a Virgem Maria prefer-
vadadopeccadode Adaõ ,p.i6i.
< ufque ad í óf. Adaó nafcendo uni-
camente l)omem,nem por iílb dei-
xou defermininojp.aS^» A Adão
deo Deos particularmente o titulo
de imagem fua ;6c porque, p.ggi»
Porque perdeo Adão com o Pa-
raifo a Monarchia do Vniverfo, p.
540. Perguntafejfe Adão pela def.
t)bediencia perdeo o fer que tinha»
út imagem de Deos,p.3f i.
Jima. E bem- porque mais fe deve
temer a morte da Alma, que a dd
^orpo, he o juizo de Deos mais te- .
meroro,qu.e o dos homens 1 6c por-
que, p.78. ÔC ulterius. Por mats,
que húa Almafofle fenhorade to-
do o mundo j fempre ficaria vafla ^
porque fó Deos a pode encher, p.
íff. O que devem procurar os
verdadeiros Chriftãós,he encher a
Alma com a graça,ôc a graça com
as obras, p.ayS. A Alma que che-
gou ao ciime da perfeição da vi*
da conteraplativa,nem as acçoens.
lhe divertem a contcmplaçáo,nem
a contemplação Ihe.diverte as ac-
çoeils, p.^ 1 1 1 0 que ou ver de fer
verdadeírkimagem de Deos, nam
baila queieja homem c5 Alma ^
fenão também Alma com home,
p.522. He tanta a alteza de huma
Aima,que eílà em graça, que che-
ga Deos a fe tratar com o homem
com. tartta familiaridade , como f©
faaõigu^Sjp.37g. .^, ;
i
1»
5^6
Altura. A mefma Altura dos graa-
des lugares he o final certo de fua
niina,p.io9. Naõ ha Altura nêfte
Z .mundo, que naõ feja preeipicio, p.
211. Os lugares aítos, ainda que
não haja enveja, nem competen-
( cia, que os inquiete, elles mefmos
fe inquíetáo,ÔC a quem eítànelles,.
p.i 19210..
^^mhifAo.. A Ambição dos homens
mais os leva a fubir pelo difficul-
; toío,que a decer pelo- fácil > p.roó..
Onde ha enveja , êc Ambição de.
Iugares,na5 ha virtude,p. x 1 8s. "
«á^/^í>..Hum dos grandes efcandalfis
do muiidb, he naõ le teftar dos
t' Amigos^ p. 4.07; O maior Amigo
! permanece atè a morte: depois da
morte,ninguem he AmigG,p*4o8.
'Amor. Naõ pronoftica m.elhor, quem
- melhor entende , íènaõ que líjais
- ama, p.ii;^. A cegueira do. Amor
próprio, he muito maior, que a cc-
gueirados olhos^p. 124.& ulterrus.
O Amor he hum íehtimento, que
faz iníènfiveis, p.139. Não ha mo-
tivos,porque hajamos de amar a
Deos fobre todas as coufaspara o
fim da vida, pelos quaes ji. agora o
naõ devamos amar aífim,Jpag.i 5-0..
Maishedceftranharo Amor dos
primeiros lugares, do que os mel^
mos lugares, p. 230. De quantas
' partes ha de conftar o. Amor de
Dcos,p.283. Porque a graça con-
íifte em amar , & ler araado de
Deos, mais fe deve efcolhcranrcs
a graça,que a gloria, ainda que a
gloria confifte cm vei* ao mcfmo
Deos, p.^/i.ufq.ad 374. Paor hc
Index dar
não amar a Deos, que não ver a
Deos, p.577.urq.ad 58a. O Amor,
& deféjo bem ordenado da gloria,,
naõ ha de íer por amor da gloria ,
fenâo por amor da graça, pag.3 83.
NaCortedeChriíto, os que tem
por ofítciofer verdadeiros, faó os
que tem porpremio o fer amados:
& porque , P41 2. Amar he entre-
gar o coração: mentir he encu-
brilo, P413. A graça ha de que-
^ rcríè fó por Amor da graça,p. 423.
ufq.ad 417. Naó pôde haver mais.
fino Amor, que aquelle , que en-
trega o coraçãojSc fecha os olhos,-
p.4i7. Ate os Gentios condenão o
Amor,ou cobrça.dos bens do mú»
do,p.468. Deixar a Deos por amor
dos nadas do mundo , he fazer a^
Deos menor que nada : mas dei-
xar o tudo do mundo por amor de:
Deos, he fazer a Deos maior que
tudo,p.5'47. Tanto crecc Deos em
íuagrandeza,quanto deíprezão os
homens por feu Amor,p. 549. Qp^
injuíliças íabe fazer o Amor divi--
no,p.55'i.
'jânjçi. Porque quiz Deos, quando ca-
^ ibgou os Anjos máos,ficaílem par-
te deli es na Região do ar,p.529.
Annos. Seguircmíè. aosannos os de-
Icnganos, he fazer o tempo>o que
faz o tempo : mas anticiparemíc
os dcfenganos aos annos, he fazer
a razão,o que o tempo havia de fa-
zer, p.5'41. Poucos annos cm Pa-
laciojConvencidos , £c dcfengana-
dos, grande vitoria da razaô,p.542..
Apçfiolos. i\ perturbação que caulou
nos Apoíiolos a doutrina de Chvi-
cotifasmalsnotdvets.
< fto^qmn Jo lhe prometeo, Sc pro-
fetizou no Sacramento a comida
. de feu corpo,p.i40; Sutisfa-z Chri-
. ftoásdifíiculchides dos Apoftolos
fobre a doutrina dcfte myílerio-,.p.
■ aAi. Como os Apoilolos,fendo tao
: põucos,fe pode eítender a^fua pre-
■ gaçáo às mais. remotas diílancias
: do mundo, p.H9- Quando os do-
ze Apoftolos repartirão enu-e fy o
. mundo, fe levara cada hum a lua
alcofa dos fragmentos do paó^com.
, que Chriílo deode comer a cin-
- GO mil homens,baftariáo aquellas
. fobras afuftentato mundo todo,
p.169. 270.
\árte. Antes de haver no mundo a Ar-
teda pintura, retrataváofe os ho-
mens cada hum Vela fua fombra,,
p.240. He teftemunha a Arte,para
prova dos bens do Ceo,puros ,6c
. fem mifturade mal,p44.6. Quem
: forão os primeiros, qfe achaoha-
- ver ufadadaartelhariapelo artiH-
. cio da pólvora, p.49i- Maishene-
ceíTario para fe gerar no ar hum
rayo natural,que na terra hum ar-
: tifiGÍal,p.494-QiJ^^^^^ '''^'°'' ^^^''^^
20 fazem eíleS,lbid.
'^ml^Htoí.Uc tal maneira fumio em
" fy oi Verbo encarnado os Attribu-
tos de fuadivindade,quc depois de
- encarnar „ não aparecião nelle
. mais, que os vaííos da mefma di-
vindade,p.255. A primeira proprie-
dade dadivindade,que hefer Deos
-• Efpirito,he o primeiro Attributo,
> queGhriftoreftaurou no Sacra^
mento, p.i59.wM<^ ^44-
B
}f^7.
AS Batalhas da razão ca
Batalha. .„
os annos he húa guer-
ra, em que refiftem mais os pou-
cos,que os muitos,p.5'4 1 .
Bamfia. Dceftar o Bautifta einpri-
zoens fe pi'ova,que hade haver ou-
D-o juizo,ôí: outro mundo,pag. 5',6.
. Como fe verifica dizer Chrilto, %
o Bautifta era Elias ; êc dizer o-
■ Bautifta,que não era Elias, pa 16.:
Mamjmo; Se queremos rémiflaõ dos.
: peccados, tomemos a penitencia»,
como Bautifmo,p.i49i Ainda que
os.Bautifmos lejaó femelhantes-
nos adultos,6c nos innocentes ; faS
: com tudo muito difFe rentes nos
- bautizados, p^iSô;
Maixezja. Sò o ultimo lugar eftà livre
deinquietaçoens;;6c não por 00-;
tro privilegio, lenão por fer o mais
, baixo, pi220;22r.
BâMavmturança. A melhor couCãjqué
: tem a Bemaventurançajuam he <>;■
gozar a gloria,he o íèguraí a gra-
. ça,pi426. ComonoCeo acômu-;
- íiicaçáo da gloria dos Bemaventu-
rados he univeríàlmente de todo?,!
& particularmente de cada hum^i
p.46 i.6c ulterius.Qimmgrande fe-
ra a gloria dos Beraaventurados 5,
fendo elles infinitos, & agloriade
cada hum. as glorias de todos^pag,.
■ 466.467.
Benção. O que tiver Bênção para to-
' dos, pode entrar em preíumpçoés^
, de Meflias,p:96i97. A. defiguàlda-
dedas Beuçoensnãoargue- defí;-
gualdadfi;
.5p8 Index das
gualdadc^deamor cmqucmasdà, juizo de Dcosbaíbfer Bom no
lenãodifFcrençade merccimétos,
cm quem as recebe, p. 98. Porque
razaó ninguém eftà contente com
a fua Benção, Ibid.Ôc p.99.
Bens. Naó fó faó talentos os dotes da
natureza, 6c bens da fortuna,6c os
doens particulares da graça, fenão
também os contrários , ou priva-
ções de tudo ifto, p.42.6c ulterius.
Ainda que os amigos fejaó os noí^
fos maiores Bens, não íe còíluma
no mundo teílar dos amigos j por-
que íaó Bens,que fe acabão com a
vida,p.4o8. A grande differença
que ha entre os bens da glo-
ria do Ceo , êc os das glorias do
mundo, p 4^4. Todos os Bens do
mundo, faó Bens com miftura de
males : & ella he a primeira diffe-
rença,queha entre cllcs,6c os Bens
da gloria, p.455r.urq.ad444tSò os
Bens da gloria, íàó Bens íèm mi-
ftura de nenhum mal, p. 445'.uíq.
ad 44S, Dos Bens do mundo, quá-
do muito logra cada hum os íèus :
dos Bens do Ceo,&: no Ceo logra
cada hum os feus^ & mais os de to-
dos : òc cfta he a ícgunda diíferen-
ça,que ha entre huns, 6c outros
èens,p.449. ufq. ad467.0s Bens
do Ceo gozãofe por junto, 6c nam
fucceíTi vãmente: 6c he ú terceira
diíFerença,que elles tem dos Bens
do mundo,p.468.6c ulterius.
Bom. Para íeies bem julgado no jui-
zo de Deos, bafta que vòs fcjais
bom : mas para feres bem julgado
no juizo dos homcns.he necellario
que ningucm fcja mao, p. 83. N»
ultimo inílante da yida : 6c no jui-
zo dos homens bafta ler máo em
qualquer tempo, p.84.>Seeu fou
Bom, por mais que me julguem
mal os homens, naó me podem fa-
zer mdo.E fe eu íou máo, por mais
que me julguem bem,naõ me po-
dem fazer Bom^ag. i g 7. Se fores
Bom, fera o voíío lugar bom : 6c
fe fois melhor, fera melhor, p. 19&
199.
Bondade. He tal a Bondade de Deos ,
que quando quer caítigar os ho-
mens, o que mais fente he naó ha-
ver algum, que íe lhe opponha, 6c
lhe reíifta,p.486i487.
c
CapA. A^Otejada a Capa de Elias
^^com a de Ahias , fc vè
quanto vai de capa a capa,de eípi*
rito a eípirito , 6c de zelo a zelo, p,
10:5.
Caridade. A Caridade de qualquer
Bemaventurado cxcita,aftciçoa,6c
obriga naturalmente, Ôc fcm mila-
gre a cada hum, a que íè alegre, 6c
goze dos bens de todos, p. 465*.
CaJUgo. Qual he a juftiça, com que
Deos nos haja de caftigar pelo que
naó conhecemoSjp.^l. 6c ulterius.
No juizo de Deos não baila a cer-
teza do futuro para o caíHgo,6c ba*
fta a emcda do paliado, para o per-
dão, p.77. De Deos faó mais para
fe temer os caíligosj 6c dos homcs,
06 juiios,p, 79.6c uicerius.
Ciufi.
^ confasfnatsnotaveíi, f99
C4///S.Qiiacs faó as caufas naturaes da o íangue do Horto, para Ter prefe-
inquietaçãodos lugares altos,pag.
ai8.
Cafas. Como paíTaõ as Cafas de hum
domínio a oiitro,pag. 19.20. Com
que razão, pia,&: chri(tãa nas nãos
aCafa,aque os Hereges chamão
Praça de armas, nòs a dedicamos a
S.Barbara,p499.urq.ad 50 1 .
Clanfira. Como íè pôde ajuntar a
Claufura com a psregnnaçáo,pag.
5-68.
Ceo. O Reyno dos Ceos em todos os
tempos tem três eftados :6c quaes
faó , p.149. Sò no Ceo ha melho-
res lugares,p.i99.urq. ad ioi. No
mundo o ultimo lugar he o me-
lhor: mas no Ceo he melhor o
-primeiro, p,^26.^^ 7.0 Sacra aen-
to não fó íêrà eterno no Ceo pela
eceniidade de feus efteitos: fenão
também de fua própria fuílancia,
p.ajT^.uíq.adzóo.
'Cegueira. QLiaó grande he a cegueira
dos que lè vem excedidos nos ta-
lentos, p. 47. Porque acha mais a
vontade, fendo cega,^que o enten-
dimento fendo lince, para julgar ^
p. 6g. A cegueira do amor pró-
prio he maior que a cegueira dos
olhos,p. 1 24.6c ulterius.
Cidades, Quaes forao as mais afama-
das Cidades do mundo , p. i ^5. 14.
E como todas tem )à paflado,Ibia.
E quantas paíTáraõ de humdomi-
ntoaoutro,p.i8.i9.
Conceição. Quando, onde, 6c como o
Filho da Virgem Maria obrou .0
Myfteiio de ma ConceiçâG,p. 165*.
6c deinceps. Que prerogativa teve
rido ao da Cruz no Myfterio da
Conceição de Maria, p.i 72.ufq.adi
] 74. Húa admirável propriedade
do Myfterio da Conceição defcu-
berta da hirtoria de Samfam, pag.
175'. Anticipouíè o fangue do
Horto ao da Cruz, porque foi có-
vcniente,para gloria daConceição
da Virgem,que o preço de ília re-
dempção foíTe também anticipa»
do, p.178.179.
Co«^/f5f . Qiiando parece,qiie mudou
Deos de condição,p. 141 .
Cênciencias. Ho dia do luizo fe haõ de
allumiar as conciencias de todos
os homens, para íè manifeftar tu-
do o qiie nellas cfteve efcondido,
p.54.
Confelho, Quam cruel executor he hú
Confelho náo executado,p. 5*10.
ContíL. Tudo paíTa para a vida,6c nada
pafla para a conta,p.5.8c deinceps.
Ao crivo do trigo, 6c ao crivo das
nuvens íè compara efte paíTar, 6c
não paíTar da vida, 6c da conta, p.'
2.5. Tudo o que paífou para a vida,
heonada^ quenãopaíipu para a
conta, p.17. O livro da vida he hô.
ío : 6c os livros da conta faõ mui-
tos,p. 28. Ate o nada não efcaparà
da conta nòdia do luizo, p.28.ufq.
ad ^1. De que haó de dar conta no
dia do luizo os que tiveraó oífi-
ciosjôc cargos neíle mundo , p.56.
E como ha de fer rigorofa efta co-
ta, Ibid. Como ha de fer exã6t:a a
conta dos Talentos,que Deos deo
a cada hum, p.4x. 6c ulterius. Co-
mo badeíèr dií^iícultofa a conta
das
M
"5&oo; Index
■ áz% dividas , cm q efcamos a Deos,
no dia do Iuizo,p47.Gc deinceps.
CiT/íípíJ. O coração he o verdadeiro
; final da profecia,p.iig.Arettat|ue
• ferio o coração , defende de todas
. ^sfettaSí p.139. A penitencia para
• revogar o JUÍZO de L)cos, voltanos
• o coração, p. 144. Se Deos agora
eílà dando golpes ao coração do
pcccador,ôc elle lhe não abre^ mal
- pôde efperar depois , que Deos o
ouça,quando o queira chamar, p.
. i5'4.Quem agora não ouve a Deos
de todo coração, quando elle cha-
. ma 5 não ha de chamar a Deos de--
pois de todo o coração, p. 155. A-
inar,hc entregar o coração : men-
, íir,heçncubnlo,p,4ig. Quemcó-
quiíla a graça pela graça , conten-
tàfe com o coração, p^if.
Ckryjíp. O corpode Chriilo no Sacra-
mento nãoeftàcom as condiçoésJ
naturaesde corpo, fenão as mila-
grofasde elpirito,p.x4i.AíTnn co-
: mo na Encarnação fe contrahio o
, vácuo da divindade peio incorpo-
. rado: aííim no Sacramento rcílau-
rou,6c encheo o corpo de Chriilo
. omefmovacuo pelo incorpóreo,
p.242. AíTim como Chriilo no Sa-
cramento encheo o primeiro vafio
da divindade, efpirituahzando o
feu corpo,6c fazendoíc corpo,{èn-
doefpirito: aíTnn eíla admirável
transformação não fó a obrou
. Chriilo em feu corpo facramenta-
clo, fcnãoquc também por meyo
do melmo corpo facramentado no
la comunica anos, p. 245. ufq. ad
Ç145. 0 ratcíaio íc da dos mais At-
das
■ tributos, Ibiá.& deinceps.
Cofi^;4. Mais hedarderoílo ao muti^
do, quando o mundo nos moílra
bom roílo, do que darmos nos af
coftasrao mundo,quando o mundo
nos vira as coílas,p.5'4g,
ConverfaS. Naó ha razão nenhúa, que
noshvredenos convertermos lo-
go, fenos havemos de converter
depois, p. 150. Quem fenaó con-
verte agora , ordinariamente fal-
lando, naó fe ha de converter de-
poisjp.iyi.
Crecimemo. Crecer fóra da própria cf-
pecie,não he aumento , he mon-
llruoíidade,p.ioo.Como fepòdcm
- coníiderar crecimentos em Deos,
. p.5'45-.ufq.ad 5-47.
Chrtjlo. Deixotmos Chriilo cõmuni-
cadoem fia doutrina, nâofó hum
rayo de fua divina luz,mas tres,pa-
. raque.vcjumosagorao que no dia
do luizo havemos de ver, p, 54. E
quaes faó eiles trcs rayos, p, 55-, ôc •
ulterius. Como nos ha de pedir
contaChriftonodiado luizo, de
quanto lhe devemos, p. 48. ufque
ad 5'z. QLial foi a maior defefi que
Chriilo tevedefuainnocencia, p.
6^. Muito melhor me<:onheço cu
diante da imagem de hum j^ecca-
do,que diante daimagem de hum
. Chnílo crucificado, p, i^g. Que
. grande remédio faó os pcs 'de hum
Chrirto,para fe lhe não dardo juí-
zo dos homcnsjp. 140.0 langue de
Chrifto não foi derramado por fua^
fantiífima Mãy cm rcmillaõ de
peccados,p.ió:^, 164. He virtude
d© fangue de Chrifto poderfc dar
toufasmais
antes de fe receber, p. 1 7 7 • ^ P^*'^^
do fangue, que Chriíto efpecial-
mente a pplicou para prefervaçáo
do pcccado na Conceição de fua
íantiirinva Máy, foi a mcfma, que
de Tuas puriílimas entranhas tniha
recebido,ôc guardado, p.i85'. ufq.
ad 188. O Cordeiro vivo,6c como
morto,que vio SJoaó, he Chrifto
facramentado, p. 2:^5'. ufq. ad a^S.
Chrrfto facramentado comunica
aos homens a immeníidade, que
tem no Sacramento, p.248.urq. ad
25'i. Ainda que o facerdocio de
Chrifto fejâ eterno , ôc eterno o
meímo Chrifto, parece que fenao
pôde fuprir no Sacramento o va-
íio da eternidade do Verbo na En-
carnaçâo,p.25'i. Provafe o contra*
rio, Ihid U ufq. ad ^.25*4. Chrifto
náofoi íóhúa vez íacníicado, íe-
não duas, p.26 1 . Nem fó hiia vez
entregue nas mãos de feus inimi-
gos, íenáo duas, p. z62. zó^. Para
tquc S. Gonçalo náo choraflc, & fé
filimentafíe , quando era tninino j
J)unha6-no diante da imagem de
Chrifto crucificado^p. 289.
triatura. As menores Criaturas dâs
feníírivas nos eníinão a delprezar
os lugares altos5p.22i^
€rHt. Não foi o primeiro fangue da
Cru2L, fcnáo o do Horto, o que
Chrifto derramou por fua Mãyjp.
i66M ulterius. No fuor do litn-
gue do Horto ouve húa nova
Cruz fem cravos, p. 168. Porque
razaõ o fangue da Cruz fahio jun^-
tamente com agua ; ôc o do Horto
não, p.171. c£ie ventàgemleva
Tom. 7^.
notáveis. ^^2.
em Chrifto O amor, que nos mo-
ftrou no S:icramento,ao amor,quc
nos moftrou na Cruz, p. j6o. Os
Martyrcs pagaó a Chrifto nt
Cruz, os Religiofus no Sacramen-
to, p. 567 . Porque razaó nos Re-
Ugioíos fe deve antes tomar o no-
nicdaGruz, que o do Sacramen-
to,p.5r65.564.
Cuidiida.Covíio ficão baldados os cui-
dados dos que toda a vida empre-
gáo,para acquirir» & aumentar os
bens defi:e mundo, p45'5'.
D
I^X Avid foi o homem,qúe
U " — '"
t)avid. . w- ' .
1/ mais fe podia prezar de
fy meiino , ôc o que menos fe pre-
stava de fy mefmo : Sc porque, p.
Í28. Porque razão perdoou Deos
: a David , Ôc não perdoou a Saul^
Gonfeflando ambos o feu peccado^
D^momo. Menos arrifcado he fer acu-
fado dos Demónios jdo que fer jul-
gado pelos homens,p.70.Aftim co-
mo Deòs feito homem quiz mor-
rer na Cíuz,para fe vingar do De*
monio j afíim traçou^que nos o co^
meflemos no Sacramento , para
continuar , 6c confumar a melma
vingança,p.264. HerodeSjôc o De-
moniò^untamente condenarão a
Chrii^à morte, quando o P^dre
Eterno lha comutou em defterro,
pag.5'26.
De<ys. Porque coníidera Deos nao os
noflbspaíibs,fenâoasnoflas péga-
Rr das.
€q^
Indèxdas
\i
da3,p.2f.Enrheíburaõ os homens
a ira de Deosparao dia dojuizo,
.p.ió.ij.Conhece Deos muito mais
de nòs^do qut' nòsdenòs,. pag.ag.
Aflim como Decs fabe tanto de
iiòsjaíTiín nòs fabemos muito pou-
co de DeoSjp.^o.^i. Qual he aju-
íliça,com que Deos nos haja de
caítigar pelo que não conhece-
mos, p.:^2.5c ukcrius.Comoxoma-
râ Deos conta no dia dojuizo rj3S
ReySjôc aos Prelados,p.;7. ufq. ad
4 1. Como nos havemos de conté-
mr com os talentos, que Deos foi
lèrvido damos, pag. 44. ufq.ad 47..
O juizo dos homens he mais rigo-.
rofo,que o de Deos ', porque os
homens jiílgaocom-avontadCj.Sc
Deojjulgacom o entendimento,
p.óo.u fq , ad 64. He mais terr'i\''el o
juizodos home,ns,queo' de Deosi,
porque no de Deos baila, fóo te-
lèemunho da, própria concienda:
no dos homens apropria ; concien-
-cia não vai teftemun ha, p.64. ufq.
ad 6-;. Outro motivo deíla^ verda-
de hejporcjue no juizo de Deos as
noflasboas obras defendem-nos :
& no dos homens,.o nollb maior
.inimigo/aó as noílas boasobraSj.p.
67.uiq.ad j-o: Também he mais te-
jneroíò o juízo dos homens, quso
de Deos^ porque Deosjulgii o que
Gon!'iece,ôc os homens julgão' o
que nio conhecem, p. 70. ufq. ad
74.Supoíio que o juizo de Píx>s fc-
Jji juizo fii a', ainda ojuizo dos ho-
mens he niais tcmeroíb, ,p.75'aiíq.
nd 77.0 juizo dos- homens h<j mais
íÊiriCtolb,, que o de Deos,£or doz*:
razoensmais fobre as outras, qiic
convencem eíla verdade,p.8 1 .ufq.
ad 86. Qiiando parece,que mudou
Deos de condição, p.141. No tri-
bunal da Penitencia o juizo de
Deos revogafe, P.143.6C deinccp?..
Grandes excellencias do juizoda
penitencia fobre o juizo de Deos,
p.147. 14H. Deos, em quanto ho-
mem, fendo fua a eleição do lu-
gar, tomou o ultimo entre elies,.p.
225. No Sacramento ficou o cor-
po de Chnfto propriamente cor-
po de Deos,.pag.2^x. 5c dcinceps.
Qiiantopode vença- S Gonçalo
peias forças que Deos lhe deo, pa-
ra a fabricada fua Ponte, pag. g 14.
515". Nunca deixamos de receber,
quando pedimos a Deos,ainda que
nos naó dè o que lhe pedimos, pag.
512. Deos não hefó Deos de per-
tOjfenaõ de longe,p.-gg8. Todoo
apparato da Mageílade de Deos ,
hefogOíp.476.
Dejprer^o. No tribunal da Penitencia
o juizo dos homens deíJDrezafe, p.
Ig3.uíq.adj42. Quam grande mal
fazemos homens todas as vezes,
quedcfprezáoa graça de Deos,p.-,
^99.ôC4oo.
Dejpofirio, Dcfpoíarfe Deos no Paço
he maravilha grande, pag.5'54.0.
myíVcnocm.que Deos mais pro-
priamente fc deípola com as AI-
maSjhe o Sacramento da Eucha-
nília,p.5-3j, ^
Z)^y?/w. C^jcm le refolveo a naôde-
icjaj-jpòdc. competir de felicidade
com Jupitcr,p.2i^.
Defeito, Quam bem reputada he a vi-
da-.
coufaswats
lj>ias. Todos OS dias para os que vive
- ■ entre os homens, faó dias do juízo,
$)ng.8i . Todos os u-ílbmbros de ira^
de juítiça,de vingança do dia do
íuizo,com fc vokar o coraçam a
, C)eos,reacabão,p. 144. Se depois
dodiadotózo podem haver pe-
nitencia, poderafc revogar a fen-
tençadojuizode £>eos,p. 145'. ufq.
ad 147 . O que Chriíto chama ig-
norância do dia do luizo , nam he
ignorancia,he fegrcdo4-).4ii.
.Viferença. Três diíFerenças entre os
bens do mundo,&: os da gloria, p.
.A34.& deinceps, Húa das razoens
• 2a differ^nça deftes bens , he,por-
<]uc no mundo ha meu,6c teu,pag.
Í)i^niÁid$. As cansno Sacerdócio íaó
. : os címaltcs da Coroa; &: na Prela*
^?oíía,o oi-namento da dignidade,pag,
Bifcítrfi. Ha muitos, que profetizão
depois pelo arrcpendimento,o que
. fora melhor ter profetizado antes
pelo difcurro,p. 1 14.
J>i/í>i:. Que pouco cafo fe ha de faaer
do quediràôos homens, quando
fe trata da penitencia, que he o xc-
mcdio dospc<:cados,p.i^8; ulq.&d
- 14^
Dividas. Como no dia do luizo nos
hade Deos.pedir conta das dividas
a que nos obrigou em vida com os
feusbeneficio?,p47. urq.adfi. E
cjuacs fejáo eílas dividas,lbid.
S>m-a. Quando as dores faé iguaes,
íentcmle todas , quando hua he
spior-grufpende as^oncras^. J3p.
nota-veis. ^^.í
Dot^. Nao lo faô talentos os dotesdii
natureza, os bens da fortuna, ôc os
doens particulares d a graça, fená*
também os contrários , ou priya-
çoens de tudo rí:to,p42.ôculteriHS.
Edifi€Í9.
HA duas maneiras de
edificar: edificar por
edificio,5c edificar por edificação ,
Elação. Ò ultimo lugar merecido por
- cliílribuiçã:o alhea, pode fer afrcti-
tofo : tomado por eleição própria,
he o mais honrado, p. 124. & ulce-
rius, O nde ha m uito em que ele-.
ger,não|>òde haver pouco fobre
que duvidar,p.28 1 .
Emenda. No j uizo dos homens, nem
para o futuro vai a incerteza, nem
. paraopaffado a emenda, pag. 77.
No tribunal da Penitencia fc eme»
da o juízo de fy mefino, p/ii^.ufq*
ad i:^':^^
Emprepi. Como S.Gonçalo fendo lo,
acdefafliftidodetodaa outra cô-.
panhia,6c poder, fe atreveo,&: con-
íêguioa emprefa da fua Ponte,q«e
muitos,êc mui poderofos juntos jà
mais emprendenão, p. 5 i2.ufq. ad
Emamafio. iVffim como pela Encar»
nação a Divindade de Cbnllo íe
delpiodos attributosde Dtos, Sc
fe veílio das propriedades de cor -
po: afíim o mefmo corpo de Çhn-
fto pelo Sacramento íe; defpio das
- uro.pricaadesdecorpo,Ôc. fcveíliQ
^ "^ Rrij ^^
i
^^4 Index das
dosattributosdc Deos, p. 135. & vo Hebreo,p.i2.EcomopafráríIo
deinccps
Entendimento. Quem julga com enté-
dimento, pòdejulgar bem,6c pòdc
julgar mal : quem julga com a võ-
tade,nunca pode julgar bem, p.6o.
Quanto vai de fer julgado com o
entendimento, ou com a vontade,
p.62. Todo o homcm,que tem en-
tendimento, o que faz muito de
propcíito nefte valle de lagrimas,
hedifpora ruaarcenção,p.4:5g.
Effera. Cada hum fe deve medir den-
■ tro da fua esfera p. 1 00»
^JmoU. Cíifo íin guiar contra a ley ge-
ral da ermoIa,&: privilegio dos po-
bres, p.^ 14.
Efpelho.Como he o Verbo Divino eíl
pelho da magcftade de Deos , 6c
imagem de íua bondade, pag. gg^-.
. A mais perfeita figura, que mven-
tou a natureza, & não pode imitar
a arte, he a que fe vè no eípelho, p.
<Ei^mí'. Como todos íe cegão nojui-
10 de íy mefmos , todos querem
. benção fora da fua efpecic,p. 99.
EJperanfa. He bemaventurada a efpe-
■ rança,com que neíla vida cfpera-
mos a gloria, pag.3 70. Quem dàos
bens na efperança, da-os aonde faò
maiores,p. 5-47. Mais dà quem del-
preza o que eípera, quò^ífucm dà o
que pofl'ue,p.5'49.
Efpirito. Apnmeira propriedade da
Divindade, que he fei Deos Efpi-
nto,heo primeiro attributo ,que
Chriílo reílaurou no Sacramai-
to,p.239.ufq.ad 244.
f-flados. Quantos Eítados teve o Po-
todos, Ibid. O Rcyno dos Ceoj
em todos os tempos tem três Eda-
dos;&quaesfaó,p.i49. Os luga-
res altos,ou fejaó do Eltado Eccle-
fiaftico, ou do Ellado íccular, íaó
os mais aparelhados para a caida,
p.iit. OEílado Religiofo tem
mais de Sacramento,que de Cruz,
p.5r56..5r^9
EfiatHa. Nmguem melhor facrifica a
Deos o mundo, que quem lho of-
ferece em Eíi:atua,p.f47.
EftitTfa^o. Cada hum em feu juizo
não fe deve eílimar mais , q aquil-
lo, em que cUe mefmo fe avalia, p.
ig2. Ainda que Deos,por fer infi-
nito, não pôde crecer em fy mef-
mo j por fer limitado o conheci-
mento humano, pôde crecer na
nofla eílimação,p.5'45'. Segundo a
eítimaçaõjque fazemos de Deos,
ôç do mundojou crece Deos , Sc
diminue o mundo, ou crece o mú"-
do,6c diminue Dcos,p.5'4Ó.
Efpofa. Sendo a Virgem MariaEfpo-
fa de Deos, não podia ficar cativa
do pcccado de Adaõ, p. 161. EH-
pofacomas calidades, de q Deos
lè agrada,não fe acha nos Palácios,
achafe no deferto,p,5'55r.
EfireiUs. Porque razaõ no dia do Juí-
zo haó de cahii- as Eftrellas, ôc naò
o Sol,nem a Lua,p.2io.
Eternidade. O terceiro vafio da Di-
vindade na Encarnação , que he a
Eternidade, he o terceiro arrribu-
to,que Chrillo encheo pelo Sacras
mento, pag.25'1. ufq. ad 15-8. EíU
mefmaprcrogativadc Eterno nos
cõiuu-
Iroufag mais
■ comunica Chrifto no Sacramen-
^v^ngelho. O livro dos Evangelhos
depois do fim do mu ndo ha de du-
rar eternamécejp.xfá. uíq.ad 2^8.
Os validos haò de ler Evangeli-
ftas,p.4i I . Porque razaõ os Evan-
geUltas devem ícr amados, p4i i.
Como compraó os Santos os the-
fouros efcondidos do Evangelho,
pag.481.
Bxempío. Exemplos da Magdakna,co
que íc convence a fy, paradefprc-
; zar o juizo dos homens, p. 140. O
maior exemplo dos poderes da pe-
nitencia, que no mundo ouve,pag.
i45'.ufq.ad 147. Pôde mais facil-
mente darfe o bom exemplo , que
o conrelho,p,5'4i.
Excomunhão. Qn^m poderofa he a for-
ça da ExcómUnhíió Te deixa ver
em hum milagre de S. Gonçalo, p.
194-
fahilas. f^^Omo tem páííado as
^^_^Fabulas,quGos Anti--
gos fingíraó,p.io. E como nas Fa-
bulas paliarão também os noflos
vicios,p.ii.
Fama.Os mvejoíôs mais Tentem a Fa-
ma, 6c gloria alhca , que as fuás
afrontas proprias,p,f ia.
iviz/or. Para fe vencerem as difficul-
dades dos primeiros lugares, nam
baftuó juftiça,&: favor,pag.207. A
Natureza,a Graça , & a Fortuna
fazem três coufas no mundo , que
fempre crecem,p.4i6.
notdveU. éoj
H A Providencia divina faz, quç os
nollos próprios vi cios fejaõ as te-
ftemunhas de nofla Fè, pag.^/. A
quem tem Fè, Sc Efperança refta ^
fó fazer penitencia : & como fe ha
de refolvcr a ella,p. 149.urq.ad i ^6.
Fecmáidade. A efterilidade da gloria ,
6c Fecundidade da graça he huma
grande razaõ,porque ff^iia de efco-
Iher antes a graça, que a gloria, p,
:^84.ufq ad 586.
Feltcidade. Ninguém he,nem pode fer
felice com a alma noutra pane, p.
459.440! Ainda fingindo, que ou-
veíie homem no mundo taõ afor-
tunado, que lograílê todos os feus
bens pacificamente,nâo teria com
- tudo líTo perfeita felicidade, p.45'6.
Ferm'>fura.Q\xztsÍQY2iQ as mais fer-
mofas Heroínas da naçaõ Hebrèa,
p.í2. E como todas paílarap,8c foi.
rao fatais a quem as amou,lbid.
Fidalguia. A Fidalguia he de todos os
dez predicamentos, 6c de todos os
quatro humores, p. 1 1 7-
Fij^Hra.CoTCi quantas figuras tem apa-
recido o mundo,p.4.6c ulterius. A
figura, que os Governadores haò
de trazer fempre diante dos olhos,
he o mefipo Rey , de quem elles
laó imagens, p.^fo. Em que con-
fifte a Figura,5r femelhança do Sa-
cramento com a gloria, p45'9.
Filho. Porque razaõ ha de vir Chriílo
a julgar o mundo na reprefenta-
ção de Filho de homem, 6c não de
Filho de Deos, pag. 59. Como he
Chriílo Filho Prip.iogeniro de fua
fantiffima Máy , 6c a Mây Filha
Primogénita do ¥ú\\Q ? p'^g- 1 66.
E na6
6 6
Index das
Enão fó he a Máy Primogénita
• do Filha,mas também Unigénita,
.* p.169. Gomo a Virgem Maria he
í- Máy ,& Pay juntamente de feu
bemdito Fiiho, p. 1 74. Dcíde a E-
ternidade.prometeoDeo.saíeu Fi-
lho a prerogativa de poder encher
no Sacramento o vaílo da meíma
Eternidade , de que fe defpio ^na
Encarnação, p. 251. ^^^^^{ç. antes
efcolher agraça,que a gloriír, por-
^que a graça faz ao homem filho de
. DeoSjéc a gloria herdeiro^ F- ^74*
uíqueadgyô.
Wim. Deos não julga íenão 110 £m : os
homens não efperão pelo fim,, para
■ ■ julgar^p.yj.uíq.ad 77. Quem quer
começar btm,& acabar b.em,hade
- começar pelo fim, ^ acabar pelo
. principio,p 327. ■ .. > y^
FmeT^íi, Não pôde :harv^er 'mats fííio
amor,que aquelk, que entrega o
CGraça5,6c fecha os olhos , .P42.7.
.A maior fineza da vn:tude nos fer-
=^'osde DeoSjhclògeitaremfe ato-
iT^ar por aumento da gra-ça os rigo-
,; -res, qiieíaõ remédio da culpa ,
oifag.5^5'0.
W^jO' O elemento do fogo iie o iriais
- cfcondido,Sco mais nobre doVni-
verroyp.4 74. Porque não deo Deos
a Adáo o dominio do elemento
-do fogo,p.476.0 fogo não consen-
te fcrero as couías o que laõ^p^S:^^
Entre os clenicnios lo o fogo não
h€ Pay , p. 484. Mas depois qu£ o
fogo artificial íc ajuntou com a
jpoivora, cm todo o género de vi-
íventes tem filhos de fogo, p. 495-.
<Jom© íc iij u dá o , Sc dão a móo o
fógo,ac a nguanas Walhas navais,
P499. Com que myílerio fingirão
os Antigos a Vulc'ano,Dcos do fo-
go,manco, & encoílado ahú boi-
dáo,p.5'oo.
Fome. Communicanos OhriftoTio Sa-
cramento a infinidade de feu cor-
po, fazendo que fcja infinita a fo-
mcjou nòs -infinitos na fome com
que o. comermos, pag.270.6c uke-
rius.
■For ima. Sò quem foúbc fazer eleiçãa
do ultimo iugar, defarmoua For-
tuna,p.xi4.i 15-. Tambcm^na fan-
tidade ha Fortuna, p.404.
Furtai. Os bens áç^Çcc mundo , ainda
que não haja ladroens, que os fiu*.
tem,eUes.mefmos fenos roubáo,
P454-
G
Gado. O pciorgado ^e guardai* hc d
homem, p. i<^y
Georfjetrta. Qumi) gmndehc aciencia
Geometricaj-para o emprego cerro
das balas da Artelharia, P.497.498L
Gemhí. Aié os Gentios condcnavíun
o amor,ou cubica dos Idcus doma-
do, p. 468.469. .
íjtgamef. A dekcndcncia -dosGigan.
tcs, p.^. E como ti palfadojájlbui
De quantas coufas aqucnia o Sol,
nenhuma he mais agradccida,qiic
a erva Gigante, p. 99. Os peccados
pela continuação iazcmle gu;an-
ttís, p.15'4. Qiicfijndamcntorc\-e
; a Filofofia das fabulas, para fingir,
qucos Gigantes fizeiaó 4i,ucrra ao
^^Osf^T^j"-
ÇUri^
iToiífcn ínaís notáveis,
ihriai CòmparacTa a Gloria có a gra- ulteriuç.
ç;í, antes havemos de cfcolher a
Graça,que a Gloria,p.:^69. &: uite-
rius.Amar a Graça por anior da
Gloria , he querer gozar o premio:
amar aGloria por amor da. Graça,
hq querer fegurar o amor , p. 416.
A grande, difterença que- ha entre
osbensda Gloria do Ceo; ,. 6cos
chamados bens das glorias do mu-
do ,.p- 4.34- Quam grande fera a.
. gloria dos bemaventurados, fendo
dlesinfinitosyôc a gloria de cada:
. hum,as glorias de todos,p 4664%.
. Ha cafos,. em que por. pedir licen-
ça, fe perdem as mais gloriofas ac-
foês,p.479.
pvnno. Todos os que govemaó faõ
. imagens .defeusPrincipes,-p.5^i.
- Quam grandes faó as difficuldades
. dos que governam .em >fua. própria
, terra:,fendo imagens dos feuáReys,
Ç. ç^44. ufque ad 248. Porque os
governos antes coítumão mudar :as
_ conçliçoens dos homens, que con-
fervalas jo mais feguro mcyo de to^
' dos feria.coFtarasraizes, p.:;49.0s
Governadores ,, que não íaã da
terra,que governaõ, ôi vede fora
a goí^ernalas, carecem das proprie-
ílades mais importantes para i bem
governarem,p.35'5'.
Qofto. Quaes faó os goílos, & o fabor,
. que lè acham livres de amarguras
no ultimo k]gar,p. lag. Maôs,Sc o-
lhos,5c gofto experimétaraõ como
o corpo deChriftono Sacramen-
. toefl:àinfinito,p.i68.ufquead 270.
. Quam penfionados da o mundo os
gi)ílos,§c.bens deita vida,p.449.Sc
4úf
Gra^a.. O; verdadeiro penitente ^
ellimao que pôde dar a graçadff"
Deós ; 6í fó temeo que a pode ri--
rar , p. i ^ 7. Para hum homem fc-
eonverterinaó baila fó vida, faudcy»
6c juizo j mas he' principalmente
neceíiariaagraga dÈDeoí?,p. i^^^.
O chamar a Deos de todo ^ o- cora-
ção, naô depende fó de noífo alve--
drio , fenão também da graça de;
Dtos, p.rjjT.Saó tam efquecidõs os-
homens de fazer efcolhado- lugar"
que mais lhe con vem, qu2 fe algãi
' ouve , que a fizefie , foi por eípfe-
cial auxihoda graça Divina,p.23,i»
- Annda que enchemos aaUna comi
a graça, devemos encher a-graça^
com as obras , fem as quaes a graças
não permanece , p. .278. Nem por'
fer a Ley de Ghriáo Lsy da graça^.
ha de fer nella tudo graça, .p.29f:..
eomparadà a Graça com a Glon%,
antes devemos efcolher a Graças,*
que aGloria, p.3 69. ufque ad 386..
Quem foube fo achar paralelo aí.
graça da Mây de Deos, p. 593- Â^
■ í inundação dedehcias, com que. ai
Senhora fubia para o Ceo ^ eraõ as;
de fua gra^a, p .394. Queminam a-
ceita a graça de Deos,fecha as por--
tus àSantiíIima Trindade, p. ^96.-
Q^am pouco cafo fazem os ho-
mens da eleição da graça, p* ^96.'.
Scdeinceps.
Grand-ézjt. Os bens, que o mundo châ--
. ma grandes, ío íãé bens, quando is.;
deixaôjSc fó íaõ grandesjqiiandoie-
efperaó,p. 5-49.
Gnerrof, Qu^e guerras da^ntiguid^deí
I
»
6o ^ Indexe das
tem pafrado,p. S. No tempo da paz Sc os homens conhecerão os cora-
podeíe rofrer,que fe dem os lugares
às geraçoens j mas no tempo da
guerra , naõ fe haó de darfe naô às
acçoens,p. ii8. Notável coufahe,
que tenha a graça defpojos , como
íe fora guerra, p.4i5'.Quanto mais
trabalhofa he a guerra do mar,que
ada terra,p.497.
Hírí^tjça. Devefe antes efcolher a
Graça^que a Gloria;porque a Gra^
ça faz aos homens filhos de Deos*
Êc a Gloria herden-os, p.c^74.ufque
ad^jó. S. loaõ Evangelilta foi a
herança principal de leu teftamcn*
to, p» 409» Mais deixava Chrifto
cm deixar por herança S. loaõ E-
vangeliftaaSuaMáy , do que em
dar o Reyno do Ceo a Dimas , p.
411. Onde oPay heDeos, tanto
direito tem à herança dos bens os
anependidosjcomo os innocentes,
P 458. .^ ^ ^
Homens. Quanto variarão os homens,
deíde a lua primeira infância, p.45''
Qual foi o primeiro homem y que
fe atrevèo a por a Coroa na cabeça,
p.6. Paílaó os homens como íenaõ
paílàraõ, p. 20. Nenhum homem
pode entrar duas vezes no mcímo
rio: 6c porque, p. 21. Os homens ,
que chegaó a ier velhos, morrem
féis vezes : ôccomo,p. 25. Enthe-
íburaó os homens para o dia do lui*
2.0 a ira,6c vingança de Deos, p.26.
-Lj O juizo dos homens he muito
mais temcrofo , que o juizo de
Deos; ôc porque, p.j/. Sc ultcnus.
çoens, nao navia que temer léus
Íuizos,pi6vPorque queria David,
queojulgaíleDeos, ôcnãoosho-
mens,p.67.68. Quanto mais feguro
he ir ao luizo de Deos com pccca-
dos , que ao dos homens com mila-
pres,p. 69. Quantas vezesjulgaó og
Homens pelo que nunca vos paflbu
pelopeníamento , p. 72. Ecomo
jujgaó também, pelo que nem a el-
les lhes paílbu pelo penfamento, p.
73. Comojulgaó os homens antes
do fim , p. 75". ufque ad 77 . Os ho-
mens , quando teftemunhaó de fy
mefmoSjíãó humacouíã,6c dizem
outra, p.89. Sc ulterius. Os homens
olhados pelas primeiras paredes,
naó faõ mais que hum Idílio do ze-
lo, p.icó. ufque ad 108. Para pro-
nofticarcmbéos Portuguezes an-
tigosjconfultaváo as entranhas dos
homens, p. iig. Nenhuma coufá
trazemos os homens mais dctraz
de nòs , que a nòs melmos, p. 1 25'.
Mais fe devem temer ospeccadcs,
que o juizo dos homens,p.iq7,No
juízo dos homens appcllafedt pois,
no luizo de Decs appcllafe antes,
p. i44.Todoohomcmneílemun,
do dcíeja melhorar de lugar,p. 194,
195-. TcdÀS as maravilhas do Cor*
po de Chriílo no Sacramento > co-
munica aos homens omefmoSn^
cramcnto,p.i^9. & ultenus. Chri-^
ílo Sacramentado comunica aos
homcsaimmeníidaac, que tem no
Sacramento, p.248.uíquc ad 2f'.
S. Gonçalo naícco Minino Ho*
mcm>p»28ó.&. ultcriuç^Os homens,
que
coiífas mais notawis. ^^^^
que governaó homens, haõ deter tiírniiaMá)r,p.iSi. ufquc ad ^icÍ4.
avcço.ôc direito, p.z9 7. Aílim co-
mo no feu nalcimento foi S- Gon-
çalo minino , como homem; aífim
; depois de morto foi homem, como
Deos, p. 517. ÔC ulterius. Nósjfen-
do na idade homens , na vida , 8c
cofbumes fomos mininos, p. 326.
Como deve o mundo abrir os o^
lhos, & não fe contentar de ver os
homens fó por fora, mas confídera-
los também por dentro,p.440.
H.nra. O ultimo lugar merecido por
diftribuiçaó alhca , pôde fer afron^
- tòfo: tomado por eleyção própria,
he o mais honrado, p. X24. & ulte-
rius. As acçoens,6c feitos honroíbs
. com mayor razão fe podem elperar
daquelles,que querem acquirir ho-
ra, que dos que cuidaó,ôc dizem,
"quejàatcm,p. 55*8. & ulterius. A
diftcrença da honra,com que Deos
communica no Ceo aos Bemaven-
turados a íua vifta, & aos q o amaõ
na terra a fua graça , moftra quan-
to a graça deve fer preferida à glo-
ria, p.281.
^orto. No Horto colherão Chriílo,&:
fua Santiílima Máy os primeiros
frutos da Redempçaó,p. 167.6c de-
inceps. No Horto ouve hum novo
Calvário , fem monte;& no fuor do
fangue,huma nova Cruz,, fem cra-
vos, p.i68. O effcito geral do lan-
gue da Cruz,foi remir j & o parti-
cular do langue do Horto , remir
prefervando, p.i 70. uíque ad 1 72.
■ O Sangue , que Chriílo fuou no
Horto , foi o mefmo, que na En-
carnação tinl:^^ recebido de fua Sã-
Hoftia. Depois do fim do mundò,íe
confervarà eternamente no Ceo
huma Hoftia confagrada,p.2f ^uf-
queadi^S.
ídolo. Como faõ os homens ídolos do
zelo,p.io6. ufque ad 108. 0 que faz
a penitencia para defprezar o Ido-
iodo juízo dos homens,p. 134. uf-
que ad 142. Como fe fazem as al-
mas Idolatras,p. y^o.
Ignorância. O perfeito lègredo , he o q
chega a fer ignorância, p. 420. ;
Imagem. Todos os que goyernaô íâõ
imagens dos feus Príncipes, p.331.
: AAdaódcoDeus particularmen»
te o titulo de Imagem fua : & por-
que,p.332.0 que ouver de ler Ima-
gem verdadeira de Deos, naó baila
que feja homem com alma; fenam
também alma com homem, p. 335-
Porque razão diziaõ os Antigos,
queaiipagem de Mercúrio fenam
fazia de qualquer madeiro, p. 324.
Como fie o Verbo Divino Imagé
da bondade de Deos, p. 33^. Anti-
guamente conheciaõíèas imagens
dos homens pelas fuás íbmbras , p.
341. Quanto excedem às vezes
as fòmbras deftas imagens aos
Reyrcíe que íàó imagens , p. 34.1.
342. Os que faõ imagens dos Icus
Kcys em terra, onde íaõ naturaes,
ainda tem outras difficuldades no
íèu governo, p. 344. ufqu€ ad 348,
Mais eftimaó os íupremos Monar-
Ss cas
""Pt-
■^^MB
tti
J
6io hidex
cas os obfcquios que fe f a:zem a Tu as
Imagens, que a fuás próprias pef-
foas , p. g6o.
Immmjidade. A Imméfídade he o fcgú-
do vaíio da divindade , que pelo
Myílerio da Encarnação fe Umi-
tou a hum fó lugar, p. 14^. E deíla
immenfidade do que Deos fedei-
pio pela Encarnação , fe reveftio
outra vez pelo Sacramento , Ibid.
ufquead p.2jri.
Immonalidade. A nofla injuíliça he a
mais evidente prova da noíla im-
mortalidade, p. y;, Q corpo de
Chrillo no Sacramento, fendo na-
. tural mente corpo mortal , ficou
immortal: & íendo naturalmente
paífivel , ficou impaííível p.261 . uf-
quc ad 264. E como eftes dous ef-
feitos de mimortalidade , & impaf-
fíbilidade fe nos communicaõ no
Sacramento,p.i64. ufquc ad267,
ImpAJjibthdade. O corpo de Chriílo no
Sacramento, fendo naturalmente
paílivt.1, ficou impaílivel, pag.26i.
urquead264. E como nos comu-
nica no Sacramento eílv? mefmo
eífeito de impaílivel, p.264. E ain-
da que a mefma experiência pare-
ce,que faz difiicultofo elle efieito
de impaffibilidade , não deixa o
corpo de Chriílo de nolo comuni-
car no Sacramento, p.iój-.zéó.
• /w/?m(?.QLiaes foraó os primeiros Im-
périos do mundo, p.6. A fua infta-
bilidade, Ibid. Profecia das duas
partes do mundo, a pólvora, 8c o
Império Otomano, p 492.49 g.
Infinidade. O vaíio da nifinidadc do
Verbo na Encarnação fuprio o
das
corpo de Chriílo no Sacramento,
p.267.ufq. ad27o. E como íe nos
comunica pelo Sacramento cílc
mefmo eífeito de infinito,pag.270.
ufq.ad27z. A infinidade da graça
da MãydeDeos,p.g9^.
Inferno. O que dizem,Sc falíâo no In-
ferno os condenados, p.5':^. ufq. ad
55'. Nem porque mais íc deve te-
mer o Inferno, 6c morte da alma ,
que a do corpo , he mais temerolò
ojuizo de Deos,que o dos homens:
- 6c porque,p. 78.6c ulterius. Porque
fe compara o zelo ao Inferno, pag.
106. Por confervar a graça, atè hc
licito querer antes padecer as penas
do Inferno,p.ç^8o. No invejoío atè
as penas do Inferno íaó mais tolr-
raveis,que a gloria alhea, pag. 522.
ufq.ad 5-24.
Injuria.!. As injurias faó a mufica dos
penitentes,p. i :>8. i ^9.
Innocencia. QLianto mais calla, cntaõ
allega por fy melhor diante de
Deos,p.5'i7. Não pòdc chegar a
mais o mais fervoroío defcjo da
fintidadc,que fogeitarfe aos remé-
dios do peccado,quem goza os pri-
vilégios da innocencia,p.5'5x. Não
ha lãcrificio mais fcmofo aos
olhos de Deos , que húa innocen-
ciaifiuítreem habito de peniten-
cia,p 5,-4.
Intentos. Os que não chcguo a ter ex-
ecução, caufaõ a maior pena do
mundo,p. 5- 1 7.ufq.ad 5-2.0. Provafe
o mcímo,p.5'i7.5'2H.
Inveja. Nos tribunais onde a inveja
prefidc, as virtudes íaó peccados,p.
jio.Sáotaó linces os olhos da in-
veja.
coufas mais
vcja,qne nosimpoíliveis do pec-
catio defcobrem culpa, p.yij.fiô.
Os invejofos niíiis féntem os bens
alheos,queos males próprios, pag.
5'ii.uiq.ad525'.
Invifibdtàade. Se o Verbo veílindoíê
de corpo humano , de inviíivel íè
fez viíiveli o mefmo corpo para re-
cuperar a inViíibilidade perdida
na Encarnação , fe tornou a fazer
invifivelna Encarnação, P.275.E
efla raefma invifibilidade noís co-
munica Chriílo íàcramentado,
Ibid.ufq. ad2 75'.
Jogos. Qiie' jogos ouve .nomúdo'mais
celebrados, p.9.10. E coittOpàíIá-
■' rão todos, Ibid. >?ííí;>..'^ - u.
íiiiz^. Dèos julga como luiz: 6c os bo-
.mens julg^o como judiciários, p.
8g. No juizo dos homens não ba-
íl:a,que hum julgue com juftiça,
'paraefcapar-de fer julgado inju-
t''ftamente,p. 85*. Ninguém ha taô
- ' reâio juiz de fy mefmo, que,oudi-
ta o que he,ou feja o que diz,pag.
p.&ulterius.
Ihízjo. Os dous maiores portentos^que
^ fe háo de ver no theatro univerfal
-' do dia do luizo, pag.a. Gomo he o
diadoluizo húa rede lançada no
mar,p.24. Atè o nada não efcapa-
rà da conta no dia do luizo, p. 28.
ufq.ad g2. Em três Parábolas nos
e ■ -rcíumio Chriílo em íumma toda a
*-'• 'Conta,que nos ha de pedir no dia
-•^o luizo : 6c quaes faó, p.gf.ôc de-
inceps. O juízo dos homens he
muito mais temerofo , que o juizo
de Deos : &; porque,p,5'7. &: ulter.
Qual he o juízo de cada hum .de
notdveis. 6m
nos para C0íifigp,p.88.5c deiíTceps.
Como todos fe cegão no juizõ de
fy meímos, todos querem benção
fora da fua efpecie,p.99. Como íàõ
diveríbs os íucceílbs , 6c osjuizos
humanos, p. 112. No tribunal da
Penitencia fejulgaõ o juizo de ly
mefino, o juizo dos homens , ôc o
j u i zo de Deos : 6c como, pag. 121.
&ulterius. ,
Ififliça. Para íe vçn cerení às difficul-
dadesdosprimeiros lugares, nant
baílãojuíliça,6c favor,p,207.
L
Ladroens. Porque na terra ha La-
droes, &noCeo naójpor iífo ha-
vemos de fazer os nofíos theíòu-
ros dos bens do Ceo,5c no Ceoj 5c
naó dos bens da terra, 6c: na terra.
Lagrimas. Porque razão nem as la-
grimas , qUe íàô de goílo , tem lu-
gar no Ceò,p. 448. 449.
Ley. O juizó', com que nos julgamos
huns aos outros, he Ley, que pu-
zemosaDeos , para que ellé por
ella nos julgue também a nòs, p.
85-. Nem por fer a Ley de Chriílo
Ley da Graça, ha de íer nella tu-
dograça,p.297.
Z-fír^/. Qiieiètras,6c ciências tem flío-
recido nÒ mupdo,pag.8.9. E como
tem jà paífado todas, Ibid.
Líceffça.Ha cafos,em que por pedir li,
cença fe perdem as mais gloriofas
acçóens,p.479.
Livros. O Livro da vida he hum fó:&
Ss ij os
n
■li
íflii
Cl2
os Livros díi conta iàõ muitos , p.
a8. Todos os peccados dos fubdi-
tos íe carregâo no Livro das con-
tas dos Superiorcs,p, 2 7.
Loures. Náo baila muitas vezes , que
fp^ os bens defte mundo fejáo noílòs,
para que o mefmo mundo no los
deixe lograr,p.4yo.
Z/y^. Nenhúa benção fe podia dar à
Lua mais venturofa , que o náo
crecer,p.ioi.
Luffar. O j uizo de Deos ha de fer em
humfólugar:ôc ojuizo dos ho-
mens he em todos os lugares,p.8i.
No tempo da paz deíe o primeiro
lugar a quem melhor for : mas no
tempo da guerra ha de darfe a que
melhor obrar, p. 119, Todo o lu-
gar he nada,p.i96.i97.No mundo
naó ha lugar melhor,p. 198. Sò no
Cco ha melhores lugares,pag. 199.
ufq.ad 201. O melhor lugar he o
ultmiOjp.io^.ôc deinceps.No Ceo
naó tem lugar a diviíàó,que ha nos
bens da terra,de meu , ôc teu, pag.
460.
Z-»2,. Deixounos Chrifto comunica-
do em fua doutrina três rayos de
ília divina luz, para que vejamos
agora o que no dia do luizo have-
mos de ver, p-g4. E quaes faó eftes
três rayos de luz,p.^ j.6c ulterius.
In^ex das
M
Mal. He propriedade dos males últi-
mos , izentarcm de fy mefmo a
quem oprimem, p.i 14. Para haver
mal, ôc bem baila hum fó momen-
to,p.4^6. O poilco caía,que fe de-
ve fazer dos bens deíle mundo,
poríerem fempre taò miílurados
com os malesjcomo fe verdadeira-
mente foraô puros males , p. 44^.
444. Com que razão clamaó as
Efcrituras, quedas partes Scnten-
trionaes, & do Norte fahiria todo
o mal, p. 491.492.
Mandantentoí . No juízo de Deos , que
guardar os Mandamentos, pode e-
Itar feguro:& no juizo dos homens
não aproveita guardar os Manda-
mentos,p.8:^. Ha mandamentos da
ley da Inveja, aílim como ha Man-
damentos da Ley de Deosjp.^ig.
M^o. Como havemos de aceitai* da"
mão de Deos os talentos, que cllc
for fervido darnos, pag.44 ufquc
ad47.
Maravilhas. Quantas, Sc quaes foram
as Maravilhas no mundo celebra-
das,p.ig. E como todas paíláraó,
Ibid. Por mais que cada hú fe pin-
te Daravilhofo no ícu conceito,
faltalhe para Mefliasa condiçam
principal : &: qual he,p.9».
Marta.T\es fuppoíiçoens neccflarias,
para íe tratar daConceiçaó da Vir-
gem Maria, p. i6o. Por valor do J
langue de fcu Filho foi a Virgem 1
Maria prefcrvada do cativeiro do
pcccado de Adão, p.iói.uíquc ad
164. S.Bernardino de Sena diz,
queremio Chriílo a Virgem Ma-
na fua Máy com o primeiro fan-j j
gue,que derramou na Cruz,p.i65'« 'f
Allimno HortOjComono Calvo- .
rio obrou o Filho de Maria como
Jcfu , 2c comoRedcmptora fua
rc-
mífas mais
yedempção, p. 169. E eom que dif-
fcrença,Ibid. Que prerogativa te-
ve o fangue do Horto para fer pre-
ferido ao da Cruz no myfterio da
Conceição de Maria,p.i7i.urque
âd 174. 0 fangue animofo,que no
. ;Horto faltou,& fahio fora das veas
1 ide Chrifto, foi o que o Verbo en-
carnado confcrvava,6c tinha rece-
bido do fangue de fua Mãy,p. 184.
A graça daVirgem Maria tçm trcs
eftados de perfeição, p.^Só.Quan-
to eftimou mais a Virgem Maria
a graça,que a glaria, p. 38 /.Quan-
to Dcos quíz que crecefle a graça
de Maria, pag. 588. Quacs foraó os
.^j.au mentos da graça da Virgem
. s Maria,p. :i89.ul^.ad ^95".
Medidn, _C2^ú2i hum fe deve medir de-
tro da fua esfera, p. 100. Para fc co-
nhecerem os que o zelo come, ou
.; os q come do zelo, deve fer medi-
ar dos pela cintura, p.104 NoApofto-
a^ílado de Chrifto S.Joaó Evágelifta
;^ yfempre era do fcu tamanho,p4i8.
Como pela medida do paõ,ou pe-
lo paó fem medida fe avalia a gra-
ça,p.424. Nunca as maquinas vi-
vas igualaó as niédidas das Ibnha-
das,p.5'47. .
j\^eyos. Aflim os meyos univeríaes,
como os particulares, com q Deos
aflifte a todos os homens, faó os ta-
lentosjde que devemos dar cota a
Deos, p.4i. Como os meyos entre
fy contrários nos podem igualmé-
- te levar àfalvação,p.4:^ 44. Quâ,-
tos meyos ,& remédios inventa-
rão os homens, para cada hú pof.
fuir quietamente o feu: mas fem
notáveis. . ^'3
proveito, pagin. 45'!.
Memoria. Os homens comummente
não fabem guardar fegredo , por-
que o encomendão à memoria, 6c
não ao efquecimento,p.42o. ^
Mentira. Na matéria de vos quê fois,
todo o homem mente duas vezes:
húa vez mentefe a fy ; outra vez
mentenosan0S,p.89.
Merecimento. Hum grade delito mui-
tas vezes achou piedade : hum
grande merecimento nunca lhe
Faltou inveja, p.67. Adiverfidade
das bcnçoens náo argue defigual-
dade de amor em quem as dà , fe-
nâo differcnça de merecimentos,
cm quem as recebe,p.98. Qiianto
mais cufta o alcançar , que o me-
recer, p.aoS.
Milagres, Não ha coufa, de que mais
fc efcandalizem oshomens,que d«
haver quem faça milagres,pag.6^.
_ Se foftesleprofo algum dia, ainda
que Deos faça milagres em vos,
leprofo haveis de fer toda a vida,
P7 7- Qtiantos milagres vemos ne-
fte muHdo,8c quantos homens, êC
alvitres, mi lagrofosà cufta do pàõ
alheo,p.295'. Não eftà a perfeição
do milagrofo em poder fazer os
milagres, fenaô em os fáber fazer,
p. 29(^iS'ão milagrofo fe moftra S.
Gonçfk) quando faz por nòs os
milagresjcomo quando ceíl^a de os
f^zeçíp.gi:^. Qiiaes fió as infignias
dos milagres daquellas imagens
dos Reysjquandotornaõ das Con-
quiftas para donde viera5jp;34^.
^/>3í«o.S. Gonçalo nafceo mmma
homem >p.2.86.6c ukenus,
ii
m
um'
6i4*
Mijericordia. Porque Dcos ama a Mi-
lericordia,& a verdade,por iílb da-
rá a graça,6c mais a gloria, p.369.
He tal a bondade de Deos, que
quando quercaftigaros homens,
f porque nunca fe efquece defua
mifericordiaj o que mais fente he,
naó haver algum, que fe lhe oppo-
nha,&: lhe rcfiíla,p486.
/J/í?ríf. Quantas vezes morrem os ho-
mens,que chegão a fcr velhos,pag.
23. De todos os géneros de morte
pôde haver eíperança de efcapar j
&fó a morte, que traz configo a
velhice, he morte fem eíperança,
p. 308. Intentos naó executados
cauíaóíiúa morte , que por mais
penar, não mata: fabefe fentir,
mas naólefabe explicar, pag.5'19.
Porque lhe parecia a Job melhor a
morte, que a vida, p. 5-37. Porque
razaó íe compara o amor grande à
morte,Sco amor maior ao Infer-
nojp.^óo.
'Mndança. O juizo de Deos pôde mu-
darfeiÔc o dos homens naó fe mu-
da,p.8;.
Mundo. Com quantas figuras tem
' aparecido o mundo, pag4.& ulte-
rius. Qual foi a maior oílentaçiío
de grandeza, que fe vio jYpíle Mú-
do,p.20.ii . De eftar o Bautifta em
priíòens fe prova,que ,ha de haver
outro juizojêc outro Mundo, pag.
56. Quantas tragedias fe repreíòn-
tão no Mundo,em que as mefmas
injuftiças faó verdadeiras, pag. 74.
Como pôde ler , que haja outro
tribunal no Mundo,em que o jui-
7.0 de Deos íe rcvoguç, pag. 145.
Index das
Nefte Mundo nâo ha lugares,pn<y.
196.197. Nem ha lugar melhc?,
amda fuppondo, que haja lugares,
p.198. E admitindofe haver me-
lhores lugares , íó no Ceo os ha,
pag.i99.ufque adioi. No Mun-
do o ultimo lugar he o melhor :
mas no Ceo o melhor he o prunei-
ro,p. 226.22 7. Três coufas ha no
Mundo,que íempre crecem, pag.
416.
N
Nada. \ Tè oNadanãocfcaparà
--tjL de dar conta no dia do
Iuizo,p.28.ufq.ad gi.Quantos pcc-
cados lè veràõ fair no dia do luizo
debaixo do Nada,que agora os ho-
mens nâo vem , nem querem ver
em fuás conciencias, p. 54. Como
nos conhecemos, que fomos Na-
da , vendo as imagens de noílbs
peccadosjp.ig^. Todo o lugar he
Nada, p.196. 197. Deixara Deos
por amor dos Nadas do mundo,he
fazer a Deos menor que Nada, p.
5-47-
Nafcimento. Deos ha de julgar os vi-
vos,Sc os mortos: 6«c os homens atè
os que eítáo por nafcer, julgaó, p.
82. Comopreícrvou Chrillo cio
peccado a lua íántiííima Máv, an-
tes de fer nafcido,&: fendo primei-
ro o Nafcimento de fua Máy, que
oleu,p.i76.i77.
Nao. Todos imos embarcados na
meíma Nao,que he a vida:& todos
navegamos com o mefmo vento,
que beotcmpo,p,2i.22.
coiifas mais notáveis,
éíi^
Naturez^a. Os bens Ibbrenaturaes ex-
cedem na nobreza, preço, & dig-
nidade a todos os bens da Nature-
2a,p.^68.
Nome. Qiiando começou o nome do
governo no mundo,p.ggi .Não he
JLiftojQue conferve a memoria dos
Pays no Nome , quem profeíla o
clquecimento dos Pays na vida,p.
^-fó.ufq.ad 558. Porque razam fe
deve antes tomar na Religião o
nome da Cruz , que o do Sacra-
raentOíp.^óg 5*64.
i\r/;<»?e/í7. Os Profetas naõ fe ha5 de
conhccer,né avaliar pelo N ume-
ro, fenaô pela pefojp. 109. Sc ulte-
rius.
Nuvem. Como he a Virgem Maria
Nuvem leve,p.5'29.
o
Obedi.nciít. "TT M quãto Adão obe-
[_/deceo, & guardou o
Regimento, que Deos lhe tinha
dado no Paraifo, confervou emíy
a imagem politica, que tinha de
Deos,p.35'3. Como devem osfub-
ditos ter íogeiçâo prompta,ôc ale-
gre obediência a feus Governado-
res , por íeiem imagens de íeus
Reys,p.^5'7.
Ohras. A perfciçáonaõ coníifte, em
que as nollas obras fejão boas, íe-
não em que fejão bem feitas, p- g.
Quem leva a calumnia nas obras,
não importa, que tenha as defefas
no coração, p.65. Para com os ho-
mensjO maior immigo,que temosj
faó as noflas boas obras: & porque,
P.67.&: dtinceps. Qiianto ao con-
trario das obras julgão os homens
os penfamentos, p. 7 1 . 6c ulterius.
Cada hum he o que faz ; ôc não he
outra coufa, p.iif. 116. As boas
obras faó a maior fegurança de
noílã predeílinação, p.120. Como
fe entende c modo de faílar da Ef-
critura, que Deos ao dia fetimo
defcançou de todas as obras , que
tinha fcito,p.5 19.6c 310,
0<aí/í». Muitas vezes parecem finezas
de amifade, o que faó ódios reíina-
diílimosjp.fi i.ôc ulterius.
Oferta. Como fe pôde ofFerccer a
Deos mais, do que delle fe tem re-
cebido,p.548.
Officios. Como no dia do luizo ha de
pedir Deos conta dos Officios , ÔC
cargo§,q fe exercitarão nefta vida,
p. ç^y.ufq. ad4i. Em Deos a von-
tade, & o entendimento tem re-
partidos os Officios,p. 61.
Olhos. Quem quizcr julgar os outros,
vire os olhos para détro de fy meí-
m:0,p.86. Os verdadeiros Profetas
conheccmfe pelos olhos, pag. i.i?.
Maior cçgiieu'a he ver hua coufa
por outj^ajque não ver nada , pag.
114. A^pçnitencia, ou nos volta os
olhos de (ora para dentrojpara que
nos vejão : ou nos vira anos mef.
mos de dentro para fora, para que
nos vejamosjp. 125.Sc ulterius. Os
noflbspeccados poílos diante dos
olhos,convenccm-nos a nòs com
noícojôc emendão o noíTojuizo
com o nollo próprio juizo, p. 152.
A penitencia para o juizo de fy
meí-
íB
m
6i6
Index das
u
mcfmo abrcnos os olhos \ & para o
juizo dos homens fechanos os ou-
vidos, p. 1 54. Mãos, olhos, & gofto
experimentarão como o corpo de
Chrifto eftà no Sacramento infi-
nítamente,p.i68. uíq. ad27o. Aí^
fim como he grande dignidade
das imagens dos Príncipes o ha-
ver de repreíêntaios nos olhos do
mundo; aílim he muito difficulto-
Ib o acerto deíTa reprefentação, p.
334- Ql^aiTti errada he a eílimaçáo
daquelles, que íb eftimaõ o q vem
com os olhbs,p.g78.
Oppojií^ão. Ha de preferiríe a graça à
gloria.- porque o oppofto da graça
. he naô amar a Deos ; 6c o oppofto
da gloria he náo ver a Deos, p.^7 7.
ufq.ad gSo. Como íèrvem as lem-
bras, & os oppoftos,para mais illu-
ftrar os contrarioSjp.^oz. ufque ad
5-04.
Oração. A efficacia da Oração de
Chrifto no Horto,foi a que futili-
2.0U o fangue nas veas,6c o fez ma-
nar em ftior,p. 1 79. E iftb para fer
anticipado o preço da rcdempçaó
da Senhora, Ibid.
Ovelhas. Como o bom Paftor nam ha
d€ defemparar as fuás Ovelhas, p.
a98.urq.ad300.Eem t|uecafo lo
poderá ter elcu fa para Ò fazer, pag.
goi. Argumentaíé contra eftacl-
cufíjp.goi ôcdeinccps.
pAçtençh.
o
Diviniífimo Sacra-
aientQa huns Mar-
tyrcs fazia impaíTiveis pela impaf-
ribihdade.& a outros pela Pacicn-
cia^.261
P^fo.DefpofarfeDcos no Paço , hc
inaravilha grande, p. 5-54. No Paço
ainda quando o conhecem os mui-
tos annos,nam fe atreve ao deixar
os poucos,p.^42.
Paj. Como S. Gonçalo ainda hoje hc
Pay de familias,p.3 1 7.Qué he filho
do Pay do Ceo,contentarfe ló com
o íeu,he peccado grande, que co-
mete contra o Ceo,p.457.Nam le-
ra verdadeiro Pay, nem verdadei-
ra Máy o que nam cftimar menos
os íeus bens,que os de feus filhos,
p,465'. Entre todos os elementos
fó o fogo nam hc Pay,p.484.
Paraholas. Em três Parábolas nos re-
fumio Chrifto em fummatoda a
conta, que nos ha de pedir no dia
do Iuizo:Ôc quaes fam, p.35. & de-
inccpf.
Paraifi. O Paraiíb Terreal foi a pri*
meira ícerta, cm que aparece o o
mundo, p. 4, Atè no Paraifo Ter-
real havia bens com miftura de
males.
Pão. Quando os doze Apoftolos re-
partiram entre fy o mundo,fe leva-
ra cada hú configo a fua alcofi,dos
fragmentos do Paó,com q Chrifto 1
deo de comer a cinco mil homens,
baftariáo aquellas fobras afuftcn-
taromundo todo,p.269. i7o.Em
hum milagre que S. Gonçalo fez
noPfiOjíèvcmos cfFcitos da Ex-
communhão,& abfolviçáo, p.294.
Muito melhor fc governaria o
mundo, fe viílcaios pobres de Pát>
~ ~ 0$
coiifas mais notáveis. , r^, ^P
P^fior. O melhor P;iíi:or de todos, he
o que fendo mancebo Tabe fer Pa-
ftor,p.i9i.A maior falta dos Faftò-
res he a do valor,p.292. O bom Pa-
Itor não ha de fer tudo bondade, p.
197.0 bom Paftor naó deve defem-
pararas fuás ovelhas, p.a98.ufq. ad
300. E quando poderá terefcuía,
paraofazer,pag.5oi. Argumentafe
contra erta efcuía,p. 301.6c ulterius.
Pdz.. No tempo da Paz pòdcfe fofrer,
que fe dem os lugares àsgeraçoens:
mas no tépo da guerra não fe háõ
de dar,fenão às acçocns^p. 118.
Peuados. A vida paíla, 6c os peccados
não paílaò,p.i4.&: ulterius. Excep-
tos os que peccâo com ignorância
invécivel,os demais peccaó no pec-
cado,6c na ignorância, com qo naó
conhecem,p.53. Todos os peccados
dos fubditos fe efcrevem no hvro
das culpas dos fuperiores, p. 37. Cà
fica tudo aquillo,porque peccamos,
6c o que fó levamos com nofco, he
o peccadojp.j^. Quanto mais íegu-
ro he ir ao juizo de Deos có pecca-
dos,que a dos homens có milagres,
p.69. A quem conhece a graveza dos
peçcadosjtodo o caftigo,que naõ he
o etcrno,lhe parece muito pouco,p.
105. Como havemos com David
eonfidcrar peccados, & mudar epi-
tetos,p. 12S.6C ulter. Os noílos pec-
cados poílos diante dos olhos con-
vencem-nos a nos có nofco, p.» g^,.
Mais fe devem temer os peccados,q
o juizo dos homens, p.157. Se que-
remos remiílaó dos peccados, have-
mos tomar a penitenciajcomo bau-
Tom.7.
ainda q foi derramado por fua Mây
fantiírima,não fe derramou em re-
milfaó de pòccados,p.i63.i64. Af-
fim et) mo Chrífto fe adiantou a re-
dempçaó de fua Mãy ; aífim a mef-
ma redempçáo fe anticipou aopec-
cado, p.176. Oímpeccavel não fe
pode fazer peccador de culpa, mas
pòdcfe fazer peccador de penas,pag.
55-2. A penitencia honra aos pecca-
dores: os innocentes honraó a peni-
tencia,p. 55-5-.
Ptf^^K^^. Porque confidere Deos nana
os noíTos paífcs, fenaõ as nofias pê-
gadasjp.iy.iô.
Penfamentos.Qnmto ao contrario das
obras jutgaó os homens os Penfa-
mcntos,p 71 .& ulterius.Náo ha pe-
na tão exceffiva,como hum Penfa-
mcnto fruftradojp.fiS.ufq. ad 520.
Provafe o mefmo, p. 5-1 7.5'28.
Penitencia. No tribunal da Penitencia
fe julgâoojuizo de fy mefmo,o jui-
zo dos homens,& o juizo de Deos:ôc
como,p.i2i. écdeinceps. Por dous
modos faz a Penitencia, que os ho-
mens cheguem a fe ver interiormé-
te,como convém, p. ii^.Gom abrir,
ou fechar hum fentido faz a Penite-
cia de;íprezar o j uizo dos homens, p.
i:^4.Quefaz,6cdcvefazcro verda-
deiro penitente, p. 136.&; ulterius.
As injurias íàó a muíica dos penité-
tes,p. 1 38. 1 59. Grades exceliencias
do juizo da Penitencia fobre o juizo
deDeos,p.i47. 148. Não hafacrifí-
cio mais fermofo aos olhos de Deos,
que húa innocencia illuílre em ha-
bito de Penitencia,p. 5-5-4.
Tc Per-
ri-
í>i8 ^ Index das
FerfeiçâõA perfeição naóconriile nos & o fim junto com o principio, p.-;
verbos,íenâo nos advérbios, p.g.
Perda Çl}i-2im pouco fefintaó as per-
das da graça,p.g97.Como Te devem
pefar em balança as perdas da eJci-
çáo da graça, p.^98.
JPez.o,hs profecias não fe haó de julgar
pclonumerojfenâo pclopezo, pag.
ui.Qijam pouco pezaoos homens
o morgado da graça,p.ç^99.
Vohora, Qiiem foioprmieiro inven-
tor da Polvora,p,492.Mas íèbem íè
lerem,8c entenderem as Efcrituras,
acharemos,q quatro mil annos antes
a tinhajà inventado Deos, pag 504.
Predejimaí^ao. Nas acçoens fe haõ de
fçgurar as Predeílinaçoens,p.i 19.
Prelados. De cjue tomará Deos conta
no dia do luizo a hum Prelado, pag.
. ^9.uíq.ad4i.
Premio. hm-siY íí graça por amor da
gloria, he querer gozar o premio :
amar a gloria por amor da graça,he
querer icgurar o amor, p. 416.
Prefir/-/pçao. Todo o talento he arrif-
cado ao perder, ou a naó dar boa
conta delle a prefumpçâo^humana,
p,4f.ufq.ad47.
Príncipe. Pela primeira faludadc,em q
G Vaílallo for achado,hade logo cair
para fempre da graça do Príncipe,
p.4i:5,Náoha couía que mais cre-
Ça,que os lados dos Príncipes, pag.
4if.ulq.ad4i7. Omaiorahuíò ,&
rifco, que tem a graça dos Princi-
pes,hc andarem o páo,&: a graça jú-
tos,p4i:^.
Prmaprj. No dia do luizo fc verá o
pnncjpio do mundo junto cõ o fim.
Qual foi a primeira fcena no prin-
cipio do mundo, p.4. Quãdo comc-
çou,& teve principio a idolatria, p.
y.Quando principiarão as guerras,
íbid.Iulgaros fins pelos principio?,
he juizoincerto,p.75'.Quem come-
çar bem,& acabar bem,ha de come-
çar pelo fim,& acabar pelo princi-
pio,p.g27.
PrivilegtQ. He Privilegio concedido
noCeoaos Virgens,que elles íó fi-
gáo ao Cordeiro,que he Chrifto , a
todas as partes por ondc,& para on-
de forjp.^of. Efte mcfmo Privile-
gio teve S.Gonçalo natena,6c por
modo mais fupcnorjlbid.
Profetas. Qiiantos Profetas ouve no
PovoHebréo,p. i2. E como todos
pafiáraójlbid.Como íe prczáo algús
de Profeta8,p.io8. Por onde Je hão
de conhecer os verdadeiros Profe-
tas jp.iop.ufq. ad 115,
Q
jQ^edts. /'"^I-^ugur mais alro he o
y^ ^ que mais diípoem pa-
ra fecaii-dtI!c,p.zio.Não ha altura
neítemundojque naó íeja prccipi-
cio,p,2ii. Todos os lugares akos,
ou Icjaó ÓG Cco,ou da terra, ou na
lgreja,ou fora dclln, íaoos mais pe-
rigolòs, &: os mais aparelhados p*ia
a caida, p. iii. Dos lugares altos,
ainda que né todos cahiráo, podiáo
cahirjScil]bbaíi:a,para naô lerem íè*
guros,p.2 15.214. Ainda que no ul-
timo lugar também pode haver ca-
hidas,ifibfe entende dos qnellcçf-
tiveremcm pc,mas naó deitados, p.
215. ^.e.
jOucflão. Puzerão alguns Thcologos
^m Queftáo , qual dos criados da
Parábola dos talentos íe moílrára
mais induftrioío, p.46.47. Difputa-
fc a Qiieftâo,de quem he , & o que
diz de ly cada hum de nos, p. 88. &
deinceps. HeQiieíHo dos Expofi-
tores.feeílàaindao Cherubim rio
Paraifo guardando o que elle guar-
dava, p. 25-9. & %6o. <Jueílâo grave
entre os Theologos : em que coníi-
ftc no homem o Ter imagem de
Deos, p. 332. Outra Qiíeítão dos
Thcoiogos,re Adão pela defobedi-
encia perdeo o fer , que tinha,dc
imagem de Deos,p.35-2.
Olíietação. O ultimo lugar he o me-
ihor,por fer o mais quieto, p.2i6.6c
ulterius. O homem, que íbube naô
querer outro lugar, fenaó o ultmio,
he o que logra a verdadeira Quicta-
çaõ,p.zi7. 218. Ainda que não haja
fnveja, nem competência dos luga-
res altos,elles mefmós fe inquietaó,
ôc a quem eftá nelles,p.2i9.& 210.
D
Rajõs. \ /í Ais he necellario para
*".^ j V 1 figurar noarhúRayo
-i^iatural.que na terra hum artificial,
p.494. Quanto maior eftrago fazem
eítes.lbid.Muitos ouve, que quize-
ráo imitar os Rayos, que a Gentili-
dade chamava de lupiter, p.495'. A
•^ íjue fe reduz todo o apparato . & fa-
'ÍJ'1)rica eíb-ondofa de hú Rayo no ar,
' '^Reder/ipç^o. Aílim no Horto,comò no
Calvário obrou Chrifto aRedemp-
çáo de ilia Mãy : mas no Calvário ,
côufàs mais notáveis.
619
como univerílilmentc rcmida:6c no
Horto,como fingukrmente prefer-
vada, p.169. Anticipoufeo fangue
do Horto ao da Cruz , porque foi
conveniente ao Myílerio da Con-
ceição da Virgem, que o preço da
Redempção da Senhora foíTe tam-
bém anticipado,p. 1 78. 1 79.
Regimento Mos Governadores naó ti-
rarem os olhos dos Regimentos de
jeus Reys,teràó femprc prefentes as
fuás imagens,5c figuras,p.350.urque
ad 55-4.
Rtys. Os Reys,que tinhão fido os ido-
latrasjou eri)^vida,ou depois da mor-
te, vinhão também a fer ídolos, p.7.
E como paíláraõtodosJbid.Dc qu,e
tomara Deos conta a hum-Rey n»
dia do luizo, pag.57.38. A diftancia
entre os Reys , ík icus valTallos im-
poflibilita a boa reprefentação de
fuás imagens,p.:^37. Qi-iãdo os Reys
vão do íèu Reyno às Conquiílas,5c
das Conquiftat tornaõ ao Reyno ,
aquelles longcs tem depois os feus
pertos,íp, 339. Quando,6ccomo as
fombras deitas imagens dos Reys
excedem a medida de que íaõ ima-
gens ,^341. 342. Os Reys no que ef-
crevem,5í: ordenão, fe retratâo a fy
mefmos,pag. 35 i.Qiic conceito fez
ElRey Salamaõ dos bens deíle mú-
do,p.437.ufq.ad439. ^
Reynos. Pãflaó os Reynos de hua par-
te para a outra,p. 18. E quantas ve-
xes tem pafiado o de Portugal, Ibid.
Não fe podem julgar com acerto os
fins dos Reynos pelos principios, p.
76. QiialheoReynodo Ceo, que
Chrilto chama femcihante ao thc-
Tt ij fouro
D-
620
louro efconJido, pag.472.^
Religião. Os Martyres pagaô a Chrifto
na Cruz , os Religiofos pagaõ a
Chrifto naReligiaó,':).56i.Qiieca-
lidades tem a cella de hum Rcligio-
fo,para íc comparar com a lepultu-
ra de Chrifto,p.^6i.
Remsdio. Que remédio nos poderá
livrar da cirannia dojuizodos ho-
inens,p.84.urq.ad 86. E como fe en-
tende eíle remedioJbid.Pelo remé-
dio dos homens, parece , que muda
Deos de condição,p. 140.
Rendas. O coração do Príncipe ha-fe
de eíli mar pelo rendimento, & naó
pelas rendas : ha-fe de eílimar nellc
o rendidojôc naoo rendoíò,p4i5'.
Republica. Ondenaíceo,8c como tem
pafíaJoa Republica Hcbréa,pagin.
II. 12.
Revogação. No tribunal da Penitencia
o juízo de Deos revogafe, p. 142. 6c
deinceps.
.Rezjão. DuasHióasrezoens , porque
tudo neíle mundo paíra,p. 14.6c de-
inceps. O juízo de. Deo? começa
defde o ufo da rezão por dianterSc o
dos homens muito antes do uíò da
rezão julga,& condena, p. 8i. Nas
matérias eípirituaes o que coftuma
fazer o tempo,melhor he,que o faça
a razáo,p.5':^9.
Rrfco S'ào \-n;\\s aniícados os talentos,
que na eminência íè cílremão fobrc
todos,',).47.0 maior abuíb,& ama-
iornlco,qiie tem a graça dos Prín-
cipLS,he andarem o pão, ík. a graça
juntos,p.4i^.
Rftina. O ukimo lugar he o mais íc-
curo ; nos outros a fua mefma aku-
Indexdas
ra he o pronoílico certo de fua rui-
na,p.209.ufq.ad iijT.
Sabedorin. \ Mageílade do poder
x\ qualquer a pôde re-
prefentar facilmente .• porem as ac-
çoens da Sabedoria,faó mui poucos
os que fejáo capazes de as exercitar,
p.3^5'. Quanto fe preza a Sabedoria
de Deos dos thefouros efcondidos ,
quefez,6ctem neíle mundo,p47^.
Sacramento. Pela Encarnação, Dcoí;,q
era unmenfo, ficou limitado a hum
íó lugar : & pelo Sacramento,Chri-
fto,que era limitado, ficou imméfo,
& eílà em todos os lugares, p. i ^4.
A mefma difteréça dos Attnbutos
divinos fe vè em Chndo pela En-
carnaçaôySc pelo Sacramento, Ibid.
Chriílo, em quanto íàcramentado,
beo Cordeiro de Deos, que tira os
peccados do mundo, p-i^)*. ufq. ad
2:^8. Aperturbaçaô,quecauíbu nos
Apoítolos a doutrina de Chriílo,
quando lhe profetizou a comida de
ícu corpo no Sacramento, p.140. E
como Chrifto íatisfez às fuás diffi-
culdades,p. 241. O corpo de Clwi-
fto,aííim como eftà no Sacramento
transformado cm fy,afltm eftà tam-
bém transformado para nòs, p.244.
A immeníidade divina,dc que Deos
-fe defpío pela Encarnação, fe reve-
ílio outra vez pelo Sacramento, pag.
24f. ufq.ad 25'!. O terceiro vafio da
divindade na Encarnaçaõ,que he a
Eternidade,he o tcrceiroAttributo,
q Chrifto encheo pelo Sacraméta,
P*<
coíifas mais notáveis
621
y>.i5'i .iifq.ad 168.E efla meíma pre-
rogativa de eterno nos comunica
Chnílo no Sacramento, p.iyç.xdo.
Como fe nos cômunicáo no Sacra-
mento os effeitos de immortaí , Sc
impairivel,p.264.uíq.ad 164. O va-
fio da infinidade do Verbo na En-
carnação íuprio também o corpo de
Ciinllo no Sacramento, p. ló/.ufq.
ad 270.E como fe nos comunica pe-
lo Sacramento efte eíFeito de infini-
tojp.i/o.ufq ad iji.Seo Verbove-
ftindofe de corpo humano, de invi-
fivel fe fez vifivel j o mefmo corpo
depois íe fez inviíivej no Sacramen-
to,p,r73.E efla mefma invifibilida-
de nos comunica Chnílo facramen-
tado,IbidAiíq.ad 175. Porque nam
quiz Chriílo,queno Sacramento fi-
ca lie a lullancia de paõ,p, 423,50 no
Sacramento ha exemplo de comu-
nicação total, 6c toda em todos , ôc
tota],& toda em cada hum , p 45:9.
O Sacramento da Euchariíbahe o
myftcrio,em que Deos fe defpofò cõ
noflasalmas,p.55f. Porque diz Za-
charias,que o íacrificio do corpo* 6c
fangue de Chrifto no Sacramento
he melhor que todos,p.5"5-r.
SAlv>'íção.Como os meyos entre fy c5-
tranos nos podem levar igualméte
á falvaçáo,p.4.g. 44. Os que deixâo
a penitencia para a hora da morte,
raramente fe faivaa, p. » 5'!. A todos
falvou Cbriíío : mas a fua íantifiima
Máy propnamente,como defenfor,
pag.187.
Sangue. Pelo fíingue de Chrifto ficou
a Virgem Marra fua Máy livre
do cativeiro dopeccado, p.ióz.ufq.
ad 165'. Não foi o primeiro Jangue
da Cruz,fenão o do Horto ,0 q Chri-
fto derramou por fua Máy, p. 16Ó.&
ulterius. O effeito geral do fangue
da Cruz foi remir jS: o particular do
langue do Horto,remir prefervan-
do,p.i7o.ufq.ad 1 72. He virtude do
fangue de Chrifl:o poderíe dar, an-
tes de fe receber,p. 1 77. 0 fangue, q.
Chriílo fuou no Horto , foi o mél-
mo,que na Encarnação tinha rece-
bido de fua fantiílima Máy, p. 181.
ufq.ad 184. O fangue de Chriílo té
virtude para nos prefervar dos pec-
cados futuros,.p.i89. Porq chamou
Chriílo teílamento ao feu lângue,6c
não aofeucorpo,p.409. Quando as
obrigaçoens da fmgue íè deixão
por amor de Deos, naó hc fazer of-
fc-níí^he fazer lifonjaao Sacramen-
to,p.56fmfq-ad 5*67,
Santidíde.O que deve fei* o homem,
que logo começa,6c ha de fer grarft.
de Santo,p.287. Também na laati-
dade ha fortuna,p.404.
Segurança. O ultimo lugar he o mais
leguro:o3oucros,quanta mais altos,
tanta me nas fegurança tem, p. 2, 09.
ôt deinceps. Dos lugares altos,ainda
que nem todos cahíraó , podiaãca-
biri6c ifto baila, para não ferem a
verdadeira fegurança,p,2i3^2i4.
Segredo'. Nenhum fegredo he íegreda
perfcitOj fenão o que pafla alerig-
nora.ncia,p42o.Não dizer hum ho-
mem o fegredo, que i-abe, he guar-
dar íegrâo.às coufas; mas naódi-
zeivque labe o fegredo, he guardar
fegreda ao íegredo: &iílohe mui-
to mai or fegredo,p . 422^
l
<;2i
Index das
Scti^cKças.Q^mc^ fao as fcntenças,onde
a vontade he juiz,p.62.65.
Sepultura. Qiie calidades tem hiima
ceiia de Religioíb , para fe cõparar
com a Tepultura de Chrifto, p.fó i .
Sinal. Nojuizode Deos os finais dizé
com o juizo:6c no juizo dos homens
o juizo não diz com os finais , p. 82.
Muitas coufasfe vem hoje daquel-
las,queos Profetas antiguamente
deraó por finais dos tempos do Meí^
fiasp.94-95'. O coração he o verda-
deiro final da profccia,p. 1 1 1.
Sombra. Antes de haver no mundo a
Arte da Pintura.retratavãofc os ho-
mens pelafua rombra,p.g4o.
Sjóida. Porque he mais facil o íubir ,
que o decer, por ifio os últimos lu-
gares faó mais fáceis de confeguir,
p. 205.6c ulterius.
^/.Tí-fj^/ôi. Os fucceflos íàõ final de co-
nliccer os Profetas,p. 1 14.
€uperiores.M^\oY Ibgeição he a dosSu»
. periores,que a dos fubditosjp. 37.
T
Talentos. ^""^Omo nodia do juizo
\_y ha de pedir Deos cota
dos Talentos,que deo nefta vida a
cada hum: & quacs faó-xftes Talen-
tos,p.4i.urq.ad47. Qiianto vaHam
' os Talentos Hebraicos,p.48.
•Tonpo.O tempo,& o nada laó as duas
cauíàs , porque tudonefte mundo
paflã,p. 14.6c deinceps. Como fc àcC-
creveotempo, Ibid. Muitas coufas
levem hoje das que antiguamente
dcríioos Profetas por finais dostc-
pos do Meífias, p.95'. Nas matérias
temporacs,o que coíluma fazer c tc-
po,bem he que o faça o tempo : mas
nas matérias eípirituacs , o que co-
ftuma fazer o tempo, melhor he q o
faça a razaôjp.^gp.
T^rra. Ainda que a terra toda não paí-
ra,pairaõ, & fempre eíláo paliando
todas as partes della,p.i7.uíq.ad 10.
Todos os lugares da terra mais faó
alheos,quenoílos,p.i99.ufq.ad 201.
Se aterra tivera olhos, vendo tudo
o que fe move entre ella, & o Ceo ,
fe havia de contentar muito de fer
cila o ultimOjSc mais baixo lugar do
mundo,p.ii 7. Outro grande docu-
mento defta verdade nos da a terra
nasarvorcs,p.22o.22i.Náo ha ter-
ra mais difficultofa de governar , q
a Patria,p.g29. Que pouco calo Ic
deve fazer dos bens da terra, p.45'7.
Tefiamento. Porque íe não deixam os
amigos cm tcíhmcnto, p.408,
Tcftemktjha. Os homens quando tc-
Itemunhaó de ly mefmos,húa couíà
he o que íaó,&; outra coufa hc o q
dizem, p. 89. A arte he teftemunha
para prova dos bens doCeo,puros,&:
jèm miítura de mal,p.446.
Thefifíro. Húa das coufas admiráveis,
que fez Deos neftc mundo , & de
que muito fe preza lua fabedoria ,
íãóos thefouros eícondidos, P472.
Qual he o mais nobre , Ôc o mr.is iii-
códido theíòuro doVnivcrfo,p.474.
T)v^««.?/. Ojuizodefy mefmo entra
no tribunal da Pcnitccia có os olhos
tapados,p.ii4. Ojuizo dos homens
entra no mclino tribunal có os ou-
vidos fechados, p. 154. O juizo de
Deos também fe julga nelle tribu-
nal
covfasmais
nal revogantíofc, com voltarem os
homens ocoraçaô,p.i44.
Tri»dade. Porque razaó o dar le attri-
buc à terceira Pcílba da Santiílima
Trindade,^ o julgar á fegunda, p.
6i . Entre todas as creaturas irracio-
naes, nenhúa traz em íy mais im-
preílò o caraòtcr da fantiffimaTrin-
dade,que o rayo,p.485'.
T/z/^íÇ-íi. Náo ha alegria neíle mudo
taó privilegiada,quc naó pague pen-
íaó à triíl;eza,p.443.
Trintifo. A maior oítentação da gran-
deza dcfte mundo, foi a pompa dos
Triunfos Romanos,p.io.2 1 .
Trovoens. Rayos , & trovoens faô as
mais teracroíàs , & formidáveis ar-
mas de Deos,p.488^
V
/\ eidos de nòsmeflnos,
porque trazemos os olhos por fára,
6c a nos por dentro, p. 1^7. Qtianda
para confeguir os intentos da vaida-
de não baítaõ todos os homens; pa-
ra os da caridade baila humío ho-
memjp.^i^. Porque Deos he mife-
te- ricordiof), ôc verdadeiro, poriílb
nos ha de dar a graça, Sc mais a glo-
ria,p.:^69.T7o.
FalU.Quc valle de lagrimas hc aquela
le,onde fó o home afliílido da graça
de Deos pocm q íeu lugar, p.122»
Valido .Dcvzç^ò a Valido, amda que
Santo,he efcrupuloíiuicvaçaõ, pag,
406.OS Validos haô de fer Èvange,
hftas,p4ii. Os Validos, haó defi-
notdveis.. ^ ^z 3
car como dantes era5,p.4i 5*.
;^^í7.Tudo Deos criou vafio: mas lo-
go enchco tudo,p.x76. Depois que
Deos pelo beneficio da Encenação
fe fez n*mão noflb , nos defpaaharà
cheos de tudo o que a nofla necef-
fidade lhe reprefentar vafio , P.277V
Como eílaráa graça lempre chea >
8c nunca vafía,p.2 79.
Felhice. N í\o conúilc a velhice na cor
dos cabellos, fenaó na pureza da vi-
da,p.z92. A velhice he idade , para
ter trabalhado , 6c não para traba-
lhar: para ter feito, Ôc não para ia-
. 2er,p.:^G9.G muito que S. Gonçalo
trabalhou, ainda depois de velho,
Ibid, Híáa velhice enganada , he a
maior fem-razão do tempo : humà
mocidade deíenganada, he a maior
vitoria da razaó,p. 5*4 1,
Fenda.Toà^s-ãS vezes quehumho«
mem peo€a,,vçndeíè pelo feu pecca-
do,p.i52,
Férdé{de,Deots]u\g!i com verdade cla-^
ra : 6c os homens fingidamente,pag,
8:^.Se a nofla penitencia tora verda-
d£ira,haviamos fazer pouco caio das
opinioensdo mundo, p. 154. Que
-fazjôc deve fazer o verdadeiro peni-
tente,p. igô.Sculterius. Quem naai
falia vei'daáe,nâo ama, P4 1 :^,
Vidos. A Providencia divina faz, que
os noílbs próprios vicios íejaó tefte*
munhas de noíla Fè, p. 57. Qiianta
tem os maíes viciado, 6c corrompi-,
do os bens defte mundo,p.442,
Víd4. Tudo pafia para a vida,6c n^a
pafla para a conta, p. :^. 6c deinceps.
Todos imos embarcados na mío de-
lia vida iSc como navegamos nella.
62^ In de.
pag 21 . A vida paíla, 6c os peccados
nfio pafi{iõ,p.24.Sc uicerius. Tudo o
que paflbu para a vida , he o nada, q
não paliou paraa conta,p.i7. Se fo-
lies leproíb algum día,ainda q Deos
faça milagres em vòs,leprofo haveis
de fer toda a vida,pag.77. Deos não
nos julga mais,que as duas partes da
vida : 6c os homens atè a terceira, q
hc a do rono,julga5, p. Si. Os luga-
res deita vida mais faó alheos, que
próprios, p.ioi.Húa vida encerrada
entre quatro paredes , nenhum no-
me lhe vem mais próprio, que o de
morta,6c fepultadajp.i/f.Dividife a
vida dos homens em quatro partes,
com nome de quatro vigias, p. 285.
Como andaó travados neíla vida os
goílos có os deígoílos,p. 441.8c ulte-
rius. Quam mal reputada he a vida
dos Palacios,p.5'36. A melhor parte
dos bens defta vida,hÊ o eíperar por
clles,pag.5'48.
F/^/4.Dividilèa vida do homem em
quatro partcs,com o nome de qua-
tro vigias,p,i83. S. Gonçalo naófó
foi Santo delias quatro vigias.fenao
da quinta,p.285'.6c deinccps.
Vmganu. Aílim como Deos feito ho-
mem quiz morrer na Cruz , para lè
vingar do Demoniojaflim traçou, q
nòs o comeflcmos no Sacramento ,
paracontinuar,& coníumar ameí^
: ma vingança,p.264.
Vt^íi. A differença da honra,com que
Deos communica no Ceo aos Bcm-
aventurados a fua viíla , 6c na terra
xdas
aos que o amao a ília graça , moÍRra
quanto a graça deve ler preferida à
glo.na, p. 5 8 í . E a razão defta vcn-
tagem he i porque a gloria, que ha-
vemos de gozar no Ceo pela. \i:hi,
cá a poíliiimos na terra pela graça,
pag.382.
Vocaí^ao. A maior divida,de que have-
mos dar conta a Deos no dia do lui-
zojhe a da vocação, p.51. Em mui-
tos caíos não baila a mclinaçáo , &
deliberação própria \ mas heneceíl
faria efpecial vocação divina, p.goi.
Vontade. O juizo dos homens he mais
rigorolo,que o de Deos : porq Deos
julga com o entendimento , & os
homens julgão com a vontade, pag,
60. ufq.ad 64. A nofla vontade he
feita pela medida do Ceo ; 6c porq,
p,447.Nòsmermos por noífa von-
tade baftamos para nos dcfpojar-
mos dos nollos bens,p.45o.
Zelo, /'^Omofeenganão os que fc
V^^prezaó de muito zclolos, p,
102. Quanto vai de zelo a zelo, pag.
10^. Hahuns,aqucmo zelo come;
& ha outros,que comem do zelo, p.
j 04. Qual ha de fcr a igualdade do
zelo,p.io5'. E qual he a condiçam
do verdadeiro zelo, p.106. Qiiantas
maldades fe cometem debaixo da
capado zelo.p.ioó.ufq.ad 108.
FINIS.
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